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UNIVERSIDADE DO PORTO

FACULDADE DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

INTRODUÇÃO AO
MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS
(M.E.F.)

Rui Carneiro de Barros


Prof. Associado com Agregação do DEC da FEUP

(Agregação; Ph.D.; M.Sc.; Engº Civil)

Texto de Apoio Científico, Técnico e Pedagógico à disciplina


Teoria das Estruturas 2

(32 páginas)

Porto e FEUP, 24-25 e 30 de Março de 2006


Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

INTRODUÇÃO AO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS


(M.E.F.)

1. Objectivos

1) Definir funções de forma, como funções interpoladoras de desempenhos ou


comportamentos
2) Introduzir as 3 hipóteses fundamentais para estudos pelo MEF
3) Descrever os tipos principais de elementos finitos disponíveis para análise
estrutural

2. Introdução conceptual

O objectivo último da Teoria de Estruturas é o de resolver com precisão


estruturas mais complexas, a partir da sua decomposição em partes ou
elementos constituintes mais simples.

É pois necessário incluir apropriadamente os efeitos de paredes estruturais


resistentes ao corte, de esqueletos estruturais flexionalmente resistentes, de
placas ou lajes de piso, de diafragmas e membranas com maior ou menor
rigidez, de ligações estruturais complexas (semi-rígidas ou não) bem como ser
capaz de compreender e modelar estruturas do tipo casca (finas ou espessas).

Estas necessidades são contempladas e resolvidas pelo Método dos Elementos


Finitos (MEF) usando outro tipo de modelos ou de elementos estruturais de
comportamento geral mais complexo, no processo criativo de modelação
estrutural do Sistema Estrutural Contínuo Solicitado por Acções
Generalizadas Quaisquer.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

O MEF foi inicialmente desenvolvido por engenheiros estruturais como uma


extensão lógica da análise matricial de estruturas resolvidas pelo Método dos
Deslocamentos. Todavia desde então tem sido aplicado com sucesso a todos
os domínios da ciência e da técnica que abordem problemas do Contínuo
governados por equações diferenciais.

Por aplicação criteriosa do MEF a um Contínuo obtém-se uma equação


matricial de equilíbrio desse Contínuo que envolve uma matriz de rigidez e
um vector do conjunto de acções, relacionados através do vector (de
incógnitas) dos deslocamentos generalizados em determinados pontos – os nós
– do Domínio Contínuo dividido – ou como se diz ‘discretizado’ – em
elementos finitos.

A partir da determinação das incógnitas deslocamentos generalizados, o


processo de resolução estrutural é muito semelhante ao da resolução de
estruturas pelo Método dos Deslocamentos (MD).

A ideia básica do MEF é a de dividir ou discretizar o Contínuo num número


discreto de menores elementos ou partes estruturais constituintes – os
elementos finitos – cada um dos quais pode ser modelado matematicamente
por determinada matriz de rigidez. Os elementos estão ligados entre si em
pontos designados de nós, cada um dos quais possui determinados graus de
liberdade (g.l.) inerentes ao comportamento intrínseco assumido para cada
elemento.

Isto é semelhante ao que já foi realizado na resolução de pórticos e de sistemas


articulados planos (SAP’s) hiperestáticos pelo MD.

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Mas as vigas e os pilares de pórticos e as bielas biarticulados dos SAP’s têm


localizações naturais nodais para os seus nós, enquanto que de um modo geral
a localização dos nós (de ligação ou de conectividade dos elementos, e/ou
definidores das características de comportamento) dos elementos finitos
pode ocorrer ao longo da sua fronteira delimitadora bem como até no
interior do próprio elemento finito (2D ou 3D).

Não foi formalmente utilizada a formulação do MEF na análise de pórticos e


SAP’s pelo MD, porque as matrizes de rigidez das barras-elementos destas
estruturas são facilmente obtidas por considerações físicas de desempenho
estrutural (quer pelo designado método directo, quer conforme se condensa na
designada notação ou método matricial).

3. O MEF explicado através de uma formulação simples

Elementos finitos mais gerais requerem procedimentos ligeiramente mais


complicados, do que aqueles que são utilizados para barras contínuas (de vigas
e pilares de pórticos), para derivar a matriz de rigidez.

Os 3 passos fundamentais de aplicação do MEF são aqui explicados por uma


formulação simples, através do desenvolvimento da matriz de rigidez para
uma barra biarticulada.

O 1º passo do procedimento básico do MEF é assumir uma função de forma


que é uma função interpoladora que descreve como os deslocamentos nodais
são distribuídos ao longo do elemento finito considerado.

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Da equação diferencial do contínuo em análise, desenvolve-se – no 2º passo –


uma matriz de operadores diferenciais que converte a lei dos deslocamentos
no interior do elemento em extensões e distorções do elemento (ie, em
elementos do tensor das deformações em cada ponto do contínuo
considerado).

No 3º passo, os trabalhos virtuais interno e externo podem ser calculados e


formalizados para desenvolver a matriz de rigidez e o vector das acções
exteriores no elemento considerado.

Posteriormente um último passo é idêntico ao que já foi utilizado para resolver


pórticos e SAP's, resolvendo a correspondente equação matricial de equilíbrio.
Da sua solução e pelo PSE, obtêm-se posteriormente os esforços internos, as
reacções dos apoios e se necessário a caracterização do campo de
deslocamentos em pontos ou secções de maior interesse.

Como exemplo desenvolve-se a matriz de rigidez local de uma barra


biarticulada de SAP. A barra biarticulada tem dois deslocamentos nodais, v1 e
v2, um em cada nó, ambos colineares com a barra.

