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ANÁLISE DA VIBRAÇÃO DE LANCHA DE RECREIO

SUBMETIDA A CARREGAMENTOS DINÂMICOS

Severino Fonseca da Silva Neto, D.Sc.


COPPE & EE / UFRJ
severino@ufrj.br

Alexandre Fernandes
Pro Boat Yachts
fernandes@proboat.com.br

1. INTRODUÇÃO não, de uma análise dinâmica, desta vez


harmônica, no projeto estrutural.
O objetivo deste trabalho é avaliar a utilização
de modelos estáticos para predizer o 2. CONCEITOS BÁSICOS
comportamento dinâmico de lanchas de
recreio. Além disso, quando uma estrutura é Serão apresentados rapidamente os principais
analisada através do método dos elementos conceitos básicos relevantes referentes às três
finitos, a exigência de uma representação análises que foram feitas ao longo deste
adequada das características físicas da trabalho: análise estática, análise de vibração
estrutura implica na utilização de um modelo livre e análise de resposta dinâmica estrutural.
detalhado com um elevado número de graus
de liberdade. O que demanda muitas horas de 2.1 Análise Estática
trabalho computacional para a modelação e
na análise de resultados. A equação de equilíbrio da análise estática
pode ser representada da seguinte maneira:
A utilização de um método simplificado,
unidimensional, pode proporcionar um meio [K ]{u} = { f }, (2.1)
rápido para a avaliação do comportamento
estrutural. Desta forma, a partir dos modelos e onde [K] é a matriz de rigidez do sistema,
análises feitas nas etapas de pré- baseada na geometria e propriedades
processamento, processamento e pós- mecânicas de materiais, {f} é o vetor de forças
processamento, foram feitas três e {u} é o vetor de deslocamentos.
comparações: freqüência natural, pressões de
slamming e momento devido ao motor, para O desenvolvimento para se chegar a esta
que se possa dar início a discussão a respeito equação de equilíbrio inicia-se nas equações
de um critério para avaliar antecipadamente a básicas da teoria da elasticidade. Isto é,
necessidade ou não de uma análise dinâmica através da definição do estado de tensão num
completa. (σ , σ , σ , τ , τ , τ )
volume elementar x y z xy yz zx ,
Na primeira comparação foi discutida a do estado de deformação de um ponto
validação ou não do modelo unidimensional (ε x , ε y , ε z , γ xy , γ yz , γ zx ) e das relações entre
para a avaliação da freqüência natural em
embarcações de recreio, método utilizado pela componentes de deformação e deslocamentos
maioria dos engenheiros navais e que poupa (u, v, w) em um ponto. Através da Lei de
grande esforço computacional e tempo, e que [ ]
Hooke, {σ } = E {ε } , consegue-se relacionar
se validado pode ser utilizado para a análise
as tensões com as deformações e, desta
dinâmica no domínio da freqüência.
forma, obter deformações e tensões a partir
Na segunda comparação foi analisado a de deslocamentos conhecidos.
necessidade de se fazer uma análise dinâmica
no domínio do tempo, ou somente estática, Através da energia potencial, funcional Π ,
para determinação dos esforços atuantes na isto é, soma entre a energia de deformação e
estrutura, necessários para um projeto o trabalho virtual realizado pelas forças
estrutural. A terceira e última comparação volumétricas e por ações externas, consegue-
também tratou de verificar a necessidade, ou

