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Projeto de pesquisa:

Elite industrializante nos labirintos do poder:


Recrutamento ministerial, trajetórias e heranças políticas
(1930 – 1985)

Cássio Alan Abreu Albernaz

Porto Alegre, abril de 2009.


SUMÁRIO

1. RESUMO__________________________________________________________________03
2. TEMA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA_________________________04
3. OBJETIVOS GERAIS E ASPECTOS TEÓRICOS_______________________________07
4. JUSTIFICATIVA E REVISÃO DA LITERATURA______________________________14
5. OBJETIVO GERAL_________________________________________________________18
5.1. Objetivos Específicos____________________________________________________17

5.2. Problemática___________________________________________________________18
5.3. Hipótese provisória______________________________________________________18

6. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS_____________________________19

6.1. Situando as elites na perspectiva da história__________________________________19


6.2. Biografias e trajetórias___________________________________________________20
6.3. O aporte da análise prosopográfica_________________________________________23
6.4. Fontes de Pesquisa______________________________________________________25
7. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES______________________________________________26
8. BIBLIOGRAFIA_______________________________________________________________27

1. RESUMO
Este estudo parte do método prosopográfico para analisar a elite gaúcha tendo como objeto mais
específico os Ministros de Estado, entre os períodos da chamada “Era Vargas” até o Regime Militar.
Dessa forma, busca-se compreender essa elite política através das seguintes perguntas: Qual o perfil
dos ministros gaúchos? Sob que bases e redes sociais assentam o seu poder? Quais os recursos pessoais
e coletivos dessa classe política? Quais os percursos de suas trajetórias políticas? Como ingressam e

2
circulam no poder? Portanto, o foco é uma análise das elites ministeriais gaúchas incidindo sobre os
mecanismos que mantém uma “elite tradicional” no poder.
Para tanto, toma-se como variáveis as trajetórias políticas e sociais desses membros do alto
escalão do Executivo Federal, buscando constatar, preliminarmente: i) que houve uma mudança na
origem social dessas elites políticas, entretanto, isso não significa uma “ruptura intra-elites”, mas sim
processos de reconversão de capital político e social como exigência de determinados contextos
históricos; ii) nesse sentido, houve uma busca por maior profissionalização política; iii) as transições
políticas produziram efeitos diferenciados sobre o recrutamento dessas elites devido ao acirramento da
competição política e da busca de mecanismos para assegurar a permanência no poder; e iv) dessa
forma, a “herança política” constitui-se num fator importante para o recrutamento ministerial. Os dados
sugerem, preliminarmente, não somente a variação das características sócio-ocupacionais, mas
também, que os rearranjos institucionais advindos do gradualismo das transições políticas, ao alterar o
quadro de competição intra-elites alteraram os seus critérios de recrutamento acirrando a disputa pelo
poder. Ou seja, contextos históricos concretos incidem sobre essa disputa sem significar,
necessariamente, uma ruptura.
Portanto, a hipótese que se pretende testar é de que apesar da variação nos atributos dessa classe
política os ministros gaúchos representam uma “elite tradicional” ligada a “famílias tradicionais” e, em
alguns casos, as “velhas lideranças políticas”. Dessa forma, as mudanças institucionais experimentadas
e, por conseqüência, o acirramento do quadro de competição política, não significaram rupturas
marcantes com a “elite tradicional”, como aponta Frances Hagopian (1996). Entretanto, esse fato pouco
se relaciona a contextos “arcaicos”, “oligárquicos”, “conservadores” ou “tradicionais”, ou seja,
historicamente existe certa adaptabilidade das elites através de mecanismos de reconversão, assim,
sobrevivendo politicamente às mudanças de regime e/ou de ordem político-institucional.

Palavras-chave: história das elites; elite política gaúcha; recrutamento ministerial; prosopografia.

2. TEMA E DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA


Este projeto de pesquisa parte do pressuposto de que elites políticas importam. Se por um lado,
se aceita que o contexto histórico e institucional é importante para explicar os resultados de um
determinado sistema político, por outro, entende-se que é plausível supor que os atores que “manejam”
as instituições devem ser levados em consideração.1 Dessa forma, atores politicamente estratégicos

1 Não é o caso de desenvolvermos, nesta apresentação de projeto, a defesa desse pressuposto. Basta observar por ora que,
em geral, a literatura defende a importância explicativa das elites em três dimensões: a) em momentos de inflexão histórica,
quando seus membros são chamados a construir novas instituições políticas e sociais; b) em processos decisórios rotineiros,
em particular no que diz respeito à definição da agenda política; c) como a manifestação visível de mudanças estruturais
profundas na sociedade. Para o primeiro caso, ver HUNT (2007); para o segundo, BACHRACH e BARATZ (1969); para o
3
agem sobre as instituições e por elas são constrangidos.2 Partindo-se desse pressuposto, um estudo
sobre o processo de recrutamento das elites políticas pode contribuir para uma melhor compreensão do
funcionamento dos mecanismos de inputs e outputs de seus membros.

Mas o que seria um estudo sobre recrutamento? Em geral, no Brasil, as pesquisa que se
identificam como estudos de recrutamento são análises do perfil sócio-econômico e profissional dos
que “chegaram lá”, isto é, dos ocupantes dos postos mais importantes do sistema político brasileiro.
Estudos de “recrutamento político”, no entanto, precisam analisar outros mecanismos que configuram o
processo seletivo de uma elite política. Nesse sentido, não é suficiente apresentar um perfil dos
vitoriosos e, a partir de suas características produzir inferências sobre quais grupos sociais são
prejudicados ou privilegiados no longo caminho até as posições de elite. É necessário acompanhar
historicamente suas trajetórias políticas e sociais, suas biografias coletivas, buscando compreender
como chegaram e quem representam para tentar desvelar a complexidade das teias e de laços sociais
que compõem os grupos do poder.

Estudar elites políticas, como afirma Heinz, “seria um meio para determinar quais são os
espaços e os mecanismos de poder nos diferentes tipos de sociedade ou os princípios empregados para
o acesso às posições dominantes”.3 E ainda, “a opção pelas elites é, aqui, antes de tudo, uma solução
de escala, uma chave metodológica para perscrutar a complexidade do social, a partir do enfoque em
universos de análise ao mesmo tempo reduzidos e abundantes em informações sociais.”4 Assim,
estudar elites ministeriais através do gradualismo das transições políticas possibilita compreender a
complexidade das relações, das permanências, das rupturas e dos laços sociais da elite do poder,
parafraseando Wright Mills (1968).

Dada à importância dos ministérios, e de seus ministros, nas engrenagens do poder político é
essencial descobrir os fundamentos desse poder.5 É importante ressaltar, que o provimento de tais
cargos escapa a representação eleitoral, portanto, a lógica de recrutamento ministerial difere dos cargos

terceiro, PUTNAM (1976). No entanto, como lembra Offerlé, defender a idéia de que o background da elite é importante
para entender a política não implica necessariamente cair no “sociologismo” ou na “desautonomização da política”.
OFFERLÉ, Michel (org.). La profession politique (XIXe-XXe siècles). Paris: Éditions Belin, 1999. p. 34.
2 Como afirma Tsebellis, baseado na Teoria dos Jogos e da Escolha Racional, as democracias contêm situações nas quais os
jogos não são jogados de maneira isolada gerando envolvimento simultâneo em vários jogos de múltiplas arenas. Somente o
estudo de toda a rede de jogos em que os atores estão envolvidos revelará as motivações desses atores e explicará seus
comportamentos. TSEBELLIS, George. Jogos ocultos: Escolha racional no campo da política comparada. São Paulo:
EDUSP, 1998.
3 HEINZ, Flávio. Por outra história das elites. Rio de Janeiro: editora FGV, 2006. p. 08.
4 HEINZ, Op. Cit., p. 10.
5 Para citar alguns aspectos da importância ministerial, cabe ressaltar: o controle da alocação de recursos para a
implementação da agenda presidencial; formação de coalizões com objetivo de gerar maiorias no legislativo; execução de
metas programáticas; controle do aparato burocrático a disposição do Poder Executivo.
4
eletivos. Assim, o provimento de cargos ministeriais obedece a uma lógica diferente do que os estudos
de recrutamento de elites no Brasil apontam, quando baseados em cargos eletivos.6 Dessa forma,
indicações para cargos ministeriais podem atuar como redutos de uma “elite tradicional” independente
de aspectos de modernização da sociedade.7

A literatura, de uma forma geral, afirma uma renovação ampla – tanto em termos geracionais,
quanto sociais, econômicos e ideológicos das elites políticas brasileiras, quando se compara dois
períodos distintos da história nacional. Tal pressuposto está assentado em pesquisas generalizantes com
forte caráter sociológico que entende que a modernização capitalista (que equivale aqui à
industrialização mais urbanização aceleradas) fez com que a classe política do País passasse a ser
recrutada também em outros grupos sociais, tal como afirma Conniff (1989) sobre as elites nacionais.

