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Gabryela Gabriel
Universidade Federal do Paraná
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All content following this page was uploaded by Adriano Codato on 08 July 2021.
Nilton Sainz*
Adriano Codato*
Gabryela Gabriel*
*Universidade Federal do Paraná
1. Apresentação do estudo
Desde o esboço de Max Weber (1994) em 1918 sobre os tipos de carreirismo
político, são inúmeras as mudanças na compreensão da profissão política e dos
seus agentes (ALLEN et al., 2020; VERCESI, 2018). No século XX, houve
sucessivas conversões de paradigmas de referência, perspectivas teóricas e
modos de tratamento empírico do problema das elites políticas (BEST; HIGLEY,
2018). E também houve transformações significativas nos próprios perfis sociais,
étnicos e de gênero da classe política e nos “viveiros” de recrutamento para o
mundo político (DOGAN, 1999). São múltiplas as formas de ambição e de
carreirismo em função de diferentes contextos institucionais (tais como sistemas de
partido ou fórmulas eleitorais). Nesse contexto, sempre é preciso encontrar
expedientes metodológicos capazes de reenquadrar as formas da representação
política.
De modo muito genérico, há duas escolas na pesquisa sobre carreiras
políticas: uma orientada para os agentes políticos, outra orientada para os
contextos institucionais (VERCESI, 2018). No grupo das análises centradas nos
atores, há desde as abordagens resultantes da teoria da ambição política (BLACK,
1972; NICHOLLS, 1991; SCHLESINGER, 1966) até explicações que enfatizam
Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
2. Delineamento metodológico
A principal fonte de informações biográficas sobre os vice-presidentes da
República foram os verbetes do CPDOC-FGV (ABREU et al., 2001). Quando
necessário, contamos com informações complementares dos sites da Câmara dos
Deputados, Senado Federal e jornais diários disponíveis online. A prosopografia
dos indivíduos considerou dados sociopolíticos dos atores.
O universo de análise é formado por 24 vice-presidentes em quatro períodos
históricos da República, sendo Floriano Peixoto o primeiro escolhido para o cargo
(1889) e Michel Temer o último com mandato concluído (2018). A nossa
periodização é a seguinte: Primeira República (1891-1930); Quarta República
(1945-1964); Ditadura Militar (1964-1985); Nova República (1985 - Atualmente).
No Quadro 1 apresentamos as variáveis de teste que foram consideradas
para os modelos de ACM.
Das variáveis apresentadas no Quadro 1, a variável “Trajetória eletiva” e
“Ambição política” merecem descrições mais detalhadas.
A primeira classifica, baseado no número de cargos ocupados antes da vice-
presidência, aqueles que: i) não possuíam experiência em cargos eletivos
(chamados aqui de “Desprovido”); ii) possuíam experiência em um único posto
(chamados de “Leal”); iii) possuíam experiência em dois ou mais cargos eletivos
(Acumulador). A variável “ambição política” classifica as aspirações políticas dos
vice-presidentes de acordo com suas escolhas de carreira após deixarem o posto,
ou seja, para onde foram no seguimento da vida político-eleitoral.
1Alguns exemplos de uso nas ciências sociais brasileiras de ACM são (KLÜGER, 2017),
(BORDIGNON, 2017), (CODATO et al., 2019) e (GONÇALVES JÚNIOR et al., 2009). Para uma
explicação didática, ver (KLÜGER, 2018).
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
2Na categoria “Outros” foram agregadas as ocupações com baixa frequência no banco de dados,
sendo elas: Jornalista; Médico; Engenheiro; Policial; Estancieiro; e Empresário.
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
3. Resultados
Testamos dois modelos de análise. No Modelo 1, o objetivo foi analisar os
padrões de carreiras políticas dos vice-presidentes em diferentes períodos
históricos da República. Inserimos na equação três variáveis, sendo “Período
histórico” a nossa variável explicativa, e “Trajetória eletiva” e “Ambição política” as
variáveis de resposta.
Na Tabela 1, trouxemos os resultados do teste de associação qui-quadrado
entre as variáveis dependentes e independente.
