Unifesp - UC História Moderna I - Prof. Bruno Feitler
Leitura de referência: S. Greenblatt, A Virada. O Nascimento do mundo
moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
A obra do escritor Stephen Greenblatt é composta por 11
capítulos que por sua vez levam nomes de caráter sugestivo e explicativo ao decorrer de cada narrativa. Alguns pontos que caracterizam o diferencial desta obra das demais é a utilização de personagens reais, buscando recontar suas histórias desde pesquisas literárias a fontes arqueológicas dando pouca abertura para cenários diversos. Um dos principais intuitos do autor não é a narrativa bibliográfica do humanista italiano, Poggio Bracciolini, conhecido por suas buscas a obras antigas, contudo, como sucedeu a descoberta de uma das obras, segundo o próprio Greenblatt, que desestabilizou os pensamentos vigentes atè aquele momento, obra essa chamada De Rerum Natura, do Tito Lucrécio Caro, esse que também tem momentos da sua vida descritos a fim de entender seus objetivos, influências e influência sobre a época. Ainda no prefácio, o autor pontua quando e como desenvolveu o interesse pelo estudo da obra de Lucrécio, colocando também a influência causada em suas ideias.
- “ O caçador de livros “ , nesse primeiro capítulo tem como finalidade relatar,
por meio da biografia de Bracciolini e dados históricos, como foi sua inserção em busca de obras datadas em pelo menos 500 anos, no século XV, um grande diferencial de pesquisadores da sua época. Concomitantemente, o autor apresenta as dificuldades enfrentadas na caçada dessas obras, desde a difícil localização de alguns mosteiros, a maior acanhamento por parte dos monásticos e monges, no que diz respeito a preservação desses bens guardados por muitos anos em suas bibliotecas. - “ O momento da descoberta “ , buscando explicar para o leitor essa constante busca por obras antigas, que não se dá apenas por Poggio, mas com inspiração em um erudito por nome Petrarca. A busca pela Europa acarretou em estudos mais aprofundados dessas obras iniciando os estudos dos humanistas pelas humanidades, nome esse dado a todos estudiosos dessa área. Há também descrições de como os mosteiros acabaram se tornando um dos maiores depósitos de conhecimento em uma época de grande ignorância intelectual. O elo desse interesse pela leitura dessas obras, como fruto para um crescimento futuro na espiritualidade e mais tarde com cópias que não foram paradas no tempo como meio de disciplina. Nessas circunstâncias, Poggio com todas as suas experiências, se dispõe como o ideal para possíveis descobertas nesses termos. Um ponto a destacar é a viagem em 1417, na abadia de Fulda, na Alemanha, onde lá devido às circunstâncias Poggio tenha descoberto o De Rerum Natura, de Lucrécio. - “ Em busca de Lucrécio “ , neste capítulo a pergunta que busca ser respondida é quem é Lucrécio, mesmo o autor surpreso com quem não apoia as suas ideias, como Cícero, apresentando-se uma ressalva por não relatar outras obras em paralelo e nem as obras descritas, Lucrécio é colocado de forma negativa por São Jerônimo com demérito ao seu paganismo. Ligado a algumas fontes arqueológicas e histórica, mais pontualmente no monte Vesúvio, o autor faz um paralelo a possível época em que Lucrécio tenha vivido e como teria desenvolvido seu jeito de pensar e dialogar de forma tão distinta, justificado em Epicuro, com principais pensamentos a busca pelos prazeres e como essa tese seria aceita pela posteridade. - “ Os dentes do tempo “ , nesse capítulo é relatado brevemente a composição dos livros, mostrando que nem as ações do tempo e inovações tecnológicas ao longo das décadas puderam impossibilitar a danificaçao “natural”, como as traças, elas responsáveis por grande parte da perda de partes importantes relatadas nesses livros. Desde então o redator tem alguns objetivos a serem alcançados, a busca pela consolidação da cultura literária que teve início na Antiguidade e proporcionou significativos avanços nas áreas humanas e exatas, tendo seu momento de passagem caída, em