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Análise de Correspondência Múltipla: impasses metodológicos no estudo das


carreiras dos vice-presidentes da República (1891-2018)

Conference Paper · July 2021

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3 authors:

Nilton Sainz Adriano Codato


Universidade Federal do Paraná Universidade Federal do Paraná
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Gabryela Gabriel
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20° Congresso Brasileiro de Sociologia
12 a 17 de julho de 2021
UFPA – Belém, PA
GT 17 – Sociologia Política

Análise de Correspondência Múltipla: impasses metodológicos no estudo


das carreiras dos vice-presidentes da República (1891-2018)

Nilton Sainz*
Adriano Codato*
Gabryela Gabriel*
*Universidade Federal do Paraná

1. Apresentação do estudo
Desde o esboço de Max Weber (1994) em 1918 sobre os tipos de carreirismo
político, são inúmeras as mudanças na compreensão da profissão política e dos
seus agentes (ALLEN et al., 2020; VERCESI, 2018). No século XX, houve
sucessivas conversões de paradigmas de referência, perspectivas teóricas e
modos de tratamento empírico do problema das elites políticas (BEST; HIGLEY,
2018). E também houve transformações significativas nos próprios perfis sociais,
étnicos e de gênero da classe política e nos “viveiros” de recrutamento para o
mundo político (DOGAN, 1999). São múltiplas as formas de ambição e de
carreirismo em função de diferentes contextos institucionais (tais como sistemas de
partido ou fórmulas eleitorais). Nesse contexto, sempre é preciso encontrar
expedientes metodológicos capazes de reenquadrar as formas da representação
política.
De modo muito genérico, há duas escolas na pesquisa sobre carreiras
políticas: uma orientada para os agentes políticos, outra orientada para os
contextos institucionais (VERCESI, 2018). No grupo das análises centradas nos
atores, há desde as abordagens resultantes da teoria da ambição política (BLACK,
1972; NICHOLLS, 1991; SCHLESINGER, 1966) até explicações que enfatizam
Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

social backgrounds, recursos profissionais e processos de socialização (GAXIE,


2018; PUTNAM, 1976).
Em termos mais amplos, há ao menos três modos de entender os perfis da
elite política que derivam de três disciplinas concorrentes: Sociologia da Política,
Sociologia Política e Ciência Política. Segundo essa diferenciação, enquanto a
Sociologia da Política enfatizaria prioritariamente variáveis sociais na explicação, a
Ciência Política priorizaria apenas variáveis institucionais. A Sociologia Política se
proporia a ser, idealmente, uma composição das duas perspectivas, conjugando,
nas explanações, tanto variáveis institucionais como societais (COSTA et al., 2021).
O objetivo desse estudo é discutir as possibilidades de interação entre
variáveis institucionais e societais em um modelo de Análise de Correspondência
Múltipla (ACM). Trata-se de uma discussão de caráter metodológico, que busca
explorar as possibilidades e limitações dessa ferramenta nos estudos de elites.
Logo, buscamos: i) apresentar a ACM como ferramenta estatística capaz de
proporcionar resultados para análise de padrões em elites políticas; ii) demonstrar
as limitações do método perante as interações entre variáveis institucionais e
societais; iii) abordar a homogeneidade da elite política brasileira e o significado
disso para pesquisas empíricas em sociologia política.
Nosso foco neste estudo são as carreiras de todos os vice-presidentes do
Brasil de Floriano (1891) a Temer (2018).
Análise de Correspondência Múltipla é uma técnica de análise exploratória
que possibilita trabalhar com dados categóricos e investigar a associação entre
duas ou mais variáveis (FÁVERO; BELFIORE, 2017; LE ROUX; ROUANET, 2010).
Na ACM, o objetivo é exibir geometricamente as linhas e colunas por meio de
coordenadas, de modo que a proximidade no mapa perceptual indique similaridade
entre esses indivíduos estatísticos (GREENACRE, 1984; HAIR JR. et al., 2009)
ACM foi o método empregado nas Ciências Sociais a partir da obra A
distinção, de Pierre Bourdieu (1979). A ACM preocupa-se em reproduzir, através
da quantificação de seu material empírico, a realidade dos espaços e campos
sociais (BLASIUS et al., 2019; LEBARON, 2010). Conforme Lebaron (2010), o uso
da análise de correspondência em Ciências Sociais está associado à

