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Tubarão
2018
ÉVERTON PEREIRA HENDLER
Tubarão
2018
Dedico este estudo à Vanessa Santos Carlos
Hendler, que muito mais que sublime esposa, é
minha companheira de todas as horas, meu
sustento nas horas difíceis que este caminho
me proporcionou. Pessoa que suportou comigo
o fardo das classes escolares, e agora, merece,
igualmente, os louros da vitória.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus pai providente, que é minha força e meu guia nos
caminhos da vida.
De modo muito especial, estendo meus agradecimentos à Ana Maria Pereira
Hendler e José Leffa Hendler, meus pais, a quem devo tudo que sou. Minhas vitórias também
são as suas, sendo tal dedicatória, um modo singelo de agradecer todo amor, dedicação,
empenho e carinho dispensados, características estas que, de modo sublime, sintetizam nossa
família, nosso lar.
De igual modo, agradeço à Rosa Ana Pereira e Elisângela Pereira Hendler, minha
avó e irmã, respectivamente, por todo incentivo à vida acadêmica e a constante busca pelo
conhecimento.
Aos meus pais secundários, Juares Schwanck Carlos (sogro) e Carmeli Santos
Carlos (sogra), por todo o carinho e admiração a mim outorgado, sendo um incentivo a seguir
o caminho traçado.
Agradeço à Policia Militar do Estado de Santa Catarina – instituição que sirvo
com muito orgulho e amor, sendo fonte de inspiração, não só do presente estudo, mas também
do título ora almejado – nas pessoas que compõem o Pelotão de Patrulhamento Tático do 28º
BPM, de modo especial, o 1º Ten Dominici (Comandante do 28PPT), a guarnição Alpha,
composta pelo 3º Sgt PM Lincoln, Cb Guedes, Sd Konig e o 3º Sgt Cardoso, das quais
acompanharam meu processo acadêmico e sempre deram o incentivo e o suporte necessário.
Por fim, mas não menos importante, estendo meus agradecimentos ao professor,
orientador, Ten Cel comandante do 5º BPM, Silvio Roberto Lisbôa, pela disponibilidade e
dedicação ao orientar este estudo, com alto grau de profissionalismo, conferindo o
aperfeiçoamento necessário ao resultado final.
“A base da sociedade é a justiça; o julgamento constitui a ordem da sociedade: ora
o julgamento é a aplicação da justiça.” (Aristóteles).
RESUMO
O presente estudo tem por objetivo analisar o posicionamento jurisprudencial dos Tribunais
de Justiça dos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, e do Superior Tribunal
de Justiça sobre a (i)licitude da utilização do aplicativo WhatsApp, como meio de prova, para
configuração do crime de Tráfico de Drogas, mais precisamente, sob a necessidade, ou não,
de autorização judicial para verificação das mensagens armazenadas no celular. A presente
pesquisa pode ser classificada como: quanto ao nível, exploratória; de abordagem qualitativa;
no que se refere à coleta de dados, bibliográfica e documental. A cerca dos resultados obtidos,
verificou-se que, em sede dos Tribunais Estaduais, no universo total de 46 acórdãos, 36 destes
consideraram lícita a utilização do aplicativo, onde em 25 casos a autorização judicial foi
considerada prescindível ao acesso do conteúdo armazenado no smartphone. Já, no tocante ao
Superior Tribunal de Justiça, o entendimento majoritário é que o acesso aos dados
armazenados no celular, sem a devida autorização judicial, é ilícito. Do universo de pesquisa
de 17 julgados, em 13 destes o acesso foi considerado ilícito. Destarte, a partir da presente
pesquisa, pode-se evidenciar a divergência entre os entendimentos dos Tribunais estaduais em
relação ao atual posicionamento da Corte Superior, onde para àqueles a autorização judicial é
prescindível ao acesso dos dados armazenados no dispositivo móvel quando da prisão em
flagrante; já para este, a apreciação judicial é necessária, a ponto de macular a prova com a
ilicitude, devendo, tal, ser desentranhada do processo.
The present study aims to analyze the jurisprudential positioning of the Courts of Justice of
the States of Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, and the Superior Court of Justice on
the lawfulness or not of using the WhatsApp application as a means of proof, to configure the
crime of drug trafficking. More precisely, about the necessity or not of judicial authorization
to verify the messages stored in the mobile phone. The present research can be classified as:
level, exploratory; qualitative approach; in terms of data collection, bibliographical and
documentary. About the results obtained, it was verified that, in the State Courts, in the total
universe of 46 judgments, 36 of these considered licit the use of the application, where in 25
cases the judicial authorization was considered dispensable to access the content stored in the
smartphone. On the other hand, regarding the Superior Court of Justice, the majority view is
that access to data stored in the mobile phone, without proper judicial authorization, is
unlawful. Of the universe of research of 17 judged, in 13 of these the access was considered
illicit. From the present research, it is possible to show the divergence between the State
Courts' understandings in relation to the current position of the Superior Court. While for the
States Court’ the judicial authorization is dispensable to the access of the data stored in the
mobile device when there is a flagrant arrest; the Superior Court deems the judicial review as
necessary, to the point of considering the evidence illegally obtained, and therefore,
considering that it should be disregarded in the case.
Art. - Artigo
Des. - Desembargador
Desª. - Desembargadora
Min. - Ministro
Ag Rg RO HC - Agravo Regimental no Recurso Ordinário em Habeas Corpus
HC - Habeas Corpus
RHC - Recurso em Habeas Corpus
CF - Constituição Federal
CP - Código Penal
CPP - Código de Processo Penal
STF - Supremo Tribunal Federal
STJ - Superior Tribunal de Justiça
TJPR - Tribunal de Justiça do Estado do Paraná
TJRS - Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul
TJSC - Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 14
1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ................................................................ 14
1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................ 16
1.3 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ..................................................... 17
1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 17
1.5 OBJETIVOS .................................................................................................................... 18
1.5.1 Geral ............................................................................................................................. 18
1.5.2 Específicos .................................................................................................................... 19
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..................................................................... 19
1.7 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS .................................................................................. 20
2 CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS ............................................................................ 21
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO................................................................................................ 21
2.2 ELEMENTOS DO TIPO ................................................................................................. 22
2.3 OBJETIVIDADE JURÍDICA .......................................................................................... 26
2.4 SUJEITOS........................................................................................................................ 26
2.5 OBJETO MATERIAL ..................................................................................................... 27
2.6 ELEMENTO SUBJETIVO .............................................................................................. 28
2.7 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA .................................................................................. 29
2.8 FIGURAS EQUIPARADAS ........................................................................................... 30
2.8.1 Do tráfico de matéria-prima, insumo ou produto químico destinados à
preparação de drogas ilícitas ................................................................................................. 31
2.8.2 Semeadura, cultivo ou colheita de plantas para a produção de drogas ................. 31
2.8.3 Utilização indevida de local para o tráfico de drogas .............................................. 33
2.9 TRÁFICO PRIVILEGIADO ........................................................................................... 35
3 DA PROVA ....................................................................................................................... 39
3.1 CONCEITO E OBJETIVO .............................................................................................. 39
3.2 OBJETO DA PROVA ..................................................................................................... 40
3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS PROVAS ................................................................................ 41
3.4 PROCEDIMENTO PROBATÓRIO ................................................................................ 42
3.5 ÔNUS DA PROVA ......................................................................................................... 43
3.6 SISTEMA DE VALORAÇÃO ........................................................................................ 44
3.7 MEIOS DE PROVA ........................................................................................................ 46
3.7.1 Meios Legais................................................................................................................. 47
3.7.1.1 Do Exame de Corpo de Delito e Das Perícias em Geral ............................................ 47
3.7.1.2 Do Interrogatório do Acusado .................................................................................... 48
3.7.1.3 Da Confissão .............................................................................................................. 49
3.7.1.4 Do Ofendido ............................................................................................................... 50
3.7.1.5 Das Testemunhas ........................................................................................................ 51
3.7.1.6 Do Reconhecimento de Pessoas e Coisas ................................................................... 52
3.7.1.7 Da Acareação.............................................................................................................. 53
3.7.1.8 Dos Documentos ........................................................................................................ 53
3.7.1.9 Dos Indícios ................................................................................................................ 54
3.7.1.10 Da Busca e Da Apreensão .......................................................................................... 54
3.8 PROVA PROIBIDA ........................................................................................................ 55
3.9 WHATSAPP MESSENGER ........................................................................................... 60
3.9.1 WhatsApp Messenger x Lei de Interceptação Telefônica ....................................... 61
3.9.2 WhatsApp Messenger x Marco Civil da Internet .................................................... 62
4 O APLICATIVO WHATSAPP COMO MEIO DE PROVA PARA
CONFIGURAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS: UMA ANÁLISE
QUANTO AOS POSICIONAMENTOS DO TJPR, TJSC, TJRS E STJ ......................... 65
4.1 METODOLOGIA ............................................................................................................ 65
4.2 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ ...................................................................... 66
4.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA .................................................... 73
4.4 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL .............................................. 79
4.5 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA .......................................................................... 82
5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 92
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 95
APÊNDICE ............................................................................................................................. 99
APÊNDICE A – REFERÊNCIAS DOS ACÓRDÃOS...................................................... 100
14
1 INTRODUÇÃO
1.4 JUSTIFICATIVA
O presente projeto de pesquisa tem por objetivo abordar importante tema na área
processual criminal: a prova – mais especificamente no que toca à utilização do aplicativo
WhatsApp como meio de prova para caracterização do crime de tráfico de drogas, regulado
pela Lei 11.343/06.
18
1.5 OBJETIVOS
A seguir, serão elencados o objetivo geral e específico, uma vez que aquele se
refere ao cerne do presente estudo, e este, são secundários, sendo guia para o correto
desenvolvimento do estudo.
1.5.1 Geral
1.5.2 Específicos
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
fabricação e o tráfico propriamente dito. Ressalta-se, ainda, que o uso de drogas é uma
realidade constante em nossa sociedade, uma vez que somente a repressão a tal conduta só
estigmatizaria o usuário, alienando-o do meio social. Assim sendo, busca-se prevenir o uso e
reprimir o comércio (MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 21).
A Lei em comento (BRASIL, 2016), ao dispor sobre o tráfico ilícito de drogas,
tipifica-o como crime – inaugurando o capítulo II (dos crimes) do título IV (da repressão à
produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas) – em seu art. 33, assim disposto:
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
Destarte, passar-se-á a analisar o presente dispositivo, bem como suas formas
equiparadas e privilegiada.
