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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FERNANDO CÉSAR GOHL

MUROCROMIA: CONFLITOS E APROPRIAÇÕES


ENTRE PICHAÇÃO, GRAFITE E PROPAGANDA
NO ESPAÇO URBANO

CURITIBA
2016
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
FERNANDO CÉSAR GOHL

MUROCROMIA: CONFLITOS E APROPRIAÇÕES ENTRE


PICHAÇÃO, GRAFITE E PROPAGANDA
NO ESPAÇO URBANO

Dissertação apresentada ao Mestrado em


Comunicação e Linguagens – Processos
Mediáticos e Práticas Comunicacionais,
da Universidade Tuiuti do Paraná, como
requisito avaliativo para conclusão do
curso.

Prof.ª Dr.a Mônica Cristine Fort

CURITIBA
2016
Dados Internacionais de Catalogação na fonte
Biblioteca "Sydnei Antonio Rangel Santos"
Universidade Tuiuti do Paraná
G614 Gohl, Fernando César.
Murocromia: conflitos e apropriações entre pichação,
grafite e propaganda no espaço urbano / Fernando César
Gohl; orientadora Profª drª Mônica Cristine Fort.
115f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Tuiuti do Paraná


Curitiba, 2016.

1. MuroCromia. 2. Artes. 3. Grafite. 4. Pichação.


5. Propaganda. I. Dissertação (Mestrado) – Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens/ Mestrado
em Comunicação e Linguagens. II. Título.

CDD – 751.73
TERMO DE APROVAÇÃO

FERNANDO CÉSAR GOHL

PROJETO MUROCROMIA: CONFLITOS E APROPRIAÇÕES


ENTRE PICHAÇÃO, GRAFITE E PROPAGANDA
NO ESPAÇO URBANO

Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em


Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 31 de agosto de 2016.

____________________________________________________
Profa. Dra. Mônica Cristine Fort
Orientadora

____________________________________________________
Prof. Dr. Rafael Tassi Teixeira
Avaliador – UTP

____________________________________________________
Prof. Dr. Fábio Hansen
Avaliador – UFPR

____________________________________________________
Prof. Dr. Geraldo Pieroni
Suplente – UTP
AGRADECIMENTOS

Formar um mestre é um esforço coletivo, por essa razão tenho a obrigação de


agradecer ao Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv) por investir na
formação de seus professores. À equipe do projeto MuroCromia, composta pelos
acadêmicos Bruno Moreschi Marcinichen, Gabriela Borges Souza e Kathleen
Hoberg Andre por sua colaboração e dedicação. À orientadora e amiga Mônica
Cristine Fort e a todos os professores do Mestrado em Comunicação e Linguagens
da Universidade Tuiuti do Paraná que, apaixonados por suas disciplinas, motivam
seus alunos na busca pelo conhecimento. A minha família, que deu todo apoio,
incentivo e suporte nessa caminhada. A todos vocês, pela colaboração em formar
um professor mais preparado, meus sinceros agradecimentos.
Para Luciane, Isabela e Grasiela.
“En la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas”
Paulo Leminski
RESUMO

O grafite e a pichação são manifestações populares contemporâneas que ganharam


as ruas das cidades como forma de expressão e comunicação urbana não
planejada. Uma série de polêmicas existe relacionada ao assunto. Por outro lado, as
manifestações artísticas de rua, como o grafite, também acabam questionadas
quanto à sua forma de expressão. Não são raras as associações ao vandalismo. Há
registros de conflitos entre pichadores, grafiteiros, comerciantes, moradores e
políticos. E, ainda, existe a propaganda exterior, que acaba se apropriando de todas
as linguagens com o objetivo de vendas ou propagação de novas ideias. Por meio
do projeto de extensão universitária MuroCromia, os alunos do curso de Publicidade
e Propaganda do Centro Universitário da Cidade de União da Vitória – Paraná
puderam refletir sobre o espaço urbano e também modificá-lo, pintando muros
utilizando os conhecimentos teóricos e práticos das disciplinas de Direção de Arte e
Produção Gráfica. A dissertação focou na comunicação visual urbana e na aplicação
e resultados do projeto MuroCromia com o objetivo de investigar os conflitos e
apropriações entre as linguagens que deram suporte para o projeto de extensão.
Procurando uma reflexão a partir da cultura e da ação das forças econômico-
político-culturais para compreender os fenômenos sociais, autores como Benjamin,
Canevacci, Canclini, Certeau, Hall e Martin-Barbero foram acionados. No grafite e na
pichação autores como Gitahy, Campos, Franco, Ivenson e Lassala são os mais
relevantes. Piedras, Jacks e Primo fundamentam as questões da publicidade. A
pesquisa demonstra que o projeto de extensão em questão, além de servir ao
propósito educacional, possibilitando experiência teórica e prática aos acadêmicos,
também produziu reflexões na comunidade onde foi aplicado.

Palavras-chave: MuroCromia; Artes; Grafite; Pichação; Propaganda.


ABSTRACT

Graffiti writing and graffiti (as a form of vandalism) are contemporary popular
demonstrations that took to the streets of cities as a means of an unplanned urban
expression and communication . A series of controversies related to the subject exist.
On the other hand, street art forms, such as graffiti, also end up questioned as to its
form of expression. There are few associations to vandalism. There are reports of
conflicts between taggers, graffiti artists, merchants, residents and politicians. And
yet, there is the outdoor advertisement, which ends up using all languages for the
purpose of sales or propagation of new ideas. Through “MuroCromia” , a university
extension project, the Advertising course's students from the University Center in
União da Vitória - Paraná could reflect on urban space and also modify it, painting
walls using the theoretical and practical knowledge of the Direction of Art and
Graphic Production disciplines. The dissertation focused on urban visual
communication and the application and results of the “MuroCromia” project in order
to investigate the conflicts and appropriations among the languages that have
provided support for the extension project. Looking for a reflection from the culture
and the action of economic- politic-cultural forces to understand social phenomena,
authors such as Benjamin, Canevacci, Canclini, Certeau, Hall and Martin-Barbero
were related. In graffiti and graffiti writers like Gitahy, Campos Franco, Ivenson and
Lassala are the most relevant. Piedras, Jacks and Primo instantiate the issues of
advertising. The research shows that the extension project in question, besides
serving as an educational purpose providing theoretical and practical experience to
students, also produced reflections in the community where it was applied.

Keywords: MuroCromia; Arts; Graffiti; Advertising.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – GRAFITE GREGO ............................................................................... 19


FIGURA 2 - EXEMPLOS DO SÉCULO XIX E XX DE "SINAIS DE HOBO" .............. 20
FIGURA 3 – GRAFITES SOBRE O MURO DE BERLIM (1986) ............................... 21
FIGURA 4 - GRAFITE DE ALEX VALLAURI ........................................................... 23
FIGURA 5 - GRAFITE DE CARLOS MATUCK......................................................... 23
FIGURA 6 - GRAFITE DE HUDINILSON JÚNIOR ................................................... 23
FIGURA 7 – GRAFITE DOS OSGEMEOS .............................................................. 24
FIGURA 8 – GRAFITE DO NUNCA ........................................................................ 24
FIGURA 9 - PICHAÇÃO DOS ARTISTAS OSGEMEOS .......................................... 25
FIGURA 10 - TAG RETO ......................................................................................... 28
FIGURA 11 - GRAPIXO ........................................................................................... 29
FIGURA 12 – ARTE DO GRAFITEIRO SPETO PARA A COCA-COLA .................. 36
FIGURA 13 – ATENTADO DO EDUADO SRUR ...................................................... 39
FIGURA 14 – GRAFITE DO KATSU ........................................................................ 41
FIGURA 15 – APLICAÇÃO DA CAMPANHA: PICHAÇÃO É CRIME. DENUNCIE. . 45
FIGURA 16 – ZÉ SUJEIRA ...................................................................................... 47
FIGURA 17 –SUJISMUNDO .................................................................................... 47
FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO DE CRIMINOSO......................................................... 47
FIGURA 19 – EXPRESSÃO DE MALDADE ............................................................. 47
FIGURA 20 – QUADRO DA ANIMAÇÃO ................................................................. 48
FIGURA 21 – SHOWROOM DA LOJA HERMÈS NA FRANÇA E DA LOJA LOUIS
VUITTON POR SKAM EM TORONTO..................................................................... 55
FIGURA 22 – PRODUTOS CRIADOS POR STEPHEN SPROUSE PARA LOUIS
VUITTON ................................................................................................................. 55
FIGURA 23 - LENÇOS DA HERMÈS COM ARTE DE KONGO ............................... 56
FIGURA 24 – ARTE DOS GRAFITEIROS BRASILEIROS FINÓK, CHIVITZ E
MINHAU PARA AS HAVAIANAS. ............................................................................ 56
FIGURA 25 – ANÚNCIO DO MCDONALD’S............................................................ 57
FIGURA 26 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA DA EMPRESA JOBSINTOWN.DE ...... 57
FIGURA 27 – PROPAGANDA DOMINO’S PIZZA .................................................... 58
FIGURA 28 – GRAFITE VERDE OU GRAFITE REVERSO ..................................... 58
FIGURA 29 – AXE ................................................................................................... 59
FIGURA 30 – GRAFITE STOP ................................................................................ 59
FIGURA 31 – ANÚNCIO DE MILWAUKEE RIVER KEEPER .................................. 60
FIGURA 32 – CAPA ÁLBUM JOTA QUEST ........................................................... 60
FIGURA 33 – MURAL NO INSTITUTO NEYMAR JR. ............................................. 61
FIGURA 34 – PAINÉIS DE GRAFITE ...................................................................... 62
FIGURA 35 - GRAFITE DA AVENIDA 23 DE MAIO ................................................. 62
FIGURA 36 – PATCHWORK URBANO .................................................................. 68
FIGURA 37 – IMAGEM DO FILME CIDADE CINZA................................................. 68
FIGURA 38 – PICHAÇÃO FANTASMA .................................................................... 69
FIGURA 39 – REVESTIMENTO DE BANCO DE ÔNIBUS EM SYDNEI –
AUSTRÁLIA, COM PADRÃO DE CAMUFLAGEM ANTIGRAFITE. ......................... 70
FIGURA 40 – PADRÃO DE CAMUFLAGEM MULTICAM ARID .............................. 70
FIGURA 41 – GRAFITE NA RUA SÃO FRANCISCO, EM CURITIBA ..................... 70
FIGURA 42 – GUSTAVO FRUET LIMPANDO A PICHAÇÃO NA RUA XV DE
NOVEMBRO ............................................................................................................ 71
FIGURA 43 – FORTIFICAÇÕES .............................................................................. 72
FIGURA 44 – ESBOÇO DA PRIMEIRA IDEIA ......................................................... 80
FIGURA 45 – SEGUNDA IDEIA APROVADA PELO CLIENTE ................................ 80
FIGURA 46 – MURAL VIAJAR É PRECISO ............................................................ 81
FIGURA 47 – LOGO DREAMWORKS ..................................................................... 81
FIGURA 48 – ESTÊNCIL CRIADO A PARTIR DA FIGURA 47 ................................ 81
FIGURA 49 – MURAL ASAS .................................................................................... 82
FIGURA 50 – OFICINA DE ESTÊNCIL .................................................................... 83
FIGURA 51 – MURAL AQUÁRIO DE DISTRAÇÕES ............................................... 84
FIGURA 52 – MURAL PAULO LEMINSKI................................................................ 85
FIGURA 53 – PISTA DE SKATE .............................................................................. 86
FIGURA 54 – PISTA DE SKATE II ........................................................................... 87
FIGURA 55 – PAREDE LATERAL COM UMA DAS PRODUÇÕES DO GRUPO DE
GRAFITE LOCAL..................................................................................................... 87
FIGURA 56 – MURAL FILTRO DOS SONHOS........................................................ 88
FIGURA 57 – MURAL PEDALAR............................................................................. 88
FIGURA 58 – EU ESTIVE AQUI! ............................................................................. 89
FIGURA 59 – MURAL FLORES NO DESERTO....................................................... 90
FIGURA 60 – LAMBE-LAMBE ................................................................................. 91
FIGURA 61 – MURAL ANOTHER BRICK IN THE WALL ......................................... 91
FIGURA 62 – MURAL REGUE A VIDA COM AMOR ............................................... 92
FIGURA 63 – ICONOSQUARE - DISTRAÍDOS VENCEREMOS ............................. 94
FIGURA 64 – INSTAGRAM – DISTRAÍDOS VENCEREMOS .................................. 94
FIGURA 65 – FACEBOOK - ASAS .......................................................................... 95
FIGURA 66 – INSTAGRAM - ASAS ......................................................................... 95
FIGURA 67 – FACEBOOK – ASAS II ...................................................................... 96
FIGURA 68 – FACEBOOK – AMIR KLINK ............................................................... 96
FIGURA 69 – INSTAGRAM - REGUE A VIDA COM AMOR .................................... 96
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14

2 GRAFITE, PICHAÇÃO E PROPAGANDA NA CIDADE ....................................... 17

2.1 GRAFITE ........................................................................................................... 19

2.1.1 Grafite no Brasil .............................................................................................. 23

2.1.2 Linguagem em mutação .................................................................................. 26

2.2 PICHAÇÃO ........................................................................................................ 28

2.3 PUBLICIDADE E PROPAGANDA ...................................................................... 31

3 CONFLITOS E APROPRIAÇÕES ........................................................................ 35

3.1 A GUERRA AO SPRAY E OS VESTÍGIOS DO CONFLITO............................... 63

4 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA


PRÁTICA ................................................................................................................. 73

4.2 REALIZAÇÕES DO PROJETO .......................................................................... 79

4.3 IMPACTOS DO PROJETO ................................................................................ 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 97

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 101

ANEXO A - COLUNA ENTRE LINHAS ................................................................. 110

ANEXO B - PROJETO ACADÊMICO COMEÇA SUAS INTERVENÇÕES NAS


CIDADES ............................................................................................................... 111

ANEXO C - ARTE E PROPAGANDA ALIADAS INTERFEREM NO MOBILIÁRIO


URBANO DAS CIDADES ...................................................................................... 113

ANEXO D - MUROS GANHAM VIDA COM PROJETO ACADÊMICO .................. 115


14

1 INTRODUÇÃO

A pichação, o grafite e a propaganda são reflexos da necessidade humana


em se comunicar. Essas formas de comunicação que utilizam imagens, signos,
gráficos, vídeos ou desenhos buscam expressar uma ou mais intenções tornando-se
mais eficazes que o uso de textos para veicular uma informação e atingir o público-
alvo. Enquanto a propaganda é onipresente e legalizada, o grafite tem na sua
origem uma natureza transgressiva. Mesmo com propósitos diferentes, ambas
ocupam o espaço público de forma arbitrária e compartilham algumas características
como a adoção de novas tecnologias digitais, o barateamento e a troca de
informações possibilitada pela internet, expandindo o seu alcance de forma global e
possibilitando a organização de grupos de mesmo interesse. Essas linguagens
mutáveis necessitam da visibilidade, de exposição, almejam atingir um público
amplo e, por isso, privilegiam lugares de destaque e com grande movimentação de
pessoas, seguindo estratégias da produção cultural absorvem as novas tecnologias
e conquistam os espaços da cidade.
Para Campos (2012, p. 545), a arquitetura da cidade é usada como suporte
para inscrição de diferentes atores e transforma-se num espaço com profundo
significado social e semiológico, em sintonia com a cultura visual contemporânea e a
com linguagem híbrida, inspirada na cultura de massa e nos diversos meios como o
cinema, fotografia, televisão, quadrinhos e cartoons. É pertinente citar Campos
(2012, p. 548) nesse momento para esclarecer conceitos-chave que serão
abordadas nesta dissertação. O autor propõe uma classificação inicial para analisar
o grafite, aquele que é claramente transgressor e subversivo e aquele que vive nos
limites do socialmente aceito, colocando, de forma simplificada, as expressões
ilegais e as legais, “no contexto brasileiro esta dualidade expressa-se entre o grafite
e a pichação”.
O documentário “Cidade Cinza” (2014) aborda as políticas de limpeza da
cidade de São Paulo e o impacto da aplicação das leis vigentes na paisagem urbana
dando enfoque à ilegalidade da pichação e a poluição visual que a propaganda
causa ao espaço urbano enfatizando o prejuízo ao bem-estar do cidadão e a
integridade da arquitetura das edificações. Estes fatores despertaram o desejo de
investigar como estas linguagens poderiam ser incorporadas ao ensino-aprendizado
15

dos acadêmicos do Curso de Graduação de Comunicação Social – Publicidade e


Propaganda.
O Centro Universitário de União da Vitória – Uniuv – oferta o Programa de
Incentivo à Pesquisa Acadêmica – Pipa – e, por meio dele, houve a oportunidade de
criação do projeto de extensão universitária MuroCromia, objeto de estudo desta
dissertação. O nome MuroCromia, é a junção das palavras Muro com a palavra
Cromia, que significa o conjunto de cores bem combinadas ou simplesmente
colorido, ou seja, muro colorido. Em produção gráfica, têm-se palavras parecidas
como a monocromia, que é a impressão com uma única cor e a policromia,
impressão com o emprego de diversas cores. Mediados pelo professor, acadêmicos
tiveram seus primeiros contatos com a pesquisa científica. O tema se concentrou na
comunicação visual urbana e tem por objetivo investigar as reflexões provocadas
pelo grafite em sua crítica à propaganda. Mesmo com o grafite e a propaganda
dirigindo-se a caminhos opostos, essas linguagens dialogam e utilizam o mesmo
processo criativo, as mesmas estratégias de comunicação e disputam os mesmos
espaços privilegiados da cidade.
A cidade polifônica, segundo Canevacci (1997), é formada por diversas vozes
nem sempre harmônicas. Por meio de uma investigação qualitativa, pretende-se
ouvir o que essas vozes têm a dizer, descobrir como elas se relacionam para
entender as interações, as relações de conflito e apropriação que ocorrem na
comunicação urbana contemporânea, tirar ilações e formular conclusões. É
importante salientar que existe uma consciência da participação ativa do
pesquisador no processo de análise crítica e interpretação do fenômeno estudado,
no qual, inicialmente, houve um movimento de imersão, ambientação e participação
ativa no projeto e, posteriormente, houve um movimento de distanciamento,
necessário à observação do trabalho com neutralidade.
Os capítulos foram ordenados de acordo com as etapas do projeto
MuroCromia, que iniciou com a revisão bibliográfica e contextualização sobre o
grafite, a pichação e a propaganda. Etapa que possibilitou observar e exemplificar
relações de conflito e apropriação entre esses atores para, na sequência, iniciar as
criações, as pinturas nos muros e, finalmente, coletar informações sobre os impactos
e desdobramentos do projeto.
Sobre da comunicação urbana, mostrando a importância desses três agentes
para o estudo da comunicação social com sua mistura de códigos, mas com origem
16

comum na necessidade de expressão humana em comunicar ideias, vender


produtos e serviços, protestar ou simplesmente marcar um determinado lugar. Os
autores Gitahy, Campos, Franco e Lassala abordam a arte urbana e Piedras, Jacks
e Primo fundamentam as questões da publicidade.
Os conflitos e apropriações são tratados e exemplificados no terceiro capítulo,
que visa demonstrar o hibridismo dessas linguagens, em como elas podem
simultaneamente “se inspirar” umas nas outras como também entrar em confronto,
com características de guerra. As consequências de uma “guerra ao spray” também
são abordadas no capítulo. Sob o ponto de vista do pesquisador australiano Kurt
Iveson, o combate ao grafite teve participação importante na escalada da
militarização do espaço urbano, com o avanço de tecnologias de vigilância e
estratégias de controle social, que tem cada vez mais dificuldade em separar o
simples grafiteiro, que quer se expressar, da constante ameaça terrorista.
No quarto capítulo, aborda-se o projeto MuroCromia, objeto de estudo desta
dissertação. Foi desenvolvido ao longo do ano de 2015 com objetivo de ampliar a
experiência prática e teórica nas disciplinas de Produção Gráfica e Direção de Arte
dos acadêmicos do curso de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda-,
produzindo murais publicitários na Cidade de União da Vitória, Paraná, e Porto
União, Santa Catarina. As etapas do MuroCromia, suas realizações e repercussões
foram registradas e foi possível identificar um estreitamento dos acadêmicos com
questões pertinentes à sua profissão e à comunidade em que estão inseridos,
ampliando a visão sobre a cidade e como a comunicação acontece nela por
intermédio de vários agentes.
As considerações finais aumentam a compreensão sobre o assunto abrindo
caminhos de um estudo transdisciplinar que coloca a comunicação urbana como
área privilegiada na qual apropriações e conflitos constantes entre os atores
estudados, transformam o cenário das cidades revelando que, além do visível,
existem culturas e ideologias em busca de pertencimento.
17

2 GRAFITE, PICHAÇÃO E PROPAGANDA NA CIDADE


“Pintou estrelas no muro e teve
o céu ao alcance das mãos”.
Helena Kolody

O espaço urbano é uma arena comunicacional onde diferentes agentes se


expressam. Entre eles, existe a propaganda que atua de forma regulamentada pelo
governo e órgãos competentes como o Conselho Nacional de Autorregulamentação
Publicitária (Conar) e o grafite não autorizado e a pichação que, por não seguirem as
normas vigentes, estão enquadrados como crimes perante a lei brasileira. De acordo
com Campos (2008), essas grafias espelham diferentes vontades e propósitos
comunicativos de utilização da arquitetura e do espaço urbano. O grafite e a
pichação assumem um importante papel nos circuitos de comunicação, produzindo
um discurso que compete com o da publicidade e da propaganda e que permite
visibilidade à grupos que não teriam acesso a esse espaço, pois estão à margem do
interesse das grandes corporações.

No mundo contemporâneo o graffiti urbano possui um lugar de destaque.


Não porque possui um papel dominante nos circuitos de comunicação, mas
precisamente pelo oposto, porque revela a capacidade de actuação dos
indivíduos e grupos à margem de corporações e entidades poderosas,
apropriando-se de enclaves citadinos para manifestações culturais
singulares. Curiosamente, apesar da indiscutível escassez de recursos ao
seu dispor, aqueles que fazem graffiti conseguem fabricar um discurso
visualmente vigoroso, que tende a colonizar circunscrições alargadas da
cidade, competindo com outros discursos poderosos como o da publicidade
(CAMPOS, 2008, p. 3).

Pelo caráter contracultural do grafite e da pichação, por estar em oposição


aos processos de comunicação dominados pelos poderes públicos e privados, a rua
se transforma em um espaço de lutas simbólicas. Essa prática social de
comunicação deve ser vista tanto por conta das implicações do ato de pichar e
grafitar, ou seja, da poluição visual, do crime ambiental e do vandalismo, quanto do
contexto social e dos objetivos de seus praticantes para identificarmos relações de
conflito e apropriação dos diferentes agentes que atuam na cidade.
Hall (2003, p. 400-402) esclarece que as hegemonias no discurso
comunicacional são constituídas levando em conta a cumplicidade dos dominados
em uma época de “acordos tácitos”, e apresenta três possibilidades: dominação – na
18

qual a mensagem é compreendida dentro dos parâmetros do produtor; negociação 1


– em que há resistência entre produtor e público; oposição – quando a mensagem
não reflete no contexto cultural dos receptores. Grafite e pichação contestam o
discurso hegemônico e estão inseridos na segunda posição, a da negociação.
Utilizam-se dos mesmos mecanismos da propaganda que criticam para disseminar
suas ideologias, em versões negociadas que misturam elementos de adaptação e
de oposição, conferindo a posição privilegiada das definições dominantes, mas
adaptando as “condições locais” e, por isso, atravessada por contradições.
Com o avanço e barateamento das tecnologias de computação, a
digitalização do mundo e a expansão do acesso à internet, o grafite ganha uma nova
rede, além daquela física onde foi originalmente concebido. Isso acarreta grandes
transformações, ampliando a relação entre os grupos de mesmo interesse e
distribuindo suas produções em escala global.