Para qualquer conjunto de deslocamentos nodais, uma função de forma é


necessária para os converter em deslocamentos ao longo do comprimento do
elemento. A selecção óbvia para as funções de forma é o conjunto de funções
lineares indicadas a seguir.

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Funções de Forma dos deslocamentos de biela de treliça plana

Note-se como as referidas funções distribuem os deslocamentos nodais pelo


interior do elemento. Estas funções de distribuição dos deslocamentos nodais
– as funções de forma – podem ser organizadas em forma matricial juntamente
com os deslocamentos nodais, constituindo uma equação que descreve os
deslocamentos no interior do elemento.

Note-se que o deslocamento é uma função de x, a posição no elemento. Note-


se também que o deslocamento em qualquer lugar no elemento, u(x), é a soma
dos deslocamentos causados por ambos os deslocamentos nodais, distribuídos
ao longo do elemento pelas funções de forma.

Assim, o deslocamento em qualquer secção do elemento barra articulada é


expresso por:

⎛ x⎞ ⎛ x⎞ ⎡⎛ x ⎞ ⎛ x ⎞ ⎤ ⎧v1 ⎫ ⎧v1 ⎫
u ( x) = ⎜ 1 − ⎟ v1 + ⎜ ⎟ v 2 = ⎢⎜ 1 − ⎟ ⎜ ⎟ ⎥ ⎨ ⎬ = [N 1 N2 ] ⎨ ⎬ = N v
T

⎝ L⎠ ⎝ L⎠ ⎣⎝ L ⎠ ⎝ L ⎠ ⎦ ⎩v 2 ⎭ ⎩v 2 ⎭

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Note-se que em notação condensada o deslocamento em qualquer secção é


expresso pelo produto da matriz transposta das funções de forma (neste caso
simples uma matriz linha) pelo vector dos deslocamentos nodais.

Uma relação cinemática diferencial define as extensões longitudinais (do


campo de deslocamentos do elemento barra-biarticulada) através de:

∂u ⎛ 1 ⎞ ⎛1⎞ ⎡⎛ 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎤ ⎧v1 ⎫ ⎡ ∂N 1 ∂N 2 ⎤ ⎧v1 ⎫


ε x ( x) = = ⎜ − ⎟ v1 + ⎜ ⎟ v 2 = ⎢⎜ − ⎟ ⎜ ⎟ ⎥ ⎨ ⎬=⎢ ⎨ ⎬=Bv
∂x ⎝ L ⎠ ⎝ L⎠ ⎣⎝ L ⎠ ⎝ L ⎠ ⎦ ⎩ v 2 ⎭ ⎣ ∂x ∂x ⎥⎦ ⎩v 2 ⎭

em que a matriz B é designada por matriz da relação (cinemática) extensões-


deslocamentos (strain-displacement matrix). É portanto uma matriz de
operadores diferenciais actuando sobre as funções de forma do elemento (de
acordo com o campo de extensões presentes ou detectáveis pelo elemento
finito), e que até poderá ser expressa pelo produto duma matriz de operadores
diferenciais pelas funções de forma.

Utiliza-se agora uma relação constitutiva entre tensões e extensões do material


dos elementos – a lei de Hooke generalizada – que no caso do elemento finito
biela biarticulada converte extensão em tensão através da expressão:

∂u ⎡ ∂N ∂N 2 ⎤ ⎧v1 ⎫
σ x ( x) = E ε x ( x) = E =E⎢ 1 ⎨ ⎬=E Bv
∂x ⎣ ∂x ∂x ⎥⎦ ⎩v 2 ⎭

Calculando a energia de deformação interna, à custa da expressão do trabalho


virtual interno (versão MD) entre tensões reais e extensões virtuais, obtém-se:

T T
δ Wi = ∫ ε σ dV = ∫ v B T E B v dV = v
V V
T
(∫
V
) T
B T E B dV v = v K e v

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Assim a matriz de rigidez elástica do elemento na sua formulação geral, e


posteriormente a correspondente particularização para o elemento finito biela
biarticulada, é:

⎧− 1 / L⎫ ⎡ 1 / L2 − 1 / L2 ⎤
⎬ E [− 1 / L 1 / L] A dx = EA ⎢
L L
Ke = ∫ B E B dV = ∫
T
⎨ ⎥ ∫ dx
⎩ 1/ L⎭ ⎢⎣− 1 / L
2
V 0
1 / L2 ⎥⎦ 0

EA ⎡ 1 − 1⎤
= ⎢− 1
L ⎣ 1⎥⎦

A expressão do trabalho virtual externo (versão MD) entre forças


generalizadas reais e deslocamentos generalizados virtuais, é:

T
δ We = v F

De acordo com o TTV, igualando os trabalhos virtuais interno e externo e


atendendo à arbitrariedade do deslocamento virtual v , obtém-se a equação de
equilíbrio da barra biarticulada sujeita a forças nodais locais: K e v = F , sendo
K e a matriz de rigidez (local) da biela de treliça plana conforme já foi obtida e

utilizada na formulação directa e matricial do MD.