Entretanto, tais estudos não levam em consideração que apesar de uma mudança naturalmente
significativa do background e da formação social dessas elites devido à modernização, elas, ainda
permanecem ligadas as “elites tradicionais”8, principalmente aquelas que escapam ao sistema eletivo,
como é o caso dos ministérios. Isso implica afirmar que, mesmo após processos de modernização,
resultando maior representatividade política, ainda permanecem lógicas de organização do poder
político estritamente concentrados, onde canais de representação são regulados hierarquicamente e
tradicionalmente, a partir de "heranças políticas”9, como se pressupõe ser o caso ministerial. Essa
relação, entretanto, pouco está relacionada com a noção clássica de “política tradicional”, tais como:
coronelismo, mandonismo ou clientelismo.10

6 Essa diferenciação também é ressaltada por LOUREIRO (1999). A autora propõe os seguintes critérios de análise para o
provimento de cargos ministeriais: o partidário, o federativo, o técnico, o pessoal, a partir de grupos de interesse e imagem.
De qualquer forma, esses critérios são insuficientes e um tanto arbitrários, não captando a possibilidade de sobreposição de
critérios para o provimento de cargos e nem a complexidade desses mecanismos.
7 O conceito de “elite tradicional” aqui empregado não se relaciona a “política tradicional”, e suas formas, tais como:
clientelismo, arcaísmo, personalismo ou oligarquia. As “elites tradicionais” vinculam-se a uma forma de exercer a
dominação largamente relacionada a “heranças políticas” e ao parentesco, embora membros não familiares, através de
conexões e amizades políticas, possam ingressar nessa elite. Assim, esses membros reconvertem capital político e social e
são assimilados pelo grupo. Cabe ressaltar, que isso não pressupõe que esses membros de elite compartilham da mesma
visão política, ideologia ou visão de mundo. Uma leitura divergente dessa aqui apresentada pode ser obtida em:
HAGOPIAN, Frances. Traditional politics and regime change in Brazil. Cambridge: Cambridge Press, 1996.
8 O termo “elite” se refere, de forma geral, e um tanto imprecisa, àqueles indivíduos pertencentes aos grupos melhores
situados na estrutura social como um todo. Este termo surgiu com as obras de MOSCA e PARETO sobre as características
elitistas da minoria que detinha o poder, foi radicalizado com a noção de classe dominante pelo Marxismo, e adquiriu corpo
com as proposições de MILLS (1968) sobre os grupos no poder.
9 Utiliza-se a expressão “heranças políticas” na dupla acepção adotada no conjunto de trabalhos apresentados por
PATRIAT (1992), isto é, como resultado de laços de parentesco resultantes de uma descendência ou de casamentos
(parentesco por consagüinidade ou por aliança) e por vínculos de parentesco político, ou seja, sistema de relações inseridas
em uma tradição política ou força política, como os partidos políticos. Dessa forma, a reprodução das elites assenta-se em
relações de parentesco, ou através de laços políticos. Portanto, a herança pode ser relacionada à consangüinidade ou a
fatores simbólicos.
5
Como afirma Hagopian, quando as tradicionais e modernas forças políticas se chocam, nenhum
lado permanece puro, assim, nesse embate, o sistema de representação política cria o dualismo de
interesses e essa interação provoca formas híbridas de poder e práticas que são normalmente pensadas
como “tradicional” tornando-se “modernizantes”.11

O estudo da biografia coletiva das elites ministeriais gaúchas, nesse contexto, possibilita
investigar a partir da relação entre poder regional e nacional como se processam historicamente as
rearticulações das elites políticas e como reconvertem seus capitais políticos e sociais para manutenção
de grupos no poder. Neste caso, são enfocados os vínculos concernentes à atividade política e de
representação de interesses. Simultaneamente, são apreendidos os usos do passado, os itinerários
individuais e coletivos e as dinâmicas de fixação de “tradições” familiares e partidárias no espaço
político gaúcho, a partir de agentes em atividade no cenário nacional: os Ministros de Estado.

Desta forma, biografar a elite ministerial gaúcha nos permite analisar quais os recursos
utilizados pelas elites tradicionais para garantir a manutenção do status quo e analisar empiricamente
aquilo que intuitivamente a literatura afirma. Assim, as transições ao dinamizar a competitividade
política estimulam mecanismos de self-reforcing intra-elites acionando heranças políticas, tradições
familiares e mecanismo de reconversão de capitais políticos e sociais.

Portanto, o foco é uma análise prosopográfica das elites ministeriais gaúchas incidindo sobre as
mudanças de regime da Era Vargas (1930-1945) até o Regime Militar (1964-1985) buscando analisar
historicamente quais são os mecanismos que mantém uma “elite tradicional” no poder. O universo de
análise são todos os gaúchos que obtiveram pastas ministeriais, nesse período, totalizando 12
indivíduos.

Para tanto, toma-se como variáveis dados biográficos que possibilitem a análise das trajetórias
políticas e sociais desses membros do alto escalão do Executivo Federal, buscando constatar,
preliminarmente: i) que houve uma mudança na origem social dessas elites políticas, entretanto, isso
não significa uma “ruptura intra-elites”, mas sim processos de reconversão de capitais políticos e
sociais como exigência de determinados contextos históricos; ii) nesse sentido, houve uma busca por
maior profissionalização política; iii) as transições políticas produziram efeitos diferenciados sobre o
recrutamento dessas elites devido ao acirramento da competição política e da busca de mecanismos

10 Tal forma de conceber a relação é tributária, por um lado, de estudos que pontuam a ligação da herança política com as
noções de coronelismo, mandonismo, patrimonialismo, feudalismo e clientelismo, cujo emprego é impreciso, como já
demonstrou José Murilo CARVALHO (1997) ou expressam juízos de valor e conferem um lugar secundário e destituído de
racionalidade própria, como sustentou Marcos BEZERRA (1998).
11 HAGOPIAN, Op.Cit., p. 17.
6
para assegurar a permanência no poder; e iv) dessa forma, a “herança política” constitui-se num fator
importante para o recrutamento ministerial. Os dados sugerem, preliminarmente, não somente a
variação das características sócio-ocupacionais, mas também, que os rearranjos institucionais advindos
do gradualismo das transições políticas, ao alterar o quadro de competição intra-elites incidem sobre os
seus critérios de recrutamento acirrando a disputa pelo poder. Ou seja, contextos históricos concretos
atuam sobre essa disputa sem significar, necessariamente, uma ruptura com a elite tradicional

3. OBJETIVOS GERAIS E ASPECTOS TEÓRICOS

As “heranças políticas” se expressam das mais variadas formas na competição política


constituindo-se indissociavelmente como instigantes processos sociais a serem analisados em si
mesmos e como instrumento de compreensão de dinâmicas históricas mais amplas.

Por este motivo, a proposta de tese aqui apresentada toma como objeto de estudo as lógicas, os
processos e os mecanismos de transmissão política que incidem sobre a seleção de lideranças políticas
no Rio Grande do Sul, tendo como foco o recrutamento ministerial. Portanto, estratégias e mecanismos
de entrada na política, de afirmação e de sucessão em grupos familiares, facções e redes, auxilia na
compreensão das bases de recrutamento e de seleção de “homens políticos”. Assim, essa pesquisa
busca a influência da “herança política” em quadros de competição e de sucessões controladas por
grupos familiares, por redes políticas e por partidos políticos, através de mecanismos de “aliança”,
“cooptação”, ou de fatores “simbólicos”.

Moacir Palmeira (1996), por sua vez, chama a atenção para o fato de que na literatura há uma
tendência, segundo ele, a identificar um caráter estático, de rigidez e de permanência em detrimento de
uma lógica processual de conflitos, alianças, rupturas e adesões, embora forneçam indícios a respeito
destas dinâmicas. Portanto, percrustando os processos de recrutamento de gaúchos para os ministérios a
partir das “heranças políticas” pode obter-se uma interpretação mais dinâmica desses processos
históricos.