Julgo que esta situação introduz uma alteração profunda no universo do


graffiti. Em primeiro lugar, deslocaliza socialmente o graffiti, tornando
possível a constituição de redes através da Internet; em segundo lugar
deslocaliza a imagem-graffiti, tornando-a disponível virtualmente sem
ligação física ao espaço onde se inscreve; em terceiro lugar, fornece um
conjunto de dados (imagens, imaginários, ideologias, informações) a uma
velocidade e volume anteriormente desconhecidos (CAMPOS, 2008, p. 9).

O grafite e a pichação são parte da cultura visual contemporânea, com seu


hibridismo e alcance global, assim como a propaganda, a arte, a televisão, o cinema,
os quadrinhos e os desenhos animados. Os conflitos e apropriações resultados das
relações entre os agentes de comunicação reconfiguram hábitos e práticas do
cotidiano.
Segundo Canevacci (1997), os outdoors são fontes inesgotáveis de
comunicação urbana. Neles é possível ler não só as mensagens comerciais, mas
também os sistemas de valores de uma época e contexto social em que a
publicidade atua não só reproduzindo esses valores, mas, eventualmente, como um
agente ativo desse sistema. “Este esquema de valores às vezes é partilhado; muito
mais frequentemente, porém, a publicidade, em vez de adequar-se aos sistemas
que orientam as pessoas, antecipa-os e até mesmo os produz” (CANEVACCI, 1997,

1
Decodificar, dentro da versão negociada, contém uma mistura de elementos de adaptação e de
oposição: reconhece a legitimidade das definições hegemônicas para produzir as grandes
significações (abstratas), ao passo que, em um nível mais restrito, situacional (localizado), faz suas
próprias regras – funciona com as exceções à regra (HALL, 2003, p. 401).
19

p. 184). O autor afirma que a publicidade deve ser uma das poucas áreas em
desenvolvimento das ciências sociais em que há possibilidade de se verificar um
“entrelaçamento concreto” experimental e transdisciplinar entre Psicologia,
Sociologia e Antropologia. Assim, Canevacci (1997, p. 184) defende a publicidade
como “a verdadeira ciência social aplicada”.

2.1 GRAFITE

O grafite pode ser visto por todas as partes, em muros e prédios das grandes
capitais e em pequenas cidades do interior. Suas marcas vão desde um simples
nome, escrito de forma apressada, até um completo e detalhado desenho com a
intenção de criticar a sociedade contemporânea. Segundo Gitahy (1999, p.12), as
marcas deixadas nas superfícies parecem remeter a um antigo impulso e
necessidade de expressão do ser humano. Na mais antiga era da existência
humana, há marcas nas paredes das cavernas possíveis de serem comparadas as
do grafite, pois o homem pré-histórico expressou a sua visão do cotidiano e do meio
em que viveu, utilizando os materiais disponíveis na época, como sucos de plantas e
ossos fossilizados. Contemporaneamente, usa-se tinta spray para representar ideias
e signos.
Baird e Taylor (2011) comentam que os petróglifos são imagens gravadas
diretamente na pedra e também são uma forma muito antiga de registro humano.
Estas figuras são encontradas por todo mundo e podem ter sido utilizadas para
diversas finalidades. Os povos do Mediterrâneo de cerca de dois mil anos também
escreviam em pedras. Na Grécia Antiga, um grafite foi encontrado na localidade de
Éfeso, atualmente Turquia, feito de forma simples. Ele mostra um coração, um pé,
um número e uma cabeça de mulher e acredita tratar-se de uma indicação para um
bordel nas proximidades do local (Figura 1).

FIGURA 1 – GRAFITE GREGO

Fonte: Ephesus-Photo, 2012.


20

O grafite da Roma Antiga foi usado para zombar de políticos, vangloriar as


proezas sexuais do autor ou simplesmente declarar que “Eu estive aqui”, informam
os autores Baird e Taylor (2011). Segundo eles, já existiam provocações e reflexões
filosóficas de todo tipo, assim como se vê ainda hoje nas paredes e portas de
banheiros. As frases e desenhos foram feitos para causar uma resposta, expressam
a opinião do artista, reivindicam territórios ou são simples declarações de amor.
Segundo Gitahy (1999, p. 20), as ruínas da cidade de Pompéia, que foi
coberta pela erupção do vulcão Vesúvio em 24 de agosto de 79 d.C, guardam as
primeiras referências de grafites assim como são conhecidos hoje. Nas escavações,
foram encontradas inscrições em praticamente todos os tipos de edificação com
registros de fatos do cotidiano, feitas por indivíduos ou grupos de populares da
cidade como artesãos, gladiadores ou criadores de animais.
Para Baird e Taylor (2011), o grafite é encontrado na História Antiga por todo
globo. Colocar para fora pensamentos e ideias ou o simples registro de presença
parece ser um impulso humano universal. A tecnologia mudou, mas a natureza
humana continuou a mesma. Mesmo na era moderna, com o advento de trens,
carros, computadores entre outros, pessoas continuaram a escrever seus grafites
nas paredes da cidade.

FIGURA 2 - EXEMPLOS DO SÉCULO XIX E XX DE "SINAIS DE HOBO 2"

Fonte: Levin, 2011.

Os autores relatam que os trabalhadores itinerantes que pegavam os trens de


carga em busca de trabalho usavam o grafite para se comunicar. Seus símbolos não
eram decifráveis para todos. Muitos deles eram analfabetos e também não queriam
suas dicas secretas reveladas (BAIRD; TAYLOR, 2011). Eles deixavam mensagens

2
Hobo é um termo usado para designar um trabalho migratório e também vagabundos, em especial
os pobres e desabrigados. O termo surgiu no Ocidente dos Estados Unidos para identificar esses
trabalhadores viajantes.
21

cifradas em carvão ou giz perto das estações de trens ou debaixo das pontes e
pontos de encontro mais comuns para avisar outros andarilhos sobre algum
policiamento rigoroso em determinada área ou para recomendar bons locais para
pernoitar (Figura 2). E durante as Guerras Mundiais houve o fenômeno “Kilroy
esteve aqui”. Essa frase aparecia, trazendo os apelidos de seus autores, em várias
áreas de guerra, ainda segundo Baird e Taylor (2011). Como as variações “Foo” na
Austrália e o “Chad” no Reino Unido. Até hoje marinheiros e soldados grafitam os
navios e equipamentos bélicos pelo mundo, e o “Kilroy” ainda pode ser encontrado.
Evidenciando os aparatos políticos de controle da comunicação não oficial,
Gitahy (1999, p. 22) traz o exemplo do Muro de Berlim que foi construído em 1961
para separar a comunista Berlim Oriental da Ocidental. O muro permaneceu até
1989, quando foi demolido. A Alemanha finalmente se reencontrou em 1990. No
lado leste do muro, existia uma “faixa de morte” para evitar que as pessoas se
aproximassem da parede para escapar para a liberdade do lado ocidental. Havia
trincheiras, torres e guardas, entre outras defesas. Já no lado oriental, as pessoas
eram livres para se aproximar da parede e o que aconteceu foi uma constante
ocupação do muro com grafites coloridos, transformando-o numa gigantesca tela de
pintura. No lado leste, até a queda do muro, a parede estava intocada (Figura 3).

FIGURA 3 – GRAFITES SOBRE O MURO DE BERLIM (1986)

Fonte: Wikipedia, 2016.

De acordo com Baird e Taylor (2011), o grafite é associado com a cultura hip-
hop que surgiu no Bronx, em Nova York, na década de 1970. Suas diferentes
representações culturais, além do grafite, incluem o rap, o DJing e o breaking que é
praticado pelos b-boys e b-girls. O Tagging é um gênero de grafite e foi popularizado
22

por um grafiteiro autodenominado TAKI 183. Taki era uma abreviação de seu nome
grego Demetraki, e 183 era a rua em que ele morava. Durante as décadas de 1960
e 1970, Taki 183 escreveu sua “tag” em diversas cidades e seu nome ganhou
reconhecimento produzindo imitadores espalhados pelo mundo.

Entre inúmeras ações de protesto, panfletos e jornais, frases curtas e


inteligentes como É proibido o trabalho alienado, É proibido proibir, A
imaginação toma o poder, inscritas nos muros da cidade de Paris,
marcaram a presença de jovens na história do protesto e projetaram para
muitas outras cidades e grupos de jovens a transgressão lúdica de viver a
cidade como espaço de comunicação (RAMOS, 2007a, p. 3).

Os estilos do grafite evoluíram constantemente e artistas de rua como Jean-


Michel Basquiat e Keith Haring tiveram seus trabalhos transformados em peças
valiosas para as galerias de arte. Outro exemplo é o artista contemporâneo
conhecido por Banksy, além de grafiteiro, é pintor de telas, ativista político e diretor
de cinema, e expressa sua arte de rua de forma satírica e subversiva combinando
humor negro e grafite feito com a técnica do estêncil 3. Banksy ficou famoso por sua
ousadia em pintar locais proibidos ao redor do mundo e se posiciona contra a
valorização de suas criações pelo mercado da arte.
Para demonstrar a contemporaneidade e importância desse fenômeno no
cenário artístico, segue um resumo de Farthing (2011, p. 552, 553) elencando os
principais acontecimentos relacionados com o Grafite e a Arte Urbana a partir de
1968, conforme a Tabela 1.

TABELA 1 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS


Ano Principais Acontecimentos
1968 Cornbread e Cool Earl começam a pintar suas marcas em Filadélfia.
1971 Taki183 aparece no New York Times quando a “explosão” do grafite domina
a cidade
1977 Basquiat dá início a seu projeto SAMO (Same Old Shit [A mesma porcaria
de sempre]), com pinturas com tinta spray nas paredes dos prédios de
Manhattan.
1980 Haring cria suas imagens registradas: o Bebê Radiante e o Corredor.
1980- O grupo de arte guerrilha urbana AVANT produz uma série de cartazes de
1984 cola de trigo e os espalham por toda a cidade de Nova York.
1981 O Projeto para as Artes de Washington exibe a obra de Fekner e Fab Five
Freddy na exposição “Arte das Ruas”.

3
Técnica que utiliza moldes vazados em papel ou acetato para reproduzir desenhos ou ilustrações
em qualquer tipo de superfície.
23

Continua.
1984 Blek le Rat pinta ilegalmente o Louvre com estênceis de ratos, tanques de
guerra e figuras humanas.
1989 Fairey dá início à sua campanha artística de adesivos “Andre, o Gigante tem
um Bando”, que foram distribuídos por skatistas e se espalharam pelos
Estados Unidos.
1998 O artista de rua parisiense “Invader” começa a afixar marcas de cerâmica
Space Invader em paredes, pontes, monumentos e estações de metrô. Ele
prossegue marcando 35 cidades.
2000 Espo (Stephen Powers), Reas (Todd James) e Twist (McGee) produzem a
mostra “Marca Indelével” no Instituto de Arte Contemporânea da Filadéfia.
2004 O primeiro festival de arte de rua é organizado em Melburne, na Austrália.
Ele se concentra principalmente na arte feita com estêncil.
2008 A arte de rua enfeita a fachada da galeria Tate Modern, na primeira
exposição londrina de arte urbana.
FONTE: Farthing, 2011, p. 552-553.

2.1.1 Grafite no Brasil

Alex Vallauri é considerado um dos pioneiros do grafite no Brasil e na


segunda metade dos anos 1970 começa a marcar a cidade de São Paulo com
imagens de botas de cano longo e salto alto feitas em estêncil (Figura 4), definindo
uma primeira geração de grafiteiros nacionais, com destaque também para nomes
como Carlos Matuck (Figura 5) e Hudinilson Júnior (Figura 6).

FIGURA 4 - GRAFITE DE FIGURA 5 - GRAFITE DE FIGURA 6 - GRAFITE DE


ALEX VALLAURI CARLOS MATUCK HUDINILSON JÚNIOR

Fonte: Martins, 2013. Fonte: Moraes. Fonte: Patrocínio, 2015.

A partir de 1980, o movimento hip-hop e o grafite começaram a chegar com


força ao Brasil, principalmente por meio da moda.

No Brasil, esse estilo só não invadiu o metrô. O DJ Hum, Thaíde e outros


precursores do rap, antenados com esse movimento, costumavam
encontrar-se na estação São Bento do metrô. Ali, dançavam e curtiam som.
Renato Del Kid e os Gêmeos são, entre outros, dessa fase (GITAHY, 1999,
p. 46).
24

Os Gêmeos 4, Gustavo e Otávio Pandolfo, nascidos em 1974, têm forte


influência na cena paulistana e colaboraram para criar um estilo brasileiro de grafite.
Na época, a tinta spray era muito cara, então apenas parte dos desenhos era feita
em spray e o restante era feito com tinta látex (Figura 7). Os irmãos já grafitaram em
diversos países como Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Cuba, entre
outros. Seus temas incluem críticas sociais e políticas. Em 2008, juntamente com o
grafiteiro Nunca (Figura 8), pintaram a fachada do museu britânico de arte moderna,
o Tate Modern em Londres.

FIGURA 7 – GRAFITE FIGURA 8 – GRAFITE


DOS OSGEMEOS DO NUNCA

Fonte: OSGEMEOS, 2008. Fonte: Designwars, 2012.

Moriyama e Lopez (2009) apresentam dez brasileiros grafiteiros expoentes da


atualidade, considerados da quarta geração do grafite; são eles: Boleta, Chivitz,
Highraff, Nove, Nunca, Paulo Ito, Prozak, Ricarko Akn, Titi Freak e Zezão.
Pesquisando em sites e redes sociais dedicadas ao grafite podemos encontrar mais
nomes como Eduardo Kobra, Binho Ribeiro, Speto, Crânio, e muitos outros que têm
realizado trabalhos de grande visibilidade no Brasil e no exterior.
Pichar ou grafitar com ou sem autorização era crime, de acordo com o artigo
65 da Lei 9.605 de 1998, com pena de detenção de três meses a um ano. Em 2011,
uma alteração na Lei 12.408, descriminalizou o ato de grafitar desde que consentido
pelo proprietário ou órgão competente, reclassificando o grafite como manifestação
artística. Na prática, pichar ou grafitar sem o consentimento do proprietário é crime
passível de detenção e multa e, nesse caso, pichação e grafite são exatamente a

4
Também é encontrada a grafia OsGemeos como referência à dupla de irmãos grafiteiros.
25

mesma coisa perante a lei, um crime. Pela lei, se a pessoa tem autorização para
pintar o muro é grafite, se não tem, é pichação.

No Brasil, costuma-se estabelecer uma diferença conceitual entre o grafite e


a pichação. Não há, entretanto, parâmetros objetivos para a distinção entre
uma forma e outra. Ambas utilizam basicamente as mesmas técnicas de
execução, os mesmos elementos de suporte e podem conter algum grau de
transgressão. Ambas tendem a alimentar discussões acerca dos limites da
arte, sobre arte livre, liberdade de expressão, mas também sobre crime,
violência, disputas de espaço e transgressões (ENDO, 2009, p.7).

Todas essas formas de grafite, ou de pichação como se faz referência no


Brasil, continuam a coexistir nos muros das cidades, mas o grafite é mais aceito e
tolerado pela sociedade e pelo governo por estar associado ao movimento de arte
urbana 5 e ter artistas figurando o cenário internacional, mesmo que muitos deles
tenham iniciado ou pratiquem até hoje a pichação. Como exemplo, cita-se a
“mistura” de pichação e grafite da dupla Os Gêmeos, em que foi apagada pelas
equipes de limpeza da Prefeitura de São Paulo apenas a mensagem “Vinagre é
crime” que estava escrita “na forma” de pichação (Figura 9). O fato ocorreu durante o
período das manifestações populares de junho de 2013, no Brasil.

FIGURA 9 - PICHAÇÃO DOS ARTISTAS OSGEMEOS

Fonte: Veja São Paulo, 2013.

5 Arte Urbana ou street art é uma expressão que se refere a manifestações artísticas desenvolvidas
no espaço público, distinguindo-se das manifestações de caráter institucional ou empresarial, bem
como do mero vandalismo (FARTHING, 2011, p. 552-553).
26

Em nota, a Prefeitura alegou um equívoco na identificação da intervenção,


confundindo a frase como uma pichação que não fazia parte da obra.
Posteriormente, os autores picharam no mesmo lugar o artigo 5º. da Constituição
Federal: "É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença".
Mesmo sendo grafite, o desenho também foi feito sem autorização. Portanto é
ilegal e criminoso, de acordo com a lei. Por esse exemplo, fica clara a estreita
relação e confusão entre grafite e pichação que há no país e que foi demonstrada
pela dupla Os Gêmeos na intervenção e em outras nas quais protestavam contra as
ações da lei Cidade Limpa 6 que existe em São Paulo e que será abordado no
Capítulo 3 desta dissertação.

2.1.2 Linguagem em mutação

A pesquisa de Gaggero et al (2002) identificou como características do grafite:


anonimato, ilegalidade, sem receptor determinado, efêmero, sem censura prévia,
imagens e textos, universal-particular; e suas funções: informar, marcar territórios e
criar alternativas. É possível perceber que algumas dessas características estão em
processo de modificação. O anonimato, por exemplo, vem sendo substituído pela
exposição midiática, com grafiteiros aparecendo com frequência em jornais e
programas de TV dando entrevistas sobre a sua arte.
Outra característica que está mudando, relacionado à legalidade, é o
posicionamento das autoridades, como é possível constatar na notícia “Grafite da
dupla Osgemeos em viaduto é apagado pela prefeitura 7” publicada pelo jornal Folha
de São Paulo em 19 de dezembro de 2013. O episódio ocorreu na cidade do Rio de
Janeiro. Após a prefeitura carioca ter reconhecido que funcionários da Companhia
Municipal de Limpeza Urbana – Comlurb – apagaram de forma equivocada o grafite,
o prefeito da cidade Eduardo Paes telefonou à dupla de grafiteiros pedindo
desculpas e garantiu não apagar os demais trabalhos. A descriminalização do grafite

6
A lei Cidade Limpa, em vigor desde janeiro de 2007, regulamenta as formas de anunciar no espaço
urbano na cidade de São Paulo, proibindo a colocação de anúncios publicitários em imóveis públicos
ou privados e banindo o outdoor da paisagem da cidade. Foi decretada pelo então prefeito Gilberto
Kassab.
7
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/12/1387710-grafite-da-dupla-osgemos-
em-viaduto-e-apagado-pela-prefeitura.shtml>. Acesso em: 24 jul. 2016.
27

também diminui a repressão do grafite ilegal e muitos grafiteiros atuam durante o dia
em muros sem autorização, sem serem perturbados pela polícia.
Para Campos (2008, p. 4), o que era para ser efêmero, ficar exposto à ação
do tempo e durar algumas semanas ou meses, vem sendo registrado em fotos,
livros e documentários. Cai na rede, vira postagem em redes sociais e, de certa
forma, eterniza-se e perpetua, voltando a aparecer nas redes de tempos em tempos.
O controle talvez seja menos perceptível, mas é possível imaginar que quando uma
prefeitura ou instituição cede um espaço e recursos financeiros para pintura de um
mural, o grafiteiro deva alguma deferência ao seu financiador, inibindo uma crítica
mais direta, o que poderia ser caracterizado como um tipo de censura prévia.
Bourdieu e Passeron (1982, apud ALMEIDA, 2005) que empreenderam
estudos pioneiros sobre a sociologia das práticas de cultura, relacionam esses
estudos à necessidade humana de produzir sentido e estabelecer relações com
seus grupos. Para eles, a construção social da realidade 8 é fundamentada nas
articulações de sentido que os indivíduos estabelecem uns com os outros. As
práticas de cultura são espaços de diálogo entre o indivíduo e a sociedade através
de uma multiplicidade de símbolos e valores atribuídos a eles ao longo da história. A
dialética da produção, reprodução e renovação da ordem é própria da realidade do
social, e o jogo entre a manutenção ou subversão das estruturas sociais de
dominação é objeto de estudo da sociologia no qual a mídia desempenha um papel
catalizador na circulação dos discursos de hegemonia.
Campos (2012) considera que o grafite é uma atividade que está à margem e
não institucionalizada e, por isso, goza da liberdade dos impedimentos burocráticos
e dogmáticos. O autor também defende que o grafite é uma prática essencialmente
realizada por jovens, enquadrada dentro dos estilos de vida juvenis que, com a
democratização e expansão de tecnologias de comunicação e produção de
conteúdos, foram prontamente assimilados desencadeando novos fenômenos como
as comunidades virtuais. Destaca o potencial mobilizador da internet para o
ativismo 9, resistência e reivindicação política e ideológica, fora do controle das
instâncias do poder. A capacidade de ocupação de um campo de visibilidade, seja
8
O conceito de construção social da realidade se encontra na obra de Berger e Luckman. Emprega-
se na presente dissertação a partir do livro BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A Construção Social da
Realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
9
PRIMO, A. Interações Mediadas e Remediadas: controvérsias entre as utopias da cibercultura e a
grande indústria midiática. In: Alex Primo. (Org.). Interações em rede. Porto Alegre: Sulina, 2013, p.
13-32.
28

na cidade, em seus corpos, vestimentas e gestos quanto na rede, é algo que os


jovens têm aperfeiçoado e, com o potencial da internet, a plateia se torna universal.
Portanto, hoje o grafite e a pichação não estão restritos ou são feitos apenas
pensando na exposição da parede, mas também em estratégias de exposição
online, produzindo e divulgando conteúdos associados a uma atividade de criação
cultural.

2.2 PICHAÇÃO

A palavra “pichação” vem do inglês pitch, que é o nome de uma resina


grudenta feita da destilação do alcatrão ou do petróleo. Em português, o pitch virou
“piche” e o ato de pichar ganhou novos sentidos. Segundo Gitahy (1999, p. 21),
“vários são os significados da pichação: ação ou efeito de pichar; escrever em muros
e paredes; aplicar piche em; sujar com piche; falar mal [...]”. No final dos anos 1970,
surge a pichação no Brasil. Além de frases de protesto, também eram encontradas
frases bem-humoradas e enigmáticas, como: Celacanto provoca maremoto,
referente ao monstro pré-histórico do seriado japonês National Kid, e o Cão Fila KM
22, que dizia respeito a um criador de uma raça de cães, utilizando a silhueta desse
cão grafitada junto à frase.
Em meados dos anos 1980, jovens da periferia de São Paulo, reproduzindo a
tipografia gótica usada nas capas de disco de punk e heavy-metal, criaram seu estilo
próprio e mais popular, chamado de pichação reta (Figura 10), que é caracterizado
pelas letras longas, retas e pontiagudas.

FIGURA 10 - TAG RETO

Fonte: Medeiros, 2014.

As palavras “pichador”, “pichação” e “pichar” também podem ser observadas


com as grafias “pixador”, “pixação" e “pixar”. Essa alteração, propositalmente fora da
29

norma, é justamente um modo de identificar a pichação como pertencente a um


movimento, um período.

Nas ruas de São Paulo existe um tipo específico de pichação, denominada


pixação, com "x". O pixador, em alguns casos, atua sozinho, em outros, se
une a grupos em que todos pixam o nome da gangue, competindo por
visibilidade e valorizando intervenções realizadas sob condições de alta
dificuldade, fazendo o uso de ferramentas como o spray e rolo de espuma
(LASSALA, 2010, p. 34).

Lassala (2010, p. 34) diferencia a Pichação como está no dicionário do


fenômeno posterior, a Pixação, em que a “atuação de indivíduos e gangues,
grafando seus nomes, fazendo uso de símbolos, pseudônimos e logotipos” iniciando
uma disputa pela criação da tipografia e logotipo, o número de pichações realizadas
e a dificuldade na sua execução, ou seja, com regras, estéticas e códigos próprios.
Como fenômeno mais recente, surgiu também Grapicho ou Grapixo (Figura 11), que
consiste em uma pichação mais elaborada, com duas ou mais cores e pode ser
usada para despistar a polícia com o argumento de ser grafite ou arte de rua e se
assemelham às assinaturas dos grafiteiros de Nova York no final dos anos 1970,
borrando ainda mais as distinções que se faz entre grafite e pichação no Brasil.

