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FACULDADE DE AGRONOMIA
DEPARTAMENTO DE SOLOS
(1)
“Notas de Aula” da disciplina AGR03017–Manejo e Conservação do Solo, Faculdade de Agronomia
da UFRGS, Porto Alegre, RS. Preparadas para o Semestre 2021/1 no sistema de ERE
(2)
Engo Agr o, PhD, Professor Titular do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. e-mail: elemar.cassol@ufrgs.br
(Última atualização em outubro de 2021)
-2-
Obs.: Para segmentos de chuva com i 76 mm/h, ec= 0,2832 MJ ha-1 mm-1.
- Multiplicar o valor de "ec" pela quantidade total de chuva, em mm, ocorrida no
segmento. Com isso teremos o valor de energia cinética naquele segmento (Es) de
chuva, em MJ ha-1;
- Repetir o procedimento do item anterior para todos os segmentos da chuva
individual;
- Somando-se a energia cinética de todos os segmentos de uma chuva individual,
teremos a energia cinética total da referida chuva (Ect);
- Determinar a intensidade máxima dessa chuva individual e erosiva com base em
30 minutos de chuva. Durante todo o período de uma chuva individual, determinar o
período consecutivo de 30 minutos em que ocorreu a maior quantidade de chuva;
com base nesses 30 minutos determinar a intensidade máxima da chuva individual,
dada em mm h-1 (quantidade de chuva em 30 minutos multiplicada por 2 para
expressar a intensidade em mm h-1). Caso a duração total da chuva individual e
erosiva for menor que 30 minutos, considerar como se tivesse durado 30 minutos.
- Calcular o índice EI30 da chuva individual e erosiva, que é dado pelo produto da
energia cinética total da chuva (Ect) e a intensidade máxima (I), em mm/h, dada
com base em um período de 30 minutos, em MJ mm ha-1 h-1;
- Somando-se os EI30 de todas as chuvas individuais de um determinado mês,
obtém-se a erosividade das chuvas daquele mês (erosividade mensal);
- Somando-se os índices de erosividade (EI30) dos 12 meses de um determinado
ano, obtém-se a erosividade anual, para aquele ano;
- Fazendo-se a média da erosividade anual das chuvas de um longo período (20
anos ou mais), obtém-se o Fator "R" da Equação Universal de Perdas de Solo, em
MJ mm ha-1 h-1 ano-1.
- Obtendo-se o Fator "R" de vários locais, pode-se construir o mapa das linhas iso-
erodentes, que é um mapa em que se traçam linhas unindo os pontos de mesma
erosividade média anual, isto é, os pontos com o mesmo Fator "R".
No ANEXO 1 dessas “NOTAS”, encontra-se um exemplo de cálculo da
erosividade da chuva pelo índice EI30.
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Porto Alegre 30° 02’ S 51° 14’ W 10 m 1974 a 2003 5.242 Cassol et al. (2004)
Peñalva-Bazzano et al.
Rio Grande 32° 01’ S 52° 09’ W 15 m 1957 a 1981 5.135 (2010)
Pelotas 33° 31’ S 52° 25’ W 13 m 1961 a 1998 4.919 Lago (2000)
Santa Vitória do
Palmar 31° 47’ S 53° 21’ W 23 m 1985 a 1998 3.851 Lago (2000)
-5-
Pode-se constatar na Tabela 1, que no Estado do Rio Grande do Sul existe uma
clara tendência de aumento do potencial erosivo das chuvas no sentido de Sul →
Norte e no sentido Leste → Oeste. Desta forma, os maiores potenciais erosivos das
chuvas ocorrem na região Noroeste do Estado.
O potencial erosivo das chuvas pode ser classificado conforme a variação do
Fator “R”, em classes apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2. Classes de erosividade das chuvas (adaptado de Carvalho, 1994)
Erosividade anual – Fator “R”
Classes de erosividade
(MJ mm ha-1 h-1 ano-1)
R ≤ 2.500 Baixo potencial erosivo
2.500 < R ≤ 5.000 Médio potencial erosivo
5.000 < R ≤ 7.500 Médio a alto potencial erosivo
7.500 < R ≤ 10.000 Alto potencial erosivo
≥ 10.000 Muito alto potencial erosivo
Conforme observa-se na Tabela 2, comparando-se com a Tabela 1, as chuvas
no estado do Rio grande do Sul estão entre um médio potencial erosivo e muito alto
potencial erosivo.