Partindo de uma análise histórica, esta proposta de estudo pretende demonstrar que, se por um
lado, as elites políticas gaúchas foram capazes de permanecer ao longo de décadas na política nacional,
isso necessariamente não significa a permanência de uma “ordem em extinção” através das mudanças
de regime e de governos. Pelo contrário, alguns deles foram responsáveis pelas inovações
institucionais, utilizando-se de reconversões e adaptações aos novos condicionantes sociais12. Por

7
outro lado, revela que os segmentos sociais em ascensão se apropriaram do padrão de reprodução
política dito “tradicional” por meio da transmissão familiar, e, em que pese à diversificação social e
ideológica dos quadros políticos, o mecanismo de “herança política” não arrefeceu. Logo, o parentesco
na política não pode ser explicado simplesmente como resquício de uma “ordem tradicional estática”,
tampouco como sintoma de um “arcaísmo” a ser superado pela “modernização” social e pela
emergência às posições de poder político de novas ideologias ou “camadas sociais”. Porém, não se
deve cair no extremo oposto e desconsiderar a interferência das mudanças sociais e ideológicas sobre
os processos de transmissões políticas. O argumento sustentado nesta proposta de tese é que as
transformações nas estruturas políticas não diminuem a freqüência e a relevância destes laços, mas
produzem e refletem novas “qualidades”, atributos que são elaborados em consonância com os “novos”
contextos históricos.

Por outro lado, a bibliografia “local” descreve a política gaúcha ao longo do século XX como
marcada por uma “secular bipolarização” com ênfase nos modelos de organizações partidárias e nos
alinhamentos ideológicos afirmados em “ismos” (Castilhismo, Borgismo, Positivismo, Federalismo,
Liberalismo, Trabalhismo, etc.). No tocante ao conjunto de narrativas sobre a “peculiaridade da história
política gaúcha”, este é tratado como um fundo comum dotado de elementos objetivos e subjetivos e de
símbolos coletivos passíveis de reinvenções (composições, negociações e bricolagens) por parte dos
agentes políticos13. A dinâmica das lutas eleitorais, os vetores de lealdades e a existência de “tradições
políticas” que se expressam em “ismos”14, se constituem em parâmetros para o aprofundamento das
condições sociais de produção, aquisição e herança de códigos de condutas políticas. Afastando-se da

12 Algumas destas estratégias de adaptações e inovações podem, inclusive, ser detectadas na bibliografia que trata do
fenômeno do coronelismo, como PANG (1979), QUEIROZ (1976) e VILAÇA e ALBUQUERQUE (1978). Do mesmo
modo, análises mais finas das “estruturas de mando” destes “coronéis”, a articulação entre posições e as ramificações da
hierarquia piramidal e suas variações em tipos conforme extensão e abrangência dos laços (QUEROZ, 1976), ocupações e
funções (PANG, 1979), itinerários de negação ou inscrição nos “padrões modernos” (VILAÇA e AlLBUQUERQUE, 1978)
e períodos históricos ou “realidades regionais” (QUEIROZ, 1976; VILAÇA e ALBUQUERQUE, 1978 e PANG, 1979) são
indícios da maleabilidade do “fenômeno” e sua diversidade de composições sociais. Os autores descrevem também as
reações destes grupos à concorrência política e social que se estendem dos investimentos escolares nos herdeiros à
modernização dos empreendimentos econômicos, passando pela incorporação de práticas e linguagens distintas. Antes que
discutir a permanência (PANG,1979) ou o declínio dos coronéis (QUEIROZ, 1976 e VILAÇA e ALBUQUERQUE, 1978)
– o que inevitavelmente levaria à discussão conceitual como aquela empreendida por CARVALHO (1997) sobre as noções
de coronelismo, mandonismo, clientelismo, etc. – cabe indagar sobre os processos históricos apontados por esta
bibliografia. Isto é, se perguntar sobre as dinâmicas de interdependências e influências recíprocas entre segmentos antigos e
novos na cena política.
13 COLLOVALD, A. Jacques Chirac et le gaullisme. Biographie d´un Héretier à Histoires. Paris: Belin, 1999, p.11.
14 Este cenário pode ser confrontado com o caso paulista estudado por CANEDO (1999), no qual, segundo a autora, os
“ismos” (janismo, ademarismo, malufismo) foram incapazes de consolidar “tradições políticas”. Bem como pode ser
contrastado com o caso mineiro (1999, 1997, 1992), estudado pela mesma autora, no qual as tradições se constituem
predominantemente através de grupos familiares sem grande peso das referências partidárias.
8
discussão referente aos “fundamentos” da “especificidade regional”, observam-se os efeitos da
“crença” sobre fenômenos mais gerais de continuidades, sucessões, e de “heranças na política”.

De qualquer forma, a valorização e a exaltação de certa “disciplina partidária” ao lado da


observação de grupos familiares na política potencializam os propósitos de investigação, quais sejam,
pesquisar as diferentes modalidades de “heranças políticas” e como impactam no recrutamento
ministerial, relacioná-las e observar a intersecção entre elas. Com efeito, buscam-se os investimentos,
conscientes e inconscientes, produzidos pelos “homens políticos gaúchos” para tornarem-se
representantes do capital político de uma “família biológica” e/ou de uma “família política”. Estes
investimentos são examinados mediante a identificação do background social (com combinações,
ênfases e proporções variadas) à continuação da “elite tradicional”, e os esforços consagrados à
organização e à mobilização do agrupamento político (facções, redes e partidos), da lealdade nutrida a
alguma personalidade política e do cultivo de valores, condutas e símbolos políticos característicos de
uma “etiqueta política”. Outro aspecto salientado neste trabalho refere-se à viabilidade de revelar em
cenários distintos a ambivalência entre “continuidade” e “mudança”.
A pesquisa que se desenvolve quer evidenciar as múltiplas interconexões entre a ocorrência e
a reivindicação das “heranças”, os processos históricos, sociais, culturais e políticos mais amplos. O
potencial heurístico deste procedimento está na possibilidade de elucidação da criação e dos usos das
“heranças” quando se examinam competições e seleções de elites. Estas identidades genealógicas
constituem potentes recursos a serem acionados nos espaços de concorrência política. Em vista disso,
desvendando os seus mecanismos de produção, negociação e invenção, pode-se compreender uma
dimensão da luta intra-elites muitas vezes desconsiderada, onde o peso das “tradições políticas” entre
os critérios de seleção de lideranças, ou os processos de recomposição do passado torna-se um lugar de
memória.15
Entre os objetivos perseguidos na pesquisa está também testar as concepções que condicionam
a existência de “famílias de políticos” à permanência de estruturas sociais. E, em contrapartida,
examinar a persistência em cargos de comando político das mesmas, ao longo de gerações, sua
adaptação às transformações no espaço social e seus deslocamentos no espectro ideológico de acordo
com os condicionantes do espaço social e político-partidário.
A apreensão desta dinâmica será possibilitada pelo exame das estratégias de reprodução
social e das estratégias de reconversão de bases sociais. Serão abordadas as estratégias de sucessão,
bem como os investimentos escolares, econômicos e de acúmulo de capital social (BOURDIEU,
1989). Simultaneamente, serão verificadas as reconversões para o espaço político do volume e da
estrutura de capitais resultantes destas práticas. Isso permitirá caracterizar as bases sociais em jogo na
disputa política, os efeitos dos embates entre segmentos de extração social diferenciada e recursos
distintos, as interpenetrações e osmoses (enquanto padrões de condutas e alianças através da política) e
influências recíprocas que uns exercem sobre os outros (ELIAS, 2001; PHELIPPEAU, 1999, 2001,
2002).

