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Capítulo 3.

Detalhamento das fases de uma completação

Imediatamente antes e após o corte dos tampões de cimento e


dos tampões mecânicos, é efetuado teste de estanqueidade do
revestimento de produção, pressurizando-o durante dez ou quinze
minutos, para verificação da existência ou não de vazamentos
(furos, conexões de revestimento vazando etc.). Caso não se consiga
pressão de teste estabilizada, procede-se a localização e correção do
vazamento.

3.3. Substituição do fluido do poço por fluido de completação

O fluido de completação, geralmente, é uma solução salina, isenta de


sólidos, compatível com a formação e com os fluidos nela contidos, de
modo a não causar nenhum tipo de dano de formação que restrinja
a vazão do poço. Além disso, o fluido deve ter peso específico capaz
de fornecer pressão hidrostática, ao interior do poço, pouco superior
à pressão estática da formação.
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A substituição do fluido é feita com o auxílio de bombas alternativas,
circulando o fluido diretamente pelo interior da coluna de trabalho,
com retorno na superfície pelo anular.

3.4. Avaliação da qualidade da cimentação

A verificação da qualidade dos trabalhos de cimentação em poços


de petróleo baseia-se principalmente na interpretação de perfis
acústicos. Nas últimas décadas, o perfil CBL/VDL tem sido o mais
utilizado a despeito do desenvolvimento de novas ferramentas sônicas
e ultrassônicas como o CBT (Cement Bond Tool), SBT (Segmented
Bond TooI), PET (Pulse Eccho Tool), CET (Cement Evaluation Tool)
e, mais recentemente, o USI (Ultrassonic Image) e CAST V (Cement
Acustic Sonic Tool).

A existência de um efetivo isolamento hidráulico é de fundamental


importância técnica e econômica, garantindo um perfeito controle
da origem e/ou destino dos fluidos produzidos e/ou injetados. A
não observância desse requisito pode gerar diversos problemas,
como a produção de fluidos indesejáveis, testes de avaliação
das formações incorretos, prejuízo no controle dos reservatórios
e operações de estimulação mal sucedidas, com possibilidade
inclusive de perda do poço.
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Desenho esquemático: poço com falha na cimentação

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3.4.1. Princípio de funcionamento

A ferramenta de perfilagem CBL/VDL é composta basicamente por um


transmissor e dois receptores. O transmissor recebe energia elétrica
e a converte em energia mecânica, emitindo repetidamente pulsos
acústicos de curta duração.

O pulso sonoro emitido produz uma vibração que se propaga pelo


revestimento, fluido e formação até chegar aos receptores, onde
a energia mecânica é reconvertida em energia elétrica e os sinais
enviados à superfície pelo cabo condutor para se­rem devidamente
processados.
Capítulo 3. Detalhamento das fases de uma completação

Perfilagem CBL/VDL/GR/CCL para avaliação da cimentação 61

O princípio de funcionamento do CBL baseia-se na medida da atenuação


acústica sofrida pelo pulso que se propaga pelo revestimento. A
presença de cimento no anular aderido ao revestimento provoca
uma forte redução na amplitude do sinal registrado.

Basicamente, dois parâmetros são medidos: a amplitude, que é


utilizada para quantificar os resultados da cimentação, e o tempo de
trânsito, utilizado como indicador da qualidade do perfil.

A amplitude normalmente se refere ao maior valor registrado durante


a abertura de uma janela eletrônica de leitura, posicionada sobre o
pico do primeiro sinal que chega ao receptor.

O tempo de trânsito (TT) é o tempo medido entre a emissão do pulso


e a chegada do primeiro sinal com amplitude superior a um nível
mínimo de de­tecção, que geralmente se propaga pelo revestimento.
A curva do TT deve ter um aspecto retilíneo, com valor próximo ao
registrado em revestimento livre, sendo possível a ocorrência de
acréscimos devido a alongamentos e a saltos de ciclo em intervalos
bem cimentados.
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ATENÇÃO

Presença de luvas, formação rápida, descentralização


da ferra­menta de perfilagem, mudança no size do
reves­timento e/ou no fluido do poço também causam
alteração no TT.