Com base nas informações disponíveis, Machado (2015) desenvolveu uma
primeira aproximação do mapa das linhas isso-erodentes, apresentado na Figura 1.
Figura 1. Mapa preliminar das linhas isso-erodentes do Estado do Rio Grande do Sul
(Machado, 2015)
-6-
COBERTURA POR
PLANTAS ERETAS
0 25 50 75 100
COBERTURA DO SOLO, %
pontos de mesma cota do terreno, isto é, em curva de nível. Nesse caso, a construção
de terraços com canal em nível, provoca uma alteração no valor do Fator "L", visto que
o comprimento do declive passará a ser o espaçamento entre os terraços, ou seja, o
espaçamento horizontal (EH). A perda de solo estimada será então aquela da faixa
entre os terraços. No caso de se considerar toda a área e o tipo de terraço é o de
armazenamento (retenção, infiltração), pode-se considerar a eficiência de 100% em
relação a área total da lavoura terraceada, pois o solo perdido por erosão ficará dentro
do canal dos terraços e não sairá da área da lavoura. Certamente, para que essa
situação seja alcançada é imprescindível que os terraços sejam adequadamente
dimensionados e bem construídos, para que todo o escoamento superficial e o solo
erodido fiquem retido no canal dos terraços, isto é, dentro da lavoura.
Quando a prática conservacionista é o terraceamento com terraços com
gradiente (terraço de drenagem) e a estimativa de perdas de solo é efetuada para
toda a área e não apenas para o espaço entre um terraço e outro, o comprimento de
rampa é o de toda encosta e o valor do fator “P” para o terraceamento é dado na
Tabela 5, conforme a declividade do terreno.
Tabela 5. Fator “P” para terraceamento com terraços com gradiente e cultivo em
contorno (Extraído e adaptado de Wischmeier & Smith, 1978).
Nesse tipo de situação, com perdas toleráveis de solo até 13 t ha-1 ano-1
enquadram-se a maioria dos Latossolos e dos Nitossolos.
Admitindo-se que a perda máxima tolerável neste solo seja de 6,5 t ha-1 ano-1, o
valor acima estará muito alto e deve ser reduzido. Uma das primeiras soluções seria
realizar o preparo do solo e o plantio em contorno, ao invés de no sentido do declive.
Para declividade de 8%, conforme a Tabela 4 das Notas de Aula, o Fator P= 0,50,
mas, com eficiência apenas para 60 m de comprimento do declive. Pode-se então
utilizar terraços em nível, espaçados em 60 m. Nesse caso, o preparo do solo
continuaria em contorno e o Fator P= 0,5; mas o comprimento do declive seria 60 m o
qual com a declividade de 8% daria um fator LS= 1,4. Então, as perdas de solo seriam
estimadas por:
A= 8.825 x 0,0090 x 1,4 x 0,1576 x 0,5 = 8,76 t ha-1 ano-1
Somente fazendo-se o cultivo em contorno e terraços distanciados a 60 m não é
suficiente para reduzir as perdas de solo a níveis abaixo do limite tolerável. Se o
produtor quer manter o uso agrícola com a sucessão trigo-soja, a solução então é usar
um preparo de solo conservacionista, que pode ser o sistema de manejo em plantio
direto ou em preparo reduzido.
Para trigo-soja em plantio direto o valor do Fator C= 0,0368, conforme as Notas
de Aula (Tabela 3). Nesse caso a cobertura do solo com resíduos será de 50% ou mais
e, então, valor do Fator P= 0,5 na declividade de 8%, passa a ter eficiência para
comprimentos de rampa de até 75 m (Tabela 4, ver nota de rodapé). Assim, os
terraços em nível podem ser construídos com EH=75 m. Dessa forma, com 8% de
declividade e comprimento de rampa de 75 m obtém-se Fator LS= 1,6 (pela solução
gráfica ou pela expressão matemática). Nessas condições, as perdas de solo
estimadas serão de:
A= 8.825 x 0,0090 x 1,6 x 0,0368 x 0,5 = 2,34 t ha-1 ano-1.
Assim, a alternativa eficiente para reduzir as perdas de solo a níveis abaixo do
tolerável será utilizar a sucessão trigo-soja com manejo do solo em plantio direto, com
cultivo em contorno e com terraços espaçados a distâncias máximas de 75 m.