15 HASTINGS, “Le mythe en heritage”. In : PATRIAT, C.; PARODI, J. (Orgs.) L´Hérédité en Politique. Paris:
Economica, 1992, p. 248.
9
O objetivo principal com isso é compreender os processos históricos de enfrentamento de
atores, “famílias” e facções das elites gaúchas, bem como as estratégias de legitimação das
“qualidades” e “atributos” possuídos, o que pode contribuir para o entendimento daquilo que Lacroix
(1985) denominou de construção social da política. Isto é, em que “a questão não é pensar as
realizações observáveis ex post a partir das categorias ou dos discursos que os definiram (...), é
preciso conceber estas realizações ex ante na maneira como elas se formam e da maneira como eles se
impõem, na exata medida em que elas adquirem (...) seus estatuto de realidade”.16 Na restituição
destes processos, deve-se executar a “pesquisa regressiva” como um momento prévio à “restituição
progressiva das relações de forças, dos sistemas de interesses ou das representações que visualizam as
relações (...) dos processos efetivos, porque ela é a reconstrução intelectual segundo a lógica do seu
encadeamento”.17
Este procedimento é aplicado à problemática da constituição das “ heranças políticas” e de
“tradições políticas”, mediante a dupla associação indicada por Offerlé (1999): a constituição de uma
esfera específica dotada de regras e papéis próprios, e a influência do background ou origens sociais na
carreira política. A política como “profissão” tem sido descrita segundo um conjunto de características
decorrentes de um secular processo de especialização e autonomização da esfera política.
Paralelamente, as condições sociais de acesso a esta profissão também são alvo de investigações sendo
necessário a combinação desses macro-fatores, utilizados em estudos de recrutamento de “elites”, com
micro-mecanismos18.

É possível, dessa forma, conceber as “heranças políticas”, aqui tratadas na sua diversidade,
como recurso de ingresso, como elemento presente na invenção histórica da política decorrente da
competição entre segmentos sociais distintos, como absorção de métodos novos e gestão de habilidades
herdadas e como definição e redefinição do métier, sob a categoria comum de “entradas na
política”.Quer dizer:

“(...) combinando predisposições socialmente e historicamente constituídas para


a realização política (...) e a idéia de constituição de uma atividade
especializada (...). Entradas na política no plural pois se trata de estudar tanto
trajetórias individuais quanto trajetórias coletivas (...). de perceber de que
maneira os novos ingressantes devem adaptar suas propriedades aos
condicionantes estruturais do métier e da profissão política tendencialmente
delimitados sem ser fechados ou codificados; de que maneira os ingressantes
criam e recriam pela sua concorrência (entre eles e seus predecessores) as
condições de possibilidade de sua realização política”.19

16 LACROIX, B. “Ordre politique et ordre social: Objetivisme, objetivation et analyse politique”. In: GRAWITZ, M. e
LECA, J. (Dir.). Traité de Science Politique. La Science Politique; L’Ordre Politique. v.1. Paris. PUF, 1985, p.515.
17 Idem.
18 O termo micro-mecanismos não visa indicar a amplitude do universo empírico, mas sim agregar as diferentes dimensões
de um mesmo objeto. OFFERLÉ, M. “Professions et Profession Politique”. La Profession politique. Paris: Belin, 1999,
p.24.
19 OFFERLÉ, M. “Entrées en Politique”. Politix, n.º 35, 1996, p. 03.

10
A temática se apresenta ainda mais profícua quando se coloca em pauta dinâmicas históricas
nas quais a referência ao universo familiar perpassa a estrutura das relações sociais e pelas quais se
evidencia o processo de importação e invenção do político (Badie e Hermet, 1992). Isso informa a
preeminência dos processos de adaptação, de reinterpretação e de inovação da linguagem de
dominação social endógena baseada na idéia de “família” (importada previamente) sob o
funcionamento desta estrutura política exógena que é o sistema representativo (importado
posteriormente).
Para a problemática específica desta investigação, o foco recai sobre a construção e a
transmissão de “heranças políticas” e de uma “tradição política”. Destarte, o olhar é direcionado para as
bases sociais que condicionam tais relações, os esforços por legitimar tais recursos e as concepções e
práticas relativas à dinâmica social e política do Rio Grande do Sul. Isso significa abordar as múltiplas
significações e atributos que estes laços podem expressar e os usos diversificados que possibilitam para
os agentes: inscrição na história, reconversão de capitais econômicos, culturais e políticos,
maximização de redes de relações sociais e filiação a facções, redes políticas e partidárias.
O exame de grupos familiares presentes na política gaúcha permite caracterizar a interface
entre a afirmação social de segmentos sociais e a transmissão do patrimônio político no interior de
redes de parentesco. Sendo assim, a variedade de momentos de ingresso na política destas “famílias”, a
diversidade de recursos e trunfos acionados e as estratégias agilizadas ao longo das gerações para
perpetuarem-se na arena decisória, tornam factível a compreensão das lógicas de sucessão quanto os
atributos valorizados e ativados em diferentes configurações históricas. A opção por considerar as
“heranças políticas” se ampara na possibilidade de captar tanto a multiplicidade de vias de ingresso no
espaço político quanto de legitimação da herança e das bases sociais que compõem o patrimônio
político.
As diretrizes centrais de trabalho sustentam que, a despeito das transformações dos padrões de
recrutamento e de valorização dos alinhamentos políticos e partidários, persistem a personificação do
capital simbólico e a administração do patrimônio político por cadeias de líderes-seguidores
hierarquicamente estruturada e sedimentada por laços de compromissos mútuos.
Por fim, quanto à utilização do uso de trajetórias cabe recorrer a Grynspan,

“O exame de trajetórias individuais nos permite avaliar estratégias e ações de


atores em diferentes situações e posições sociais, seus recursos, as formas como
os utilizam ou procuram maximizá-los, suas redes de relações, como se
estruturam, como as acionam, nelas se locomovem ou abandonam. Centrando
nossa atenção em atores estamos, ao mesmo tempo, refletindo sobre padrões e
mecanismos sociais mais amplos”.20

Desta forma, o tratamento das “heranças políticas”, tal como empreendido neste estudo,
recobre as três espécies de capital político caracterizados por Pierre Bourdieu (1989), a saber: o capital
pessoal de notoriedade, o capital delegado e o capital pessoal heróico. São estes “as fontes de
mobilização que [o herdeiro] detém quer a título pessoal, quer por delegação”21 e, portanto,

20 GRYNSPAN, M. “Os Idiomas da Patronagem: Um Estudo da trajetória de Tenório Cavalcanti” . Revista Brasileira de
Ciências Sociais, n.14, outubro de 1990, p. 74-75.
21 BOURDIEU, P. “A representação política. Elementos para uma teoria do campo político”. BOURDIEU, P. O Poder
simbólico, Lisboa, Difel, 1989, p. 190.
11
condizentes, respectivamente, com as formas de delegação do capital político acumulado pela
“família”, pelo partido ou pelo líder carismático. No entanto, é preciso que o herdeiro seja conhecido e
reconhecido, e que possua reputação e qualidades comprovadas para encarná-lo e reproduzi-lo. Assim,
a eficácia simbólica da delegação localiza-se na força da instituição, pois pela investidura é capaz de
“transformar a pessoa consagrada”22, modificando as representações das demais pessoas sobre ela, as
suas próprias representações sobre si mesma e as obrigações inculcadas.

Por conseguinte, o capital de notoriedade adquire importância fundamental pois remete aos
recursos pessoais que possibilitam que o “homem político” seja “reconhecido pelos demais cidadãos,
diplomado, economicamente poderoso, dispondo de relações numerosas entre seus pares, seus
companheiros, as autoridades administrativas e política e às clientelas diversas”23. E este conjunto de
elementos é sobrevalorizado quando percebido como algo inerente à “família” e passível de
transmissão. Sendo assim, os movimentos que tornam possíveis as transmissões são anteriores à luta
política e envolvem muitas outras lógicas.

Acrescenta-se a isso, o fato de que nas condições históricas de disputa política em pauta, as
estratégias individuais e coletivas “estão voltadas para a acumulação do capital simbólico
personificado, como condição de garantia das demais formas de capital”24. Quer dizer, há uma
concentração da notoriedade, advinda da posse de recursos raros e personificados que, por sua vez,
pode estar associada às redes de relações, de contatos e de inter-reconhecimentos, ou em outros termos,
ao capital de relações sociais manipulados por um agente, mas administrado e acumulado por uma
“família”.

O capital social ou capital de relações sociais, de acordo com Bourdieu, consiste no:

“(...) conjunto dos recursos atuais ou potenciais que estão ligados à posse de
uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de inter-
reconhecimento; ou , em outros termos, ao pertencimento a um grupo, como
conjunto de agentes que não são somente dotados de propriedades comuns
(suscetíveis de serem percebidas pelo observador, pelos outros ou por ele
mesmo) mas estão unidos por ligações permanentes e úteis”.25

A possibilidade de ocupar posições de poder político está condicionada à capacidade no duplo


sentido de posse de recursos (nome de “família”, posições ocupadas da tramas políticas, vínculos

22 BOURDIEU, P. “O Espírito de Família”. BOURDIEU, P. Razões Práticas. Campinas: Papirus, 1996, p. 99.
23 GAXIE, D. La Démocratie Représentative. Paris: Montchrestien, 1993, p. 79.
24 CORADINI, O. “‘Grandes Famílias’ e ‘Elite Profissional’ na Medicina do Brasil”. Cadernos de Ciência Política, n.º 2,
1995.
25 BOURDIEU, P. “Le Capital Social”. Actes de la Recherche en Sciences sociales, (2,3), juin, 1980, p. 02.
12
pessoais) e de disposições para saber utilizá-los e fazer frutificá-los na competição política (Abélès
1989). Desta forma, aquilo que aparenta ser uma propriedade individual e natural é uma posição na
história de conflitos e identificações de grupos.