FIGURA 11 - GRAPIXO

Fonte: Graffiti R.U.A., 2011.

Spinelli (2007, p. 115) define que o caráter ilegal da prática marginaliza tanto
a pichação quanto o pichador, que são considerados transviados por estarem
ligados a uma subcultura que não participa da corrente ocupacional, religiosa ou
política principal, sofrendo o estigma da sociedade elitista, que não vê com bons
olhos a invasão da periferia, e quer se ver livre dos “marginais” e da sua “poluição
visual”.
30

As marcas no corpo do pichador podem ir muito além da sujeira da tinta nas


roupas e nas mãos, Goulart et al (2016) divulgaram um vídeo pelo site do jornal O
Globo, no qual três jovens grafiteiros foram torturados no Rio de Janeiro por
supostos seguranças da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da
Alfândega (Saara). Os jovens, que voltavam de um evento de grafite, haviam pedido
autorização para um segurança para pintar no local, mas foram surpreendidos pelos
agressores que filmaram toda ação que acabou caindo na internet.

No aspecto físico, o corpo do pichador é marginalizado quando ostenta


sinais da atividade, como roupas e mãos sujas de tinta. O pichador pode
também ser alvo de violência física, quando na mira de tiros disparados por
moradores indignados com “esses marginais”, ou da violência policial, se
preso durante a ação na madrugada da cidade. No sentido moral e cultural,
a sociedade não observa com bons olhos o jovem que picha, é visto como
delinqüente, e também é alvo de fofoca na vizinhança e objeto de
preocupação dos pais com a desvalorização dos “bons costumes”
(SPINELLI, 2007, p. 115).

A agressão contra grafiteiros e pichadores por parte de polícias, guardas


municipais ou qualquer tipo de segurança deve preocupar o cidadão, pois viola o
Estado de Direito que prevê a igualdade entre todas as pessoas perante a lei,
transformando a rua em um tribunal. Combater a pichação com tortura e humilhação
também se configura em crime. Para Spinelli (2007, p.112), “publicidade e pichação
podem ser entendidas como ‘frases’ que estimulam os sentidos com surgimentos e
cortes bruscos, inferidos pelos ritmos da cidade, em uma leitura constante da
aparência urbana”. Argumentando que o transeunte é alvo desses estímulos e
destacando que a pichação se apropria das estratégias comunicativas da
publicidade, buscando um público-alvo, produção de alfabetos visuais, seleção de
cores e espaços de maior visibilidade podendo ser interpretadas partindo do “modelo
comunicativo da publicidade”.

O modelo comunicativo da publicidade é o resultado complexo de muitas


linguagens parciais fundidas numa síntese suja, por assim dizer. Com
efeito, o emissor seleciona algumas linguagens entre outras, enquanto o
destinatário traduz o todo com uma sensibilidade que varia com base
naquelas características, próprias de cada camada de público, que se
diferencia de possuir ou não os novos alfabetos visuais (CANECACCI,
2001, p.155).

Para Spinelli (2007, p. 119), a sociedade e o Estado aceitam melhor a


produção do grafite, pois valorizam mais o caráter estético do que está exposto na
31

parede, simplificando a discussão numa dicotomia entre o grafite colorido e belo e a


pichação, que é monocromática e suja, sem considerar a intencionalidade da ação.
A publicidade reitera a linguagem da pichação quando incorpora seu “estilo de letra”
na criação de suas peças, sendo que ambos podem ser vistos também como
agentes de uma “poluição visual” que sobrecarrega o indivíduo com informações em
demasia.

2.3 PUBLICIDADE E PROPAGANDA

Santos (2005, p.15) inicia seu livro Princípios da Publicidade definindo os


termos publicidade e propaganda que, de acordo com o autor, são usados “ora
como sinônimos, ora com significados diferentes”, pois no uso corrente da língua
portuguesa “as duas palavras podem se referir à atividade de planejar, criar e
produzir anúncios”, não havendo norma que discipline a utilização destes termos
mesmo nos textos que regulamentam a profissão.
Neste texto, optou-se pelo uso das duas palavras como sinônimos, mesmo
que a publicidade implique no processo de planejamento, criação, produção,
veiculação e avaliação de anúncios pagos e assinados, intencionando que o
receptor entre em ação para, por exemplo, comprar um produto ou serviço, e a
propaganda tenha a intenção de mudar o comportamento das pessoas em relação a
uma ideologia, mas que, muitas vezes, se utiliza das mesmas ferramentas que a
publicidade, mesmo que sem a intenção de uma ação imediata.
Assim como alguns grafites podem conter uma mensagem de caráter
ideológico, suscitando do receptor questionamentos sociais, éticos e morais e a
revisão de conceitos e comportamentos, a longo prazo, pois fazem pensar sobre,
uma pichação pode intencionar uma reação mais imediata, como na pichação
“Abaixo a Ditadura” (1968) durante a ditadura civil-militar brasileira.
Em razão desses paralelos de intencionalidade e urgência entre
publicidade/propaganda e pichação/grafite, dentro do enfoque deste texto, os termos
serão usados como sinônimos, pois acredita-se que tanto o termo publicidade,
derivada de público, (do latim públicus), quanto o termo propaganda, derivada do
latim propagare, atualmente compartilham veículos e técnicas que podem tanto
promover um produto comercial como divulgar crenças e ideias.
32

O surgimento das classes mercantis e comerciais, a descoberta de novos


mundos e, mais tarde, a Revolução Industrial, fez com que a Igreja Católica
perdesse seu monopólio na propagação de ideias. Com isso se tornou uma
atividade peculiar a vários tipos de organizações econômicas, sociais e
políticas (PINHO, 1990, p.20).

Segundo Graf (2003, p.17), com a chegada de D. João VI ao Brasil, a


abertura dos portos, em 1808, a liberação de importação de mercadorias,
principalmente dos produtos ingleses, trouxe a modernidade da Europa com a
criação da Escola de Medicina da Bahia, da Imprensa Régia, do Banco do Brasil,
entre outras instituições que moldaram o comportamento social e cultural da
população. Em 1810 começa a circular o dinheiro de papel e é lançado o primeiro
jornal – Gazeta do Rio de Janeiro – onde apareceram os primeiros anúncios do tipo
“classificados”.
Em 1860, apareciam os primeiros painéis de rua, bulas de remédios e
panfletos de propaganda. Quinze anos mais tarde, vieram os anúncios ilustrados
com desenhos em litogravura e logotipos (100 ANOS DE PROPAGANDA, 1980, p.
3). A paisagem urbana da atualidade é repleta de informações e elementos visuais,
e nesse espaço, a propaganda e o grafite coabitam, nem sempre de forma
harmoniosa. Assim como a publicidade cria e divulga suas marcas, também o
grafiteiro cria a sua identidade visual e a reproduz repetidamente pela cidade em
busca do reconhecimento. Enquanto o logotipo está nos outdoors e cartazes, o
grafiteiro “bombardeia” muros e fachadas. O gigantismo da propaganda, em busca
da visibilidade, vai além do outdoor e ocupa laterais inteiras de prédios, assim como
o grafite ocupa laterais de prédios e muros calculados em quilômetros, pintados por
grupos em produções colaborativas. A assinatura do grafite, o estilo característico de
suas produções, pode, em certa medida, também ser considerado um exercício de
propaganda.
Os estudos culturais contribuíram para o mapeamento das relações da
publicidade com o mundo social, superando uma visão dicotômica baseada
puramente na defesa ou na crítica de seu poder de manipulação. Em uma busca
capaz de abranger a complexidade das relações da publicidade com o mundo social,
autores como Williams (1995) e Escosteguy (1999, 2001), pensaram a comunicação
a partir da cultura em termos de processos e práticas culturais, enfatizando as
práticas, os processos de produção e recepção e não apenas os textos e
representações veiculados pelos meios.
33

Hall (2003) desenvolveu a noção de “articulação” para abordar as relações de


determinação e pensar a cultura ligada à ideologia e as práticas partindo das
condicionantes impostas pela estrutura, num processo de criação de conexões
formados pela contextualização do objeto de análise. A importância do ensaio
“Encoding/decoding” (1980) foi vital para uma abordagem da publicidade que
contemple os fatores materiais e culturais ou simbólicos, articulando o discurso a
outras forças sociais que possibilitaram analisar as ambiguidades e contradições nas
relações dos sujeitos em suas práticas sócio-culturais.
A hierarquia das forças econômicas, políticas e culturais são fatores chave
para compreender a natureza circunstancial da publicidade, e o modo de produção
capitalista tem orientado e impulsionado essa atividade desde a revolução industrial,
conforme Williams (1995, p. 321-336), e vindo a se tornar, no século XX, uma das
importantes fontes financiadoras da área de comunicação, viabilizando os jornais e a
televisão e passando a fazer parte do cotidiano dos sujeitos e das instituições.

A articulação das forças econômicas, políticas e culturais no contexto da


publicidade não remete a uma combinação igualitária dessas forças, mas a
um processo de determinação recíproca em diferentes graus, dada a
hierarquia existente nas relações entre essas forças e a natureza
contemporânea dessa forma de comunicação. Assim, é tarefa do
pesquisador explorar teórica e empiricamente essa articulação e identificar
as distinções entre as práticas que compõem a relação global da
publicidade com o mundo social (PIEDRAS; JACKS, 2005, p. 206).

Para abarcar a pluralidade das relações da publicidade com o mundo social é


preciso lançar mão de uma variedade de autores e perspectivas diversas, áreas
como a economia política e a linguagem, devido a sua característica multifacetada, é
preciso tomar cuidado, como alerta Primo (2013), pois muito dos “novos” conceitos
na comunicação da cibercultura em tempos de convergência não se concretizaram e
estão situados ainda no terreno das utopias.
Primo (2013, p.15) questiona se a luta pela democratização dos meios de
comunicação foi realmente alcançada refutando as sedutoras análises simplistas
como “indústria versus audiência, celebridades versus fãs, produtos culturais
massivos (maus) versus produção independente (boa e autêntica)” pois elas ocultam
a complexidade das inter-relações da estrutura midiática. Sem negar as
transformações promovidas pela cibercultura na estrutura midiática contemporânea,
34

a comunicação de massa segue nas mãos das grandes organizações, hábeis em se


adaptar as mudanças.

Não apenas os movimentos sociais souberam utilizar as novas mídias para


fins comunitários, comunicacionais e de resistência, como também o próprio
mercado percebeu que poderia incorporar a colaboração on-line em suas
estratégias informacionais, promocionais e de venda (PRIMO, 2013 p.17).

O sistema capitalista se reajusta incorporando a força dos Blogs, Vlogs,


Twitter, um universo que criou suas próprias celebridades, em busca de seguidores,
fama e da fonte de renda que essa audiência pode proporcionar. A convergência
contempla tensões e controvérsias para além da integração entre diferentes
tecnologias.
35

3 CONFLITOS E APROPRIAÇÕES
“Poesia pichada – uma flor nasceu na rua”.
Paulo Leminski

Canclini (2006) discute as mudanças que a globalização provocou no


consumo, em especial, nos países latino-americanos. As relações entre cidadania-
globalização-consumo são exemplos de como o “novo” cidadão tem acesso a uma
diversidade de produtos culturais que enfraquecem as referências e influências
nacionais modificando as formas de consumir cultura, modificando a percepção de
pertencimento de nação e da própria construção da identidade. A perspectiva da
cidade e do espaço urbano ganhariam destaque em detrimento aos aspectos ligados
à Nação, ocasionado um reordenamento dos atores políticos, por meio do qual os
hábitos culturais de consumo influenciam em nossa condição como cidadãos.
Os meios de comunicação de massa fornecem conteúdos que não estão
ligados ao território ou nação daquele cidadão, são “universais” e visam o maior
público possível. O autor considera que a cidadania e o consumo devem ser
abordados como processos culturais e discorda da homogeneização da cultura
como efeito colateral da globalização, trazendo o termo “glocalize” para indicar que a
cultura local adapta o que consome e produz, do local, do nacional e do
internacional. Apesar de notar que o consumidor tem um pensamento cada vez mais
“transnacional” (CANCLINI, 2006).
Essa questão está presente na propaganda, Penteado (2013) noticia que a
empresa Coca Cola lançou sua campanha publicitária para a Copa do Mundo 2014
que ocorreu no Brasil e todo visual da campanha foi criado pelo grafiteiro Speto
(Figura 12), que tem um estilo de arte que remete as xilogravuras da literatura de
Cordel feitas no Nordeste do Brasil. Davidovich, vice-presidente e gerente-geral da
Coca-Cola Brasil, explica essa escolha “Queríamos valorizar a arte de rua, que
também é inclusiva”. De acordo com a notícia, a narração do filme publicitário foi do
compositor tropicalista Tom Zé, que sofreu várias críticas de seus fãs e acabou
doando o cachê, além de compor a canção Tribunal do Feicebuqui, em que usa os
xingamentos recebidos pela rede social.
36

FIGURA 12 – ARTE DO GRAFITEIRO SPETO


PARA A COCA-COLA

Fonte: Penteado, 2013.

Nas grandes cidades da América Latina, Canclini (2006) nota uma “polifonia
caótica” em que, à medida que cresce o consumo dos meios de comunicação, são
deixados de lado os espaços urbanos como praças e igrejas, sugerindo que novas
políticas culturais sejam pensadas nesse contexto: pensar a heterogeneidade das
cidades (adaptadas a cada zona, estrato econômico, grau de escolaridade, faixa
etária) como algo democrático; levar em conta a variedade de necessidades da
população já que a mesma cidade que massifica os comportamentos, oferece uma
variada oferta de bens simbólicos; promover a cultura tradicional vinculada às novas
condições de internacionalização.
O grafiteiro Banksy faz uma crítica a esse sistema, em que apenas a elite
tecnológico-econômica deteria as decisões, transformando os indivíduos em meros
“clientes”. Bansky procura exemplificar as sensações de diminuição frente aos
garotos e garotas propaganda que vivem com status, afastando o cidadão do
mercado de consumo. Para o grafiteiro, anunciantes debocham dos sujeitos.

Marcas registradas, direitos de propriedade intelectual e leis de direitos


autorais significam que Os Anunciantes podem dizer o que bem
entenderem, onde bem entenderem, impunemente. Tamanha intimidação.
Qualquer anúncio em espaço público não lhe dá opção de que aquilo que
você vê serve ou não para você. Serve sim para você apropriar-se,
rearranjar e reutilizar. Você pode fazer o que quiser com isso. Pedir
permissão é o mesmo que pedir para manter o embalo a alguém que
manipula sua cabeça. Você não deve nada às corporações. Você não lhes
deve especialmente nenhuma reverência. Elas têm rearranjado o mundo
para porem-se bem à sua frente. Elas nunca pediram sua permissão, nem
pense em começar a pedir pela delas (BANKSY, 2005, p.160).
37

Ao analisar a comunicação urbana de São Paulo, Canevacci (1997, p. 17-18)


orienta sua metodologia para um “perder-se na cidade”, usando o conceito de
“polifonia” que privilegia a análise de uma comunicação que ele define como sendo
“do tipo dialógico e não unidirecional”, e lança mão de abordagens múltiplas para dar
conta desse ambiente complexo e dos indivíduos que nele habitam. Tanto as ideias
de Canclini como de Canevacci encontram ressonância na fala do grafiteiro Banksy,
o primeiro relata o domínio dos meios de comunicação orientados para o consumo e
a falta de democracia no uso espaços comuns, o segundo privilegia o conflito e a
luta dos códigos como principal método de apreensão da realidade.
Canevacci (1997, p. 23) argumenta que esses panoramas devem ser
interpretados pelo pesquisador para que deles se extraiam e se explicitem seus
discursos.

Neles não se desenvolve somente a neutralidade indiferente dos códigos a


serem interpretados como frequentemente se pensa; pelo contrário, dentro
deles se manifesta o conflito, ou pelo menos um dos conflitos mais
significativos da nossa sociedade contemporânea, o que não quer dizer que
todos os outros conflitos – especialmente os de classe, sexo e etnia – sejam
anulados ou superados. Significa que a atual sociedade da comunicação
exprime os próprios conteúdos conflituais também através da competição
dos signos, do crescente processo de dessimbolização, da luta dos códigos
e dos status, que envolvem todos os outros âmbitos da sociedade
contemporânea (CANEVACCI,1997, p. 23).

Benjamin (2000) preocupou-se com a “escrita da cidade” e nas


transformações na recepção dos textos de uma experiência urbana coletiva, em que
outdoors, anúncios, folhetos e luminosos impõem um modo de leitura acrítica e
distraído, propondo uma utilização do espaço urbano como suporte textual onde o
escritor engajado precisa atuar de forma subversiva.
Fonseca (2016) conta, em entrevista, que a jornalista e poeta Giovanna Lima,
que reside atualmente em Curitiba, ganhou notoriedade por pichar suas frases e
poemas pela cidade. Entre seus temas está o feminismo. A pichação “Paredes em
branco não lutam contra o machismo” é justificada pela autora que acredita que toda
forma de acabar com o machismo é válida. A reportagem entrou em contato com a
prefeitura, que alertou, em nota, para a natureza criminal da ação e sugeriu que
Giovanna Lima participasse das diversas ações e projetos culturais, que reservam
espaços regulamentados para esse tipo de expressão.
38

Certeau (1995, p. 45, grifos do autor) parte do pressuposto que relações


sociais é que determinam o indivíduo, suas práticas, suas “maneiras de fazer”, de se
reapropriar do espaço organizado pelas técnicas de produção sócio-cultural,
configura uma “cultura popular” baseada em consumos combinatórios e utilitários do
cotidiano. Tem a cidade como espaço de escrita e reescrita cotidiana por parte de
seus habitantes, “Como nas sepulturas e nas pinturas pré-históricas, essa escritura
traz um discurso imaginário em imagens dos sonhos e da repressão de uma
sociedade”. O grafiteiro que escreve na cidade é movido por um estímulo de
comunicação baseado na lógica da publicidade de massa, deixando sua marca
visível de forma subversiva.
Segundo Serres (2011, p. 9), o vocábulo prope, que significa tanto limpo
quanto próprio e apoiando-se na etologia, ciência que estuda o comportamento
animal, descreve que assim como demais animais, o ser humano “suja” para se
apropriar do espaço. Assim como cuspir num alimento torna-o repugnante para os
outros, um logotipo suja o objeto onde ele está impresso. O que é limpo é o
inapropriado, o sem proprietário, assim como um quarto limpo de hotel, já a sujeira é
marca da apropriação, que o autor define como uma sujeira dura, o sangue, a urina,
os corpos enterrados no solo.
Existe uma mudança da apropriação dura, animal, etológica, fisiológica e
orgânica para outra suave e cultural dos signos. Assim, o território vira a página e o
dejeto suaviza-se em assinatura de palavras e imagens que podem ser tão
poluidoras quanto as antigas formas de apropriação. Consumidores viram locatários
de suas casas, carros e produtos, mas na verdade são as empresas e governos
seus reais proprietários, com suas taxas, impostos e mecânicas de obsolescência
programada, que garantem que enquanto se esteja vivo, tenha-se contas para
pagar. Serres alerta que não se pode separar a poluição dura da suave.

Só sabemos falar de poluição em termos físicos, quantitativos, ou seja, por


meio das ciências duras. Mas, não, é precisamente de nossas intenções
que se trata, de nossas decisões, de nossas convenções. Em suma, de
nossas culturas (SERRES, 2011, p. 81).

De acordo com o autor, é necessário libertar-se do sujo sentimento de


propriedade, sem se impor como donos e senhores da natureza, assumir uma
posição de não propriedade e deixar a menor marca possível na passagem do ser
humano pelo mundo. No que se refere ao conflito entre publicidade e pichação,
39

reforça sua aversão ao “tsunami” de escritos, signos e logotipos que a publicidade


produz e coloca-se no lado do pichador, descrevendo um possível diálogo entre o
publicitário, “honrado”, “legal”, “dominador”, “contribuinte” e o pichador, “revoltado”,
“banido”, ”suburbano”, que muitas vezes e levado à justiça. A publicidade não
precisa de defesa, pois a sociedade, o direito e os costumes se decidem em
unanimidade pelo dinheiro. “No tribunal, é o rico que vai ganhar. Vindo do subúrbio –
do lugar de banimento –, é o outro que fala em meu livro. Escrevo-o expressamente
para a geração seguinte. Minha página, minha pichação de raiva” (SERRES, 2011,
p. 74).
À exemplo de Canclini (2006, p. 17-18), nos próximos itens serão
apresentados casos significativos em que a propaganda, o grafite e pichação estão
imbricados em situações de conflitos e/ou apropriações.

a) Eduardo Srur: Atentado


O artista visual Eduardo Srur é conhecido por suas intervenções urbanas,
mas ele já circulou pela pintura, fotografia, escultura, vídeo e performance e, em seu
site, uma breve biografia define o seu trabalho atual.

Suas obras se utilizam do espaço público para chamar a atenção para


questões ambientais e o cotidiano nas metrópoles, sempre com o objetivo
de ampliar a presença da arte na sociedade e aproximá-la da vida das
pessoas. A cidade é o seu laboratório de pesquisa para a prática de
experiências artísticas. O conjunto de trabalhos de Srur é uma crítica
conceitual que desperta a consciência e o olhar para uma nova estética e o
entendimento das artes visuais (SRUR, 2016).

FIGURA 13 – ATENTADO DO EDUADO SRUR

Fonte: Srur, 2016.


40

Em suas ações, Srur (2016) circula pelo universo da ilegalidade, como na


ação Atentado (Figura 13) em que ele explode balões de tinta “desfigurando”
outdoors publicitários.

Os ataques, além de uma crítica à especulação publicitária, são


interferências estéticas, já que as cores e as imagens são previamente
combinadas. As ações, sempre subversivas, são uma resposta ao
bombardeio visual da mídia na paisagem urbana (SRUR, 2016).

No universo da legalidade, Srur produz intervenções para agências de


publicidade por meio de sua empresa Attack Intervenções Urbanas, comercializando
sua expertise de artista de rua para produzir campanhas publicitárias na forma de
intervenções urbanas. O artista relata que não vê problema em suas estratégias de
intervenção serem autorizadas e negociadas com os poderes públicos e a iniciativa
privada. Para Ezabella (2008), “são empreendimentos grandes, que exigem dinheiro,
pessoas profissionais. Não vejo problema algum em estar associado a instituições
culturais que banquem minhas ideias. O sistema está aí para nos servir”.
Entre as empresas que já realizaram trabalhos de intervenção criados com a
Attack de Eduardo Srur estão a Johnson & Johnson, o Carrefour, Itaú Cultural,
Centro Cultural Banco do Brasil, e agências como Almap BBDO, M&C Saatchi e
F&Q. Srur é um exemplo de artista que usa o conflito entre o legal e o ilegal para
produzir intervenções urbanas.

b) Grafiteiro usa Drone para pichar outdoor


À medida que a repressão contra o grafite ilegal vai ganhando novas
tecnologias como as câmeras de vigilância, o vandalismo cria formas inovadoras de
burlar as regras. Esse é o caso do experimento que o grafiteiro norte-americano
denominado KATSU vem testando e divulgando na internet. Segundo O Globo
(2015), KATSU conseguiu, com sucesso, pichar um imenso outdoor da empresa
Calvin Klein em Nova York, localizado na esquina das ruas Houston e Lafauette, no
SoHo (Figura 14). Foi a primeira vez que se teve notícia do uso de drones para essa
finalidade, o grafiteiro documentou a ação e comemorou o seu sucesso em
entrevista para a revista de tecnologia Wired.
41

FIGURA 14 – GRAFITE DO KATSU

Fonte: O Globo, 2015.

