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Copyright © 2020 Aluízio A.

Silva
AMS Publicações Editora associada à ASEC – Associação Brasileira de Editores Cristãos
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Impresso no Brasil Printed in Brazil 2020


21 Dias contemplando a Cristo
Categoria: Vida cristã / Devocional / Jejum
Copyright © 2020 Aluízio Silva Todos os direitos reservados

1ª edição Setembro de 2020


Revisão Maria Aparecida de Oliveira Capa Robson Júnior
Diagramação Robson Júnior

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada
(Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Silva, Aluízio, 2020


21 Dias contemplando a Cristo / Aluízio A. Silva. – Goiânia: Editora VIDEIRA, 2020
ISBN: 978-65-86426-03-8
1: Vida cristã 2: Devocional 3: Jejum 4: Título

CDD : 230/240
Índice para Catálogo Sistemático:
1: Vida cristã: Devocional: Jejum 230/240

Editado e publicado no Brasil por:


AMS Gráfica e Editora
CNPJ: 16.851.106/0001-39
Av. Ville Qd. 62 Lt. 02 - Setor Moinho dos Ventos, Goiânia - GO, 74371-580 – Brasil

Índice
Introdução - O jejum tem graça? 7
1º Dia Não durma com o medo 07
2º Dia A noite vai passar 17
3º Dia Prisioneiros da esperança 27
4º Dia O Deus dos vales e montanhas 35
5º Dia A indescritível bondade de Deus 43
6º Dia Como se tornar filho de Abraão 51
7º Dia Veja o Senhor no caminho de Emaús 59
8º Dia O novo nome de Deus 65
9º Dia Filhos, não servos 75
10º Dia Irresistível graça 85
11º Dia Você está firmado na verdade? 93
12º Dia Não troque ouro por bronze 103
13º Dia Graça e santificação 109
14º Dia O romance da graça 119
15º Dia O Espírito de Cristo 129
16º Dia Morte na panela 137
17º Dia A transformação da alma 149
18º Dia A verdadeira transformação 155
19º Dia A fé correta produz o comportamento correto 165 20º Dia O dízimo
no tempo da graça 175
21º Dia Prosperando em tempos de crise 183

1º Dia

Não durma com o medo


N

o fim de sua vida, Jacó chamou os seus filhos e lhes disse: “Ajuntai-vos, e
eu vos farei saber o que vos há de acontecer nos dias vindouros” (Gn 49.1).
Parece que a bênção de Jacó

sobre os seus filhos tem um elemento de profecia. E essa profecia está


relacionada com o Senhor Jesus. Tudo na Palavra de Deus diz respeito ao
Senhor Jesus.

A Bíblia é como um álbum de família, um álbum de Deus. Esse álbum é


completamente a respeito do seu Filho. Ele mostra imagens do Filho em
diferentes funções, ofícios e ministérios. E, quanto mais você se deleita em
olhar para o Filho, mais você é abençoado.

Pessoas frequentemente me escrevem, dizendo que precisamos nos esforçar


para sermos transformados. Afirmam que, se não nos esforçarmos, jamais
seremos santos e semelhantes a Jesus. A verdade, porém, é que a única
maneira de avançarmos é pela graça. A graça não é sobre as suas obras, mas
é tudo sobre o suprimento de Cristo o trabalho d’Ele dentro e por meio de
você. E a maneira como somos transformados é simplesmente olhando,
contemplando o Senhor.
Jacó, então, manda que os seus filhos se reúnam para que ele possa dizer o
que acontecerá nos últimos dias. De uma forma geral, ele abençoa os seus
filhos. No entanto, para alguns, as suas palavras não foram de bênção, mas
de disciplina.

Jacó e Israel são a mesma pessoa. Mas o nome Israel lhe foi dado pelo
Senhor quando lutou com ele no vau de Jaboque. O Senhor poderia
facilmente vencer Jacó, mas Ele se deixou prender porque tem prazer
quando o buscamos com intensidade. Jacó se agarrou a Ele e disse: “Não te
deixarei ir enquanto não me abençoares”. E o Senhor lhe perguntou: “Como
te chamas?” Ele respondeu: “Jacó”. O nome Jacó significa “suplantador”,
com uma implicação de trapaça. Então, disse: “Já não te chamarás Jacó, e
sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e
prevaleceste” (Gn 32.24-28).

A primeira bênção de Jacó é sobre o seu filho primogênito chamado Rúben.


Este deveria ser um momento de bênção, mas, para Rúben, foi um triste
lembrete do que ele havia feito. Como primogênito, Rúben tinha direito a
uma porção dobrada, mas ele não recebeu essa bênção.
Rúben, tu és meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez
e o mais excelente em poder. Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porque subiste ao
leito de teu pai e o profanaste; subiste à minha cama. (Gn 49.3-4)

O nome Rúben significa “Eis o filho” ou “Olhe para o filho”. Quando as


mulheres e concubinas de Jacó deram nomes aos seus filhos, elas não
imaginavam que estavam fazendo algo profético. Simplesmente deram
nomes de acordo com as suas experiências. Naquele tempo, as duas irmãs,
esposas de Jacó, estavam competindo pela atenção do marido e, quando Lia
dá à luz um filho, ela apenas queria que todos vissem a criança. Ela, pois, o
chama de Rúben, “Olhe para o filho”.

Deus, porém, usa tudo isso para que o seu Filho apareça. Então, Rúben se
torna um sinal espiritual por meio do qual Deus diz: “Olhe para o Filho”. E
quem é o filho? O Senhor Jesus. Toda a bênção vem quando olhamos para o
Senhor Jesus.

Entretanto, o que temos aqui é uma imagem do primogênito sendo


rejeitado. Por quê? A razão é colocada: instável como a água, não deve se
destacar, porque subiu à cama do seu pai e a contaminou. Rúben cometeu
adultério com uma das concubinas do seu pai, chamada Bila.

Quando Raquel morreu, ele cometeu adultério com Bila. Isso foi algo
terrível, e seu pai ficou sabendo. Deixe-me dizer algo sobre o pecado
sexual. Algumas pessoas dizem que todo pecado é igual, mas a Bíblia diz
que há um pecado que afeta você mais do que todos os outros. Todo pecado
que um homem comete é fora do seu corpo, mas aquele que comete
imoralidade sexual peca contra o próprio corpo (1 Co 6.18). Portanto, o
pecado sexual é único na sua categoria.

Deus mesmo projetou o sexo. O sexo é uma ideia divina e, em seu plano,
Deus quer que ele aconteça num ambiente de aliança, quer que o casal se
sinta seguro. Quando isso acontece, o sexo é maximizado e abençoado.

Deus sabe que esse pecado tem uma consequência que nenhum outro
pecado tem. Se, por exemplo, eu colar duas folhas de papel uma na outra e
depois tentar separá-las, elas se rasgarão e pedaços de papel de uma vão
ficar colados na outra. Quando você comete imoralidade sexual com uma
pessoa, você carrega algo da outra pessoa consigo. Este é o único pecado do
qual a Bíblia nos manda fugir.

Foi exatamente isso o que fez José. A esposa de Potifar provavelmente era
muito bonita. Potifar era um homem muito rico, então ele certamente tinha
uma mulher muito bonita. Ela era uma tentação, senão José não teria
fugido. Ele fugiu exatamente porque era a única coisa sensata a fazer (Gn
39.7-12).

Nunca pense que você pode lidar com a tentação sexual. Fuja desse pecado.
Não confie em sua própria carne. Muitos dizem: “Eu sei que esse site tem
alguns elementos sensuais, mas eu posso lidar com isso”. A verdade, porém,
é que a tentação o levará a gastar mais tempo ali do que precisa e, no fim,
você pagará um preço por isso. Não existe prazer sem um preço, e o preço é
sempre alto demais.

Não confie em sua carne. A atitude mais espiritual que alguém pode ter é
não confiar em si mesmo. Quando fugimos daquilo que dá ocasião ao
pecado, nós estamos seguros. Muitos homens perderam a sua posição,
excelência e dignidade por causa de um momento fugaz de prazer da carne.

Valorize a sua posição


Você sabia que Rúben poderia ter sido o progenitor, o pai de todos os reis
de Israel? Em vez de rei de Judá, o Senhor seria rei de Rúben, porque ele
era o primogênito, mas a sua realeza foi dada a Judá,

O primogênito tinha direito a essas três coisas: reino, sacerdócio e uma


porção dobrada da herança. A realeza foi dada a Judá, e o sacerdócio foi
para a tribo de Levi. De Levi vieram os filhos de Arão e os sacerdotes de
Israel. O sumo sacerdote era da tribo de Levi.

A terceira coisa era a porção dupla da herança. A porção dobrada da


primogenitura foi para José. É por isso que os dois filhos de José, Efraim e
Manassés, são mencionados entre as doze tribos.

Essa porção dobrada teria sido de Rúben, em vez disso, ela foi dada a José.
O sumo sacerdote de Israel era para ser o sumo sacerdote de Rúben, mas
tornou-se o sumo sacerdote da tribo de Levi. Que grande perda! Eu acho
que Rúben nunca percebeu realmente a gravidade daquele momento. Tudo
o que ele pensou foi que ninguém saberia do seu ato, mas o seu pai ficou
sabendo. Quando chegou a hora da bênção, o pai lhe disse: “Todas essas
três coisas são tiradas de você e dadas a outras pessoas”.

Acho que uma das coisas mais tristes da vida é quando você vê alguém
ocupando o lugar que deveria ser seu. Não pense nem por um momento
que, se você desprezar a sua posição, o seu papel na igreja ou na liderança,
Deus dirá: “Oh, eu não tenho mais ninguém para essa posição!” Você pode
ter certeza de que Deus levantará alguém para tomar o seu lugar. Quando
Saul, o primeiro rei de Israel, pecou contra Deus, o trono não ficou vazio.
Deus levantou um menino pastor segundo o seu coração que tomou o lugar
do rei Saul. Acredite em mim, Deus não tem falta de pessoas. Sempre
haverá alguém para ser levantado. Não há ninguém insubstituível.

Se você não acredita que a sua posição pode ser assumida por outro, deixe-
me mostrar o que aconteceu com Judas Iscariotes quando traiu Jesus. Veja o
que Pedro diz sobre ele em Atos.
Porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. (Ora, este homem adquiriu um campo
com o preço da iniquidade; e, precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas entranhas se
derramaram; e isto chegou ao conhecimento de todos os habitantes de Jerusalém, de maneira que em
sua própria língua esse campo era chamado Aceldama, isto é, Campo de Sangue.) Porque está escrito
no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu
encargo. (At 1.17-20)

Judas pegou o dinheiro e comprou um campo, chamado Aceldama, no qual


se enforcou. O galho, porém, se quebrou, ele caiu sobre pedras afiadas e
suas entranhas se rasgaram. Esse lugar é chamado Campo de Sangue.

Pedro diz que está escrito no livro de Salmos a respeito de Judas: “Que a
sua morada seja desolada, e ninguém viva nela, e que outro assuma o seu
cargo” (Sl 109.8).

Assim, só porque hoje temos um cargo na igreja ou um título eclesiástico,


não significa que é ele nosso para sempre. Algumas pessoas
presunçosamente pensam: “Ninguém pode tomar a minha posição, porque
me foi dada pela graça”. É verdade, mas se você não quer essa posição, ela
será dada a outro. Se você não a valoriza – como Esaú, que era o
primogênito, mas não valorizou a sua primogenitura e depois foi dada a
Jacó –, ela será dada a outro.

Foi o que aconteceu com Rúben, ele não valorizou a sua posição. Se não
valorizamos o que temos, Deus pode fazer com que outra pessoa tome o
nosso lugar. Deus é bom! Ele nos dá o privilégio de cumprir essa missão,
mas se com as nossas atitudes demonstramos que não queremos essa
posição, Ele certamente a dará a outro.

Quanto a mim e minha casa, quero cumprir tudo o que Deus tem para nós.
E quanto a você? Valorize a posição que Deus tem lhe dado.
Não durma com o medo
Gostaria de olhar mais profundamente essa relação de Rúben com Bila.
Creio que há aqui algo mais significante do que o pecado sexual.

Na Palavra de Deus, existe um ensinamento mais superficial e literal, que


os judeus chamam de Parashá. Nesse caso, a Parashá é o ensinamento
literal que mostra o adultério de Rúben e Bila, mas eu creio que há um
significado espiritual por trás do sentido literal. O povo judeu chama isso de
Sod. Se meditarmos na Escritura, o Espírito vai quebrar a casca da semente
e nos dará a vida que está dentro dela.

Deixe-me compartilhar com você o significado de Rúben novamente. O que


significa a palavra Rúben? Significa “Veja o filho”. Agora, vamos voltar a
Gênesis 35.
E aconteceu que, habitando Israel naquela terra, foi Rúben e se deitou com Bila, concubina de seu
pai; e Israel o soube. Eram doze os filhos de Israel. (Gn 35.22)

O nome Bila em hebraico significa “temer, perturbar-se, aterrorizar-se”.


Diante disso, você pode dizer que, em vez de olhar para Jesus, o Filho – que
é uma posição alta –, Rúben escolheu ir dormir com o medo. Nós cristãos
não podemos abdicar de nossa alta posição contemplando o Filho para ir
dormir com o medo. Quando dormimos com o medo, perdemos todas as
bênçãos da primogenitura. Quando dormimos com o medo, somos
desqualificados para a herança.

Enquanto olha para Jesus, você está em uma posição alta, acima do medo.
Não vá para a cama com o medo. Ele traz consigo uma série de coisas,
como terror, pânico, angústia e estresse. Rúben abdicou de sua posição de
ver o Filho e foi para a cama com o medo.

Olhe para o Filho


No Novo Testamento, temos uma história que ilustra isso. Está em Mateus
14. Os discípulos estavam no barco sendo sacudidos pelas ondas, porque o
vento era contrário. Talvez você esteja lendo isso agora e sua vida esteja
sendo sacudida por ventos contrários. Talvez sejam ventos de turbulência
financeira, ou uma tempestade de doenças que entrou em sua casa.
Quaisquer que sejam os ventos e seja qual for a tempestade, estou aqui para
lhe dizer que, no meio da tempestade, olhe para Jesus. A Bíblia diz que, na
quarta vigília da noite, Jesus foi até eles caminhando sobre o mar.
Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar adiante dele para o outro lado,
enquanto ele despedia as multidões. E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar
sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só. Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da
terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com
eles, andando por sobre o mar. E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram
aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas Jesus imediatamente
lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Respondendo-lhe Pedro, disse: Se és tu, Senhor,
manda
-me ir ter contigo, por sobre as águas. E ele disse: Vem! E Pedro, descendo do barco, andou por sobre
as águas e foi ter com Jesus. Reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a
submergir, gritou: Salva-me, Senhor! E, prontamente, Jesus, estendendo a mão, tomou-o e lhe disse:
Homem de pequena fé, por que duvidaste? Subindo ambos para o barco, cessou o vento. E os que
estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus! (Mt 14.22-33)

Naqueles dias, a noite era dividida em quatro vigílias. A partir das dezoito
até as vinte e uma horas, era a primeira vigília. De vinte e uma horas até a
meia-noite, era a segunda vigília. Da meia-noite às três da manhã, era a
terceira vigília. E, das três às seis, era a quarta vigília. A quarta vigília é o
horário mais escuro. Na hora mais sombria da vida dos discípulos, Jesus
não os deixou sozinhos, mas foi até eles andando sobre o mar.

Ele foi caminhando sobre o mesmo problema que ameaçava dominá


-los. O mar estava ameaçando afogá-los, e Ele foi caminhando acima do
mar na direção deles. É como andar sobre a cabeça de Satanás em sua
direção, caminhar em cima do seu problema financeiro em sua direção,
caminhar sobre sua doença em sua direção. O Senhor do alto está acima das
águas. Ele não o abandona na sua hora mais sombria. Na quarta vigília, Ele
foi até os discípulos e, quando o viram andando sobre o mar, ficaram
aterrorizados e gritaram: “É um fantasma!” Imediatamente Jesus falou com
eles, dizendo: “Tenham bom ânimo! Sou eu. Não tenham medo!” No grego,
o Senhor disse: “Eu Sou”. E este, na verdade, é o nome de Deus na sarça
ardente. Quando Ele diz: “Eu Sou”, está lhe dando um cheque em branco,
significa que Ele será qualquer coisa de que você necessitar.
Pedro, então, respondeu: “Senhor, se és tu, ordena-me que vá ter contigo
por sobre as águas”. E o Senhor lhe diz: “Vem!” O bom a respeito de Pedro
é que ele deixou a sua razão e lógica completamente de lado. Ele
simplesmente saiu do barco e andou sobre as águas.

Pedro está com os seus olhos fitos em Jesus, é Rúben, está olhando para o
Filho. Enquanto ele está com os olhos em Cristo, tudo vai bem. Ao olhar
para Jesus, ele se tornou como Jesus. O Senhor estava acima da tempestade,
agora ele também está acima da tempestade. Ele está desfrutando da bênção
do primogênito olhando para o primogênito.

Tudo parecia ir bem até o momento em que Pedro tirou os olhos do Senhor
e passou a reparar na força do vento. Nesse momento, ele teve medo. Rúben
parou de olhar para Jesus e foi para a cama com o medo. Ele começou a
olhar para os sintomas da doença, para a crise financeira, para o
desemprego, para os problemas ao redor do mundo, em vez de olhar para o
Senhor Jesus.

Pedro abdicou de sua alta posição. Ele voltou a confiar em seu próprio
raciocínio, e isso sempre traz de volta o medo. Ele ficou com medo de
afundar por causa do vento. Mas o que isso tem a ver com caminhar sobre
as águas? Se o vento não estivesse agitado e o mar estivesse perfeitamente
calmo, sem nem uma onda, ainda assim ele não poderia andar sobre as
águas. O vento não tem nada a ver com isso. Então, o seu raciocínio
também havia sido corrompido pelo medo.

Enquanto Pedro está olhando para o Senhor, ele é capacitado para agir no
sobrenatural, ele está habilitado a viver a vida elevada de Jesus, a vida
acima das tempestades. Todavia, quando ele tirou os olhos do Senhor e
passou a reparar na força do vento, então começou a afundar. Ele estava
com medo, e o medo o leva a naufragar. Por um instante, Pedro pensou que
o vento era maior do que Jesus.

Quando Pedro começou a afundar, ele gritou: “Senhor, salve-me!” E o


Senhor estendeu a mão, segurou-o e disse-lhe: “Por que você duvidou,
homem de pequena fé?” E, quando eles entraram no barco, o vento cessou.
O teste havia terminado. Parece que Pedro foi reprovado, mas lembre-se de
que ele andou sobre as águas mais do que qualquer outro homem sobre a
terra.

Ignore os ventos. O Senhor pode pará-los quando quiser. Não vá para a


cama com o medo. Continue olhando para Jesus. Enquanto continuar
olhando para Jesus, você será transformado para ser como Ele. Ao olhar
para o Senhor, Ele nos transforma de glória em glória.

2º Dia

A noite vai passar


T

odos nós passamos por estações e tempos em nossa vida. Existem estações
especiais de visitação do Senhor. É verdade que Ele está sempre conosco e
nunca nos deixa. Também é verdade que somos a sua habitação, mas
precisamos admitir que há estações

em que sentimos mais o seu fluir. Nessas ocasiões, é fácil orar e receber
revelação na Palavra, os frutos brotam em abundância e temos grande
disposição para servi-lo.

Há, todavia, outros momentos que, queiramos ou não, fazem parte da nossa
vida. Todos nós, em algum momento, vamos passar por noites sombrias e
escuras. Enquanto estivermos aqui, estaremos sujeitos a isso, mas a
promessa do Senhor, em Apocalipse, é que chegará o dia em que não mais
haverá noite (Ap 22.5).

Talvez você esteja passando por um tempo de lutas e lágrimas, a depressão


tem assaltado o seu coração e você não consegue entender o que está
acontecendo. O Senhor sabe o que você tem passado. Este é um tempo de
noite sombria.
Bendigo o SENHOR, que me aconselha; pois até durante a noite o meu coração me ensina. (Sl 16.7)

Quando você estiver no meio da noite, lembre-se de que, mesmo nessas


circunstâncias, o Senhor vai instruí-lo. Você precisa saber o que o Senhor
quer ensiná-lo nessas situações. Muitas vezes, nós mesmos somos o
problema. Nós mesmos fizemos a bagunça e não sabemos como sair dela.

Na maioria das vezes, porém, a crise da noite que atravessamos é resultado


de ataques do diabo. Nós estamos numa guerra espiritual, e esta é uma das
razões por que no céu não haverá noite: lá não haverá mais inimigos. Tenha
bom ânimo, a noite vai passar e a alegria virá encontrá-lo pela manhã. A
promessa é que, ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela
manhã (Sl 30.5). A alegria vem porque ela é uma pessoa, é o próprio
Senhor Jesus.

Abraão foi justificado à noite


Em Gênesis 14, lemos que Abraão teve uma grande vitória. Ele e seus
trezentos e dezoito homens haviam vencido um exército de quatro reis.
Aquilo havia sido sensacional. Na volta da batalha, Melquisedeque veio ao
seu encontro com pão e vinho. Ele abençoou Abraão em o nome do Deus
Altíssimo, e Abraão, cheio de gratidão, entregou-lhe o dízimo de tudo.
Abraão estava como um crente em fim de conferência, cheio de alegria e fé.

Entretanto, no capítulo 15, o Senhor vem ter com Abraão e lhe diz: “Não
temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo
grande”(Gn 15.1). Há duas coisas nas quais precisamos atentar aqui. A
primeira é que Abraão estava com medo. O Senhor só lhe diz: “Não tenha
medo” quando você está sentindo medo.

Mas por que Abraão estaria com medo depois de uma vitória tão grande?
Ele havia derrotado quatro reis. Abraão talvez estivesse pensando que esses
generais estariam se organizando para contra-atacá-lo. É nesse momento
que o Senhor lhe aparece numa visão. A visão era de um escudo. Não um
escudo do tipo do Capitão América, mas um escudo que protegia todo o
corpo. Abraão certamente estava angustiado, sem conseguir dormir, mas o
Senhor lhe dá uma visão de um escudo guardando-o. Hoje, nós somos
filhos de Abraão e podemos desfrutar da mesma promessa de proteção. À
noite, quando você estiver sob ataque sem conseguir dormir e sentindo-se
amedrontado, saiba que o Senhor é um escudo para protegê-lo. Receba um
cântico durante a noite. Jó diz que o Senhor nos dá cânticos de vitória
durante a noite (Jó 35.10).

Na Palavra de Deus, a noite é um símbolo de lutas, provações e tristezas (Sl


77.6), mas a noite não é só um símbolo, ela mesma pode ser muito
angustiante e insone.

Mais adiante, o Senhor conduz Abraão para o lado de fora a fim de que ele
conte as estrelas. Nesse momento, ficamos sabendo que era noite. Os
nossos maiores desafios são durante a noite. As noites costumam ser
severas, sofremos com insônia, é o momento em que sentimos mais
depressão e medo. Quando estamos doentes, é o momento em que a febre e
a dor parecem mais lancinantes.

E a Palavra do Senhor declara que Abraão creu em Deus e isso lhe foi
imputado para justiça (Gn 15.6). No meio da noite, cercado por
pensamentos de angústia e medo, Abraão creu na palavra do Senhor. Ele foi
justificado pela fé durante a noite. Foi num momento sombrio de uma noite
escura que ele creu no Senhor e por isso foi justificado.

Uma noite com leões


A Palavra de Deus diz que Daniel também passou por uma noite escura. Foi
uma longa noite deitado com leões. De maneira simbólica, todos nós já
enfrentamos leões durante a noite de uma enfermidade, de uma crise
conjugal, financeira ou até espiritual. Todos nós já dormimos com leões de
alguma maneira.

Você conhece a história, Daniel tinha grande favor da parte do rei Dario.
Ele se destacava entre todos os oficiais do rei, que pensava em estabelecê-lo
como primeiro-ministro sobre todo o império. Isso despertou o ciúme e a
inveja dos outros oficiais, os quais passaram a tramar contra Daniel.
Entretanto, por mais que tentassem, não achavam falha nele, pois era
irrepreensível em todas as coisas do reino.
Aqueles homens, então, perceberam que a única maneira de acusar Daniel
seria por meio de sua devoção a Deus. Assim, observaram que ele, de
joelhos, orava diariamente três vezes ao dia no quarto de cima de sua casa
com as janelas abertas.