Primeiramente, cumpre expor o que se entende por tipo penal e seus elementos,
sendo aquele a descrição de um padrão de conduta, de forma abstrata, prevista pelo legislador,
delimitando, assim, o que se considera crime, com o objetivo de impedir sua ocorrência, bem
como, visa limitar e individualizar a conduta humana penalmente relevante. Salienta-se que
não está, o Estado, criando a conduta, mas tão somente prevendo-a como crime. Já com
relação aos elementos do tipo, é o que constitui e forma a conduta penal, podendo ser
subdividido em objetivo – sendo aqueles dados concretos, identificados pela percepção dos
sentidos, referindo-se a objetos, seres, animais, etc. – e subjetivo – ao contrário dos elementos
objetivos, estes não são perceptíveis aos sentidos; estão diretamente relacionados ao animus,
ou seja, a vontade humana, intensão do agente (BITENCOURT, 2018, p. 512, 513;
ESTEFAN; GONÇALVES; LENZA, 2018, p. 290, 291; NUCCI, 2014, p. 239, 241).
Classificando o crime de tráfico de drogas, afirma-se ser um tipo misto alternativo
– ou crime de ação múltipla, como também é denominado na doutrina –, uma vez que o art.
33 da Lei 11.343/06 expõe várias condutas que caracterizam o mesmo crime, aplicando-se
assim o princípio da alternatividade caso o agente incorra em mais de uma conduta no mesmo
contexto fático. De forma a exemplificar, se o agente importa e vende a mesma substância,
responderá por um crime somente. Entretanto, se importa cocaína e vende maconha, haverá
23
No tocante aos verbos produzir e fabricar, aquele significa criar – gerar algo
novo, que não era existente –, independentemente de quantidade. Ressalta-se que não se trata
de simples mistura (o que incorreria no ato de preparar), mas sim de dar origem a algo
inexistente; no tocante ao ato de fabricar, é a produção, por meios industrias – ou seja,
maquinários – de grande quantidade de substâncias (CAPEZ, 2017a, p. 635, 636;
GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 112; LIMA, 2016, p. 738).
No que se refere às últimas três condutas, objetivando distingui-las, alerta
Mendonça e Carvalho (2012, p. 100):
Preparar, produzir e fabricar possuem sentidos semelhantes, mas o que diferencia
as condutas é que, enquanto no preparar há composição ou decomposição química
de substâncias, o verbo produzir exige maior atividade criativa, como a atividade
extrativa. Por fim, fabricar traduz a utilização de meios mecânicos e industriais na
criação da droga. (Grifo dos autores).
Adquirir é o ato de obter a droga, através da compra, mediante troca ou ainda a
título gratuito, com o intuito de posterior entrega à terceiro, posto que, ausente este animus,
não há que se falar na caracterização do crime em comento (CAPEZ, 2017a, p. 636;
GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 112; LIMA, 2016, p. 738).
Importante destacar os ensinamentos de Lima (2016, p. 738) “Desde que
evidenciada a existência de um acordo de vontades sobre a droga e o preço, não há
necessidade de tradição da droga ao seu adquirente, nem tampouco pagamento do valor
acordado”.
Vender, expor à venda e oferecer são termos próximos, entretanto distintos.
Vender é o ato de alienar, sendo necessariamente oneroso, onde o objeto de troca poderá ser
dinheiro ou qualquer outro bem. Frisa-se que, da mesma maneira como ocorre na modalidade
adquirir, a ação de vender não necessita efetivar-se a tradição, sendo necessário somente o
acordo de vontades. Expor à venda é a exibição propriamente dita da substância para a
comercialização. E por fim, oferecer, como o próprio verbo propõe, é o ato de ofertar a
substância, entretanto, não necessita de onerosidade (CAPEZ, 2017a, p. 636; GONÇALVES;
BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 112; LIMA, 2016, p. 738).
Salienta-se as exposições de Capez (2017a, p. 636) “na exposição à venda, a
droga fica exposta no aguardo de um eventual comprador, ao passo que, no oferecimento, o
traficante vai em direção ao potencial usuário ou adquirente e lhe apresenta a proposta”.
Na sequência, tem-se as condutas ter em depósito e guardar, a qual restam
controversas na doutrina. Para Capez (2017a, p. 636) ter em depósito “é reter a coisa à sua
disposição, ou seja, manter a substância para si mesmo” e guardar “é a retenção da droga em
nome e à disposição de outra pessoa, isto é, consiste em manter a droga para um terceiro”;
25
pode negar que estas condutas são formas de auxílio ao usuário, pois sem elas não
seria possível o uso. Mas como o legislador tipificou-as de maneira principal no
caput do art. 33, claramente excluiu do conteúdo genérico da expressão auxílio,
tipificada no § 2º, ora em análise, aquelas condutas. (Grifo dos autores).
Por fim, salienta-se que cabe ao intérprete analisar a conduta do agente e verificar
a que tipo penal se amolda, não bastando, portanto, mera proximidade (RANGEL; BACILA,
2015, p. 93).
2.4 SUJEITOS
Quanto ao sujeito ativo, aquele que pratica o verbo descrito no tipo penal, por
tratar-se de crime comum, poderá ser qualquer pessoa, exceto quando da conduta de
prescrever, a qual deverá necessariamente ser praticada por profissional da saúde – médico ou
dentista – onde ao prescrever poderá ter como objeto droga lícita, desde que em excesso com
o fim de viciar o paciente, bem como drogas ilícitas (ANDREUCCI, 2017, p. 285; CAPEZ,
27
2017a, p. 633; GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 111; LIMA, 2016,
p. 736; MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 101; RANGEL; BACILA, 2015, p. 75).
Ademais, em todas condutas do tipo admite-se o concurso de agentes (CAPEZ,
2017a, p.633; GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 111).
Já o sujeito passivo é a coletividade, tendo em vista que o bem jurídico tutelado é
a saúde pública, conforme já exposto. (ANDREUCCI, 2017, p. 285; CAPEZ, 2017a, p. 633;
GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 111; LIMA, 2016, p. 737;
MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 101; RANGEL; BACILA, 2015, p. 75)
Salienta-se, ainda, que embora o sujeito passivo imediato, permanente, seja o
Estado (coletividade), onde figura a saúde pública – bem jurídico tutelado –, como acima
exposto, nada impede que haja um sujeito passivo, entretanto, residual, secundário, em casos
eventuais, como o dependente químico ou a criança e/ou adolescente, ou seja, o indivíduo
particular, aquele que recebe a substância para fazer uso. Nesta hipótese, a coletividade e o
usuário são atingidos (ANDREUCCI, 2017, p. 285; CAPEZ, 2017a, p. 633).
permanência nos verbos ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, expor à venda,
dentre outros.
Cabe ressaltar ainda os casos de flagrante provocado – também conhecido como
preparado ou forjado –, sendo definidos como a situação onde a polícia instiga o agente a
praticar o crime, tornando sua consumação impossível. Sobre o tema, assim já se pacificou o
entendimento no Supremo Tribunal Federal, editando a Súmula 145 (BRASIL, 1963): “Não
há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”.
Contudo, diante de crime de ação múltipla, tal situação dificilmente não importará a prisão do
agente, uma vez que poderá até inexistir o crime quando da ação de vender a substância à um
policial, entretanto, já estará configurada a prática de ter em depósito, guardar, trazer consigo
(CAPEZ, 2017a, p. 638; GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 118;
LIMA, 2016, p. 742, 743; MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 102).
Faz-se mister salientar que o flagrante exposto acima não se confunde, de maneira
alguma, com o flagrante esperado, hipótese esta admitida, uma vez que não há a interferência
policial propriamente dita na conduta delitiva, mas sim, apenas o monitoramento – ação de
observar a actio criminalis – culminando na prisão em flagrante, do agente, após a
consumação do delito (LIMA, 2016, p. 742; MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 102).
Abrindo o rol das condutas equiparadas ao tráfico de drogas, assim dispõe o art.
33, § 1º, I da Lei 11.343/06 (BRASIL, 2006):
Art. 33. [...]
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece,
fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de
drogas;
Destarte, o inciso primeiro, acima exposto, traz situação muito semelhante ao
caput do artigo, entretanto, difere quanto ao objeto material, onde para este são as drogas, e
para aquele, é a matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas,
ou seja, é a substância básica para produção da droga. Desta forma, tem-se como elemento
subjetivo o dolo, e como elementar, a ausência de autorização ou em desacordo com a
legislação (CAPEZ, 2017a, p. 642; RANGEL; BACILA, 2015, p. 96).
Exemplificando o termo matéria-prima, assim explanam Rangel e Bacila (2015,
p. 96, 97):
Refere-se às sementes da planta que originarão as drogas, bem como às mesmas
plantas no caso das drogas que são derivadas de plantas, como é o caso da maconha,
da planta da coca e da papoula que é utilizada para a produção do ópio, da morfina e
da heroína. No caso das drogas sintéticas, como o ecstasy, podemos mencionar
como matéria-prima as anfetaminas e alucinógenos que são empregados na sua
produção. Portanto, sementes, plantas e produtos fundamentais constituem a
matéria-prima da droga.
Cabe destacar ainda que matéria-prima não é somente a substância que possui em
si mesma a capacidade de dependência, mas sim, como também aquela que não possui tal
característica, onde ao ser combinada com outra, passa a causar a dependência química. Como
por exemplo, pode ser citada a acetona (GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA,
2016, p. 130; GRECO FILHO, 1996, p. 95 apud CAPEZ, 2017, p. 642; LIMA, 2016, p. 745).
Por fim, vale a ressalva de que o dispositivo em comento não necessita de
complemento, devendo ser comprovado somente a finalidade do produto (GONÇALVES;
BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 130).
Por fim, segue os termos do inciso III, do § 1º em estudo (BRASIL, 2006), sendo
a última forma equiparada ao tráfico deste parágrafo, nestes termos:
Art. 33. [...]
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
[...]
III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse,
administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.
Em análise da disposição supra (BRASIL, 2006), em sua parte inicial – “utiliza
local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou
vigilância” –, evidente tratar-se de crime próprio, uma vez que o agente deve ter a sua
disposição o bem utilizado para o tráfico (CAPEZ, 2017a, p. 645; LIMA, 2016, p. 748).
Corroborando com o acima exposto, Capez (2017a, p. 645) afirma que “só pode
ser praticado por pessoa qualificada, ou seja, aquela que tenha propriedade, administração,
posse, vigilância ou guarda do local ou de bem de qualquer natureza”. Na sequência, o autor
expõe que para caracterizar o crime basta a existência de qualquer relação entre o bem e o
agente, onde este exerce algum tipo de poder sobre aquele, a exemplo da situação de um vigia
que permite o comércio de drogas dentro das dependências do local sob sua responsabilidade.