Considere-se agora um referencial global de coordenadas (de eixos globais


tradicionalmente: X – horizontal para a direita e Y – vertical para cima)
relativamente ao qual se localiza a biela de treliça plana considerada.
Designando c=cos(α) e s=sin(α) sendo α o ângulo de orientação da biela, a
relação matricial que define um vector de deslocamentos (ou forças) nodais
locais (2x1) a partir do vector de correspondentes deslocamentos (ou forças)
nodais globais (4x1) é:

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⎧V1 ⎫
⎪V ⎪
⎧v1 ⎫ ⎡ c s 0 0⎤ ⎪ 2⎪ ⎡ c s 0 0⎤
vL = ⎨ ⎬ = ⎢0 0 c s ⎥ ⎨ ⎬= ⎢0 0 c s ⎥ VG = T VG
⎩v 2 ⎭ ⎣ ⎦ ⎪V3 ⎪ ⎣ ⎦
⎪⎩V4 ⎪⎭

⎡c 0⎤
⎢s 0⎥⎥
De igual modo: VG = T T vL = ⎢ vL
⎢0 c⎥
⎢ ⎥
⎣0 s⎦

Em coordenadas globais a equação de equilíbrio da biela de treliça será agora

⎡c 0⎤
⎢s 0⎥⎥ EA ⎡ 1 − 1⎤ ⎡c s 0 0⎤
(K e )G VG = FG ⇒ T T (K e )L T VG = ⎢ ⎢ ⎥ ⎢ ⎥ VG = T T f L
⎢0 c⎥ L ⎣− 1 1⎦ ⎣0 0 c s ⎦
⎢ ⎥
⎣0 s⎦

A matriz de rigidez da biela de treliça plana, em coordenadas globais, será:

⎡c 2 cs − c2 − cs ⎤
⎡c 0⎤ ⎢ ⎥
⎢cs s2 − cs − s 2 ⎥
⎢s 0⎥⎥ EA ⎡ 1 − 1⎤ ⎡c s 0 0⎤ EA ⎢
(K e )G =⎢ = ⎥
⎢0 c⎥ L ⎢⎣ − 1 1⎥⎦ ⎢⎣0 0 c s ⎥⎦ L ⎢ 2 ⎥
⎢ ⎥ ⎢ − c − cs c2 cs ⎥
⎣0 s⎦ ⎢ ⎥
⎣ − cs − s
2
cs s2 ⎦

com os reconhecidos significados das sub-matrizes (2x2) dos 4 cantos.

Assim, as funções de forma lineares assumidas para a biela revelaram-se como


coerentes com resultados já pré-determinados. Este processo de descrever e
utilizar funções de forma pode ser extendido a outro tipo de elementos, para os
quais a determinação da matriz de rigidez por métodos directos não é possível.

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4. Alguns elementos finitos disponíveis

A determinação das matrizes de rigidez da variedade de elementos finitos


envolve portanto considerações energéticas (trabalhos virtuais), à custa do
TTV versão MD. Os elementos finitos mais comuns são a membrana (plana),
placa, casca e elementos sólidos. Cada destes elementos tem um determinado
conjunto de nós e de padrões de deslocamentos generalizados associados a
esses nós. A figura anexa indica algumas formas comuns destes elementos
finitos.

Elementos Finitos Mais Comuns

Estes elementos finitos têm restrições adicionais ao seu comportamento e


desempenho que depende do processo de derivação e portanto dos
deslocamentos generalizados representativos e das funções interpoladoras
(funções de forma). Porém, o resultado sempre é uma matriz de rigidez que
pode ser utilizada como qualquer outra matriz de rigidez e poderá portanto ser
rodada e transformada como for necessário.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

Quando se associam estes elementos finitos, deve-se atender às condições de


fronteira (ou condições de contorno) e à necessária correspondência dos g.l.
nos nós (ie, ao emparelhamento dos g.l.). Note-se por outro lado que as
hipóteses de criação das funções de forma condicionam o rigor ou precisão
dos resultados das modelações.

Conforme será abordado no capítulo da Não-Linearidade Geométrica (Efeito


P-Delta Grande) o elemento viga pode ser determinado considerando funções
de forma interpoladoras do 3º grau – os polinómios cúbicos de Hermite – que
conduzem a uma matriz de rigidez elástica (do comportamento elástico do
elemento viga) e também a uma matriz consistente de rigidez geométrica (que
capta a diminuição da rigidez para acções axiais de compressão).

A derivação da matriz de rigidez que caracteriza diferentes elementos – ie, a


dedução de determinado elemento finito – pode portanto ser crescentemente
complexa. Técnicas que incluam desempenhos ou procurem captar
comportamentos não-lineares, e ainda reduzir o número de deslocamentos
generalizados considerados como incógnitas nos elementos, são ainda desafios
teóricos sempre actuais. Mas o desenvolvimento formal e o uso destes
elementos finitos mais sofisticados são idênticos ao que ocorre com elementos
finitos mais simples.

Os quatro elementos finitos mais comuns usados por engenheiros estruturais


são a membrana, a placa, a casca e os elementos sólidos. Cada um destes
quatro elementos será aqui considerado brevemente (mais detalhes estão
disponíveis em capítulos específicos da ampla bibliografia sobre o MEF).

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O elemento de membrana é um elemento bidimensional para deformações


planas do tipo extensional. As versões comuns do elemento finito de
membrana são os elementos finitos triangulares e os rectangulares. Os
elementos triangulares variam de três a seis nós. Os elementos rectangulares
variam de quatro a nove nós.

Há dois g.l. de deslocamentos coplanares em cada nó destes elementos de


membrana. Os elementos podem ser usados para modelar problemas
bidimensionais de elasticidade, ie, estados planos de tensão e estados planos
de deformação. Podem portanto reproduzir e determinar as duas tensões
normais e a tensão tangencial do plano do elemento.