Ao acoplar um spray em um drone surge uma nova e poderosa ferramenta,


que permite acessar e pintar lugares altos, com muitos metros de altura, controlados
remotamente, ou seja, sem a necessidade da presença física do grafiteiro. Além da
possibilidade de programar o aparelho para realizar desenhos de forma autônoma
na parede. Segundo Michel (2014), Katsu foi um dos primeiros a usar extintores de
incêndio modificados como grandes latas de tinta spray de longo alcance. KATSU
fez parte do coletivo Free Art and Technology (F.A.T LAB) que mistura hackers e
artistas em causas de ativismo social como software livre, monopólios de direitos
autorais e intelectuais, ou seja, é um grafiteiro que segue a ética hacker.

c) Lei Cidade Limpa


O confronto de questões estéticas entre o poder público e os artistas
grafiteiros da cidade de São Paulo está presente como pano de fundo no
documentário “Cidade Cinza” (2014). Sob a perspectiva da comunicação como
experiência estética, Valverde (2010, p. 63) conceitua “Antes de ser uma troca de
mensagens, a comunicação é uma comunhão sensível, pela qual compartilhamos
formas, sentidos e valores, que nos antecedem e nos constituem”.
De um lado está o poder público, que em nome do “bem comum”, lança mão
da Lei nº 14.223 de 26 de setembro de 2006, chamada de Lei Cidade Limpa,
promulgada pelo prefeito Gilberto Kassab, e resumida da seguinte forma no site da
prefeitura de São Paulo:

A Lei Cidade Limpa significa a supremacia do bem comum sobre qualquer


interesse corporativo. Sua aplicação permitirá a São Paulo diminuir a
poluição visual que há tantos anos prejudica nosso bem-estar e promover
uma melhor gestão dos espaços que, por concessão pública, poderão ter
42

mobiliário urbano com propaganda. Mais do que um texto com proibições, a


lei é um meio para tornar São Paulo ao mesmo tempo mais estruturada e
acolhedora (PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014).

Por ordem das subprefeituras, foram montadas equipes de “serviços de


pintura e recuperação de superfícies pichadas” que saem todos os dias para as ruas
à procura de superfícies pichadas que são cobertas de cinza. Fica sob o julgamento
dessas equipes o que é bonito ou feio, apagando todas as pichações e deixando
alguns grafites. Do outro lado estão os grafiteiros, que veem a cidade como suporte
para manifestações artísticas e encontram nessa Lei uma forma de censura do
olhar.
A cidade de São Paulo é frequentemente citada como a capital mundial do
grafite, tamanha a proliferação desse tipo de intervenção urbana. Por isso, e por se
tratar de artistas renomados Os Gêmeos, teve grande destaque na mídia, em 2008,
quando um mural autorizado de grafite com 700 metros quadrados foi apagado na
alça de acesso à avenida 23 de maio, na Bela Vista, obrigando a prefeitura a se
desculpar publicamente e a assumir, junto aos artistas, o compromisso de refazer a
obra. Esse fato deu origem ao documentário longa-metragem produzido de forma
independente “Cidade Cinza”, dos diretores Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo
que foi viabilizado por financiamento coletivo para chegar aos cinemas.
Esse documentário gira em torno de uma discussão estética que suscita da
fala dos entrevistados que circulam e atuam na cidade, questionando: a ocupação
do espaço urbano como citam Irmãos Pandolfo (Os Gêmeos) “Eu não quero passar
aqui e ver aquela parede cinza, eu quero ver cor, então eu vou mudar, vou botar cor
lá, vou botar meu nome lá, eu quero ver meu nome na cidade”; exaltando o potencial
comunicativo das ruas conforme Carina Pandolfo (Nina) “Eu acho que você estando
na rua, você tem um poder bem grande de falar com todas as pessoas,
independente da classe social, independente da vida cultura que essa pessoal tem
ou não”; na compreensão do caos como uma polifonia de vozes que precisa ser
entendida e exaltada, conforme Fábio Cypriano, crítico de arte do jornal Folha de
São Paulo: “Quando eu saí do Brasil eu pensava que esse caos era algo negativo, e
quando eu voltei, eu percebi que esse caos é a melhor coisa que a gente tem”; nos
questionamentos sobre o que é arte, em que ela pode se manifestar, quem pode
julgar o que é bonito ou feio, e que emanam das falas de agentes da subprefeitura
43

de São Paulo, responsáveis pelos serviços de pintura e recuperação das superfícies


pichadas “Já pode apagar, isso daí vai dar horroroso!”.
É possível ver na padronização da cidade uma tentativa de ordenar os
espaços comuns, por outro lado os sentidos anestesiados pelo cotidiano podem
despertar, mesmo que por momentos furtivos, pela mensagem do grafite. De acordo
com o documentário, o grafite pode levantar questões sobre a relação com a cidade
e as preferências dos grupos e dos indivíduos, despertando questões como: Eu
gosto e aprovo esse tipo de intervenção? Quem deve decidir sobre o uso dos
espaços urbanos? O que é bonito ou feio? Qual cidade eu quero? Qual a minha
participação na cidade?
Iniciativas como o projeto Color+City (2016), que une donos de muros e
grafiteiros da cidade de São Paulo e de outros municípios, mostra que a população
está disposta a participar, se não grafitando, cedendo seus muros aos artistas.
Atualmente, ultrapassa o valor de 3.648 muros disponíveis para grafite só na cidade
de São Paulo. Esse tipo de iniciativa tira do governo a autoridade de decidir, ao
menos nos espaços particulares, que tipo de arte deve ficar ou ser apagada.
Arte ou vandalismo, os grafites ou pichações, mesmo quando autorizados,
continuam sendo apagados dos muros em nome do “bem comum” e do “bem-estar
estético da população”, segundo palavras da própria lei Cidade Limpa
(PREFEITURA DE SÃO PAULO, 2014).

d) Campanha Pichar é Crime. Denuncie.


A Prefeitura de Curitiba (2013) lançou junto com a Associação Comercial do
Paraná (ACP) a campanha institucional “Pichação é crime. Denuncie” Foram
implantadas medidas como: mudança na lei que elevou a multa para os pichadores
pegos em flagrante; nova regulamentação para a venda de tinta spray para menores
de 18 anos; campanhas publicitárias de mobilização da opinião pública; palestras;
eventos de “despiche” de alguns imóveis.
Associação Comercial do Paraná (ACP) acredita ser possível, através da
repressão e da “educação”, erradicar a pintura não autorizada dos muros e paredes
de Curitiba numa campanha que, entre outras ações, procura associar a imagem
dos pichadores à de vândalos criminosos. A campanha utiliza os recursos da
publicidade e propaganda como busdoor, outdoor, cartazes, placas, comerciais de
televisão e rádio, e tem como objetivo recrutar a sociedade para a sua causa
44

denunciando as ações de pintura irregular. Segundo Marins (2014), mesmo com o


aumento das denúncias, o aumento na arrecadação pelas multas aplicadas aos
infratores, a pichação em Curitiba continua.
De acordo com a Guarda Municipal da capital paranaense, em 2012, perto de
400 pessoas foram detidas envolvidas com a pichação, sendo que metade era
formada por maiores de 18 anos de idade. Segundo informações do site da ACP, só
em 2012, a pichação causou prejuízos superiores a R$ 1 milhão para a
administração pública. As notícias publicadas no site da ACP prestam contas de dois
anos após a implantação do projeto, que segundo eles é um divisor de águas na
história de repressão da pichação. Os dados da Guarda Municipal mostram um
aumento expressivo na quantidade de denúncias e flagrantes, num primeiro
momento e, posteriormente, a queda substancial nesses números, o que indicaria o
sucesso do projeto na repressão dos pichadores 10.
Observa-se, com as ações públicas de combate à pichação, que foram
necessários recursos também da área da comunicação organizacional para o êxito
da campanha.

O estudo dos mecanismos de atuação na opinião pública adquire alta


relevância nas sociedades ditas democráticas – como no caso do Brasil –
por envolver disseminação de idéias, valores, conceitos e normas, com
propósito de conseguir influência político-social. Em nossos dias, é grande a
parcela de investimentos voltados para um esforço de comunicação que
não está interessado basicamente em vender produtos e serviços e
presente naqueles anúncios que comumente chamamos de institucionais
(PINHO, 1990, p. 11).

Pesquisadores como Franco (2009) e Soares (2012) identificaram nos


pichadores e grafiteiros uma busca em constituir identidades, cooperação,
autoafirmação e uma prática de lazer de grupos. Considerados criminosos pelo
Estado e pela sociedade, esses grupos têm dificuldade em se organizar em relação
ao poder dominante e são ainda mais afastados da participação do cotidiano da
cidade. A busca pelo risco e a transgressão das regras é um fator motivador para os

10
A multa para quem é flagrado pichando era, na ocasião do levantamento de dados a esta pesquisa,
de R$ 1.693,84. Reincidente pode ser enquadrado por associação criminosa e pegar até quatro anos
de prisão. Os estabelecimentos que vendem tinta spray de forma irregular pagavam multa de R$
4.234,60. Em caso de reincidência a multa sobe, à época para R$ 8.469,21, e na terceira punição o
alvará é cassado. Segundo Marins (2014) apenas três homens que foram flagrados juntos pichando,
no dia 23 de outubro de 2014, eram reincidentes e uma única empresa recebeu multa pela venda
irregular de tinta spray até o final de 2014.
45

pichadores, segundo relatos colhidos pelos pesquisadores, muitos deixariam de


pichar caso isso não fosse mais considerado ilegal.
Outro fator importante constatado pela Guarda Municipal de Curitiba e
também de outras cidades é que o perfil dos pichadores autuados não se enquadra
ao estereótipo do adolescente de baixa renda e morador de periferia. Entre os
autuados, existe uma mistura de menores e adultos com idades variando dos 13 aos
50 anos, com escolaridade entre ensino médio e superior e poder aquisitivo de
médio a alto. Significa dizer que é impossível tipificar o pichador. Ele pode ser
qualquer um, está misturado na sociedade.

FIGURA 15 – APLICAÇÃO DA CAMPANHA:


PICHAÇÃO É CRIME. DENUNCIE.

Fonte: Catunda, 2013.

A Campanha institucional “Pichação é crime. Denuncie” realizada pela


agência curitibana TX-Plublitex Comunicação figura entre os cases mostrados no
site da empresa. Nas peças publicitárias, além da frase “Pichação é crime.
Denuncie”, foi adicionada a frase: “Não deixe que vândalos sujem nossa cidade”. O
diretor de arte Catunda (2013), em seu site pessoal, enfatiza: “Vamos deixar Curitiba
novamente bonita”. Catunda também postou sugestões de aplicação da peça
46

publicitária (Figura 15) em adesivos, camisetas, banners, lápis e no mobiliário


urbano.
A frase “Pichação é crime” consta em todas as latas de spray vendidas no
Brasil, uma obrigatoriedade imposta pelo art. 4º da Lei nº 12.408/2011 e que foi
aproveitada pela campanha. A frase “Não deixe que vândalos sujem nossa cidade”
demonstra os dois argumentos que norteiam o tom da campanha, o vandalismo e a
sujeira. Assim como a pichação, essa campanha institucional também “sujou”, com
sua mensagem, a paisagem da cidade. A poluição visual da publicidade começa a
ser combatida e regulamentada pelo poder público. De acordo com o site da
Secretaria de Educação do Estado do Paraná (2014): “Poluição visual é o excesso
de elementos ligados à comunicação visual (como cartazes, anúncios, propagandas,
banners, totens, placas, etc.) dispostos em ambientes urbanos, especialmente em
centros comerciais e de serviços”. O decreto nº 402 de 08 de maio de 2014, dá nova
regulamentação à Lei Municipal nº 8.471, sobre publicidade ao ar livre, e pretende
ordenar a poluição visual em Curitiba, ampliando o controle do Estado na forma
como as empresas anunciam suas marcas e produtos, facilitando assim a captação
de dinheiro dos empresários para os cofres públicos.

e) Zé Sujeira
Na segunda etapa da campanha “Pichação é crime. Denuncie”, para tornar as
peças publicitárias mais lúdicas, pedagógicas e simpáticas para as crianças e
adolescentes, foi criado o personagem Zé Sujeira (Figura 16), que associa a figura
do pichador à de um criminoso, sujeito do qual devemos manter distância e que
surge furtivamente para emporcalhar a cidade. Esse personagem foi inspirado em
outro, o Sujismundo (Figura 17), animação famosa da década de 70 que foi criada
pelo cartunista Ruy Perotti por encomenda do Governo Federal para conscientizar a
população brasileira sobre higiene pessoal e limpeza das cidades. A campanha tinha
como slogan a frase: “Povo desenvolvido é povo limpo”.
Sobre a criação do personagem Zé Sujeira, o presidente da ACP, Edson José
Ramon, deu o seguinte depoimento para a Rádio Prefeitura (2014): “Nós queremos
ver que, a criança ou adolescente, que ele perceber esse personagem. Ele pense,
olha, aí vem o Zé Sujeira, vamos sair dessa, ele vem emporcalhar a cidade, os
nossos muros e as nossas casas. É mais ou menos essa a ideia”.
47

FIGURA 16 – FIGURA 17 – FIGURA 18 – FIGURA 19 –


ZÉ SUJEIRA SUJISMUNDO ILUSTRAÇÃO DE EXPRESSÃO DE
CRIMINOSO MALDADE

Fonte: Fonte: Mofolandia, Fonte: Dreamstime Fonte: Danidraws


Radio98fmcuritiba, 2002.
2014.

Observa-se que o personagem Zé Sujeira herdou apenas as moscas do


Sujismundo (Figura 17) e que foi criado para se assemelhar a um ladrão, pois tem
fisionomia de vilão e está com sua identidade encoberta pelo gorro da blusa e um
tipo de sombra ou máscara nos olhos. Sua expressão facial é a da maldade (Figura
19). Sua calça está rasgada e moscas rondam sua cabeça, demonstrado falta de
higiene pessoal e despreocupação com a aparência. Ele tem uma lata de spray na
mão e duas latas de spray amarradas à cintura, como um bandido (Figura 18), um
justiceiro à margem da lei que tem o spray como se fosse sua arma. Por outro lado,
mostra o poder que um cidadão comum tem de protestar através dos muros da
cidade com apenas uma lata de spray, podendo realmente ser considerada uma
arma contra um governo repressor e uma mídia centralizada na mão de poucos e
alinhada a interesses que nem sempre refletem os da sociedade.
A campanha institucional tem a intenção de “educar”, criando um personagem
que apela ao público infanto-juvenil, na tentativa de incutir normas e conceitos. A
construção desse discurso faz sentido para parte da sociedade, ocultando que a
pichação é mais complexa que a simples argumentação de vandalismo e sujeira,
mas elementos dessa cultura de rua podem ser flagrados na Figura 20, que traz um
quadro da animação de 30 segundos produzido para a televisão.

Menina: Xi, lá vem o Zé Sujeira.


Menino: Ah, eu não quero falar com esse sujeito que vive pichando por aí.
Menina: Além de emporcalhar a cidade, ele tá cometendo um crime.
Adulto: Olha, vocês tem razão. Pichação é crime e todos podem denunciar.
Além de prisão, a multa é alta.
Voz Off: Pichação? Aqui não, Zé Sujeira. Pichação é crime. Denuncie, ligue
153. Uma iniciativa da Associação Comercial do Paraná parceria da
Prefeitura de Curitiba e seus apoiadores.
48

FIGURA 20 – QUADRO DA ANIMAÇÃO

Fonte: Radio98fmcuritiba, 2014.

Na propaganda, é possível ver rapidamente a atuação do pichador Zé Sujeira.


Ele está deixando sua assinatura no muro, sua tag, escrevendo seu apelido como
uma marca, usando um tipo de letra estilizado. Pode-se identificar também a escrita
PKG CREW. A palavra Crew serve para identificar os grupos ou famílias de
pichadores e grafiteiros e, logo abaixo, há o símbolo que remete ao movimento
anarquista.
Ao utilizar os símbolos característicos da pichação, foram apresentados
outros aspectos além do vandalismo e da sujeira. Mesmo nessa curta animação,
observam-se indivíduos e grupos que se comunicam através de códigos nos muros,
que têm linguagem e ideologia próprias, representando uma cultura popular de rua
que não segue a ordem, que não aceita a cidade sem a sua intervenção, e que se
manifesta em meio à poluição visual e ao caos urbano.
Essa ordem que se busca para a cidade nem de perto é encontrada na
política, de acordo com Ramos (2007b, p. 22): “Política é ruído, conflito. Política está
muitas vezes próxima do caos. A Política é o terreno dos homens, com tudo que de
bom e de mau sua humanidade lhes dá”. O autor também cita os aparelhos privados
de hegemonia “[...] Empresa e a Mídia são os principais aparelhos privados de
hegemonia; este, a Mídia, uma forma singular daquela, a Empresa” (RAMOS,
2007b, p. 39).
Segundo Gramsci (2000, apud ALMEIDA, 2011, p. 121), “a hegemonia se
constrói a partir da sociedade civil e suas diversas instituições, mas tem no Estado
um instrumento indispensável para a sua realização, consolidação e reprodução”,
agindo numa combinação de coerção e consenso em que a mídia tem papel
decisivo na construção de discursos formadores de uma representação social do
estado. A mídia ganha importância como arena de debate e disputa de ideologias na
49

sociedade. Entretanto, quando os meios de comunicação configuram-se em


monopólios ou estão nas mãos de poucos grupos, historicamente estão ligados a
partidos políticos, assim, a democracia e a comunicação são abaladas. Não é difícil
ver os meios de comunicação, aliados da campanha, selecionando as notícias em
que figuram pichadores que cometeram roubos ou foram presos por porte de
drogas. Agora o policiamento irá para a internet, monitorando as redes sociais na
busca da identificação e punição das pessoas, através da quebra de sigilo dessas
redes e dos provedores de acesso.
É preciso entender a pichação e o grafite como formas de comunicação
contemporâneas que emanam de sujeitos sociais que não estão alheios ou passivos
aos impactos de uma indústria midiática e cultural, pelo contrário, são capazes de se
apropriar e subverter seus sentidos numa pluralidade de discursos dialéticos que se
espalham pelas cidades nas mais variadas formas. Canclini (2003), em seus
estudos de recepção, considera que as investigações nessa área ignoravam os
aspectos socioculturais do receptor, atribuindo aos meios de comunicação o
protagonismo da comunicação e manipulação da audiência.
Ao privilegiar a análise nas mediações culturais, Martín-Barbero (1997, p.
258) consegue abarcar toda gama de conflitos, contradições, formas de dominação
e transformação do meio social. Referindo especificamente à pichação e ao grafite,
há nas paredes das cidades um meio de propagação e reprodução de elementos
culturais, assim, “o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações,
isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais,
para as diferentes temporalidades e para a pluralidade de matrizes culturais”,
valorizando o popular, não por sua beleza, mas por sua representatividade.

[...] o valor do popular não reside em sua autenticidade ou em sua beleza,


mas sim em sua representatividade sociocultural, em sua capacidade de
materializar e de expressar o modo de viver e pensar das classes
subalternas, as formas como sobrevivem e as estratégias através das quais
filtram, organizam o que vem da cultura hegemônica, e o integram e fundem
com o que vem de sua memória histórica (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.
105).

Numa espécie de manifesto, o artista de rua Banksy (2012, p. 10), que


representa neste trabalho uma das vozes da cidade polifônica, defende uma guerra
do grafite contra a imposição das mensagens publicitárias:
50

Eu vou falar o que penso, então isto não vai ser nada demorado. Ao
contrário do que dizem por ai, o grafite não é a mais baixa forma de arte.
Embora seja necessário se esgueirar pela noite e mentir para a mãe,
grafitar é, na verdade, uma das mais honestas formas de arte disponíveis.
Não existe elitismo ou badalação, o grafite fica exposto nos melhores muros
e paredes que a cidade tem a oferecer e ninguém fica de fora por causa do
preço do ingresso. Um muro sempre foi o melhor lugar para divulgar seu
trabalho. As pessoas que mandam nas cidades não entendem o grafite
porque acham que nada tem o direito de existir se não gerar lucro, o que
torna a opinião delas desprezível. Essas pessoas dizem que o grafite
assusta o público e é um símbolo do declínio da sociedade. O perigo,
porém, só existe na cabeça de três tipos de indivíduos: políticos,
publicitários e grafiteiros. Quem realmente desfigura nossos bairros são as
empresas que rabiscam slogans gigantes em prédios e ônibus tentando
fazer com que nos sintamos inadequados se não comprarmos seus
produtos. Elas acreditam ter o direito de gritar sua mensagem na cara de
todo mundo em qualquer superfície disponível, sem que ninguém tenha o
direito de resposta. Bem, elas começaram a briga e a parede é a arma
escolhida para revidar. Algumas pessoas se tornam policiais porque querem
fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas se tornam vândalos
porque querem fazer do mundo um lugar visualmente melhor.

Ao perceber a pichação não apenas pela perspectiva reducionista do


vandalismo, mas partindo da sociedade e da cultura, ampliam-se as possibilidades
de estudo com a construção de caminhos diversos, como a relação entre cultura e
comunicação de massa e a reprodução ou resistência aos sistemas de dominação,
revelando um caráter político importante no gesto de pichar e grafitar.

f) Despiche da Rua São Francisco


Em Curitiba, desde janeiro de 2013, com o início da campanha “Pichação é
crime. Denuncie” é possível identificar a “força-tarefa” de combate à pichação
atuando em diversas frentes sob o comando da Associação Comercial do Paraná
(ACP) em parceria com a Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC), Polícia Militar e
Civil e Guarda Municipal, além do apoio dos principais meios de comunicação de
Curitiba, entre eles, Gazeta do Povo, o jornal de maior tiragem do Paraná.
É importante ressaltar que a ACP, entidade defensora dos interesses do
comércio, coordena as ações da campanha, o que demonstra a forte influência do
mercado sobre o Estado e torna questionável o objetivo de suas ações, se são
realmente fruto de representações dos interesses plurais da “sociedade civil” ou do
mercado. Portanto, deveria ser temerosa para população a ideia de que a ACP
tenha tanta influência junto à Prefeitura. “O Estado é o local supremo da política,
onde, nas democracias, o poder pode ser exercido legal e legitimamente por
minorias em nome da maioria”, afirma Ramos (2007b, p. 32).
51

A pichação tem resistido historicamente às medidas repressoras. Para,


literalmente, encobrir o problema projetos de revitalização são implantados na
cidade como o Projeto Arte Urbana – Memórias de Curitiba que, patrocinado pelo
Governo, contratou 20 grafiteiros para pintarem as portas de aço dos
estabelecimentos comerciais da rua São Francisco.
É precisamente nesse evento e em seus desdobramentos nas mídias que foi
possível cruzar informações e perceber conflitos de interesse. Baseado na
perspectiva de Stuart Hall (2003) – Codificação e Decodificação –, confronta-se o
discurso produzido pelo jornal Gazeta do Povo em notícias publicadas em seu portal
na internet e pelos depoimentos dos grafiteiros coletados no documentário
“Expressão da rua”, originado da tese acadêmica de Liege Scremin e Matheus
Gasparin do curso de Jornalismo da UniBrasil em 2013.
A hegemonia se traduz em dominação cultural – ideológica e política - de uma
classe sobre a outra, sendo a Mídia um poderoso aparelho privado, pois é
“produtora e disseminadora de conteúdos jornalísticos, informativos em geral e de
entretenimentos, embebidos em sua virtual totalidade da lógica absoluta do
consumo, que é a principal força ideologicamente reprodutora do capitalismo”,
segundo Ramos (2007b, p. 39).
A ação de pintura ocorreu no dia 23 de junho de 2013 e foram selecionadas
as quatro notícias relacionadas diretamente com o evento e disponíveis, de forma
livre, no site da Gazeta do Povo, publicadas na editoria “Vida e Cidadania” e
agrupadas pelo jornal sob o tema “Despiche” (Tabela 2).