4. JUSTIFICATIVA E REVISÃO DA LITERATURA


Estudar o recrutamento ministerial não é algo novo nem original, principalmente na literatura
internacional, onde muitos trabalhos se debruçaram sobre tal temática.26 Entretanto, o foco de tais
análises recai sobre a conformação da engenharia de sistemas políticos e dos seus mecanismos de
checks-and-balances onde os gabinetes ministeriais “são os maiores atores na arena do poder
ocupando um locus central de comando.”27 Tais trabalhos, utilizam numerosos dados de backgrounds
sociais e análises estatísticas sofisticadas para inferir qual o perfil político-social e os padrões de
carreira política daqueles que compõem os gabinetes ministeriais.

Para o caso brasileiro, no entanto, poucos trabalhos tem como foco de análise o recrutamento
ministerial. O mais importante, é o clássico estudo de José Murilo de Carvalho “A Construção da
Ordem” (1980), que foi pioneira no estudo da formação das elites num contexto historicamente situado
- o período imperial brasileiro - afastando-se da história das idéias ou do pensamento e dedicando-se a
problemática da formação escolar e dos padrões de carreira política. Entretanto, o autor aborda em seu
estudo essas elites pelo seu caráter homogêneo em termos de treinamento e formação escolar.

Segundo o autor, a elite brasileira no período representava uma ilha de letrados num mar de
analfabetos. Esse treinamento homogêneo, especialmente a formação jurídica, era dado pela
Universidade de Coimbra, e posteriormente em algumas capitais provinciais. Esses centros de saber
muniram a elite de uma ideologia homogênea. Desse modo, a formação da geração de Coimbra
predominou durante a fase de consolidação política do sistema imperial e a partir daí foi substituída
pela geração brasileira. Esta estabilidade do sistema político brasileiro também se refere à construção
de várias carreiras políticas e a acumulação de vasta experiência de governo.

26 Entre alguns trabalhos pode-se destacar: ALMEIDA, Pedro Tavares ; PINTO, António Costa. Portuguese Ministers
(1851-1999): social background and paths to Power. Center of European Studies Working paper N. 100. LINZ, Juan.
Ministers and Regimes in Spain : From the first to the Second Restoration (1874-2002). Center of European Studies
Working Paper N.92. ; COTTA, Maurizio. Ministers in Italy: Notables, party men, technocrats and media men. In: Who
governs southern Europe? Regime change and ministerial recruitment (1850-2000). Londres: Frank Cass, 2003. ;
SOTIROPOULOS, Dimitri. Ministerial Elites in Greece (1843-2001): a synthesis of old sourcers and new data. Pole Sud,
2003, vol.18, n. 1. ; BERMEO, Nancy. Ministerial elites in southern Europe: continuities, changes and comparisons. In:
Who governs southern Europe? Regime change and ministerial recruitment (1850-2000). Londres: Frank Cass, 2003
BLONDEL, Jean ; THIEBAULT, J. L. The profession of government minister in western Europe. Nova Iorque, 1991.
SAWICKI, Frederic. Les members des cabinets ministériels socialistes en france. (1981-1993). Revue française de sciences
politique, 1999, vol. 49, n. 01.
27 ALMEIDA, Pedro Tavares ; PINTO, António Costa; BERMEO, Nancy. Who governs southern Europe? Regime change
and ministerial recruitment (1850-2000). Londres: Frank Cass, 2003, p. 01.
13
Carvalho ressalta que ocorria uma circulação de administradores por vários postos e regiões o
que garantia a estabilidade e evitava uma intimidade dos políticos com os problemas locais, o que
poderia gerar rebeliões. Ou seja, essa circulação tinha papel estratégico e teve um efeito unificador
poderoso. Portanto, ao centrar sua análise nas características sociais e políticas comuns dessa elite dá
uma importante contribuição ao afastar-se de uma análise centrada nas idéias difundidas por esses
grupos de forma descontextualizada no período em questão.

Trabalho significativo sobre os gabinetes ministeriais é o de Octavio Amorim Neto intitulado


“Gabinetes presidenciais, ciclos eleitorais e disciplina legislativa no Brasil (2000)”. Entretanto, tal
trabalho mais marcado no campo da Ciência Política analisa apenas a composição partidária do
Gabinete Presidencial (altos escalões do Executivo) e suas implicações para a agenda presidencial para
mensurar a governabilidade através das taxas de coalescência dos gabinetes.28

Para o autor, a principal intenção de um presidente é perseguir seus objetivos programáticos


via projetos de lei, isso requererá que tais projetos sigam seu curso normal em termos do processo
legislativo, o que gera a necessidade de compor bases de apoio majoritárias com a composição de
coalizões de governo. Assim, para o autor quanto mais coalescente um gabinete presidencial menor são
os obstáculos legislativos enfrentados pelo presidente para a aprovação de sua agenda de governo.

Para Amorim, pouco – ou nada – importa quem são os indivíduos que compõem os
ministérios, a capacidade de alocação de recursos de determinadas pastas e os critérios de provimento
de cargos. Essa proposta de tese que por ora apresentamos discorda frontalmente dessa análise por
demasiado formal que não leva em consideração a composição das elites, as articulações entre elites
regionais e nacionais, a representatividade dessas elites.

Outros trabalhos significativos que tratam da questão ministerial são os trabalhos de Raquel
Meneghello, Partidos e Governos no Brasil Contemporâneo (1998), e Maria Celina D’Áraújo,
Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder (2007), ambos tratam da recente
composição ministerial e suas relações com a questão partidária e a identificação de backgrounds
sociais. Assim, como o trabalho de Amorim Neto, esses trabalhos vinculam-se mais a Ciência Política e
a Sociologia Política. Sobre recrutamento de elites há uma extensa produção bibliográfica tanto

28 Segundo o autor, o grau de coalescência deve ser entendido com uma variável continua que se refere ao nível de
distribuição proporcional dos ministérios entre os partidos representados no gabinete em função do peso parlamentar desses
partidos. E tanto essa variável quanto as demais são de ampla importância para a manutenção das coalizões. Assim, o autor

cria a fórmula como índice para coalescência onde Mi = % de ministérios recebidos


pelo partido i quando o Gabinete foi nomeado; e Si = % de cadeiras ocupadas pelo partido i dentro do total de cadeiras
controladas pelos partidos que integram o Gabinete quando este foi nomeado.
14
internacional como nacional. A diferença de ambas, de uma forma mais geral, é que a produção
européia está baseada em longas periodizações e a produção nacional em periodizações mais
recentes.29

Para o caso mais específico da proposta deste projeto, ou seja, estudos das elites gaúchas dentro
de uma perspectiva histórica, se destacam os trabalhos seminais de Carlos Cortés30 e de Joseph
Love31, que de uma forma generalizante analisam as elites gaúchas e suas articulações com a política
nacional. Trabalhos de maior fôlego e mais específicos podemos destacar os trabalhos de Sandra
Amaral32 e Luciano Aronne Abreu33, que tratam das relações entre elites e órgãos específicos. Amaral
tem por foco a análise das elites ligadas ao Conselho de Administração do Estado (CAE) e Luciano
Abreu analisa as interventorias a partir do Departamento Administrativo do Estado (DAE).

Esta proposta de tese então se justifica, primeiramente, pela originalidade devido à escassez de
estudos sobre recrutamento ministerial no Brasil, de uma forma geral, e mais especificamente, quando
se trata de um recorte regional como proposto nesse projeto. A relevância desse trabalho também pode
ser verificada pela proposta de biografar coletivamente essa elite recortada escapando de uma análise
meramente sociológica do perfil sócio-econômico dessa elite.