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

caracterização de recursos, principalmente sociais e econômicos, de que dispõem


os agentes1.
Este texto tem quatro seções. A seguir, apresentamos o delineamento
metodológico da pesquisa. Na terceira seção, os resultados são apresentados em
função de dois modelos analíticos. Na quarta seção, comparamos os dois modelos.
Por fim, nas considerações finais retomamos a discussão inicial e damos uma
direção para a continuidade dessas investigações.

2. Delineamento metodológico
A principal fonte de informações biográficas sobre os vice-presidentes da
República foram os verbetes do CPDOC-FGV (ABREU et al., 2001). Quando
necessário, contamos com informações complementares dos sites da Câmara dos
Deputados, Senado Federal e jornais diários disponíveis online. A prosopografia
dos indivíduos considerou dados sociopolíticos dos atores.
O universo de análise é formado por 24 vice-presidentes em quatro períodos
históricos da República, sendo Floriano Peixoto o primeiro escolhido para o cargo
(1889) e Michel Temer o último com mandato concluído (2018). A nossa
periodização é a seguinte: Primeira República (1891-1930); Quarta República
(1945-1964); Ditadura Militar (1964-1985); Nova República (1985 - Atualmente).
No Quadro 1 apresentamos as variáveis de teste que foram consideradas
para os modelos de ACM.
Das variáveis apresentadas no Quadro 1, a variável “Trajetória eletiva” e
“Ambição política” merecem descrições mais detalhadas.
A primeira classifica, baseado no número de cargos ocupados antes da vice-
presidência, aqueles que: i) não possuíam experiência em cargos eletivos
(chamados aqui de “Desprovido”); ii) possuíam experiência em um único posto
(chamados de “Leal”); iii) possuíam experiência em dois ou mais cargos eletivos
(Acumulador). A variável “ambição política” classifica as aspirações políticas dos
vice-presidentes de acordo com suas escolhas de carreira após deixarem o posto,
ou seja, para onde foram no seguimento da vida político-eleitoral.

1Alguns exemplos de uso nas ciências sociais brasileiras de ACM são (KLÜGER, 2017),
(BORDIGNON, 2017), (CODATO et al., 2019) e (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2009). Para uma
explicação didática, ver (KLÜGER, 2018).

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Quadro 1: Variáveis que compõem o delineamento da pesquisa

Dimensão Variável Categorias Descrição

Trajetória Acumulador; Leal; Desprovido. Categorização a partir do


eletiva número de cargos das
trajetórias políticas eletivas
dos vice-presidentes.
Institucional

Ambição política Progressiva; Estática; Classificação de acordo


Regressiva; Discreta. com as escolhas de
carreira dos vice-
presidentes após deixarem
o cargo.

Primeira República; Quarta Classificação de acordo


República; Ditadura Militar; com o período histórico
Período
Nova República. que cada vice-presidente
Contextual histórico
assume o cargo.

Formação Ensino superior; Formação Classificação de acordo


acadêmica militar; Sem Ensino Superior. com a escolaridade ou o
tipo de formação.
Societal

Ocupação Militar; Professor; Advogado; Classificação de acordo


Profissional Membro do Judiciário; Outros2. com a profissão de origem
dos vice-presidentes antes
de alcançarem o cargo.

Fonte: Elaboração própria.