TABELA 2 – NOTÍCIAS SOBRE “DESPICHE”


Data Título e subtítulo ou “gravata” da notícia / Autor Publicação
20 jun Projeto vai criar galeria a céu aberto no São Francisco / Antes do
2013 Thomas Rieger evento
Artistas fazem despiche da Rua São Francisco: arte No mesmo
23 jun
substitui pichações nas portas das lojas do comércio local / dia do
2013
Lana Canepa evento
24 jun Despiche chega à rua São Francisco / Após o
2013 Lana Canepa evento

03 jul Grafite vence a pichação e propicia galeria a céu aberto / Após o


2013 Raphael Marchiori evento
Fonte: Rieger; Canepa; Marchiori, 2013.
52

Por meio das datas e títulos das notícias, encontra-se uma narrativa que inicia
com o anúncio de um projeto que vai criar uma galeria a céu aberto no São
Francisco e, no dia do evento, transforma-se em um movimento contra a pichação,
chamado de “despiche” e, algum tempo depois da ação, é anunciada a vitória do
grafite sobre a pichação naquele local. Essa narrativa foi construída conforme os
interesses de seus produtores, para ser “vendida” nas páginas impressas e virtuais
da Gazeta do Povo.
O campo de produção cultural pode ser entendido como um espaço de luta,
onde o detentor das “formas legítimas” de produção terá a autoridade para sua
produção, transformando em bens culturais que possuem valor num determinado
mercado, dominando assim o campo. Para Halll (2003, p. 255), existe uma luta
ininterrupta e desigual da cultura dominante, desorganizando e reconfigurando a
cultura popular para atender seus objetivos. Há pontos de resistência, de conflitos e
momentos de superação e progresso. “Esta é a dialética da luta cultural”. O campo
da cultura se transforma em um campo de conflitos, em que não se alcançam
vitórias ou derrotas irrevogáveis.
Refutando a linearidade das pesquisas em comunicação de massa baseadas
no modelo emissor, mensagem e receptor, Hall (2003, p. 387) propõe um modelo
ampliado, circular, para analisar a complexa relação do processo de codificação e
decodificação, dividindo nos momentos de – produção, circulação, distribuição,
consumo, reprodução. A produção da mensagem deve obedecer às “regras de
linguagem” e códigos profissionais estabelecidos pelas formas audiovisuais e
auditivas do discurso televiso, tornando-se um momento significativo que dá forma a
um discurso, que segue um fluxo com o objetivo de produzir sentido e concretizar o
“consumo” da mensagem.

Aproveitando a analogia de O capital, esse é um “processo de trabalho” no


modo discursivo. A produção, nesse caso, constrói a mensagem. Em um
sentido, então, o circuito começa aqui. É claro que o processo de produção
não é isento de seu aspecto “discursivo”: ele também se constitui dentro de
um referencial de sentidos e idéias: conhecimento institucional, definições e
pressupostos, suposições sobre a audiência e assim por diante delimitam a
constituição do programa através de tal estrutura de produção (HALL, 2003,
p. 389).

O sistema de produção se realimenta dos outros momentos como a


circulação e a recepção, todos os momentos estão conectados formando um
53

processo comunicativo continuo de produção de mensagens codificadas em


discursos.

As relações de produção institucionais e sociais devem passar sob as


regras discursivas da linguagem para que seu produto seja “concretizado”.
Isso inicia um outro momento diferenciado, no qual as regras formais do
discurso e linguagem estão em dominância. Antes que essa mensagem
possa ter um “efeito” (qualquer que seja sua definição), satisfaça uma
“necessidade” ou tenha um “uso”, deve primeiro ser apropriada como um
discurso significativo e ser significativamente decodificada. É esse conjunto
de significados decodificados que “tem um efeito”, influencia, entretém,
instrui ou persuade, com consequências perceptivas, cognitivas,
emocionais, ideológicas ou comportamentais (HALL, 2003, p. 390).

A produção de significado depende das trocas entre codificador-produtor e


decodificador-receptor, nas quais podem ocorrer mais ou menos “distorções” por
conta da falta de equivalência entre os dois lados, resultando em graus maiores ou
menores de compreensão da mensagem.
O documentário Expressão da Rua, de cunho jornalístico/acadêmico, traz
depoimentos de grafiteiros que participaram do projeto de pintura da rua São
Francisco, inclusive com alguns desdobramentos dos acontecimentos, numa
reprodução – reapropriação ou feedback daquele evento –, que não foi noticiada
pela mídia e que contradiz as notícias apresentadas pela Gazeta do Povo. A
transcrição das falas segue abaixo. Trata-se de um recorte das opiniões dos
grafiteiros e pichadores, presentes no documentário e que evidenciam o conflito.

Dimas – Interventor de stencil – Motion Layers / Mucha Tinta


Aos 13’42”: Tá rolando uma campanha aí, né? De pichação é crime
e tal, que é da própria Associação Comercial, que ironicamente
financiou o projeto lá da São Francisco.

DG Pichador – Cretinos
Aos 16’41”: O cara chega, o grafiteiro falar com pichador, até vai, eu
sou um, que se chegar pra mim e falar eu sou da prefeitura, eu não
ligo. Agora chegar, meter tinta por cima, sem pedir não a
autorização, mas dar satisfação, eu sou a favor do cara voltar e
meter tinta por cima do grafite, porque eu acho que é falta de
respeito isso daí.
Aos 17’05”: Eu fui lá, analisei e vi que a porta é de um amigão meu.
Eu fui lá pedir pra ele. Ele falou: não cara, ainda bem que é você, se
fosse outro, eu ia pichar em cima.

Café – Grafiteiro - Utopia


Aos 14’27”: A ideia foi, ‘é, vocês vão fazer um desenho relacionado
à história de Curitiba’.
54

Aos 15’40”: Quando a gente estava lá pintando veio a história de


que era o despiche.

Gislaine C. – Comerciante da rua São Francisco


Aos 14’48”: A rua tava muito feia.
Aos 15’10”: Quando eles terminaram de colocar as plaquinhas do
lado de lá, quando elas vieram pra cá já tinha uma plaquinha lá
pichada, e eles nem tinham feito o trabalho ainda. Aí, fui, peguei um
querosene, emprestei pra ela, foi lá, limpou. Mas no mesmo dia já...
isso com o pessoal aqui fazendo entrevista, fazendo o trabalho, eles
já ‘tavam pichando.
Aos 17’27”: Os pichadores, é, eles ficaram, acredito que indignados
por tamparam o trabalho deles, né, e eles vieram e colocaram o
trabalho que já estava embaixo.

Michael Devis – Grafiteiro e Proprietário da Capsula Graffiti


Shop
Aos 16’04”: Acho que é uma campanha de puro marketing da
Associação Comercial do Paraná, porque eles usam de suporte
públicos, gratuitamente, e usam de vários mecanismos de
publicidade, gratuitamente.

Elizabeth Prosser – Pesquisadora – Faculdade de Belas Artes do


PR
Aos 16’25”: Então se você quer que aconteça um despiche, não
faça uma campanha despiche Curitiba, ela não funciona.

Willians Batista – Comerciante da sua São Francisco


Aos 17’15”: Pelo fato do artista não ter pedido autorização, eles
vieram e picharam por cima do grafite.

Olho Wodzynski
Aos 17’52”: Tem coisas que são válidas, a rua São Francisco, eles
sabem bem claro que existia a possibilidade de pichar de volta por
cima. O grafite não vai tapar a pichação, quem quiser, vai lá e pinta
por cima.

AVISO – Mensagem de texto aparece durante a edição


18:08 “AVISO: A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DISSE NÃO TER
AGENDA PARA ATENDER A EQUIPE DO EXPRESSÃO DA RUA”

Pelos depoimentos coletados para o documentário, percebe-se que a


pichação não foi vencida pelo grafite como foi anunciado, pois ela nunca deixou de
acontecer, nem durante e nem após o evento. Os grafiteiros relatam que foram
chamados para mostrar a sua arte, valorizar o grafite, e não para um evento de
“despiche” e que souberam, durante o evento, que se tratava de um movimento
antipichação, o que gerou desconforto nos grafiteiros que participaram do projeto.
Os grafiteiros e/ou pichadores estão informados e tem consciência do papel
da política e da mídia nos desdobramentos de suas ações. A ACP pagou para os
55

pichadores de Curitiba para pintarem grafites nas portas da rua São Francisco, o
que não deixa de ser irônico, como citou o interventor Dimas da empresa Mucha
Tinta no documentário Expressão da Rua. O documentário relata depoimentos que
mostram que o evento gerou conflitos entre os pichadores e os grafiteiros, em que
um “atropela” o trabalho do outro. A ACP e a prefeitura de Curitiba também são
alvos de insatisfação com as ações realizadas, diferente da forma pacífica e ordeira
descrita pela Gazeta do Povo.

g) Grafite na moda
De acordo com Marino (2013), a influência globalizada do grafite como forma
de arte urbana resultou na busca de nomes expressivos desse movimento como
Kongo, Skam e Stephen Sprouse para as lojas Hérmes e Louis Vuitton, e os
brasileiros Finók, Chivitz e Minhau para a empresa Havaianas (Figuras 21, 22, 23 e
24) que realizaram grafites em lojas e produziram imagens que foram estampadas
na linha de produtos.

FIGURA 21 - SHOWROOM DA LOJA HERMÈS NA FRANÇA E


DA LOJA LOUIS VUITTON POR SKAM EM TORONTO.

Fonte: Marino, 2013.

FIGURA 22 - PRODUTOS CRIADOS POR STEPHEN SPROUSE


PARA LOUIS VUITTON

Fonte: Marino, 2013.


56

FIGURA 23 - LENÇOS DA HERMÈS COM ARTE DE KONGO

Fonte: Marino, 2013.

FIGURA 24 - ARTE DOS GRAFITEIROS BRASILEIROS FINÓK,


CHIVITZ E MINHAU PARA AS HAVAIANAS.

Fonte: Marino, 2013.

Ainda de acordo com Marino (2013), a questão comercial também é um fator


importante ao considerar a incorporação do grafite em decorações de lojas, roupas e
acessórios que enfatizam marcas por meio da “linguagem do grafite” além de servir
como diferencial de marketing em relação aos concorrentes.

h) Bombardeio de sementes do McDonald’s


O designer Sean Click (2013) criou um tipo de anúncio diferente para a rede
de Fast Food McDonald’s que teve grande impacto e viralizou nas redes sociais. A
ideia consistiu em plantar sementes de Papoila-da-Califórnia na beira da estrada
formando o logotipo da empresa (Figura 25). Essas flores não podem ser
danificadas, pois são as flores oficiais do estado da Califórnia e existe uma lei que
as protege. Sendo assim, não é possível destruir a marca do McDonald’s plantada
na beira da estrada.
57

FIGURA 25 – ANÚNCIO DO MCDONALD’S

Fonte: Sean Click, 2013.

De acordo com Sean Click (2013), o anúncio superou as expectativas na


missão de divulgar a marca, além de ser impossível para o proprietário do terreno
onde as flores foram plantas remover o “anúncio”. Vale lembrar que bombardear
(bomb) um local com sua marca (tag), são gírias usadas pelo grafite quando querem
marcar um local de forma rápida, e tanto os termos quanto a dinâmica da ação
foram incorporadas ao universo publicitário.

i) Agência de empregos jobsintown.de


Para a agência de empregos alemã Jobsintown (2006), a campanha
publicitária (Figura 26), é um exemplo de como uma imagem, colocada no lugar e
contexto certo, pode despertar a reflexão de quem as observa.

FIGURA 26 – CAMPANHA PUBLICITÁRIA


DA EMPRESA JOBSINTOWN.DE

Fonte: Jobsintown.de, 2006


58

É uma campanha provocativa, que faz pensar sobre a importância de


encontrar o emprego certo, explorando o uso de máquinas e equipamentos do
cotidiano de qualquer cidadão, como máquinas de lavanderia e terminais bancários
de autoatendimento, com cartazes criados para elas e apelando para o imaginário
que se tem quando criança de que algum “homenzinho” deveria estar trabalhando lá
dentro. Na Figura 26 pode-se ler a frase “A vida é curta demais para o emprego
errado” (JOBSINTOWN.DE, 2006, tradução nossa), que complementa a foto
reforçando que um emprego ruim pode ser um problema.
A transformação dos mais variados espaços e objetos em locais para
anúncios publicitários não é uma novidade, mas a ideia de dar outro significado ao
espaço/objeto, incorporá-lo ao anúncio, se apropriar dele é algo mais recente e que
se vê no universo subversivo da arte e do grafite e, aqui, apropriado pela
propaganda.

j) Grafite verde ou grafite reverso


A ideia de escrever “lave-me” no vidro sujo do carro foi aproveitada por Orion
(2006), que ao invés de adicionar tinta spray, limpou a parede. Essa ideia, chamada
de “grafite reverso” ou “grafite verde”, pois não suja nem polui, foi aproveitada pela
propaganda (Figura 27) como uma forma controversa de anúncio e sua legalidade
depende de cada cidade.

FIGURA 27 – PROPAGANDA FIGURA 28 – GRAFITE VERDE OU


DOMINO’S PIZZA GRAFITE REVERSO

Fonte: Marrs, 2014. Fonte: Orion, 2006

No Brasil, o artista Alexandre Orion, influenciado pela cultura urbana e o


universo do grafite, fez em 2006, o Ossário (Figura 28), um grande painel de
caveiras que foram feitas limpando a poluição acumulado no túnel Max Feffer, em
São Paulo. Durante a ação, Alexandre conta que foi abordado várias vezes pelos
59

policiais, mas que não puderam fazer nada, pois não havia crime em limpar a
cidade. Para apagar a arte, a prefeitura mandou limpar todo o túnel. A ação e a obra
podem ser vistas no site do artista (http://www.alexandreorion.com/), que ficou
conhecido por usar a poluição juntamente com tinta acrílica como base para alguns
de seus trabalhos, entre outras criações com a poluição como tema.

k) Axe’s e o add-on na placa de saída de emergência


A Axe, marca de desodorantes masculinos, utilizou uma placa complementar
para modificar o significado do sinal de Saída de Emergência (Figura 29), criando
um anúncio com várias mulheres correndo atrás de um homem em fuga.

FIGURA 29 – AXE FIGURA 30 – GRAFITE STOP

Fonte: Marrs, 2014. Fonte: STOP, 2014.

Esse complemento, adição ou expansão de um produto é um recurso que o


grafite e a pichação utilizam, vandalizando a sinalização de trânsito (Figura 30) e
modificando o significado das placas.

l) Milwaukee Rivers
Segundo Smosh (2010), por questões legais, a maioria das empresas prefere
evitar o grafite como forma de comunicação para divulgar suas marcas em prédios e
muros. A empresa Milwaukee River Keeper é uma organização que cuida da
limpeza de rios e investiu em uma campanha de arrecadação de fundos na forma de
um anúncio estilo grafite que incorpora a mensagem que quer passar com o
ambiente físico. A mensagem diz “Um rio limpo é um rio divertido” (tradução nossa)
junto a imagem de um toboágua que foi pintada na saída das manilhas de água
fluvial de um rio navegável (Figura 31), o que criou o cenário de um parque aquático.
60

FIGURA 31 – ANÚNCIO DE
MILWAUKEE RIVER KEEPER

Fonte: Smosh, 2010.

m) Jota Quest e o álbum Pancadélico


A banda Jota Quest lançou seu oitavo álbum denominado Pancadélico, e tem
no funk e na black music sua inspiração. O vídeoclipe do single Blecaute tem as
participações de Anitta e Nile Rodgers. Tanto o álbum como o clip fazem referências
ao hip hop e ao grafite brasileiro por conta da participação de DJ Hum e dos
grafiteiros Os Gêmeos, que além de assinarem a arte da capa do novo álbum em
estilo grafite (Figura 32), participam do clip pichando as paredes com a marca da
banda. Ambos são referências desse movimento que chegou ao Brasil no início de
1980 por intermédio dos bailes, revistas e discos.

FIGURA 32 – CAPA ÁLBUM


JOTA QUEST

Fonte: Jota Quest, 2016.


61

n) Instituto Projeto Neymar Jr e Beats


De acordo com as informações do Instituto Projeto Neymar Jr (2014), os
grafiteiros de São Paulo conhecidos como Chivitz e Minhau pintaram um mural na
instituição, com 56,5 metros de comprimento com 3 metros de altura, os desenhos
remetem aos coloridos sonhos das crinças. O convite para grafitar o local partiu da
empresa Beats By Dre, uma empresa americana especializada em headphones.

FIGURA 33 – MURAL NO
INSTITUTO NEYMAR JR.

Fonte: Minhau, 2014.

Foi incorporado aos desenhos um dos produtos com a marca da empresa


patrocinadora do Instituto Neymar Jr e idealizadora do mural (Figura 33), que além
de investir no Marketing Social, também promoverá sua parceria para além da marca
estampada no muro, mas com a associação ao universo do grafite.

o) General Eletric patrocina mural em São Paulo


A cidade de São Paulo, por meio da lei Cidade Limpa, regulamenta as formas
de anunciar no espaço urbano proibindo a colocação de anúncios publicitários em
imóveis públicos ou privados, banindo o outdoor da paisagem da cidade.
62

FIGURA 34 – PAINÉIS DE GRAFITE

Fonte: GE imprensa Brasil, 2012.

A empresa GE e a agência de publicidade AlmapBBDO encontraram uma


maneira para a propaganda voltar para os prédios de São Paulo utilizando o grafite
como vetor. Foram pintados cinco painéis (Figura 34) por artistas escolhidos com a
participação do público. Segundo a empresa, o projeto é “uma nova forma de fazer
propaganda” (G1, 2012).

p) Grafite na Avenida 23 de maio


Em fevereiro de 2015, a Prefeitura de São Paulo (2015) inaugurou o mural de
grafite da Avenida 23 de Maio (Figura 35), com 5,4 quilômetros de comprimento e
mais de 15 mil metros quadrados de desenhos realizados por mais de 200 artistas
convidados que receberam apoio do material, segurança e alimentação, num
investimento de cerca de 1 milhão de reais, essa é mais uma das ações da
prefeitura que incentiva a arte de rua e o grafite de forma especial.

FIGURA 35 - GRAFITE DA AVENIDA 23 DE MAIO

Fonte: Lessa, 2014.


63

Brant e Lopes Junior (2014) noticiaram que cerca de 60 grafiteiros,


pichadores e artistas plásticos se sentiram excluídos por não terem recebido o
convite para pintar a Avenida 23 de Maio e organizaram, de forma independente, um
protesto denominado “Rolê na 23”, quando subiram a Avenida fazendo grafites e
pichações e reivindicando pela “pluralidade de estilo e mais espaço para grafitar”.

3.1 A GUERRA AO SPRAY E OS VESTÍGIOS DO CONFLITO

O pesquisador australiano Kurt Iveson tem dois artigos publicados em 2010


em que aborda as origens e as formas de conflito em que o grafite está envolvido. O
pesquisador compartilhou seus estudos, que foram de fundamental importância para
dar sustentação teórica aos exemplos citados nos itens que seguem, demonstrando
nas cidades as marcas desses conflitos.
Encontram-se nas cidades de São Paulo, Curitiba e União da Vitória as
mesmas evidências mencionadas por Ivenson (2010a e 2010b) e que levaram a um
aumento da “militarização do espaço urbano” nos Estados Unidos, conforme o autor
descreve. Mesmo não sofrendo com as questões do terrorismo, há no Brasil um
aparelhamento de segurança que visa, tanto coibir o grafiteiro/pichador, como dar
proteção contra o crime e a violência urbana.
No artigo Graffiti, street art and the city, Kurt Iveson (2010a) faz reflexões
importantes sobre o grafite e a forma como vem sendo estudado, demonstrando a
sua importância no âmbito cultural e da urbanização das cidades.

Bons grafiteiros são geógrafos urbanos por excelência. A prática de grafitar


tem a premissa em, e a produção de, tipos particulares de conhecimento
das cidades e de como elas mudam. O grafite e outras formas de arte de
rua envolvem formas alternativas de criação de imagens, mapeamento, uso,
mediação e construção do espaço urbano (IVESON, 2010a. p. 26, tradução
nossa). 11

Iveson (2010a, p. 27) compartilha a ideia do grafite, hip hop e outras


expressões como uma contínua forma de “colonização reversa”, diferente de alguns
enfoques de estudo que consideram o grafite do ponto de vista do problema a ser

11
Good graffiti writers are urban geographers par excellence. The practice of writing graffiti is
premised on, and productive of, particular kinds of knowledge of cities and how they change. Graffiti
writing and other forms of street art involve alternative ways of imaging, mapping, using, mediating
and making urban space11 (IVESON, 2010a. p. 26).
64

resolvido, da janela quebrada que precisa ser reparada e que mobiliza sociólogos e
criminalistas a encontrarem o motivo que leva jovens à pichação e como afastá-los
desse “risco”.
Iveson (2010a) cita diversos autores que abordaram o “problema do grafite” e
se aproximam da ideologia da “tolerância zero” no tratamento a “desordem” causada
nas cidades. Dessa forma, pesquisas de identidade e cultura mudaram o enfoque
com questões como quais são as motivações das pessoas ao fazerem grafite e o
que o grafite representa em suas vidas. O autor acredita que partindo dessas
pesquisas, uma perspectiva mais crítica e sofisticada pode realçar a dimensão
social, em oposição ao antissocial do grafite.
Estabelecer um diálogo com os grafiteiros não é fácil para o pesquisador, pois
o grafiteiro atua no âmbito do ilegal de forma contestadora e evasiva. Graffiti writers
use the city as a space for expression and communication, and frequently they do so
without the kind of legitimacy obtained throught private property ownership or
bureaucratic planning approval 12 (IVESON, 2010a, p. 28). O autor salienta que
investigar de forma analítica e política o grafite não significa endossar qualquer
forma de grafite, ou ver o grafiteiro de forma romantizada como um rebelde que
“combate o sistema”, pelo contrário, significa entender que o grafite é uma
ferramenta utilizada pelos descontentes, pelas corporações e, também, pelos
marginalizados, pelos artistas e pelos ativistas. E que a carreira do grafite envolve
tantos compromissos como qualquer outra. Segundo Iveson, uma forma mais
produtiva de abrir o diálogo entre o grafite, a arte de rua e as teorias de urbanização,
seria focar na natureza dos esforços de tomada dos lugares pelos grafiteiros e
artistas e todo imaginário urbano subjacente.
Essa luta para criar espaços de grafite e as autoridades que querem
determinar onde é possível grafitar, mostra uma luta maior sobre ideologia e
autoridade em cidades capitalistas. De quem é direito de decidir sobre a identidade e
uso dos espaços da cidade? Para o autor, essas novas formas de arte de rua, que
surgiram em Nova York, apresentam um dilema para análise. Com as suas
aspirações e inovações estilísticas e artísticas, constituem uma ruptura radical com
as formas de inscrição urbana rotulada como “grafite”. No entanto, são essas as