“É admissível, no entanto, a participação de terceiro sem essa qualidade (somente
participação, nunca coautoria)”.
Quanto ao local, a Lei (BRASIL, 2006) se utiliza das expressões “local ou bem de
qualquer natureza”, sendo assim, evidente que são admitidos os bens imóveis, bem como os
móveis – automóveis, barcos, etc.; salientando-se que, por força legislativa contida no art. 63
do mesmo Códex, o juiz, ao sentenciar, poderá decretar a perda do bem móvel
(GONÇALVES; BALTAZAR JUNIOR; LENZA, 2016, p. 136; MENDONÇA;
CARVALHO, 2012, p. 106).
Complementando o acima exposto, expõe-se as lições de Rangel e Bacila (2015,
p. 100) ao falar sobre local, afirmam que:
O tipo descreve a utilização de local ou bem seu ou de seu alcance para o tráfico. O
local pode ser um bar, restaurante, boate, lanchonete, banca de revista, residência,
galpão, terreno vazio ou qualquer outro imóvel que seja empregado para tal
atividade ilícita, quer seja de propriedade do autor, ou esteja sob a sua
disponibilidade, como é o caso da posse (poder físico sobre a coisa), que pode ser
direta (locatário, usufrutuário) ou indireta (locador/proprietário), administração
(direção, gerência), guarda (amparo, proteção) ou vigilância (cuidado). Logo, o local
pode ser particular ou público. (Grifo dos autores).
34
§4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons
antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa.
O dispositivo acima é uma forma de tratamento diferenciado da figura do caput,
uma vez que também são diferentes as qualidades do agente – podendo ser considerado como
pequeno traficante –, culminando assim em um abrandamento da pena e afastamento da
hediondez do crime. Desta forma, o legislador operou sob o prisma do princípio da igualdade,
tratando de forma desigual os desiguais (RANGEL; BACILA, 2015, p. 111; LIMA, 2016, p.
756).
Neste diapasão, Rangel e Bacila (2015, p. 112):
O legislador não pode tratar de maneira idêntica condutas cuja reprovabilidade é
diferente, pois o excesso punitivo esbarra no princípio da razoabilidade
(proporcionalidade). Essa é a principal razão para não darmos tratamento idêntico ao
tráfico de drogas e ao tráfico privilegiado.
A contrario sensu o benefício em voga pode ser considerado inconstitucional, sob
o argumento que há lesão ao princípio da proporcionalidade. A tese é sustentada no fato de
que as circunstâncias judiciais, elencadas no art. 59 do Código Penal – ao qual abrange o
requisito de bons antecedentes, elencado no parágrafo em destaque –, analisadas na primeira
fase da dosimetria da pena, não poderiam reduzi-la do mínimo legal; ainda, o requisito de
primariedade – oposto à reincidência, elencada no art. 61, I do mesmo codex supra – de igual
modo, obsta a redução do mínimo legal, exegese da súmula 231 STJ. Entretanto, ao elegê-las
como figura especial de diminuição da pena, poder-se-á diminuí-la de 1/6 a 2/3, aquém do
mínimo cominado em abstrato. De mais a mais, denota-se incoerência legislativa, uma vez
que o Constituinte previu maior rigidez para o crime de tráfico de drogas – art. 5º, XLIII da
CF – e o presente dispositivo, eleito pelo legislador ordinário, prevê desacerbada beneficie
para o mesmo crime (CAPEZ, 2017a, p. 653, 654).
Além do mais, aduz Capez (2017a, p. 653, 654), quanto ao benefício em comento,
que a partir de tal previsão, o legislador:
criou um privilégio específico para os traficantes, do qual não dispõe nenhum autor
ou partícipe de outro crime. [...] Tal possibilidade coloca em risco o harmônico
sistema principiológico que norteia a aplicação das penas do Código Penal. Se um
indivíduo, portador de bons antecedentes, difama uma pessoa, referida circunstância
não terá́ o condão de fazer com que a pena seja fixada aquém do limite mínimo; por
outro lado, se um indivíduo, portador de bons antecedentes e não integrante de
organização criminosa, trafica drogas, a sua pena poderá́ ser reduzida de 1/6 a 2/3,
podendo ficar aquém do mínimo legal.
O tráfico privilegiado não é considerado crime hediondo, sendo o novo
entendimento jurisprudencial do STJ – que o manifestou por meio do cancelamento da súmula
512 –, o que vai de encontro com a prática forense da Suprema Corte. Nesta mesma vertente,
37
já havia posições quanto ao afastamento da lei 8.072/90 nos casos do tráfico privilegiado
(RANGEL; BACILA, 2015, p. 111).
O legislador trouxe quatro requisitos para obtenção do benefício, quais sejam: 1)
ser primário; 2) ter bons antecedentes; 3) não se dedicar às atividades criminosas; 4) não
integrar organização criminosa. (BRASIL, 2006). Deste modo, quanto à primariedade,
conforme já exposto, é a negação da reincidência – que contida no art. 61, I do Código Penal e
tratada no art. 63 do mesmo diploma, prevê operar-se quando o agente pratica novo crime já
tendo outra condenação transitada em julgado, respeitado o período de prova contido no art.
64, I do Diploma em comento, sendo 5 anos. (LIMA, 2016, p. 757; MENDONÇA;
CARVALHO, 2012, p. 121).
Concernente ao segundo critério para auferir o benefício em epígrafe – possuir
bons antecedentes – há duas correntes: a primeira afirma que são verificados inquéritos em
andamento, bem como ações não transitadas em julgado. Nesta vertente, Mendonça e
Carvalho (2012, p. 121, 122) “não se pode equiparar, para fins de aplicação de pena, o agente
criminoso que possui diversos apontamentos em sua vida criminal com aquele que possui
passado imaculado, sob pena de se ferir de morte o princípio da isonomia”; para a segunda,
dominante na doutrina, somente são objetos de análise as ações com trânsito em julgado que
não caracterizem reincidência, em respeito à presunção de inocência, em consonância com a
Súmula 444 do STJ. Assim sendo, para estes, na análise de bons antecedentes, é necessário
que o agente não possua condenações com trânsito em julgado a mais de 5 anos (LIMA, 2016,
p. 757).
A lei também exige do agente que não se dedique a prática de atividades
criminosas, onde deverá ser verificado atividades lícitas habituais, bem como a não
verificação de condutas que se inclinem ao crime, de modo que, o crime que lhe é imputado
seja acontecimento isolado em sua vida (LIMA, 2016, p. 757; MENDONÇA; CARVALHO,
2012, p. 122).
Por fim, como último requisito, não terá direito ao benefício legal àquele que
integrar organização criminosa, ao qual é definida na Lei 12.850/13, no seu art. 1º, § 1º
(BRASIL, 2013), que assim dispõe:
Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de
qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas
sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.
Veja-se que, para que obste a concessão do benefício em tela, basta que o agente
integre organização criminosa, pouco importando se é voltada ou não para o crime de tráfico
38
de drogas, desde que a pena máxima (cominada em abstrato) seja superior à 4 anos, ou, que o
ilícito tenha caráter transnacional (LIMA, 2016, p. 758; MENDONÇA; CARVALHO, 2012,
p. 122).
Ainda, cabe salientar que, em decorrência do princípio da presunção de inocência,
a negativa de tais elementos deverá ser comprovada pelo Estado, a qual é representado pelo
Membro do Ministério Público. Assim sendo, para não haver possibilidade de concessão,
necessita-se comprovar somente a negativa de um dos requisitos, uma vez que o benefício
exige a cumulação destes (ANDREUCCI, 2017, p. 292; LIMA, 2016, p. 759; MENDONÇA;
CARVALHO, 2012, p. 125).
Concernente à outorga do privilégio em debate, não há que se falar em
obrigatoriedade, mas sim, de uma faculdade do magistrado, que embora preenchidos os
requisitos, poderá não conceder o benefício, devendo se valer dos critérios do art. 42, tendo
ampla liberdade na fixação do quantum. Frisa-se ser este o entendimento adotado pelo
Supremo Tribunal Federal (LIMA, 2016, 761; MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 127).
Apesar de evidente, oportuno salientar que o benefício em voga se opera somente
nos casos do art. 33, caput e seu §1º, não abrangendo assim a hipótese do art. 35 – associação
para o tráfico – em razão da especificidade que o próprio §4º traz, bem como por incorrer nas
ações que se dediquem em atividades criminosas, infringindo a 3ª exigência elencada no tipo
(MENDONÇA; CARVALHO, 2012, p. 122).
Tendo sido explanada a actio criminalis do art. 33 da Lei 11.343/06, bem como,
as figuras equiparadas ao caput, elencadas no bojo de seu §1º, e ainda, a privilegiadora,
constante do §4º do mesmo dispositivo, passa-se a expor a temática da prova, elemento vital
para o Processo Penal, como poderá ser observado.
39
3 DA PROVA
Prova, do latim probatio, são atos praticados pelas partes, por terceiros ou até
mesmo pelo juiz, com o objetivo de demonstrar a veracidade de suas alegações, objetivando,
portanto, ser elemento crucial, destinado ao magistrado, na formação de sua convicção frente
aos fatos demonstrados nos autos (AVENA, 2018, p. 537, 538; CAPEZ, 2017b, p. 369;
GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 219, 220; LIMA, 2017, p. 463).
Em outras palavras, “prova é o elemento que autoriza a conclusão acerca da
veracidade de um fato ou circunstância” (REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 308).
De modo a complementar o ora exposto, evidencia-se o magistério de Nucci
(2016, p. 301):
Há, fundamentalmente, três sentidos para o termo prova: a) ato de provar: é o
processo pelo qual se verifica a exatidão ou a verdade do fato alegado pela parte no
processo (ex.: fase probatória); b) meio: trata-se do instrumento pelo qual se
demonstra a verdade de algo (ex.: prova testemunhal); c) resultado da ação de
provar: é o produto extraído da análise dos instrumentos de prova oferecidos,
demonstrando a verdade de um fato. Neste último senso, pode dizer o juiz, ao chegar
à sentença: “Fez-se prova de que o réu é autor do crime”. Portanto, é o clímax do
processo. (Grifo do autor).
Ademais, necessário é a distinção com relação ao “ato probatório, este
compreendido como a atividade levada a efeito com o escopo de produzir prova” (MARCÃO,
2016, p. 437).