G.L. locais dos Elementos Planos de Membrana

O elemento de membrana não tem nenhuma rigidez rotacional ou rigidez


normal ao plano do elemento. Pode ser localizado arbitrariamente no espaço
mas as forças resultantes têm que ficar localizadas no plano do elemento. (Isto
é semelhante ao elemento de treliça tridimensional).

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O elemento triangular de 3 nós pode modelar tensão constante. O elemento


rectangular de 9 nós pode modelar variações lineares de tensão. Elementos
triangulares são populares porque permitem geração automática de redes ou
malhas de elementos e permitem esquemas de geração de malha adaptáveis.
As acções em elementos finitos de membrana só podem ser acções coplanares.

O elemento finito plano de placa é um elemento bidimensional que actua


como uma placa plana. Ocorre nas versões triangulares e rectangulares. Os g.l.
envolvem 2 rotações segundo eixos rotação que são duas direcções do plano
do elemento-placa e o deslocamento normal ao plano do elemento.

Estes elementos modelam flexão de placas a 2 dimensões. O elemento pode


modelar os dois momentos normais e o momento de torção aplicado ao plano
do elemento. Alguns modelos, ie, alguns elementos finitos de placa, também
permitem determinar os esforços transversos.

O elemento finito placa triangular de 3 nós modela momento constante. Os


elementos de placa de maior número de nós podem modelar variação linear de
momento no elemento. O elemento de placa não tem nenhuma rigidez de
rotação normal ao plano e nenhuma rigidez de translação no plano.

Assim, sobrepondo os elementos finitos de membrana e de placa (como que


'um em cima do outro') criam-se elementos de casca planos. Acções cargas
sobre elementos de placa podem consistir em qualquer combinação de forças
normais à placa e de momentos segundo quaisquer eixos coplanares (com o
elemento-placa). Acções cargas sobre elementos de casca podem consistir na
combinação de acções sobre placa e acções sobre membrana.

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G.L. locais do elemento de placa à flexão

O elemento sólido é um elemento tridimensional extensional. Versões do


elemento sólido variam do tetraedro de 4 nós ao bloco (ou tijolo) de 27 nós (o
designado: 'brick' element). A versão mais comum é o elemento de bloco de 8
nós.

G.L. locais de elementos sólidos

O elemento sólido tem três g.l. de translações em cada nó. Este elemento pode
modelar um estado de tensão tridimensional completo. O elemento sólido de 8
nós tem alguma variação linear de tensão através do elemento. O elemento
sólido não tem nenhuma rigidez (rotacional) de rotação. Os tetraedros são
populares para uso em geração de malhas e em esquemas de refinamento de
malhas adaptáveis.

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5. Análise de uma viga em consola usando elementos finitos


de membrana

Os objectivos deste parágrafo são múltiplos:


1) Usar elementos de membrana numa análise concreta
2) Comparar os resultados para elementos de 4 e 9 nós, e explicar as
diferenças
3) Medir o erro numa análise que usa elementos de membrana
4) Definir o designado 'bloqueio ou impedimento das deformações de corte'
(Shear Locking)
5) Definir modos de incompatibilidade (para assegurar Shear Locking)

Como primeiro exemplo (extraído da ampla bibliografia sobre o MEF) será


modelada uma viga em consola para procurar obter o desempenho da teoria de
flexão de vigas.

Os valores métricos aproximados das quantidades representadas na figura são


P=90 kN , L=3 m , B=15 cm , H=30 cm , E=200 GPa . A flecha na
extremidade livre da viga em aço, de acordo com a teoria de flexão de vigas, é
PL3 90 x 10 3 x 33
dada por δ= = = 0.012 m = 12 mm .
3EI 9 0.15 x 0.33
3 x 200 x 10 x
12

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Se usássemos um único elemento de viga, com a correspondente matriz de


rigidez associada a funções de forma cúbicas (polinómios cúbicos de
Hermite), obter-se-ia a solução exacta da teoria de flexão de vigas.

Porém, usando elementos de membrana, poderemos estudar as tensões ao


longo da secção recta, e também aprender a usar elementos finitos
bidimensionais.

Modelação com elementos de membrana de 4 nós

Neste caso modela-se a viga com por exemplo 4 elementos de membrana de


75 cm de comprimento cada um. As numerações dos elementos finitos e dos
nós são indicadas na figura anexa, e foram utilizadas num programa de cálculo
automático de análise de estruturas juntamente com as coordenadas dos nós,
condições fronteira, acções nos nós dos elementos e outras informações
relativas às propriedades de cada elemento de membrana (E, espessura e
coeficiente de Poisson ν). Note-se que a acção de 90 kN na extremidade, foi
dividida em duas acções equivalentes em cada nó da face extrema.

45 kN

45 kN

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Cantilever - 4 - Four node elements


10,1,1 : 1 load case, 1 element type
:
Coordinates
1 x=0 y=0 z=0
9 y=120 g=1,9,2
2 y=0 z=12
10 y=120 g=2,10,2
:
Boundary
1, 2 DOF=F,F,F,F,F,F
3,10 DOF=F,R,R,F,F,F
:
PLANE
4,1
1 E=29000 U=0.0 : Poisson=0 to remove Poisson effect
1 q=1,3,2,4 m=1 h=6 g=4,1
:
Loads
9 l=1 f=0,0,-10
10 l=1 f=0,0,-10
:
*** CONCENTRATED NODAL LOADS ***
NODE LOAD X Y Z XX YY ZZ
9 1 .00E+00 .00E+00 -.10E+02 .00E+00 .00E+00 .00E+00
10 1 .00E+00 .00E+00 -.10E+02 .00E+00 .00E+00 .00E+00
Ficheiro de entrada de dados (INPUT) em unidades imperiais (U.K./U.S.A.)