12
Grafiteiros usam a cidade como um espaço de expressão e comunicação e, muitas vezes, fazem
isso sem o tipo de legitimidade obtida através de propriedade privada ou de aprovação da
planificação burocrática. (IVESON, 2010a, p. 28, tradução nossa).
65

características entre a arte de rua e o grafite, sua localização e o confisco do espaço


público, que os torna impossíveis de apreciar usando categorias estabelecidas como
folk, pop ou arte (pós)moderna contemporânea. Isso abriu novas possibilidades para
contestar a natureza da autoridade urbana e o controle da cidadania através da
imposição de uma ordem visual.
Em outro artigo, The wars on graffiti and the new military urbanism, Iveson
(2010b) procura estabelecer ligações de como a “guerra” ao grafite, imposta por
diversos governantes ao longo dos anos, teve papel fundamental na atual
militarização do cotidiano das cidades, contribuindo para criação de novas
tecnologias, políticas e técnicas de policiamento coma intenção de proteger os
cidadãos de ameaças e “desordens”. Essa militarização foi ampliada após os
ataques terroristas sofridos pelos Estados Unidos.
Os esforços de controle social com a intenção de proteger as comunidades de
ataques terroristas e “desordens” como o grafite, de acordo com o autor, querem
passar uma mensagem clara, tanto para a comunidade quanto para os “inimigos
internos” que se essas vulnerabilidades forem exploradas, podem ter consequências
devastadoras. Existe uma convergência quanto a noção de que as estratégias de
prevenção de crimes são fundamentais para combater tanto o grafite quanto
ameaças terroristas, e apesar de grafiteiros e terroristas explorarem as mesmas
vulnerabilidades urbanas, eles não compartilham das mesmas motivações.
Iveson (2010b) cita quatro pontos importantes para discussão: o primeiro trata
a relação profunda entre militarismo e urbanismo. O segundo considera o papel que
a guerra ao grafite teve na crescente militarização do cotidiano urbano. No terceiro o
autor mapeia as formas como as declarações de guerra ao terror de 2001
reenquadraram o “problema do grafite” e por último, o autor faz uma provocação
sobre o que os grafiteiros podem ensinar sobre como “driblar” e contestar a
militarização do espaço urbano. Para Iveson (2010b), a guerra ao grafite envolve
tipicamente quatro estratégias: pesquisa de novas tecnologias e armamentos; uso
da inteligência e de operações de contrainteligência; propaganda; e aumento do
papel do setor privado. Quanto à tecnologia, a mais difundida delas é certamente o
arame farpado, o autor traz dados de milhões de dólares gastos para cercar os
vagões do metrô de Nova York. Assim, uma tecnologia para manter os animais no
pasto e usada na fronteira americana e outras áreas de controle militar veio para no
contexto urbano, tendo o grafite importante papel nesse processo.
66

De acordo com o artigo, as armas químicas tiveram um grande papel na


guerra contra o grafite, com a invenção de produtos para remover a tinta e
superfícies a prova de tinta foram criadas. A agência espacial americana Nasa,
National Aeronautics and Space Administration, também ajudou a criar materiais
resistentes a pichação (IVESON, 2010b). Os circuitos de monitoramento de áudio e
vídeo se espalharam, num primeiro momento gravando as ações após a ocorrência
do fato, mas com os avanços verdadeiras armadilhas foram criadas, com a detecção
de movimento os vigilantes poderem ser avisados em tempo real por mensagem de
celular sobre a ação. Um dos sistemas, com nome de Tagger Trap System, é capaz
de detectar o som emitido pelo spray e outro o E-Nose, é capaz de detectar o odor
do spray a uma distância de 45 metros.
Muitos especialistas antigrafite têm sido contratados ao redor do mundo. Eles
dominam aspectos de inteligência sobre os grafiteiros e sua cultura e
ocasionalmente se inserem nos grupos para espionar. Existem diversas tentativas
de transformar os grafiteiros “ilegais” (pichadores) em “legais”, e bancos de dados
estão sendo alimentados para mostrar os locais preferidos para grafite em sistemas
cada vez mais complexos. A propaganda e as relações públicas também ajudam na
luta contra o grafite e grandes somas em dinheiro são movimentas em campanhas
para afastar os jovens do grafite ou para apoiar as ações antigrafite e materiais
criados por grafiteiros como revistas e sites são censurados. O autor também cita o
caso de um jogo de videogame na Austrália, em que o jogador desempenharia o
papel de um grafiteiro, e que foi censurado.
No artigo, o autor cita os muitos esforços de propaganda para denegrir a
imagem do grafiteiro, para associar sua imagem com a do vândalo, sujo ou
criminoso. Um cidadão de segunda categoria. Existe também o lucro que vem da
guerra ao grafite, seja em propaganda ou nas tecnologias de segurança e seus
serviços. As prefeituras fecham contratos com empresas para a constante limpeza e
fiscalização do espaço urbano.
Após os ataques terroristas nos Estados Unidos, em 2001, a ameaça do
terrorismo desempenhou um papel importante na militarização dos espaços urbanos
e as autoridades colocam o terrorismo e o vandalismo como similares no que se
trata da perda de confiança do público nos meios de transporte e frequentemente o
grafite acaba sendo envolvido nessa discussão sobre o terror e é comum a noção de
que “a comunidade” está certa em temer o grafite já que ele é uma prova visível de
67

que a cidade está “sem controle” e alguns falam passam a ideia do grafite como um
“terror visual” e do grafiteiro como um “inimigo interno”. O autor conclui que a guerra
ao grafite é certamente assimétrica, mas não é de um lado só. E grafiteiros usam a
linguagem da guerra também para se expressar como termo bombing para
descrever suas ações. Nem todo grafiteiro está numa luta pela liberdade e
dignidade. As lutas podem ser dentro do próprio movimento, ou contra autoridades,
existem uma grande variedade de motivações, estilos e práticas, e o problema é que
falhamos em identificar isso.
Iveson (2010b) argumenta que, eventualmente, tenta-se cortar os
suprimentos do grafiteiro, dificultando a venda do spray para menores ou exigindo
cadastramento dos compradores. Técnicas como o estêncil, os cartazes lambe-
lambe e os stickers 13 são formas de driblar essa fiscalização, pois permitem uma
aplicação rápida. Grafiteiros e artistas têm mapeado a infraestrutura urbana de trens,
canais de água e esgoto, outdoors e tentado entender o ritmo desses sistemas para
criar camuflagens e permanecer escondidos numa espécie de guerrilha. O grafite
tem se adaptado, mudado e persistido, sem líderes, hierarquia ou organização, não
existe um “exército” do grafite. Mas o ataque do grafiteiro à infraestrutura é
profundamente diferente do ataque terrorista, os trens continuam funcionando, as
paredes continuam de pé. Usando o público e privado como suporte para
comunicação, grafiteiros e pichadores criam uma cidade em comum.
Nos itens abaixo serão relatados vestígios da guerra ao grafite e da
consequente militarização do cotidiano catalogados pelo pesquisador Iveson (2012)
e que também puderam ser encontrados tanto na cidade de União da Vitória,
Paraná, local da aplicação do projeto MuroCromia, quanto na cidade de Curitiba,
capital do estado, onde parte da presente pesquisa foi realizada.

a) Colcha de retalhos ou patchwork urbano


O patchwork (Figura 36) é uma técnica de costura que consiste em reunir
pedaços de tecidos formando um trabalho maior como um tapete, uma almofada ou
um travesseiro e, assim como numa colcha de retalhos, a sobreposição das tintas
usadas para apagar o grafite forma novos padrões a cada pichação que é coberta.

13
Cartazes lambe-lambe são cartazes com conteúdo crítico ou artístico que são colados em espaços
públicos. Os stickers são desenhos feitos em material adesivo que podem ser grudados em qualquer
superfície.
68

FIGURA 36 – PATCHWORK URBANO

Fonte: Lancenet, 2012.

É visível que não se trata de manter uma uniformidade ou retornar o muro à


sua cor original e, sim, da motivação de apagar a pichação, de fazer valer a sua
autoridade. As paredes, neste estado, parecem estar em constante reforma, dando a
impressão que um arquiteto está testando várias cores na parede antes de pintá-la
definitivamente. Massimo Canevacci (1997), na introdução do livro A Cidade
Polifônica, define São Paulo como Cidade Patchwork, tamanha a profusão e
coexistência de estilos e signos.

b) Tropas de fiscalização e limpeza


Algumas cidades possuem equipes especializadas em detectar e apagar as
pichações. Na cidade de São Paulo, como já mencionado anteriormente nessa
dissertação, a Lei Cidade Limpa regulamenta a propaganda e fiscaliza a “poluição
visual” no espaço urbano.

FIGURA 37 – IMAGEM DO FILME CIDADE CINZA.


EQUIPES ANTIPICHAÇÃO SÃO CONTRATADAS
EXCLUSIVAMENTE PARA LIMPAR A PICHAÇÃO.

Fonte: Mesquita e Valiengo, 2012.


69

As equipes de limpeza decidem o que é pichação ou grafite, o que é bonito ou


feio (Figura 37) e, quando os funcionários têm dúvida sobre a relevância de alguma
pintura, se ela deve ser apagada ou preservada, tiram uma foto com o celular e
mandam para seus superiores para ajudar a tomar a decisão e não cometer o erro
de apagar o grafite de algum artista de renome. Essa dinâmica pode ser
acompanhada no filme Cidade Cinza.
Conforme o documentário Cidade Cinza (2012) muitos murais de grafite foram
apagados por engano, criando situações em que o poder público precisa se
desculpar publicamente com os artistas e custear a pintura de um novo grafite.

c) Pichação fantasma
Nem sempre a remoção da pichação funciona totalmente, então ela não
desaparece, continua lá, existindo de forma fantasmagórica, uma sombra daquilo
que ela foi um dia (Figura 38). Uma espécie de cicatriz que denuncia a constante
guerra entre o pintar dos pichadores e o apagar das autoridades.

FIGURA 38 – PICHAÇÃO FANTASMA

Fonte: Comércio Vivo, 2014.

d) Grafite como camuflagem para pichação


Segundo Iveson (2010a e 2010b), usar o grafite para apagar a pichação é
uma estratégia que vem sendo adotada de forma cada vez mais frequente. A ideia
de que um muro grafitado não será alvo de pichação não procede. A pichação
ocorre de qualquer forma, porém uma pichação sobre um muro todo colorido acaba
passando despercebida, fica camuflada.
70

Nem todo grafiteiro é pichador e nem todo pichador é grafiteiro, mas ambos
disputam o mesmo suporte urbano, os mesmos muros da cidade, o que pode gerar
atritos e disputas pelo espaço. No caso da rua São Francisco em Curitiba e da ação
de “despiche” em que grafiteiros (alguns deles assumidamente pichadores) foram
convidados para criar uma “galeria a céu aberto” e, posteriormente, descobriram que
fazia parte de uma ação para apagar a pichação escancarou a guerra entre o grafite
e a pichação.
Mesmo com alguns grafiteiros pedindo autorização para o pichador para
apagar a sua marca da porta, respeitando uma suposta ética da pichação em não
“atropelar” a marca do outro, as pichações voltaram a acontecer mesmo antes do
término dos grafites, sendo que em algumas portas, o pichador fez questão de
apagar o grafite autorizado e recolocar a sua marca.

FIGURA 39 – REVESTIMENTO DE FIGURA 40 – PADRÃO DE


BANCO DE ÔNIBUS EM SYDNEI – CAMUFLAGEM
AUSTRÁLIA, COM PADRÃO DE MULTICAM ARID
CAMUFLAGEM ANTIGRAFITE.

Fonte: Sydney revisited, 2011. Fonte: Multicam, 2014.

FIGURA 41 – GRAFITE NA RUA SÃO FRANCISCO,


EM CURITIBA

Fonte: Gazeta do Povo, 2013.


71

De qualquer forma, a rua foi toda colorida e as pichações ficaram camufladas


pelas pinturas autorizadas que criam um padrão multicolorido por meio do qual nada
se destaca muito (Figuras 39 e 40). Aqui, mais uma vez não se vê que a intenção
maior é de valorizar o grafite e, sim, de apagar a pichação, mesmo que contratando
pichadores/grafiteiros para colorir algumas portas, criando uma camuflagem para a
cidade na guerra contra a pichação.
Com todas as portas pintadas um padrão grafite colorido é criado (Figura 41)
e toma conta da rua, além de não sobrar muito espaço para pichação, caso ela seja
feita sobre a pintura, acaba ficando camuflada pelo cenário.

e) Autoridades em ação (Generais em ação)


Segundo Iveson (2010b), para demonstrar engajamento com a causa e
mobilizar as “tropas” na guerra contra a pichação, os líderes precisam dar o exemplo
participando ativamente e mostrando como deve ser feito assim como fez o prefeito
de Curitiba, Gustavo Bonato Fruet (Figura 42), quando aparece para “limpar a
sujeira” da cidade, conforme foi noticiado.

FIGURA 42 – GUSTAVO FRUET LIMPANDO A PICHAÇÃO


NA RUA XV DE NOVEMBRO

Fonte: Paraná, 2013.

f) Fortificações
Iveson (2010b) comenta que para afastar o inimigo é preciso se proteger,
então quilômetros de arame farpado, grades e sistemas de vigilância e
monitoramento são vendidos todos os anos para fortificar casas e empresas contra a
ação de ladrões e pichadores (Figura 43). Algumas prefeituras destroem até muros
em terrenos abandonados para evitar que sejam pichados.
72

FIGURA 43 – FORTIFICAÇÕES

Fonte: Vazlon

Essas são algumas táticas de combate a pichação que vem sendo adotadas
nas cidades. Como fruto dessa guerra, surge uma nova estética do “despiche” em
expansão nas grandes cidades. O pesquisador Kurt Iveson (2010a e 2010b) auxiliou
a compreender a natureza dos conflitos e seus impactos na sociedade e no visual do
espaço urbano que temos hoje. Foi necessário procurar exemplos em outros países
e em outras cidades para validar as informações e verificar que se tratavam de
fenômenos que acontecem desde os grandes centros urbanos até as cidades do
interior do estado do Paraná, como União da Vitória.
Os exemplos citados não são meramente ilustrativos. O exemplo da pegada
de um dinossauro, que pode ser usada por um arqueólogo para atestar a sua
existência e espécie, as marcas dos conflitos entre a propaganda, pichação e grafite
também deixam o seu rastro, o que torna incontestável a sua existência e facilita a
compreensão das motivações por detrás das ações.
A compreensão do campo onde o projeto pretendia estar inserido, constitui-se
em etapa fundamental tanto do projeto de extensão como do projeto de pesquisa,
elucidando e antecipando os conflitos enfrentados e que foram previamente
mapeados pelo pesquisador Kurt Iveson (2010a e 2010b), conhecendo os agentes
envolvidos e suas motivações, o projeto teve segurança em avançar gradativamente
sabendo dos desafios deste trabalho de campo.
73

4 COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO: ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA


PRÁTICA

“A cidade é uma mensagem que nem todos


entendem, mas que todos são obrigados a ler”.
Décio Pignatari

A comunicação tem um papel fundamental para educação no atual contexto


de desenvolvimento tecnológico-midiático, em que o cidadão é marcado pela
utilização e novas necessidades proporcionadas pelas mídias digitais, que permitem
o acesso de grupos historicamente excluídos aos espaços de publicação e
expressão cultural. Martín-Barbero (2014, p. 38-41) recorre ao aporte teórico de
Paulo Freire para defender um alfabetizar em comunicação apoiado na cultura e
criticar o modelo escolar ultrapassado que desperdiça as inúmeras possibilidades de
ensino-aprendizagem com o uso de tecnologias como a televisão, o rádio, a internet
e as mídias digitais.
Preocupado com a dependência cultural, quando a cultura da minoria
dominante é proposta como modelo para a maioria dominada, e a cultura do
silêncio, definida por um conjunto de pautas de ação e esquemas de pensamento
que conformam a mentalidade e o comportamento dos latino-americanos, Martin-
Barbero (2014, p. 22-24) cita o termo incomunicação para descrever o controle sutil
da palavra pela massificação dos meios e da cultura que silenciam a diversidade
linguística dos povos e sugere a multialfabetização digital, o “aprender a aprender”
como forma de proporcionar uma visão crítica na convergência para uma cultura
digital, e com a cultura servindo de elemento de ligação para a compreensão do
outro.

Daí que, somente a partir da assunção da tecnicidade midiática como


dimensão estratégica da cultura, a escola poderá se inserir nas novas
figuras e campos de experiência em que se processam os intercâmbios
entre escrituras tipográficas, audiovisuais e digitais, entre identidades e
fluxos, assim como entre movimentos cidadãos e comunidades virtuais
(MARTIN-BARBERO, 2014, p. 44).

Reconhecendo o papel fundamental e estratégico que a educação e as


escolas desempenham numa sociedade da informação, desde o ensino infantil até a
educação universitária, Martin-Barbero (2014, p. 25) vê a situação atual da escola
pública como mera gestora de conflitos sociais, como braço do estado e relegada a
classe dos fardos e que persiste, apesar das tentativas de reformas, num discurso
74

distante da vida real, esquecendo de trazer para dentro da sala de aula a


complexidade do mundo de seus alunos, rodeados de aparatos tecnológicos.
De acordo com o autor (2014, p. 53), o compromisso da escola passa pela
inclusão da cultura e da incorporação de novos campos de experiência oriundos “da
reorganização de saberes, dos fluxos de informação e das redes de intercambio
criativo e lúdico; pela hibridização da ciência e da arte, do trabalho e do ócio”, e dos
novos modelos de representação e ação cidadãs, articuladores do local com o
mundial. Atualizar currículos e práticas, perceber que a escola não é o único local de
aprendizagem possível são os desafios iniciais.
A escola defendida pelo autor é vista como um ecossistema comunicativo,
que deve entender e desvelar a sociedade, seus modelos, interações, linguagens,
escritas, representações e narrativas e, desta forma, afetam as demais relações de
lazer, de trabalho, do que é publico e privado, da vida cotidiana com seus saberes e
rotinas, tendo como ponto de partida o processo de alfabetização dividido por ele em
duas etapas: a primeira que prepara para o mundo da escrita fonética e que abre as
portas da segunda etapa, que permite ler e compreender vários tipos de textos,
crucial no desenvolvimento de uma cidadania plena, pois permite entender os
processos que afetam a vida cotidiana. Ler revistas, notícias de jornal, blogs,
videoclipes, videogames, outdoors, publicidade, grafite e pichação exige um sentido
social indispensável para esta segunda etapa da alfabetização.
Essa alfabetização politizada pretende situar o sujeito dentro da sua cultura
tornando-o protagonista, autônomo e autor da sua palavra frente a um mundo
permeados por símbolos e cultura em transformação, onde o papel das tecnologias
pode romper com o dualismo refletido na sociedade hegemônica, deixando de ser
mero elemento decorativo e tornar-se motor de uma transformação radical de
processos e métodos ultrapassados. Trazendo a televisão como exemplo, Martín-
Barbero (2014, p. 49) propõe a desconstrução no modo de assistir, encarregando a
escola de proporcionar a visão crítica, de identificar a manipulação e a deformação
dos gostos populares, por meio da alfabetização para as mídias, sobre os seus
conteúdos e seu papel mediador das narrativas oficiais e populares, cabendo à
escola sensibilizar o “modo de perceber o espaço e o tempo e de construir
imaginários e identidades”.
As novas tecnologias de comunicação e informação devem estar associadas
a estratégias de conhecimento que incluam a cultura em novos processos, práticas e
75

metodologias e, com isso, permitir à população historicamente excluída transformar


a informação em conhecimento. Essa mudança de postura também deve ser
aplicada ao livro que deve ser visto como meio de comunicação, que deve ser
desvelado e desconstruído como instrumento de poder. Para o autor (2014, p. 64),
não se lê nem se escreve como antes, tampouco os velhos comportamentos em
relação à leitura serão assumidos pelos jovens, pensar e sentir assumem novos
formatos e nuances.
Pensando nessas novas possibilidades, o projeto MuroCromia pretendeu
“aprender e ensinar com textos não escolares 14” ao trazer a pichação e o grafite
como estruturas narrativas que estão presentes no universo urbano dos acadêmicos
para dentro da discussão em sala de aula, criando ligações entre os seus modos de
criação e escrita com as disciplinas de Direção de Arte e Produção Gráfica do curso
de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda. A intenção é evitar o
descompasso entre o discurso didático-pedagógico e as linguagens não
institucionais escolares, reconhecendo e incorporando essas linguagens em práticas
didáticas. Para tanto, é preciso que o professor seja capaz de entender e dominar os
principais aspectos dessas linguagens para que consiga mediar estratégias de
construção do conhecimento juntamente com seus alunos.

A arte oficial das galerias e dos museus não pode acompanhar a evolução
que se deu na propaganda, no cinema e na televisão. Perdidas numa forma
elitista e dominada por uma arte conceitual e decadente, que adquire tons
enferrujados e pretos, a maioria dos artistas plásticos (incluindo os
figurativos) passa ao largo da intenção e da proposta levantadas pela
barbárie da rua (LARA, 1996, p. 63).

As disciplinas mencionadas têm objetivos complementares e que envolvem o


projeto. A primeira, Direção de Arte, mais interessada nas questões de reprodução
das criações publicitárias em seus diversos suportes e formas de impressão,
abordando desde o planejamento das peças, a preparação dos originais, passando
pela impressão e por fim em seus possíveis acabamentos. A segunda, Produção
Gráfica, tem o objetivo de capacitar o acadêmico na arte e técnica da criação de
peças publicitárias para os meios impressos e eletrônicos, dando noções de
diagramação, tipologia, organização, equilíbrio e contraste, possibilitando ao aluno

14
Citelli (1997) o livro aborda “[...] o descompasso entre o estrito discurso didático pedagógico e as
linguagens institucionalmente não escolares. Uma, formalizando as ações na sala de aula,
constituindo a natureza “única e diferenciada” do discurso escolar; a outra, pressionando “de fora”.
76

criar argumentos para defender suas peças. Tais disciplinas se complementam na


medida em que uma trata mais especificamente da criação e a outra da reprodução
dessas criações com as diversas tecnologias de impressão disponíveis. O grafite
compartilha de muitas dessas questões, como a escolha do suporte para a pintura, a
criação da arte que será aplicada, muitas vezes partindo de um desenho de estudo
ou esboço simplificado, de como a arte irá ocupar o espaço disponível, da seleção
das cores e uso da tinta para reproduzir a ideia no muro, configurando-se como
atividade prática valiosa para estudantes destas disciplinas.
Um projeto de extensão com o objetivo de pintar muros pode auxiliar na
prática educacional ao colocar os alunos em contato com tintas, cores, letras,
caligrafia, formas, design, criação de conceito criativo e maneiras reprodução de
imagens, pois ajudam a desenvolver essas habilidades em espaços públicos,
adequando a mensagem para um público transeunte diverso, e antecipando o virá a
ser o cotidiano desde profissional.
O grafite e a pichação estão presentes nas ruas e também em museus e
exposições, espaços onde a arte de rua não tinha acesso. Fazem parte do cenário
urbano, das fachadas e dos lugares públicos, podendo inclusive ser parte de uma
estratégia de recuperação de espaços deteriorados. A aceitação social da arte de
rua, principalmente do grafite, colocou essa linguagem nos muros e dentro das
casas, apoiada por organizações e projetos que identificam nessa prática um
exercício social e de cidadania. Para Gitahy (1999, p. 79) “talvez, um dia, todo centro
urbano, apesar de caótico, possa vir a ser uma grande galeria de arte a céu aberto”.
A arte de rua é uma linguagem visual associada a cultura jovem, e tem no grafite
grande representação. A legitimação dessa expressão artística possibilitou a
transição de seus praticantes da marginalidade para profissionalização, onde o
grafite é reconhecido, requisitado e valorizado, e muitos desses artistas desfrutam
de grande notoriedade.
77