Salientando o já dito, a prova possui o objetivo de formar a convicção do julgador,
sendo este o seu destinatário. Frisa-se, contudo, que não possui o condão de levar convicção
absoluta ao magistrado, mas sim uma certeza relativa – denominada verdade processual, pois
é a que resulta da capacidade, das partes, de demonstração dos fatos no processo –, contudo,
suficiente para formar sua convicção (GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 220; LIMA, 2017, p.
40
465; MARCÃO, 2016, p. 438; NUCCI, 2016, p. 309; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016,
p. 308, 309).
São os fatos controversos, dos quais paira a dúvida, incerteza, necessitando, por
isso mesmo, de confirmação, através da prova de existência ou inexistência, ou seja, são os
fatos que as partes pretendem provar para defesa de sua tese. Na mesma vertente, Marcão
(2016, p. 438) para quem “objeto da prova, portanto, é a veracidade, ou não, da imputação; é
a alegação ou o fato que deve ser demonstrado nos autos do processo, a fim de que o juiz
possa conhecê-lo e sobre ele emitir juízo de valor quando for decidir a respeito” (AVENA,
2018, p. 538; CAPEZ, 2017b, p. 369; NUCCI, 2016, p. 309).
Salienta-se, contudo, que somente os fatos relevantes para o julgamento da causa
– ou seja, aqueles capazes de influir na formação de convencimento do juiz – devem ser
contemplados pela atividade probatória, por conta do princípio da economia processual, bem
como evitando atividade processual inútil (CAPEZ, 2017b, p. 369, 370; GRECO FILHO;
RASSI, 2015, p. 221; MARCÃO, 2016, p. 438; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p.
309).
Contudo, há fatos que independem de prova, a qual a doutrina os classifica como
axiomáticos, notórios, presunções legais, fatos inúteis, ou impossíveis (AVENA, 2018, p.
538, 539; CAPEZ, 2017b, p. 370; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 221; NUCCI, 2016, p.
319; MARCÃO, 2016, p. 439, 440; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 309, 310).
Assevera-se, contudo, que diferentemente do processo civil, os fatos
incontroversos necessitam de produção probatória, posto que nem mesmo a confissão do réu é
absoluta, devendo ser corroborada por demais instrumentos probatórios, exegese do art. 197
do CPP, quem dirá a simples falta de impugnação da parte contrária. Outrossim, não está o
juiz atrelado às alegações das partes, podendo assim, conceber temerária determinada
declaração. Contudo, deve-se ressaltar que, se assim entender, poderá o magistrado acolher a
alegação e dispensar a atividade probatória, por estar assim convencido de sua veracidade
(AVENA, 2018, p. 539; CAPEZ, 2017b, p. 371; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 221;
MARCÃO, 2016, p. 440; NUCCI, 2016, p. 319; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p.
310).
41
coisa constitutiva da prova” (AVENA, 2018, p. 540; CAPEZ, 2017b, p. 405; MARCÃO,
2016, p. 442; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 331).
Ainda, quanto à forma, pode ser testemunhal, documental e material. Referente à
primeira, diz respeito à narrativa dos fatos, por pessoa estranha ao processo, sendo espécie de
gênero da prova oral; no tocante a segunda, são as produzidas por meio de documentos; com
relação a terceira, são as obtidas por meio químico, físico ou biológico. Para Lima (2017, p.
465) “A prova material é aquela que resulta da verificação existencial de determinado fato,
que demonstra a sua materialização, tal como ocorre com o corpo de delito, instrumentos do
crime, etc.” (CAPEZ, 2017b, p. 405).
Sob o aspecto quanto ao conteúdo, a prova pode ser robusta – aquela que não
resta dúvidas quanto ao seu objeto –, razoável, de forma que indica alta probabilidade do fato;
ou precária, sendo a prova incompleta, insuficiente, frágil, não sendo capaz de demonstrar o
pretendido (MARCÃO, 2016, p. 443).
A palavra ônus – do latim onus – significa encargo. Neste sentido, ônus da prova
significa o encargo atribuído às partes, que compõe a relação processual, de provar
determinado fato e/ou alegação, através de meios lícitos e legítimos, objetivando assim
influenciar a convicção do magistrado, demonstrando que suas arguições são verossímeis,
pondo-o em uma condição mais favorável dentro do processo. Sobre este aspecto, o Código
de Processo Penal, disciplinou em seu art. 156, caput, primeira parte (BRASIL, 1941), que “a
prova da alegação incumbirá a quem a fizer” (AVENA, 2018, p. 548; CAPEZ, 2017b, p. 406;
LIMA, 2017, p. 523; MARCÃO, 2016, p. 458; NUCCI, 2016, p. 309).
Quanto a esta incumbência, há o ônus objetivo – aspecto que diz respeito ao juiz,
na formação de sua convicção, quanto a autoria e materialidade, tratando-se, assim, de regra
legislativa, de modo que, se ao fim da instrução probatória, ainda restar dúvidas, deve o juiz
absolver o réu. Por outro lado, também há o ônus subjetivo, do qual refere-se ao encargo
atribuído às partes, conforme acima exposto (LIMA, 2017, p. 524; NUCCI, 2016, p. 311).
Vale dizer que, tal incumbência legislativa não se trata de dever, pois se assim o
fosse, tratando-se de uma obrigação, o não cumprimento acarretaria em sanção. Deste modo,
trata-se de uma faculdade no interesse da parte em demonstrar a veracidade de suas alegações.
Apesar da inércia probatória não ser ato contrário ao direito – de modo que não acarretará em
sanção diretamente, conforme já exposto –, salienta-se que poderá haver prejuízos decorrentes
desta inação, no aspecto quanto a formação de convencimento do magistrado (AVENA, 2018,
44
p. 548; CAPEZ, 2017b, p. 406; LIMA, 2017, p. 523; MARCÃO, 2016, p. 457, 458; NUCCI,
2016, p. 309; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 315).
Com base no acima disposto, inteligível que, via de regra, no Processo Penal, o
onus probandi, incumbirá inicialmente à acusação, uma vez que provoca o judiciário e
inaugura a Ação Penal, alegando que determinada pessoa incorreu em práticas delitivas.
Destarte, à acusação recairá a obrigação de comprovar a materialidade – ocorrência dos fatos
–, bem como autoria pelo acusado, tipicidade da conduta, elementos subjetivos (dolo ou
culpa), existência de circunstâncias agravantes e qualificadoras (AVENA, 2018, p. 548;
CAPEZ, 2017b, p. 407; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 228; MARCÃO, 2016, p. 458;
NUCCI, 2016, p. 310; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 316).
Contudo, à defesa recai o ônus probatório quando alega circunstâncias capazes de
afastar a antijuridicidade – como as excludentes de ilicitude; ou ainda a sua culpabilidade,
bem como circunstâncias atenuantes, incidência de privilégio, etc. Entretanto, ressalta-se que
o ônus que recai sobre a defesa é relativo ou imperfeito, uma vez que se a acusação não
trouxer elementos que tragam certeza ao julgador, a decisão deverá ser favorável ao réu, em
respeito ao princípio da presunção de inocência e o in dubio pro reo (AVENA, 2018, p. 548;
CAPEZ, 2017b, p. 407; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 228, 229; LIMA, 2017, p. 526;
MARCÃO, 2016, p. 458, 461; NUCCI, 2016, p. 310; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016,
p. 316, 317).
preestabelecido pelo legislador, fixo e imutável, ou seja, a prova já possui um valor pré-
determinado, cabendo, ao magistrado, somente o computo do que lhe foi apresentado
(AVENA, 2018, p. 546; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 236; MARCÃO, 2016, p. 444;
NUCCI, 2016, p. 302; PACELLI, 2017, p.180).
O sistema da persuasão racional – adotado pelo atual Código de Processo Penal,
em seu art. 155, caput –, por seu turno, é um intermédio dos sistemas supra, ou até mesmo
pode-se dizer um sistema misto, uma vez que limita o magistrado à apreciação das provas
produzidas nos autos (combatendo o sistema da convicção íntima), mas, ao mesmo tempo, lhe
concede ampla liberdade de apreciação probatória, concedendo-lhe ampla liberdade na
formação de sua íntima convicção (fazendo frente ao sistema da prova tarifada). Contudo,
vincula-o à devida fundamentação da formação de seu convencimento, demonstrando assim, a
construção do raciocínio lógico estabelecido para o julgamento. Em suma, este sistema,
segundo Capez (2017b, p. 410) “atende às exigências da busca da verdade real, rejeitando o
formalismo exacerbado, e impede o absolutismo pleno do julgador, gerador do arbítrio, na
medida em que exige motivação” (AVENA, 2018, p. 544; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p.
236; MARCÃO, 2016, p. 444, 445; NUCCI, 2016, p. 302; PACELLI, 2017, p.180).
Neste sistema, cada circunstância é avaliada não de forma isolada, mas sim com
base em todo o conjunto probatório produzido nos autos, tendo, o juiz, ampla
discricionariedade na valoração de uma ou outra prova, ausente, portanto, qualquer hierarquia
entre os meios de prova. Frisa-se, contudo, que o magistrado está vinculado ao conteúdo do
processo, não podendo utilizar-se de elementos estranhos aos autos para formar sua
convicção, como por exemplo suas experiências ou vivências pessoais, pois, neste caso,
estaria ferindo o princípio do contraditório e ampla defesa. A partir disto, surge o princípio id
quod non est in actis non est in mundus – o que não está nos autos não existe (AVENA, 2018,
p. 545; CAPEZ, 2017b, p. 410; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p. 236, 237; NUCCI, 2016, p.
302).
Apesar do supracitado vínculo, advindo da previsão legislativa do art. 155, caput,
do CPP, primeira parte, o juiz poderá utilizar-se das provas produzidas na fase policial, como
elementos de convicção secundários, com o objetivo de ratificar seu entendimento, vedado,
porém, utilizá-los para embasar a formação de sua convicção. Contudo, conforme ressalva da
parte in fine do dispositivo supra, tal regra não se aplica às provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas, podendo sim, nestes casos, serem utilizadas como base de convicção. Posto que,
vale frisar, quando da divergência entre provas da fase inquisitória e judicial, deve-se dar
46
preferência à estas (AVENA, 2018, p. 546; MARCÃO, 2016, p. 446; NUCCI, 2016, p. 304,
305).
Perante o exposto, o sistema em voga conduz ao princípio da sociabilidade do
convencimento, de modo que determinada decisão judicial não é produto somente das
convicções do julgador, mas sim representam o posicionamento lógico que qualquer pessoa –
vale dizer, estranha ao processo e, por conseguinte, imparcial – alcançaria ao analisar os
autos. Assim, nas palavras de Capez (2017b, p. 410), tem-se a máxima que “o convencimento
do juiz deve ser tal que produza o mesmo resultado na maior parte das pessoas que,
porventura, examinem o conteúdo probatório”.