1
se obter a matriz de rigidez pelo principio De posse do valor de {u’’}, o valor de {u} é
variacional δΠ = 0 . calculado facilmente pela equação
{u ' '} = [T ]{u}pelo fato de [T] ser uma matriz
A matriz de rigidez mostrada na equação 2.1 triangular superior. A partir dos deslocamentos
deve ser relacionada para cada elemento do globais e das matrizes de rigidez locais, os
modelo da estrutura global. Uma vez obtida a esforços podem ser calculados.
matriz de rigidez de um elemento, o processo
de solução pelo método dos elementos finitos 2.2 Análise de Vibração Livre
se resume no tratamento de diversas
matrizes. Após a decomposição da matriz de rigidez
(equação 2.1) a análise de vibração livre pode
Após a expansão de todas as matrizes [K] de ser feita. A análise é baseada no método de
cada elemento, pode-se montar a matriz de iteração por subespaços melhorados. Este
rigidez global da estrutura e a partir da método requer a definição de um conjunto de
equação de equilíbrio já apresentada acima vetores de partida tais que, quando aplicados
resolver o sistema. Desta forma, decompôe-se à estrutura, resulte em um conjunto de vetores
a matriz de rigidez no produto: de deslocamento linearmente independentes.
Estes vetores são, então, utilizados como
K = [T ] [d ][T ] ,
t (2.2)
base de um subespaço para reduzir o
tamanho do problema. Os autovetores
onde [T] é uma matriz formada por resultantes são usados para estabelecer um
submatrizes identidade na diagonal e conjunto de melhores vetores de partida e o
submatrizes nulas abaixo da diagonal e d uma método é repetido até a convergência.
matriz formada por submatrizes nulas fora da
diagonal e por submatrizes não nulas na Este método de iteração por subespaços
diagonal. Após esta decomposição a solução consiste na solução da equação:
é calculada através de:
K . X = M . X . A (2.9)
[K ]{u} = { f }, ,
( mxm) ( mxn ) ( mxm ) ( mxn ) ( nxn )
(2.3)
onde K é a matriz de rigidez e M representa a
onde {u} é o vetor (ou matriz para mais de matriz massa (ambas de ordem m). Os
uma condição de carregamento) dos valores de X (matriz composta por n
deslocamentos e {f} é o vetor (ou matriz) das autovetores dispostos em colunas, n < m) e A
cargas aplicadas. Substituindo a primeira (matriz diagonal n x n contendo autovalores
equação na equação acima tem-se: em sua diagonal) são calculados a partir do
algoritimo a seguir:
[T ]t [d ][T ]{u} = { f } , (2.4)
ƒ Para k = 1, 2, ..., iteragir de (k-1) para
(k):
e definindo:
K . X K = M . X ' K −1 , (2.10)
{u '} = [d ][T ]{u}, (2.5)

a partir de X0’, conjunto de vetores de partida


temos: baseados em séries harmônicas.

[T ]t {u '} = { f }, (2.6) ƒ Calcular as projeções dos operadores


K e M no subespaço da iteração (K):
onde {u’} é facilmente calculado pelo fato de
[T] ser uma matriz triangular superior. M K = X Kt .M . X K , (2.11)
Definindo:
K K = X Kt .K . X K . (2.12)
{u ' '} = [T ]{u}, (2.7)

Nota-se que o produto (K.XK) da equação 2.12


temos a partir de {u '} = [d ][T ]{u} que: já foi calculado na equação 2.10.

Resolver o auto-sistema dos


{u ' '} = [d ]−1{u '}. (2.8) ƒ
operadores projetados:

2
K K .Q K = M K .Q K . AK , (2.13) M .&r& + C.r& + Kr = R(t ) , (2.15)

calculando QK e AK, respectivamente


autovetores e autovalores no subespaço (k). onde:
K = matriz de rigidez
ƒ Encontrar uma melhor aproximação C = matriz de amortecimento
dos autovetores: M = matriz massa
&r&, r&, r= respectivamente vetores de
X '
= X K .Q K . (2.14)
K aceleração, velocidade e deslocamento
Considerando os deslocamentos r-3, r-2, r-1 e r0
ƒ Fim da iteração, retornar a equação nos instantes de tempo 0, T, 2T e 3T, e
2.10. utilizando funções de interpolação de
Lagrange, pode-se calcular o deslocamento r
Com a condição que o conjunto de vetores de em um instante qualquer t através de:
partida X’0 não seja ortogonal a um dos
autovetores desejados, AK tende a A e X’K
r = f .r + f .r + f .r + f .r (2.16)
−3 −3 −2 −2 −1 −1 0 0
tende a X quando k tende a infinito, sendo A e
X soluções exatas da equação 2.9. Quando os onde f -3, f -2, f -1 e f 0 são funções que dependem
autovalores estiverem suficientemente apenas do intervalo de tempo T e do instante t
próximos dos encontrados na iteração anterior onde o valor de r deve ser calculado.
o algoritimo termina.
A partir da equação 2.16 pode-se obter os
2.3 Análise Dinâmica valores de &r& e r& através de derivações e,
substituindo estas expressões de
Dois aspectos básicos diferenciam a análise deslocamento, velocidade e aceleração na
dinâmica da análise estática. Primeiro, cargas equação 2.15, obtêm-se:
dinâmicas são aplicadas como função do
tempo ou freqüência. Segundo, essas cargas, (T 2 . K + 11 6 .T .C + 2. M ).r0 = T 2 . R0 −
que variam com o tempo ou com a
freqüência, induzem respostas, que variam
com o tempo ou com a freqüência
− C .( − T 3 .r−3 + 3 2 .T .r−2 − 3.T .r−1 ) −
(deslocamentos, velocidades, acelerações,
forças e tensões). − M .( − r−3 + 4.r−2 − 5.r−1 )
Desta forma, a resposta dinâmica de um
(2.17)
sistema estrutural difere da resposta estática
devido à importância dos efeitos inerciais, os que é a fórmula de recorrência para o método
quais não aparecem em um carregamento de Houbolt. Antes desta ser aplicada, os
constante ao longo do tempo, ou seja, de valores dos deslocamentos em três instantes
caráter estático. consecutivos devem ser determinados. O
processo de inicialização do método
Os primeiros métodos utilizados nas análises
determina os valores de r-1 e r1 a partir dos
dinâmicas eram essencialmente formulados
valores conhecidos de R0, r0 e r0 (cargas,
no domínio da freqüência devido ao custo &
computacional da análise dinâmica no deslocamentos e velocidades no instante t=t0).
domínio do tempo em desenvolvimento ainda
precário. Com disponibilidade de Através da equação 2.15, obtêm-se para
processadores numéricos cada vez mais t=t0:
avançados e da necessidade de maior
precisão nas análises, o uso dos métodos no (2.18)
&r&0 = M −1 .( R0 − C.&r&0 − K .r0 ) .
domínio do tempo tem se tornado mais
freqüentes pela sua flexibilidade e precisão
em analises de carregamentos em estados de Das equações que surgiram da derivação da
mar irregular e representação de não equação 2.16 pode-se obter:
linearidades.
r&0 = 1 (6T ) .( 2.r1 + 3.r0 − 6.r−1 + r− 2 ) (2.19)
A equação básica para o cálculo de resposta
transiente é da forma: e

3
&r&0 = 1 (T 2 ) .(r1 − 2.r0 + r−1 ) , (2.20) tensões nos intervalos de tempo onde estes
deslocamentos foram determinados.

onde a equação 2.20 pode ser reescrita da


forma:
3. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA
(2.21)
r−1 = T .&r&0 + (2.r0 − r1 ) .
2
Foi utilizada uma embarcação do tipo
catamaran, onde cargas de slamming
Combinando as equações 2.19 e 2.21, obtêm- possuem um significado maior devido às
se: maiores velocidades e maiores áreas planas
no teto e laterais do túnel. Estas forças de
r−2 = 6.T 2 .r&&0 + 6.T .r&0 + 9.r0 − 8.r1 (2.22)
impacto, slamming, levam a momentos
vibratórios transientes na estrutura do casco.
As equações 2.21 e 2.22 são expressões Além disso, a estrutura de um catamaran
aproximadas de r-1 e r-2 em termos de sofre uma maior atuação de esforços torsores,
&r&0 , r&0 , r0 conhecidos e de r desconhecido. tornando sua estrutura menos rígida do que a
1 de monocascos.
Substituindo estas expressões na equação
de recorrência 2.17 para t=T, obtêm-se: O catamaran analisado neste trabalho foi
projetado pelo escritório Scott Robson Design,
(T 2 .K + 3.T .C + 6.M ).r1 = T 2 .R1 − Nova Zelândia, e atualmente é construído
pelo estaleiro Pro Boat Ltda, Brasil. O arranjo
geral da embarcação é apresentado na figura
− C .( − T 3 2 .&r&0 − 2.T 2 .r&0 − 3.T .r0 ) − 3.1 e suas características principais são:

− M .(2.T 2 .&r&0 + 6.T .r&0 + 6.r0 ) PROBOAT CAT 40’

L.O.A.: 12,32 m
(2.23)
L.W.L.: 10,20 M
que pode ser resolvida para calcular r1 a
partir de valores já conhecidos. De posse
Boca: 4,50 M
de r1, podemos calcular r-1 através da
equação 2.21.
Calado: 0,61 M
Com os valores de r-1, r0 e r1
determinados, utiliza-se a fórmula de Deslocamento: 12.000 ton
recorrência, equação 2.17, para obter
r2,r3,r4,..., etc. Velocidade: 31 nós

Desta forma, com as matrizes de rigidez e tabela 3.1 – Características Principais


massa formadas e com o intervalo de
tempo que se deseja analisar, calcula-se a
aceleração inicial e a matriz K’:

(2.24)
K ' = T 2 .K + 3.T .C + 6.M .
Após a decomposição da matriz K’
calcula-se o valor de r1 e r-1 de acordo
com as equações 2.23 e 2.21
respectivamente. Após isto, calcula-se o
valor da matriz K’’ para os intervalos de
tempo subseqüentes:

K ' ' = T 2 .K + 11 6 .T .C + 2.M . (2.25)

Após a decomposição da matriz K’’ consegue-


se obter os deslocamentos da estrutura e as

4
figura 3.1 – Arranjo Geral e Topologia Estrutural

Para determinação das pressões de slamming tabela 3.2 – Pressões de Slamming


atuantes foi utilizada a regra da Sociedade
Classificadora ABS, Motor Pleasure Yachts, Os problemas de ressonância em vibração
Seção 8. Desta forma, foram utilizadas as forçada podem ocorrer se as forças e
seguintes pressões de slamming pára análise momentos, produzidos pelos equipamentos a
do modelo: bordo, excitarem a estrutura da embarcação
em alguma de suas freqüências naturais.
Nessas situações, a estrutura é solicitada com
PRESSÕES
uma magnitude maior, já que a amplitude de
resposta sofre uma amplificação, que pode
0 ~ 0,05 LWL 13,45 kN/m²
levar ao colapso da estrutura ou diminuir a
sua vida útil.
0,05 ~ 0,45 LWL 16,84 kN/m²
A partir das características do sistema
0,45 ~ 0,50 LWL 13,45 kN/m² propulsivo especificado, foi possível calcular
as freqüências das forças provocadas pela
0,50 ~ 1,00 LWL 12,50 kN/m² ação do motor, do eixo e do propulsor.

5
ƒ Forças e momentos de desbalanceamento
do motor:
1º Ordem: 46,7 Hz e 2º Ordem: 93,4 Hz
ƒ Forças excitadas pelo eixo propulsor:
1º Ordem: 23,3 Hz

ƒ Forças excitadas pelo hélice:


1º Ordem: 93,2 Hz

4. MODELANDO O PROBLEMA

Para a modelação do problema foi utilizado o figura 4.1 – Modelo Unidimensional Final
programa MSC/NASTRAN V4.0. A modelação
da embarcação foi realizada de duas formas 4.2 Modelo Estrutural Tridimensional
diferentes: unidimensional e tridimensional.
No modelo tridimensional, todo o casco,
Primeiramente, foi realizada a modelação
convés e elementos estruturais foram
unidimensional, onde toda a embarcação foi
modelados de forma a retratar a embarcação
reduzida a uma viga. Em geral, este processo
o mais próximo possível com a realidade. Isto
possui uma etapa rápida de pré-
faz com que este tipo de modelação,
processamento, entretanto é necessário que
tridimensional, consuma muito tempo.
muitas considerações e simplificações sejam
impostas ao modelo. A primeira etapa para gerar o modelo
Entretanto, na modelação tridimensional leva- tridimensional foi utilizar um programa de
se muitas horas de pré-processamento, arquitetura naval para obter a superfície do
porém, é possível que o problema seja melhor casco. Para isso foi utilizado o programa
visualizado, ou seja, obtém-se uma melhor MAXSURF 8.05. Após a geração da superfície
etapa de pós-processamento. do casco, o próximo passo foi importar esta
para outro programa de geração de
4.1 Modelo Estrutural Unidimensional superfícies (SOLIDWORKS 2000), a fim de
gerar toda a topologia estrutural da
A definição do modelo unidimensional foi embarcação. As superfícies geradas
dividida em sete etapas. Na primeira etapa, a anteriormente foram importadas para o
embarcação foi dividida em 26 seções, programa MSC/NASTRAN V4.0, onde, de
igualmente espaçadas, e definidas as suas acordo com o plano de laminação, foram
características geométricas (ATOTAL, AYY , AZZ , criadas as seguintes layers: costado, fundo,
IYY, IZZ e Jx ). espelho de popa, convés, anteparas
transversais, anteparas longitudinais, teto do
O próximo passo foi fazer o levantamento e
túnel, lateral do túnel, longarinas e
simplificações das propriedades mecânicas
transversais.
dos materiais utilizados. A partir disto, pode-se
definir os elementos de viga e de mola, esses
últimos através de uma simulação do empuxo.
Através do posicionamento dos motores,
tanques d’água e de diesel pode-se definir os
elementos de massa e, a partir da aplicação
de cargas e de condições de contorno, pode-
se analisar o modelo.
A figura a seguir apresenta o modelo
unidimensional final que foi utilizado para as
análises e comparações ao longo do trabalho.
O modelo apresentou 26 elementos de viga,
21 elementos de mola, 6 elementos de massa,
49 nós e 160 graus de liberdade.