A complexidade do sistema de cargos políticos e os múltiplos valores que as


diversas posições podem admitir (BORCHERT, 2009) exige que seja adotado um
método um tanto arbitrário e ad hoc de classificação para as escolhas de carreiras.
Nesse caso consideramos: i) “Progressiva” para aqueles que chegaram à
Presidência da República ou candidataram-se ao cargo de presidente; ii) “Estática”
para os que foram reeleitos mediata ou imediatamente ao cargo; iii) “Regressiva”
para os vices que optaram por cargos abaixo da Presidência da República; iv)
“Discreta” para aqueles que se aposentaram das urnas após o cargo.
Antes da Análise de Correspondência Múltipla foi realizado o teste de
associação Qui-quadrado de Pearson com pares de variáveis que compõem os
modelos presentes na análise multidimensional. Nos casos em que alguma das

2Na categoria “Outros” foram agregadas as ocupações com baixa frequência no banco de dados,
sendo elas: Jornalista; Médico; Engenheiro; Policial; Estancieiro; e Empresário.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

variáveis não possui associação estatística significativa com outra, é recomendado


que esta seja excluída do modelo (FÁVERO; BELFIORE, 2015). Para
complementar, relatamos os coeficientes de V de Cramer que certificam a força de
associação entre as variáveis (REA; PARKER, 2014).
O segundo teste estatístico antes da ACM é o coeficiente alfa de Cronbach,
que mede a confiabilidade dos modelos estatísticos a partir do comportamento das
correlações entre variáveis (FÁVERO; BELFIORE, 2017). O alfa de Cronbach varia
de 0 a 1, sendo considerado valores aceitáveis a partir de 0,41 a 0,60, quando a
consistência interna do modelo é classificada como moderada (LANDIS; KOCH,
1977). Apesar desta classificação, não há consenso sobre a aceitabilidade desses
parâmetros na literatura (FÁVERO; BELFIORE, 2017).
Em relação à estatística dos testes de ACM, vale destacar os valores de
inércia e autovalor. A inércia é uma medida de dispersão. Quanto maior a inércia,
maior a associação entre as linhas e colunas, indicando o quanto a dimensão
contribui (medindo a variabilidade dos dados) para a construção de cada eixo
(FÁVERO; BELFIORE, 2017; HAIR JR. et al., 2009). Ligado aos valores de inércia,
as medidas de autovalor são as somas das cargas fatoriais em uma dimensão e
também uma medida de variância e contribuição de cada dimensão na explicação
total. Assim como a inércia, valores acima de 0,2 (20%) são considerados
aceitáveis para análises (HAIR JR. et al., 2009).

3. Resultados
Testamos dois modelos de análise. No Modelo 1, o objetivo foi analisar os
padrões de carreiras políticas dos vice-presidentes em diferentes períodos
históricos da República. Inserimos na equação três variáveis, sendo “Período
histórico” a nossa variável explicativa, e “Trajetória eletiva” e “Ambição política” as
variáveis de resposta.
Na Tabela 1, trouxemos os resultados do teste de associação qui-quadrado
entre as variáveis dependentes e independente.
Os resultados dos testes de associação indicam significância estatística
(p<0,05) entre o acúmulo de cargos na carreira e ambições políticas futuras em
diferentes períodos históricos.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Tabela 1: Resultados de associação para o Modelo 1

VD Categorias Frequências VI P-Valor V de


Cramer
Desprovido 2
Trajetória Período
Leal 4 ,036 ,53
eletiva histórico
Acumulador 18
Progressiva 10
Estática 4 Período
Ambição ,024 ,51
Regressiva 6 histórico
política
Discreta 4

Fonte: Elaboração própria.

Os valores do V de Cramer demonstra que a associação é relativamente


forte entre as variáveis (REA; PARKER, 2014). A partir disso, o cenário se mostra
favorável para seguirmos com a ACM.
Na Tabela 2, expomos os resultados que resumem a estatística da análise
de correspondência múltipla.

Tabela 2: Resumo do Modelo 1 na Análise de Correspondência Múltipla

Dimensão Alfa de Cronbach Variância contabilizada para


Total (valor
Inércia % de variância
próprio)
1 ,837 2,261 ,754 75,361
2 ,730 1,949 ,650 64,968
Total 4,210 1,403
Média ,780 2,105 ,702 70,165

Fonte: Elaboração própria.