Os resultados dos testes de associação indicam significância estatística
(p<0,05) entre o acúmulo de cargos na carreira e ambições políticas futuras em
diferentes períodos históricos.
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Dimensão Média
1 2
Período Histórico ,719 ,748 ,733
Tipo de Ambição Política ,810 ,645 ,728
Cargos acumulados ,732 ,557 ,644
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Frequências P-Valor V de
VD Categorias VI
Cramer
Desprovido 2
Trajetória Formação
Leal 4 ,000 ,65
eletiva acadêmica
Acumulador 18
Progressiva 10
Estática 4 Formação
Ambição ,071 ,49
Regressiva 6 acadêmica
política
Discreta 4
Desprovido 2
Trajetória Ocupação
Leal 4 ,019 ,65
eletiva profissional
Acumulador 18
Progressiva 10
Estática 4 Ocupação
Ambição ,172 ,47
Regressiva 6 profissional
política
Discreta 4
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Dimensão
Média
1 2
Período Histórico ,519 ,646 ,582
Ambição Política ,626 ,634 ,630
Trajetória Eletiva ,823 ,470 ,646
Formação Acadêmica Agregada ,817 ,434 ,626
Ocupação profissional ,840 ,529 ,684
Total ativo 3,625 2,714 3,169
% de variância 72,497 54,276 63,387
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
4. Análises e discussão
Iniciando com a análise do Modelo 1, foi possível observar um maior poder
discriminatório na estatística resultante da ACM. Em termos de mapa perceptual,
conseguimos a definição de três clusters com padrões de carreiras distintas,
ficando somente os vices da Quarta República com menor discriminação em termos
de carreira anterior e ambição política.
A estatística do Modelo 1 apresentou um Alfa de Cronbach de 0,78 e uma
variância de 70%. Além disso, os resultados do teste Qui-quadrado apresentaram
retornos positivos em termos de associação, o que podemos traduzir em melhores
condições para realização da ACM. Na dimensão 1 de análise, a variável “Ambição
Política” demonstrou maior carga fatorial, já na dimensão 2, “Período Histórico”
apresenta o resultado mais elevado.
Em comparação com o primeiro modelo, o Modelo 2, onde foram incluídas
ao processo de interação as variáveis societais, demonstrou um menor poder de
discriminação dos grupos, com exceção dos vices do período militar. No geral,
observamos a reprodução dos quadrantes do Modelo 1, porém com menor
capacidade de diferenciar as características dos vice-presidentes dos períodos
democráticos.
Apesar do teste de confiabilidade se mostrar superior (0,85), a média de
variância ficou em 63%, com valores inerciais reduzidos em relação ao primeiro
modelo. Além disso, o teste de associação não ser significativo em uma das
variáveis independentes também resulta em menor poder discriminatório para
ACM.
Esses resultados indicam uma menor capacidade explicativa com a inserção
das variáveis societais no Modelo 2. Diante disso, podemos citar duas possíveis
explicações para desfecho: i) o universo de vice-presidentes (1891-2018) é baixo e
possui números desiguais de casos em variáveis independentes; ii) com exceção
dos vices da ditadura, há uma homogeneidade estabelecida na elite analisada, com
um perfil social padrão e que não possui capacidade discriminatória quando
mobilizada em conjunto com variáveis institucionais.
Para demonstrar as diferenças entre os modelos 1 e 2, nos Gráficos 5 e 6,
apresentamos a disposição dos atores analisados em cada ACM
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Gráfico 5: Pontos dos objetos do Modelo 1 rotulados Gráfico 6: Pontos dos objetos do Modelo 2 rotulados
pelos casos analisados pelos casos analisados
5. Considerações finais
Retomando os objetivos da análise metodológica, contemplamos as
possibilidades de interação entre variáveis institucionais e societais em Análise de
Correspondência Múltipla. Exploramos as possibilidades dessa ferramenta nos
estudos de elites políticas e buscamos responder se variáveis sociais são capazes
de discriminar os padrões de carreiras dos vice-presidentes da República (1891-
2018) utilizando ACM.