Aqueles oficiais foram até o rei e pediram-lhe que, durante um mês,


qualquer homem que fizesse uma petição a qualquer deus que não fosse o
rei seria lançado na cova dos leões. Eles sabiam, com certeza, que Daniel
não pararia de orar a Deus, então esta seria a maneira de derrubá-lo. Havia
algo peculiar sobre a lei dos medos e persas: uma vez sancionada pelo rei,
uma lei não podia ser revogada.

O mais impressionante é que, mesmo depois de ficar sabendo a respeito do


decreto, Daniel continuou orando no quarto de cima de sua casa com as
janelas abertas, exatamente como costumava fazer.

Aqueles homens foram à casa de Daniel e o acharam orando.


Imediatamente, foram ao rei e o lembraram do interdito real de que seria
lançado na cova dos leões qualquer um que orasse a um deus que não fosse
o rei.

Quando o rei ouviu essas coisas, ficou penalizado por Daniel e se


empenhou de todas as formas para salvá-lo da condenação, mas a lei dos
medo-persas não podia ser alterada e nem revogada. Assim, o rei não teve
outra alternativa senão ordenar que Daniel fosse lançado na cova dos leões
(Dn 6.1-16).

Daniel foi lançado na cova e esteve ali durante toda a noite. Foi a noite
escura da provação, mas, no fim, o Senhor o livrou. E por que Daniel foi
livrado no meio da noite? Assim como Abraão, ele venceu na noite escura
unicamente porque creu no Senhor.
Então, o rei se alegrou sobremaneira e mandou tirar a Daniel da cova; assim, foi tirado Daniel da
cova, e nenhum dano se achou nele, porque crera no seu Deus. (Dn 6.23)

Quando você estiver passando pela noite escura e não conseguir


compreender o que está acontecendo, simplesmente creia. Não há nada a
fazer a não ser crer.
Os seus amados recebem enquanto dormem
A maior parte dos salmos foi escrita por Davi, mas o Salmo 127 foi escrito
por Salomão.
Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos
seus amados ele o dá enquanto dormem. (Sl 127.2)

Em si mesmo, não há nada de errado em levantar de madrugada, dormir


tarde ou comer o pão granjeado penosamente. Se, porém, você está
dormindo tarde e se levantando de madrugada porque está ansioso e não
consegue dormir, então você come um pão de dores e angústia. Um pão
ganho penosamente é um hebraísmo, que significa “algo cheio de ansiedade
e preocupação”.

O Senhor diz que uma vida vivida assim é inútil. Esta não é a vida que Ele
planejou para nós. Precisamos descansar a nossa alma e dormir o descanso
do Senhor. A promessa do Pai é que, aos seus amados, Ele o dá enquanto
dormem.

Salomão, o autor desse salmo, também era chamado de Jedidias, que


significa “amado do Senhor”.
Davi o entregou nas mãos do profeta Natã, e este lhe chamou Jedidias, por amor do Senhor. (2 Sm
12.25)

Seu pai era Davi, cujo nome tem a mesma raiz no hebraico e significa
“amado”. É necessário um Davi, que quer dizer “amado”, para derrubar e
vencer Golias. Mas também é necessário um Jedidias, amado do Senhor,
para edificar a casa de Deus. Você precisa saber que é amado para vencer o
inimigo e edificar a casa de Deus.

Agora ficamos sabendo que, aos seus amados, o Senhor dá enquanto


dormem. Essa afirmação pode ter dois sentidos. Pode significar que o
Senhor dá o sono aos seus amados, de forma que eles recebem enquanto
descansam, mas pode também ter o sentido de que Deus trabalha pelos seus
amados até mesmo quando estão dormindo.
Todavia, o ponto central é que você precisa ter um profundo sentimento de
que é amado. Quando crê e sabe que é amado, você passa pela noite escura
no descanso do Senhor. E, enquanto você descansa, Ele lhe dá a provisão.

Ele virá na hora mais escura


Logo a seguir, compeliu Jesus os discípulos a embarcar e passar adiante dele para o outro lado,
enquanto ele despedia as multidões. E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar
sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só. Entretanto, o barco já estava longe, a muitos estádios da
terra, açoitado pelas ondas; porque o vento era contrário. Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com
eles, andando por sobre o mar. E os discípulos, ao verem-no andando sobre as águas, ficaram
aterrados e exclamaram: É um fantasma! E, tomados de medo, gritaram. Mas Jesus imediatamente
lhes disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! (Mt 14.22-27)

A Palavra de Deus diz que Jesus subiu ao monte para orar e, lá de cima, viu
os seus discípulos lutando contra as ondas do mar, porque o vento era
contrário. O Senhor, então, foi andando sobre o mar para encontrá-los. E o
Espírito Santo declara que era a quarta vigília da noite.

Os judeus dividiam a noite em quatro vigílias. A primeira era das dezoito às


vinte e uma horas; a segunda, das vinte e uma à meia-noite; a terceira, da
meia-noite às três da manhã; e a quarta, das três às seis da manhã. A quarta
vigília é a parte mais escura da noite. Isso significa que, no momento mais
escuro e difícil da sua situação, o Senhor virá até você, mas não apenas isso,
Ele virá de uma maneira que você nunca imaginaria. Os discípulos nunca
haviam visto o Senhor andar sobre as águas. Ele fará algo completamente
novo e surpreendente em sua vida.

Eles ficaram muito assustados, e você também pode ficar assombrado com
a forma como o Senhor lhe dará a vitória. Não será de uma maneira
habitual, mas será imprevisível e inexplicável. E, para que você sinta
segurança, Ele lhe dirá o mesmo que disse aos seus discípulos: “Sou eu”.
Essa afirmação certamente lhe soa familiar, pois é o nome de Deus revelado
a Moisés: “Eu Sou”. Nos seus dias mais sombrios, ouça a palavra do
Senhor: “Não tenha medo”.

Talvez você tenha recebido um diagnóstico ruim dos médicos e agora nem
mesmo consegue dormir à noite. Creia no Senhor. Descanse e durma, pois,
enquanto você estiver dormindo, Ele lhe dará a vitória. Talvez as suas noites
se tornaram como a de Daniel deitado com leões, mas o Senhor está com
você. Não tema.

O sol vai nascer


No livro de Gênesis, lemos que, no princípio, Deus criou todas as coisas,
então houve tarde e manhã no primeiro dia. Em nosso conceito natural,
seria mais apropriado dizer que houve manhã e tarde, mas Deus começa um
novo dia no escuro. Quando é meia-noite, um novo dia está começando. Se
você não tiver um relógio, não saberá que entrou em um novo dia. Ainda
está escuro e parece o mesmo que às vinte e uma horas, às vinte e duas, às
vinte e três, não há um mínimo sinal de que algo tenha mudado, mas,
quando o relógio bate à meia-noite, é um novo dia.

Faria mais sentido se Deus começasse o dia quando o sol surgisse, às seis
ou sete horas da manhã, quando o amanhecer nascesse. Quando o sol nasce,
podemos ver que as coisas mudaram, os pássaros cantam, o sol se levanta, e
temos toda a evidência de que entramos em um novo dia, mas Deus
escolheu começar o dia no escuro. Isso é simbólico para mostrar como Ele
faz as coisas em nossa vida: Ele nos dá uma promessa, diz que entramos em
um novo dia, num novo tempo. Nada, porém, parece diferente, ainda está
escuro lá fora, mas a verdade é que um novo dia já começou.

O meu negócio ainda não cresceu, a minha saúde não melhorou, a minha
vida não mudou, mas é exatamente isso que é a fé. Ainda está escuro lá
fora, parece que nada mudou, mas o sol está subindo, a cura está no
horizonte, a promoção, a liberdade. É apenas uma questão de tempo antes
que você veja a luz surgir.

Não fique desanimado por causa do escuro. A escuridão não significa que
um novo dia não começou. Ela não é um sinal de que Deus não ouviu sua
oração. Você precisa andar por fé, e não por vista.
No dia em que eu te invocar, baterão em retirada os meus inimigos; bem sei isto: que Deus é por
mim. (Sl 56.9)
A vitória começa no escuro. Somos tentados a pensar que Deus não está nos
ouvindo, mas o fato é: a luz está a caminho. Deus está dizendo que você já
entrou em um novo dia, já passou da meia-noite. Você ainda não pode ver,
mas a vitória está a caminho.

Quem pode impedir o sol de nascer todas as manhãs? Quem pode impedir a
luz de irromper no horizonte? Todas as forças das trevas não podem impedir
o que Deus ordenou para você. Elas não podem impedir que o que Ele
prometeu aconteça. O novo dia começa antes do nascer do sol.

Tenha uma canção no meio da noite


Paulo e Silas foram presos por compartilharem sua fé. Os líderes religiosos
os prenderam na parte mais profunda da masmorra para garantir que não
pudessem escapar. Deus, todavia, nunca o deixará entrar em um problema
do qual Ele não possa tirá-lo. Se essa dificuldade atrapalhasse o seu destino,
Deus não teria permitido. Ela pode parecer grande demais para você, ou até
mesmo que nunca poderá superá-la, mas não é grande demais para o nosso
Deus, Ele já tem a solução.
Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais
companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os
alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. (At 16.25-26)

Sentados na masmorra, falsamente acusados, eles poderiam estar


deprimidos: “Deus, por que isso está acontecendo? Não é justo. Estávamos
fazendo aquilo que é a sua vontade”. Mas a Escritura diz: “À meia-noite,
eles estavam cantando louvores e dando graças a Deus”. É interessante que
nos digam quando isso aconteceu. Na maioria dos outros milagres, não se
menciona em que horas aconteceram, mas, dessa vez, o Espírito Santo
colocou a hora, porque meia-noite significa que era um novo dia.

Enquanto eles estavam cantando louvores, de repente, houve um grande


terremoto. As portas da prisão se abriram, as correntes caíram dos seus pés
e eles saíram livres. Não é por acaso que tudo isso aconteceu à meia-noite.
Eles podem ter cantado às vinte e duas horas e nada aconteceu.
Agradeceram a Deus às vinte e três horas e nada aconteceu. Louvaram às
vinte e três e trinta, e ainda nada. Quando, porém, chegou a meia-noite,
quando o novo dia começou, de repente, as coisas mudaram. Deus está nos
mostrando que pode estar escuro ao nosso redor e parecer não haver
nenhuma saída, mas, quando entrarmos no novo dia, as coisas vão mudar de
repente.

Sempre haverá um período de escuridão no qual parece que nada está


acontecendo, mas continue louvando a Deus por Ele estar lutando as suas
batalhas e agradeça-lhe por estar abrindo caminhos por onde você não vê
nenhum caminho. Apenas creia, pois repentinamente o Senhor virá e
mudará a sua sorte.

Lembre-se de que você é amado


Por fim, preciso lhe dizer que Deus instituiu uma ordenança tanto para
Israel quanto para a igreja. No Velho Testamento, Deus instituiu uma noite
para ser lembrada, a noite da Páscoa. Foi naquela noite, quando o anjo da
morte passava pelas casas, que eles comeram o cordeiro. O sangue estava
nos umbrais da porta, e o cordeiro estava sobre a mesa. No Novo
Testamento, sabemos que:
O Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é
o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de
haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei
isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. (1 Co 11.23-25)

O Senhor Jesus estava atravessando a noite escura e nos disse que


deveríamos partir o pão quando atravessássemos a nossa própria noite
escura. Quando partir o pão, lembre-se de que você é amado do Senhor. Aos
seus amados Ele dá enquanto descansam n’Ele.

3º Dia
Prisioneiros da esperança
A
palavra “esperança” no grego é elpis. Significa uma firme convicção, uma
expectativa confiante de que coisas boas estão vindo da parte de Deus. A
palavra “esperança” em hebraico é tiqvah. É interessante que a palavra é a
mesma para “corda”. Isso mostra que

a ideia de esperança é estar amarrado a Deus. Porque estamos ligados a Ele,


o nosso futuro é maravilhoso, pois compartilhamos com Ele de uma mesma
vida. O mundo tem esperança, mas não tem certeza de ela se cumprirá. Nós,
porém, esperamos e temos segurança, porque a nossa esperança está no
Senhor.

Prisioneiros da esperança
Quanto a ti, Sião, por causa do sangue da tua aliança, tirei os teus cativos da cova em que não havia
água. Voltai à fortaleza, ó presos de esperança; também, hoje, vos anuncio que tudo vos restituirei em
dobro. (Zc 9.11-12)

Tudo o que recebemos hoje é por causa do sangue da aliança, o sangue de


Jesus. O Senhor está lhe restaurando tudo em dobro não porque você é bom,
mas por causa do sangue de Jesus derramado na cruz.

Por causa do sangue da aliança, nós fomos libertos da prisão do pecado e


fomos feitos prisioneiros da esperança. Simplesmente não podemos mais
viver sem a expectativa da glória. Sabemos do nosso destino e estamos
presos a ele.

No passado, fomos prisioneiros do desespero. Passávamos noites com


insônia, virando de um lado para o outro, porque estávamos preocupados.
Tínhamos diante dos nossos olhos imagens de desesperança e medo. Nesse
tempo, tentávamos ser otimistas e positivos, mas sempre voltávamos a um
lugar escuro de ansiedade e angústia. Naquele tempo, éramos prisioneiros
do desespero.
Agora, porém, fomos trazidos a um lugar de paz, e o Senhor nos diz que
somos prisioneiros da esperança. Por mais que ouvimos más notícias e
previsões ruins do futuro, o nosso coração insiste em ter esperança, pois o
Senhor é a nossa fortaleza. Somente conseguimos ver coisas boas em nosso
futuro, pois confiamos nas promessas de Deus. Tudo o que vejo é a bênção
e o favor de Deus sendo derramado sobre mim abundantemente.

O que você vê no seu futuro, ó prisioneiro da esperança? Nós vemos vitória,


sucesso e prosperidade. A promessa do Senhor é que Ele nos restituirá em
dobro. Se há perdas hoje, prepare-se para ser restituído em dobro.

Romanos 6 diz que todos nós nascemos escravos do pecado, porque todos
nós recebemos a natureza de Adão. Não importava o que fizéssemos de
bom, ainda assim éramos escravos do pecado. Entretanto, depois que
nascemos de novo, fomos feitos servos da justiça. Em outras palavras, não
importa o que você faça, ainda assim será justo aos olhos de Deus.

A porta da esperança
Há uma história muito triste que aconteceu com um homem chamado Acã.
Quando o povo de Israel conquistou Jericó, Acã pegou as coisas
consagradas a Deus e por isso foi apedrejado em um vale chamado vale de
Acã, ou Acor, em hebraico. Todavia, muitos anos depois, Deus prometeu
que, no vale de Acor, haveria uma porta de esperança.
E lhe darei, dali, as suas vinhas e o vale de Acor por porta de esperança; será ela obsequiosa como
nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito. (Os 2.15)

Acor significa “problema” ou “perturbação” em hebraico. No vale de Acor,


Deus colocou uma porta de esperança, uma porta de tiqvah. Deus prometeu
a Israel e a todos nós que, no nosso vale de Acor, haveria uma porta de
esperança.

A sua porta não é encontrada na montanha, mas no vale. Montanhas sempre


falam de boas experiências e bênçãos. Então, quando você se sente forte e
coberto de todas as bênçãos, tem uma experiência no topo da montanha. E,
quando desce ao vale, este é o lugar da provação. Este é o momento em que
o diabo diz que você ficará lá embaixo no vale. Você pode estar
atravessando um vale, mas está caminhando, e Deus está abrindo um
caminho para que você saia do outro lado. Há uma promessa de Deus.
Então, quando estiver no seu vale da angústia, procure a porta da esperança.

Abra a porta esperando o melhor. Abra a porta por causa do seu Deus,
porque você está ligado a Ele com cordas de esperança. Não permita que
pensamentos pessimistas sobre a situação e as circunstâncias o desanimem.
Não dê ouvidos aos pessimistas de plantão.

Como prisioneiros da esperança, devemos nos lembrar de que Jesus pagou


o preço. Ele estava no vale, no pé de uma montanha, chamada Monte das
Oliveiras, em um pequeno jardim, porque o homem pecou contra Deus em
um jardim, o Jardim do Éden, e todo o seu sofrimento começou também no
jardim.

O jardim é onde tudo começa. E a Palavra de Deus diz que, no jardim, o


Senhor Jesus orou e suou sangue.
E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra. (Lc 22.44)

A palavra usada aqui é “agonia” no grego, exatamente como em português.


Essa palavra era usada para descrever um exercício físico intenso. Mas
também fala de uma luta emocional severa. Quando orou em agonia, Ele
suou gotas de sangue, que caíram sobre a terra.

Toda palavra tem significado nas Escrituras, e o Espírito Santo escolheu a


palavra “caindo”. O sangue cai no chão porque, em um jardim anterior, o
lugar onde tudo era fornecido ao homem, ele só precisava pegar e comer.
Ele não precisava trabalhar com suor e agonia. Tudo estava preparado para
ele. Deus criou o homem para que ele pudesse desfrutar de toda a criação,
mas ele pecou contra Deus e, como resultado, os frutos e a comida do Egito,
que é uma imagem do mundo, são trabalhosos e desoladores.

A comida do Egito são melões, alhos, cebolas, tudo comida do chão, e


precisamos nos curvar para pegá-los, mas a comida de Canaã, a terra que
mana leite e mel, é comida como uvas, azeite, romãs e figos. Todos eles são
colhidos apenas estendendo a mão e arrancando no pé. Não precisamos nos
curvar para colhê-los. É uma imagem do que é a vida na terra de Canaã. A
promessa que Deus tem para nós é de um lugar de verdadeiro descanso,
uma terra onde somos providos graciosamente e não há uma obra laboriosa
envolvida nela.

Todavia, quando Adão pecou, Deus lhe disse três coisas. Primeiro: “Maldita
é a terra por tua causa”. A terra está amaldiçoada. A segunda coisa é que “a
terra produzirá cardos e espinhos”. Antes, não havia espinhos, mas agora os
espinhos brotam, e é por isso que Jesus usou uma coroa de espinhos. Ele
levou toda maldição.

Toda vez que você tem um pensamento que o machuca, que o faz agonizar,
toda vez que você tem uma dor, sente um medo, tem um pensamento
assustador que o deixa em pânico no meio da noite, são aqueles espinhos
que estão ferindo a sua mente. Este é o momento de você lembrar que Jesus
carregou a sua coroa de espinhos para que você não precisasse mais sofrer
essa agonia. E a terceira coisa que Deus disse foi: “A partir de agora, pelo
suor do seu rosto, você comerá o seu pão. A sua subsistência não será mais
fácil”.
Agora, descobrimos que Jesus suou no jardim até o seu suor se tornar como
gotas de sangue. É uma condição que os médicos chamam de
hematohidrose e significa que, sob pressão extrema, em algumas pessoas,
os capilares, especialmente em torno da testa, se rompem e o sangue sai
misturado com o suor.

Há algo sobre o sangue de Jesus que é único. Primeiro, não há pecado em


seu sangue. Segundo, Ele é totalmente Deus e totalmente homem, portanto
o seu sangue é divino. E terceiro, o sangue de Jesus sempre limpa, restaura
e redime. No momento em que suou sangue, Ele estava levando a sua
depressão e sofrendo a sua agonia; mas, no momento em que o seu sangue
redentor se misturou com o suor, Ele nos redimiu da maldição da depressão,
da obsessão humana, da escuridão da mente e do pessimismo. Ele nos
libertou porque suava sangue. E o Espírito Santo diz que o sangue que
redime caiu no chão. O chão foi amaldiçoado, mas agora todo lugar em que
você andar será abençoado.

O fio de esperança
A primeira menção de algo na Palavra de Deus é sempre significativa. E a
primeira ocorrência da palavra “esperança”, ou tiqvah, em hebraico, é na
história de uma prostituta. O nome dela era Raabe, e ela vivia em Jericó.
Esta foi a primeira cidade que Josué e os seus homens conquistaram depois
de atravessarem o rio Jordão. A Escritura diz que Deus partiu as águas do
rio Jordão de maneira que as que vinham de cima se amontoaram como
uma coluna, como um monte de água, que se ergueu até a cidade de Adão
(Js 3.16). Esta é uma imagem de Deus vencendo a morte, toda a morte que
veio como resultado da queda desde Adão. Depois que atravessaram o rio
Jordão, a primeira cidade que tiveram de conquistar foi Jericó.

A Palavra de Deus diz que as muralhas da cidade eram tão largas que até
construíram casas nelas e carruagens passavam sobre elas. Toda a terra
pertence ao Senhor, e agora Ele estava dando aquela terra ao seu povo. Os
habitantes de Jericó eram invasores que se recusaram a sair. E, morando
num apartamento dentro das muralhas, vivia uma prostituta chamada
Raabe.

E aconteceu que Israel, aprendendo a lição de quarenta anos antes, em vez


de enviar doze espias, enviou apenas dois, porque apenas estes voltaram
com as notícias certas da primeira vez. Eles entraram na cidade e
infelizmente foram vistos pelos soldados, os quais os perseguiram. Então,
esconderam-se num lugar que os soldados não esperariam, na casa de uma
prostituta.

A primeira coisa que Raabe lhes disse foi: “Soubemos que o SENHOR
secou o Mar Vermelho diante de vocês quando saíram do Egito” (Js 2.10).
Isso havia acontecido há quarenta anos. Assim, provavelmente ela ouviu
essa história de alguém que lhe contou, talvez sua avó ou sua mãe. É como
se ela estivesse dizendo. “Por que vocês demoraram tanto?” O seu coração
estava inclinado para o Deus de Israel.

Raabe sabia que Deus daria a Israel aquela terra e que Ele estava do lado de
Israel, e não do seu povo, por isso lhes disse: “Jurem, em nome do Senhor,
e prometam que vão ser bons para a minha família, porque eu também tratei
vocês com bondade. Salvem o meu pai, a minha mãe, os meus irmãos, as
minhas irmãs e a família deles. Não deixem que nos matem”.
Os espias responderam a Raabe, e esta é a primeira menção de tiqvah na
Bíblia.
Disseram-lhe os homens: Desobrigados seremos deste teu juramento que nos fizeste jurar, se, vindo
nós à terra, não atares este cordão de fio de escarlata à janela por onde nos fizeste descer; e se não
recolheres em casa contigo teu pai, e tua mãe, e teus irmãos, e a toda a família de teu pai. (Js 2.17-18)

Ela, pois, os fez descer por uma corda pela janela que dava na muralha. E
qual era a cor da corda? Escarlate. O que é escarlate? Vermelho. É uma
figura do sangue de Jesus. A palavra “corda” é tiqvah, que significa
“esperança”. Em hebraico, as palavras “corda” e “esperança” são a mesma.
Se você está numa cova onde há muita escuridão e, de repente, sente algo
cair sobre você, e é uma corda, você tem esperança. Essa corda lhe dá
esperança, porque a cor da corda é vermelha. E vermelho é uma figura do
sangue de Jesus.

Quando os espias partem, Raabe deixa a corda vermelha na sua janela para
que o povo poupe a sua casa. Os espias lhe disseram: “Certifique
-se de trazer o seu pai e a sua mãe”. Isso nos fala de evangelismo.

Eu imagino que ela tenha olhado pela janela durante anos esperando o dia
em que Israel iria chegar. Ela tinha uma expectativa assustadora do mal em
seu futuro. Era o oposto da esperança. Da sua janela, ela agora via Israel
com suas doze tribos e a coluna de fogo no meio deles. Raabe sabia que
Deus estava sobre aquele tabernáculo. O Senhor estava com eles, e ela sabia
que estava do lado perdedor, o lado oposto da bênção. A sua janela era
como a tela de uma televisão, da qual ela podia ver a destruição chegando.

Coloque-se no lugar dela. A destruição está às portas. Não há nada para


esperar do futuro, mas agora ela tinha um fio de esperança. Tudo o que ela
tinha era a corda vermelha em sua janela, que é o sangue de Jesus. Como
Raabe, nós temos apenas a palavra da promessa e o sangue.