6
figura 4.2 – Vista Isométrica das Superfícies
Foram utilizados elementos do tipo laminado elásticas definidas anteriormente no modelo
para a representação das superfícies do casco unidimensional, conforme observado na tabela
(fundo, espelho de popa e costado), do convés abaixo.
e de toda a parte estrutural (longarinas,
transversais e anteparas transversais e O posicionamento dos elementos de massa foi
longitudinais). feito de acordo com o posicionamento dos
dois motores, dos dois tanques d’água e dois
Com o objetivo de que os dois modelos tanques de combustível. As massas foram
retratassem o mesmo problema, foi divididas em quatro elementos de massa e
considerado que cada mola calculada posicionados.
anteriormente, no modelo unidimensional,
fosse dividida em duas molas em paralelo e Ao final desta fase de pré-processamento, foi
que colocadas nas mesmas posições obtido o modelo tridimensional onde foram
longitudinais do modelo unidimensional. Foi utilizados um total de 23.034 nós, 23.730
utilizado para cada uma das molas, o valor elementos de laminado, 44 elementos de mola
corresponde à metade das constantes e condições de contorno que forneceram
130.000 graus de liberdade.

7
figura 4.3 – Modelo Tridimensional Final

5. ANÁLISES freqüência do motor a partir de uma função


constante com valor unitário. Este valor
A partir das duas modelações feitas unitário nas duas funções foi utilizado para se
anteriormente foram feitas várias análises de saber qual a amplificação das tensões e
vibração livre, estática e de resposta deformações, obtidas com a análise estática,
dinâmica. Desta forma, serão apresentadas as a partir das análises dinâmicas.
etapas de pós-processamento, saídas
gráficas, valores de tensões, deslocamentos e 5.1 Vibração Livre
freqüências, para cada análise.
A análise de vibração de todo o sistema foi
A primeira análise feita foi a de vibração livre. feita para garantir que as freqüências naturais
Esta análise foi necessária para obter o não estão próximas das freqüências de
primeiro e o segundo modos de vibração da excitação do motor, eixo e hélice. A
estrutura global e se essa estrutura terá algum proximidade das freqüências naturais com as
modo perto da faixa da freqüência de freqüências de excitação pode levar a uma
excitação do motor, eixo propulsor e hélice. falha prematura da estrutura, devido a fadiga
Na modelação unidimensional e tridimensional e amplificações dos esforços, ou no caso de
foram analisados dois modelos: com molas e embarcações de recreio pode também causar
sem mola. Desta forma conseguiu-se desconforto nas pessoas a bordo.
demonstrar que o efeito das molas simulando
o empuxo não afeta as análises feitas. 5.1.1 Modelo Unidimensional

É recomendável que uma análise estática A análise de vibração livre foi feita utilizando
preceda a análise dinâmica (transiente e dois modelos: com molas e sem mola. Em
harmônica). Esta análise estática foi feita no ambos os modelos foram feitos uma análise
modelo unidimensional e no modelo entre as freqüências de 0 a 60 Hz. A escolha
tridimensional. No modelo tridimensional foi deste intervalo foi feita de forma a garantir
aplicada a pressão de slamming no fundo e no que estivesse sendo analisado a faixa de
modelo unidimensional foi analisado o freqüência do primeiro e do segundo modo de
momento que motor aplica na estrutura. vibração e da faixa de excitação do eixo
propulsor (23,3 Hz) e do motor (46,7 Hz).
Na análise transiente foi utilizado o modelo
tridimensional e a pressão de slamming foi
aplicada, em função do tempo, a partir de uma
função em rampa com valor máximo unitário. As figuras a seguir apresentam o primeiro e o
Na análise harmônica foi utilizado o modelo segundo modo de flexão para os modelos com
unidimensional e foi feita a análise na faixa de molas e sem mola encontrados após a
análise.