O VDL é o registro completo do sinal acústico que se propaga por


diferentes caminhos e chega a um receptor posicionado a 5 pés do
transmissor, du­rante a abertura de uma janela eletrônica de leitura
de 1 000 µs. Geralmente, o primeiro sinal a chegar é o que se propaga
pelo revestimento, seguido do sinal da formação superposto com o
sinal do cimento e, finalmente, o sinal do fluido no interior do poço.
A identificação no perfil de sinais provenientes da formação é um
indicativo da aderência entre cimento, revestimento e formação.
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3.4.2. Apresentação do perfil CBL/VDL

O perfil CBL/VDL é o registro de três medidas simultâneas, que são o


tempo de trânsito, o sinal de amplitude do revestimento e o trem de
ondas. O TT é utilizado para assegurar a qualidade e acurácia do sinal
de amplitude. O sinal de amplitude do revestimento é usado para
calcular a percentagem de cimento no anular. O registro completo do
trem de ondas na forma de assinatura de onda ou densidade variável
permite uma avaliação da aderência entre cimento e formação,
controle de qualidade e outros fatores que afetam as medidas
anteriores. Tradicionalmente é apresentado em três pistas.

A primeira pista contém a curva do tempo de trânsito (TT), uma curva


de correlação a poço aberto (raios gama) e um localizador de luvas
do revestimento (Casing Colar Locator – CCL).

A escala usual do tempo de trânsito é de 200 a 400 µs, que atende


a quase todos os sizes de revestimento. Entretanto, a escala mais
adequada seria com uma janela de 100 µs, pois possibilita verificar
pequenas variações no tempo de trânsito.
Capítulo 3. Detalhamento das fases de uma completação

O perfil de raios gama (GR), que mede a radioatividade natural da


formação, pode ser corrido a poço aberto ou revestido, sendo por
isso utilizado para colocar o perfil CBL/VDL em profundidade com o
perfil base de referência a poço aberto.

O CCL é usado para detectar as luvas do revestimento, ocorrendo


uma deflexão na curva, defronte das mesmas. Como o CCL é
colocado em profundidade com o perfil base de referência a poço
aberto (GR corrido a poço aberto), ele é utilizado como referência de
profundidade para as operações futuras no poço.

Os dados de profundidade são registrados entre as pistas 1 e 2.

A segunda pista contém a curva de amplitude. A amplitude é


registrada na escala de 0 a 100 mV ou de 0 a 50 mV, com curvas
amplificadas de 0 a 20 mV e 0 a 10 mV, respectivamente.
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A terceira pista contém o registro do trem de ondas, apresentado
na forma de assinatura de onda ou de intensidade variável (VDL).
A escala horizontal usual é 200 a 1200 µs, conforme ilustrado na
imagem a seguir.

Apresentação do perfil CBL/VDL/GR/CCL


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3.4.3. Interpretação do perfil CBL/VDL

Para se fornecer um bom diagnóstico sobre a real condição do


isolamento hidráulico através da cimentação é necessária uma visão
mais abrangente, que envolva outros aspectos além dos relacionados
à qualidade intrínseca do perfil e às regras de interpretação. Os
fatores que devem influenciar diretamente no rigor a ser adotado
nos trabalhos de diagnóstico e interpretação dos perfis são: as
características e o diferencial de pressão entre os fluidos a serem
isolados, o tempo, a importância do poço no contexto maior do
reservatório, as operações futuras previstas e a viabilidade técnica e
econômica de se promover correções satisfatórias de cimentação.

A premissa básica para avaliar a qualidade da cimentação, tomando


como base a interpretação de perfis acústicos, é que esses devem ser
válidos e atender aos pré-requisitos mínimos de qualidade listados
64 abaixo:

• O perfil deve mostrar, sempre que possível, uma seção em torno


de 50 m, corrida em revestimento livre, para aferir a calibração da
ferramenta. É também recomendável registrar o topo do cimento.

• No revestimento livre, o tempo de trânsito deve ter aspecto retilíneo


e acusar valores compatíveis com os valores previstos para o diâmetro
do revestimento em questão.

• No trecho de revestimento livre, as luvas devem ser visualizadas nas


curvas de amplitude, tempo de trânsito, VDL e CCL.

• Seção repetida sem pressão em torno de 60 m, observando a


repetição das curvas:

• A seção principal deve ser corrida com pressão sempre que


possível;

• As leituras de amplitude não devem apresentar valores nulos;


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• O perfil não deve mostrar salto de ciclo para amplitudes


maiores do que 5 mV;

• O sumário de calibração deve ser mostrado no perfil.

3.4.4. Aferição da calibração da ferramenta

O registro de um intervalo de revestimento livre (não cimentado) é


o primeiro passo para a obtenção de perfis acústicos com qualidade,
sendo utilizado como referência para interpretação da seção principal.

São checados e ajustados o tempo e a abertura da janela de leitura,


de forma a registrar: o primeiro pico de energia que chega ao
receptor; a centralização da ferramenta pela análise da curva de TT,
que deve ter aspecto retilíneo e valor compatível com o fluido e o
size do revestimento; e a calibração da amplitude do sinal do CBL
em função dos valores estabelecidos pelas companhias de serviço. Se 65
não houver revestimento livre, deve-se pré-calibrar a ferramenta na
base da companhia para o mesmo fluido a ser utilizado no poço. Os
tempos de trânsito e as amplitudes do CBL em revestimentos livres
são mostrados na tabela a seguir.