Analisando o ficheiro de entrada de dados (INPUT) em unidades imperiais


(porque fez parte da resolução de uma ficha semanal de avaliação do autor,
enquanto aluno de pós-graduação nos EUA, na disciplina Finite Element
Methods leccionada pelo Prof. Edward Wilson na UCB) verifica-se que as
condições fronteira dos nós livres especificam que podem deslocar-se no
plano YZ. Os nós 1 e 3, da extremidade esquerda, estão completamente fixos.
Só é especificada uma propriedade material, a do aço standard de construção
metálica.

Como se analisa uma estrutura bidimensional com elementos de membrana,


normalmente deve-se introduzir o valor real do coeficiente de Poisson para
que os efeitos de Poisson possam ser modelados. Mas como se quer modelar
e verificar a teoria de flexão de vigas, que não inclui o efeito de Poisson,
utilizar-se-á como propriedade material o coeficiente de Poisson ν=0.

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Com a informação característica da entrada de dados, a matriz de rigidez de


cada elemento de membrana pode ser calculada e assemblada
apropriadamente (ie, com espalhamento e sobreposição) face às continuidades
entre elementos através dos nós comuns. Com o anterior ficheiro de entrada de
dados, obtém-se o seguinte ficheiro de saída de resultados (OUTPUT).
SOLUTION CONVERGED IN 1 ITERATIONS
*** PRINT OF FINAL DISPLACEMENTS ***
DISPLACEMENTS FOR LOAD CONDITION 1
NODE X Y Z XX YY ZZ
1 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
2 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
3 .00000E+00 -.36573E-02 -.97179E-02 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
4 .00000E+00 .36573E-02 -.97179E-02 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
5 .00000E+00 -.62696E-02 -.35110E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
6 .00000E+00 .62696E-02 -.35110E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
7 .00000E+00 -.78370E-02 -.70951E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
8 .00000E+00 .78370E-02 -.70951E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
9 .00000E+00 -.83595E-02 -.11202E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
10 .00000E+00 .83595E-02 -.11202E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00

-------- PLANE/PLATE/SHELL STRESS RESULTS --------


-------- ELEMENTS ARE IN THE Y-Z PLANE --------

EL# LD# PNT# SX SY SXY


-------------------------------------------------------------------------
1 1 1 -.3535E+01 -.2525E-15 -.4697E+01
3 -.3535E+01 -.4210E-15 .4141E+01
4 .3535E+01 -.4210E-15 .4141E+01
2 .3535E+01 -.2525E-15 -.4697E+01
2 1 3 -.2525E+01 -.2238E-14 -.3434E+01
5 -.2525E+01 .6893E-14 .2879E+01
6 .2525E+01 .6893E-14 .2879E+01
4 .2525E+01 -.2238E-14 -.3434E+01
3 1 5 -.1515E+01 -.3141E-14 -.2172E+01
7 -.1515E+01 .1401E-14 .1616E+01
8 .1515E+01 .1401E-14 .1616E+01
6 .1515E+01 -.3141E-14 -.2172E+01
4 1 7 -.5051E+00 -.4341E-14 -.9091E+00
9 -.5051E+00 -.3150E-15 .3535E+00
10 .5051E+00 -.3150E-15 .3535E+00
8 .5051E+00 -.4341E-14 -.9091E+00

Analisando o ficheiro de saída de resultados (OUTPUT) verifica-se qual o tipo


de resultados associados a elementos finitos de membrana.

Nos deslocamentos calculados, pode-se ver que os deslocamentos da


extremidade livre da consola (nós 9 e 10) são ambos iguais a -0.11202
polegadas (‘inches’, in) isto é 0.11202 x 25.4 mm = 2.85 mm <<< 12 mm.

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Logo o erro relativo cometido nesta análise por esta modelação é da ordem de
75%, quando comparado com o resultado teórico exacto de 12 mm. Este
resultado não é portanto próximo da solução correcta ! . A razão é que os
elementos de 4 nós são demasiado rígidos para modelar efeitos de flexão.

O ficheiro de resultados também indica as tensões nos 4 nós de canto de cada


elemento. Podem-se observar descontinuidades nos valores das tensões no
mesmo nó (saltos), comum a elementos adjacentes: por exemplo, o salto nas
tensões do nó 4 dos elementos 1 e 2.

Assim destes resultados pode-se apreciar que esta solução computacional pelo
MEF não apresenta rigor aceitável. Logo modelar pelo MEF é uma Arte !

Modelação com elementos de membrana de 9 nós

Note-se que os elementos de 9 nós, por terem 3 nós em cada lado e também
segundo 2 direcções ortogonais internas, têm capacidade de modelar
exactamente variações quadráticas de deslocamentos (obviamente porque por
3 pontos passa um polinómio interpolador do 2º grau).

Usando estes elementos de 9 nós, deve-se melhorar os resultados. Para


comparar com o exemplo anterior, usaremos o mesmo número de nós ao
longo do comprimento e o mesmo espaçamento. Portanto agora modela-se a
viga com 2 elementos de membrana de 1.5 m de comprimento cada um.
Note-se que a distribuição de carga na face extrema também mudou (de
valores iguais P/2 e P/2), pois foi distribuída de modo equivalente por três
acções com valores apropriados (não uniformes) nos três nós: P/6, 2P/3 e P/6.