Nesta proposta de tese, o estudo do recrutamento de gaúchos para os ministérios através das
transições possibilita uma dinâmica de análise histórica, escapando a rigidez analítica da literatura,
através de importantes instrumentos teóricos e metodológicos. Assim, as noções-chave de “herança
política”, “reconversão de capitais políticos e sociais”; “trajetórias políticas e sociais”, conjuntamente
com o método prosopográfico, apresentam-se como poderosos instrumentos analíticos, como

29 Como exemplos de trabalhos internacionais: HANLEY, Eric ; TREIMAN, Donald. Recruitment into the Eastern Europe
Comunist Elite: dual career paths. California Center for population Research, Working Papers, 2003; PUTNAM, Robert.
The comparative study of political elites. NJ: Englewood Cliffs, 1976 ; CZUDNOWSKY, M. Does Who Governs Matter?
Elite Circulation in Contemporary Societies. DeKalb: Northen Illinois University Press, 1982. ; FERNÁNDEZ, Julio, The
Political Elite in Argentina. New York, New York University Press,1970 ; STANWORTH, Philip ; GIDDENS, Anthony
(eds.), Elites and Power in British Society. Cambridge: Cambridge University Press, 1974. ; GUTTSMAN, Willian L, The
British Political Elite. London, MacGibbon & Kee, 1965. ; HOPKIN, Jonathan. “Bringing The Members Back In?
Democratizing Candidate Selection in Britain and Spain”. Party Politics, vol. 7, nº 3, 2001, pp. 343-361.; NORRIS, Pippa
(ed.). Passages to Power: Legislative Recruitment in advanced democracies. Cambridge, Cambridge University Press,
1997.Como exemplos de trabalhos nacionais: BRAGA, Sérgio. Quem foi quem na Assembléia Constituinte de 1946: um
perfil socioeconômico e regional da Constituinte de 1946. Brasília, Centro de Documentação e Informação da Câmara dos
Deputados, 1998. ; CORADINI, Odaci Luiz. Em nome de quem? Recursos sociais no recrutamento da elite política. Rio de
Janeiro, Relume Dumará, 2001. ; KINZO, Maria D'Alva. “Bases sociais do recrutamento político no sistema partidário
brasileiro”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol.17, no. 50, 2002. pp.161-162.
30 CORTÉS, Carlos E. Gaucho politics in Brazil: the politics of Rio Grande do Sul, 1930-1964. Albuquerque: University of
New Mexico Press, 1974.
31 LOVE, Joseph. Regionalismo gaúcho. São Paulo: Perspectiva, 1975.
32 AMARAL, Sandra. O teatro do Poder. As Elites políticas do Rio grande do Sul na vigência do Estado Novo. Porto
Alegre: PUCRS, 2005 (tese de doutorado).
33 ABREU, Luciano Aronne. O Rio Grande do Sul estadonovista: interventores e interventorias. São
Leopoldo:UNISINOS, 2006 (tese de doutorado).
15
demonstrado anteriormente, e que podem ajudar a desvelar aspectos relevantes da história das elites
gaúchas colaborando com nossa historiografia. Desta forma, biografar a elite ministerial gaúcha nos
permite analisar quais os recursos utilizados pelas elites tradicionais para garantir a manutenção do
status quo e analisar empiricamente aquilo que intuitivamente a literatura afirma.

5. OBJETIVO GERAL

O objetivo mais geral desse trabalho é analisar a construção histórica da transmissão de

“heranças políticas” da elite gaúcha entre a “Era Vargas” (1930-1945) até o Regime Militar (1964-

1985) como um fator relevante para o recrutamento ministerial. O estudo da biografia coletiva das

elites ministeriais gaúchas, possibilita investigar a partir da relação entre poder regional e nacional

como se processam historicamente as rearticulações das elites políticas e como reconvertem seus

capitais políticos e sociais para manutenção de grupos no poder. Simultaneamente, são apreendidos os

usos do passado, os itinerários individuais e coletivos e as dinâmicas de fixação de “tradições”

familiares e partidárias no espaço político gaúcho, a partir de agentes em atividade no cenário nacional:

os Ministros de Estado.

5.1. Objetivos Específicos

a) Analisar o perfil sócio-econômico e educacional dos ministros gaúchos para

compreender quais são os recursos sociais e coletivos dessa classe política;

b) Analisar as bases e redes sociais que os ministros gaúchos constroem o seu poder;

c) Analisar as trajetórias políticas e sociais dos ministros gaúchos;

d) Analisar o recrutamento ministerial frente às transições políticas para compreender as

estratégias de reconversão de capitais políticos e sociais dessa elite.

e) Analisar a construção e a transmissão de “heranças políticas” e de uma “tradição

política” através do recrutamento de gaúchos para os ministérios;

16
5.2. Problemática

A pergunta que esta pesquisa objetiva responder é a seguinte: Como se dá a construção histórica da
transmissão de “heranças políticas” da elite gaúcha entre a “Era Vargas” (1930-1945) até o Regime
Militar (1964-1985) como um fator relevante para o recrutamento ministerial?

5.3. Hipótese provisória

A hipótese principal que esse trabalho pretende analisar é de que apesar da variação do
background social os ministros gaúchos representam uma “elite tradicional” ligada a “famílias
tradicionais” e, em alguns casos, as “velhas lideranças políticas”. Dessa forma, as mudanças
institucionais experimentadas e, por conseqüência, o acirramento do quadro de competição política,
não significaram rupturas marcantes com a “elite tradicional”. Entretanto, esse fato pouco se relaciona
a contextos “arcaicos”, “oligárquicos”, “conservadores” ou “tradicionais”, ou seja, historicamente
existe certa adaptabilidade das elites através de mecanismos de reconversão de capitais políticos e
sociais através de “heranças políticas”, assim, sobrevivendo politicamente às mudanças de regime e/ou
de ordem político-institucional.

Assim, transições ao dinamizar a competitividade política estimulam mecanismos de self-


reforcing intra-elites acionando heranças políticas, tradições familiares e mecanismo de reconversão de
capitais políticos e sociais. O argumento sustentado nesta proposta de tese é que as transformações nas
estruturas políticas não diminuem a freqüência e a relevância destes laços, mas produzem e refletem
novas “qualidades”, atributos que são elaborados em consonância com os “novos” contextos históricos.

6. CONSIDERAÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

6.1. Situando as elites na perspectiva da história

Essa proposta de trabalho centra-se na relação entre análise histórica, base sociológica e elites
situadas historicamente. Esta escolha justifica-se por dois motivos: primeiro, porque, nas últimas
décadas a imbricação entre a pesquisa histórica e os estudos sociológicos sobre elites é um tema
dominante nas Ciências Sociais, especialmente na França, e segundo, que a análise teórico-

17
metodológica pode ser profícua, especialmente para analisar elites em contextos periféricos, como o
caso do Brasil.

Argumenta-se, desse modo, que uma elite social, intelectual e/ou política não é algo dado, é,
antes de mais nada, um fenômeno social e histórico a ser explorado, e, enquanto tal, deve ser
apreendido, tanto pela suas bases e atributos sociais, quanto pelas suas práticas sociais, tomadas de
posição, em dados contextos históricos. Portanto, esta é a perspectiva adotada nesse trabalho com
objetivo de demonstrar as possibilidades da análise histórica aliada à pesquisa sociológica daqueles
grupos identificados como elites.

Nas últimas décadas os estudos sobre elites deram constantes contribuições à disciplina
Histórica, por um lado por influência dos trabalhos de Pierre Bourdieu e do grupo da revista Actes de
recherche en sciences sociales, e por outro pelas explicações diacrônicas dos processos de
mobilizações sociais contidas nas obras de Charles Tilly (1978, 1993) e Sidney Tarrow (1994).

Ambas as perspectivas têm em comum a percepção do objeto como produto histórico, embora
com objetivos distintos. Enquanto os trabalhos de Bourdieu e seu grupo demonstraram a resistência
histórica de certas estruturas sociais como longos processos de dominação, Charles Tilly e Sidney
Tarrow preocuparam-se com as possibilidades de mobilização social em períodos de crises.