Imagine se um anjo aparecesse no quarto de Raabe. O que ele diria?


“Raabe, por que você está com tanto medo?” “Eu acho que estou
desesperada porque sou prostituta. Não há lugar para mim entre a nação de
Israel!” Eu imagino que o anjo sorriria para ela e diria: “Você acreditaria se
eu lhe dissesse que você será a bisavó do amado rei de Israel?” Você sabia
que um dos jovens que vieram para espiar a terra é filho de um príncipe de
Judá? Ele é filho de Naasson. O nome dele é Salmon.

Eu acredito que um dos espias era Salmon. Você sabe por quê? Porque Judá
sempre assume a liderança. Sempre que há uma batalha, Judá vai primeiro.
Judá significa “louvor”, e o louvor sempre vai primeiro.

Há uma tradição ensinada pelos rabinos, segundo a qual, quando Moisés


levantou a mão para abrir o Mar Vermelho, o primeiro a entrar foi o
príncipe de Judá. O nome dele é Naasson. Ele é o pai de Salmon.

Na oferta feita pelos príncipes no livro de Números, Naasson era o príncipe


de Judá, e ele foi o primeiro a ofertar. Judá novamente liderou. Sabemos
que, mais tarde, Rute vai se casar com Salmon.

Talvez o anjo dissesse a ela: “Raabe, o seu futuro é brilhante. Você olha lá
fora e vê destruição, mas eu olho para lá e vejo a bisavó de Davi. E não é só
isso, você entrará na linhagem do Messias, o salvador do mundo. Não
apenas de Israel, mas o salvador do mundo”.

O nome dela é mencionado na genealogia de Jesus descrita por Mateus.


Nada mal para uma prostituta. E ela ouve tudo isso, todas essas boas novas,
e se enche de esperança. É bom demais para ser verdade, mas era verdade.

O anjo continua: “Você se casará com Salmon, filho de Naasson, o príncipe


de Judá, e dará à luz um filho. O nome dele será Boaz, o qual se casará com
Rute, e terão um filho chamado Obede. Obede gerará Jessé, e Jessé será o
pai de Davi. E, nessa linha, veio nosso Senhor Jesus Cristo, o verdadeiro
Filho de Davi.

Você pode olhar por essa mesma janela. Há alguns dias, havia destruição,
mas agora há libertação. Dias atrás, estava sem futuro e cheio de
desesperança, mas agora o futuro nos surpreenderá com uma prostituta
tornando-se mãe de Israel.

Por mais sete dias, Raabe viu Israel marchar ao redor das muralhas de
Jericó. Eles não disseram nada, apenas carregavam a arca. A arca é Cristo.
Eles estavam apenas levantando Cristo. No sétimo dia, tocaram as
trombetas e gritaram, e os muros da cidade caíram. A casa dela ficava no
muro. Como isso foi possível? Isso não foi obra do homem, mas foi obra de
Deus, por causa do sangue.

Há uma parte do muro que não caiu, e nele havia uma janela. A casa dela
estava no muro e, quando os muros caíram, a sua casa não caiu. Ela e sua
família ficaram em segurança. Creia no Senhor Jesus Cristo e você estará
seguro e sua casa também. Talvez você olhe lá fora e não veja nada além de
desesperança, desamparo e coisas sombrias acontecendo, mas hoje Deus vai
transformá-lo em um prisioneiro da esperança, um prisioneiro de tiqvah.
Quando Raabe ouviu a trombeta tocando pela sétima vez, para os outros,
era sinal de juízo e destruição, mas, para ela, foi o som do Jubileu, o som da
libertação.

4º Dia

O Deus dos vales e montanhas


N

o Salmo 23, Davi começa falando de como o Senhor o conduz: “Ele me faz
repousar em pastos verdejantes. Ele me leva para junto das águas de
descanso. Ele me guia pela vereda da

justiça”. De repente, ele muda a narração e diz: “Ainda que eu ande pelo
vale da sombra da morte”. Não foi o Senhor que o levou para ali, ele
mesmo foi. O Senhor certamente não conduz a ovelha para esse lugar, ela
chega ali por si só.

A expressão “ainda que” significa que não precisamos necessariamente


passar por esse vale. Não é algo que está determinado sobre nós. Quando o
Senhor nos guia, Ele nos leva para pastos verdejantes e águas tranquilas;
mas, quando caminhamos pelo nosso entendimento, sempre chegamos a um
lugar de sombra e morte.

Entretanto, ainda que isso aconteça, não precisamos ficar desesperados. O


Senhor é aquele que deixa as noventa e nove e vai em busca da que se
perdeu. Ainda que a situação seja o resultado de sua própria escolha, o
Senhor não vai abandoná-lo, dizendo: “Você criou o problema, agora
resolva!” Mesmo nesse vale, Deus estará com você. Quando passarmos por
ele, não precisamos temer, porque o Senhor está conosco. Gostaria de
compartilhar a respeito do sentido dos vales e montanhas na Palavra de
Deus. Como dá para perceber, no Salmo 23, os vales apontam para
momentos de luta, queda, sofrimento e tribulação. São aqueles momentos
de baixa em nossa vida espiritual. Em oposição aos vales, as montanhas
representam nossas maiores vitórias e momentos de elevação espiritual.

O vale da tribulação
E lhe darei, dali, as suas vinhas e o vale de Acor por porta de esperança; será ela obsequiosa como
nos dias da sua mocidade e como no dia em que subiu da terra do Egito. (Os 2.15)

Acor é uma referência a Acã, aquele que tomou das coisas consagradas ao
Senhor quando o povo conquistou Jericó. Significa inquietação, perturbação
ou distúrbio.

A promessa de Deus é que, no seu vale de inquietação, Ele colocará uma


porta de esperança. A sua porta não é encontrada na sua montanha, mas está
lá em baixo no vale. Montanhas sempre nos falam de boas experiências,
bênçãos e glória, mas o vale é o lugar da luta espiritual, da provação. O que
você pode esperar no meio do vale? O inimigo pode estar dizendo que você
vai ficar no vale, mas a promessa é que passaremos por ele.

Quando estiver passando pelo vale, procure pela porta da esperança. Você
abre a porta quando espera pelo melhor de Deus. Ignore os destruidores de
sonhos, os demolidores da fé, os que só falam de derrota. Não tenha medo,
apenas creia.
Você se lembra do que disseram a Jairo? “Não incomode mais o Mestre, a
sua filha está morta, a situação está acabada, o seu negócio está quebrado, o
seu casamento está terminado, nada mais pode ser feito”. Ouça o que o
Senhor lhe disse: “Não temas, crê somente” (Mc 5.36). Entre na porta da
esperança, o seu casamento será restaurado, o seu negócio será salvo, a
situação vai mudar completamente. O seu futuro é brilhante. Não temas,
creia somente!

O Deus dos vales


No livro de Reis, lemos a respeito de um evento muito interessante.
Naqueles dias, Elias havia derrotado os profetas de Baal no monte Carmelo,
e Acabe era rei de Israel. Isso aconteceu em 1 Reis 18 e 19, mas poucos
conhecem a história que aconteceu logo no capítulo seguinte.

A Palavra do Senhor diz que Ben-Hadade, rei da Síria, juntou outros 32 reis
com ele e veio pelejar contra Israel. Ele é um tipo do diabo e ilustra o que o
diabo faz quando vem contra nós.
Ben-Hadade, rei da Síria, ajuntou todo o seu exército; havia com ele trinta e dois reis, e cavalos, e
carros. Subiu, cercou a Samaria e pelejou contra ela. Enviou mensageiros à cidade, a Acabe, rei de
Israel, que lhe disseram: Assim diz Ben-Hadade: A tua prata e o teu ouro são meus; tuas mulheres e
os melhores de teus filhos são meus. (1 Rs 20.1-3)

Isso é exatamente o que o inimigo diz quando vem nos atacar: “A sua saúde
é minha, os seus filhos são meus, o seu cônjuge é meu, o seu dinheiro é
meu”. O que você faz diante disso?

Deus enviou um profeta ao rei Acabe:


Eis que um profeta se chegou a Acabe, rei de Israel, e lhe disse: Assim diz o SENHOR: Viste toda
esta grande multidão? Pois, hoje, a entregarei nas tuas mãos, e saberás que eu sou o SENHOR.
Perguntou Acabe: Por quem? Ele respondeu: Assim diz o SENHOR: Pelos moços dos chefes das
províncias. E disse: Quem começará a peleja? Tu! — respondeu ele. Então, contou os moços dos
chefes das províncias, e eram duzentos e trinta e dois; depois, contou todo o povo, todos os filhos de
Israel, sete mil. (1 Rs 20.13-15)

O exército de Israel era de 7.232 soldados, mas Ben-Hadade vinha com


mais 32 reis. Acabe pergunta ao profeta por meio de quem o Senhor
entregaria os inimigos, e a sua resposta é maravilhosa: “Por meio dos
jovens”.

Veja, no entanto, que nem eram jovens comuns, eram príncipes,


governantes. Hoje, na Nova Aliança, fomos feitos reis e sacerdotes. Os
jovens são príncipes do Senhor, e a promessa é que o inimigo cairá diante
dos jovens. Contudo, não é diante de qualquer jovem, mas apenas diante
daqueles que entendem a sua realeza.

Os jovens são os primeiros a sair contra o diabo. Sempre tenho dito que o
mover está com os jovens. Eles são sempre os primeiros a receber as coisas
de Deus. Precisamos que os jovens se posicionem hoje. Haverá despojo
nessa batalha.

Deus é o Deus dos improváveis. Ele usa um garoto para derrotar o gigante
Golias; uma queixada de jumento para matar mil por meio de Sansão;
trezentos vasos de barro com uma luz dentro para derrotar milhares. Deus
usa o fraco para confundir o poderoso.

Esses 232 jovens liderando a batalha junto com 7 mil soldados derrotaram
um exército de muitos milhares.

O rei da Síria, então, fugiu e certamente começou a questionar onde havia


falhado, afinal eles eram em muito maior número. Ele concluiu que a razão
era porque o Deus de Israel era um Deus de montes, mas se eles lutassem
contra Israel no vale, então poderiam vencer a guerra.
Os servos do rei da Síria lhe disseram: Seus deuses são deuses dos montes; por isso, foram mais
fortes do que nós; mas pelejemos contra eles em planície, e, por certo, seremos mais fortes do que
eles. (1 Rs 20.23)

O que isso significa? O inimigo está dizendo que, quando estamos passando
por um vale em nossa vida, Deus nos deixa sozinhos. Diz que Ele somente
pode nos ajudar quando a nossa vida é correta, santa e sem pecado, que o
Senhor não nos ajuda quando estamos sujos, quando agimos errado e
bagunçamos tudo lá embaixo no vale. Ele diz que o problema que estamos
enfrentando é algo que nós mesmos produzimos, portanto Deus não fará
nada sobre isso. Primeiro, precisamos sair do vale e subir a montanha, pois
somente ali Deus nos ajudará.
Esta é a maneira como o mundo vê Deus e infelizmente é a maneira
também como muitos pastores ensinam.

O diabo entende a justiça de Deus, mas não entende a sua graça e nem o seu
amor. A afirmação dele é que Deus somente o ama quando você se
comporta bem. O que o diabo está dizendo é que Deus é o Deus das
montanhas, mas não é Deus dos vales. Entretanto, no meio dessa crise,
precisamos sustentar o testemunho de que o nosso Deus é também o Deus
do vale sombrio e até escuro.

O Senhor, então, envia o profeta novamente para dizer a Acabe que, dentro
de um ano, o inimigo voltaria (v. 22).
Decorrido um ano, Ben-Hadade passou revista aos siros e subiu a Afeca para pelejar contra Israel.
Também aos filhos de Israel se passou revista, foram providos de víveres e marcharam contra eles.
Os filhos de Israel acamparam-se defronte deles, como dois pequenos rebanhos de cabras; mas os
siros enchiam a terra. Chegou um homem de Deus, e falou ao rei de Israel, e disse: Assim diz o
SENHOR: Porquanto os siros disseram: O SENHOR é deus dos montes e não dos vales, toda esta
grande multidão entregarei nas tuas mãos, e assim sabereis que eu sou o SENHOR. (1 Rs 20.26-28)

O Senhor disse que, só porque falaram que Ele não era o Deus dos vales,
Ele daria vitória ao povo de Israel. Deus apenas demonstrou a todas as
gerações que Ele se importa quando estamos no vale da sombra da morte.
Ele é Deus nas montanhas e nos vales também.

Israel era como dois pequenos rebanhos de cabras, mas os inimigos


enchiam a terra. Só os que foram mortos em batalha eram mais de 100 mil.
Sete dias estiveram acampados uns defronte dos outros. Ao sétimo dia, travou-se a batalha, e os
filhos de Israel, num só dia, feriram dos siros cem mil homens de pé. (1 Rs 20.29)

Dessa vez, eles lutaram no vale, e o Senhor destruiu todo o exército


inimigo.

É verdade que temos as nossas melhores experiências com Deus em cima


nas montanhas. No Evangelho de Mateus, por exemplo, há sete montes
mencionados, e cada um deles tem um sentido espiritual.

Em Mateus 5-7, o Senhor pregou o seu maior sermão num monte, por isso é
conhecido como o Sermão do Monte. Entretanto, logo em seguida, Ele
desce do monte e a primeira pessoa que encontra é um leproso. O Senhor
sempre desce no vale para purificar as pessoas da lepra do pecado.

Em Mateus 17, o Senhor foi transfigurado num monte. Ali Ele revelou toda
a sua glória. No entanto, assim que desce do monte, encontra lá em baixo,
no vale, um garoto endemoniado que ninguém podia libertar. Ele desce
sempre para libertar os cativos.

A montanha é o lugar da comunhão com Deus, o lugar da vitória, onde


vemos a sua glória, mas o Senhor sempre vem ao nosso encontro quando
estamos no vale. Mesmo Davi derrotou Golias no vale, chamado vale de
Elá. Portanto, o Senhor também nos dá vitória no vale.

O vale do Rei
Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei
de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho;
era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus
Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus
adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo. (Gn 14.17-20)

Melquisedeque é um tipo do Senhor Jesus. Ele era rei de Salém, que é


Jerusalém.

Quando Abraão voltava da sua luta contra quatro reis, o rei de Sodoma saiu
ao seu encontro no vale de Savé. Esse vale ficava ao lado de Jerusalém e
depois ficou conhecido como vale de Cedrom. A palavra Cedrom significa
“escuro”. É o vale da sombra.

Podemos dizer que o vale de Savé é o mesmo Cedrom, porque, muito


depois, Absalão edificou uma coluna no vale do rei. Ainda hoje, há um
monumento ali a Absalão, no vale de Cedrom (2 Sm18. 18).

O rei de Sodoma é o diabo, e ele sempre vem nos encontrar no vale da


sombra. Abraão estava cansado da batalha e, nessas circunstâncias, ele
estava mais vulnerável, mas veio também encontrá-lo o rei Melquisedeque,
e ele trouxe pão e vinho. Estes são os elementos da ceia. O rei nos faz
participar da sua mesa justamente quando atravessamos o vale.
É interessante que muitos irmãos deixam de participar da ceia justamente
quando estão no vale. Eu creio que é justamente nessa hora que mais
precisamos da comunhão. Veja a si mesmo recebendo o pão e o vinho das
mãos do Senhor. Ele é que vem até você, e não você que vai a Ele.

Quando isso acontece, o vale de Savé ou Cedrom se transforma no vale do


Rei, simplesmente porque o Rei desce até o vale para nos encontrar lá. O
vale da sombra da morte se transformou no vale do Rei por causa do pão e
do vinho.

Muito tempo depois, num jardim que fica no pé do Monte das Oliveiras,
bem defronte desse vale, o Filho de Deus suou gotas de sangue sobre a
terra. O lugar se chamava Getsêmani, que significa “prensa do óleo”. Ali
Ele foi espremido e liberou óleo misturado com sangue.

Quando o Senhor suou sangue, ali também havia o seu próprio suor
misturado. Hoje, no vale do Rei, nós temos o pão e o vinho, mas agora
temos também o óleo. O Espírito foi liberado sobre nós.

Voltando para o Salmo 23, vemos que, logo depois de atravessar o vale da
sombra da morte, o Senhor prepara uma mesa para nós na presença dos
nossos adversários. Quando você estiver atravessando o vale, procure pela
mesa. Haverá uma mesa posta para você. Essa mesa é também a porta da
esperança. O seu futuro pode ser diferente. Deus vai mudar a sua história.

5º Dia

A indescritível bondade de Deus


A
primeira menção do diabo nas Escrituras, ou seja, a primeira menção de
uma tentação aconteceu no Éden. E o que o maligno disse? “É assim que
Deus disse: Não comereis de toda árvore

do jardim?” (Gn 3.1). Essa pergunta traz implícita a ideia de que Deus
estava deliberadamente negando algo ao homem. O inimigo passou a ideia
de que o homem estava perdendo algo que Deus não queria lhe dar. Ainda
hoje, as pessoas são enganadas com o pensamento de que Deus está nos
privando de algo bom.

Entretanto, o que Deus havia dito é que o homem podia comer de toda
árvore do jardim livremente (Gn 2.16). O homem não somente podia comer
do que quisesse, mas podia comer o quanto quisesse livremente,
graciosamente. A primeira palavra de Deus ao homem não foi uma
proibição. Depois, o Senhor disse que havia apenas uma árvore da qual o
homem não podia comer, mas o suprimento de Deus era superabundante,
excessivo, muito além da necessidade.
Deus é tão generoso, mas o diabo disse à mulher que Deus era mesquinho.
Tudo o que ele deseja é que as pessoas duvidem da bondade de Deus. Ele
está dizendo aos homens ainda hoje que Deus os está privando de desfrutar
a vida com muitos prazeres. Está sempre dizendo que precisamos brigar e
lutar pelos nossos direitos, porque Deus não o fará.

Quando entendemos a graça, oramos


Você certamente deve se lembrar da ocasião em que Davi cometeu adultério
com Bate-Seba e depois mandou matar o seu marido. Ele descobriu como
um abismo chama outro abismo. O que muitos não sabem é o que Deus
disse a Davi depois que o seu pecado foi exposto.
Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu senhor e as mulheres de
teu senhor em teus braços e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto fora pouco, eu teria
acrescentado tais e tais coisas. (2 Sm 12.7-8)
Em outras palavras, o Senhor estava dizendo: “Se você estava infeliz com
as mulheres que lhe dei, por que não falou comigo? Eu teria lhe dado muito
mais”. Se você não está contente com qualquer área da sua vida, por que
não pede a Deus que lhe dê mais? Se você não está contente com o seu
cônjuge, diga ao Senhor. Ele não lhe dará mais mulheres ou maridos, mas
vai mudar a situação.

Se a sua vida sexual não está como você gostaria, não saia para procurar
outra mulher. Simplesmente peça ao Senhor. No livro de Salmos, vemos
Davi orando sobre uma porção de coisas, mas não o vemos orando sobre a
sua vida sexual e conjugal. Se ele tão somente tivesse orado, teria sido
poupado de muitas dores.

A oração nos coloca na graça. Você não encontrará a oração entre os Dez
Mandamentos da lei. O princípio geral dos Dez Mandamentos é a força do
homem para obedecer, mas oração é graça em ação. Quando reconhecemos
que não podemos fazer algo, então oramos.

Quantas vezes tenho visto pais frustrados porque já tentaram todo tipo de
estratégia para educar os filhos, mas nada parece funcionar. Este é o
momento em que a oração fará diferença. Deus conhece a estrutura do seu
filho, os seus anseios e temores. Ele pode mudar a situação de dentro para
fora.
Quando pedimos, estamos demonstrando dependência. A dependência
honra ao Senhor porque mostra que só Ele pode fazer. Só há graça
disponível quando há dependência.

O Evangelho de Lucas é o que mostra o Senhor como o Filho do homem.


Nenhum outro Evangelho mostra mais a humanidade do Senhor do que
Lucas, mas curiosamente este é o Evangelho que mais vezes mostra o
Senhor orando. É assim porque, como homem, esta era a postura correta. O
que se espera do homem é que ele dependa de Deus.

O Senhor orava muito, a ponto de os discípulos perceberem o poder da


oração fluindo em sua vida. Eles notaram que a oração era a fonte do poder
do Senhor Jesus, então pediram-lhe que os ensinasse a orar. Enquanto
esteve na carne, o Senhor operou como um homem que dependia
completamente do Pai.
Outro dia, um irmão me disse: “É impressionante ver como o Senhor
abençoa determinados irmãos muito mais do que outros”. Eu lhe perguntei:
“Você pediu a Deus a bênção?” Ele tentou desconversar, dizendo que
deveria ser porque certos irmãos eram muito corretos e santos. Mas eu
insisti: “Você já pediu a Deus?” O inimigo sempre tenta nos convencer de
que Deus não é bom. Mas isso é mentira. Ele lhe dará muito mais do que
aquilo que pedir.

Você não precisa roubar. Peça ao seu Pai e Ele lhe dará. Roubar é um ato de
quem não crê que o Pai possa supri-lo abundantemente.

Você não precisa sentir inveja de ninguém. A inveja é baseada na ideia de


que, se alguém tem algo, é por isso que você tem menos. É a crença de que
Deus é bom com o outro, mas não com você. Isso, porém, é um engano.
Peça a Deus. Creia na generosidade de Deus.

Você não precisa procurar outra mulher, peça a Deus e Ele vai incendiar o
seu leito conjugal. O ato de adulterar significa que você não crê que Deus
possa supri-lo.

Você não precisa cobiçar nada do vizinho. O seu Pai pode lhe dar muito
mais, apenas ore, peça a Ele. Não duvide da sua bondade. Deus tem o
bastante para você e para o seu vizinho também.

Você não precisa mentir. A mentira vem por causa do medo, mas o seu Pai
ama você e nada poderá afastá-lo d’Ele. Você está numa posição segura.
Apenas peça.

Jesus disse que devemos pedir até receber (Mt 7.7-8). E Tiago diz que nada
temos porque não pedimos (Tg 4.2).
De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam
na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer
guerras. Nada tendes, porque não pedis. (Tg 4.1-2)

Há um sentido em que vencemos a carne quando oramos. Não há


necessidade de fazer guerra e lutar, pois o Pai tem em abundância para
todos. Assim, nós nos tornamos carnais quando deixamos de orar.
O segredo é sempre falar com o Senhor. Se o seu patrão não é justo com
você, fale com o Senhor. Se o seu marido não é como você gostaria, fale
com o Senhor. Nós gostamos de falar com os homens, mas o segredo é falar
com o Senhor.

Veja quanto pecado e carnalidade podem ser vencidos e evitados se somente


falarmos com o Senhor a respeito de nossos desejos e problemas. Mas não
pergunte como Deus pode fazer isso. Isso não é sábio. Não tente
compreender Deus, defini-lo ou explicar os caminhos por onde age. Apenas
ore e continue orando.

Alguns pensam que, se forem bons, então Deus será bom com eles, mas a
verdade é que Deus não é bom conosco porque nós somos bons, Ele é bom
conosco porque Ele é bom. Quando somos maus, Ele permanece bom. E,
quando reconhecemos que Deus é bom conosco mesmo quando somos
maus, então a sua bondade nos transforma em pessoas boas. Porque é a
bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (Rm 2.4).

Antes de qualquer pecado, sempre há uma dúvida sobre a bondade de Deus.


É verdade que o Senhor fez para o irmão fulano, mas não fará por mim. Por
causa disso, essas pessoas se servem de meio pecaminosos, quando
poderiam desfrutar da generosidade de Deus.