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Os valores distintos atribuídos (ainda que de soma igual a P) devem-se à


diferença nas características dos elementos e suas funções de interpolação, e
podem ser justificados com o estudo mais detalhado do MEF através da
formulação geral do vector de acções nodais. Será aqui só abordado um
procedimento lógico possível para justificar os pesos ou fracções de 1/6, 2/3
(=4/6) e 1/6 a partir de P (que não é mais do que a Regra de Simpson 1-4-1).

Considere-se a figura anexa que representa a distribuição linear constante das


acções na extremidade da viga para o elemento de 4 nós.

q1 Q1=P/2

q3

q2 Q2=P/2

A área deste diagrama de acções é a carga P, tal que P = q1 h = q 2 h = q3 h . Mas


por simetria e equivalência P = Q1 + Q2 = 2Q1 = 2Q2 = P / 2 + P / 2 .

Considere-se agora a figura anexa que representa a distribuição parabólica das


acções na extremidade da viga para o elemento de 9 nós.

q1 Q1=P/6

q3 Q3=2P/3

q2 Q2=P/6

A área deste diagrama de acções é a carga P, tal que


h h 2
P = q1 + q2 + (q3 − q1 ) h . Mas por simetria q1 = q 2 , pelo que:
2 2 3

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h h 2 2 1 2
P = q1 + q 2 + ( q3 − q1 ) h = q1 h + (q3 − q1 ) h = q1 h + q3 h
2 2 3 3 3 3

1 2 1 1 2 1 1 2 1
= q1 h + q3 h + q1 h = q1 h + q3 h + q 2 h = P + P + P
6 3 6 {
6 P {
3 P {
6 P 6 3 6
{ { {
anterior anterior anterior Q1 Q3 Q2

As numerações dos elementos finitos e dos nós são indicadas na figura anexa,
e foram utilizadas no mesmo programa de cálculo automático de análise de
estruturas juntamente com as coordenadas dos nós, condições fronteira, acções
nos nós dos elementos e outras informações relativas às propriedades de cada
elemento de membrana (E, espessura e coeficiente de Poisson ν).

15 kN

60 kN

15 kN

O ficheiro de dados para a modelação com os 2 elementos de 9 nós é


praticamente idêntico ao anterior, com as necessárias mudanças na
conectividade dos elementos de membrana.
Cantilever - 2 - nine node elements
15,1,1 : 1 element type, 1 load case
:
Coordinate
1 x=0 y=0 z=0
13 y=120 g=1,13,3
3 y=0 z=12 g=1,3,1
14 y=120 z=6 g=2,14,3
15 z=12 g=3,15,3

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:
Boundary
1,3,1 DOF=F,F,F,F,F,F
4,15 DOF=F,R,R,F,F,F
:
PLANE
2,1,0
1 E=29000 U=0.0
1 N=1,4,7,2,5,8,3,6,9 g=2,1 m=1 h=6
:
Loads
13 l=1 f=0,0,-3.333333
14 l=1 f=0,0,-13.333333
15 l=1 f=0,0,-3.333333
:
*** CONCENTRATED NODAL LOADS ***
NODE LOAD X Y Z XX YY ZZ
13 1 .00E+00 .00E+00 -.33E+01 .00E+00 .00E+00 .00E+00
14 1 .00E+00 .00E+00 -.13E+02 .00E+00 .00E+00 .00E+00
15 1 .00E+00 .00E+00 -.33E+01 .00E+00 .00E+00 .00E+00

O novo ficheiro de resultados da modelação com os 2 elementos de 9 nós é:


SOLUTION CONVERGED IN 1 ITERATIONS
*** PRINT OF FINAL DISPLACEMENTS ***

DISPLACEMENTS FOR LOAD CONDITION 1


NODE X Y Z XX YY ZZ
1 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
2 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
3 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
4 .00000E+00 -.14751E-01 -.38970E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
5 .00000E+00 .47417E-16 -.38970E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
6 .00000E+00 .14751E-01 -.38970E-01 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
7 .00000E+00 -.25862E-01 -.14259E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
8 .00000E+00 .10431E-15 -.14259E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
9 .00000E+00 .25862E-01 -.14259E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
10 .00000E+00 -.31993E-01 -.28932E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
11 .00000E+00 .15134E-15 -.28932E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
12 .00000E+00 .31993E-01 -.28932E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
13 .00000E+00 -.34483E-01 -.45760E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
14 .00000E+00 .14538E-15 -.45760E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
15 .00000E+00 .34483E-01 -.45760E+00 .00000E+00 .00000E+00 .00000E+00
-------- PLANE/PLATE/SHELL STRESS RESULTS --------
-------- ELEMENTS ARE IN THE Y-Z PLANE --------
EL# LD# PNT# SX SY SXY
-------------------------------------------------------------------------
1 1 1 -.1602E+02 .2925E-08 -.3667E+00
7 -.8981E+01 -.3201E-08 -.3667E+00
9 .8981E+01 .3201E-08 -.3667E+00
3 .1602E+02 -.2925E-08 -.3667E+00
2 1 7 -.7686E+01 .3208E-08 -.3667E+00
13 -.6475E+00 -.4090E-08 -.3667E+00
15 .6475E+00 .4091E-08 -.3667E+00
9 .7686E+01 -.3209E-08 -.3667E+00

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

Os resultados dos deslocamentos do modelo de dois elementos de 9 nós


indicam que na extremidade, nós 13-14-15, o deslocamento vertical é -0.4576
polegadas, ie, 0.4576 x 25.4=11.6 mm. Portanto um valor quase exacto com
erro inferior a 2-3%, aceitável em engenharia civil. Enquanto o modelo de 9
nós tem mais nós em altura que o de 4 nós, isto não é só a razão pela qual o de
quatro nós é tão ineficiente. De facto se fossem usados 40 elementos de 4 nós,
o deslocamento da extremidade seria -0.4481 polegadas (11.4 mm) com erro
semelhante à anterior modelação realizada com 2 elementos de 9 nós.