Segundo Landis e Koch (1977) valores de confiabilidade entre 0,61 e 0,80


são considerados substanciais. Nesse caso, a confiabilidade do Modelo 1 atinge
0,78. Os valores inerciais e a variância do nosso modelo são positivos para a
análise, ultrapassando o valor crítico de 20% apresentado por Hair Jr. et al. (2009).
Obtivemos uma variância superior a 70% dos casos explicados pelo modelo de
análise. Na Tabela 3 e no Gráfico 1, trouxemos os resultados das variáveis no
modelo.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Tabela 3: Medidas de discriminação do Modelo 1

Dimensão Média
1 2
Período Histórico ,719 ,748 ,733
Tipo de Ambição Política ,810 ,645 ,728
Cargos acumulados ,732 ,557 ,644

Total ativo 2,261 1,949 2,105

% de variância 75,361 64,968 70,165

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 1: Medidas de discriminação do Modelo 1

Fonte: Elaboração própria.

Na Tabela 3, podemos observar que a variável “Ambição Política” possui a


carga fatorial mais elevada na dimensão 1, enquanto na dimensão 2 a variável mais
explicativa foi “Período Histórico”. Em resumo, esses resultados fornecem respaldo
estatístico para discriminar essas variáveis na análise espacial (Gráfico 2).

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Gráfico 2: Mapa perceptual do Modelo 1

Fonte: Elaboração própria.

Observamos que a disposição das categorias indica a formação de três


clusters. O primeiro, no quadrante superior direito, agrupa aqueles vice-presidentes
da Primeira República com passagem por diversos cargos em suas trajetórias e
com ambições progressivas e regressivas na carreira política. Nota-se que os vices
da Quarta República estão no meio do caminho entre o quadrante superior e inferior
direito, o que pode ser explicado pelo baixo N de casos e com diferentes carreiras
anteriores e posteriores.
O segundo grupo, referente aos vice-presidentes da Ditadura Militar,
apresenta inexperiência em cargos eletivos e ambição política discreta. Em outras
palavras, não retornam a cargos eletivos em suas carreiras posteriores. Já o perfil
da Nova República reúne vices com passagem em um único cargo e opções pela
reeleição à vice-presidência na sequência de suas carreiras.
A partir dos resultados do Modelo 1, exploramos o banco de dados incluindo
na equação outras variáveis ligadas à dimensão societal.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

No Modelo 2, mensuramos os efeitos da variável “Formação acadêmica” e


“Origem ocupacional” na interação com as variáveis do Modelo 1 a fim de
compreender os padrões de carreira política em uma dimensão mais ampla. A
pergunta central aqui é: variáveis sociais são capazes de discriminar os padrões de
carreiras dos vice-presidentes da República (1891-2018)?
Retornando ao passo inicial da ACM, na Tabela 4 relatamos os resultados
dos testes de associação. A partir disso, observamos se as variáveis de resposta
encontram explicações em termos de associação estatística para o modelo de
análise 2.

Tabela 4: Resultados de associação para o Modelo 2

Frequências P-Valor V de
VD Categorias VI
Cramer
Desprovido 2
Trajetória Formação
Leal 4 ,000 ,65
eletiva acadêmica
Acumulador 18
Progressiva 10
Estática 4 Formação
Ambição ,071 ,49
Regressiva 6 acadêmica
política
Discreta 4
Desprovido 2
Trajetória Ocupação
Leal 4 ,019 ,65
eletiva profissional
Acumulador 18
Progressiva 10
Estática 4 Ocupação
Ambição ,172 ,47
Regressiva 6 profissional
política
Discreta 4

Fonte: Elaboração própria.

Nos resultados da Tabela 5, observamos que nem todos os cruzamentos


entre variáveis dependentes e independentes resultaram em significância. As
associações encontradas estão atreladas à variável “Trajetória eletiva” com forte
força associativa. No entanto, os testes Qui-quadrado com a variável “Ambição
política” não retornam com significância, o que nos levaria a retirá-la do modelo ou
buscar outras variáveis independentes para explicar a ambição. Entretanto, como
a finalidade é a experimentação metodológica, seguiremos com essa variável.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Na Tabela 5, expomos os resultados que resumem a estatística da análise


de correspondência múltipla para o Modelo 2.

