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XXII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA

14 a 18 de outubro de 2013
Todas as informações contidas neste trabalho, desde sua formatação até a exposição dos resultados, são de exclusiva responsabilidade
dos seus autores
EROSÃO HÍDRICA EM UM ARGISSOLO VERMELHO AMARELO, SOB CULTIVO DO
MILHO (Zea mays L.)

PEDRO L. TERRA LIMA1, MARX LEANDRO NAVES SILVA2, FÁBIO JOSÉ GOMES3, PEDRO
VELLOSO GOMES BATISTA4, RODRIGO MAGALHÃES MARQUES4

RESUMO: A cobertura vegetal é uma das principais formas de proteção contra a erosão hídrica do
solo. Levando em consideração que diferentes culturas proporcionam diferentes capacidades de
interceptação da energia cinética da chuva, o objetivo do presente trabalho foi determinar a
erosividade e as perdas de solo em Argissolo Vermelho Amarelo, sob chuva natural, sob cultivo do
milho e em solo descoberto, no período de novembro de 2011 a março de 2012, na região de Lavras,
Minas Gerais. A erosividade foi calculada a partir de dados da Estação Climatológica Principal de
Lavras e determinada pelo índice EI30 de Wischmeier & Smith (1978). O experimento foi conduzido
na Universidade Federal de Lavras, em parcelas padrão de 22,1 m de comprimento e 4 m de largura.
Foram realizadas coletas de água e sedimentos provenientes das parcelas após eventos de chuvas
erosivas. O valor de erosividade total no período foi de 8768,04 MJ mm ha-1 h-1, o que resultou em
elevadas perdas de solo e água decorrentes da erosão hídrica, quando da ocasião de solos
descobertos sem adoção de práticas conservacionistas. A presença de cobertura vegetal foi benéfica
no sentido de proteger o solo quanto a ações provenientes da erosão hídrica, uma vez que ouve
redução de perda de solo.
Palavras-chave: erosão hídrica, milho, erosividade da chuva.

INTRODUÇÃO

A erosão hídrica é a forma mais ativa do processo de degradação dos solos, de modo a afetar
diretamente sua capacidade produtiva (Bertoni & Lombardi Neto, 2010). Neste sentido, se faz
importante mensurar a influência dos diferentes fatores determinantes na erosão hídrica, a fim de
possibilitar a estimativa de perdas de solo e selecionar práticas que as reduzam ao máximo. Para a
avaliação e predição das perdas de solo por erosão, a Equação Universal de Perda de Solo (EUPS),
proposta por Wischmeier & Smith (1978) é considerada o modelo de maior relevância. A EUPS é
composto de cinco parâmetros, a saber: A=R×K×LS×C×P, onde, A é a perda de solo; R é a
erosividade da chuva; LS é o fator topográfico; C é o fator cobertura e P o fator manejo e tecnologias
conservacionistas.
Dentre os diversos fatores, a erosividade (fator R), por definição, é o potencial da chuva em
causar a desagregação e o transporte das partículas do solo, e depende de suas características físicas
básicas, como tamanho, forma e velocidade terminal de queda das gotas. Combinadamente, essas
características determinam a energia cinética total da chuva (Moreti et al., 2003). Para cálculo do fator
R utiliza-se o índice EI30, que de acordo com Silva et al. (2010) é o parâmetro mais utilizado em
condições brasileiras. Estudos realizados por Val et al. (1986) foram os primeiros a determinar a
erosividade da chuva para Lavras -MG, na ordem de 6.843 MJ mm ha-1 h-1 ano-1. Silva et al. (2009)
encontraram valores médios anuais de 4.865 MJ mm ha-1 h-1 ano-1, para a região de Lavras - MG.
A perda de solo por erosão hídrica também pode ser influenciada quantitativamente pelos
diferentes tipos de cobertura vegetal utilizada ou pela ausência desta (fator C). Santos et al. (2000)
definiu que a cobertura vegetal do solo leva a uma redução dos efeitos danosos da erosão, diminuindo
a força de impacto das gotas de chuva, desestruturação do solo, selamento superficial e velocidade das
enxurradas, de maneira que qualquer alteração da cobertura vegetal afetará diretamente a taxa de
escoamento superficial. Segundo Souza et al. (2010) a cultura do milho, na região sul de Minas Gerais,
pode minimizar o efeito do processo erosivo, principalmente nos períodos de maior ocorrência de
chuva (novembro a março).
1
Doutorando em Ciência do Solo, bolsista CNPq, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência do Solo,
pedroterralima@yahoo.com.br.
2
Professor do Departamento de Ciência do Solo, bolsista do CNPq e FAPEMIG, Universidade Federal de Lavras, marx@dcs.ufla.br
3
Graduando em Engenharia Florestal, bolsista PIBIC/UFLA, Universidade Federal de Lavras/Departamento de Ciência do Solo,
fabiojgomes85@yahoo.com.br
4
Graduando em Agronomia, bolsista de Iniciação Científica CNPq e PIBIC/CNPq, Universidade Federal de Lavras /Departamento de
Ciência do Solo, pedro_vgb@hotmail.com;. mdiguinho@gmail.com
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Tendo em vista a importância da cobertura vegetal e sua eficiência no tocante às perdas de