Para analisar agora os resultados das tensões sabe-se que a tensão na fibra
M
superior de uma viga pode ser calculada pela equação σ = ; assim, para a
I /v
secção de encastramento a tensão normal de flexão seria 120 MPa. Na secção
de encastramento, os resultados do modelo de 4 nós indicam (em unidades
imperiais U.K./U.S.A.) uma tensão normal de 3.54 ksi (24.4 MPa), enquanto
os resultados do modelo de 9 nós indicam a tensão normal de 16.02 ksi (110.6
MPa). Mesmo para o modelo de 40 elementos de 4 nós ter-se-ia a tensão
normal de 15.96 ksi (110.2 MPa). Assim novamente o modelo de 9 nós
permite os melhores resultados obtidos com excelente rigor (face aos
resultados insatisfatórios do modelo de 4 nós inicial).

Necessidade de bloqueio ou impedimento das deformações de corte

O problema fundamental com o elemento de 4 nós reside no modo como o


elemento modela a flexão proveniente dos momentos flectores. A figura anexa
indica as deformações com que cada elemento de membrana (de 4 nós e de 9
nós) contribui para aproximar a flexão na viga encastrada.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

O elemento de 4 nós só pode modelar flexão com leis lineares de


deslocamentos. O elemento de 9 nós pode modelar flexão com leis quadráticas
de deslocamentos. O modelo de deslocamentos lineares, do elemento de 4
nós, provoca a ocorrência de deformações fictícias de corte no elemento, que
na realidade não ocorrem na flexão pura. O modelo de deslocamentos
quadráticos, do elemento de 9 nós, não gera este corte fictício.

Fenómeno de Shear Locking

Este fenómeno é designado Shear Locking e pode ser literalmente traduzido


como a Necessidade de Bloqueio ou Impedimento das Deformações de Corte
para assegurar um desempenho mais real do MEF na modelação de flexão.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

Apesar de ter sido apresentado o conceito de Shear Locking com o elemento


de membrana de 4 nós, que gera deformações de corte fictícias, existem
todavia elementos de 4 nós que não exibem este problema. Mudando a
formulação do elemento, pode-se criar um elemento de 4 nós com melhor
comportamento à flexão.

Os dois métodos mais comuns para assegurar impedimento das deformações


de corte (shear locking) baseiam-se em criar um elemento não-conformado
(non-conforming element) ou usar integração reduzida (integração numérica
com avaliação funcional em determinados pontos) na avaliação da matriz de
rigidez do elemento de membrana.

No método do elemento não-conformado adicionam-se ao modelo de 4 nós


funções de forma adicionais que contêm a forma ou modo de flexão. Porém
esta função de forma adicional não é contínua ao longo da fronteira do
elemento (é um modo de incompatibilidade), portanto o efeito é o de permitar
a abertura de intervalos fendas ou buracos (descontinuidades) entre elementos.
No método da integração reduzida usa-se um número diferente de pontos de
Gauss (portanto também ‘incompatibilidade’ processual) durante a integração
numérica das parcelas (flexionais e de corte) definidoras da matriz de rigidez:

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

as parcelas flexionais recorrem a 4 pontos de Gauss, enquanto que as parcelas


de corte usam 1 ponto de Gauss (determinação mais relaxada). Os pontos de
integração onde a função integrante é determinada são escolhidos de forma
que este efeito de corte (inerente ao shear locking) não ocorra numericamente,
isto é não seja incluído. Para o exemplo apresentado da viga em consola sob
acção de extremidade, usa-se um único ponto de avaliação funcional no centro
do elemento para avaliar ou integrar as parcelas da matriz de rigidez definidas
a partir da energia de deformação do efeito de corte. Isto equivale a desprezar
as deformações de corte associadas a leis lineares de deslocamentos.

Exercício de modelação adicional proposto


Sugere-se a modelação comparativa desta consola pelo ROBOT-Millennium,
graficando o deslocamento vertical e a tensão normal na fibra superior.
10 kN

10 kN

5 kN
10 kN
5 kN

5 kN
10 kN
5 kN

3.33 kN
13.33 kN
3.33 kN

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6. Análise de uma barra de inércia variável sob tracção


usando elementos finitos de barra

Os objectivos deste parágrafo são múltiplos:


1) Descrever a origem de erros no MEF
2) Descrever métodos de melhoria da solução, reduzindo o erro
3) Descrever a natureza não-contínua das tensões em elementos finitos

Para uma barra de secção constante, não há qualquer necessidade em aumentar


a precisão utilizando funções de forma não-lineares. Contrariamente para
barras de inércia variável (com variação da secção ao longo do comprimento)
solicitadas axialmente, pretende-se verificar os efeitos de escolha da função de
forma na precisão da correspondente modelação pelo MEF.

Considere-se então o seguinte exemplo simples de uma barra de espessura


unitária cuja solução exacta pode ser determinada analiticamente, para
comparar com soluções aproximadas obtidas pelo MEF.

Note-se que não são formalmente especificadas quaisquer unidades, que


portanto poderão ser referidas a qualquer sistema ou conjunto consistente.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

A solução exacta dos deslocamentos axiais ao longo do comprimento (função


de x) pode ser determinada calculando as extensões axiais pela equação
constitutiva axial do material e posteriormente integrando a equação
cinemática descrevendo as extensões axiais à custa dos deslocamentos axiais.