8
figura 5.1 – Modelo Unidimensional sem Molas:
1º Modo de Flexão (6,64 Hz) e 2º Modo de Flexão (17,23 Hz)

figura 5.2 – Modelo Unidimensional com Molas:


1º Modo de Flexão (6,70 Hz) e 2º Modo de Flexão (17,27 Hz)

figura 5.3 – Modelo Unidimensional com Molas: Modo próximo da excitação do Motor (42.05 Hz)

Na tabela ao lado são apresentados os valores


de freqüências naturais encontrados para o
primeiro e segundo modos além do modo
mais próximo da freqüência de excitação do MODELO UNIDIMENSIONAL
motor.
Sem Mola Com Molas

1º Modo 6,64 Hz 6,70 Hz

2º Modo 17,23 Hz 17,27 Hz

Modo Motor 42,04 Hz 42,05 Hz

9
tabela 5.1 – Frequencias Naturais Molas: Modo próximo da excitação do Motor
(41.27 Hz)
5.1.2 Modelo Tridimensional Na tabela abaixo são apresentados os valores
de freqüências naturais encontrados.
Em uma análise preliminar obteve-se uma
grande quantidade de modos de corpo rígido,
de modos locais e de modos de flexão
acoplada com torção. Desta forma, para MODELO TRIDIMENSIONAL
diminuir a capacidade computacional
necessária, a faixa de freqüência inicial foi Sem Mola Com Mola
modificada para dois intervalos, no primeiro,
de 1~10Hz, foi possível eliminar os efeitos de 1º Modo 6,34 Hz 6,36 Hz
corpo rígido, abaixo de 1 Hz, no segundo
intervalo, de 40~50 Hz, foi feita a análise na Modo Motor 41,27 Hz 41,29 Hz
faixa de freqüência de excitação do motor.
tabela 5.2 – Frequencias Naturais
As figuras a seguir apresentam o primeiro
modo de flexão para os modelos com molas e
sem mola e o modo encontrado perto da 5.1 Vibração Forçada (Estática)
freqüência de excitação do motor.
Foram feitas duas análises estáticas. Na
primeira, utilizando o modelo tridimensional,
foi analisada a resposta da estrutura para as
pressões de slamming. Na segunda análise,
utilizando o modelo unidimensional, foi
simulado o momento gerado pelo motor na
estrutura. Este momento, de 1kN.m, foi
aplicado no nó entre os dois elementos de
massa que definiam os motores.

Na figura abaixo pode-se observar a maior


tensão obtida na análise estática a partir das
pressões de slamming. Esta tensão de
3921357 kgf/m² foi obtida na quinta camada
do laminado das longarinas, no elemento de
laminado número 4698.

figura 5.4 – Modelo Tridimensional com Molas:


1º Modo de Flexão acoplada com Torção (3,50
Hz) e 1º Modo de Flexão (6,34 Hz)

figura 5.6 – Modelo Tridimensional com


Molas: Camada 5- Longarinas (Tensões,
kgf/m²)

figura 5.5 – Modelo Tridimensional com

10
figura 5.7 – Modelo Unidimensional com
Molas: Deformações em Y (m)

5.2 Vibração Forçada (Dinâmica)

A resposta dinâmica de uma estrutura para


um dado carregamento pode ser algumas
vezes maior ou menor que a estática. Quanto
mais próximo o período do carregamento
estiver do período natural da estrutura, maior figura 5.8 – Função: Pressão de Slamming
será esta resposta da estrutura, e (amplificação) x Tempo (s) e
conseqüentemente, o comportamento Registro de Tensão (kgf/m²) x Tempo (s) –
dinâmico será mais relevante. Longarina (camada 5) – Elemento 4698
Como a análise no domínio do tempo
demanda maior tempo de computação e 5.2.2 Análise Harmônica
conseqüentemente custo, é comum fazer-se
uma análise preliminar no domínio da Na análise harmônica, no domínio da
freqüência para depois refiná-la no domínio do freqüência, foi utilizado o modelo
tempo. Isto não só reduz o esforço despendido unidimensional. A análise foi feita conforme a
na análise, como também proporciona uma análise estática, com o mesmo momento, em
verificação dos resultados. torno do motor. Neste caso, a análise foi feita
para a faixa de freqüência de 40~50 Hz, onde
5.2.1 Análise Transiente a função foi definida de acordo com a figura
abaixo, com valor máximo e constante, de
Para a análise transiente, isto é, no domínio modo a verificar a amplificação das
do tempo, foi utilizado o modelo deformações obtidas no modelo estático.
tridimensional. A função da variação da
pressão de slamming com o tempo foi definida Para a análise foi escolhido o nó 14 para ser
de acordo com a figura apresentada abaixo. O obtida a sua deformação. O valor encontrado
período da função foi definido de acordo com foi comparado com o deslocamento para o
o período de ondas da costa do Rio de mesmo nó utilizando a análise estática feita
Janeiro, com 90% de ocorrência ao ano: 4,7 s. anteriormente. A figura abaixo mostra os
valores das deformações encontrados nas
A análise foi feita simulando que a duas análises para este nó, apresentando uma
embarcação sofreria o impacto de cinco ondas amplificação próxima a freqüência de 42,05
em um intervalo de 23,5 segundos. Pode-se Hz, conforme freqüência obtida nas análises
observar na figura como ocorre a amplificação de vibração livre feitas anteriormente, e o
das tensões após cada impacto com as ondas valor de deformação obtida na análise
simuladas. estática.