Não limite Deus


Você certamente conhece a história de Eliseu. Já no fim da sua vida, ele
chama Jeoás, rei de Israel, e lhe diz para tomar arco e flechas. Eliseu ordena
que ele atire uma flecha pela janela e diz: “Essa é a flecha da vitória do
Senhor”. Depois, manda que o rei atire no chão, mas ele o faz apenas três
vezes, o que deixa Eliseu indignado.
Então, lhe disse Eliseu: Toma um arco e flechas; ele tomou um arco e flechas. Disse ao rei de Israel:
Retesa o arco; e ele o fez. Então, Eliseu pôs as mãos sobre as mãos do rei. E disse: Abre a janela para
o oriente; ele a abriu. Disse mais Eliseu: Atira; e ele atirou. Prosseguiu: Flecha da vitória do
SENHOR! Flecha da vitória contra os siros! Porque ferirás os siros em Afeca, até os consumir. Disse
ainda: Toma as flechas. Ele as tomou. Então, disse ao rei de Israel: Atira contra a terra; ele a feriu três
vezes e cessou. Então, o homem de Deus se indignou muito contra ele e disse: Cinco ou seis vezes a
deverias ter ferido; então, feririas os siros até os consumir; porém, agora, só três vezes ferirás os
siros. (2 Rs 13.15-19)
Por que Eliseu ficou tão indignado? Porque, mesmo tendo a flecha da
vitória do Senhor, o rei a atirou apenas três vezes. Se tivesse atirado seis ou
sete vezes, teria vencido os sírios nessa mesma medida, mas agora os
venceria apenas três vezes. Em outras palavras, nós limitamos Deus. O
nosso Deus é grandioso, generoso e poderoso, mas o inimigo convenceu
alguns de que devem pedir pouco, pois somente alguns mais santos é que
recebem muito de Deus. No fim, alguns são convencidos de que nem
devem pedir coisa alguma a Deus.

Por ocasião da multiplicação de pães e peixes para cinco mil homens, sem
contar mulheres e crianças, a Palavra do Senhor nos mostra uma afirmação
muito interessante.
Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os
peixes, quanto queriam. (Jo 6.11)

O Senhor lhes deu o quanto eles queriam. Isso vai contra o ensinamento
religioso de que Deus nos dá de acordo com a sua vontade. Na verdade, Ele
nos dá o quanto queremos. No momento em que eles disseram: “Estamos
cheios”, o suprimento cessou, mas ainda assim sobraram doze cestos
cheios. Não limite a sua bondade e graça. A religião limita Deus, mas o
Senhor é generoso.

Precisamos ser honestos sobre isso. Muitos simplesmente não acreditam


que Deus é tão bom quanto Ele diz ser. Se essa verdade fosse totalmente
clara para nós, não viveríamos tão ansiosos.

Eu creio que é impossível exagerar a bondade de Deus. Não gostamos de


nada exagerado e sempre procuramos ser equilibrados e realistas, mas aqui
está algo que você nunca conseguirá exagerar: a bondade e generosidade de
Deus.

Não coloque limites para a bondade de Deus. Quando você faz isso, é
porque alguma crença errada está tomando espaço em sua mente. “Essa
bênção é grande demais para mim.” “Para receber essa bênção, eu deveria
ser um gigante espiritual como o fulano.” Você percebe? Qualquer limite
que você coloca na bondade de Deus é uma mentira maligna. Infelizmente,
muitos têm limitado a bondade de Deus por causa de conceitos falsos.
Você quer uma grande bênção? Então, experimente aumentá-la de forma
exponencial. Você ainda crê que Deus é suficientemente bom para lhe dar
essa bênção? A ideia não é estimulá-lo a ter pedidos maiores, mas ajudá-lo
a não colocar limites na bondade de Deus.

É bom demais e é verdade


Quando ensinamos sobre a graça de Deus, os religiosos ficam alarmados,
dizendo que é uma mensagem perigosa. Na verdade, o que estão afirmando
é que é muito bom para ser verdade. Em outras palavras, Deus não pode ser
tão bom assim.

Entretanto, quando o Senhor trouxe o povo de Israel para a terra prometida,


Ele lhes disse que receberiam tudo sem precisar fazer coisa alguma.
Receberiam cidades que não haviam edificado e vinhas e olivais que não
haviam plantado.
Havendo-te, pois, o SENHOR, teu Deus, introduzido na terra que, sob juramento, prometeu a teus
pais, Abraão, Isaque e Jacó, te daria, grandes e boas cidades, que tu não edificaste; e casas cheias de
tudo o que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não abriste; vinhais e olivais, que não
plantaste; e, quando comeres e te fartares. (Dt 6.10-11)

A terra que receberiam era uma terra que fluía, manava leite e mel. Ela não
tinha leite e mel, mas fluía leite e mel. Isso é para dar uma ideia de
abundância. E o povo não deveria fazer coisa alguma para receber.

Quando os espias foram enviados para ver a terra, eles voltaram dizendo
que ela era realmente boa, mas dez deles disseram que era bom demais para
ser verdade. Não confiavam na bondade de Deus e nem em seu poder. Não
criam que Deus podia ser assim tão bom.

Diante disso, Josué e Calebe motivaram o povo, dizendo que Deus lhes
daria a terra, mas o povo queria apedrejá-los. Quanto mais você falar da
graça e da fé na bondade e no poder de Deus, mais as pessoas dirão que
você é um risco, e sua mensagem, muito perigosa. No fim, porém, somente
esses dois entraram na terra.
A lógica do céu
Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos
dará graciosamente com ele todas as coisas? (Rm 8.32)

A lógica de Deus é muito clara: se o Pai não negou a você o seu próprio
Filho amado, o que mais Ele poderia lhe negar agora?

Se o Pai nos deu o seu próprio Filho quando ninguém estava pedindo, por
que agora nos negaria qualquer bênção quando estamos pedindo?

Se o Pai não negou o seu Filho, que lhe custou tanto, por que nos negaria
agora bênçãos tão pequenas que não lhe custam nada?

Se o Pai nos deu o seu único Filho quando nós ainda éramos seus inimigos,
imagine o que Ele nos dará agora que fomos reconciliados e feitos seus
filhos! Somos amigos de Deus como Abraão.

O Pai quer manifestar a sua graça a nós dando-nos todas as coisas


livremente em Cristo. Receba livremente e graciosamente. Não duvide da
insondável bondade de Deus.

6º Dia

Como se tornar filho de Abraão


G

ostaria de compartilhar a respeito de Zaqueu. O seu nome em hebraico é


Zacchai, que significa “puro”. No entanto, esse homem não é exatamente
alguém que você
consideraria justo, porque ele era um ladrão, ganhava a vida como um
cobrador de impostos. E a Bíblia diz que ele era muito rico. Sabemos que
ele roubava porque, mais tarde, quando se arrependeu, disse: “Se nalguma
coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais”.
Entrando em Jericó, atravessava Jesus a cidade. Eis que um homem, chamado Zaqueu, maioral dos
publicanos e rico, procurava ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, por ser ele de
pequena estatura. Então, correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque por ali havia
de passar. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhando para cima, disse-lhe: Zaqueu, desce depressa,
pois me convém ficar hoje em tua casa. Ele desceu a toda a pressa e o recebeu com alegria. Todos os
que viram isto murmuravam, dizendo que ele se hospedara com homem pecador. Entrementes,
Zaqueu se levantou e disse ao Senhor: Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se
nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais. Então, Jesus lhe disse: Hoje,
houve salvação nesta casa, pois que também este é filho de Abraão. Porque o Filho do Homem veio
buscar e salvar o perdido. (Lc 19-10)

O Senhor se dirige diretamente a Zaqueu e diz: “Zaqueu, desce depressa,


pois me convém ficar hoje em tua casa”. O relacionamento com o Senhor é
sempre pessoal, porque a salvação é pessoal e individual, por isso Ele nos
chama pelo nome. Deus não vê uma multidão, Ele vê indivíduos.

Depois, o Senhor lhe diz: “Apressa-te, é urgente”. Esse é o único lugar nos
Evangelhos em que o nosso Senhor diz a alguém para se apressar. Quando
se trata da salvação, nós precisamos correr. Não espere nem mais um
minuto na escuridão. Não permaneça nem um segundo a mais sob o poder
de Satanás. A Bíblia diz que hoje é o dia da salvação. Agora é o tempo da
aceitação.

Há uma ordem do Senhor: “Zaqueu, desce daí”. A situação parece tão


humilhante – um homem rico em cima de uma árvore –, mas a salvação é
humilhante para o homem natural. Algumas pessoas querem ser salvas, mas
não ousam vir à frente no apelo. Realmente vir à frente não salva, mas
quantos entendem que é preciso demonstrar publicamente que está
colocando a sua confiança em Jesus? Seu dinheiro não pode salvá-lo. Seu
bom nome de família não pode salvá-lo.

Na arca de Noé, havia apenas uma entrada, uma porta. Então, não importa
se é uma tartaruga ou uma girafa, todos devem se curvar para entrar na arca.
Todos nós entramos na salvação pela mesma porta, Jesus Cristo.
A próxima coisa que o Senhor diz é: “[...] me convém ficar hoje em tua
casa”. A palavra “convém” no original é dei, que significa “uma
necessidade ou um dever”. O que encontramos aqui é uma necessidade
divina. Deus mesmo diz que precisa fazer algo. A razão é por que havia ali
alguém que iria se tornar filho de Abraão.

Você precisa ver o Senhor


Como Zaqueu se tornou filho de Abraão? No início da história, lemos que
ele era de baixa estatura e então subiu numa figueira procurando ver a
Jesus.

Quando lemos superficialmente o texto, podemos pensar que Zaqueu queria


ver Jesus por alguma curiosidade, ou quem sabe para tentar acusá-lo, como
faziam os fariseus. Certamente, havia ali mães levantando os seus filhos
para que Ele os abençoasse. Havia muitos motivos pelos quais as pessoas
estavam procurando ver Jesus.

Mas em que esse homem era diferente? Aqui é onde o grego nos ajuda. Se
você olhar cuidadosamente para o tempo verbal no grego, no versículo 3,
onde lemos que ele procurava ver Jesus, o verbo “procurar” está no tempo
imperfeito – indicando uma ção contínua no passado. Assim, Zaqueu havia
procurado e continuava procurando.

Isso quer dizer que, no passado, ele queria ver Jesus, ele tinha um coração
para ver Jesus. Em outras palavras, não era apenas um curioso que desejava
ver o Senhor, ele estava querendo ver Jesus porque o Espírito Santo estava
trabalhando em sua vida.

Quantos querem ver o Senhor Jesus? Ver novos aspectos d’Ele? Você sabia
que esse desejo de ver o Senhor é algo que Deus valoriza muito?
Frequentemente, as pessoas me perguntam como podem ver Jesus. Elas
sempre querem entender como isso pode ser feito de maneira prática.

O Senhor Jesus nos ensinou como vê-lo melhor. Isso aconteceu no caminho
de Emaús, depois que Ele ressuscitou dos mortos. Ele caminhava junto com
dois discípulos com o corpo ressurreto, mas eles não o reconheceram. Os
seus olhos estavam vendados, porque o Senhor queria que eles o
reconhecessem nas Escrituras (Lc 24.13-32).

O Senhor queria que eles vissem nas Escrituras as verdades a respeito d’Ele
mesmo. Eu creio que isso é graça de Deus. Se aqueles dois discípulos o
tivessem reconhecido ressurreto, nós hoje pensaríamos: “Isso foi só para
aqueles dias. Não temos chance de ver o Senhor”. Entretnto, como Ele fez
com que aqueles discípulos o vissem nas Escrituras, há terreno igual para
todos nós. Hoje, podemos ter o mesmo coração aquecido que tiveram
aqueles discípulos.

A palavra “procurava” é zeteo no grego. Esta é a mesma palavra que o


Senhor usa no verso 10 quando diz que veio buscar e salvar o perdido.
Zaqueu estava procurando por Jesus, mas Jesus estava procurando por
Zaqueu muito antes de ele procurar pelo Senhor.

Essa palavra zeteo também é usada em Hebreus 11.6, que diz: “De fato, sem
fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se
aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o
buscam”.

A palavra “buscar”, em hebreus 11, é ekzeteo. A palavra zeteo significa


“buscar, procurar”; mas ekzeteo significa “buscar diligentemente,
intencionalmente até achar”. Então, Deus é um recompensador de quem o
busca realmente para vê-lo na Bíblia.

Olhar para Jesus é o mesmo que crer n’Ele


Em João 3, o Senhor diz que, do mesmo modo que Moisés levantou a
serpente de bronze no deserto, todo o que crê n’Ele receberá a vida. O mais
correto seria o Senhor ter dito que “todo o que olhar para Ele receberá vida.
Mas Ele trocou olhar por crer. Assim, olhar é o mesmo que crer.
E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja
levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. (Jo 3.14-15)
A Palavra de Deus diz que o povo de Israel murmurou no deserto por causa
do maná, o pão do céu. Eles chamaram o maná de pão vil (Nm 21.5). Nunca
menospreze o pão de Deus que é liberado em nossas reuniões.

Como resultado disso, vieram serpentes abrasadoras. As cobras já estavam


lá, mas elas não atacavam enquanto eles comiam do pão. Todavia, no
momento em que depreciaram o pão, as cobras vieram. Eles clamaram a
Moisés, e Deus mandou que Moisés fizesse uma serpente de bronze e que
ela fosse colocada na ponta de uma haste.
Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma
serpente, se olhava para a de bronze, sarava. (Nm 21.9)

A palavra “olhar”, nesse versículo de Números 21, significa mais que


apenas olhar, significa olhar com expectativa e atenção. Olhar e receber
vida é a representação mais clara da fé simples e singela. Deus não exige
grandes coisas do homem, apenas que ele olhe.

O Senhor Jesus disse que todo homem que vir o Filho e crer será salvo.
Busque revelação de Cristo, porque tudo na vida cristã consiste em vê-lo.

Como se tornar filho de Abraão


Como Zaqueu se tornou filho de Abraão? Foi por causa do seu desejo de
ver Jesus. Quem são os verdadeiros filhos de Abraão? Na história de
Zaqueu, o Senhor declara que ele era filho de Abraão (Lc 19.9).

Paulo nos dá uma explicação clara do que significa ser filho de Abraão em
Gálatas 3.
Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. (Gl 3.7)

No momento em que você se torna filho ou filha de Abraão, Deus – e digo


isso com muita reverência – é obrigado a conceder
-lhe o seu milagre. Ele está maravilhosamente obrigado a lhe dar o seu
milagre por causa da aliança.

A Bíblia diz que “aqueles que são da fé” são os filhos. Pelo contexto de
Gálatas, ficamos sabendo que essa fé está relacionada com a justificação.
Os da fé são os que creem na justiça como dom. É a justiça pela fé.

Assim, o contexto aqui não é cura pela fé ou batismo no Espírito Santo pela
fé, mas é justificação pela fé. A Bíblia diz que Deus pregou o evangelho a
Abraão de antemão sobre essa justificação pela fé, dizendo: “Em ti serão
abençoadas todas as nações”. Portanto, aqueles que são da fé, desta fé, “são
abençoados com o crente Abraão”. Não somos abençoados fazendo como
Abraão, nem trabalhando como Abraão, mas crendo como Abraão.

Não é por acaso que, no capítulo anterior, o Espírito Santo nos conta a
história do jovem rico. Esses dois homens formam um paralelo de dois tipos
de vida.

Aquele jovem rico se gabou diante de Jesus, perguntando: “Bom Mestre,


que farei para herdar a vida eterna?” Ele estava confiante na lei, pois
pensava que cumpria todos os seus requisitos. Então, o Senhor lhe diz:
“Sabes os mandamentos: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não
dirás falso testemunho, honra a teu pai e a tua mãe”. Diante disso, ele
afirma ousadamente: “Tudo isso tenho observado desde a minha
juventude”. Mas o Senhor lhe diz: “Uma coisa ainda lhe falta [...]”.

Toda vez que você se vangloriar na lei, ela sempre apontará para você e
dirá: “Uma coisa ainda está faltando”. Você não pode encontrar aprovação
diante de Deus por meio da lei, porque, quando se vangloria na lei, o
Senhor Jesus sempre dirá: “Uma coisa lhe falta”.

Aquele jovem era quase perfeito. Apenas uma coisa estava faltando. Isso
não era tão ruim, apenas uma coisa, e mesmo assim ele foi embora. Essa
única coisa era que Deus não estava em primeiro lugar, o dinheiro sim.

O Senhor lhe deu a lei para mostrar o que ela poderia fazer. Ele foi embora
sem dar nem um centavo. Todavia, no capítulo seguinte, o Senhor Jesus não
deu nenhuma lei. Ele apenas disse: “Zaqueu, desce. Esta noite devo ficar
em tua casa”. O que é isso? Graça. Zaqueu era conhecido como pecador na
cidade, talvez o principal coletor de impostos. Todos o desprezavam e, no
entanto, o Senhor disse que deveria ficar na casa dele. De todas as pessoas
da cidade, ele foi o escolhido. Não é por acaso que ele recebeu Jesus com
alegria.
E qual foi o resultado disso? No versículo 8, Zaqueu diz: “Senhor, resolvo
dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho
defraudado alguém, restituo quatro vezes mais”. Quando pregamos a graça,
as pessoas acabam cumprindo a lei; mas, quando pregamos a lei, elas nunca
chegam ao padrão de Deus. A verdade é que Zaqueu cumpriu a lei sem
perceber. Não sei se ele percebeu ou não, mas a graça de Jesus o tocou.
Êxodo 22.1 diz: “Se alguém furtar boi ou ovelha e o abater ou vender, por
um boi pagará cinco bois, e quatro ovelhas por uma ovelha”.

Eu creio que o coração de Zaqueu estava tão cheio da graça que ele
demonstrou isso com imensa generosidade.

Desce da figueira
Na Palavra de Deus, não existem detalhes insignificantes. O texto diz que
Zaqueu subiu numa árvore. Diz a Escritura que era um sicômoro, mas o que
muitos não sabem é que se trata de um tipo de figueira. Um sicômoro é uma
figueira. Tem raízes muito fortes, tronco grosso e geralmente os galhos
ficam bem baixos, é por isso que ele conseguiu escalar, provavelmente tinha
um tronco inclinado.

Por que ele escalou uma figueira? O que significa a figueira? Eu gosto
sempre de usar o princípio da primeira menção. Segundo esse princípio, a
primeira menção de qualquer assunto nas Escrituras nos dá uma chave para
o seu entendimento em toda a Bíblia. As folhas da figueira foram
mencionadas pela primeira vez quando Adão e Eva tentaram fazer cintas
para si (Gn 3.7). Elas simbolizam, portanto, a obra humana procurando ter
justiça própria diante de Deus. É um esforço humano para tentar cobrir o
pecado sem o sangue de Jesus. A figueira com folhas sem frutos foi
amaldiçoada por Jesus (Mc 11.12-14).

O Senhor fez muitos milagres, mas todos eles foram obras de graça e
misericórdia, apenas um foi um milagre de maldição. Isso certamente tem
uma grande importância para nós. Quando o Senhor amaldiçoou a figueira,
na verdade, Ele estava amaldiçoando a justiça própria, o tentar se justificar
pelas obras da lei.
A Bíblia diz que, quando o homem e a mulher ouviram a voz do Senhor no
Éden, eles se esconderam da presença de Deus. E como fizeram isso? Eles
se esconderam entre as árvores do jardim. Possivelmente, entre as figueiras,
pois dela haviam feito cintas.

Aagora, porém, quando Zaqueu ouve que o Senhor está passando, ele não
se esconde, mas se expõe. Ele sobe em cima da figueira. A Adão e sua
mulher Deus pergunta: “Onde vocês estão?” Mas a Zaqueu Ele diz: “Eu vou
para a sua casa hoje”.

Zaqueu deve descer da figueira porque ela representa a justiça própria, o


esforço humano. Agora ele pode desfrutar da graça do Senhor.

Você deve se lembrar de que o nome Zaqueu significa “puro”. Quando você
se expõe ao Senhor, por causa da obra consumada na cruz, Ele o chamará
de “puro”.

Exponha-se à sua justiça, à sua cura, o nome d’Ele é Jesus. Todos os


enfermos que vieram a Jesus foram curados. Nem todos em Israel foram
curados durante o ministério de Jesus. Nem todos em Jerusalém foram
curados. Nem todos na Galileia foram curados. Nem todos em Cafarnaum
foram curados. Mas a Bíblia diz claramente que todos que vieram a Ele
foram curados.

Não se esconda do Senhor, antes suba na árvore. Deixe que Ele o veja.
Muito antes de você buscar por Ele, Ele já estava procurando você.

7º Dia

Veja o Senhor no caminho de Emaús


N
o caminho de Emaús, temos a história de como dois discípulos tiveram um
encontro com o Senhor depois da sua ressurreição. Durante a caminhada, os
seus olhos vão se abrindo

gradualmente até que, no fim, eles reconhecem o Senhor. Eles já o


conheciam, mas agora deveriam conhecê-lo no espírito.

Creio que todos nós alegoricamente estamos nessa estrada e, enquanto


caminhamos, recebemos luz para conhecer o Senhor intimamente em nosso
espírito (leia Lucas 24.13 a 35). Vejamos alguns princípios por meio dos
quais o Senhor os conduziu enquanto caminhavam.

1. Os olhos estavam impedidos de ver, pois o


Senhor ainda não era o centro
Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de
Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu
que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos,
porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. (Lc 24.13-16)

Aqueles discípulos estavam andando com Jesus, mas não perceberam que
era o Senhor quem ia ao lado deles. Eles estavam tristes, e Jesus lhes
pergunta o motivo da tristeza. A resposta deles é significativa: “Nós
esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel” (Lc 24.21). Eles
criam no Senhor, mas Cristo não era o ponto central, o ponto central era
Israel.

Muitos agem como aqueles discípulos. Eles dizem: “Estamos tristes porque
pensamos que Jesus faria o nosso filho passar no concurso. Pensamos que
Ele prosperaria a nossa família”. A verdade é que Jesus não é o centro, nós
queremos usá-lo para alcançar o que realmente pensamos que é o centro.

O Senhor é tão amoroso e tão bondoso que Ele tem prazer em dar tudo o
que desejamos. Não importa a nossa necessidade, Ele diz: “Pode pegar o
que você quiser”. Há abundância de bênçãos para nós. Entretanto,
precisamos chegar ao nível de maturidade em que o ponto central não seja
mais a bênção, mas o próprio Senhor Jesus.
Davi era alguém em quem o Senhor tinha prazer. Em Atos 13.22, Paulo diz
que Davi era um homem segundo o coração de Deus. Costumamos pensar
que ele era um homem segundo o coração de Deus porque era rápido para
se arrepender quando pecava, mas há muitos outros que também eram
prontos para se arrepender e não foram chamados de homens segundo o
coração de Deus. Alguns dizem que ele era um adorador, por isso tinha uma
posição especial, mas há muitos outros adoradores nas Escrituras.

O que havia de especial em Davi? Na verdade, ele nem era rei ainda quando
Deus se referiu a ele como homem segundo o seu coração.
Já agora não subsistirá o teu reino. O SENHOR buscou para si um homem que lhe agrada e já lhe
ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou.
(1 Sm 13.14)

Certamente, todos os filhos de Deus estão debaixo do seu favor, são amados
e desfrutam da bênção do Pai, mas há aqueles que lhe dão prazer. Davi era
alguém em quem Deus tinha prazer, ele era segundo o seu coração.
O SENHOR, Deus de Israel, me escolheu de toda a casa de meu pai, para que eternamente fosse eu
rei sobre Israel; porque a Judá escolheu por príncipe e a casa de meu pai, na casa de Judá; e entre os
filhos de meu pai se agradou de mim, para me fazer rei sobre todo o Israel. (1 Cr 28.4)

Por que Deus tinha prazer em Davi? Simplesmente porque ele fez da
presença de Deus o centro da sua vida. Sua maior preocupação era a Arca
da Aliança.

Historicamente, Davi escreveu o Salmo 132 no tempo em que fugia de


Saul. Naquele momento, ele andava errante pelo deserto junto com
endividados e descontentes que se juntaram a ele. Nessa situação, é
compreensível que Davi orasse para que Deus o livrasse dos inimigos e lhe
desse um lugar para descansar. Muitos conquistadores na história buscaram
um lugar para si mesmos, mas Davi estava preocupado com a casa de Deus.
Ele queria encontrar uma morada para o Poderoso de Jacó.
Lembra-te, SENHOR, a favor de Davi, de todas as suas provações; de como jurou ao SENHOR e fez
votos ao Poderoso de Jacó: Não entrarei na tenda em que moro, nem subirei ao leito em que repouso,
não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, até que eu encontre lugar para o
SENHOR, morada para o Poderoso de Jacó. (Sl 132.1-5)
Todos buscavam algo para si, menos Davi. Mesmo quando ele fugia, sendo
caçado como um criminoso, andando de um lugar para outro sem descanso,
ele estava preocupado em edificar uma casa para Deus. O seu interesse era
pela presença de Deus.