Alexandria, a história da filósofa Hipátia, com o início da perseguição cristã pelos pagãos decretando o sofrimento constante para se alcançar a salvação da alma e solucionar os problemas da vida. - “ Nascimento e Renascimento “ , o esclarecimento de duas vertentes fundamentais tanto para a história quanto para a História, a descrição do nascimento de Poggio, pontuando alguns acontecimentos da sua infância e família, e como Florença, cidade essa que interferiu em seus pensamentos através de influências culturais, muito além dos limites convencionais para a época. O outro ponto é a chegada de um movimento denominado Renascimento, que tem como principal objetivo a busca por pensamentos antigos e analisá-los de forma mais ampla. Petrarca com sua influência e envoltura no Salutatti, grupo intelectual, e o governador da época, são citados como a brecha para a mudança na vida dos caçadores dessas obras. - “ Na fábrica de mentiras “ , nesse mesmo capítulo analisamos a vida de Poggio e como este conseguiu cruzar ofícios com o auxílio do seu mentor Salutatti, por meio de brechas e chegar ao posto de scriptor em Roma. Ao mesmo tempo várias disputas internas, comentários desnecessários e críticas ofensivas que divergem da honestidade, tendo a carência de moralidade da cúria como um elo comum, sendo evidente em um desentendimento entre Lorenzo Valla e Poggi. Com essa parte complexa do conjunto eclesiástico, Poggio decide reunir todos esses acontecimento e fatos no livro mais conhecido futuramente no seu tempo, livro por nome As Fascetiae, que traz discussões um tanto quanto polêmicas, que mais tarde serviram como base para a publicação de vários cenário morais. A intenção do autor é esclarecer, como Poggio, laico e sem vocação para o mundo eclesiástico acabou tendo que conviver nessa rotina por alguns anos apenas para ter acesso às obras que tanto almejava, lê las, estudá-las, traduzi-las e mais adiante escrever a "Fábrica de Mentiras” que se enquadrava o clero de Roma. - “ Armadilha de caçar raposas “ , neste capítulo acompanhamos um pouco da imersão e desilusão que Poggio passa servindo como secretário apostolico, a cúria nesse momento estava passando por manobras complexas, com boatos de invasão e perseguição de hereges. Durante alguns períodos Poggio encontrou a liberdade para copiar os três livros “Sobre as leis”, esse mergulho ao passado aumentou cada vez mais sua alienação ao presente. - “ Como as coisas são “ , o autor aponta que acredita que tudo não passa de uma desilusão, onde tudo é composto de partículas invisíveis e que o Universo não tem um grande criador, que não existe vida após a morte e alma morta. Poggio fala também sobre a ligação dos ateus, onde ele elenca a criação da matéria atômica com a criação do indivíduo, onde existe uma contradição da matéria filosófica e os textos bíblicos. Limitando a discussão aos dois âmbitos fundamentalistas. - “ A volta “ , buscando avaliar todas as histórias em torno de seu livro, o autor da obra de Lucrécio, descrito como se ainda não tivesse retornado assim pelos monges decidido, se dando conta da importância valor da obra exigiram uma cópia dos textos. Envolto em muitas polêmicas, os textos foram copiados e espalhados por grande parte de cidades, ajudando na sua propagação. - “ Virada “ , já nesse capítulo o autor explana sobre ter mais de 50 manuscritos dos textos de Lucrécio em conhecimento hoje, e todos os trâmites para a fidelidade de sua obra. Destacando também a grande importância gerada em historiadores e pesquisadores da ciência moderna, em teses de nomes de extrema relevância como, Galileu, Copérnico e Giordano Bruno. Textos esse que não causaram uma “virada” apenas no autor como também em pensamentos posteriores. - “ Ressurreição “ , por fim, no último capítulo o autor demonstra a obra de Lucrécio como uma sobrevivente, que por mais que todos os conflitos eclástico tenham acontecido e causado conflito, os textos ainda tem grande influência sobre o que conhecemos do mundo moderno. Como Montaigne e suas opiniões filosóficas.