11
análises apresentadas anteriormente, foram
feitas três comparações: freqüência natural,
pressões de slamming e momento devido ao
motor, para que se possa dar início a
discussão a respeito de um critério para
avaliar antecipadamente a necessidade ou
não de uma análise dinâmica completa.

6.1 Freqüência Natural, Modelo


Unidimensional vs Tridimensional

As análises feitas anteriormente utilizando o


modelo unidimensional e o modelo
tridimensional, ambos modelados com molas
e sem mola, mostram uma grande
proximidade dos resultados obtidos se
comparados. Esta proximidade mostra o
grande potencial da aplicação do modelo
unidimensional em análises no domínio da
freqüência. Esta possibilidade de redução de
uma análise tridimensional para
unidimensional faz com que muito tempo e
ferramental computacional seja poupado,
diminuindo o custo do processo de projeto.
Uma limitação deste procedimento é a
incapacidade de representação de modos de
figura 5.9 – Função: Momento (N.m) x torção acoplado com flexão no modelo
Freqüência (Hz) e Registro de unidimensional.
Deformação (m) x Freqüência (Hz) – Nó 14
As tabelas abaixo apresentam uma
comparação entre os resultados de flexão
obtidos entre as análises e o tempo gasto para
6. CONCLUSÕES cada modelação.

A utilização de um método simplificado,


unidimensional, pode proporcionar um meio
rápido para a avaliação do comportamento
estrutural. Desta forma, a partir dos modelos e

MODELO UNIDIMENSIONAL MODELO TRIDIMENSIONAL

Sem Mola Com Mola Sem Mola Com Mola

1º Modo 6,64 Hz 6,70 Hz 5,83 Hz 5,85 Hz

2º Modo 17,23 Hz 17,27 Hz - Hz - Hz

Motor 42,04 Hz 42,05 Hz 41,27 Hz 41,29 Hz


tabela 6.1 – Modelo Unidimensional x Modelo Tridimensional

12
MODELO UNIDIMENSIONAL MODELO TRIDIMENSIONAL

ETAPA Sem Mola Com Mola Sem Mola Com Mola

Pré-Processamento 120 min 120 min 5000 min 5000 min

Processamento 2 min 2 min 200 min 200 min

Pós-Processamento 5 min 5 min 100 min 100 min


tabela 6.2 – Modelo Unidimensional x Modelo Tridimensional

6.2 Pressões de Slamming, Análise pequeno aumento nas tensões, conforme


Estática vs Transiente verificado na tabela baixo. Este aumento no
nível de tensões, de aproximadamente 20%,
A análise transiente feita nos reforços ocorreu por causa da excitação da estrutura
longitudinais, região que apresentou maior devido a sucessivos impactos da embarcação
tensão na análise estática, mostrou um com as ondas.

MODELO TRIDIMENSIONAL

ANÁLISE ESTÁTICA ANÁLISE TRANSIENTE

Elemento 4698 3,9E06 Kgf/m² 4,7E06 Kgf/m²


tabela 6.3 – Modelo Tridimensional

A grande diferença no tempo processamento que outras embarcações, monocasco e


verificada na tabela abaixo faz com que seja multicasco em diversos tamanhos, sejam
uma boa hipótese apenas aumentar o fator de modeladas e analisadas para uma
segurança utilizado durante o projeto extrapolação de resultados e validação da
estrutural de uma embarcação recreio. Para utilização de um fator de segurança.
esta hipótese poder ser utilizada é necessário