No Velho Testamento, a presença de Deus era tipificada pela Arca da


Aliança. Ela era chamada de trono de Deus. A presença de Deus habitava
na arca.

Ninguém havia se importado com a Arca antes de Davi. Saul foi levantado
como rei, mas nunca ligou para a arca. Ele nunca buscou um lugar para a
presença de Deus. Ele buscou algo para si mesmo, mas nunca procurou um
lugar para o Senhor. A razão por que o Senhor se agradava de Davi é
porque ele fez dos objetivos de Deus os seus objetivos; o pensamento de
Deus era o seu pensamento central. E o pensamento de Deus é somente a
respeito de Cristo, pois a Arca é Ele mesmo.

Não estamos interessados apenas no amor de Deus, que é maravilhoso, mas


queremos que Ele tenha prazer em nós. O Senhor se agradou de Davi
porque ele tinha a Arca como algo central. Para nós hoje, significa trazer
Cristo para o centro da vida da igreja, Ele ser o centro da nossa mensagem.

Os discípulos no caminho de Emaús não reconheceram o Senhor porque


não o tinham como centro do seu pensamento. Sentiam-se frustrados porque
queriam ver a libertação de Israel, não a glória do Senhor.

2. Conhecer Jesus hoje é vê-lo nas Escrituras


E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito
constava em todas as Escrituras. (Lc 24.27)

O Senhor poderia ter simplesmente dito aos discípulos: “Olhem! Sou eu!”
Todavia, em vez disso, Ele passou a mostrar nas Escrituras tudo o que
estava escrito a seu respeito. Isso aconteceu para nos mostrar que a maneira
como conhecemos o Senhor hoje na Nova Aliança é pela revelação da
Palavra de Deus.
Paulo diz que hoje não mais conhecemos Jesus segundo a carne, ou seja,
pelos nossos sentidos naturais, mas nós o conhecemos pelo Espírito.
Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos
Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. (2 Co 5.16)

Precisamos entender que todo o Velho Testamento fala de Cristo, por meio
de símbolos e analogias. Cristo é a chave para entendermos o Velho
Testamento. Lamentavelmente, muitos leem vendo apenas a lei. Se, porém,
vermos a lei sem enxergarmos Cristo, não desfrutaremos de vida.

3. Quando o pão é partido, os nossos olhos se


abrem
Enquanto os dois discípulos iam caminhando para a aldeia de Emaús, o
próprio Senhor Jesus se aproximou e ia com eles. Então, Ele lhes perguntou
a respeito do que estavam falando, e relataram como Jesus havia sido morto
pelas autoridades, contudo não reconheceram o Senhor.

Nesse ponto, o Senhor Jesus começou a expor-lhes as Escrituras, mostrando


tudo o que estava escrito a seu respeito. Quando eles chegaram,
constrangeram o Senhor para que entrasse e, quando o Senhor partiu o pão,
os seus olhos se abriram e reconheceram que era Jesus.
E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes
deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. (Lc
24.30-31)

É interessante que a mesma expressão é usada para Adão e Eva quando


comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ali se diz que os
olhos deles se abriram (Gn 3.7). Mas agora os olhos dos discípulos se
abriram quando o pão foi partido. No Velho Testamento, eles comeram da
comida errada e tiveram os olhos abertos para o pecado; mas, no Novo
Testamento, eles comem da comida certa, e os olhos são abertos para ver o
autor da vida.

Há um grande poder na ceia do Senhor. Quando comemos do pão e


bebemos do cálice, os nossos olhos espirituais são abertos e recebemos
revelação do Senhor. Participe da mesa esperando vê-lo com os olhos da fé.
Se você comer da carne e beber do sangue, terá luz e será transformado de
glória em glória.

4. O coração aquecido é sinal de olhos abertos


No fim, a prova incontestável de que eles haviam estado com o Senhor
Jesus era o coração que ardia enquanto Ele lhes falava.
E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava,
quando nos expunha as Escrituras? (Lc 24.32)

Quando desfrutamos do Senhor em nosso espírito, espontaneamente o


nosso coração entra em santa combustão. É muito triste que cristãos vivam
sem essa chama ardendo em seu interior. Paulo diz aos Romanos: “Sede
fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.11), ou seja, sirvam ao
Senhor com o espírito em chamas. Ter um espírito fervoroso é ter um
espírito em ebulição.

Quando Jesus pregava, o coração das pessoas ardia. Aqueles discípulos


estavam familiarizados com essa sensação, por isso eles perceberam que
Jesus estava com eles. Se o seu coração arde, pode estar certo de que o
Senhor está se revelando a você.

8º Dia

O novo nome de Deus


E

m todo o nosso trabalho de edificação da igreja, centralizamos Cristo. E


isso é realmente muito importante, porque vivemos numa época que pode
ser definida como “antiCristo”, e não “antiDeus”. Vemos várias pessoas
fazendo muitas coisas em nome de

Deus, inclusive matando e fazendo guerras, mas elas não reconhecem


Cristo, por isso precisamos trazer Cristo para a centralidade da nossa
pregação e edificação.

No entanto, precisamos ter cuidado, pois muitos irmãos têm se esquecido


do amor do Pai. Muitos vêm a Deus de pé, de forma autoritária, prontos
para julgar e condenar as pessoas, enquanto Cristo é visto como o bom
pastor que morreu por nós. O evangelho diz que Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho. O nosso Pai é um Deus de amor. Foi ideia de
Deus nos salvar. Foi iniciativa de Deus não ter o céu sem nós.

Cristo veio revelar o nome de Deus


Cristo veio justamente para nos revelar o amor do Pai. Sabemos que existe
algo muito poderoso a respeito do nome de Deus, e o Senhor disse que veio
para nos revelar o nome de Deus.

No Velho Testamento, primeiramente Deus se revelou como Elohim, o


Deus Criador. Depois, Ele se revelou a Abraão como El Shadday, o Deus
Todo-Suficiente. Mais tarde, Ele se revelou a Moisés como Jeovah, o
Grande Eu Sou. A partir daí, temos a revelação dos nomes redentivos de
Deus:

Jeovah-Jireh – “O Senhor que provê” (Gn 22.14; Fp 4.19). Jeovah-Rafa –


“Eu sou o Senhor que te sara” (Êx 15.26; 1 Pe 2.24; Is 53.4-5) Jeovah-Nissi
– “O Senhor nossa bandeira” (Êx 17.8-15). Jeovah-Shalom – “O Senhor
nossa paz” (Jz 6.24; Jo 14.27). Jeovah-Ra’ah – “O Senhor meu pastor” (Sl
23.1).
Jeovah-Tsidkenu – “O Senhor nossa justiça” (Jr 23.6; 2 Co 5.21). Jeová
Makadesh – O Senhor que nos santifica (Ez 20.12). Jeovah-Shamah – “O
Senhor está ali” (Ez 48.35; Hb 13.5; Sl 23).

Quando o Senhor diz: “Eu Sou”, está abrangendo todos esses significados e
muito mais. Não significa que o Senhor nos dá coisas como provisão, cura
ou paz, mas significa que Ele mesmo é a nossa provisão, paz, cura,
santificação e tudo de que precisarmos.

Tudo isso é muito bom e muito importante, mas o Senhor disse que veio
nos revelar o nome de Deus. E o nome que Ele nos revelou foi Pai.
Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm
guardado a tua palavra. (Jo 17.6)

Qual foi o nome que o Senhor revelou? Elohim, o Deus Criador, já havia
sido revelado em Gênesis. Obviamente não foi El Shaday, porque este foi
revelado a Abraão, e nem Jeovah, pois este é o nome que todo judeu
conhecia. Qual, pois, foi o nome? Certamente foi Pai.

Todos os outros nomes de Deus revelam parcialmente o seu caráter, mas o


nome Pai revela plenamente a Deus, pois todos os outros nomes estão
incluídos nesse.

Seu pai pode ser um juiz, um médico ou um grande líder político, mas, para
você, ele sempre será o seu pai. O nosso Deus é realmente tudo o que foi
revelado no Velho Testamento, mas, para nós, Ele é o nosso Paizinho.

Há poder nesse nome. Há proteção nesse nome. Todos os atributos de Deus


estão presentes nesse nome.
Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai
santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós. Quando eu
estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu,
exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura. (Jo 17.11-12)

Você não encontrará nos Evangelhos nenhuma menção dos discípulos


ficando doentes, oprimidos ou necessitados de alguma coisa material. Como
o Senhor protegeu os seus discípulos? Ele os protegeu no nome de Deus. O
Senhor os ensinou a se relacionar com Deus com base nesse nome. Em todo
o tempo nos Evangelhos, o Senhor se refere a Deus como Pai.

Infelizmente, os religiosos têm transformado até mesmo o nome Pai num


título frio e distante, mas não é esse o propósito de Deus. O Pai quer se
relacionar conosco de forma terna e amorosa. A oração mais profunda que
podemos fazer é chamá-lo de Paizinho. Quando fazemos assim, estamos
manifestando o espírito da Nova Aliança.

Uma pesquisa publicada na BBC a respeito de crimes de adolescentes diz


que, entre os adolescentes que cometem crimes, 60% abandonaram a
escola, 70% estavam nas drogas, mas impressionantemente 85% cresceram
sem a figura do pai, vieram de famílias destruídas. O inimigo procura
destruir a posição e a imagem do pai na vida das pessoas para que não se
relacionem com Deus de forma apropriada. Evidentemente, a maioria das
pessoas não se tornará criminosa, mas vivemos numa geração em que mais
da metade das crianças vai crescer numa família destruída, com pais
ausentes ou divorciados. Todavia, não precisamos nos desesperar, pois o
Senhor veio nos revelar o Pai.

Aba, Pai
Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas
recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. (Rm 8.15)

Na Velha Aliança, as pessoas viviam debaixo de escravidão e medo de


Deus. Hoje, não precisamos mais viver assim, porque fomos feitos filhos.
Pelo Espírito, clamamos: “Aba, Pai”. O Espírito fez questão de deixar essa
expressão em hebraico para que não houvesse dúvida. Aba é a forma como
as criancinhas se dirigem a seus pais ainda hoje em Israel. Sua melhor
tradução seria “paizinho”. É uma forma íntima e amorosa de se relacionar
com o seu pai.

A menos que você seja capaz de chamar a Deus de Paizinho, você ainda
está debaixo do espírito de escravidão e do medo. A expressão “outra vez”
se refere à lei do Velho Testamento. Naquele tempo, as pessoas se
relacionavam com Deus debaixo do medo próprio de um escravo. Hoje,
porém, podemos clamar pelo Paizinho – Aba, Pai.

Minha filha, quando era pequena, não precisava saber como falar comigo
ou conhecer a minha vontade. Tudo o que ela tinha de fazer era gritar por
papai no meio da noite. Ela não precisava clamar: “Ó aquele que habita no
quarto ao lado, venha ajudar-me!” Não. Bastava apenas gritar por papai.
Muitas vezes, quando minhas filhas eram pequenas, eu chegava à minha
casa cansando e elas vinham me mostrar tudo o que haviam feito durante o
dia. Nem sempre elas tinham a minha completa atenção; mas, quando saíam
para o jardim e, de repente, gritavam: “Papai!”, imediatamente eu saía
correndo para ver o que havia acontecido.

Tire da sua mente a imagem de um Deus distante a quem você precisa


persuadir a vir ajudá-lo. Isso é um engano maligno. Tudo o que você
precisa fazer é clamar por Papai.

Como é o nosso Pai


Em Lucas 15.11-32, temos a história conhecida como a Parábola do Filho
Pródigo, mas a parábola, na verdade, é a respeito do pai. O alvo do Senhor
ali é nos revelar o caráter do nosso Pai.

Nessa parábola, o pai divide a herança com os seus dois filhos (Lc 5.12). O
fato de o filho mais novo pedir a herança com o pai ainda vivo é uma forma
de desejar a sua morte. Mesmo assim, o pai graciosamente dividiu com eles
a herança.

Na cultura judaica, o filho mais velho tinha direito a 66% da herança, uma
porção dobrada em relação ao irmão mais novo. Mesmo tendo uma herança
tão grande, o filho mais velho nunca desfrutou dela.

O mais novo saiu pelo mundo e gastou todo o seu dinheiro em orgias e
bebedices. Quando não tinha mais dinheiro, os seus amigos o abandonaram
e ele se tornou um cuidador de porcos, a profissão mais indigna para um
judeu. Num dia, ele caiu em si e disse:
Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome! Levantar-me-ei, e
irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser
chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. E, levantando-se, foi para seu pai. (Lc
15.17-20)

Em nenhum momento, ele se importou por ter partido o coração do seu pai.
Em hora alguma, ele se preocupou com o pai, apenas consigo mesmo. Ele
voltou porque tinha fome. A barriga o levou de volta para casa. Entretanto,
mesmo assim o pai ansiava pelo filho perdido. E, nesse momento, temos o
retrato do nosso Pai. O mundo está clamando pelo amor do nosso Pai.
Vinha ele ainda longe, quando seu pai o avistou, e, compadecido dele, correndo, o abraçou, e beijou.
E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
O pai, porém, disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no
dedo e sandálias nos pés; trazei também e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo
-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado. E começaram a
regozijar-se. (Lc 15.20-21)

Quem supostamente poderia estar irado e desapontado era o pai, mas, em


vez disso, ele estava cheio de compaixão e perdão. No entanto, o irmão
mais velho ficou irado do lado de fora da festa. Ele vivera toda a sua vida
tentando merecer o amor do pai, mas tudo já era dele, contudo nunca havia
desfrutado de nada. Nunca havia saído da casa do pai, mas ainda assim não
conhecia o seu amor. Não olhe para a sua performance, olhe para a graça do
Pai. O pai, porém, estava cheio de alegria pela volta do filho.

Conta-se que Alexandre, o Grande, certa vez foi abordado por um mendigo
pedindo esmolas. Imediatamente, ele lhe atirou duas moedas de ouro. O seu
escudeiro, vendo aquilo, lhe questionou: “Por que dar duas moedas de ouro
se duas moedas comuns satisfariam a necessidade do mendigo?” Alexandre,
então, respondeu: “Duas moedas comuns são apropriadas para a
necessidade do mendigo, mas duas moedas de ouro são apropriadas para a
grandeza de Alexandre”.

Deus não prometeu nos suprir de acordo com a nossa necessidade, mas de
acordo com a sua riqueza em glória (Fp 4.19). Deus não nos perdoa de
acordo com os limites do nosso arrependimento ou confissão, mas de
acordo com a riqueza de sua graça (Ef 1.7).

O pai se compadeceu
Jesus disse que, quando o pai avistou o filho, compadecido dele, correu, o
abraçou e beijou (Lc 15.20). A primeira coisa que o Senhor diz é que o pai
se compadeceu.
O pai estava sempre olhando no horizonte esperando pelo filho. Naquele
tempo, mesmo as pessoas ricas viviam juntas nos vilarejos por uma questão
de segurança. Assim, todo o vilarejo sempre via o pai com os olhos fixos no
horizonte esperando pelo filho. Eles certamente se compadeciam do
homem, mas amaldiçoavam o filho ingrato.

Esse pai foi completamente rejeitado e se tornou objeto de ridículo por


causa do filho. Ele perdeu uma grande quantidade de dinheiro por causa do
filho, mas mesmo assim o seu coração estava cheio de compaixão. O
Senhor está aqui nos dizendo como é o coração de Deus. Ele não está cheio
de ira e condenação, mas está pleno de compaixão.

Nunca devemos pensar que apenas os pródigos precisam provar do amor do


Pai. Mesmo aqueles que nunca saíram de casa precisam descobrir esse
amor. Muitos crentes nunca tiveram uma experiência profunda com o amor
do Pai.

Essa parábola deveria ser chamada de a Parábola do Pai Pródigo, pois ele
não se importou com os seus bens, mas estava disposto a dar tudo
novamente ao seu filho, mesmo que ele nada merecesse. Nosso Pai é
extravagante em sua generosidade.

O pai correu
A segunda coisa que o pai fez foi correr. No grego, existe mais de uma
palavra para “correr”. Uma palavra fala da corrida lenta e constante,
enquanto a outra fala de uma largada explosiva. Qual das duas você acha
que Jesus usou aqui? Foi uma explosão em direção ao filho. Ele correu no
ritmo do seu próprio coração cheio de amor.

O pai viu o filho vindo ainda longe e correu em sua direção. Naqueles dias,
pessoas idosas não corriam, pois era considerado indigno, mas o pai ergueu
a sua roupa e correu em direção ao filho. Ele abriu mão da sua glória como
pai. Este é o único lugar na Bíblia em que se diz que Deus correu. Quando
fazemos menção de nos voltarmos para Ele, o Pai imediatamente corre em
nossa direção.
Nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992, na competição dos quatrocentos
metros rasos, um atleta estava correndo e subitamente caiu, mas ele
continuou tentando alcançar a linha de chegada mesmo mancando e com
muita dor. Imediatamente, um homem saltou da arquibancada e correu em
sua direção. Os seguranças tentaram segurá-lo, mas ele se desvencilhou
deles, colocou o braço do jovem sobre os seus ombros e o levou até a linha
de chegada. Aquele homem era o seu pai. Vendo isso, a arquibancada
esqueceu do vencedor da corrida e explodiu num aplauso grandioso. Foi o
maior aplauso naqueles jogos. Há poder quando o pai sustenta o seu filho.

O pai o abraçou
A terceira coisa que o pai fez foi abraçar o seu filho. É preciso lembrar que
ele ainda estava fedendo a porcos, mas isso não o impediu de envolvê-lo.

Existe um famoso psicólogo chamado René Spitz. Depois da Segunda


Guerra Mundial, ele relata suas observações em crianças nos orfanatos.
Depois da guerra, havia milhares e milhares de órfãos em toda a Europa.
Eles tinham como alimentar essas crianças, mas não haviam pessoas
suficientes para cuidar delas. Durante três anos, ele observou as
consequências da falta de contato físico nas crianças de um desses
orfanatos, no qual havia noventa e sete crianças entre três meses e três anos.
O relato de suas observações é chocante. Ele diz que, depois do primeiro
mês, muitas delas não comiam, não conseguiam dormir e algumas ficavam
com o olhar fixo na parede. Depois de cinco meses, muitas crianças
choravam incontrolavelmente e, quando alguém tentava pegá-las no colo,
elas gritavam de medo. No fim de um ano, um terço daquelas crianças
haviam morrido. Elas não morreram porque não havia comida, mas por
absoluta falta de contato físico, como abraços e beijos.

Essa história é bem triste, mas ela mostra a necessidade que o homem tem
do abraço do Pai. Esta não é apenas uma necessidade natural, mas
espiritual.

Um pastor conta que sua filha entrou num estado grave de bulimia e
anorexia na adolescência. Ela estava morrendo de desnutrição. Num dia, ele
orou a Deus desesperadamente por sua filha e então sentiu um forte impulso
para abraçá-la. Ela se debateu no começo, mas ele a abraçou com força.
Depois de alguns minutos, ela começou a chorar convulsivamente e ele
apenas repetia que a amava. Ela chorou por horas, mas, depois disso,
passou a comer e foi totalmente curada.

Hoje, o Pai corre em sua direção cheio de compaixão para envolvê


-lo num abraço amoroso.

O pai o beijou
Isso, porém, não é tudo. O texto diz que o pai também o beijou. O
interessante é que a palavra grega usada aqui não significa um simples
beijo, mas beijar muitas vezes, repetidamente, de forma terna e afetuosa.
Lembre-se de que o garoto ainda cheirava a chiqueiro de porcos, mas isso
não impediu o pai de beijá-lo muitas vezes. Esse é o nosso Pai. Essa
parábola é para nos revelar o Pai.

Há um pastor americano muito conhecido chamado Joe Bailey. Ele conta


que, na época do hippies, o seu filho se rebelou, deixou a família, a igreja e
resolveu se juntar a eles, com os cabelos longos e usando drogas. Um dia, o
seu pai estava procurando por ele e, numa noite, o encontrou dormindo com
muitas outras pessoas num galpão. O pai entrou com cuidado, desviou-se
das pessoas dormindo, inclinou-se e o beijou. Não muito depois disso, o
garoto se converteu, recebeu a Cristo e se tornou um grande líder. Depois,
ele testemunhou ao seu pai: “Você sabe o dia em que a minha vida mudou?
Foi naquela noite em que você foi àquele galpão e me beijou. Você pensou
que eu estava dormindo, mas eu estava acordado. Naquele instante, eu
pensei que, se o meu pai pode me amar tanto assim, quanto mais o meu Pai
celestial”.

Como Deus nos abraça hoje? Por meio do Espírito Santo. Em Atos, lemos
que Pedro ainda falava quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que
ouviam a palavra (At 10.44). A palavra “cair” em grego é epipipto e é
exatamente a mesma palavra traduzida como “abraçar” em Lucas 15.20.
Isso significa que o Espírito os abraçou quando os encheu.
No abraço do Pai, todo veneno do diabo é removido. No abraço do Pai, o
seu perfume tira de nós o odor dos porcos. No abraço do Pai, somos
curados e restaurados.

No abraço do Pai, sentimos segurança e fé para desfrutarmos de nossa


herança novamente.

Você nunca saberá o quanto o Pai o ama até entender o quanto o Pai ama
Jesus, pois Ele resolveu entregá-lo para ter você. Este é o Pai que correu
explosivamente para abraçá-lo e dizer que ama você, aquele que o cobriu de
beijos quando você ainda estava sujo pelo pecado. O Pai não exigiu que o
filho provasse que estava arrependido, mas o perdoou instantaneamente e
completamente.

Nem falamos da melhor roupa, do anel, das sandálias nos pés, do novilho
cevado e da festa, mas apenas desse amor que nos enche e nos transforma.
Você já não está sozinho. Você chegou à sua casa, e o Pai está aqui para
festejar a sua chegada.

9º Dia

Filhos, não servos


Q

uando o filho pródigo voltou para casa, o seu pai lhe deu três coisas que
representam aquilo que o Pai também nos dá porque somos filhos, e não
servos. Quando decidiu voltar para

casa, ele queria ser tratado como servo, uma vez que havia se comportado
tão mal, mas mesmo assim o pai o tratou como filho.
Evidentemente, todos nós servimos ao Senhor, e os apóstolos se
apresentavam nas suas epístolas como servos do Senhor. Filipenses 2.7 diz
que o Senhor assumiu a forma de servo e serviu até a morte. Há muita
glória quando filhos decidem servir, mas é muito triste quando filhos
querem ser tratados como servos por causa do pecado.

Não somos filhos porque servimos, mas servimos porque somos filhos.
Somos filhos porque fomos gerados, e não por causa de nosso
comportamento.

Os três presentes que o pai deu ao filho pródigo no seu regresso para casa
nos falam também daquilo que Deus nos dá agora que somos filhos.
Então, caindo em si, disse: Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro
de fome! Levantar-me-ei, e irei ter com o meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;
já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus trabalhadores. (Lc 15.17-19)

Na visão daquele garoto, ele não era bom o suficiente para ser filho, por
isso queria ser tratado como servo. Muitos pensam que não são dignos de
serem chamados filhos, mas a verdade é que você é filho, e isso não pode
ser alterado por causa do seu comportamento.

A Palavra de Deus diz que vinha ele ainda longe, quando o seu pai o
avistou e, compadecido dele, correndo, o abraçou e beijou. O pai nem o
esperou acabar de falar, imediatamente disse aos seus servos: “Trazei
depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias
nos pés; trazei também e matai o novilho cevado” (Lc 15.22).