σ N ∂u
ε x ( x) = = =
E E (10 − 0.09 x ) ∂x

x x N N x − 0.09
u ( x) = ∫ 0
ε x ( x) dx = ∫
0 E (10 − 0.09 x )
dx =
E (−0.09) ∫ (10 − 0.09 x )
0
dx =

N
= [ln (10 − 0.09 x ) − ln 10]
E (−0.09)

Para uma barra de aço de construção metálica (E=200 GPa), comprimento


L=100 cm, acção (kN) e área (cm2), o gradiente de decréscimo da área é dado
por (-0.09) cm2/cm de comprimento. Assim o deslocamento axial exacto (cm)
será:

20
u ( x) = [ln (10 − 0.09 x ) − ln 10] =
200 ×10 × (−0.09) ×10 − 4
6

ln 10 ln (10 − 0.09 x )
= − = 0.025584 − 0.011111 × ln (10 − 0.09 x )
90 90

Esta lei dá obviamente deslocamento nulo no encastramento, e deslocamento


axial máximo na extremidade livre de valor (ln 10) / 90 = 0.025584 cm.

A barra será modelada pelo MEF usando 3 formulações distintas das funções
de forma, assumidas para a barra dividida num ou dois elementos.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

Na primeira formulação só um deslocamento incógnita é assumido na


extremidade da barra; na segunda formulação escolhem-se dois deslocamentos
incógnitas, um na extremidade e o outro a meio da barra, com variação linear
dos deslocamentos nos 2 elementos assim constituídos; na terceira formulação
os dois deslocamentos incógnitas (anteriormente referidos) são considerados
com distribuição quadrática de deslocamentos ao longo do elemento finito
barra-única.

Usando as funções de forma apropriadas a cada elemento, formando as


matrizes de rigidez de cada elemento, assemblando as contribuições e
determinando os deslocamentos, podem-se também determinar as tensões ao
longo da barra em cada formulação.

Analisando os deslocamentos comparativamente com os da solução exacta,


verifica-se que as funções de deslocamento assumidas nas três formulações
tentam aproximar a função real exacta por leis linear, bi-linear e de uma
função quadrática respectivamente.

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

O MEF teoricamente permite usar funções lineares, pois no limite quando o


número de elementos ou segmentos finitos tende para infinito a resposta será
exacta. Mas é claro que a aproximação bi-linear é melhor que a aproximação
linear. Uma aproximação tri-linear seria melhor e assim sucessivamente.
Também é evidente que a aproximação quadrática é melhor que as outras duas
aproximações consideradas da lei exacta logarítmica.

A análise da variação das tensões indica resultados mais discrepantes. A


tensão em cada elemento linear é constante. Isto é óbvio dado que a tensão é
proporcional à extensão, e a extensão é a derivada do deslocamento axial.

Outro facto sobre o MEF é que se trata de uma formulação generalizada do


método dos deslocamentos para o contínuo em análise, o que pressupõe que a
lei de variabilidade de deslocamentos é contínua (pelo menos da classe C(0)).

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Teoria de Estruturas 2 – Introdução ao Método dos Elementos Finitos

Mas nada se afirma quanto às extensões e quanto às tensões. Verifica-se que


os deslocamentos são contínuos mas as tensões são descontínuas. Isto pode ser
visto nos resultados da aproximação bi-linear. As tensões são constantes mas
diferentes entre as duas metades da barra de inércia variável.

Note-se finalmente que a distribuição de tensões para a aproximação


quadrática de deslocamentos é linear. Novamente, isto é devido ao facto que a
tensão é proporcional à derivada do deslocamento.

Note-se ainda que em todos os casos, a tensão obtida pelo MEF é menor que o
maior valor exacto da tensão no domínio do elemento respectivo. Isto significa
que os resultados das tensões pelo MEF são obtidos por defeito, constituindo
portanto valores não conservativos pois não estão do lado da segurança.

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Precisão das funções de forma

Sob a forma de resumo final, pode-se afirmar que a precisão de um elemento


finito é dependente da escolha da função de forma para aquele elemento e do
número de elementos finitos usados na modelação. No limite à medida que o
número de elementos cresce tendendo para infinito, o modelo dará resultados
exactos.

Os deslocamentos são assumidos como contínuos entre os elementos. Porém,


as tensões não são contínuas entre os elementos.

A melhor precisão está associada à modelação com muitos elementos, de


ordem de interpolação mais elevadas. Igual precisão pode ser alcançada por
um grande número de elementos de baixa ordem.

Obviamente, o número de elementos necessários depende do campo de


deslocamentos que se tenta determinar ou modelar. Se por experiência ou
conhecimento aproximado de desempenhos se sabe qual o tipo de variação do
campo de deslocamentos, não interessa modelar por elementos finitos de
ordem superior a essa (como é óbvio, um campo de deslocamentos lineares só
precisa de modelação por elementos lineares; e assim sucessivamente).

A ponderação e o conhecimento mais real sobre o efectivo desempenho das


peças e estruturas constitui um meio útil para a percepção de maior rigor
necessário associado a determinadas formulações com funções de forma.
Mesmo reconhecendo o elevado potencial dos actuais pacotes computacionais
de análise e projecto de estruturas por elementos finitos, nunca o utilizador
deverá menosprezar o seu papel de utente porque tal atitude desvirtua o
conceito de que modelar pelo MEF é uma Arte.

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