Em tempo, cumpre salientar que, embora o sistema adotado seja o da persuasão
racional, ainda restam resquícios dos sistemas anteriores, uma vez que no Tribunal do Júri o
sistema adotado é o da convicção íntima; e, em certos casos, verifica-se a prova tarifada,
como por exemplo, a disposição legislativa quanto ao estado de pessoas, disposta no art. 155,
parágrafo único do CPP; bem como, nos casos de crimes que deixam vestígios, tratados no
art. 158 do mesmo Códex (AVENA, 2018, p. 546, 520; GRECO FILHO; RASSI, 2015, p.
236; MARCÃO, 2016, p. 448; NUCCI, 2016, p. 302; PACELLI, 2017, p.181).
da materialidade. A variação, portanto, está nos vestígios (AVENA, 2018, p. 615, 616;
MARCÃO, 2016, p. 479; NUCCI, 2016, p. 326, 327; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016,
p. 333).
No tocante à perícia, trata-se de exame realizado por profissional habilitado,
técnico ou especialista, com o objetivo de expor suas conclusões a partir da análise dos
vestígios, sendo este um meio de prova, que pode ser determinado pela autoridade policial ou
pelo magistrado, inteligência dos art’s. 6º, VII e 156, ambos do mesmo Códex. A perícia
funda-se na falta de conhecimento técnico do magistrado, a qual, se socorre ao exame técnico
para formar seu convencimento (MARCÃO, 2016, p. 478; NUCCI, 2016, p. 329; REIS;
GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 332).
Entretanto, deve-se observar que será o último ato da instrução, sendo este uma prerrogativa
da defesa, se manifestando somente após toda a produção probatória. Neste aspecto, visível na
prática forense o aumento de confissões, uma vez que, estando fortemente instruída a peça
acusatória, resta, a defesa, assumir a autoria, não optando por negar o obvio (AVENA, 2018,
p. 651, 652; MARCÃO, 2016, p. 529, 530; NUCCI, 2016, p. 363, 364).
Por fim, enfatiza-se que, ao acusado, não se atribui o compromisso de dizer a
verdade, posto que não há obrigatoriedade concernente à autoincriminação – exegese do
princípio nemo tenetur se detegere. Assim, o legislador conferiu-lhe ampla liberdade no
exercício de sua defesa, sendo assim, um direito (MARCÃO, 2016, p. 529; NUCCI, 2016, p.
380).
3.7.1.3 Da Confissão
Sobre o tema, assim dispõe o art. 197 do Código Processual em estudo (BRASIL,
1941): “O valor da confissão se aferirá pelos critérios adotados para os outros elementos de
prova, e para a sua apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo,
verificando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância”.
Confessar é atribuir, a si mesmo, a prática do crime que lhe é imputado, perante
autoridade competente, em ato solene e público. Este ato deve ser acompanhado de plena
capacidade e voluntariedade, expressa e pessoal – não havendo possibilidade de ser feita por
outrem, como por exemplo o mandatário. Veja-se que para confessar, é necessário que haja
acusação, uma vez que, não estando sendo acusado, não há o que confessar, tratando-se,
porém, de autodenúncia. Necessário, também, que aquele que confessa esteja apto a discernir,
sendo este, um requisito essencial, posto que o insano não poderá admitir culpa validamente.
Ainda, ressalta-se a necessidade de que o ato seja perante à autoridade judiciária competente,
não sendo válidos, portanto, confissões feitas à polícia (AVENA, 2018, p. 659, 660;
MARCÃO, 2016, p. 542; NUCCI, 2016, p. 386, 387).
Considera-se, a confissão, meio de prova, sendo um dos instrumentos dispostos ao
juiz para motivar seu convencimento (MARCÃO, 2016, p. 542; NUCCI, 2016, p. 387).
Salutar destacar a importante disposição do art. 200 do Diploma supra (BRASIL,
1941), onde prevê a divisibilidade da confissão, assim disposto: “a confissão será divisível e
retratável, sem prejuízo do livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em
conjunto”. Quis, o legislador, conceder ao juiz a faculdade de segmentar a confissão em
trechos distintos, desta forma, o juiz poderá considerar verdade somente algumas partes do
50
exposto pelo acusado, aproveitando-as em benefício deste; assim, não estando atrelado ao
todo confessado, quanto a sua aceitabilidade ou não. Do mesmo modo, conferiu, ao acusado, a
possibilidade de retratar-se, a qualquer momento, apresentando nova versão dos fatos, porém,
não vinculando o magistrado a nova versão apresentada, prevalecendo, desta forma, o livre
convencimento motivado (AVENA, 2018, p. 662; MARCÃO, 2016, p. 554, 555; NUCCI,
2016, p. 395; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 355).
3.7.1.4 Do Ofendido
dispositivo supra em destaque. Trata-se de prova indireta, portanto, mero indício (AVENA,
2018, p. 702; MARCÃO, 2016, p. 612; NUCCI, 2016, p. 454; REIS; GONÇALVES;
LENZA, 2016, p. 383).
3.7.1.7 Da Acareação
Elencado no art. 232 do Código Processual em voga, documento, latu sensu, pode
ser conceituado como toda e qualquer base que contenha uma ideia, pensamento ou
manifestação de vontade, sendo capaz de comprovar determinado fato ou acontecimento. São
exemplos os escritos, físicos ou virtuais, fotos, vídeos, etc. (AVENA, 2018, p. 706; NUCCI,
2016, p. 462; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 386).
O documento poderá ter a indicação de sua autoria ou não, neste caso anônimo,
onde embora aceito, deve ser analisado, com cuidado, pelo juiz, pois não se sabe quem o
produziu, não tendo assim o mesmo valor daquele em que se sabe a autoria (NUCCI, 2016, p.
464).
Quanto a apresentação destes, segundo o art. 231 do CPP, poderá ser em qualquer
fase do processo, ressalvado os casos expressos em lei (AVENA, 2018, p. 707; MARCÃO,
2016, p. 622; NUCCI, 2016, 463; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 388).
Conforme já sustentado, poderá o juiz, em busca da verdade real, ao ter
conhecimento da existência de documento relevante, requisitar sua juntada, posto que, é ele, o
54
destinatário das provas, corolário do art. 234 da Carta em comento (AVENA, 2018, p. 708;
MARCÃO, 2016, p. 631; NUCCI, 2016, p. 467).
Sendo o último meio de prova legal previsto no Código Processual Penal, a busca
e apreensão está disposta no Capítulo XI, do Título VII, a qual prevê o art. 240 que a busca
poderá ser domiciliar ou pessoal (BRASIL, 1941).
Define-se busca como a atividade investigatória, exercida pelo Poder Estatal,
destinada a lugares ou pessoas; já quando à apreensão, trata-se de medida assecuratória, que
objetiva tomar algo de alguém, visando tornar-se prova em processo judicial (AVENA, 2018,
p. 712; NUCCI, 2016, p. 473; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 390). Ainda, a
apreensão pode ser tida como restrição à liberdade de alguém (MARCÃO, 2016, p. 645;
REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 390).
Com relação ao momento para sua realização, poderá ser, tanto a busca, quanto a
apreensão, na fase preparatória de um procedimento policial ou judicial – como nas situações
em que a polícia aborda um indivíduo, em atitude suspeita, e flagra o ilícito penal; durante a
investigação policial; bem como no transcurso da ação penal, ou ainda durante sua execução
55
(AVENA, 2018, p. 712; MARCÃO, 2016, p. 650; NUCCI, 2016, p. 473; REIS;
GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 390).
No tocante à busca domiciliar, muito embora a Constituição Federal faça previsão,
em seu art. 5º, XI, do direito a inviolabilidade do domicílio, há circunstâncias autorizadoras
para ali adentrar, sendo estas: a) a qualquer hora, do dia ou da noite, com a autorização do
morador; b) durante o dia, por meio de ordem judicial, independentemente de consentimento;
e c) a qualquer hora, do dia ou da noite, em situação de flagrante delito, desastre ou para
prestar socorro (NUCCI, 2016, p. 476; REIS; GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 391, 392).
Já, quanto a busca pessoal, está prevista no art. 240, §2º do Diploma Processual
Penal (BRASIL, 1941), assim disposto: “Proceder-se-á à busca pessoal quando houver
fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas
letras b a f e letra h do parágrafo anterior”.
Assim, tal modalidade de busca pode ser definida como tudo o que pertence ou se
refere ao ser humano, podendo ser o contato direto ao corpo da pessoa, bem como aos seus
pertences (AVENA, 2018, p. 726; MARCÃO, 2016, p. 649; NUCCI, 2016, p. 478; REIS;
GONÇALVES; LENZA, 2016, p. 395).
Salienta-se que o veículo é considerado objeto que pertence a pessoa, portanto,
sua busca equipara-se à busca pessoal, com exceção dos veículos utilizados como moradia, a
exemplo dos trailers, cabines de caminhão, etc. (NUCCI, 2016, p. 478).
De modo a definir fundada suspeita, requisito essencial da busca pessoal, tem-se
que suspeita é a desconfiança, advinda da intuição, daí deve ser fundada, ou seja, algo mais
concreto, ao menos baseada em indícios (AVENA, 2018, p. 726; MARCÃO, 2016, p. 654;
NUCCI, 2016, p. 484).
Para realizar a busca pessoal, estão legitimados os agentes e autoridades dos
órgãos elencados no art. 144 da Carta Magna. Salienta-se que tal possibilidade não se estende
aos guardas municipais (MARCÃO, 2016, p. 650; NUCCI, 2016, p. 484).
Por prova proibida, entende-se as que contrariam o Direito, onde assim dispôs, o
Constituinte, no art. 5º, LVI da Carta Magna (BRASIL, 1988): “são inadmissíveis, no
processo, as provas obtidas por meios ilícitos”; bem como, o legislador pátrio, nos termos do
art. 157, caput do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941): “são inadmissíveis, devendo
56
também em favor da segurança da sociedade – uma vez que também recebe proteção
constitucional – mitigando, assim, a impunidade de criminosos. Entretanto, sua interpretação
deve ser restritiva, de modo a ser admitida somente quando não houver outros meios
probatórios capazes de demonstrar a ocorrência dos fatos, e, ainda, quando tratar-se de crimes
de mal coletivo (AVENA, 2018, p. 545, 546).