Tabela 5: Resumo do Modelo 2 na Análise de Correspondência Múltipla

Variância contabilizada para


Dimensão Alfa de Cronbach
Total (valor próprio) Inércia % de variância
1 ,905 3,625 ,725 72,497
2 ,789 2,714 ,543 54,276
Total 6,339 1,268
Média ,856 3,169 ,634 63,387

Fonte: Elaboração própria.

Para Landis e Koch (1977), valores de confiabilidade acima de 0,81 são


quase perfeitos. A confiabilidade do Modelo 2 (valor do Alfa de Cronbach) foi de
0,85. Os valores de inércia e variância do nosso modelo são positivos para a
análise, ultrapassando o valor crítico (HAIR JR. et al., 2009). Porém, o poder
explicativo demonstrado através da variância dos dados é de 63%, representando
um decréscimo em relação ao Modelo 1.
Na Tabela 6 e no Gráfico 3, trazemos os resultados das interações entre o
conjunto de variáveis.
Ao observar a Tabela 6, é possível perceber valores elevados de carga
fatorial na dimensão 1 (72%). Porém, examinando a dimensão 2, nota-se que os
valores decrescem e atingem uma variância de 54% de capacidade explicativa dos
dados. O Gráfico 3 torna perceptível a redução do poder explicativo na dimensão
2, onde os valores de cargas fatoriais não alcançam patamares mais altos como no
Gráfico 1. No Gráfico 4, projetamos o mapa perceptual do Modelo 2.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Tabela 6: Medidas de discriminação do Modelo 2

Dimensão
Média
1 2
Período Histórico ,519 ,646 ,582
Ambição Política ,626 ,634 ,630
Trajetória Eletiva ,823 ,470 ,646
Formação Acadêmica Agregada ,817 ,434 ,626
Ocupação profissional ,840 ,529 ,684
Total ativo 3,625 2,714 3,169
% de variância 72,497 54,276 63,387

Fonte: Elaboração própria.

Gráfico 3: Medidas de discriminação do Modelo 2

Fonte: Elaboração própria.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

O mapa perceptual do Modelo 2 repete a formação dos três clusters


observados pelo Modelo 1, mas agora com a influência das variáveis societais. No
quadrante superior direito, onde ficam os vices da Primeira República, observamos
as presenças das categorias de ocupação “Membros do Judiciário” e “Advogado”,
além de “Ensino superior”. Os vices da Quarta República aparecem em uma
espécie de limbo, o que não permite definirmos com precisão as suas
características.

Gráfico 4: Mapa perceptual do Modelo 2

Fonte: Elaboração própria.

No caso dos vice-presidentes da Nova República, nota-se uma aproximação


com a categoria “Outros”, que reduz as demais ocupações socioprofissionais. Além
disso, percebe-se a categoria “Sem E.S” (sem ensino superior) como um outlier
afastado do cluster. Isso acontece porque existe um único caso com essa
característica no universo de análise.
O quadrante inferior esquerdo, com os vice-presidentes da Ditadura Militar é
o que possui mais definição e discriminação dos demais. Isso se explica pela
similaridade do perfil dos escolhidos para ocupar os cargos. Em parte, eles eram
militares de carreira e com formação militar.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