Tenha bem claro em sua mente que cada presente do pai somente é dado aos
filhos, e não aos servos: vestes novas, anel e sandálias. Enquanto são
pequenos, os filhos não diferem muito do escravo, mas, a seu tempo, eles se
apropriarão da herança.
O escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. (Jo 8.35)
Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, em nada difere de escravo, posto que é
ele senhor de tudo. (Gl 4.1) De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus. (Gl 4.7)
Não somos mais escravos do pecado e nem da lei, mas fomos feitos filhos.
O Senhor disse, em João 15, que não nos chama de servos.
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado
amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. (Jo 15.15)

As vestes de justiça
A primeira coisa que o Pai nos dá são vestes de justiça.
Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me cobriu de
vestes de salvação e me envolveu com o manto de justiça, como noivo que se adorna de turbante,
como noiva que se enfeita com as suas joias. (Is 61.10)

Esse manto de justiça representa uma nova posição diante de Deus.


Recebemos o dom da justiça. Nossa justiça não é resultado de nossas boas
obras ou bom comportamento, mas é algo que recebemos pela fé, é a justiça
do próprio Senhor Jesus que foi colocada em nós.

Você é justo porque tem tentado conquistar essa posição ou porque a


recebeu de graça? Eu creio que hoje quase todos os irmãos responderiam
que recebemos de graça, mas alguns ainda vivem como se ainda tivessem
de conquistá-la.

O seu entendimento sobre isso vai afetar diretamente a forma como você se
relaciona com Deus e também consigo mesmo. O filho pródigo não havia
feito nada para ganhar esses três presentes. Veja o que ele diz ao seu pai:
“Pai, pequei contra o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu
filho”. Ele disse: “Já não sou digno”. Isso significa que, em algum
momento, ele pensava que era digno.

Muitos ainda vivem assim, pensam que precisam ser dignos de serem
tratados como filhos, baseiam o seu relacionamento com Deus em suas
obras de merecimento, mas eu tenho uma boa notícia: você nunca será
digno.
E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça,
independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos
pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado. (Rm 4.6-
8)

E não somente por causa dele está escrito que lhe foi levado em conta, mas também por nossa causa,
posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou
dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor. (Rm 4.23-24)

A Palavra de Deus mostra claramente que o dom da justiça nos é dado


independentemente de nossas obras. Não tem nada a ver com nossas obras,
mas é um dom que recebemos. A justiça nos é dada, não podemos jamais
conquistá-la.
Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. (Rm 4.3)

Quando Abraão creu em Deus, ele recebeu o dom da justiça, a justiça de


Deus lhe foi imputada. Nós sabemos que isso acontece porque Deus pegou
o nosso pecado e colocou sobre Jesus e pegou a justiça de Cristo e colocou
em nós no momento em que cremos (2 Co 5.21).

Não ouça o acusador. Agora não há mais nenhuma condenação sobre você
(Rm 8.1). Há uma história interessante no livro de Zacarias. Depois que o
povo de Israel voltou do cativeiro, eles tornaram a edificar o Templo, e o
homem que Deus usou para isso chamava-se Josua ou Josué. Ele era o
sumo sacerdote. Zacarias teve uma visão com ele.
Deus me mostrou o sumo sacerdote Josué, o qual estava diante do Anjo do SENHOR, e Satanás
estava à mão direita dele, para se lhe opor. Mas o SENHOR disse a Satanás: O SENHOR te
repreende, ó Satanás; sim, o SENHOR, que escolheu a Jerusalém, te repreende; não é este um tição
tirado do fogo? Ora, Josué, trajado de vestes sujas, estava diante do Anjo. Tomou este a palavra e
disse aos que estavam diante dele: Tirai-lhe as vestes sujas. A Josué disse: Eis que tenho feito que
passe de ti a tua iniquidade e te vestirei de finos trajes. (Zc 3.1-4)

Na Velha Aliança, Satanás estava à direita do homem para acusá-lo e


resistir-lhe, mas agora, na Nova Aliança, temos um advogado à nossa
direita. O Senhor repreendeu Satanás e mandou que tirassem de Josué as
vestes sujas e o vestissem de finos trajes.

Isaías 64.6 diz que todas as nossas justiças são como trapo da imundícia.
Era assim que estávamos vestidos, mas agora ganhamos vestes de justiça.

Há três palavras usadas para descrever a nossa condição: pecado,


transgressão e iniquidade. O pecado tem a ver com a nossa natureza; a
transgressão está relacionada com a lei; mas a iniquidade tem um sentido
mais profundo: iníquo significa desigual. Cada vez que fazemos algo fora
do padrão de Deus, praticamos iniquidade. Isso pode ser algo bom ou mau.
As nossas boas obras também são iniquidade. É por isso que a árvore no
Éden se chamava árvore do conhecimento do bem e do mal.

O pai trocou a roupa do seu filho, e hoje nós também recebemos trajes de
justiça simplesmente porque somos filhos.

Portanto, viva como filho. Não saia da casa do Pai. Não há razão alguma
para fazermos isso. O dom da justiça que recebemos nos capacita a viver de
forma justa e correta. Nós temos o poder do Espírito Santo sobre nós.
Pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os
atos de justiça dos santos. (Ap 19.8)

O anel de autoridade
Os três presentes dados pelo pai ao filho pródigo representam coisas que
recebemos de Deus hoje como filhos, e não como servos. O segundo
presente que o pai deu ao filho foi um anel de autoridade.

Enquanto as vestes simbolizam a justificação, o anel representa a autoridade


do filho. Assim como a justificação, a autoridade nos é dada pela graça
mediante a fé.
Então, tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na mão de José, fê-lo vestir roupas de linho
fino e lhe pôs ao pescoço um colar de ouro. (Gn 41.42)

Escrevei, pois, aos judeus, como bem vos parecer, em nome do rei, e selai-o com o anel do rei;
porque os decretos feitos em nome do rei e que com o seu anel se selam não se podem revogar. (Et
8.8)

Baseados nesses textos, vemos que o anel representa autoridade. Naqueles


dias, o anel tinha uma função parecida com os nossos modernos cartões de
crédito. Se o filho quisesse comprar algo, ele só precisava carimbar o selo
com o anel e mandar cobrar a fatura do pai. É como se o pai tivesse dado
um cartão infinite ao filho que acabara de gastar uma parte dos seus bens
dissolutamente. Isso é muita graça.

Autoridade é diferente de poder. Por causa da sua autoridade, um oficial


militar pode parar na frente de uma carreta e mandar pará-la. A carreta pode
ter poder, mas ele tem autoridade.
Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os
escribas. (Mc 1.22)

A Palavra de Deus diz que toda autoridade é delegada (Rm 13.1). Toda
autoridade procede de Deus. E o pai delegou autoridade ao filho que havia
sido rebelde. Por causa disso, precisamos andar em humildade, pois, em nós
mesmos, não temos autoridade alguma. Nossa autoridade procede do Pai.
Tendo Jesus convocado os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para
efetuarem curas. (Lc 9.1)

Alguns dizem que esse verso se refere unicamente aos apóstolos, mas, no
capítulo 10, o Senhor concedeu a outros setenta a mesma autoridade (Lc
10.1 e 17). O Senhor lhes disse: “Eis aí vos dei autoridade para pisardes
serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada,
absolutamente, vos causará dano” (Lc 10.19). Então, você pode estar certo
de que todo filho ganhou um anel de autoridade.

E você pode pensar que isso seja apenas para crentes maduros e
experientes, mas, no verso 21, o Senhor se alegra porque isso foi dado aos
pequeninos, ou seja, aos novos convertidos. Você não precisa crescer para
ganhar autoridade, você ganhou o anel junto com as vestes de justiça. No
entanto, essa verdade está oculta aos olhos de gente arrogante e orgulhosa.
Precisamos manter o coração simples dos novos convertidos.

Em Mateus 8.5-10, lemos a respeito da história de um centurião romano


que realmente compreendia o que era autoridade.
Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando: Senhor, o meu
criado jaz em casa, de cama, paralítico, sofrendo horrivelmente. Jesus lhe disse: Eu irei curá-lo. Mas
o centurião respondeu: Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com
uma palavra, e o meu rapaz será curado. Pois também eu sou homem sujeito à autoridade, tenho
soldados às minhas ordens e digo a este: vai, e ele vai; e a outro: vem, e ele vem; e ao meu servo:
faze isto, e ele o faz. Ouvindo isto, admirou-se Jesus e disse aos que o seguiam: Em verdade vos
afirmo que nem mesmo em Israel achei fé como esta. (Mt 8.5-10)

O centurião disse que também era sujeito à autoridade como o Senhor. Em


outras palavras, ele sabia que tinha autoridade porque estava debaixo de
autoridade, por isso tinha fé que bastava uma ordem, uma palavra, e a cura
aconteceria.
A nossa autoridade é liberada por fé, e a maneira como ministramos fé é
falando, confessando. Em 2 Coríntios 4.13, diz: “Eu cri, por isso é que
falei”. É muito simples, basta falar aquilo em que você crê.

O anel de autoridade nos identifica como filhos diante do mundo espiritual,


mas é preciso abrir a boca e liberar fé. A fé, porém, é tanto o ato de crer
quanto o conteúdo da nossa fé. Quando cremos errado, não temos fé para
exercer autoridade. Uma fé errada nos coloca numa posição errada e,
mesmo sendo filhos, não conseguimos exercer autoridade.

Em Mateus 21.23, os principais anciãos perguntaram ao Senhor com que


autoridade Ele fazia aquelas coisas e Jesus coloca uma condição: “Eu lhes
respondo se me disserem se o batismo de João Batista era de Deus ou dos
homens”. Então, discorriam, dizendo: “Se dissermos: Do céu, Ele nos dirá:
Então por que não creram nele? Mas, se dissermos que é dos homens, o
povo pode nos apedrejar, pois creem que João era um profeta”. Por fim, se
esquivaram, dizendo que não sabiam. E o Senhor lhes disse: “Eu também
não vou dizer a vocês com que autoridade faço essas coisas”.

No entanto, se lermos os versos seguintes, veremos que o Senhor lhes conta


uma parábola:
Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele
respondeu: Sim, senhor; porém não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este
respondeu: Não quero; depois, arrependido, foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O
segundo. Declarou
-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus.
Porque João veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes nele; ao passo que publicanos
e meretrizes creram. Vós, porém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para acreditardes
nele. (Mt 21.28-32)

O Senhor estava mostrando que os fariseus diziam que obedeciam, mas, na


verdade, eram rebeldes. Os pecadores, porém, não obedeciam, mas, por fim,
arrependidos, obedeceram, crendo no Senhor. A parábola também responde
à pergunta dos fariseus, o Senhor diz que a sua autoridade era porque Ele
fazia a vontade de Deus. É inútil tentar exercer autoridade vivendo fora da
vontade de Deus. A obediência também gera fé.
O sapato da aliança
O terceiro presente que o pai deu ao filho pródigo foram as sandálias para
os pés. E o que as sandálias ou sapatos representam na Palavra de Deus?
Representam direitos. O pai estava aqui dando ao filho pródigo os seus
direitos como filho. E a atitude oposta de tirar os sapatos tem o sentido de
abrir mão dos direitos.

Quando Boaz decidiu casar-se com Rute, antes ele precisou conversar com
outro parente mais próximo do que ele e que tinha o direito de ser o
remidor.
Este era, outrora, o costume em Israel, quanto a resgates e permutas: o que queria confirmar qualquer
negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro; assim se confirmava negócio em Israel. Disse,
pois, o resgatador a Boaz: Compra-a tu. E tirou o calçado. (Rt 4.7-8)

Quando aquele remidor tirou o seu sapato, ele abriu mão dos seus direitos.
Ele tinha o direito de se casar com Rute, mas abriu mão desse direito. E o
sinal que ele fez para essa renúncia foi tirar o sapato.

Em Deuteronômio, está descrita a lei do remidor. Quando um homem não


queria redimir o seu irmão, ele ficava conhecido como o descalçado, ou
seja, aquele que não honrou a aliança e abriu mão dos seus direitos.
Porém, se o homem não quiser tomar sua cunhada, subirá esta à porta, aos anciãos, e dirá: Meu
cunhado recusa suscitar a seu irmão nome em Israel; não quer exercer para comigo a obrigação de
cunhado. Então, os anciãos da sua cidade devem chamá-lo e falar-lhe; e, se ele persistir e disser: Não
quero tomá-la, então, sua cunhada se chegará a ele na presença dos anciãos, e lhe descalçará a
sandália do pé, e lhe cuspirá no rosto, e protestará, e dirá: Assim se fará ao homem que não quer
edificar a casa de seu irmão; e o nome de sua casa se chamará em Israel: A casa do descalçado. (Dt
25.7-10)

Em Êxodo 3, lemos sobre o dia em que o Senhor apareceu a Moisés no


meio de uma sarça ardente. E qual foi a primeira coisa que Deus disse a
ele? Tire as sandálias dos seus pés.
Vendo o SENHOR que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés!
Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui! Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos
pés, porque o lugar em que estás é terra santa. (Êx 3.4-5)
Quando Moisés tira as sandálias, estava dizendo que não tinha nenhum
direito de estar ali. Para Moisés, a palavra foi: “Não te chegues para cá”;
mas, para nós hoje, é: “Cheguemos com ousadia ao santo dos santos”. Hoje,
temos direitos que nos foram garantidos pela Nova Aliança.

O mesmo aconteceu com Josué. Quando estava prestes a entrar em Canaã


às vésperas de conquistar Jericó, a primeira cidade, ele vê o Anjo do
Senhor.
Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis que se achava em pé diante dele um
homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És tu dos nossos ou dos
nossos adversários? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do SENHOR e acabo de chegar.
Então, Josué se prostrou com o rosto em terra, e o adorou, e disse-lhe: Que diz meu senhor ao seu
servo? Respondeu o príncipe do exército do SENHOR a Josué: Descalça as sandálias dos pés, porque
o lugar em que estás é santo. E fez Josué assim. (Js 5.13-14)

Quando manda Josué tirar as sandálias, estava dizendo que ele precisava
desistir de todos os seus direitos. Não será você com os seus planos e
estratégias que vencerá a cidade.

É interessante que Josué pergunta ao Senhor: “És tu dos nossos ou dos


nossos adversários?” Mas ele responde: “Não”. Em outras palavras: “Não
estou aqui para assumir lados, estou aqui para assumir o controle. Eu não
fico do seu lado, mas você fica do meu lado. Se você quer ser parte do meu
exército, precisa abrir mão dos seus direitos”.

Quando o filho recebe sapatos novos, isso significa que os seus direitos de
filho estão sendo restaurados. Se você é filho, você tem certos direitos.

Depois desses três presentes, o Pai diz que é hora de fazer uma festa. E é
nesse ponto que que entra em cena o segundo filho.
Ora, o filho mais velho estivera no campo; e, quando voltava, ao aproximar-se da casa, ouviu a
música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou-lhe que era aquilo. E ele informou: Veio teu
irmão, e teu pai mandou matar o novilho cevado, porque o recuperou com saúde. Ele se indignou e
não queria entrar; saindo, porém, o pai, procurava conciliá-lo. Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos
anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para
alegrar-me com os meus amigos; vindo, porém, esse teu filho, que desperdiçou os teus bens com
meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado. Então, lhe respondeu o pai: Meu filho, tu
sempre estás comigo; tudo o que é meu é teu. (Lc 15.25-31)
Observe o que o filho mais velho diz: “Há muitos anos que te sirvo”. O
problema é que somos filhos, e não servos, mas aquele filho se relacionava
com o pai como se fosse um servo. Por causa disso, nunca havia desfrutado
da herança. Quem se relaciona como servo está sempre tentando merecer a
posição.

Depois, ele diz que nunca transgrediu nenhuma ordem. Isso é mentira, pois
só houve um Filho perfeito, e todos nós somos pecadores. Por fim, ele
cobrou que o pai nunca lhe havia dado sequer um cabrito. Outra mentira,
pois o pai dividiu a herança entre os dois e, sendo o mais velho, ele teve
direito a dois terços da herança.

Finalmente, o pai lhe disse: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que
é meu é teu”. Em outras palavras: “Você tem a minha presença e a minha
provisão”. Ele tinha tudo do pai, mas não desfrutava de nada. Tudo porque,
sendo filho, resolveu se relacionar como se fosse servo.

10º Dia

Irresistível graça
T

odos nós sabemos que o medo não procede de Deus. Na verdade, ele surgiu
quando o homem pecou no Éden. Depois de comer do fruto, o homem
ouviu a voz do Senhor e teve medo (Gn 3.10). Portanto, o medo veio por
causa do pecado.

Quando vivemos conscientes do erro e do pecado, sempre sentimos medo


de Deus. Quando, porém, entendemos a verdade do perdão pela graça, todo
medo se vai. João diz que o verdadeiro amor lança fora todo medo. O
verdadeiro amor não é o nosso amor pelo Senhor, mas o amor d’Ele por
nós.
No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento;
logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. (1 Jo 4.18)

Eu gostaria de usar Pedro como o exemplo de alguém que teve dois


encontros com o Senhor. Nesses dois encontros, houve uma pesca
miraculosa e, em cada um deles, Pedro mostrou uma atitude diferente para
com o Senhor Jesus. Eu diria que ele teve um encontro antes da graça e
outro depois. Vamos ver cada um deles para sermos libertos de todo medo
de nos encontrarmos com o Senhor.

O encontro da santidade
O encontro de Pedro com o Senhor, na ocasião da pesca maravilhosa, não
foi o primeiro. A primeira vez que ele havia se encontrado com o Senhor é
relatada em João 1.40-42.

André, o irmão de Pedro, lhe disse: “Ei, Pedro, encontramos o Messias!”


Então, ele leva o seu irmão Simão a Jesus e, quando põe os olhos em Pedro
pela primeira vez, Ele diz: “Você é Simão, filho de Jonas. A partir de agora,
você será chamado de Cefas”, que, em aramaico, significa “pedra”. Esta foi
a primeira vez que Pedro viu Jesus, mas, por alguma razão desconhecida,
ele não o seguiu imediatamente e voltou a pescar. Em seguida, ele se
encontra com o Senhor mais uma vez. Nessa ocasião, Pedro ainda não o
conhecia bem. Nesse encontro, ele esteve pescando a noite toda, como em
João 21, e não havia pegado nada.
Aconteceu que, ao apertá-lo a multidão para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago de
Genesaré; e viu dois barcos junto à praia do lago; mas os pescadores, havendo desembarcado,
lavavam as redes. Entrando em um dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um
pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões. Quando acabou de falar, disse a
Simão: Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes para pescar. Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo
trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sob a tua palavra lançarei as redes. Isto fazendo,
apanharam grande quantidade de peixes; e rompiam-se
-lhes as redes. Então, fizeram sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los. E
foram e encheram ambos os barcos, a ponto de quase irem a pique. Vendo isto, Simão Pedro
prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. (Lc 5.1-8)

Quando a multidão apertava Jesus para ouvir a palavra de Deus, Ele


resolveu entrar no barco de Pedro para dali pregar às multidões e, ao
terminar de falar, disse a Simão: “Faze-te ao largo, e lançai as vossas redes
para pescar”. Contudo, Simão ainda não conhecia bem o Senhor e lhe
respondeu: “Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas
sob a tua palavra lançarei as redes”. E, quando fizeram isso, apanharam
uma grande quantidade de peixes, tão grande que precisaram pedir ajuda
aos outros barcos porque as redes estavam a ponto de se romperem. Foi
uma bênção superabundante!

Quando Simão Pedro viu o milagre, ele caiu de joelhos diante de Jesus,
dizendo: “Afasta-te de mim, porque sou um homem pecador, ó Senhor”.
Numa das primeiras vezes que se encontrou com Jesus, o que ele viu sobre
o Senhor? A sua santidade. Sim, o Senhor é santo. Completamente santo.

Uma crítica frequente que ouvimos é que falar para as pessoas a respeito do
amor de Deus é muito bom. Concordam que todos devem ouvir sobre a
graça, mas isso é muito básico. Depois que se convertem, elas precisam
ouvir sobre a santidade de Deus. O que dizem é que começamos na graça,
mas depois devemos progredir na santidade. A graça seria o leite, e a
santidade, a comida sólida.

Entretanto, o que vemos no Evangelho é exatamente o oposto. Nesse


primeiro encontro, Pedro viu a santidade, mas, em João 21, ele viu a graça.
Aqui, a sua reação foi: “Afasta de mim, porque sou pecador”; mas, em João
21, ele nadou em direção ao Senhor.

Evidentemente, Deus é santo, mas a sua santidade não é mais colocada


como era no Velho Testamento, quando Deus era mantido no santo dos
santos e o homem era separado de d’Ele por um grosso véu. Hoje, o véu se
rasgou. Deus veio ao homem. No Velho Testamento, a ordem a Moisés foi:
“Não chegue para cá (Êx 3.5); mas, no Novo Testamento, a ordem é:
“Cheguemos, pois com ousadia” (Hb 10.19).

A fé sempre dirá: “Eu vejo a sua graça e o seu amor”; mas o homem natural
sempre dirá: “Deus é santo. Eu sou um homem pecador. Não posso chegar
perto d’Ele”. Por que Pedro disse: “Afaste-se de mim, porque sou um
homem pecador”? Porque ele tinha um senso da santidade mais do que um
senso do amor do Senhor.
Todas as pessoas sabem que Deus é santo. Todo homem sabe,
instintivamente, que Deus é santo. É algo que não precisa ser ensinado. É
por isso que, no Antigo Testamento, toda vez que o Senhor aparecia a
alguém, ou um anjo, eles tinham medo. Eles falavam como Manoah, o pai
de Sansão: “Nós morreremos, vimos o Senhor”. Gideão também disse: “Eu
vou morrer, pois vi o Senhor”.

A santidade de Deus pode ser conhecida pela mente natural, mas a graça de
Deus só pode ser entendida pela revelação do Espírito Santo no coração do
homem. A verdade, portanto, é que o verdadeiro crescimento espiritual é
conhecer o amor de Deus.

O Senhor é santo, mas, acima de tudo, Ele quer que vejamos que Ele nos
ama. Você nunca saberá que é amado até entender que Deus vê tudo sobre
você e mesmo assim o ama. Nesse momento, você realmente se sentirá
amado, pois entenderá o amor incondicional do Pai.

Você já percebeu que, nos Evangelhos, o Senhor nunca usa palavras duras
contra cobradores de impostos, prostitutas e adúlteras? As palavras mais
severas do Senhor são sempre para os fariseus fanáticos por santidade e
justiça própria. Ele os chama de raça de víboras e sepulcros caiados, mas
nunca chama os pecadores dessa forma.

Quando pessoas apontam o dedo e agem como fariseus, é porque possuem


um senso da santidade de Deus, e não um senso da sua graça. Os fariseus se
diziam guardiões da santidade de Deus, mas crucificaram o Senhor.
Mandaram a Santidade para a cruz não porque guardavam a lei, mas porque
estavam fora dela.

É quando avançamos no conhecimento do amor e da graça de Deus que


realmente estamos crescendo na verdade. Num dos primeiros encontros de
Pedro com o Senhor, ele teve um profundo senso da santidade de Jesus, mas
agora vamos entender o segundo encontro. A essa altura, Pedro já havia
andado três anos e meio com o Senhor e já o conhecia bastante. Mas foi no
fim, quando Pedro nega o Senhor diante de uma empregada, que ele
entendeu a graça. É por isso que, nesse encontro, ele pula na água para
encontrar-se com Jesus. Essa história aconteceu depois da ressurreição do
Senhor e, naquele dia, houve também uma pesca maravilhosa.
O encontro da graça
Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e foi assim que
ele se manifestou: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná
da Galiléia, os filhos de Zebedeu e mais dois dos seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou
pescar. Disseram-lhe os outros: Também nós vamos contigo. Saíram, e entraram no barco, e, naquela
noite, nada apanharam. (Jo 21.1-3)

Durante toda a noite, não conseguiram pescar nada. Muitos de nós estamos
numa posição semelhante: temos trabalhado muito, mas não vemos
resultado algum.

Provérbios diz que a bênção do Senhor enriquece. Não pense em riqueza


aqui apenas no sentido material, existe também riqueza de saúde, vida,
sabedoria, relacionamentos, frutos e muito mais. Depois, o versículo
conclui, dizendo que, com ela, não vem desgosto. Contudo, no hebraico,
seria melhor traduzido se fosse “e ela não vem pelo trabalho árduo, cheio de
dores” (Pv 10.22).