Desde os trabalhos históricos de Jean- François Sirinelli34 e das questões levantadas pela
Sociologia da Cultura “a história política passou por um verdadeiro renascimento, no qual há um
interesse renovado não apenas pelas elites políticas, mas também pelas elites intelectuais.”35

Flávio Heinz, em trabalho seminal sobre História das Elites36 na historiografia brasileira,
afirma que a “apropriação da noção de elites pelos historiadores permitiria assim dar conta, através
de uma microanálise dos grupos sociais, da diversidade, das relações e das trajetórias do mundo
social”. E ainda, “ trata-se de compreender, através da análise mais ‘fina’ dos atores situados no topo
da hierarquia social, a complexidade de suas relações e de seus laços objetivos com o conjunto de
setores da sociedade.”37

34 SIRINELLI, Jean-François. Intellectuels et passions françaises. Paris, Fayard, 1990; RIOUX, Jean-Pierre, SIRINELLI,
Jean-François. Histoire Culturelle de la France- Le temps des masses, Le XXe Siècle, tome 4, Paris, Seuil, «Points», 2005;
SIRINELLI, Jean-François. Générations e histoire politique. Vingtiéme Siecle. Revue d’Histoire, n.22, abril- junho, 1989.
35 ALTAMIRO, C. 2007. Idéias para um programa de História intelectual. Dossiê História Social dos Intelectuais Latino-
Americanos. Tempo Social, junho, vol. 19, n.1, p.9-17, p. 02.
36 HEINZ, Flávio. Por outra história das elites. Rio de Janeiro: editora FGV, 2006.
37 Op. Cit., p. 08.
18
Segundo o autor,
“ o historiador das elites empreende o estudo de processos históricos nos quais
elas se inserem à luz de suas características sociais mais ou menos constantes.
Trata-se de conhecer as propriedades sociais mais requisitadas em cada grupo,
sua valorização e desvalorização através do tempo; conhecer a composição dos
capitais ou atributos cultural, econômico ou social, e sua inscrição nas
trajetórias dos indivíduos; enfim, conhecer os modelos e/ou estratégias
empregados pelos diferentes membros de uma elite para alicerçar uma carreira
exitosa e socialemnte ascendente ou, em outros casos, evitar - mediante
mecanismos de reconversão social – um declínio ou uma reclassificação social
muito abrupta. Com as biografias coletivas, os historiadores fazem sociologia
no passado.”38

Portanto, ao biografar as elites ministeriais busca-se uma observação histórica privilegiada de


grupos sociais, de suas dinâmicas internas e de seus relacionamentos com o poder.

6.2. Biografias e trajetórias

A utilização de certas pesquisas históricas aliadas ao tratamento sociológico de dados renovou


a área temática de elites sociais e culturais, tanto nas Ciências Sociais, quanto na História. Isto se
refere, mais diretamente, aos estudos sobre biografias e trajetórias sociais ligados a teoria dos campos
de Pierre Bourdieu.

Mesmo que a busca por homologias entre os atributos de certa elite analisada diacronicamente
num espaço social específico revele a persistência histórica de estruturas de dominação isto não
contradiz àqueles esquemas teóricos os quais indicam que até uma elite heterogênea em suas origens
sociais pode agir intelectualmente e politicamente de forma homogênea, especialmente em contexto
singulares, como nas mobilizações sociais nos contextos de crises estruturais.

Porém, ambas as perspectivas tendem a evitar uma análise balística, entre origem, posição e
prática social e política, embora, nem sempre, uma vez que se tratando de elites há uma predisposição a
análises determinísticas39. De todo modo, tanto na História, quanto nas Ciências Sociais, cada vez
mais, diante do fato que os grandes construtos não explicam a totalidade do mundo social, dada sua

38 Ibid., p. 09.
39 Sobre o perigo das inferências balísticas nesse tipo de abordagem, ver: CONINCK, Frédéric de; GODARD, Francis.
L’approche biographique à l’épreuve de l’interprétátion. Les formes temporalles de la causalité. Revue française de
Sociologie. XXXI, 1989, 25-53.
19
fragmentação, as análises têm privilegiado o individuo, ou o agente, do que as grandes estruturas
sociais.

Uma das formas para tanto é a abordagem das biografias. Uma biografia não se refere à
história de vida, como o sentido comum entende, porque não existe uma seqüência lógica de
acontecimentos na vida de uma pessoa, ou seja, as vidas não possuem um sentido teológico
(BOURDIEU, 1996a; PASSERON, 1999). A biografia fornece os dados objetivados de dado indivíduo.
Como cada indivíduo traz consigo incorporadas uma série de disposições socialmente construídas que
os posicionam no mundo social, é possível, a partir dos dados biográficos, localizar trajetos comuns
que compartilham esses mesmos princípios geradores, ou seja, um habitus comum daqueles situados no
mesmo grupo social (BOURDIEU, 1996b). Conforme Bourdieu, a biografia construída não é o último
momento da análise científica uma vez que:

“A trajetória que ela visa reconstituir define-se como uma série de posições
sucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou por mesmo um grupo de
agentes em espaços sucessivos (...). É com relação aos estados correspondentes
da estrutura do campo que se determinam em cada momento o sentido e o valor
social dos acontecimentos biográficos, entendidos como colocações e
deslocamentos nesse espaço ou, mais precisamente, nos estados sucessivos da
estrutura da distribuição das diferentes espécies de capital que estão em jogo no
campo, capital econômico e capital simbólico como capital específico de
consagração.”40

Desse modo, quando Bourdieu e seu grupo falavam em trajetória, estão referindo-se a
objetivação do habitus. São as trajetórias que revelam uma série de traços pertinentes de uma biografia
individual ou de um grupo de biografias (MONTAGNER, 2007). De forma diacrônica as trajetórias
revelam a série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou por um grupo de
agentes no espaço social, assim como as mudanças engendradas na estrutura do campo o qual esses
agentes localizam-se e como se distribuem as diferentes espécies de capitais em jogo e os usos que os
agentes fazem deles.

Esse tipo de recurso teórico-metodológico permite, em relação aos estudos históricos sobre
elites sociais e políticas, além da reconstrução das trajetórias, revelar a persistência de estruturas sociais
em dado período, ou dar indícios de mudança social. Nesse sentido,

40 BOURDIEU, P. A ilusão biográfica. In: Razões práticas: Sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1996b, p. 292.

20
“O peso das disposições – portanto, a força explicativa da origem social - é
particularmente grande quando se trata de uma posição em estado nascente,
ainda antes por fazer do que ser feita, estabelecida, logo, capaz de impor suas
normas próprias aos seus ocupantes;e, de maneira geral mais geral, que a
liberdade deixada ás disposições varia segundo o estado do campo (e, em
particular da sua autonomia), segundo a posição ocupada no campo e segundo
o grau de institucionalização do posto correspondente” 41

Portanto, esse tipo de análise é muito útil em períodos históricos situados que revelem que
tipos de recursos eram indispensáveis para constituir-se a elite social e/ ou política do período. Dessa
forma, isto está relacionado com o processo de autonomização às outras esferas sociais em curso no
campo que o agente está inserido. Embora LAHIRE (2002) critique o modelo de unicidade do ator de
Pierre Bourdieu porque os hábitos ou esquemas de ação que cada ator pode ter interiorizado dependem
da coerência dos princípios de socialização aos quais esteve sujeito, para o estudo de elites esse
modelo, desde que localizado historicamente, ainda é válido, porque a crítica de Bernard Lahire em
questão refere-se àqueles que não se enquadram na teoria dos campos de Pierre Bourdieu a qual:

“1) Ignora as incessantes passagens operadas pelos agentes que pertencem a


um campo entre o campo dentro do qual são produtores, os campos nas quais
são simples consumidores/ espectadores e as múltiplas situações que não são
referíveis a um campo, reduzindo o ator a seu ser- como- membro de um-
campo; 2) Negligência a situação daqueles que se definem socialmente (e se
constituem mentalmente) fora de toda atividade num campo determinado (é o
caso ainda das numerosas donas-de-casa sem atividade profissional ou pública)
e 3) Considera os fora de campo, os sem grau, a partir dos padrões de medida
que são padrões sociais de medida de poder (diploma, renda, etc), definindo seu
habitus pela falta de posses, por sua miséria e pela sua situação de dominados.
Por todos esses motivos a teoria dos campos não pode, certamente, ser uma
teoria geral e universal, mas representa uma teoria regional do mundo
social.”42

Assim, mesmo que essa teoria não possa ser tida como universal muitos dos seus pressupostos
abrangem as problemáticas direcionadas aos estudos das elites sociais e políticas. Sendo assim, a partir
da prosopografia, como veremos mais adiante, é possível descobrir as homogeneidades nos grupos de
elites que justifiquem as tomadas de posição semelhantes que irão refletir-se nas suas produções
intelectuais, além de tipificar aqueles casos mais representativos, dentre as evidências empíricas, para
fins da análise sociológica, ou política, assim como descobrir aqueles casos que não se enquadram, em
termos de recursos, disposições, etc, no grupo analisado (MICELI, 2001).