4. Análises e discussão
Iniciando com a análise do Modelo 1, foi possível observar um maior poder
discriminatório na estatística resultante da ACM. Em termos de mapa perceptual,
conseguimos a definição de três clusters com padrões de carreiras distintas,
ficando somente os vices da Quarta República com menor discriminação em termos
de carreira anterior e ambição política.
A estatística do Modelo 1 apresentou um Alfa de Cronbach de 0,78 e uma
variância de 70%. Além disso, os resultados do teste Qui-quadrado apresentaram
retornos positivos em termos de associação, o que podemos traduzir em melhores
condições para realização da ACM. Na dimensão 1 de análise, a variável “Ambição
Política” demonstrou maior carga fatorial, já na dimensão 2, “Período Histórico”
apresenta o resultado mais elevado.
Em comparação com o primeiro modelo, o Modelo 2, onde foram incluídas
ao processo de interação as variáveis societais, demonstrou um menor poder de
discriminação dos grupos, com exceção dos vices do período militar. No geral,
observamos a reprodução dos quadrantes do Modelo 1, porém com menor
capacidade de diferenciar as características dos vice-presidentes dos períodos
democráticos.
Apesar do teste de confiabilidade se mostrar superior (0,85), a média de
variância ficou em 63%, com valores inerciais reduzidos em relação ao primeiro
modelo. Além disso, o teste de associação não ser significativo em uma das
variáveis independentes também resulta em menor poder discriminatório para
ACM.
Esses resultados indicam uma menor capacidade explicativa com a inserção
das variáveis societais no Modelo 2. Diante disso, podemos citar duas possíveis
explicações para desfecho: i) o universo de vice-presidentes (1891-2018) é baixo e
possui números desiguais de casos em variáveis independentes; ii) com exceção
dos vices da ditadura, há uma homogeneidade estabelecida na elite analisada, com
um perfil social padrão e que não possui capacidade discriminatória quando
mobilizada em conjunto com variáveis institucionais.
Para demonstrar as diferenças entre os modelos 1 e 2, nos Gráficos 5 e 6,
apresentamos a disposição dos atores analisados em cada ACM

13
Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Gráfico 5: Pontos dos objetos do Modelo 1 rotulados Gráfico 6: Pontos dos objetos do Modelo 2 rotulados
pelos casos analisados pelos casos analisados

Fonte: Elaboração própria.


Fonte: Elaboração própria.

É perceptível, através da comparação entre os gráficos, que o Modelo 1


consegue uma discriminação maior em relação ao Modelo 2, aproximando os casos
em maior grau de acordo com suas correlações. Examinando o Modelo 2, podemos
perceber uma maior “aglomeração” de casos (Gráfico 6). Isso demonstra a menor
discriminação resultante da variância e das cargas fatoriais nas dimensões3.

5. Considerações finais
Retomando os objetivos da análise metodológica, contemplamos as
possibilidades de interação entre variáveis institucionais e societais em Análise de
Correspondência Múltipla. Exploramos as possibilidades dessa ferramenta nos
estudos de elites políticas e buscamos responder se variáveis sociais são capazes
de discriminar os padrões de carreiras dos vice-presidentes da República (1891-
2018) utilizando ACM.

3Para uma discriminação dos valores de cada caso nos Modelos 1 e 2, ver o Anexo 1 e o Anexo
2. No Anexo 3 há os nomes dos vice-presidentes e o número do caso correspondente.

14
Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

O Modelo 1 trouxe um maior detalhamento dos padrões de carreira dos vice-


presidentes de acordo com o período histórico em que ocuparam o cargo. A
estatística resultante dessa análise corroborou resultados mais diferenciadores dos
casos. Eles permitem apontar padrões referentes às experiências anteriores de
carreiras (medidas em número de cargos) e ambição futura (medida em escolhas
eletivas pós vice-presidência).
Ao incluirmos as variáveis societais no Modelo 2, notamos que esses
aspectos dispõem de menor poder discriminatório, ou seja, não colaboram tanto
em variância para a distinção dos grupos analisados e formatados pelo Modelo 1.
Além disso, as estatísticas dos testes realizados para este modelo não robustecem
a ACM, visto que suas porcentagens de variância decaem conforme essa
agregação.
A partir dessa simulação inicial com os dados, trouxemos duas suposições
explicativas. A primeira é referente ao baixo N analisado e que possui assimetrias
em relação à variável “período histórico”. Prova disso seria a categoria “Quarta
República” com uma baixa definição em relação as demais categorias.
A segunda diz respeito à própria homogeneidade da elite política analisada,
que segue os padrões clássicos das elites parlamentares brasileiras. Apesar de
haver algumas diferenças de acordo com o período histórico analisado, em geral
essa elite converge para um perfil de classe social alta, com atributos tradicionais.
Nesse sentido, os próximos passos são aumentar o número de atores
políticos analisados (mudando também o universo de pesquisa), além de ajustes
nos pressupostos teóricos dos nossos modelos.