Destarte, a proibição da utilização das provas ilícitas deve ser relativizada quando
frente à um interesse maior tutelado pelo direito, utilizando, desta forma, o princípio da
proporcionalidade para sopesar os bens jurídicos, afastando-se de premissas, pré-constituídas,
quanto a aceitação, ou não, pro reo ou pro societate, de modo que o resultado seja a
prevalência do mais importante ao direito (CAPEZ, 2017b, p. 376; GRECO FILHO; RASSI,
2015, p. 223).
Corroborando com o ora exposto, mister se faz a exposição do magistério de
Capez (2017b, p. 375):
Entendemos não ser razoável a postura inflexível de se desprezar, sempre, toda e
qualquer prova ilícita. [...] Dependendo da razoabilidade do caso concreto, ditada
pelo senso comum, o juiz poderá́ admitir uma prova ilícita ou sua derivação, para
evitar um mal maior, como, por exemplo, a condenação injusta ou a impunidade de
perigosos marginais. Os interesses que se colocam em posição antagônica precisam
ser cotejados, para escolha de qual deva ser sacrificado.
Resta, ainda, salientar que a mesma beneficie – tanto pro reo, quanto pro societate
– não se aplica às provas ilegítimas, uma vez em que o vício é procedimental, onde a
verificação de sua natureza é que importará na avaliação de sua utilização. Nesta vertente,
quando o vício pairar sob nulidade de caráter absoluto, não será possível sua convalidação,
uma vez que nulidades absolutas são insanáveis. Ao passo que, se a natureza do vício for de
caráter relativo, a depender do caso, poderá ser aceita ou não, visto que se arguida em tempo
hábil, e sendo assim reconhecida e declarada pelo magistrado, não será possível sua
utilização; entretanto, se não houver manifestação quanto a nulidade, bem como a preclusão
do prazo de arguição, a prova poderá ser utilizada por qualquer das partes (AVENA, 2018, p.
549).
No tocante à produção probatória por parte da vítima, as Cortes Superiores (STJ e
STF) vêm admitindo as provas ilícitas quando produzidas sob o manto das excludentes de
ilicitudes, diga-se o estado de necessidade ou legítima defesa. Em verdade, nestas situações, a
prova, sequer, atinge o caráter ilícito, dado o contexto em que foi produzida (AVENA, 2018,
p. 547).
Visto um breve estudo sobre as provas no Processo Crime, na sequência, será
abordado o aplicativo WhatsApp, que compõe o objeto deste estudo.
60
e se fazer passar pelo usuário, ao passo que, no tocante ao WhatsApp, necessária é a obtenção
da posse do celular, dificultando as fraudes.
Quanto ao conteúdo das mensagens trocadas, ficam armazenados somente nos
dispositivos dos interlocutores – havendo a possibilidade de backup em nuvem, a exemplo do
Google Drive, se assim preferirem. Assim sendo, o WhatsApp é somente ferramenta que
transmite mensagens, por meio da internet, não havendo registro das comunicações em
servidores do aplicativo (SEGURANÇA..., [201-?]).
Ademais, foi justamente este o motivo que ensejou a ordem de suspensão do
serviço, determinada pelo Poder Judiciário. A questão abrangia o fornecimento dos dados,
momentâneos e passados. A empresa sustentou a impossibilidade de cumprir a ordem,
arguindo dois impedimentos: primeiramente, quanto a negativa ao fornecimento dos dados
referentes as conversações passadas, relatou que os servidores da empresa somente
armazenam os dados temporariamente, sendo excluídos quando entregues ao destinatário; e
referente à interceptação – conversação momentânea – diz ser impossível, devido à
criptografia utilizada ponta a ponta (WHATSAPP..., 2016).
A partir disto, ressalta-se a precariedade dos dados referentes as conversações,
uma vez que não armazenados no servidor da empresa, ou em alguma numa – sendo esta uma
opção do usuário – são extremamente vulneráveis.
Esta vulnerabilidade se potencializa, ainda mais, com a possibilidade de, através
de acesso remoto – sendo o acesso a um dispositivo por meio de outro, portanto, distintos
fisicamente –, excluir-se todos os dados contidos no dispositivo. Tais ferramentas são alheias
ao WhatsApp, mas colocadas à disposição dos usuários pelo Google e PSafe, por exemplo
(ENCONTRAR..., [201-]; COMO..., 2018).
Destarte, tendo como base o sistema de segurança utilizado pelo aplicativo, uma
vez que as mensagens são criptografadas de ponta a ponta, conforme já exposto, verifica-se
grande dificuldade, para não dizer impossibilidade, de interceptar tais comunicações, posto
que tal matéria já foi objeto de discussão judicial, igualmente explanado.
Entretanto, há de se frisar que o próprio aplicativo disponibiliza uma versão web,
onde as mensagens são sincronizadas em tempo real, tratando-se de um verdadeiro
espelhamento do aplicativo do celular para a página web. Contudo, para que seja possível,
necessário procedimento de segurança para permitir o pareamento, onde sem o aparelho em
mãos, não se conseguirá tal permissão (MANNARA, 2015).
No entanto, este procedimento reveste-se de extrema fragilidade, pois além da
necessidade de utilizar o dispositivo móvel para liberação de tal acesso, conforme acima
exposto, o espelhamento poderá ser restringido a qualquer momento pelo usuário do aparelho
celular, bastando acessar as configurações do aplicativo. Em tempo, frisa-se, também, a
notificação de tal acesso web, onde o aplicativo possui a função de alertar o usuário do acesso
remoto que está sendo realizado no momento, o que afasta o caráter clandestino já
mencionado.
Isto posto, salutar a conclusão que a Lei em comento, lato sensu, não abrange as
comunicações entre interlocutores por meio do WhatsApp, pois a disposição legislativa
abrange tão somente a interceptação, real time, da comunicação, o que, por conta da
segurança implementada no aplicativo, é inviabilizada. No contexto, expõe-se a disposição
legislativa (BRASIL, 1996):
Art. 1º A interceptação de comunicações telefônicas, de qualquer natureza, para
prova em investigação criminal e em instrução processual penal, observará o
disposto nesta Lei e dependerá de ordem do juiz competente da ação principal, sob
segredo de justiça.
Parágrafo único. O disposto nesta Lei aplica-se à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática. (Grifou-se).
Ademais, como se constata da redação do dispositivo supra, a Lei se aplica ao
fluxo das comunicações, portanto, não há que se falar na sua aplicação quanto ao acesso dos
dados já armazenados no aparelho móvel, pois trata-se de mera consulta, ao invés de
interceptação de seu fluxo, fato este protegido pela Lei 9.296/96.
A partir da ascensão da internet até a criação da Lei 12.965/14, foi o Direito Penal
que ocupou o centro das discussões deste meio de comunicação, ao tipificar condutas como
63
evidenciado, com ressalva de poder ser relativizada tal proteção por meio de mandado
judicial, conforme art. 7º, III, in fine do mesmo diploma em voga.
Na sequência, será exposto a pesquisa propriamente dita, a fim de demonstrar o
posicionamento dos colegiados frente à utilização do WhatsApp no processo crime.
65
4.1 METODOLOGIA
LEGENDA
Insurgência dos irresignados Posicionamento do Órgão Jurisdicional
Nulidade por violação de sigilo 1 Análise de dados não representa quebra de sigilo telefônico
1
telefônico sem mandado judicial Juízo aquo não se baseou unicamente nas provas impugnadas, portanto,
2
desnecessário pedido de nulidade
3 Não há provas que sustentam o alegado. Ônus da prova competi a quem alega.
4 A Coleta de dados, quando da prisão em flagrante, é dever da autoridade policial
5 Existência de autorização judicial para realização da perícia
Ilícita é a devassa de dados, obtidas diretamente pela polícia em celular
6
apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial
7 Direito a inviolabilidade dos dados, privacidade
O celular deve ser apreendido, mas para acesso aos dados, necessita-se de
8
autorização judicial
9 Verificação do celular sem flagrância
Fonte: TJPR, elaboração do autor, 2018.
Em análise das decisões selecionadas, proferidas pelo Tribunal de Justiça do
Paraná, pode-se resumir que na maioria dos casos, foi reconhecida a licitude da utilização do
aplicativo WhatsApp, como meio de prova, para caracterização do tráfico de drogas,
conforme abaixo ilustrado.
Gráfico 1 - Posicionamento do TJPR em análise quanto a licitude da utilização do
aplicativo WhatsApp como meio de prova para caracterização do crime de tráfico de drogas.
Ilícito 4
40%
Lícito 6
60%
Lícito 6 Ilícito 4
Gráfico 3 - Análise dos julgados por Câmara Criminal que compõem o TJPR.
5ª Câmara Criminal
4ª Câmara Criminal
3ª Câmara Criminal
0 2 4 6 8
Lícito Ilícito
Fonte: TJPR, elaboração do autor, 2018.
Como se constata, o gráfico 3 evidencia as apreciações, quanto à licitude do
acesso aos dados armazenados no celular, separadamente por câmara criminal. A partir de
sua leitura, bem como com o auxílio da tabela 1, constata-se que para a 4ª Câmara Criminal, a
autorização judicial é prescindível para o acesso aos dados armazenados no celular. Também,
evidencia-se a mudança de entendimento da 3ª Câmara, que nos autos de número 1.603.351-7,
julgou que a ordem judicial era desnecessária, mas, nos dois processos subsequentes,
mudando o entendimento, sustentou ser necessária a análise judicial previamente. Com
relação à 5ª Câmara, segue o posicionamento da terceira.
Em suma, no que concerne ao posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado
do Paraná, por meio do presente estudo, constata-se que há divergência de entendimento em
seu âmbito, uma vez que para as 3ª e 5ª Câmaras Criminais, o acesso dos dados constantes do
aparelho celular apreendido deve estar amparado por ordem judicial devidamente
fundamentada, caso contrário, o acesso será ilícito. Conquanto, a 4ª Câmara sustenta que não
só é lícito tal acesso quando da prisão em flagrante, como é dever da autoridade policial, por
conta de imposição legislativa.
Feitas tais exposições, a seguir, passa-se à análise dos julgados do Tribunal de
Justiça do Estado de Santa Catarina.
73
M érito do Quanto a
Dados do Acórdão Fundamentação
WhatsApp Licitude Decisão
Órgão Afronta Aplica a Lei Final
Número Acórdão Data Classe Irresignado Tribunal Lícito?
Julgador a CF? 9.296/96?