4.1 PROJETO MUROCROMIA: PROPAGANDA E ARTE NOS MUROS DA CIDADE

O projeto de extensão MuroCromia, o objeto de estudo desta dissertação, tem


como objetivo investigar como as críticas do grafite, dirigidas à publicidade e à
propaganda podem auxiliar os acadêmicos de graduação do Curso de Comunicação
Social – Publicidade e Propaganda, na compreensão da sua futura profissão, sendo
que compartilham processos criativos e estratégias e disputam os mesmos espaços
privilegiados da cidade. Por meio da investigação qualitativa, procurou-se cruzar
métodos como a crítica e a revisão literária, pesquisa exploratória e observação de
casos, análise e observação participante.
O projeto de pesquisa e extensão universitária “MuroCromia: propaganda e
arte nos muros da cidade”, do qual o pesquisador é o professor responsável, faz
parte do Programa de Incentivo à Pesquisa Acadêmica – Pipa, do Centro
Universitário de União da Vitória – Uniuv. Teve início em agosto de 2014, com
duração de um ano. Conta com a participação de três acadêmicos do curso de
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda que recebem bolsas no valor de
R$ 200,00 (duzentos reais) mensais por quatro horas semanais de atividade.
Com o objetivo de ampliar a experiência dos conceitos apresentados nas
disciplinas de Produção Gráfica e Direção de Arte e o repertório cultural dos
acadêmicos, o projeto propõe o desafio de criar peças gráficas, misturando as
linguagens da propaganda e do grafite, pintando muros da cidade com técnicas
como o estêncil. Como o projeto não dispõe de verba própria para a realização de
suas atividades, um dos desafios foi criar um modelo que contasse com a parceria
das empresas para financiar a pintura dos muros. Com a colaboração, a empresa
tem o direito de aprovar a arte desenvolvida pelos acadêmicos e assinar o mural
com a sua logomarca.
As etapas previstas no projeto foram: 1) Levantamento dos muros
disponíveis; 2) Contato com os proprietários para autorização do uso temporário dos
muros para a pintura; 3) Contato com as empresas para o fornecimento do material;
4) Desenvolvimento do projeto gráfico e aprovação com os envolvidos; 5) Execução
do projeto gráfico no muro; 6) Registro fotográfico e audiovisual dos muros para
arquivo e divulgação do projeto por meio das redes sociais. O projeto gráfico criado
esteve, nesse caso, sempre associado à publicidade e por ter apoio financeiro,
sofreu a pressão do cliente, geralmente o proprietário da empresa que durante a
78

etapa criativa de direção de arte sugeriu, alterou ou descartou propostas de


comunicação que não estavam de acordo com os objetivos de mercado almejados
para a sua empresa.
Usando métodos de criação do cotidiano de um diretor de arte como a
associação de ideias por semelhança, contiguidade ou causa e efeito, o projeto
gráfico pretende unir a mensagem publicitária do cliente com uma dose de crítica
social da realidade local, assim como fazem alguns grafiteiros renomados como o
inglês Banksy e os brasileiros Os Gêmeos. A proposta de mistura entre a
publicidade e o grafite é intencionalmente contraditória, pois de um lado há o império
do consumo e o ser humano orientado ao molde de um consumidor exemplar de
produtos e serviços e do outro, um movimento que critica esse modelo e vê na
publicidade o mecanismo que impulsiona as pessoas para o ato da compra, muitas
vezes, fazendo as pessoas sentirem-se inadequadas ou excluídas de um grupo
social por não possuírem determinado produto.
Do futuro publicitário, atento à realidade em que vive, espera-se a
contribuição de forma mais humana com a sociedade em que está inserido, pois
sendo conhecedor das diversas facetas do modelo capitalista e das suas virtudes e
mazelas, atua de forma consciente e ética, aproveitando o que de melhor surgir
desse conflito, desse embate entre o discurso institucional da publicidade e o
discurso crítico que emana das ruas por meio do grafite. Essa interação social, seja
harmoniosa ou conflituosa, baseia-se em processos simbólicos e práticos que, na
tentativa de encontrar adeptos para suas causas, estabelecem o espaço urbano
como cenário de disputa na busca do olhar, da atenção e da mobilização dos
passantes que, muitas vezes, acostumados ao caos visual, já não se sensibilizam
facilmente.
Segundo Campos (2012, p. 551), a cultura visual contemporânea revela
crescente importância para as tecnologias visuais, resultando numa supremacia da
visão na decodificação do mundo, o que justifica a relevância que se dá a imagens
em todas as áreas. A produção pictórica e gráfica de uma sociedade passa a ter
grande importância para os estudos culturais 15, como formas de comunicação e de

15
Estudos culturais: “Estudos trans ou interdisciplinares de elementos da cultura contemporânea
como caminho para entender as relações sociais” (SOVIK, in MARCONDES FILHO, 2009, p. 130).
MARTIN-BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 6.ed. Rio de
Janeiro: Editora UFRJ, 2003. In: CONTE, F. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e
hegemonia. 2006.
79

interação social, amplificadas pelos processos de globalização, pelos avanços


tecnológicos e pela digitalização do cotidiano.

4.2 REALIZAÇÕES DO PROJETO

Foram treze ações desenvolvidas ao longo de um ano, que serão descritas


nos itens abaixo. Da proposta inicial em parceria com as empresas, da oficina de
estêncil e dos muros realizados, o projeto foi sendo adaptado conforme as
circunstâncias permitiam e os estudos foram avançando, o processo acabou sendo
a parte mais enriquecedora de tudo. Sair da sala de aula com os alunos e ocupar o
espaço urbano com criações próprias deu a dimensão da responsabilidade que se
tem com o espaço público, muitas vezes maltratado e sem personalidade. Quando
muito, explorado como espaço publicitário.

a) MuroCromia 01: A primeira experiência


Assim que os acadêmicos conseguiram a liberação de alguns muros,
começaram os contatos com as empresas para explicar o projeto e verificar a
possibilidade de participação. Respaldados por uma instituição de ensino superior,
com o projeto em mãos e toda documentação necessária para demonstrar a
legalidade das ações, a agência de turismo Sete Ilhas patrocinou a pintura do
primeiro muro, localizado no centro da cidade.
Uma conversa inicial com a proprietária já indicava que o mural poderia ter
um tema relacionado com viagens e turismo, mais especificamente, com cruzeiro
marítimo que eram os pacotes turísticos que estavam sendo ofertados naquele
momento. De posse dessa orientação para a criação e com a metragem do muro, os
acadêmicos iniciaram o brainstorm 16 e os primeiros esboços na busca de atender a
empresa, mas sem deixar a crítica social de lado.
Como a cidade de União da Vitória é, eventualmente, atingida pelas cheias do
rio Iguaçu, uma ideia que surgiu foi a de uma pessoa remando num pequeno barco
em meio aos telhados das casas, cena muito comum nos períodos de enchente,
mas sonhando com um transatlântico (Figura 44). A ideia não foi aceita pela
proprietária da agência de turismo, com o receio de que uma interpretação

16
Brainstorm, ou tempestade de ideias, é o nome dado à uma técnica grupal – ou individual – na qual
são realizados exercícios mentais com a finalidade de resolver problemas específicos.
80

equivocada pudesse associar a empresa com uma mensagem negativa. Como a


primeira ideia foi descartada, não chegou a ser tratada no computador.

FIGURA 44 – ESBOÇO DA PRIMEIRA IDEIA

Fonte: Gohl, 2014.

Uma segunda opção, menos polêmica, foi sugerida (Figura 45): uma
mochileira em frente a várias setas indicando lugares e distâncias para uma possível
viagem, partindo daquele ponto para várias partes do mundo. Uma frase sobre
viagem do navegador Amyr Klink foi adicionada, reforçando a importância de viajar.

FIGURA 45 – SEGUNDA IDEIA APROVADA PELO CLIENTE

Fonte: Gohl, 2014.

A ideia foi aprovada e executada (Figura 46) com algumas adaptações de


tamanho no local indicado que tem grande circulação de pessoas. Também foi
fotografada e postada numa rede social e virou matéria do jornal local (capítulo 4.2.1
e 4.2.2), servindo como primeira experiência de negociação entre a arte criada pelos
acadêmicos e as solicitações do cliente, que apoiando financeiramente o projeto,
procura evitar mensagens duvidosas que serão associadas à sua marca.
81

FIGURA 46 – MURAL VIAJAR É PRECISO

Técnica: Tinta látex em várias cores e marcador preto.


Local: Calçada na divisa do estado do Paraná – União da Vitória – com Santa Catarina – Porto União.
Fonte: Gohl, 2014.

Para não abandonar a ideia inicial, a equipe criou um estêncil, que faz
referência à logomarca de um dos maiores estúdios cinematográficos do mundo, a
DreamWorks (Figura 47), colocando o garoto pescador que aparece na abertura de
seus filmes, numa situação de enchente com o texto “Vai Sonhando” (Figura 48),
para lembrar a população que a enchente passou, mas que uma hora ela vai voltar.
O projeto deve agir na legalidade e não pode pintar muros sem autorização. Isso
poderia trazer problemas para os acadêmicos e para a instituição à qual os alunos e
o pesquisador estão vinculados, então, esse tipo de criação serviu para o exercício
da criatividade e não foram aplicadas até o momento.

FIGURA 47 – LOGO FIGURA 48 – ESTÊNCIL CRIADO A PARTIR DA


DREAMWORKS FIGURA 47

Fonte: Dreamworks, 2016. Fonte: Gohl, 2014.

A partir da primeira experiência, notou-se o desafio de convencer e


conscientizar o cliente a criar uma mensagem com o teor crítico que havia sido
planejado inicialmente, essa negociação com o cliente também tomou mais tempo
do que havia sido previsto, o que resultaria em um número menor de intervenções e
consequente diminuição do contato com a atividade prática de produção gráfica dos
acadêmicos, outra parte importante da experiência didática, então, a exemplo de
outros grupos de arte pesquisados, denominados coletivos, a equipe optou em
seguir um modelo mais livre, pedindo doações de muros e materiais, mas tendo
82

liberdade de nem sempre atrelar a produção gráfica dos muros com a proposta
comercial de um cliente específico.

b) MuroCromia 02: Asas


O segundo muro foi escolhido por ser em uma esquina de grande visibilidade.
Na primeira experiência, foram detectadas dificuldades técnicas e artísticas na
execução das propostas, pois nenhum dos acadêmicos envolvidos no projeto tinha
facilidade com as linguagens do desenho e pintura, tão importantes na produção do
grafite, pois a seleção dos acadêmicos é realizada mediante prova escrita de
conhecimentos relacionados a Publicidade e Propaganda. Então, voltou-se a
atenção para a execução em estêncil que, como já foi mencionado, é uma forma de
grafite em que se utiliza um molde vazado em papelão do desenho que será
“impresso” no muro. Essa técnica permite maior controle para “não desenhistas”. Os
alunos criaram um grande par de asas negras usando uma foto como referência
(Figura 49). Nos dois lados já existiam grafites e pichações.

FIGURA 49 – MURAL ASAS

Técnica: Estêncil com spray preto


Local: Esquina da R. Alm. Barroso e R. Primeiro de Maio. União da Vitória – Paraná
Fonte: Gohl, 2015.

As obras feitas com tinta spray têm grande durabilidade e se o muro estiver
em boas condições podem durar muitos anos. No subcapítulo 4.3, registram-se
postagens de pessoas que tiraram fotos com as asas e compartilharam de forma
pública na rede.
83

c) MuroCromia 03: Oficina de Estêncil para alunos do Ensino Médio


O projeto começou a ter repercussão nos jornais e nas redes sociais
(subcapítulo 4.3) e, com isso, uma professora de arte do Colégio Astolpho Macedo
de Souza contatou a equipe para a realização de uma Oficina de Estêncil para seus
alunos de Ensino Médio. A primeira parte da aula foi destinada a falar sobre a
história da arte urbana e do grafite. Em seguida, passou-se para a criação e
reprodução de imagens com spray e estêncil, quando os alunos tiveram contato com
o projeto MuroCromia (Figura 50).

FIGURA 50 – OFICINA DE ESTÊNCIL

Técnica: Estêncil
Local: Col. Est. Astolpho Macedo de Souza situado na R. dos Expedicionários, 158 –
São Basílio Magno - União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.

Pela participação ativa dos vinte alunos e a quantidade de perguntas sobre a


técnica, os três acadêmicos que realizaram a oficina perceberam o interesse dos
alunos pela técnica, que pode ser usada para pintar qualquer superfície e estampar
roupas. Como o diretor da escola não autorizou a produção de um mural, os alunos
realizaram suas reproduções em folhas de papel.

d) MuroCromia 04: Aquário de Distrações


Têm-se representadas no mural (Figura 51), cinco “iscas”, prontas para o
“consumo”: dinheiro, futebol, celular, televisão e Facebook. São “iscas” tentadoras e
necessárias à sobrevivência, mas por trás de cada uma delas existe um anzol pronto
para “fisgar” e capturar as pessoas numa armadilha. A imagem tem a intenção de
questionar como consumidores usam e como são usados por essas “iscas”. Os
84

lambaris são peixes comuns em todo Brasil, eles estão ali representando as
pessoas, que vivem buscando suprir suas necessidades básicas e são levadas a
crer que estas iscas são como alimentos, são vitais.

FIGURA 51 – MURAL AQUÁRIO DE DISTRAÇÕES

Título: Aquário de Distrações


Técnica: Estêncil com spray preto, vermelho e prata.
Local: R.Primeiro de Maio – ao lado do Corpo de Bombeiros. União da Vitória – Paraná
Fonte: Gohl, 2015.

De acordo com Mendonça (2008), em uma das enchentes do rio Iguaçu, o


então governador do Paraná, Roberto Requião, em entrevista a uma rádio local,
disse que o povo era como lambari do Iguaçu, pois insistia em morar nas áreas de
alagamento. Isso gerou reclamações dos munícipes e é um fato lembrado, até hoje,
como uma grande grosseria dita num momento de calamidade.
A obra foi executada no muro sobre um fundo branco com spray automotivo
nas cores vermelho, prata e preto. A técnica utilizada foi de moldes vazados ou
estêncil. O muro tem 30 metros de largura por 3 de altura e o tempo de execução foi
de 4 horas para aplicação no muro e mais 4 horas de recortes de estêncil,
totalizando 8 horas de trabalho. Um audiovisual com o nome de Distraídos
Venceremos foi produzido com todas as etapas da execução do mural "Aquário de
Distrações" e está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=U3dmhqkw1CE
– música Distraídos Venceremos, da banda Vespas Mandarinas foi acrescentado ao
vídeo.
85

e) MuroCromia 05: Paulo Leminski


O paranaense Paulo Leminski foi escritor e poeta, mas também um pichador
assumido e, por essa razão, um mural (Figura 52) em sua memória foi concebido
pelos alunos. Além da ilustração do artista, a poesia abaixo foi grafada na parede.

O amor, esse sufoco,


agora a pouco era muito,
agora, apenas um sopro.
Ah, troço de louco,
corações trocando rosas
e socos
(LEMINSKI, 1987, p. 37)

FIGURA 52 – MURAL PAULO LEMINSKI

Técnica: Poster lambe-lambe.


Local: Av. Getúlio Vargas, 899. Porto União – Santa Catarina
Fonte: gohl, 2015.

Houve a oportunidade de mostrar essa intervenção, por meio do audiovisual


em um celular, para Estrela Ruiz Leminski, filha de Paulo Leminski, que estava
participando como convidada da 34ª Semana Literária Sesc realizada no Centro
Universitário de União da Vitória – Uniuv. Não foi possível mostrar o mural “ao vivo”,
pois ele foi depredado tão logo produzido. Em uma semana, partes do mural foram
arrancadas. Em pouco tempo, posters com propagandas de danceterias e bailões
foram colados por cima. A necessidade de divulgação barata aliada a uma
propaganda ilegal colada nos muros é tão grande que surge assim como “musgo”
em lugares abandonados ou pouco monitorados, da mesma forma que as
pichações.
86

Um audiovisual com o nome de “MuroCromia – Paulo Leminski” foi produzido


com todas as etapas da execução do mural, mesclando com vídeos em que Paulo
Leminski palestra sobre sua percepção sobre o grafite. O vídeo está disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=VuQuw2bYelY – música Sinais de Haicais de
Paulo Leminski, com voz de Zelia Duncan, foi acrescentado ao vídeo e trouxe a cor
azul para o mural, pois declama:

Hoje eu acordei mais cedo


E azul
Tive uma ideia clara
Só existe um segredo
Tudo está na cara
(LEMINSKI, 2013)

f) MuroCromia 06: Pista de Skate


Houve o convite para realizar um trabalho em “parceria” com um grupo de grafite
local. A equipe foi verificar qual seria o tamanho do desenho e pensar em um projeto
gráfico que estivesse dentro da proposta do espaço público, que seria uma área de
lazer para a prática do skate. O espaço foi a “fachada” do banheiro. O grupo
responsável pelo grafite recebeu um incentivo da prefeitura com latas de tinta spray
para a execução do trabalho, que seria a pista de skate e o banheiro. O grupo da Uniuv
utilizou o material que recebeu de doação de uma empresa de material de construção.

FIGURA 53 – PISTA DE SKATE

Fonte: Gohl, 2015.

Preencheu-se o fundo com doodles – desenhos simples em estilo de


pichação – e, no tapume em frente aos banheiros, foi grafitado um grupo de
skatistas ao pôr do sol (Figura 53). Embora para a equipe que produziu o tapume
estivesse tudo certo, houve a necessidade de repintar o trabalho realizado no fundo
de última hora (Figura 54), a pedido de um dos integrantes do grupo de grafite, que
87

alegou que a baixa qualidade dos desenhos, em estilo pichação, estava gerando
questionamentos sobre a intervenção e confundindo com o trabalho mais rebuscado
do grafite (Figura 55).

FIGURA 54 – PISTA DE SKATE II

Técnica: Estêncil e spray preto para as figuras e tinta látex para os fundos.
Local: Parque Ambiental. União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.

FIGURA 55 – PAREDE LATERAL COM UMA DAS PRODUÇÕES


DO GRUPO DE GRAFITE LOCAL

Fonte: Gohl, 2015.

No período em que estava realizando a cobertura das imagens de fundo, dois


funcionários do parque foram questionar sobre o que estava acontecendo. O
primeiro achou que a parede havia sido pichada por vândalos e que o pesquisador
estava apagando. O segundo, perguntou o motivo por estar apagando aqueles
desenhos que ele tinha achado tão legais.

g) MuroCromia 07: Filtro dos Sonhos


Surgiu a ideia de criar um “Espaço Zen” (Figura 56) ao lado do mural do Paulo
Leminski, que é um lugar onde as pessoas passam de forma apressada para ir para
88

o trabalho. Então, foram pintadas andorinhas voando no céu azul e colocados filtros
dos sonhos produzidos pelos alunos. Antes do final do dia, os filtros haviam sumido.

FIGURA 56 – MURAL FILTRO DOS SONHOS

Técnica: Aplicação de filtros dos sonhos feitos pelos alunos e estêncil feito com tinta látex branca.
Local: Av. Getúlio Vargas, 899. Porto União – Santa Catarina
Fonte: Gohl, 2015.

h) MuroCromia 08: Pedalar


O espaço ao lado da primeira intervenção, que é também uma ciclovia, foi
readequado com um desenho de uma bicicleta com flores na cestinha e um poema
do ilustrador Pedro Gabriel, no projeto Eu Me Chamo Antônio (Figura 57):

Ser feliz é pedalar


Lá pelas tantas
Pelas pétalas
Do seu sorriso
Florido.

FIGURA 57 – MURAL PEDALAR

Técnica: Marcador preto.


Local: Calçada na divisa do Paraná e Santa Catarina. União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.
89

i) MuroCromia 09: Semana da Comunicação: Eu estive aqui!


Todos os anos, os cursos de Jornalismo e de Publicidade Propaganda da
Uniuv realizam juntos a Semana de Comunicação, quando recebem nomes de
destaque das duas áreas para proferir palestras e ministrar cursos para os
acadêmicos de todos os períodos da graduação.
Pensou-se em uma forma de dar voz aos acadêmicos, que teriam a chance
de a cada dia deixar um recado, um desenho, uma opinião ou crítica em grandes
faixas de papel reciclado que foram colocadas ao longo de todo corredor que dava
acesso à sala de eventos da Uniuv (Figura 58).

FIGURA 58 – EU ESTIVE AQUI!

Técnica: Papel de reciclagem e canetão colorido.


Local: Uniuv. Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, 3856 - São Basílio Magno.
União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.

Também foram dispostos “bolsos” de papel para acomodar os canetões para


que todos pudessem escrever sem desculpas da falta de material. Várias
brincadeiras, desenhos, hashtags, telefones, declarações de amor e disputas com
acadêmicos de outros cursos apareceram nas paredes. Por solicitação dos alunos a
ideia se estendeu para todas as salas de aula de Publicidade e Propaganda pelo
restante do semestre, possibilitando uma troca de mensagens e desenhos
diretamente na parede. É importante mencionar que o projeto, aos poucos, foi
envolvendo outros acadêmicos, sempre com o apoio e o reconhecimento da
instituição.
90

j) MuroCromia 10: Flores no deserto


O estêncil de três modelos de flores com 1,5m de altura foi recortado em
EVA 17 que foram pintadas com diversas cores sobre a parede deteriorada (Figura
59). As flores no concreto são uma forma poética de mostrar que apesar da rudeza
do cimento, pode brotar beleza, numa batalha contra o tédio e a monotonia da
paisagem que já não se pode ver.

FIGURA 59 – MURAL FLORES NO DESERTO

Técnica: Estêncil com tinta látex em várias cores.


Local: R.Primeiro de Maio – ao lado do Corpo de Bombeiros. União da Vitória – Paraná
Fonte: Gohl, 2015.

k) MuroCromia 11: Lambe-lambe


Essa intervenção surgiu em uma aula sobre arte de rua com os acadêmicos
do 3º ano do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e
Propaganda que estavam curiosos com algumas formas de interagir com a cidade e
gostariam de participar do projeto MuroCromia. Então, foi feita a proposta de colar
cartazes com cola de trigo na ciclovia (Figura 60).
Na primeira aula, cada aluno teve a liberdade para criar frases ou produzir as
imagens dos cartazes. Na segunda aula, o ponto de encontro foi a rua e, munidos
dos cartazes impressos, de cola e de pincéis, colaram e registraram a ação com
fotos e vídeo. Os acadêmicos que participaram da aula fizeram muitos elogios para
a ação e outros vieram nos comentários do vídeo produzido e postado pelos
próprios alunos nas redes sociais. Percebeu-se o quanto essa interação com a
cidade estimula e fortalece a relação do aluno como responsável pela comunicação
no espaço público e faz com que ele vivencie uma primeira experiência como
publicitário, por meio de uma intervenção comum a publicidade.

17
Material comumente utilizado em artesanato. Borracha EVA é uma mistura de Etil, Vinil e Acetato.
91

FIGURA 60 – LAMBE-LAMBE

Técnica: Cartazes lambe-lambe.


Local: Calçada na divisa do Paraná e Santa Catarina. União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.

Um audiovisual foi produzido por uma acadêmica que participou da proposta


e foi compartilhado nas redes sociais com o nome de MuroCromia Lambe Lambe e
está disponível em: https://youtu.be/ANdLqKH14Ow.

l) MuroCromia 12: Another Brick in The Wall


O Diretório Acadêmico XXX de Abril, da Uniuv, solicitou uma intervenção
durante a Semana Cultural realizada pelo grêmio estudantil. Foi convidado o
acadêmico de Arquitetura e Urbanismo Eduardo Mayer para realizar um mural
(Figura 61) inspirado no filme do Pink Floyd – Another Brick in The Wall:

FIGURA 61 – MURAL ANOTHER BRICK IN THE WALL

Técnica: Pintura à mão com tinta látex.


Local: Uniuv. Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, 3856 - São Basílio Magno.
União da Vitória – Paraná.
Fonte: Gohl, 2015.
92

m) MuroCromia 13: Vale das Plantas


A última ação do projeto retornou a proposta inicial, selecionando a empresa
de paisagismo Vale das Plantas de Porto União - SC e desenvolvendo um mural em
parceria com o grafiteiro Bico, que executou o conceito criativo “Regue a vida com
amor” além de assinar a obra (Figura 62). O mural fica na Ciclovia do Contestado,
local de grande circulação de pedestres e ciclistas. Nessa atividade os acadêmicos
exercitaram a Direção de Arte e seu papel de articuladores entre a empresa cliente e
o grafiteiro para a execução do projeto.

FIGURA 62 – MURAL REGUE A VIDA COM AMOR

Técnica: Tinta spray.


Local: Ciclovia do Contestado. Porto União – Santa Catarina.
Fonte: Gohl, 2016.