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Anexo 1: Modelo 1
Dimensão
Número de caso Período Histórico Ambição Política Trajetória Eletiva
1 2
1 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
2 -,693 ,519 Primeira República Discreta Acumulador
3 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
4 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
5 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
6 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
7 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
8 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
9 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
10 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
11 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
12 ,428 ,277 Quarta República Regressiva Acumulador
13 ,666 -,778 Quarta República Progressiva Leal
14 ,749 -,878 Quarta República Estática Acumulador
15 -,371 -,696 Ditadura Militar Regressiva Leal
16 -1,478 -,159 Ditadura Militar Discreta Acumulador
17 -2,796 -,767 Ditadura Militar Discreta Desprovido
18 -2,796 -,767 Ditadura Militar Discreta Desprovido
19 -,480 ,218 Ditadura Militar Progressiva Acumulador
20 ,573 -,197 Nova República Progressiva Acumulador
21 ,573 -,197 Nova República Progressiva Acumulador
22 ,829 -1,282 Nova República Estática Acumulador
23 1,003 -2,266 Nova República Estática Leal
24 1,003 -2,266 Nova República Estática Leal

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Anexo 2: Modelo 2

Dimensão Formação
Número Ambição Trajetória Ocupação
Período Histórico Acadêmica
de caso 1 2 Política Eletiva profissional
Agregada
-1,148 ,401 Primeira República Progressiva Acumulador Formação Militar
1
militar
2 -,268 ,280 Primeira República Discreta Acumulador Ensino superior Professor
3 ,463 ,347 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Outros
4 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
5 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
6 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
7 ,349 ,982 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
8 ,349 ,982 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
9 ,388 1,036 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
10 ,354 ,999 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Advogado
11 ,388 1,036 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
12 ,416 ,061 Quarta República Regressiva Acumulador Ensino superior Professor
13 ,642 -,890 Quarta República Progressiva Leal Ensino superior Outros
14 ,679 -1,003 Quarta República Estática Acumulador Ensino superior Outros
15 ,039 -,047 Ditadura Militar Regressiva Leal Ensino superior Advogado
16 -,686 -,106 Ditadura Militar Discreta Acumulador Ensino superior Professor
-2,974 -,594 Ditadura Militar Discreta Desprovido Formação Militar
17
militar
-2,974 -,594 Ditadura Militar Discreta Desprovido Formação Militar
18
militar
19 -,155 ,144 Ditadura Militar Progressiva Acumulador Ensino superior Professor
20 ,480 ,251 Nova República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
21 ,555 -,438 Nova República Progressiva Acumulador Ensino superior Outros
22 ,534 -,974 Nova República Estática Acumulador Ensino superior Professor
23 ,986 -3,078 Nova República Estática Leal Sem E.S Outros
24 ,637 -1,634 Nova República Estática Leal Ensino superior Professor

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

Anexo 3: Identificação dos vice-presidentes conforme o id do caso

Número do caso Nome do caso

1 Floriano Peixoto
2 Manuel Vitorino
3 Francisco Rosa e Silva
4 Afonso Pena
5 Nilo Peçanha
6 Venceslau Brás
7 Urbano Santos
8 Delfim Moreira
9 Bueno de Paiva
10 Estácio Coimbra
11 Fernando de Melo Viana
12 Nereu Ramos
13 Café Filho
14 João Goulart
15 José Maria Alkmin
16 Pedro Aleixo
17 Augusto Rademaker
18 Adalberto Pereira dos Santos
19 Aureliano Chaves
20 José Sarney
21 Itamar Franco
22 Marco Maciel
23 José Alencar
24 Michel Temer

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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República

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