3Para uma discriminação dos valores de cada caso nos Modelos 1 e 2, ver o Anexo 1 e o Anexo
2. No Anexo 3 há os nomes dos vice-presidentes e o número do caso correspondente.
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Anexo 1: Modelo 1
Dimensão
Número de caso Período Histórico Ambição Política Trajetória Eletiva
1 2
1 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
2 -,693 ,519 Primeira República Discreta Acumulador
3 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
4 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
5 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
6 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
7 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
8 ,305 ,896 Primeira República Progressiva Acumulador
9 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
10 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
11 ,240 ,966 Primeira República Regressiva Acumulador
12 ,428 ,277 Quarta República Regressiva Acumulador
13 ,666 -,778 Quarta República Progressiva Leal
14 ,749 -,878 Quarta República Estática Acumulador
15 -,371 -,696 Ditadura Militar Regressiva Leal
16 -1,478 -,159 Ditadura Militar Discreta Acumulador
17 -2,796 -,767 Ditadura Militar Discreta Desprovido
18 -2,796 -,767 Ditadura Militar Discreta Desprovido
19 -,480 ,218 Ditadura Militar Progressiva Acumulador
20 ,573 -,197 Nova República Progressiva Acumulador
21 ,573 -,197 Nova República Progressiva Acumulador
22 ,829 -1,282 Nova República Estática Acumulador
23 1,003 -2,266 Nova República Estática Leal
24 1,003 -2,266 Nova República Estática Leal
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
Anexo 2: Modelo 2
Dimensão Formação
Número Ambição Trajetória Ocupação
Período Histórico Acadêmica
de caso 1 2 Política Eletiva profissional
Agregada
-1,148 ,401 Primeira República Progressiva Acumulador Formação Militar
1
militar
2 -,268 ,280 Primeira República Discreta Acumulador Ensino superior Professor
3 ,463 ,347 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Outros
4 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
5 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
6 ,315 ,945 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Advogado
7 ,349 ,982 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
8 ,349 ,982 Primeira República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
9 ,388 1,036 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
10 ,354 ,999 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Advogado
11 ,388 1,036 Primeira República Regressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
12 ,416 ,061 Quarta República Regressiva Acumulador Ensino superior Professor
13 ,642 -,890 Quarta República Progressiva Leal Ensino superior Outros
14 ,679 -1,003 Quarta República Estática Acumulador Ensino superior Outros
15 ,039 -,047 Ditadura Militar Regressiva Leal Ensino superior Advogado
16 -,686 -,106 Ditadura Militar Discreta Acumulador Ensino superior Professor
-2,974 -,594 Ditadura Militar Discreta Desprovido Formação Militar
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militar
-2,974 -,594 Ditadura Militar Discreta Desprovido Formação Militar
18
militar
19 -,155 ,144 Ditadura Militar Progressiva Acumulador Ensino superior Professor
20 ,480 ,251 Nova República Progressiva Acumulador Ensino superior Membro do Judiciário
21 ,555 -,438 Nova República Progressiva Acumulador Ensino superior Outros
22 ,534 -,974 Nova República Estática Acumulador Ensino superior Professor
23 ,986 -3,078 Nova República Estática Leal Sem E.S Outros
24 ,637 -1,634 Nova República Estática Leal Ensino superior Professor
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Impasses metodológicos no estudo das carreiras dos vice-presidentes da República
1 Floriano Peixoto
2 Manuel Vitorino
3 Francisco Rosa e Silva
4 Afonso Pena
5 Nilo Peçanha
6 Venceslau Brás
7 Urbano Santos
8 Delfim Moreira
9 Bueno de Paiva
10 Estácio Coimbra
11 Fernando de Melo Viana
12 Nereu Ramos
13 Café Filho
14 João Goulart
15 José Maria Alkmin
16 Pedro Aleixo
17 Augusto Rademaker
18 Adalberto Pereira dos Santos
19 Aureliano Chaves
20 José Sarney
21 Itamar Franco
22 Marco Maciel
23 José Alencar
24 Michel Temer
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Referências bibliográficas
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