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PROLOGO: AQUELE QUE DIZ SIM, AQUELE QUE DIZ NÃO

O menino chega em casa.

Menino – Mãe, mãe... hoje na escola o professor nos mostrou uma nova
forma de utilizar nossos conhecimentos em álgebra. Eu não compreendi
logo no início, mas depois ele fez algumas demonstrações, então a turma
teve uma ideia melhor do que ele queria dizer... (pausa, procura a mãe)
mãe, cadê a senhora? (Sem resposta o menino se preocupa) mãe onde a
senhora está?

Mãe – Não precisa gritar.

A mãe está um pouco abatida

Menino – A senhora está bem?

Mãe – Sim, é apenas uma gripezinha.

Menino – Mãe não fale assim. Depois da aula o professor nos disse que as
aulas seriam suspensas. Tem muita gente ficando doente, e até mesmo
morrendo.

Mãe (tossindo) – Que nada!

Menino (a mãe tenta alcançar algo) – A senhora precisa de ajuda?

Mãe – Não! Eu ainda consigo fazer as coisas (tosse muito e cai).

Menino – Deixa eu lhe ajudar. Não seja orgulhosa.

No radio o locutor faz uma chamada.

Informamos aos nossos cidadãos que uma grande calamidade abateu-se


sobre nossa cidade. Um mal terrível que nos castiga e arrebata o sopro vital
de nossa gente. É terrível e assombrosa a sua força de arrancar aquilo que
tomado de nós, não o podemos mais recuperar. Zelem pelos seus,
enclaustrem-se, encerrem-se e esconda-se em suas casas para que este mal
que ronda cada beco e viela não os alcance. Temam o mal. Ele os levará
consigo.

O menino retira mãe de cena e retorna. Na cena só está o menino

Menino – Não é possível, a minha mãe está doente. O que eu faço.


Primeiro o meu pai, agora minha mãe... e depois?

Homem – (divertido e educado). Pode ser você, quem sabe? O que importa
mesmo é que fui chamado aqui. Não se preocupe.

Na canção o homem é auxiliado pelo seu coro que canta enquanto executa
uma coreografia.

Estou aqui por você


Sou uma força da vida,
Fechou comigo não tem saída
Trago o amor em três dias
E levanto até bunda caída

Tu queres amor eu dou,


Tu queres cachaça eu dou
Depois cobro o preço,
Com uma leve taquicardia
Uma lepra e uma disenteria

Porém se eu te amarrar
Te levo sem morrer de cagar
Não importa se é burguês
Socialista ou marquês
Para min é tudo igual o gaito e o boçal
Eu levo os três.

Vem meu amor, diga o que queres


Ouro, fama, mulheres
Estou para te servir, e não te
Preocupes com o perigo
Só vou te levar comigo

Minha arte necessita da sua parte


Erguer-te-ei um estandarte
Com o teu couro em uma haste

Menino – Quem é?

Homem – Importa?! O mais importante é que você quer curar a sua mãe,
não é mesmo? Estou aqui para ajudar. Uma oportunidade não tem volta,
como a palavra dita e a flecha lançada. Você deveria saber disso.

Menino – Estou de acordo! Mas todos estão morrendo a cidade inteira,


como você poderia ajudar?

Homem – Não vim para ajudar. Estou oferecendo uma oportunidade.

Menino – A troco de quê?

Homem – De uma oportunidade. Quero lhe oferecer a oportunidade de


fazer um acordo. Um grande acordo.

Menino – E esse acordo seria em troca da minha alma?


Homem – Não (ri), que bobo há coisas mais interessantes que uma alma.

Menino – Todo acordo tem uma troca, tem um custo.

Homem – Não se preocupe com isso. Um acordo é só um negócio, um


pacto. Você terá sua oportunidade de ajudar a sua mãe e eu terei a
oportunidade de ver o desdobrar do uso da sua oportunidade. Que tal?

Menino – Só isso?

Homem – E já é muito! Me dê a oportunidade de ver o seu uso de uma


oportunidade na vida.

Menino – Certo!

O menino sai.

A canção dos viajantes enquanto sobem a montanha.

Viajantes, viajantes, para onde estão indo


Nós vamos para as montanhas, para além das matas do sertão.

Viajantes, viajantes, qual é tua missão


Encontrar uma cura, um remédio, uma salvação.

Viajantes, viajantes, o que os faz tão forte


A determinação, em encarar a morte.

Viajantes, viajantes, o que vamos buscar


Subimos a montanha, para a cura encontrar.

II PARTE

Homem – E então menino. Aproveitou sua oportunidade? Foi uma viagem


em tanto não é mesmo. Isso parece o fim.
Menino – Não era bem isso que eu imaginava.
Homem – E o que imaginava?
Menino – Que iria levar o remédio para a minha mãe.
Homem – mas o remédio ainda poderá chegar a sua mãe.
Menino – Mas eu morri?
Homem – Sim, é bem possível.
Menino – Então quero um novo acordo.
Homem – Com quais termos?
Menino – Os mesmos, hora. A sua oportunidade de ver o que faço com
uma nova oportunidade.
Homem – Belíssimo, esplêndido. Não há nada que eu queira mais.
Menino – Mas e porque agora você também poderia tirar a doença de
minha mãe, ou acabar com a doença. E me dar uma oportunidade sobre
novas condições.
Homem (ri as gargalhadas) – Ah, garoto, mas não se fala em corda em
casa de enforcado. Isso lá é proposta. O acordo é o mesmo. Vá!

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