REVESTIMENTO PESO TT AMPLITUDE DO CBL

(OD - pol) (lb/ ft) (µs) (µV)


5 ½" 14 a 17 240 a 260 71 +/ - 7
7" 23 a 38 260 a 280 61 +/ - 6
9 58 " 40 a 53 300 a 320 52 +/ - 5

Tempos de trânsito e as amplitudes do CBL em revestimentos livres

3.4.5. Influência da pasta de cimento

Muitos fatores afetam a resposta do perfil CBL/VDL. Atenção especial


deve ser dada aqueles que podem resultar amplitudes altas em
intervalos bem cimentados e induzir os intérpretes mais afoitos e
apressados a conclusões equivocadas. Com relação à pasta de cimento,
a densidade tem influência significativa.
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A utilização de pastas de cimento com baixa densidade resultam em


uma sensível redução no nível de atenuação do sinal acústico. Como
consequência, tem-se no CBL valores de amplitude bem superiores
aos obtidos com pastas convencionais de peso 15,8 lb/gal, e no VDL,
possibilidade de sinais mais fortes do revestimento e ausência de
sinais oriundos da formação.

3.4.6. Influência do microanular

Deformações no revestimento devido a variações de pressão e


temperatura durante o processo de cura do cimento induzem ao
aparecimento de um microanular na interface revestimento/cimento.
O microanular, apesar de geralmente não comprometer o isolamento
hidráulico, permite a vibração do revestimento, resultando em
leituras de amplitudes altas no CBL.

66 Para se eliminar ou minimizar o efeito do microanular, o perfil


CBL/VDL é geralmente corrido com o revestimento pressurizado.
Tradicionalmente, tem-se usado 1 000 psi como sendo a pressão na
cabeça necessária para o restabelecimento da aderência, admitindo
que o microanular é da ordem de 0,1 mm.

Tanto a presença de microanular como de canalizações são


caracterizados por altas amplitudes no CBL e fortes sinais do
revestimento e da formação no VDL. A maneira de diferenciar
uma situação da outra é correndo o perfil com o revestimento
pressurizado. Se for microanular, haverá uma significante redução
na amplitude; e se for canalização ou mesmo um microanular de
dimensões maiores, isso não acontecerá. Nesse caso, provavelmente
não haverá isolamento hidráulico.

3.4.7. Influência da espessura da capa de cimento

Quando a espessura do cimento no anular é muito pequena, reflexões


de energia na interface externa do cimento podem interferir
com o sinal do revestimento. Essas interferências são observadas
principalmente quando se têm revestimentos concêntricos ou
revestimentos bem centralizados com anulares estreitos.
Capítulo 3. Detalhamento das fases de uma completação

? VOCÊ SABIA?
Em 1961, Pardue, em seus estudos experimentais,
concluiu que espessuras da capa de cimento maiores ou
iguais a ¾” não contribuíam para o aumento da taxa
de atenuação acústica do cimento. Posteriormente,
em 1987, Jutten e Parcevaux, mostraram em seus
estudos experimentais que a espessura da capa de
cimento, a partir da qual não há mais aumento da
taxa de atenuação, é de 2 ½” polegadas.

3.4.8. Interpretação do perfil VDL

O padrão de revestimento livre no perfil VDL é bem caracterizado


e fácil de ser identificado. Geralmen­te se observa alternância de
faixas escuras e cla­ras quase paralelas do sinal que se propaga pelo 67
revestimento, ausência de sinais da formação e a presença das luvas
do revestimento (efeito chevron).

3.4.9. Ferramenta de perfilagem ultrassônica CET

Enquanto o CBL registra um valor médio dos 360 graus de poço a sua
volta, o CEL proporciona uma boa resolução circular apresentando
um perfil cujo mapa da cimentação pode ser visualizado, uma vez
que oito transdutores ultrassônicos são dispostos helicoidalmente
em diferentes azimutes, cada um sendo responsável pela cobertura
de 45 graus da circunferência do revestimento. Um nono transdutor,
com distância conhecida de um refletor, é posicionado logo abaixo
do centralizador inferior e mede a velocidade acústica do fluido.
A principal limitação dessa ferramenta é a não cobertura de
todo o revestimento, além da necessidade de um intervalo com
revestimento livre para possibilitar a normalização das medidas
feitas pela ferramenta.

A quantidade de energia que retorna ao transdutor é função


da impedância acústica dos meios envolvidos. Como os valores
de Z no fluido e no revestimento são conhecidos ou facilmente
determinados, a única incógnita é a impedância acústica do
material presente no anular.

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