41 O.p. Cit., p. 300.


42 LAHIRE, B. . Homem Plural. Os determinantes da ação. Petrópolis, RJ:Vozes, 200, p.35.
21
6.3 O aporte da análise prosopográfica

Trabalhos sobre elites utilizando-se da análise prosopográfica emergiram, sobretudo, a partir


dos anos 1970. A partir desse período Christophe Charle (2006a) identificou três enfoques
predominantes. O primeiro esteve preocupado em determinar a composição dos parlamentos, das elites
administrativas e das elites locais em períodos históricos determinados. Os outros dois, a partir do
recorte da reprodução social, analisaram os corpos administrativos ou as grandes escolas na segunda
metade do século XX, assim como as elites culturais e universitárias.

Anteriormente, porém, a utilização do método prosopográfico estava circunscrita a história da


Antiguidade e da Idade média através da análise do pessoal administrativo e do entourage dos grandes
soberanos dos principais Estados da Europa. Na França e na Itália o interesse nesse período recaía
sobre os diferentes corpos de funcionários ou de magistrados e sobre as elites eclesiásticas, intelectuais,
financeiras ou comerciais (CHARLE, 2006b).

Na segunda metade dos anos 1960 a análise prosopográfica foi reintroduzida em alguns países
pela influência das teorias elitistas de Pareto e Mosca, e no caso especifico da França pela ascensão de
teorias alternativas à marxista na interpretação da revolução francesa através da prosopografia das
elites antes e depois da revolução (CHARLE, 2006b). De todo modo, todos esses estudos ainda estão
ligados ao domínio da história dos notáveis do século XIX ou da formação histórica da burguesia.
Somente depois dos anos 1970, especialmente com os trabalhos de Pierre Bourdieu e seu grupo, que o
método prosopográfico aproximou-se das questões colocadas pela sociologia. Nesse sentido que Flávio
Heinz (2006) definiu o método prosopográfico:

“A prosopografia, ou método das biografias coletivas, pode ser


considerada um método que utiliza um enfoque de tipo sociológico em
pesquisa histórica, buscando revelar as características comuns
(permanentes ou transitórias) de um determinado grupo social em dado
período histórico”43
Desse modo a análise de biografias coletivas possibilita desvendar aspectos sociológicos de
determinados grupos, como os perfis sociais, o recrutamento e a reprodução social, num dado contexto
histórico determinado. No entanto, pode ir além da análise meramente sociográfica, ao “explicar a
mudança ideológica ou cultural, identificar a realidade social, descrever e analisar com precisão a
estrutura da sociedade e o grau e a natureza dos movimentos que se dão no seu interior”.44

43 HEINZ, Op. Cit., p. 09.


22
Para tanto, nessa passagem do nível micro ao macro de interpretação através da análise das
biografias coletivas alguns aspectos devem ser considerados. Por um lado é que a biografia não
representa apenas uma pessoa singular, mas, acima de tudo, um indivíduo que concentra todas as
características de um grupo, ou seja, reproduz a estrutura social (LEVI, 1989). Logo, em termos de
análise sociológica, a descrição das categorias sociais do grupo em questão, revela a estrutura de
dominação da sociedade a qual estão inseridos ou as mudanças ocorridas na seleção e reprodução das
elites com o processo de institucionalização de certas esferas sociais. Por outro lado, a análise
prosopográfica pode trazer novos elementos à interpretação histórica, especialmente sobre as mudanças
sociais, culturais, ideológicas em períodos de transição política (HUNT, 2007).

Porém, a prosopografia apresenta certas limitações. A primeira refere-se ao fato que esse
método não abrange a totalidade dos grupos sociais, uma vez que apenas aqueles indivíduos
pertencentes às posições sociais, culturais e políticas mais altas estão bem documentados nos arquivos
e dicionários biográficos. Mesmo sobre estes as informações encontradas podem ser escassas em
relação à parte da amostra. Isto reduziria as variáveis analisadas através do questionário aplicado à
totalidade das biografias. Dessa forma, deve-se precisar o tamanho da amostra na impossibilidade de
abarcar todas as variáveis em estudo, conforme adverte Charle (2006a) quanto “mais seu questionário é
longo, mais sua população alvo precisa ser precisa; a escolha do alvo é primordial, pois uma
amostragem arbitrária pesará permanentemente sobre os resultados” e uma alternativa para tanto seria
recorrer a “pequenas amostras, saturadas de informação e, se possível, comparáveis entre si ou com
aquelas de outros pesquisadores”45

Portanto, o processo de pesquisa histórica prosopográfico consiste na delimitação da amostra,


no levantamento da documentação e a partir disso a criação de notas biográficas padronizadas
conforme as variáveis levantadas no questionário, demonstrando as similaridades e particularidades da
população investigada, essencialmente de forma quantitativa. Contudo, estes procedimentos não
explicam aqueles casos individuais que possuem características sociais diferenciadas dentro do grupo
analisado (ROY & SAINT PIERRE, 2006).

Esta limitação está relacionada ao fato que o método prosopográfico desenvolveu-se juntamente
com a popularização dos softwares de análise quantitativa46. Consequentemente para dar conta da

44 STONE, 1981, 45-46 apud HEINZ, 2006, Op. Cit., p 09.


45 CHARLE, C. 2006a. Como anda a História social das elites e da burguesia? In: HEINZ, Op . Cit., p. 31.

46 Um dos primeiros estudos que quantificou os dados biográficos a partir de recursos da informática foi o de AULIARD,
Claudine. Création et exploitation d’une banque de donnés informtisées relative aux activités diplomatiques de Rome de
23
explicação da estrutura social através das biografias coletivas de grupos socialmente relevantes, este
método carece de outras variáveis relacionadas com os processos históricos, políticos e sociais em
curso, ou seja, os aspectos qualitativos. Desse modo, os historiadores sociais, além de buscarem
determinar os atributos sociais, políticos, demográficos, etc; para explicarem as mudanças e/ ou
continuidades sociais e históricas a partir das elites, devem combinar a prosopografia com outras
metodologias.

De toda forma, através da prosopografia pode-se demonstrar tanto a reprodução social


conseqüente das lógicas empregadas na manutenção da estrutura social, quanto às lutas para a
transformação da estrutura de poder em cada esfera social. Nesse sentido, a prosopografia é um aporte
muito útil nas análises de elites sociais e políticas.

6.4 Fontes de pesquisa

A investigação é desenvolvida por meio da análise de dados coletados em repertórios


biográficos, em biografias produzidas sobre lideranças políticas do Estado, em genealogias e memórias
familiares, em matérias veiculadas na imprensa escrita (periódicos de circulação estadual e nacional).
Muitos dados já foram coletados e estão organizados em banco de dados no formato SPSS e
File Maker Pro 8. Estes softwares possibilitam a organização dos dados, a preservação de documentos,
o cruzamento de dados, a geração de tabelas, e inferências estatísticas e argumentativas.
As principais fontes de pesquisa são:
a) Arquivos Ministeriais do CPDOC/ FGV;
b) Arquivo João Neves da Fontoura (MARGS);
c) Arquivo Getúlio Vargas do CPDOC/FGV;
d) Coleção completa da Revista O Expedicionário;
e) Ministérios Brasileiros de 1930-1984 Documento do CPDOC/FGV História Oral;
f) Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro (DHBB);
g) Jornal Correio do Povo;
h) Sites dos Ministérios Brasileiros.
i) Who’s who in Brazil

753 á 31 av. J-C. Sobre essa relação da prosopografia e informática ver tb: GENET, Jean- Philippe. L’informatique a
service de la prosopographie: PROSOP. Mélanges de l’école française de Rome. Moyen-Age. Temps modernes, Année
1988, volume 100, Numero 1. pp 247-263.
24
7. CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

ETAPAS DA 2009/1 2009/2 2010/1 2010/ 2011/1 2011/2 2012/1 2012/2


PESQUISA 2
Revisão Teórica X X X X X X X
Levant. X X X X X
Bibliográfico
Pesq. em X X X X X X
Bibliotecas
Pesq. em Acervos X X X X X X
Redação / X X X X X X
Digitação
Revisão X X
Defesa X

 A princípio, para o ano de 2010 a revisão teórica e outros passos da pesquisa serão feitos sob
orientação da Profa. Dra. Annick Lampérière, em Paris, na Universidade de Paris I (Centre de
Recherche de l’Amérique Latine et du Monde Ibérique – CRALMI)

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