É terrível quando trabalhamos muito e não nos sobra nada. Você dá o


melhor de si, mas o resultado é decepcionante. Vamos ver algo sobre o
Senhor Jesus aqui que pode mudar tudo isso.
Mas, ao clarear da madrugada, estava Jesus na praia; todavia, os discípulos não reconheceram que era
ele. Perguntou-lhes Jesus: Filhos, tendes aí alguma coisa de comer? Responderam-lhe: Não. Então,
lhes disse: Lançai a rede à direita do barco e achareis. Assim fizeram e já não podiam puxar a rede,
tão grande era a quantidade de peixes. (Jo 21.4-6)

É muito interessante que o Senhor tenha mencionado especificamente o


lado direito. Na Bíblia, a mão direita é o lado da bênção do primogênito, é o
lugar do favor, da justiça. Todo o nosso trabalho é confiado na justiça de
Cristo. Tudo o que você fizer faça confiado na graça e no favor. Lance a sua
rede no lado do favor.
Aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! Simão Pedro, ouvindo que era o
Senhor, cingiu-se com sua veste, porque se havia despido, e lançou-se ao mar; mas os outros
discípulos vieram no barquinho puxando a rede com os peixes; porque não estavam distantes da terra
senão quase duzentos côvados. Ao saltarem em terra, viram ali umas brasas e, em cima, peixes; e
havia também pão. Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que acabastes de apanhar. Simão Pedro
entrou no barco e arrastou a rede para a terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, não
obstante serem tantos, a rede não se rompeu. (Jo 21.7-11)
No momento em que Pedro percebeu que era o Senhor, ele se vestiu e saltou
na água em direção a Jesus. Agora, a minha pergunta é: por que Pedro fez
isso? A resposta a essa pergunta vai esclarecer muitas questões na sua vida,
especialmente aquelas como: “Agora que sou salvo, filho de Deus, e vejo
essas coisas erradas em mim mesmo, como Deus me vê?”

Pedro não pulou na água em direção a Jesus porque estava consciente de


suas falhas. Nós sabemos que ele havia negado Jesus três vezes alguns dias
antes.
Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti,
para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos. Ele, porém,
respondeu: Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte. Mas Jesus lhe
disse: Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante. (Lc
22.31-34)

O Senhor não disse que orou para que Pedro não falhasse, mas Ele orou
para que a sua fé não desfalecesse. O Senhor profetizou a vitória de Pedro
antes mesmo que ele caísse. Mas o que Pedro respondeu? “Mesmo que
todos estes te neguem, eu nunca te negarei. Vou seguir-te até a prisão e até a
morte!”

E nós sabemos da história de como ele se sentou à beira de uma fogueira


logo depois que o Senhor Jesus foi preso pelos soldados. Em seguida, uma
mulher reconheceu o seu sotaque – era um sotaque da Galileia, não era um
sotaque de Jerusalém – e lhe disse: “Você não é um dos discípulos de
Jesus?” Ele disse: “Não, eu não conheço esse homem”. Então, outra pessoa
veio e disse: “Sim, você é um dos discípulos d’Ele”. E, uma segunda vez,
Pedro nega, dizendo: “Eu não conheço o homem”. Na terceira vez, a Bíblia
diz que ele praguejou e jurou que nunca conhecera Jesus. Nesse momento,
o galo cantou. Quando ele negou conhecer Jesus pela terceira vez, o Senhor
se virou e olhou para Pedro. O que ele viu nos olhos do Senhor? Pedro saiu
dali e chorou amargamente (Lc 22.54-62).

No entanto, Pedro agora pulou na água e nadou em direção a Jesus. Ele não
estava consciente de pecado, mas de perdão. Se você estivesse consciente
de pecado, pularia na água e nadaria em direção àquele que você justamente
havia negado? Não. Você pularia para fugir d’Ele, ou pelo menos seria o
último a descer do barco. Mas há algo que Pedro viu em Jesus, algo que ele
sabia sobre o Senhor que o fez pular na água e ir direto em sua direção. Ele
não tinha medo de ficar sozinho com Jesus.

Compreender a atitude de Pedro é muito importante para você em sua


caminhada com Deus hoje. Ele pulou porque estava consciente da lei? Não.
Pela lei, vem o conhecimento do pecado. A lei o condenaria por negar o
Senhor Jesus. A lei nunca o capacitaria a pular na água para ir a Jesus. Será
que Pedro estava consciente da santidade? Claro que não. Ele certamente
sabia que havia pecado. A verdade é que Pedro sabia de algo muito
poderoso. Ele parecia dizer: “Apesar de todos os meus pecados, o homem
que está de pé na praia me ama e é meu amigo. Sim, a minha consciência
me fala dos meus pecados, mas a minha fé me diz que o meu Salvador
ainda me ama”. Há algo muito precioso e profundo em sua ação.

Foi nessa ocasião que o ministério de Pedro foi restabelecido, quando o


Senhor lhe perguntou três vezes: “Simão, filho de João, tu me amas?” E o
Senhor o encarregou de cuidar daquilo que lhe é mais precioso, as suas
ovelhas. Isso significa que Pedro era a pessoa em quem o Senhor mais
confiava, pois a ele foi confiado o que havia de mais precioso. Isso não é
extraordinário? Ele havia negado Jesus alguns dias antes, mas agora
recebeu a incumbência de cuidar do rebanho mais precioso.

Se acontecesse conosco, não confiaríamos mais em Pedro. Se viéssemos a


confiar, seria depois de muito tempo de prova de mudança. Entretanto, onde
abundou o pecado, superabundou a graça de Deus. O que cometeu o maior
pecado agora recebeu o maior encargo. A graça é realmente incrível!

A Palavra de Deus nos mostra que, após a ressurreição, Pedro já havia se


encontrado com o Senhor antes dessa ocasião. Esse encontro não foi
registrado no Evangelho. Foi algo íntimo entre o Senhor e o seu discípulo.
Em Lucas 24.34, lemos que o Senhor havia aparecido a Pedro e, em 1
Coríntios 15.5, o apóstolo Paulo diz que Jesus ressuscitou dos mortos e foi
visto por Cefas e depois pelos doze. Cefas é o nome de Pedro em aramaico.
Ele foi o primeiro a ver Jesus depois de Maria Madalena. O Senhor
restaurou Pedro naquele encontro. Agora, às margens do mar da Galileia,
Pedro já estava cheio da graça do Senhor. Ele pulou na água porque tinha
um grande senso do amor do Salvador por ele, uma consciência da sua
graça.
Somente a percepção do amor e graça do Senhor pode fazer Pedro pular e ir
direto para Ele sem esperar o barco chegar à praia. Era uma sensação de sua
santidade? Não. Jesus é totalmente santo. Ele nunca pecou. No entanto, não
foi a percepção da sua santidade que fez Pedro pular na água. De fato, o
senso da santidade fará com que você veja ainda mais o seu pecado, mas o
que Pedro percebeu foi amor e graça.

Depois de ver esses dois encontros de Pedro com o Senhor, creio que você
poderá perceber o motivo por que você mesmo tem receio de se encontrar
com Jesus na sua vinda. Talvez você esteja se relacionando com Ele sem a
graça. Sem a graça, a sua atitude será sempre de fugir, mas se o seu coração
for inundado pelo amor do Senhor, então, como Pedro, você vai nadar em
direção a Ele. Maranata!

11º Dia

Você está firmado na verdade?


J

udas era um irmão físico do Senhor Jesus. Ele, porém, não se apresenta
como irmão do Senhor na sua carta, mas como servo, escravo. Tanto Judas
quanto Tiago eram filhos de Maria e José, mas Jesus nasceu da virgem, cem
por cento homem e cem por cento Deus.
Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi
que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente,
pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. (Jd 1.3)

Algo aconteceu enquanto Judas escrevia o seu livro. Alguns se introduziram


no meio dos irmãos distorcendo o evangelho e, por causa deles, Judas diz
que era preciso lutar pela fé.
É a fé, com artigo definido. Você sabe que fé é essa? É a justiça pela fé. É o
evangelho. Por que lutar por isso? Porque estavam distorcendo a verdade do
evangelho.
Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os quais, desde muito, foram
antecipadamente pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que transformam em
libertinagem a graça de nosso Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo. (Jd 1.4)

A palavra “transformam” é metatithemi no grego. O seu sentido original é


“transpor, transferir, substituir uma coisa por outra”. O que esses homens
fizeram? Eles substituíram a graça por libertinagem.

Em Gálatas 1, Paulo usa essa mesma palavra quando diz que os gálatas
estavam passando (metatithemi) da graça para outro evangelho. Estavam
trocando a graça pela lei.

Em Judas, as pessoas estavam também substituindo o evangelho da graça


por outra coisa. Quando tiram a graça, esses homens são obrigados a tirar
também o Senhor Jesus do centro. Ao fazerem isso, eles estão negando o
Senhor Jesus.

Temos ouvido muitos sermões nos quais poucas vezes se menciona o nome
de Jesus. É tudo sobre os esforços do homem, o desempenho do homem, o
que você precisa fazer, sete passos para isso, oito coisas para alcançar
aquilo e, no fim, o nome de Jesus é negado.

No verso 11, Judas nos dá três características daqueles que distorcem o


evangelho e se desviam da verdade:
Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no
erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá. (Jd 1.11)

O caminho de Caim
Qual é o caminho de Caim? Lembra-se do primeiro assassinato na Bíblia?
Caim assassinou o seu irmão Abel porque ele não era um adorador? Não,
ambos eram adoradores, mas um veio a Deus pelas obras, e o outro, pela fé.
Desde o Éden, o cordeiro teve de morrer para que o homem pudesse ser
salvo. Apocalipse 13.8 diz que o Cordeiro foi morto desde a fundação do
mundo.

Quando aconteceu isso? Depois que Adão e Eva pecaram, eles perceberam
que estavam nus e tentaram fazer roupas para si de folhas de figueira. Deus,
então, mata o cordeiro e da sua pela faz roupas para Adão e Eva. Aquele
cordeiro apontava para o Senhor Jesus. E, para que o homem se
apresentasse diante de Deus, o sangue foi derramado no Éden (Gn 3.21).

Depois que saíram do Éden, Adão e Eva tiveram dois filhos, Caim e Abel.
Entretanto, por alguma razão, Caim se recusou a se apresentar diante de
Deus da maneira como Ele havia preestabelecido: por meio do sangue.

Quando aceitamos o modo de Deus, reconhecemos que somos pecadores e


precisamos da cobertura do sangue. Caim, porém, não fez isso, ele trouxe
ao Senhor uma oferta de cereais, na qual não havia sangue. Abel, por sua
vez, trouxe um cordeiro, que aponta para o Filho de Deus, o qual derramou
o seu sangue por nós.

Todos aqueles sacrifícios do Velho Testamento apenas cobriam o pecado,


não eram o pagamento final. É como o nosso cartão de crédito. Quando
pagamos as contas com o cartão, não estamos realmente pagando ainda, o
verdadeiro pagamento vem no dia em que a fatura do cartão é debitada na
nossa conta bancária. No Velho Testamento, o cartão de crédito foi usado
com sangue de animais, até que veio o Filho de Deus e pagou a conta
definitivamente na cruz.

Caim trouxe frutas, legumes e cereais, o produto de sua mão. Ele trabalhou
para produzir essas coisas e as trouxe para Deus, mas o homem só pode
chegar a Deus pelo sangue. Sem o derramamento de sangue, não há
remissão de pecados (Hb 9.22).

Quando o homem traz o sacrifício sem sangue, ele está dizendo: “Eu não
sou um pecador. Não preciso do sangue para me cobrir. Não preciso que o
inocente morra por mim, o culpado. Eu não sou culpado. De fato, pelo meu
próprio desempenho, eu posso realmente satisfazer a Deus”. Este é o
significado do caminho de Caim. É uma religião baseada na obra humana.
Mas Abel, seu irmão, o que ele trouxe? A Bíblia diz que ele trouxe um
cordeiro, e o cordeiro foi morto como sacrifício diante de Deus. Com a sua
ação, ele estava dizendo: “Eu sou um pecador. Se o cordeiro não for morto,
eu serei condenado pelos meus pecados, mas eu coloco as minhas mãos
sobre o cordeiro. Os meus pecados são transferidos para ele, e a justiça do
cordeiro é transferida para mim. O cordeiro é morto para que seu seja
abençoado”.

Deus aprovou a oferta de Abel, mas rejeitou a de Caim. Não sei como Caim
percebeu que a oferta de Abel havia sido aceita, talvez tenha caído um fogo
do céu e a consumido. Há muitos lugares nas Escrituras em que o fogo do
juízo de Deus caiu sobre pessoas, mas, quando há o sangue, o fogo cai
sobre o sacrifício, e não sobre nós. O juízo veio sobre o Cordeiro na cruz
para que hoje não soframos nenhuma condenação.

Caim ficou com inveja do seu irmão e se encheu de amargura. Ele


certamente pensou: “Abel não é melhor do que eu. Eu ofereci do meu
melhor a Deus. Por que ele foi aceito e eu não?” Por fim, ele matou o seu
irmão.

Em Gênesis 4.7, o Senhor diz a Caim: “Se procederes bem, não é certo que
serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta”.
Este é um texto bem obscuro, mas tudo fica claro quando entendemos que a
expressão “o pecado jaz à porta” também pode ser traduzida como “a oferta
pelo pecado está à porta”. Deus colocou o cordeiro à disposição de Caim,
mas ele rejeitou, preferiu as suas próprias obras.

Para o pecado, temos a provisão do sangue, mas se confiamos na justiça


própria, as nossas obras são contadas como iniquidade. É isso o que Deus
diz a respeito de Caim.
Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não
segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas
obras eram más, e as de seu irmão, justas. (1 Jo 3.11-12)

João diz que Abel era justo e Caim era maligno. Mas o que Abel fez para
ser chamado de justo? Ele apenas confiou no sangue para se apresentar
diante de Deus. Se confiamos no sangue, Deus nos vê como justos.
E ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em
Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé. (Fp 3.9)
Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção. (1 Co 1.30)

João diz que Caim matou o seu irmão porque as suas obras já eram más. O
que é ter obras malignas? É confiar na justiça própria. Quando confiamos
na justiça própria, inevitavelmente todas as obras da carne vão acabar se
manifestando.

Judas está dizendo que certos homens entraram na igreja e seguiram o


caminho de Caim. O que isso significa? Significa que eles estão trazendo de
volta o desempenho humano, as obras do homem, o produto de suas mãos,
a justiça própria. O foco deles não é mais o sangue do Cordeiro. Este é o
caminho de Caim.

O erro de Balaão
A segunda característica desses líderes é que eles seguiram pelo erro de
Balaão. Quem era Balaão? Era um profeta no Antigo Testamento. Lembra-
se da história?

Balaque, o rei de Moabe, temia que os filhos de Israel fossem guiados por
Moisés passando através de sua terra, então ele disse: “Vou contratar um
bruxo profissional”. Contratou, pois, Balaão, o profeta, porque este tinha
reputação de ter o poder de amaldiçoar alguém e essa pessoa experimentaria
toda sorte de coisas ruins.

Entretanto, quando Balaão tentou amaldiçoar o povo de Israel, Deus mudou


as palavras na sua boca e ele só pôde proferir bênçãos. Ele abençoou o povo
de Deus. Sabe por quê? Porque, quando Deus o seu povo, ele não pode ser
amaldiçoado.
Então, proferiu a sua palavra e disse: Balaque me fez vir de Arã, o rei de Moabe, dos montes do
Oriente; vem, amaldiçoa-me a Jacó, e vem, denuncia a Israel. Como posso amaldiçoar a quem Deus
não amaldiçoou? Como posso denunciar a quem o SENHOR não denunciou? (Nm 23.7-8)

Não viu iniquidade em Jacó, nem contemplou desventura em Israel; o SENHOR, seu Deus, está com
ele, no meio dele se ouvem aclamações ao seu Rei. (Nm 23.21)
Este é um aspecto claro do erro de Balaão, ele presumia que Deus
amaldiçoaria o seu povo já que eles haviam se comportado mal no deserto.
Mas, apesar de todos os erros de Israel no deserto, eles ainda eram povo de
Deus e o Senhor não permitiu que Balaão os amaldiçoasse.

Ninguém pode revogar a bênção que Deus liberou. A bênção de Deus sobre
a nossa vida não pode mais ser revertida. Ele decidiu nos abençoar, por isso
toda língua que se levantar contra nós em juízo, nós a condenaremos (Is
54.17).

Qualquer um que acha que pode lançar maldição sobre os irmãos está
seguindo pelo erro de Balaão. Frequentemente, ouvimos falar de pastores
que amaldiçoam aqueles irmãos que os deixam.

Todo aquele que pensa que Deus nos abençoa por causa de nossas obras ou
merecimento ainda anda no erro de Balaão. Mas aqueles que pregam
condenação e jugo sobre o povo de Deus também estão no erro da justiça
própria. Não somos abençoados porque somos bons ou fiéis, mas porque
Ele é bom e fiel.

A revolta de Coré
Quem é Coré? Coré é um daqueles homens que instigaram uma insurreição
contra Moisés e Arão, o sumo sacerdote. Eles estavam com ciúmes da
posição de Arão.

Deus fez de Arão o primeiro sumo sacerdote de Israel. Mas quem é o nosso
sumo sacerdote hoje? O Senhor Jesus.
Coré e seu grupo vieram até Moisés e disseram:
Basta! Pois que toda a congregação é santa, cada um deles é santo, e o SENHOR está no meio deles;
por que, pois, vos exaltais sobre a congregação do SENHOR? (Nm 16.3)

O que eles disseram não era errado, a congregação é santa mesmo, mas não
basta falar a coisa certa, é preciso ter uma posição correta diante de Deus.
Há muitos falando contra a igreja e seus pastores, e o que eles dizem pode
até ser verdade, no entanto está cheio de morte. Eles se levantaram contra
Arão e disseram: “Todos nós somos santos”. Estavam dizendo que não
precisavam de Arão. Contudo, Arão era o sumo sacerdote, e Deus
estabeleceu que ninguém pode chegar diante d’Ele sem a intermediação do
sumo sacerdote. Hoje, o nosso sumo sacerdote é Cristo, e ninguém pode
chegar a Deus sem a intermediação de Cristo.

Existe o princípio do representante na Bíblia, ou seja, Deus trata com o


representante como se tratasse com todo o povo. Davi representou o povo
de Israel na luta contra Golias, assim a sua vitória é a vitória de todo o
povo.

Não era necessário que todo o Israel lutasse, eles tinham um representante.
O mesmo princípio se aplicava ao sumo sacerdote. Ele representava todo o
povo diante de Deus. Se o sumo sacerdote entrasse no santo dos santos e
caísse morto ali, ele seria arrastado para fora, e toda a nação saberia que
Deus os havia rejeitado. Eles agora teriam um ano ruim, com derrota para
os inimigos, seca e fome. Entretanto, quando o sumo sacerdote saía do
santo dos santos vivo, ele erguia a sua mão para abençoar a nação, e agora
eles sabiam que Deus os havia aceitado e teriam um grande ano, com chuva
e abundância. O que Deus estava dizendo é que, se o seu sumo sacerdote é
aceito, você é aceito também.

Todavia, os bons sumos sacerdotes envelheciam e morriam. É por causa


disso que a segurança no Velho Testamento não era permanente. Aquele
bom sumo sacerdote ficava velho, e as pessoas olhavam temerosas para o
seu filho que o sucederia e que não tinha um bom comportamento. Agora,
porém, nós temos um sumo sacerdote que vive para sempre. Quando o
sumo sacerdote é aceito, nós somos aceitos também, e hoje o nosso sumo
sacerdote é Jesus.

Nós nos tornamos pecadores por causa do pecado de um único homem.


Adão era o nosso representante. Você não é pecador por causa dos seus
próprios pecados, ainda que certamente os tenha, mas você é pecador
porque herdou a natureza de Adão.

Hoje, nós somos salvos por causa da obediência de um único homem, Jesus
Cristo. Ele é o nosso representante diante de Deus, por isso a vitória d’Ele é
considerada a nossa, e a obediência d’Ele é a nossa obediência.
João diz que, como Ele é, nós somos neste mundo. Se Ele é aceito por
Deus, nós também somos aceitos. Se Ele é justo, nós também somos justos.
Se Ele é saudável, nós também somos neste mundo. Se Ele é próspero, nós
também somos. Se Ele está debaixo do favor de Deus, nós também estamos.

Temos um sumo sacerdote que se compadece de nós e intercede por nós


(Hb 4.15). Você sabe por que Deus escolheu Arão, e não Moisés para ser o
sumo sacerdote? Isso é curioso, porque Moisés era o libertador, o homem
que falava com Deus face a face, mas, ainda assim, Deus escolheu Arão. Eu
creio que a razão disso é que Moisés nunca havia sido escravo como o
povo. Enquanto todo o povo sofria debaixo da escravidão, Moisés estava no
palácio de Faraó. Assim, ele não podia se identificar com o povo. Por outro
lado, Arão sofreu junto com o povo. O sumo sacerdote precisa ser alguém
que se identifica com o seu povo. Esta é a razão por que Cristo se fez
homem, para ser o nosso sumo sacerdote. Ele nos compreende e nos ama
porque se fez como nós.

Moisés manda que os filhos de Coré coloquem fogo no incensário e tragam


diante do Senhor (Nm 16.17,18). Agora observe isto, se alguém não é
separado por Deus e decide oferecer incenso, isso é chamado fogo estranho,
e o resultado é que essa pessoa morre diante do Senhor. No dia seguinte,
Coré e os outros ofereceram incenso, e imediatamente um fogo saiu e os
consumiu a todos (Nm 16.35).

Por que alguns ainda vivem sendo consumidas, esgotadas na obra de Deus?
Eles estão sempre reclamando que toda a energia se foi, que estão
consumidos. Isso acontece porque nunca pregam sobre o sumo sacerdote.
Como Coré, eles não veem a necessidade do sumo sacerdote. O que temos
aprendido e visto é que, assim como é o nosso sumo sacerdote, também nós
somos neste mundo (1 Jo 4.17). Nós percebemos a nossa necessidade do
sumo sacerdote. Nos últimos dias, a rebelião de Coré fará com que as
pessoas pereçam.

O sinal de que o ministério de Arão havia sido escolhido por Deus foi a
vara que floresceu. Isso nos fala de vida, vida de ressurreição. Aqueles que
andam pelo caminho de Coré podem até falar a coisa certa, mas não
possuem vida como selo (Nm 17).
Em outras palavras, eles estão indo pelo caminho de Caim. O ensino das
obras do homem será exaltado nos últimos dias. Eles seguem pelo erro de
Balaão, acreditando que o povo de Deus pode ser justo hoje e amanhã
perder a justiça, pode ser abençoado de manhã e ser amaldiçoado à tarde.
Este é o erro do Balaão.

Por fim, seguem a rebelião de Coré, rejeitando o fato de que eles são todos
pecadores e precisam de Jesus Cristo como mediador para ser o seu sumo
sacerdote. Pensam que, pela sua própria performance, serão o próprio sumo
sacerdote, e o resultado é que serão rejeitados.

O evangelho que você tem ouvido e pregado é o oposto do caminho de


Caim? É o oposto do erro de Balaão? É o oposto da rebelião de Coré? A
mensagem da graça coloca o Senhor Jesus de volta no centro. A mensagem
da graça faz tudo depender do Senhor Jesus e nada do homem. Agindo
assim, nunca vamos comprometer a mensagem do evangelho.

12º Dia

Não troque ouro por bronze


N

ão existe outro evangelho, mas certamente ele pode ser misturado com
outras coisas e se tornar algo pervertido e sem poder. Esta é a estratégia do
diabo para tentar anular o poder

de Deus liberado no evangelho. Tenha muito cuidado para não mudar a


verdade do evangelho. Esta foi uma advertência muito séria que Paulo fez
aos gálatas.

Não troque a graça pela lei


Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro
evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o
evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que
vá além do que vos temos pregado, seja anátema. (Gl 1.6-8)

Por que Paulo escreveu essa advertência tão séria aos gálatas? O que havia
acontecido com as igrejas da Galácia? Eles haviam abandonado o
evangelho da graça. Paulo diz claramente que o evangelho é o evangelho da
graça. A graça é o evangelho. Não é simplesmente uma mensagem.