MODELO TRIDIMENSIONAL

ETAPA ANÁLISE ESTÁTICA ANÁLISE TRANSIENTE

Pré-Processamento 5000 min 5000 min

Processamento 60 min 400 min

Pós-Processamento 20 min 20 min


tabela 6.4 – Modelo Tridimensional

6.3 Momento (Motor), Análise Estática vs tipos de embarcação. No entanto, a faixa de


Harmônica alta freqüência onde esta ocorre, indica uma
grande rigidez, não implicando em altas
A análise harmônica feita no nó 14 apresentou deformações estáticas.
uma deformação aproximadamente 25 vezes
superior a deformação encontrada na análise Nas tabelas abaixo pode-se verificar os
estática. Esta grande amplificação encontrada valores das deformações encontradas nas
faz com que seja necessário a utilização de análises estática e harmônica e os tempos
uma análise harmônica em torno da necessários para cada etapa das duas
freqüência de excitação do motor para estes modelações. A pequena diferença nos tempos
de análise dos modelos faz com que a

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utilização de uma análise harmônica não se invés de somente uma análise estática.
torne inviável e cara, podendo ser utilizada ao

MODELO UNIDIMENSIONAL

ANÁLISE ESTÁTICA ANÁLISE HARMÔNICA

Nó 14 0,000137 M 0,00312 m

tabela 6.5 – Modelo Unidimensional

MODELO UNIDIMENSIONAL

ETAPA ANÁLISE ESTÁTICA ANÁLISE HARMÔNICA

Pré-Processamento 120 min 120 min

Processamento 1 min 3 min

Pós-Processamento 5 min 5 min


tabela 6.6 – Modelo Unidimensional

Ao final deste trabalho pode-se citar como ASSAN, A.E. (1999), Método dos Elementos
grandes contribuições os seguintes itens: Finitos, Primeiros Passos, (Editora
Unicamp, Campinas).
ƒ Desenvolvimento de modelos de
elementos finitos a partir de AUTOCAD 2000 (2000), User’s Guide.
ferramentas computacionais de CAD;
DATA, C. (1982), Introdução ao Método dos
ƒ Avaliação do tempo computacional Elementos Finitos.
empregado nas diversas análises
estáticas e dinâmicas; DIVINYCELL (1991), Technical Manual – H
Grade.
ƒ Simplicidade na utilização de modelos
unidimensionais, com bons resultados HUGHES, O.F. (1988), Ship Structural Design,
em modo de flexão; A Rationally-Based, Computer-Aided
Optimization Approach, (Sname, New
ƒ Comparação de uma situação real Jersey).
transiente, slamming, com cálculos
estáticos que são normalmente MAXSURF 8.05 (2000), User Manual.
realizados, sendo um primeiro passo
para um futuro critério para realização, MERIAM, J.L. (1985), Estática, (LTC – Livros
ou não, de avaliação da necessidade Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de
de análises dinâmicas. Janeiro).

MSC/NASTRAN 4W 4.0 (1997), Quick Start


Guide.
7. REFERÊNCIAS
NETO, S.F. (1986), O Sistema “GIFTS” de
ADAMS, V. e ASKENAZI, A. (1999), Building Elementos Finitos: Implantação no
Better Products with Finite Element Computador Burroughs B-6700/B-6800
Analysis, (OnWord Press, Santa Fe). (COPPE-UFRJ, M.Sc., Engenharia
Oceânica).
AMERICAN BUREAU OF SHIPPING (1990),
Guide for Building and Classing – Motor OCHOA, O.O. e REDDY, J.N. (1992), Finite
Pleasure Yachts. Element Analysis of Composite Laminates,
(Kluwer Academic Publishers, London).

14
SANDRI, M. e NASSEH, J. (1992), Finite
Element Structural Analysis on Planing
th
Boats Due to wave Impact, 47 Annual
Conference, Composites Institute, SPI,
Session 11-B.

SOLIDWORKS 2000 (2000), User Manual.

TIMOSHENKO, S.P. e GERE, J.E. (1994),


Mecânica dos Sólidos, (LTC – Livros
Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de
Janeiro).

TOLSON, S. e ZABARAS, N. (1991), Finite


Element Analysis of Progressive Failure in
Laminated Composite Plates, Computers &
Structures Vol. 38, No. 3, 361-376.

TSAI, S.W. e HAHN, H.T. (1980), Introduction


to Composite Material, (Technomic
Publishing Company, Lancaster).

VIANNA, G.S. (1997), Método para Avaliação


do Comportamento Estrutural de
Catamarans (COPPE-UFRJ, M.Sc.,
Engenharia Oceânica).

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