Logicamente que os terraços nesse espaçamento devem ser dimensionados para
suportar todo o escoamento superficial proveniente do excesso das chuvas, pois nessa
solução os terraços serão construídos em nível. Admitindo que para ter uma seção
transversal menor, os terraços em nível venham a ser construídos em espaçamentos
de 40 m, ter-se-á então um Fator LS= 1,15, e as perdas de solo estimadas serão de:
A= 8.825 x 0,0090 x 1,15 x 0,0368 x 0,5 = 1,68 t ha-1 ano-1.
Assim o valor das perdas de solo seria reduzido para o máximo tolerável e o
planejamento de uso e manejo utilizando a equação universal de perdas de solo
estaria concluído.
No caso de ser possível a construção de terraços com gradiente (terraços de
drenagem), quando há a existência ou a possibilidade de se utilizar canal escoadouro
revestido, então, mesmo com os terraços de drenagem com EH= 75 m, deve-se
considerar o comprimento total da encosta (150 m e 8% de declive) sendo LS= 2,2 e,
pela Tabela 5 um Fator de P = 0,10 (Wischmeier & Smith, 1978), de maneira que, com
trigo-soja em plantio direto, as perdas de solo estimadas seriam de:
- 19 -
22
Pode-se usar a solução gráfica, LS= 2,0 com aceitável precisão.
Nas Notas de Aula, na Tabela 3 se encontra C= 0,1576 para trigo soja cultivado
em sistema de preparo convencional e para plantio morro-à-cima-morro-à-baixo, P=
1,0
Assim, a perda de solo estimada nas condições atuais será:
A= 5.651 x 0,0338 x 2,0 x 0,1576 x 1,0 = 60,2 t/ha/ano
Considerando que a perda máxima tolerável nesse solo seja de 4,5 t/ha/ano,
algumas ações devem ser executadas para que as perdas de solo estimadas sejam
reduzidas de 60,2 t/ha/ano, para no máximo 4,5 t/ha/ano.
Uma primeira ação será utilizar o preparo do solo e os cultivos em contorno,
afetando assim o Fator “P”. Para a declividade de 8%, conforme a Tabela 4 das Notas
de Aula, Fator P= 0,5, mas com eficiência apenas para comprimentos de declive
máximo de até 60 m. Como o comprimento da encosta é de 120 m será necessário
seccionar a rampa a cada 40 m. Isso pode ser efetuado com a construção de terraços
com EH = 40 m. Nesse caso, o Fator LS será dado por:
1
40 2
LS (65,41Sen 2 4,574 4,56 Sen 4,574 0,065) 1,14 1,15
22
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LS= 1,73 pela expressão matemática (pela solução gráfica LS= 1,7)
C= 0,1238 (Tabela 3 das Notas de aula)
P= 1,0 (Notas de aula, preparo morro-à-cima-morro-à-baixo)
Assim, a perda de solo estimada nas condições atuais será de:
A= 6.222 x 0,0110 x 1,7 x 0,1238 x 1,0 = 14,4 t ha-1 ano-1 > T
Desta forma, a perda de solo estimada está acima do limite de tolerância.
Solução: Preparo em contorno, P= 0,5 (para declividade de 6% e preparo
convencional a eficiência é de 60 m). Construindo terraços em nível com EH= 60 m,
fator LS= 0,95. Passando o sistema de manejo para plantio direto, C= 0,0329 (Tabela 3
das Notas de Aula). Assim, as perdas de solo estimadas seriam:
A= 6.222 x 0,0110 x 0,95 x 0,0329 x 0,5 = 1,07 t ha-1 ano-1 < T → solução OK.
São inúmeras as possibilidades de diferentes sistemas de cultivo e de preparo
do solo, bem coo de práticas conservacionistas complementares das quais pode-se
lançar mão para que as perdas de solo estimadas se mantenham abaixo dos limites de
tolerância. A escolha da melhor alternativa certamente dependerá das condições
econômicas que interessam ao produtor rural.
O importante é que se mantenha presente a utilidade dessa ferramenta
denominada Equação Universal de Perdas de Solo no Planejamento Conservacionista
de propriedades agrícolas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXO 1 - 25 -
ANEXO 2
ANEXO 3 - 27 -
- 28 -
ANEXO 4