solo por erosão hídrica, o presente trabalho objetivou determinar a erosividade e as perdas de solo em
Argissolo Vermelho Amarelo, sob chuva natural, em sistema de cultivo do milho e em solo
descoberto, na região de Lavras, Minas Gerais.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no município de Lavras, Minas Gerais, localizado sob as


coordenadas 21º13’20’’S e 44º58’17’’W, em altitude de 908 m, com clima Cwa, segundo a
classificação climática de Köppen, com média anual de precipitação de 1.529,7 mm e de 19,4 ºC de
temperatura (BRASIL, 1992). O experimento foi conduzido numa área de relevo suave-ondulado e
declividade de 12%, em um Argissolo Vermelho-Amarelo. O período de estudo foi compreendido
entre novembro e março de 2011.
As perdas de solo foram determinadas em parcelas de 4,0 m x 22,1 m, conforme
metodologia sugerida por Wischmeier & Smith (1978), com a maior dimensão orientada no sentido do
declive, delimitadas por chapas galvanizadas de 0,2 m de altura. Uma calha coletora localizada na
extremidade inferior da parcela conduzia a enxurrada até uma caixa d’água com capacidade de
armazenamento de 250 L, conectada a uma segunda caixa de mesma capacidade por um divisor tipo
Geib, em que 1/9 do excedente de água e sedimentação da primeira caixa era encaminhado. Após cada
evento de chuva em que houve coleta de água e sedimentos pelas caixas, retiraram-se amostras para a
quantificação das perdas de solo conforme a metodologia descrita por Cogo (1978). As amostras
foram transferidas para o laboratório e submetidas à decantação. O material decantado foi seco em
estufa a 105 ºC durante 24 horas e em seguida foi determinado seu peso seco.
Neste estudo foram consideradas as perdas de solo provenientes das parcelas com solo
descoberto e em parcela sob cultivo de milho (Zea mays L.). O plantio do milho foi realizado em
Novembro de 2011, em nível, com espaçamento de 0,7 m entre linhas e 0,1 m entre plantas.
Para o cálculo da erosividade, foram utilizados registros contínuos de dados pluviográficos
de Lavras (MG), do período compreendido entre novembro de 2011 e março de 2012, obtidos na
Estação Climatológica Principal de Lavras (MG), cujos valores de precipitação de 5 em 5 min foram
transcritos para uma planilha. A partir destes dados separaram-se as chuvas consideradas individuais –
aquelas espaçadas por mais de 6 horas e cuja precipitação foi maior do que 1 mm; e erosivas – eventos
de chuva com precipitação superior a 10 mm em 15 min, com intensidade superior a 24 mm h-1, ou
ainda com energia cinética maior que 3,6 MJ (De Maria, 1994).
Em seguida, estimou-se a intensidade (I) em mm h-1 de cada segmento chuvoso de 5 min e
calculou-se a energia cinética (EC) destes mesmos segmentos através da equação proposta por Foster
(1981):

EC = 0,119 + 0,0873 log I

onde: EC = energia cinética (MJ ha-1 mm-1);


I = intensidade do segmento chuvoso (mm h-1).

