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Analogia à existência coletiva

Ao modo do “depois da tempestade vem a bonança” com as grandes


catástrofes vem sempre a grande oportunidade de (re)pensar sobre aquilo que
somos ou aquilo que podemos ser. Esta oportunidade surge com o final da 2ª
guerra mundial, no momento em que a Europa se encontrava destruída. As
circunstâncias uniram-se para pôr em prática aquilo que os mestres modernistas
tinham pensado para as nossas cidades, ou seja, a Carta de Atenas.
Contudo com a bonança que foi a prática intensiva deste novo movimento
e a existência de um período heroico para estes arquitetos, onde se encontravam
a reabilitar milhares de pessoas, também existiu um desmascaramento daquilo
que eram os problemas inerentes à prática deste.
Este movimento encontrava-se a caminhar a passos largos para a
descontextualização - quer espacial quer temporal – temporal devido à falta de
acompanhamento da técnica como da sociedade; e local devido à padronização
que este movimento exercia como movimento universal.
Daí, ao estilo Pop ser necessário um super-herói ou um grupo de super-
heróis, com o poder da contextualização capaz de resolver as pontas soltas que
o movimento moderno estava a deixar. Então surgem os Team 10, grupo de
arquitetos que achava a Carta de Atenas e aquilo que ela propunha uma solução
obsoleta para os problemas que a Europa apresentava.
Em 1960 este grupo foi convocado para participar no CIAM, as found,
para demonstrar o seu método de análise e a sua proposta para colmatar os
problemas que surgiram, estes trazem uma forma de olhar para o problema que
veio quebrar radicalmente a maneira de pensar na arquitetura até hoje, esta
passa por pensar socialmente, ou seja, em associação humana em vez de pura
organização funcional. Onde eram (re)pensados os conceitos de urbanismo que
conhecemos hoje, eram postas questões como: o que é um distrito? Ou uma
cidade? Ou uma rua? Até à habitação.
Team 10 em Spoleto, Itália, 1976.
(http://www.team10online.org/team10/meetings.html)

O que o movimento moderno estava a precisar não era de respostas mas


sim das perguntas certas, ou seja, de repensar os conceitos de cidade sem recorrer
a historicismo, uma vez que a cidade é o espelho da sociedade estes termos
referentes a parte da organização urbana têm de ser adaptados ao nosso contexto
temporal, uma vez que as necessidades da sociedade nos meados do séc. XX
eram diferentes de qualquer que seja o momento em que estes conceitos foram
desenvolvidos.

“Porém ainda não descobrimos um equivalente para a


tipologia de rua nos dias de hoje. O que sabemos é que a rua tem
sido invalidade pelo carro, a aumentar os standards de vida e a
mudar valores.”

Com esta fórmula pode-se transformar aquilo que outrora era algo
extremamente diagramático para um conceito em algo exequível, e no
seguimento surgem outras questões, ou seja, pode-se pensar muito em relações
humanas mas como é que se vão organizar as cidades, é preciso mudar as
hierarquias da organização, tornar aquilo que era uma hierarquia qualitativa
numa hierarquia quantitativa. Uma hierarquia que não seja fragmentada, mas
que todos os sistemas possam ser lidos como um só.

“Todos os sistemas devem estar familiarizados uns com os


outros de tal forma que a combinação dos seus impactos e
interações possa ser apreciada como um único sistema.”

Com este conceito de sistemas está-se a pensar inerentemente no


problema da identidade, uma vez, que se está a oferecer a liberdade às partes
deste sistema para se desenvolverem autonomamente obedecendo à regra.
Podemos interpretar os conceitos dos Team 10 como uma analogia da
existência metafisica da arquitetura à existência humana coletiva, ou seja, o
homem torna a ser entendido como um ser particular, de necessidades únicas e
exclusivas que derivam devido à vivência deste, porém este pode-se enquadrar
num grupo de pessoas que têm uma vivência parecida, ou que simplesmente tem
necessidades parecidas.

“Façam de cada porta um gesto de boas vindas e de cada


janela um rosto.”

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