2ª Câmara Apelação
20 0004447-46.2012.8.24.0073 23/01/2018 1 9 NÃO SIM NÃO Condenação
Criminal Criminal
5ª Câmara Apelação 1
21 0005576-53.2013.8.24.0008 25/01/2018 9 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal 6
3ª Câmara Apelação 2
22 0004323-52.2017.8.24.0020 27/03/2018 6 SIM NÃO - Condenação
Criminal Criminal 5
2
2ª Câmara Apelação
23 0007194-77.2017.8.24.0045 01/08/2018 1 7 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal
11
1ª Câmara Apelação 1
24 0000291-33.2016.8.24.0054 09/08/2018 1 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal 6
1
1ª Câmara Apelação
25 0004025-89.2016.8.24.0054 09/08/2018 1 6 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal
7
3ª Câmara Apelação 1
26 0005641-74.2013.8.24.0064 31/08/2018 1 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal 6
1 1
1ª Câmara Apelação
27 0000434-66.2018.8.24.0049 11/10/2018 2 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal 5
6
1ª Câmara Apelação
28 0000661-24.2017.8.24.0071 18/10/2018 7 7 SIM NÃO - Condenação
Criminal Criminal
LEGENDA
Insurgência do Irresignado Posicionamento do Órgão
Nulidade por violação de sigilo telefônico 1 Análise de dados não representa quebra de sigilo telefônico
1
sem mandado judicial 2 O acesso ao celular foi franqueado pelo proprietário
2 Necessidade do exame de corpo de delito 3 Celular apreendido em cumprimento a ordem judicial de busca e apreensão
3 Direito a não autoincriminação Juízo aquo não se baseou unicamente nas provas impugnadas, portanto,
4
4 Vulnerabilidade; sem assistência jurídica desnecessário pedido de nulidade
Alegações de que o réu forneceu a senha 5 Não há provas que sustentam o alegado. Ônus da prova competi a quem alega
5
são inverídicas 6 A Coleta de dados, quando da prisão em flagrante, é dever da autoridade policial
6 Obtenção da senha do celular por coação 7 Existência de autorização judicial para realização da perícia
7 Decisão contrária ao entendimento do ST J A simples leitura das mensagens não requer conhecimentos técnicos, portanto,
8
Prova colhida pelos agentes policiais e prescindem de exame pericial
8
não pelos perítos Ilícita é a devassa de dados, obtidas diretamente pela polícia em celular
9
Relaxamento da prisão que torna ilícitas as apreendido no flagrante, sem prévia autorização judicial
9 provas obtidas no celular apreendido 10 T ese não arguida em tempo oportuno. Preclusão
naquele ato 11 Prévia verificação das mensagens do celular corroboram com as demais provas
12 Direito a privacidade e a inviolabilidade dos dados
13 Conteúdo fornecido, por interlocutor, às Forças de Segurança
Fonte: TJSC, elaboração do autor, 2018.
Com base na tabela acima exposta, obtém-se uma síntese dos acórdãos que
compuseram o banco de dados final. Longe de contemplar todo o vasto debate constantes das
decisões, mas objetivou-se apenas elencar os principais elementos de maneira a formar
subsídio para este estudo.
A partir da análise da tabela acima exposta, o que se destaca primeiramente, é o
entendimento do Tribunal em relação à utilização do aplicativo WhatsApp como meio de
prova. Conforme ilustrado abaixo, em 89% dos casos, a utilização do aplicativo foi
considerada lícita.
75
Ilícito 3
11%
Lícito 25
89%
Lícito 25 Ilícito 3
4%
4%
4%
4%
4%
4%
4%
7%
82%
9 8 7 5 4 3 2 6 1
Como se percebe, a maior insurgência, assim como nos casos do TJPR, foi a tese
da ilegalidade do meio de prova por afronta à princípios constitucionais e infraconstitucionais
já expostos na oportunidade.
Em segundo lugar, há insurgências quanto à vício na obtenção da senha de acesso
ao dispositivo móvel – de modo que se o usuário franqueia o acesso ao celular, não há que se
falar em inviolabilidade, uma vez que há a concessão –. Nas oportunidades, foram arguidas
teses de que a senha foi obtida mediante coação física irresistível, ou ainda, se limitando a
simples insinuação de que o réu não franqueou o acesso.
As demais teses – sendo a nulidade por necessidade de exame de corpo de delito,
bem como, por ser necessária a análise dos dados por perito; ou ainda, o direito a não
autoincriminação, a vulnerabilidade do acusado em momento que não estava assistido por
advogado, afronta à jurisprudência do STJ e a ilicitude das provas por conta da decisão que
relaxou a prisão em flagrante – foram defendidas de forma isolada, e como se verá, não
prosperaram perante o colegiado.
Analisando as sustentações das Turmas Colegiadas do Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Santa Catarina, expõe-se a seguinte ilustração, demonstrando a incidência das
teses elencadas na tabela 2 acima exposta.
Gráfico 6 - Síntese dos posicionamentos das Turmas Colegiadas do TJSC frente
as arguições dos irresignados.
5ª Câmara Criminal
4ª Câmara Criminal
3ª Câmara Criminal
2ª Câmara Criminal
1ª Câmara Criminal
0 2 4 6 8 10 12 14
Lícito Ilícito
Fonte: TJSC, elaboração do autor, 2018.
Buscando evitar a duplicidade de informações, a sustentação desta Câmara
Criminal será exposta adiante, quando for apresentado o entendimento do Superior Tribunal
de Justiça.
Ademais, ainda em sede da temática quanto à licitude do acesso aos dados sem
ordem da autoridade judiciária, não há o que se discutir quando o acesso é franqueado pelo
próprio proprietário do dispositivo móvel, uma vez que ao conceder acesso ao celular, abre
mão do direito à inviolabilidade. Sobre o tema, assim se manifestou o relator Des. Luiz Cesar
Schweitzer (SANTA CATARINA, 2016c, p. 7, 8):
E, ainda que a recepção de dados haja ocorrido por intermédio de meio físico mais
moderno de comunicação instantânea, certo é que deve ser aplicada à hipótese
idêntica apreciação jurídica, tendo em vista que um dos receptores livremente dispôs
do sigilo relativo inerente à interação por meio de aparelho celular e entregou
registros oriundos desta a policiais.
Portanto, em vista da voluntariedade que permeou a colheita e utilização dos
indícios, obtidos mediante colaboração direta de pessoa não identificada, não se
vislumbra inobservância aos preceitos constitucionais e legais que disciplinam a
matéria, motivo pelo qual é de ser afastada a arguição de ilicitude.
Neste viés, constata-se que frente as alegações de vício de consentimento no
franquear o acesso dos dados à polícia, o colegiado rechaçou a tese, frente a incapacidade
probatória. Tal posicionamento é calcado no art. 156 do CPP – como já exposto, o ônus da
79
prova incumbe a quem alega – de forma que não foram demonstrados nos autos qualquer
indício de tal vício.
Prosseguindo na análise, de forma consensual na jurisprudência, não há exigência
de ordem judicial específica para o acesso aos dados constantes do celular apreendido. Assim
sendo, não se cogita qualquer irregularidade quando da sua apreensão em meio ao
cumprimento de mandado de busca e apreensão, expedido pela autoridade judiciária
competente.
No tocante à tese de necessidade de submissão, do aparelho celular, ao exame de
corpo de delito, a 3ª Câmara Criminal do TJSC se manifestou no sentido de não haver
necessidade, uma vez que para tal análise não são imprescindíveis conhecimentos técnicos,
uma vez que a simples leitura dos dados pode ser feita pelo agente de polícia (SANTA
CATARINA, 2017d, p. 7).
Ressalta-se, por fim, o descabimento, em algumas situações, da alegação de
nulidade do meio de prova, uma vez vasto o conjunto probatória que configura o tipo
incriminador, da qual serviu de base para a sentença do juízo de piso, uma vez que a ilicitude
da prova não acarretaria efeito algum para o insurgente. Motivo este que, mesmo nos casos
em que o acesso dos dados foi considerado ilícito, a condenação se manteve.
M érito do Quanto a
Dados do Acórdão Fundamentação
WhatsApp Licitude Decisão
Número Órgão Afronta Se aplica a Final
Data Classe Irresignado Tribunal Lícito?
Acórdão Julgador a CF? Lei 9.296/96
2ª Câmara Habeas 1 Denegação
4 70076708890 12/04/2018 1 SIM NÃO NÃO
Criminal Corpus 4 da Ordem
2ª Câmara Apelação 1
5 70076983980 14/06/2018 1 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal 4
2ª Câmara Apelação
6 70077051498 28/06/2018 1 3 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal
1ª Câmara Apelação
7 70076852425 22/08/2018 1 5 NÃO SIM SIM Absolvição
Criminal Criminal
2ª Câmara Apelação
8 70078052909 30/08/2018 1 2 SIM NÃO NÃO Condenação
Criminal Criminal
LEGENDA
Insurgência do Irresignado Posicionamento do Órgão
Nulidade por violação de sigilo 1 Análise de dados não representa quebra de sigilo telefônico
1
telefônico sem mandado judicial 2 O acesso ao celular foi franqueado pelo proprietário
3 Celular apreendido em cumprimento a ordem judicial de busca e apreensão
4 A Coleta de dados, quando da prisão em flagrante, é dever da autoridade policial
Ilícita é a devassa de dados, obtidas diretamente pela polícia em celular apreendido no flagrante ,
5
sem prévia autorização judicial
6 Direito a privacidade e a inviolabilidade dos dados
7 O celular deve ser apreendido, mas para acesso aos dados, necessita-se de autorização judicial
8 Mandado judical ulterior à diligência.
Fonte: TJRS, elaboração do autor, 2018.
A partir da análise da tabela 3, constata-se que a insurgência dos insatisfeitos com
a tutela jurisdicional focou unicamente na alegação de nulidade do meio de prova em estudo,
sustentando que o acesso aos dados fere direitos constitucionais e infraconstitucionais,
conforme já explanados anteriormente.
Assim, passando à análise do posicionamento da turma colegiada, expõe-se o
gráfico 8.
Gráfico 8 – Posicionamento do TJRS em análise quanto a licitude da utilização do
aplicativo WhatsApp como meio de prova para caracterização do crime de tráfico de drogas.
Ilícito 3
38%
Lícito 5
62%
Lícito 5 Ilícito 3
3ª Câmara Criminal
2ª Câmara Criminal
1ª Câmara Criminal
0 1 2 3 4 5
Lícito Ilícito
Por fim, passa-se a análise dos julgados do Superior Tribunal de Justiça, que na
primeira coleta de pesquisa computou 24 acórdãos, entretanto, no segundo filtro, este número
reduziu para 17, formando a base final deste estudo.