O índice EI30 foi obtido a partir da multiplicação da energia cinética total (somatório dos
segmentos erosivos da chuva) pela intensidade máxima ocorrida em um período de 30 min
consecutivos (I30), segundo Wischmeier & Smith (1958). Pelo somatório de cada chuva, obteve-se o
valor mensal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os cálculos da erosividade, envolvendo 62 chuvas individuais registradas em pluviogramas


diários, classificaram 38 destes eventos como erosivos e 24 como não erosivos (Tabela 1). Os meses
de dezembro e janeiro apresentaram as maiores erosividades, porém apenas no mês de fevereiro houve
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uma erosividade inferior a de 500 MJ mm ha-1 h-1 mês-1, valor considerado crítico por Rufino (1986).

Tabela 1 – Número de chuvas erosivas e não erosivas, erosividade total mensal e precipitação total
mensal no período de novembro de 2011 a março de 2012 no município de Lavras, Minas Gerais.

Número de chuvas Erosividade Precipitação


Mês/ Ano
Erosivas Não erosivas Total (MJ mm ha-1 h-1) (mm)
Novembro/2011 5 6 11 1175,57 172,85
Dezembro/2011 13 7 20 3259,55 497,85
Janeiro/2012 11 4 15 3132,90 431,49
Fevereiro/2012 3 3 6 219,64 80,20
Março/2012 6 4 10 980,40 134,35
Total 38 24 62 8768,04 1316,74

De forma geral os meses com maior precipitação apresentaram maior erosividade, sendo que
a mesma variou entre 219,64 e 3259,55 MJ mm ha-1 h-1. A erosividade total do período, de 8768,04
MJ mm ha-1 h-1, foi superior aos valores encontrados por Silva et al. (2009) para todo o ano na mesma
região de estudo. Silva et al. (2009) ressaltam os meses de novembro a março como os mais críticos
em relação à erosão hídrica, devido as precipitações ocorridas na região sul de Minas Gerais.
Como uma das possíveis consequências da elevada erosividade da chuva, foram estimadas as
perdas de solo (Figura 1). Em parcelas ao qual houve cultivo de milho, a perda de solo apresentou um
padrão diferente do encontrado nas parcelas com solo descoberto. As maiores perdas de solo
ocorreram em dezembro, janeiro e fevereiro, para a parcela com cultivo de milho, e em janeiro,
dezembro e fevereiro, na parcela descoberta.
Perda de Solo Milho
5 Descoberta

3
Mg ha-1

0
Nov./2011 Dez./2011 Jan./2012 Fev./2012 Mar./2012

Figura 1 – Perdas de solo (Mg ha-1) em parcelas cultivada com milho e descoberta em Argissolo
Vermelho-Amarelo, no período de novembro de 2011 a março de 2012, no município de Lavras,
Minas Gerais.

Outro fato observado foi que houve elevadas perdas de solo nos primeiros meses após o
plantio, uma vez que a cultura apresenta uma fase de desenvolvimento inicial mais lenta,
influenciando na menor cobertura do solo, e o solo está recém-preparado neste período inicial da
cultura. O desenvolvimento natural da cultura promove a interceptação das gotas de chuva, mitigando
os efeitos da erosividade das chuvas e reduzindo drasticamente os valores de perda de solo.
Na parcela descoberta, as chuvas altamente erosivas, ocorridas em janeiro, contribuíram para
uma elevada perda de solo (Figura 1 e Tabela 1) - aproximadamente duas vezes maior do que a
observada em dezembro, mês em que se concentrou a maior erosividade total da chuva e a maior
precipitação. Assim, observa-se que eventos chuvosos curtos e com elevada erosividade podem
acarretar maior perda de solo do que uma série de eventos de chuvas com erosividade equivalente ou
maior, ocorridas num período de tempo mais longo. O mesmo se deve, dentre outros fatores, a
cobertura vegetal do solo. Aquino et al. (2012) ressaltam a importância da adoção de práticas
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conservacionistas durante este período no sentido de reduzir os impactos do transporte de sedimentos


de solo decorrentes da erosão hídrica.

CONCLUSÃO

O valor de erosividade total no período foi de 8768,04 MJ mm ha-1 h-1, o que pode levar a
elevadas perdas de solo e água decorrentes da erosão hídrica, quando da ocasião de solos descobertos
sem adoção de práticas conservacionistas.
A presença de cobertura vegetal foi benéfica no sentido de proteger o solo quanto a ações
provenientes da erosão hídrica, uma vez que ouve redução de perda de solo.

AGRADECIMENTO

Agradecemos o suporte financeiro e bolsas concedidas pelas seguintes Instituições de


fomento: FAPEMIG, CNPq e CAPES.

REFERÊNCIAS

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