4.3 IMPACTOS DO PROJETO

A proposta do projeto foi misturar propaganda e grafite criando uma


comunicação no muro diferenciada, mais crítica junto com os anunciantes que
seriam também os patrocinadores do mural. No primeiro trabalho, ficou explícita a
dificuldade em realizar essa proposta, pois o anunciante não se mostrou disposto a
arriscar e preferiu uma propaganda “convencional”. Ao perceber a interferência do
cliente no processo de criação e produção no primeiro mural, tendo que acatar uma
visão comercial e tradicional da propaganda, a experiência desagradou os alunos,
que ansiosos pelo experimentalismo, subverteram a ideia inicial, buscando novas
alternativas para viabilizar o projeto e poder se comunicar de forma livre pelos
muros, a exemplo de alguns coletivos pesquisados, como o Coletivo Transverso de
Brasília (COLETIVO TRANSVERSO, 2016), o que não invalidou as discussões
sobre propaganda e arte, pelo contrário, ampliou ainda mais esse debate.
93

Por estar vinculado à instituição pública de ensino, houve facilidade em


conseguir apoio, doações de material e muros e, com toda certeza, um grafiteiro
precisaria ter renome e bagagem artística para conseguir tais facilidades, bagagem
que nenhum integrante do projeto tinha. Nas reuniões semanais, nas conversas
entre alunos e professor, percebeu-se que o projeto trouxe um novo olhar sobre a
propaganda e o grafite, novas questões sobre a Indústria Cultural, os Estudos
Culturais, a hegemonia e o seu papel ético como publicitários, além de permitir
exercitar a criação e colocar suas ideias nos muros. O MuroCromia também se
transformou em uma propaganda para a instituição de ensino e para o curso, pois
sempre que era citado, a instituição e o curso apareciam juntos. O projeto foi
renovado para o período de 2016/2017.
Já no início das ações houve a repercussão do projeto nos jornais regionais,
tanto nas versões online como nas impressas, o enfoque foi de incentivo ao projeto
com destaque para a questão do grafite e da legalidade do projeto que estava
vinculado a uma Instituição de Ensino Superior. A questão da pichação foi evitada
nas notícias (ver Anexos A a D). Relacionam-se quatro delas: 1) Coluna Entre
Linhas, do jornal O Comércio, de União da Vitória, no sábado dia 14 de fevereiro de
2015, nota sobre o projeto da Uniuv, informando que um barracão da cidade
“recebeu um tom mais colorido” (O COMÉRCIO, 2015); 2) reportagem com o título:
Projeto acadêmico começa suas intervenções nas cidades, publicada no jornal O
Iguassú, em 16 de outubro de 2014, na matéria, tanto professor quanto estudantes
envolvidos são entrevistados e há um destaque mencionado a legalidade do projeto;
3) em 04 de dezembro de 2014, no mesmo jornal O Iguassú, outra reportagem sobre
o MuroCromia, com informações e detalhes da proposta de extensão universitária,
recebeu o título de Arte e propaganda aliadas interferem no mobiliário urbano das
cidades; 4) também chama a atenção uma reportagem assinada por Bruna Kobus,
com o título Muros ganham vida com projeto acadêmico, em 30 de janeiro de 2015,
no site de notícias vvale.com.br do Grupo Verde Vale Comunicação, também
destaca o projeto, mencionando suas características e valorizando o caráter
institucional, ao mesmo tempo experimental, das atividades.
Não é possível medir o alcance do projeto nas redes sociais. A maioria dos
perfis não é público, o que dificulta a pesquisa, mas sempre que possível e com ajuda
de acadêmicos e colaboradores, foram agrupadas as postagens referentes ao projeto
MuroCromia publicadas no Facebook e Instagram. Criar uma marca, um nome único
94

(uma tag) sem similares na internet favoreceu na localização do que era publicado
sobre o projeto, mesmo que sem o uso das atuais hashtags, que servem como filtros
para os conteúdos publicados. A seguir, relacionam-se postagens com suas legendas
e hashtags catalogadas por estarem compartilhadas de forma pública na Internet.
Na Figura 63, a foto da jornalista Katiuscia Silvestri tem como fundo a
mensagem “Distraídos venceremos” que faz parte do grafite “Aquário de distrações”
com a seguinte legenda: “Sim, venceremos! o/ com as hashtags
#distraídosvenceremos #MuroCromia #graffitiart #segundafeira #venquevem” que foi
postada às 9:42 am, no dia 12/07/2015.

FIGURA 63 – ICONOSQUARE - DISTRAÍDOS VENCEREMOS

Fonte: Silvestri, 2015.

Na Figura 64, a legenda diz “Que o dinheiro nao te fisgue, nao te compre e
nao te prendas!!”. Com as hashtags #MuroCromia #rolecity #rua #asruasfalam
#artederua #streetart #fish #money #conduta #stylelife #role #trip
#mensagemsubliminar #idealismo #stencil #aruaehnois”.

FIGURA 64 – INSTAGRAM – DISTRAÍDOS VENCEREMOS

Fonte: Olenka, 2015a.


95

Na Figura 65, observa-se uma postagem de Eduardo Mayer, acadêmico de


arquitetura da Uniuv, que faz uma homenagem a sua mãe ao fundo com o mural
“Asas”. Nos comentários, diz: “Isso mesmo mãe é um anjo que Deus nos deu”.
Postagem dia 16 de agosto de 2015.

FIGURA 65 – FACEBOOK - ASAS

Fonte: Mayer, 2015.

A Figura 66 apresenta uma interação do mural “Asas” com uma placa de


Sentido Proibido. Na legenda, “E a placa diz: "Nao suba" anjo negro nao vai para o
céu...”, com as hashtags #role #rua #pirando #friends #caminhadanoturna
#namadruga #anjonegro #MuroCromia #streetart #artederua #quebrada
#aruaehquem #vibe #risadas #envelhecendo #aniversariando #theend”.

FIGURA 66 – INSTAGRAM - ASAS

Fonte: Olenka, 2015b.

Na Figura 67, percebe-se uma aura romântica na foto, mostrando que os


indivíduos têm percepções pessoais, portanto, diferentes em frente ao mesmo
mural.
96

FIGURA 67 – FACEBOOK – ASAS II

Fonte: Freyesleben, 2015

Na Figura 68, a fotógrafa Viih Sonnestrahl mostra uma imagem artística do


mural com a legenda “Sabedoria #derua — em Centro Porto União – SC”.

FIGURA 68 – FACEBOOK – AMIR KLINK

Fonte: Sonnenstrahl, 2016.

Na Figura 69, temos um exemplo da repercussão do mural “Regue a vida com


amor.” nas redes sociais Facebook e Instagram.

FIGURA 69 – INSTAGRAM - REGUE A VIDA COM AMOR

Fonte: Bonfleur, 2016.


97

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A propagada, o grafite e a pichação são vozes que se manifestam na cidade


polifônica e todos devem ser ouvidos, pois são formas híbridas de comunicação que
coexistem na paisagem urbana. Nem sempre estão em harmonia e, por pertencerem
ao campo da cultura, local onde lutas simbólicas são travadas constantemente,
podem se tornar dissonantes, produzindo conflitos que também se manifestam na
materialidade da cidade. Essas três manifestações têm origem comum, surgem da
necessidade humana de se expressar e, desde os primeiros registros de inscrições
em paredes, tem-se uma mistura de propaganda, grafite e pichação, que nos dias
atuais mostra sua evolução, adaptando-se e reinventando-se a cada geração.
A pichação não pede permissão. Portanto, pode ser interpretada como
vandalismo por essência, mas representante de um movimento e de um estilo de
vida que muitos se identificam, e que mantém seu status anarquista, pois vai contra
os direitos de propriedade e os ideais de limpeza arraigados por séculos nas
sociedades. Já o grafite, que no Brasil não é mais considerado crime quando
autorizado, é associado à arte e pode se considerar institucionalizado. Mas nem por
isso é menos importante ou desinteressante, pelo contrário, tem qualidade técnica,
evoluiu artisticamente, ganhou as ruas, aproximou as pessoas da arte e continua
surpreendendo com sua criatividade visual em murais cada vez maiores e mais
elaborados.
As prefeituras, em seu combate às formas ilegais de pintura, criam formas de
incentivar os grafiteiros na esperança de eliminar os pichadores. Usam do grafite,
que é esteticamente mais colorido, para camuflar a pichação suja e “sem sentido” –
relativizando, nesse caso, que essa é a posição de determinados setores sociais,
mais voltados ao comércio, como no exemplo apresentado nesta dissertação quanto
à campanha “Pichação é crime. Denuncie”, encabeçada pela Associação Comercial
do Paraná, ACP, na cidade de Curitiba. Mas o suporte institucional ao grafite gera
conflito, o pichador não vê com bons olhos o grafite, que um dia já foi marginal e
agora está “dentro do sistema”.
A propaganda é uma linguagem que toma para si todos os signos, tem poder
financeiro, muitas vezes está ligada ao Estado, tem legitimidade para atuar e mudar
o espaço urbano, contratar espaços, cria intervenções, fechar ruas. Ela pode
“engolir” a pichação e o grafite, “mastigar” e entregar a mensagem que quiser,
98

entretanto, também é um resultado de quem somos como sociedade e pode ajudar a


moldar quem queremos ser. Por isso mesmo, tem papel fundamental como
verdadeira ciência social aplicada e transdisciplinar entrelaçando a psicologia, a
sociologia e a antropologia.
A sociedade de consumo vem apresentando sinais de esgotamento, não só
da perspectiva econômica, mas também da ambiental, o que aumenta a crítica aos
seus mecanismos de manutenção do poder como a obsolescência programada dos
produtos. Nesse cenário, é importante que hajam vozes dissonantes, e grafite,
pichação e propaganda podem desempenhar esse papel ao questionar que tipo de
sociedade se quer construir. Com opiniões e vontades divergentes sobre as políticas
de uso das cidades, surgem movimentos de ocupação, de artistas de rua e de
pichadores que tentam erguer suas bandeiras, marcar sua posição.
A luta simbólica entre esses atores sociais pode ganhar contornos de guerra
real e deixar vestígios importantes no espaço urbano, modificando esse ambiente de
forma a se proteger das ameaças futuras. Isso implica numa militarização das
cidades que visa proteger o patrimônio público e privado de qualquer “ameaça”.
Esse fenômeno está mais acelerado e evidente nos Estados Unidos em razão dos
ataques terroristas e por conta de grafiteiros e terroristas explorarem as mesmas
falhas no sistema, apesar de terem motivações diferentes, conforme observado por
Ivenson (2010a e 2010b).
A pichação luta contra a propaganda, torna-se tecnológica para driblar os
sistemas de vigilância, adota a ética hacker, vandaliza o outdoor para dizer que o
espaço urbano deve ser de todos, não só das grandes marcas. Assim como o
hacker, o pichador desenvolve novas funcionalidades para a cidade, eles conhecem
bem esse sistema e podem adaptá-lo de acordo com os seus interesses. Grafitar e
pichar transformam a cidade, são ações engenhosas para recombinar e dar novas
funções aos espaços, assim como os rolezinhos 18 são um tipo de hack que
reconfigura o uso de um shopping center, caracterizando uma astúcia dos
consumidores de acordo com a teoria de Michel de Certeau em A Invenção do
Cotidiano (2014). Visto dessa forma, a pichação e o grafite são expressões
articuladas, coordenadas e politizadas de não conformismo, com capacidade de
tensionar o tecido social e promover transformações em pequena ou grande escala.

18
Encontros de grupos com centenas de jovens, combinados pelas redes sociais e que ocorrem em
locais públicos ou em shopping centers.
99

Defende-se aqui a pichação e o grafite no sentido de uma ação mobilizadora e


transformadora, mesmo que local, uma forma de “hackear o sistema” e ter uma
relação mais ativa com a política e suas batalhas.
O projeto MuroCromia surgiu com a ideia de tornar prática as disciplinas de
Direção de Arte e Produção Gráfica, que atualmente dependem da informática, é
notável a falta de algumas habilidades manuais nos jovens, que diferente das
gerações anteriores, teve contato com as formas de produção analógicas, com
tintas, fotografia no rolo de filme, edição de vídeo e áudio em fita, processos de
criação com colagens e ilustrações que começavam obrigatoriamente com lápis e
papel. Essa geração inicia sua vida no ambiente digital, e desconhecendo os
processos físicos que deram base para seus apps e softwares, enfrentam uma
ruptura na hora de criar conexões sobre certos conhecimentos. O recortar de hoje é
feito muito mais por uma ferramenta digital do que pela tesoura.
Além da proposta de pintar muros a partir da reflexão dos conflitos e
apropriações entre a propaganda e grafite com clientes reais, que são questões
próprias da Direção de Arte, o projeto estimula um reencontro com as formas
simples de impressão como o estêncil, com técnicas de reprodução de imagem,
tintas, recorte e colagem que são a ponte entre o mundo físico e o digital dessas
disciplinas. Essa ruptura entre o analógico e o digital que dificulta a conexão dos
acadêmicos com os conteúdos de algumas disciplinas é algo que necessita de um
estudo com mais profundidade.
A repercussão das atividades do projeto nos jornais locais e nas redes sociais
confirmou o interesse da sociedade pela transformação do espaço urbano e muitas
pessoas demonstraram apoio ao projeto, doando tintas, muros e seu tempo como
voluntários nas diversas intervenções realizadas, levando o nome do Centro
Universitário da Cidade de União da Vitória e do curso de Comunicação Social -
Publicidade e Propaganda - para além dos muros da instituição, tendo despertado o
interesse acadêmico nos congressos nacionais e internacionais que participou como
Ibercom e Intercom Sul.
O projeto MuroCromia, contando com uma equipe de três acadêmicos e um
professor, produziu reflexões não apenas em seus participantes, quanto ao seu
papel ético como futuros publicitários, mas também na comunidade onde o projeto
teve impacto modificando espaços, questionando padrões e sugerindo alternativas.
Por meio de uma prática de confronto de ideias e ideologias foi possível
100

compreender aspectos positivos e negativos da propaganda. Não é fácil conciliar


todas essas visões, a luta é desigual e a propaganda domina, mas das apropriações
e principalmente dos conflitos que ocorrem nesse campo de batalha é que essas
formas de comunicação continuarão se desenvolvendo e avançando para ganhar
cada vez mais relevância em nossa cultura hibrida.
101

REFERÊNCIAS

ACP. Rua São Francisco ganhou cor e arte neste domingo. 2013. Disponível em:
<http://www.acpr.com.br/site/2013/06/rua-sao-francisco-ganhou-cor-e-arte-neste-do
mingo/>. Acessado em: 30 jan. 2015.

BANKSY. Existencialism. UK: Weapons of Mass Destruction Press, 2002.

______. Guerra e spray. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2012.

BAIRD, J.; Taylor, C. Ancient Graffiti in Context. New York: Routledge, 2011.

BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da


cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.

______. Rua de Mão única. Obras Escolhidas II. São Paulo: Editora Brasiliense,
2000.

BERGER, P. L.; LUCKMANN, T. A Construção Social da Realidade: tratado de


sociologia do conhecimento. 19 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J.-C. A reprodução: elementos para uma teoria do


sistema de ensino. 1982. In: ALMEIDA, L. R. da S. Pierre Bourdieu: a transformação
social no contexto de “A Reprodução”. Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 2005.
Disponível em: < http://www. revistas.ufg.br/index.php/interacao/article/view/1291>.
Acesso em 20 ago 2014.

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Disponível em: http://vejasp.abril.com.br/materia/prefeitura-apaga-grafite-os-gemeos.
Acesso em: 08 jan. 2015.

WIKIPEDIA. Muro de Berlim. 2016. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Muro


_de_Berlim>. Acesso em: 01 fev. 2016.

WILLIAMS, R. Los Medios de Comunicación Social. Barcelona: Península, 1974.

______. Cultura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992a.

______. Television: Technology and Cultural Form. London: Wesleyan University


Press, 1992b.
110

ANEXO A

COLUNA ENTRE LINHAS


Jornal O Comércio – Sábado, 14 de fevereiro de 2015 – Ano 84 – Edição 5309.

Antigo barracão da empresa Abbaspel, na Avenida dos Ferroviários, em Porto


União, recebeu um tom bem mais colorido.
Por lá, frase de Paulo Leminski foi grafitada. A novidade, que “puxa” para
reflexão, já rendeu elogios. A arte é assinada pelo grupo da Uniuv “MuroCromia” (O
COMÉRCIO, 2015).
111

ANEXO B

PROJETO ACADÊMICO COMEÇA SUAS INTERVENÇÕES NAS CIDADES


16 Outubro 2014 / Redação O Iguassú

MuroCromia, esse é o projeto de pesquisa desenvolvido por alunos do curso


superior de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda, sob
a orientação do Professor Mestrando Fernando Gohl. O projeto começou a cerca de
dois meses e busca aliar arte urbana com a propaganda, através de ações
realizadas em diversos locais das cidades.
A pesquisa que começou dentro do Centro Universitário de União da Vitória,
agora começa a aplicar suas ações pelas cidades. Para Gohl, o projeto tem o
interesse de pensar e discutir a arte e a propaganda. “A duvida que o projeto coloca,
é justamente quando arte e propaganda se juntam, temos o interesse de discutir
essas relações e de como o espaço urbano é usado”, comenta.
Inicialmente desenvolvido para a criação de painéis em muros da cidade,
aliando arte e publicidade, agora o interesse de pesquisa desenvolve-se nas
intervenções urbanas e ações que busquem o desenvolvimento do pensar sobre a
arte e a publicidade como meios de expressão social. “O MuroCromia é basicamente
um projeto para desenvolver uma pesquisa baseada nos valores dessa questão da
arte urbana e da publicidade e como elas vem sendo usadas”, afirma Gohl.
Gabriela Borges Souza, acadêmica pesquisadora do MuroCromia, o projeto
irá causar questionamentos na sociedade. “Escolhi participar do projeto pois a
iniciativa de trazer a arte através da pesquisa junto com a publicidade me agradou, e
isso chamará a atenção da sociedade para demonstrar que a arte deve ser
valorizada.”
“Participar do projeto é incrível, pois irá abrir novos horizontes em uma cidade
como a nossa”, afirma Kathleen Hoberg Andre, acadêmica pesquisadora do projeto.
As intervenções que serão realizadas, na prática não são arte, afirma Gohl.
“Sempre teremos algum apoio financeiro, e por ser um projeto de pesquisa
institucional não é independente.”
As atividades realizadas pela equipe do projeto podem ser acompanhadas
pela página MuroCromia no facebook.
112

Legalidade: Todas as ações programados pelo MuroCromia são legalizadas.


“Por começar como um projeto institucionalizado, a pintura dos muros ocorre
mediante autorização, obedecendo os critérios legais”, afirma Gohl. O projeto
propõem novas formas de fazer intervenções, para questionar o status quo e o
poder do sistema, de uma forma mais artística, pare disseminar a arte e os outros
caminhos, comenta (O IGUASSÚ, 2014b)
113

ANEXO C

ARTE E PROPAGANDA ALIADAS INTERFEREM NO MOBILIÁRIO URBANO DAS


CIDADES
04 Dezembro 2014 / Redação O Iguassú

MuroCromia, esse é o projeto de pesquisa desenvolvido por alunos do curso


superior de Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda do
Centro Universitário de União da Vitória (Uniuv). O projeto de integra o Programa de
Incentivo à Pesquisa Acadêmica (PIPA) e é desenvolvido sob a orientação do
Professor Mestrando Fernando Gohl. O objetivo do projeto é aliar a teoria passada
em sala de aula com a prática de conhecimentos adquiridos que o mercado de
trabalho exige.
O projeto começou em agosto, e busca aliar arte urbana com a propaganda,
através de ações realizadas em diversos locais das cidades. A pesquisa que
começou dentro da Uniuv, agora começa a aplicar suas ações pelas cidades. Para
Gohl, o projeto tem o interesse de pensar e discutir a arte e a propaganda. “A duvida
que o projeto coloca, é justamente quando arte e propaganda se juntam, temos o
interesse de discutir essas relações e de como o espaço urbano é usado”, comenta.
Inicialmente desenvolvido para a criação de painéis em muros da cidade,
aliando arte e publicidade, agora o interesse de pesquisa desenvolve-se nas
intervenções urbanas e ações que busquem o desenvolvimento do pensar sobre a
arte e a publicidade como meios de expressão social. “O MuroCromia é basicamente
um projeto para desenvolver uma pesquisa baseada nos valores dessas questões
da arte urbana e da publicidade e como elas vem sendo usadas socialmente”, afirma
Gohl.
A primeira intervenção realizada pelo MuroCromia no mobiliário urbano local
já encontra-se finalizada, e esta no entroncamento entre as duas cidades, localizado
no antigo trilho do trem. O muro foi o resultado de uma parceria com a Papelaria
Gisa, que cedeu o muro, e com a Agência de Viagens Sete Ilhas, que patrocinou os
materiais necessários para elaboração do projeto. “Quando recebi a proposta, achei
muito interessante, pois é algo inovador nas cidades e isso é muito importante para
minha empresa”, ressalta Arceli Maria Fudal, sócia proprietária da Agência Sete
Ilhas.
114

O Muro 01 (M01) como é denominado no projeto, foi criado através da


pesquisa de mercado direcionada para a agência Sete Ilhas e foi desenvolvida pela
equipe para incentivar a população a procurar viajar. “Foi uma experiência única,
pois, não tínhamos realizado nada parecido antes e a maneira como as pessoas
parabenizavam e diziam que estávamos melhorando a cidade foi incrível”, afirma
Kathleen Hoberg Andre, acadêmica pesquisadora do projeto.
As intervenções que serão realizadas, na prática não são arte, afirma Gohl.
“Sempre teremos algum apoio financeiro, e por ser um projeto de pesquisa
institucional não é independente.” Além do impacto visual causado, o M01 também
remete à propaganda para a agência patrocinadora, que é o intuito do projeto em
aliar arte e propaganda, finaliza.
“Participar de um projeto inovador e apostar em iniciativas criativas foi oq eu
mais chamou atenção da nossa empresa para apoiar o projeto, será um diferencial
para a agência”, completa Arceli.
As atividades realizadas pela equipe do projeto podem ser acompanhadas
pela página MuroCromia no facebook (O IGUASSÚ, 2014a)
115

ANEXO D

MUROS GANHAM VIDA COM PROJETO ACADÊMICO


Alunos de Publicidade e Propaganda da Uniuv aplicam técnicas de direção de arte e
produção gráfica
30 de janeiro de 2015 - 13h 57 – Grupo de Comunicação Verde Vale
Postado por: Bruna Kobus

Três alunos de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário de União da


Vitória (Uniuv) embarcaram em um projeto para colocar na prática as teorias
aprendidas dentro de sala de aula. Isso só foi possível por meio do Programa de
Incentivo à Produção Acadêmica (PIPA) que começou a funcionar no ano passado
dentro da Instituição. No projeto MuroCromia, comandado pelo professor de
Publicidade, Fernando Gohl, os alunos ganham dinheiro e aplicam técnicas e
conceitos de direção de arte e produção gráfica – duas disciplinas oferecidas pelo
Curso. “É muito bom porque envolve criação e produção. As atividades servem
como exercício da parte criativa”, comenta.
Até agora dois muros receberam os grafites dos acadêmicos faltam, ainda,
dez para finalizar a proposta. Contudo, conforme Gohl, o projeto não tem recurso
próprio, apenas os alunos são remunerados, já para a compra dos materiais não há
dinheiro. “Nós dependemos da iniciativa privada que libera o dinheiro para a compra
dos materiais”, conta. Funciona assim: os alunos fazem o grafite nos muros e, o
empresário que tiver doado o dinheiro ou os produtos, terá sua logo grafitada ao
lado dos desenhos. Mas, além da matéria prima o muro também tem de ser doado.
“A gente precisa de autorização para pintar, então temos que esperar o pessoal
liberar os espaços para nós”, explica o professor.
O projeto será renovado em agosto pela Instituição, depois outros
acadêmicos poderão se juntar ao grupo.
Serviço
Quem quiser ajudar pode ligar para a Uniuv 3522 1837 e falar com Fernando
Gohl.
Para saber mais sobre o projeto acesse: facebook.com/pages/MuroCromia
(KOBUS, 2015)

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