A seguir, apresenta-se a tabela 4 com a síntese da análise dos acórdãos.
Tabela 4 – Síntese dos acórdãos do STJ.
Quanto a
Dados do Acórdão M érito do WhatsApp Fundamentação
Licitude Decisão
Número Órgão Afronta Se aplica a Lei Final
Data Classe Origem Irresignado Tribunal Lícito?
Acórdão Julgador a CF? 9.296/96
5
6 Recurso
1 51.531 19/04/2016 6ª Turma RHC RO 1 NÃO SIM SIM
7 Provido
10
5
Parcial
2 67.379 20/10/2016 5ª Turma RHC RN 1 6 NÃO SIM SIM
Provimento
7
5
3 75.055 21/03/2017 5ª Turma RHC DF 1 NÃO SIM SIM Condenação
6
5 Parcial
4 76.510 04/04/2017 6ª Turma RHC RR 1 NÃO SIM SIM
6 Provimento
1
Habeas Não
5 81.297 27/04/2017 5ª Turma SP 1 4 SIM NÃO -
Corpus Provimento
9
5
Recurso
6 79.452 22/08/2017 5ª Turma RHC RR 1 6 NÃO SIM SIM
Provido
11
Provimento
7 77.232 03/10/2017 5ª Turma RHC SC 1 2 SIM NÃO NÃO
Negado
Habeas Pedido não
8 372.762 03/10/2017 5ª Turma MG 1 2 SIM NÃO NÃO
Corpus Conhecido
Recurso
9 1.675.501 17/10/2017 6ª Turma MG 1 5 NÃO SIM NÃO Condenação
Especial
5
Recurso
10 73.998 06/02/2018 5ª Turma RHC SC 1 6 NÃO SIM SIM
Provido
11
5 Concessão
Habeas
11 421.249 08/02/2018 5ª Turma SC 1 6 NÃO SIM - do HC de
Corpus
7 ofício
Recurso 5 Recurso
12 1.701.504 27/02/2018 6ª Turma SC 1 NÃO SIM SIM
Especial 6 Provido
5
Ag Rg Não
13 92.801 20/03/2018 5ª Turma SC 11 6 NÃO SIM NÃO
RO HC Provimento
7
Habeas 9 Pedido não
14 422.299 24/04/2018 5ª Turma SP 1 NÃO SIM -
Corpus 13 Conhecido
83
Quanto a
Dados do Acórdão M érito do WhatsApp Fundamentação
Licitude Decisão
Número Órgão Afronta Se aplica a Lei Final
Data Classe Origem Irresignado Tribunal Lícito?
Acórdão Julgador a CF? 9.296/96
Habeas Pedido não
15 446.531 05/06/2018 5ª Turma SP 1 14 SIM NÃO -
Corpus Conhecido
1 3
Recurso
16 1.727.266 05/06/2018 5ª Turma SC 5 NÃO - SIM Condenação
Especial 10
8
5
Recurso
17 89.385 16/08/2018 6ª Turma RHC SP 1 6 NÃO SIM -
Provido
12
LEGENDA
Insurgência do Irresignado Posicionamento do Órgão
1 Nulidade por violação de sigilo telefônico sem 1 O acesso ao celular foi franqueado pelo proprietário
mandado judicial 2 Celular apreendido em cumprimento a ordem judicial de busca e apreensão
2 Necessidade de submissão ao exame de corpo de 3 Juízo aquo não se baseou unicamente nas provas impugnadas, portanto, desnecessário
delito pedido de nulidade
3 Direito de não autoincriminação 4 Não há provas que sustentam o alegado. Ônus da prova competi a quem alega
4 Momento de vulnerabilidade e sem assistência Ilícita é a devassa de dados, obtidas diretamente pela polícia em celular apreendido no
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jurídica flagrante, sem prévia autorização judicial
5 Alegações falsas de fornecimento de senha 6 Direito a inviolabilidade dos dados, privacidade
6 Obtenção da senha por coação irresistível 7 O celular deve ser apreendido, mas para acesso aos dados, necessita-se de ordem judicial
7 Decisão contrária ao entendimento do ST J 8 Não compete ao ST J, em sede de RE, análise à violação de direirtos constitucionais
8 Prova colhida pelos agentes policiais e não pelos 9 Em sede de Habeas Corpus não se concebe dilação probatória, devendo as provas devem ser
perítos pré-constituidas e incontroversas, cabendo ao impetrante tal ônus
Relaxamento da prisão que torna ilícitas as Não restou comprovada a necessária urgência no acesso aos dados do celular, ao qual
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provas obtidas no celular apreendido naquele ato justificaria o acesso sem mandado judicial
10 Violação à direitos constitucionais 11 Direito ao silêncio e a não autoincriminação
Necessidade de ponderação entre a previsões 12 Indevida inversão do ônus da prova
11 constitucionais do art. 5º, X (proteção à 13 Condenção mantida por subsistir elementos suficientes à embasar a condenação
intimidade) e o art. 144 (direito à segurança 14 Não se confunde a devassa de dados com mera visualização de mensagem, quando não há
pública) efetivo acesso às conversas, bem como, apreenção e utilização como meio de prova
Fonte: STJ, elaboração do autor, 2018.
Em um balanço geral, das 17 oportunidades enfrentadas pela 5ª e 6ª Turmas do
STJ – 12 e 5 respectivamente – em apenas 4 processos o acesso aos dados armazenados no
celular foram considerados lícitos, conforme gráfico abaixo.
Gráfico 10 – Posicionamento do STJ em análise quanto a licitude da utilização do
aplicativo WhatsApp como meio de prova para caracterização do crime de tráfico de drogas.
Lícito 4
24%
Ilícito 13
76% Lícito 4 Ilícito 13
0
SC SP MG RR DF RN RO
Fonte: STJ, elaboração do autor, 2018.
Como perceptível, o Estado com mais processos subindo à Instância superior é o
de Santa Catarina, em virtude do atual posicionamento do Tribunal estadual, uma vez que dos
6 processos, 5 o acesso ao aparelho celular foi considerado ilícito. Em apenas uma
oportunidade o STJ deu razão ao Tribunal, pois o acesso estava amparado por ordem judicial
(tese 2).
Expostos os posicionamentos que consideram ilícita a devassa de dados sem a
devida autorização judicial, passa-se a análise dos casos em que o acesso foi considerado
lícito.
Contabilizando o total de 4 decisões – todas da 5ª Turma do STJ – que
consideraram lícita a utilização das conversas do aplicativo WhatsApp, conforme tabela 4,
vislumbra-se que em 2 casos, a apreensão do celular, bem como o acesso aos dados foram em
cumprimento à ordem judicial de busca e apreensão, casos em que não se exige ordem
judicial especifica para o acesso, portanto, diligência lícita.
Em outra oportunidade, constata-se que o acesso aos dados foi franqueado, ou
seja, o proprietário autorizou o acesso, assim, não há que se falar em nulidade. In casu, a
defesa se insurgiu da ilegalidade, mas também não foi capaz de demonstrá-la através de prova
pré-constituída, demandando assim instrução probatório, o que não se admite em sede de
Habeas Corpus.
Por último, destaca-se que no HC 446.531 (BRASIL, 2018f), o Tribunal
considerou lícita a prova por não se tratar de acesso aos dados propriamente ditos, mas sim só
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5 CONCLUSÃO
constitucionais. Contudo, tais direitos, por não serem absolutos, poderão ser relativizados,
desde que demonstrado o periculum in mora e o fumus boni iuris.
No TJPR, tendo como base os acórdãos analisados, verifica-se predominar
entendimento que destoa da Corte Superior, de modo que para o acesso aos dados
armazenados não necessita de ordem judicial. Entretanto, também ficou evidente que tal
entendimento é dominante na 4ª Câmara Criminal, a qual analisou a maioria dos julgados.
Seguem o entendimento do STJ as Câmaras 3 e 5.
Igual cenário se vislumbra no Tribunal gaúcho, onde em suma maioria considerou
lícito o acesso, entretanto, tal resultado se deve pelo fato do posicionamento da 2ª Câmara
Criminal, que julgou a maioria dos casos, de modo que sustenta a desnecessidade de ordem
judicial para o acesso quando da prisão em flagrante. Já a 1ª e 3ª Câmaras Criminais,
acompanham o posicionamento da instância superior.
No tocante ao Tribunal catarinense, de modo quase unanime, acompanha a 4ª
Câmara Criminal do TJPR, sustentando que só não é necessária a autorização judicial para o
acesso aos dados constantes do smartphone, como é dever da autoridade policial tal ato
quando do flagrante delito. Registra-se que solitária é a 2ª Câmara Criminal deste órgão
jurisdicional, a qual acompanha o entendimento do STJ. Não ao acaso, este Tribunal teve o
maior índice de recursos no Superior Tribunal de Justiça.
Destarte, com base no estudo realizado, este discente acompanha o
posicionamento do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. Apesar de louvável e
correto as sustentações no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, data venia, compreende-se
que tal posicionamento, diga-se, extremamente legalista, comina em relativo protecionismo
desacerbado. Veja-se que não se está a sustentar, de forma absoluta, o acesso aos dados
constantes do aparelho celular, nem tão pouco o monitoramento de conversas (interceptação),
mas tão somente permitir tal acesso nos casos de flagrante delito – situação esta que já se
relativiza o direito à inviolabilidade do domicílio, que de modo semelhante, invade a
privacidade do cidadão.
Este entendimento baseia-se na atividade policial, a qual evidencia que existe
desacerbado protecionismo àquele que, por opção, escolhe estar à margem da lei, afrontando
o direito, instalando assim, no seio social, a sensação de insegurança e impunidade.
O presente estudo restringiu-se apenas aos Tribunais do sul do País e ao âmbito do
Superior Tribunal de Justiça, deixando de abordar os demais Tribunais estaduais.
Conforme bem observado pela Ministra Maria Thereza De Assis Moura
(BRASIL, 2016a, pág. 26), o tema trará muitas discussões, estando longe da pacificação.
94
Assim, conforme evidenciado durante o estudo, pouco se tem, na doutrina, material que verse
sobre tal sopesamento, onde de um lado se tem o direito à segurança pública, e, de outro, a
inviolabilidade e o sigilo das comunicações, podendo ser este, o objeto de demais estudos, a
fim de encontrar a melhor aplicação do direito ao caso concreto.
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REFERÊNCIAS
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da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera
o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras
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97
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99
APÊNDICE
100
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Min. Joel Ilan Paciornik. Brasília, 22 de agosto de 2017d. Disponível em: <
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101
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