Então, quando conversamos com as pessoas e as ouvimos dizer coisas


como: “Eu não aceito essa mensagem da graça que você prega”, é preciso
adverti-las de que, na verdade, estão rejeitando o evangelho. Como alguém
pode se dizer cristão e rejeitar o evangelho? O evangelho hoje foi tão
deformado, tão distorcido, que as pessoas nem mesmo reconhecem o
evangelho ensinado pelos apóstolos.

Toda vez que você diz que o evangelho é o dom da justiça sem obras,
alguém dirá: “Tenha cuidado com isso, as pessoas podem interpretar mal e
concluir que não precisam ter obras”.

Fomos criados em Cristo Jesus para boas obras, mas não somos salvos por
boas obras (Ef 2.8-10). Apesar de a mensagem da justiça pela fé ter sido
redescoberta há quinhentos anos na Reforma, ainda permanece um mistério
para muitos crentes.

A justiça pela fé estava sendo atacada nas igrejas da Galácia e ainda hoje
em nossos dias. O que Paulo diz aos gálatas? “Estou perplexo! Admiro-me
que vocês estejam tão rapidamente se afastando daquele que os chamou
para a graça de Cristo”. A graça de Cristo é o evangelho, o favor imerecido
de Cristo.

O que os mestres judaizantes estavam ensinando? “Você certamente é salvo


pela fé, mas precisa manter a sua salvação pelas obras!” Isso, porém, é uma
mentira. A salvação e a manutenção dessa salvação é tudo por meio de
Cristo. A carne humana sempre quer tomar crédito, mas Deus não lhe dá
nenhum, toda a glória é para o Senhor Jesus.
Uma coisa maravilhosa sobre o evangelho da graça é que, cada vez que
você o prega, somente Cristo recebe a glória.
Mas o que o evangelho tem a dizer sobre as minhas necessidades? Estou
aflito, doente e precisando de provisão.

Quando o verdadeiro evangelho é pregado, os corpos são curados. Quando


o verdadeiro evangelho é pregado, as pessoas prosperam. Se você está
doente, o evangelho é seu remédio.
Se você está quebrado, o evangelho é o seu banco.

Assim, se você fosse o diabo e soubesse que o evangelho é salvação em


todas as áreas, o que você atacaria? O evangelho, é claro. Você tentaria
mudá-lo e distorcê-lo.

É isso o que disse Paulo diz aos gálatas: “Estou admirado que vocês estão
abandonando o evangelho de Cristo e seguindo outro evangelho, que, na
verdade, não é outro, mas é uma perversão do evangelho”. Não há outro
evangelho. A graça de Cristo é o único evangelho, mas há alguns que
pervertem esse evangelho.

Paulo diz que, mesmo que um anjo do céu – não um anjo caído – aparecer
anunciando outro evangelho, seja anátema! Se alguém pregar qualquer
outro evangelho que não seja o evangelho da graça, diz ele, seja anátema,
ou seja, amaldiçoado.

Depois, no verso 10, Paulo diz:


Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se
agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo. (Gl 1.10)

Quando prega a graça, você agrada a Deus, mas não agrada aos homens.
Aqueles que pregam outro evangelho são homens agradáveis. Eles dizem às
pessoas: “Deus tem feito a obra, mas você precisa fazer a sua parte”. As
pessoas se sentem importantes quando pensam que também estão
contribuindo para a sua salvação, mas a graça nos coloca todos na mesma
posição de impotência. Não há espaço para a obra humana, toda a obra foi
consumada por Cristo. A nossa parte é simplesmente crer.
A gravidade de rejeitar a graça
O Senhor Jesus foi morar em Cafarnaum, por isso muitos milagres foram
feitos naquela cidade. A filha de Jairo foi ressuscitada dentre os mortos em
Cafarnaum e também aquela mulher com hemorragia foi curada ali. O servo
do centurião foi curado em Cafarnaum e muitos outros milagres
aconteceram na sinagoga de lá. Diz a Bíblia que, à noite, trouxeram todos
os seus doentes e eles foram curados (Mc 1.32-34).

Depois de tudo isso, porém, eles ainda rejeitaram o Senhor. Então, Ele
disse: “Se as obras poderosas que foram feitas aqui tivessem sido feitas em
Sodoma, ela teria permanecido até hoje” (Mt 11.23). Em outro lugar, Ele
acrescenta: “Eles teriam se arrependido em sacos e cinzas”.

O pecado contra a graça é o pecado de rejeitar Jesus, porque a graça não é


uma doutrina, é uma pessoa. O pecado de rejeitar a graça é pior do que o
pecado de sodomia que habitantes de Sodoma e Gomorra cometiam.

A chave para alcançar esta geração não é tentar criar leis para impedir o
pecado (o que é inútil). A chave é ir até as pessoas e demonstrar as obras
poderosas. Ore por elas. Não as julgue. Vá até elas. Diga: “O Senhor ama
você. Tem algum pedido? Não estou aqui para julgar. Estou aqui para orar”.

As pessoas estão dizendo: “É muito difícil ser cristão hoje. A depravação


moral tem trazido muita escuridão”. A verdade é que o mundo ficará cada
vez mais sombrio, mas a glória do Senhor resplandecerá sobre nós (Is 60.2).
De fato, quando está realmente escuro, um pouco de luz brilhará mais do
que qualquer coisa. A escuridão acentua qualquer luz, ainda que esta seja
pequena.

Não troque ouro por bronze


Os gálatas estavam trocando a graça pela lei. Uma ilustração dessa situação
pode ser vista num evento que aconteceu no Velho Testamento.
Salomão foi o rei mais rico que já viveu. Depois que ele morreu, Roboão,
seu filho, assumiu o trono em seu lugar. Roboão, porém, era um líder fraco,
e aconteceu que, durante o seu reinado, Sisaque, rei do Egito, subiu contra
Jerusalém e tomou os tesouros da casa do Senhor e os tesouros da casa do
rei.
Subiu, pois, Sisaque, rei do Egito, contra Jerusalém e tomou os tesouros da Casa do SENHOR e os
tesouros da casa do rei; tomou tudo. Também levou todos os escudos de ouro que Salomão tinha
feito. Em lugar destes fez o rei Roboão escudos de bronze e os entregou nas mãos dos capitães da
guarda, que guardavam a porta da casa do rei. (2 Cr 12.9-10)

No lugar dos escudos de ouro que Salomão havia feito, Roboão fez escudos
de bronze, pois estes também têm uma aparência dourada, embora a
substância seja diferente. Ele trocou ouro por bronze. Qual é o significado
disso?
Embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do
Maligno. (Ef 6.16)

Efésios 6 diz que a fé é um escudo, o escudo da fé. O ouro aponta para a


glória de Deus e a sua justiça; a prata simboliza a redenção; mas o bronze é
um símbolo de condenação e juízo. Qualquer professor de tipologia bíblica
vai lhe dizer que o bronze é um símbolo de julgamento.

Isso significa que o escudo da fé é totalmente baseado no dom da justiça.


Quando deixamos a justiça da fé, estamos tomando outro tipo de escudo
feito de bronze, que fala de condenação. Trocar ouro por bronze é o mesmo
que trocar a graça pela lei.

O inimigo está querendo tirar a glória da justiça pela fé e colocar a


condenação no lugar. Trocar ouro por bronze é trocar a graça da justificação
mediante a fé pela condenação da lei. Quando pregamos a lei, perdemos a
glória do ouro.

O escudo de ouro é a fé, a defesa do crente. E, no lugar do escudo da fé,


muitos crentes estão tomando o escudo de bronze, que nos fala de
condenação. Em vez da justiça pela fé, as pessoas estão pensando que o
julgamento é o conteúdo do evangelho.
Também trocamos ouro por bronze quando arrumamos substitutos humanos
para a glória de Deus. Já não temos o mesmo louvor cheio de unção, mas
procuramos manter o mesmo barulho e animação natural. Já não temos a
unção que convence o pecador, mas podemos encher a igreja de atividades
meramente recreativas.

Trocamos ouro por bronze quando mantemos a aparência sem a realidade


do ouro. O bronze pode ter a mesma cor, mas não é a mesma substância.
Deus abomina aparência sem realidade. É por isso que Ele rejeita a religião
humana.

Trocar ouro por bronze significa que tudo continua funcionando como
antes, mas sem glória alguma. É incrível como podemos continuar fazendo
todas as coisas sem a presença manifesta de Deus.

Em 2 Crônicas 12.12, diz que ainda havia coisas boas em Jerusalém. Na


igreja, naturalmente existem coisas boas, mas a glória está associada à
verdade do evangelho. Existe alguma glória entre aqueles que pregam
condenação, mas nós queremos a glória da justiça de Deus.

E você sabe o que o nome Sisaque significa? Sisaque significa “ávido por
linho fino”. O linho fino aponta para a justiça dos santos (Ap 19.8). Sisaque
é apenas uma figura do diabo, o qual está sempre ávido por destruir o linho
fino, que é a justiça dos crentes.
Pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os
atos de justiça dos santos. (Ap 19.8)

O linho fino é um suprimento da justiça dada por Deus. Uma coisa


interessante sobre o linho é que, quando o tempo está quente, ele refresca e,
quando está frio, ele nos mantém quentes. Esta é a beleza do linho.

O diabo tem conseguido fazer uma completa inversão de valores, de modo


que, quando o evangelho é pregado hoje, ele é tido como falso evangelho. É
impressionante como a verdade simples do evangelho produz tanta
resistência no homem religioso. Aqueles que pregam uma mistura de lei e
graça sempre parecem agradáveis, mas estão debaixo de maldição.
Tenha um coração singelo para receber a verdade do evangelho da graça.
Quanto mais você se abre para receber a graça, mais graça Deus derrama
sobre você.

13º Dia

Graça e santificação
A

o contrário do que muitos imaginam, não existe nenhuma contradição ou


oposição entre graça e santidade. Portanto, não tome a verdade do
evangelho dessa forma.

A graça é a raiz, e a santidade é o fruto. Logo, não alcançamos santidade


atuando diretamente nela, assim como não produzimos frutos focando
diretamente neles; antes, lidamos com a raiz, com a planta – aguamos,
adubamos, cuidamos, podamos e, como resultado, temos o fruto. Primeiro,
recebemos revelação da graça e, então, a santidade vem e se manifesta em
nós como fruto da graça.
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando,
diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz
de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados; nem haja
algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de
primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois
não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado. (Hb 12.14-17)

Não há santidade sem a graça


Muitos gostam de usar a expressão “sede santos, porque eu sou santo” sem
considerar o contexto. Pedro começa falando da graça de Deus e só depois
exorta à santidade. Isso significa que não podemos ser santos sem a graça
de Deus.
Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está
sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões
que tínheis anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos
chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está:
Sede santos, porque eu sou santo. (1 Pe 1.13-16)

Se as pessoas do Velho Testamento pudessem ser santas sem a graça de


Deus, o Senhor Jesus não precisava ter vindo. A sua morte teria sido em
vão. Só no Novo Testamento podemos realmente ser santos.

A graça é a raiz, e a santidade é o fruto. A ordem bíblica é: “Andem no


Espírito e, dessa forma, vocês jamais satisfarão o desejo da carne” (Gl
5.16), mas nós invertemos a verdade e tentamos vencer a carne para só
então andarmos no Espírito.

Se você pensa que primeiro precisa ser santo para só depois receber graça,
está dizendo que a graça é uma recompensa. Seria uma recompensa pelo
seu bom comportamento. Mas isso é uma contradição, pois a graça é o
favor imerecido. A verdade é que eu recebo graça independentemente de
minhas obras. E, quando recebo graça, o resultado é obediência espontânea.
Quando obedeço, sou recompensado.

Por isso, Pedro nos exorta a esperarmos inteiramente na graça de Deus, que
nos é trazida quando temos revelação do Senhor Jesus. Portanto, é a graça
que nos leva a viver em santidade. Assim, ouça mensagens que trazem
revelação do Senhor Jesus, não pregações sobre o que você deve ou não
fazer, mas sobre o que Ele é e fez.

Quando esperamos inteiramente na graça, tornamo-nos filhos da obediência


e, como tais, não vivemos mais de acordo com as paixões antigas que
tínhamos na ignorância. Ignorância em relação a quem? A Cristo. Agora,
porém, recebemos graça na sua revelação.

O oposto de santidade não é pecado, é ser comum, ser como todos os


outros. A palavra “santo” em grego e hebraico significa “separado”
(hagiasmos e kadosh). Não é ser separado no sentido dos fariseus, que se
achavam melhores que o povo, mas é ser colocado à parte, porque você é
precioso para Deus.
Diamantes são preciosos porque não são comuns. Pedras são comuns. Deus
está nos dizendo que devemos ser incomuns, especiais. Somos cheios da
presença e da dignidade do nosso Pai.

Quando o mundo está deprimido, você tem a paz de Deus. Casais do mundo
se separam porque o divórcio se tornou comum nos dias de hoje, mas nós
somos incomuns e permanecemos casados. Ouse ser diferente e incomum.

Sem santidade, não vemos o Senhor


A exortação do texto é para seguir a paz com todos e a santificação, sem a
qual, ninguém verá o Senhor. Antes de tudo, entenda que a santidade não é
para a salvação. Não somos salvos pela santidade. Ver o Senhor aqui
significa ter revelação d’Ele. Não significa vê-lo fisicamente, mas por
revelação no espírito.

Existe uma condição para termos revelação: a santificação. Quando temos a


experiência dos discípulos no caminho de Emaús, vemos o Senhor e temos
o nosso coração aquecido. Isso evidentemente toma tempo. Precisamos
investir tempo com o Senhor.

Não se separe da graça


A segunda exortação é: “[...] atentando, diligentemente, por que ninguém
seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de
amargura” (Hb 12.15).

Muito antes de surgir uma raiz de amargura, a pessoa já se separou ou


decaiu da graça de Deus. E, quando surge uma raiz de amargura, muitos são
contaminados.

A pessoa amargurada não causa problemas apenas a si mesma, mas a


muitos outros. Especialmente nos dias de hoje, em que todos podem se
expressar nas mídias sociais, a raiz de amargura é facilmente
espalhada.Tenha muito cuidado com o que você come pela internet, porque
há muita morte na panela. Mesmo em ensinos cristãos, há muita morte.
A amargura é colocada aqui em oposição a seguir a paz com todos. Não
queremos guerra e nem animosidade. Queremos ter paz com todos os
homens.

A causa de toda raiz de amargura é o afastamento ou separação da graça de


Deus. Paulo diz aos gálatas que nos separamos da graça quando tentamos
nos justificar pela lei: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais
justificar-vos na lei; da graça decaístes (Gl 5.4).

A expressão “desligar de Cristo” também pode ser traduzida como “Cristo


não ter efeito sobre a sua vida”. Isso é algo terrível, pois, se você está
doente, o que você mais deseja é que Cristo tenha efeito em sua vida. Se
você está com lutas financeiras, o que você quer é que Cristo tenha efeito.

O que faz com que o Cristo Todo-Poderoso se torne sem efeito sobre a sua
vida? Quando você tenta se justificar diante de Deus pelas obras da lei. É
quando você presume que está bem com Deus porque cumpriu os
mandamentos. Quando confiamos em nossas obras, decaímos da graça e
nos desligamos de Cristo.

Esta é a razão por que os fariseus que se gloriavam de cumprir os


mandamentos da lei não puderam receber nada do Senhor Jesus. Tenho
certeza de que muitos deles estavam doentes, mas nenhum foi curado. Por
outro lado, prostitutas, publicanos e todo tipo de pecador receberam
graciosamente do Senhor.

Isso foi assim porque decair da graça não é cair no pecado, mas é cair na
justiça própria da lei. Precisamos vigiar, porque a praga do merecimento
está sempre nos rodeando, e o diabo sempre nos tenta a confiar em nossa
carne, em nosso merecimento.

A raiz de amargura
Quando decaímos da graça de Deus, temos como resultado a raiz de
amargura. Então, os versos 16 e 17 dizem:
[...] nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito
de primogenitura. Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado,
pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado. (Hb 12.16,17)

Muitos pensam que foi Esaú que tentou se arrepender e não conseguiu, mas
não é isso que diz o texto. Ele tentou convencer o seu pai, Isaque, a mudar a
bênção, mas Isaque não mudou de ideia, de mente, ele não se arrependeu da
bênção que havia dado.

A palavra “arrependimento” é metanóia, que significa “mudança de ideia,


de mente”. Na verdade, ele tentou mudar a mente do seu pai, mas não
conseguiu.

A palavra “impuro” no grego é pornós, que por acaso nos é bastante


familiar. A impureza é tudo o que está relacionado com a pornografia.

O quadro aqui é claro, Esaú se encheu de amargura, tentou matar o seu


irmão Jacó e depois se tornou dado à imoralidade sexual. Dessa forma,
muito antes de a impureza sexual e a pornografia aparecerem, a pessoa já
decaiu da graça, separou-se da graça de Deus.

Mas seria possível um cristão decair da graça? Basta lembrarmos que o


livro de Gálatas foi escrito para os cristãos. Cristo habitava neles, porém
não tinha efeito algum em sua vida.

Os sinais dos que decaem da graça


Quais são os sinais de que um crente decaiu da graça? Aqui são colocados
dois sinais: se há amargura no coração e se há pecado de imoralidade
sexual. São dois sinais claros.

Há irmãos que se tornam cheios de mau humor, raiva e palavras duras. As


pessoas fogem deles, porque destilam críticas e acusações em todo lugar.
Quando estamos cheios de graça, amamos as pessoas espontaneamente,
somos pacientes e benignos; mas, quando decaímos da graça, nossas
palavras se tornam cortantes e cheias de amargura.
O segundo sinal de que decaímos da graça são os pecados sexuais.
Normalmente, essas pessoas começam assistindo à pornografia e terminam
tendo relações sexuais ilícitas.

Todo pastor tenta ajudar o seu povo a vencer esse problema. Entretanto, o
que normalmente fazem é pregar contra o pecado. Não sabem que a raiz
desse problema é que tais pessoas decaíram da graça de Deus. Se não
voltarem para a graça, não conseguirão vencer o pecado sexual. Essa é a
razão por que precisamos redescobrir a graça de Deus, pois a santidade é
apenas o fruto, a raiz da nossa vida cristã é a graça de Deus.

Vamos ver novamente a sequência do texto: primeiro, buscamos a paz com


todos os homens e a santidade. Então, em oposição a buscar a paz com
todos os homens, temos a raiz de amargura. E, em oposição à santidade,
temos a impureza, os pecados sexuais. Tudo isso é resultado de a pessoa
decair ou se separar da graça de Deus.

Em outras palavras, o texto diz: “[...] atentando para que ninguém se separe
da graça de Deus, senão haverá raiz de amargura e também impureza”. Uma
vez que isso acontece, não buscaremos ter paz com todos os homens e nem
teremos santidade.

Claramente vemos que o ponto mais importante é permanecer na graça de


Deus. É verdade que Deus é santo, mas não é essa a revelação do
evangelho. A verdade é que Deus veio ao homem com a sua graça. A graça
é a forma mais elevada da santidade, porque somente a graça pode colocar
um Deus santo junto com o homem pecador. Tudo por causa da obra
consumada de Cristo.

Por isso, a exortação é para sermos atentos e diligentes para que ninguém se
separe ou se afaste da graça de Deus. Decaímos da graça quando
transformamos tudo numa relação de troca baseados na obra da lei.

Quando oramos porque sabemos que somos aceitos, então estamos na


graça; mas, se oramos pensando que seremos aceitos pelo quanto oramos,
então transformamos a oração numa moeda. Isso pode acontecer com
qualquer coisa. Assim, o problema é uma disposição mental sempre
consciente da lei, e nunca consciente do amor de Deus.
Graça não é algo natural. Eu tenho ensinado sobre a graça há muitos anos e
ainda hoje preciso lembrar a mim mesmo constantemente o que é a graça.
Sempre sou tentado a pregar de acordo com o que os irmãos merecem
ouvir. Todavia, se faço isso, eu nego a graça. Sou tentado a tratar as pessoas
de acordo com o que penso que elas merecem. Entretanto, se ajo assim,
decaio da graça.

Graça é favor imerecido. Se tudo o que faço é baseado no merecimento,


estou me afastando da graça.

O exemplo de Esaú
É verdade que Esaú viveu antes da lei, então como ele poderia decair da
graça? Ele decaiu da graça tendo uma mentalidade baseada na sua
performance. Ele pensava que, sendo um caçador, ganharia o amor do seu
pai. Ele tentou ganhar amor com obras. Qual foi o resultado disso? Ele caiu
na amargura e no pecado sexual.

Provavelmente, ninguém diria que o problema da amargura e impureza


sexual é resultado de mentalidade de obras de merecimento. Na verdade,
dirão que precisam fazer mais, ter mais obras.

Se essas duas coisas são muito fortes em sua vida, apenas pergunte a si
mesmo: “Será que eu perdi a percepção e o senso de como sou amado pelo
Pai?” “Estou consciente do amor de Deus por mim ou estou consciente de
cobranças e obras que preciso desempenhar?” A verdade é que, se você
tiver uma revelação fresca da graça de Deus e se encher dela a cada dia,
esses problemas desaparecerão da sua vida sem que você se dê conta.

O exemplo do filho pródigo


Em Lucas 15, Jesus contou sobre o filho pródigo e seu irmão. O filho mais
novo pediu ao pai a sua parte na herança. Quando alguém pede a herança
enquanto o pai ainda vive, está dizendo que gostaria que ele morresse.
A Bíblia diz que ele saiu de casa e gastou todo o seu dinheiro de forma
dissoluta. Depois que o dinheiro acabou e ele ficou em extrema pobreza
cuidando de porcos, ele caiu em si e disse: “Na casa de meu pai, os criados
têm pão suficiente. Eu vou me levantar e ir até o meu pai”. Perceba que ele
não voltou porque amava o pai, mas porque estava com fome e percebeu
que até os criados tinham pão suficiente. Entretanto, quando você der um
passo em direção a Deus, Ele correrá para você, independentemente da sua
motivação. Nenhum de nós veio a Deus porque o amávamos, mas Ele nos
aceitou em sua graça.

Alguns só querem mesmo um seguro contra fogo e enxofre. O bom da


história é que depois nos apaixonamos por Ele. Descobrimos como Ele é
maravilhoso. Enfim, o filho voltou, o pai correu, e o abraçou, e o beijou.
Ele lhe deu a melhor túnica, colocou um anel no dedo, matou o novilho
cevado e começou a festejar. Havia muita dança e música, porque o filho
que estava perdido agora foi encontrado.

Eles estavam comemorando quando o filho mais velho chegou e, ouvindo


todo o barulho, perguntou aos servos: “O que é tudo isso?” Pessoas
legalistas são sempre amargas, não entendem o significado de música e
dança, por isso precisam perguntar às pessoas: “O que essas coisas
significam?” Para eles, é fogo estranho. Os servos, pois, lhe responderam:
“O seu irmão voltou para casa e o seu pai fez uma festa”. E ele se encheu de
raiva, uma raiz de amargura.

A amargura o impediu de entrar na festa. O seu pai saiu e implorou que ele
entrasse, mas ele lhe disse: “Eis que há muitos anos venho te servindo.
Nunca transgredi um só mandamento, e o senhor nunca me deu nem um
cabrito para eu festejar com os meus amigos”. Ele esperava o pagamento.

Ele diz: “Nunca transgredi o seu mandamento”. Ele é um homem de direito.


É um homem que é consciente da lei. Vê o pai como alguém exigente. É
por isso que ele possui uma raiz de amargura.

E onde está o pecado sexual? Leia o verso 30. “Vindo, porém, esse teu
filho”. Sequer disse: “Meu irmão”. “Vindo, porém, esse teu filho, que
desperdiçou os teus bens com meretrizes”. Se você ler atentamente o texto,
verá que a Bíblia não diz que o irmão mais novo gastou o dinheiro com
prostitutas. Nós presumimos que ele fez – e ele pode muito bem ter feito
isso –, mas a Bíblia diz apenas que ele gastou o dinheiro vivendo
dissolutamente.

Entretanto, de todas as coisas que o filho mais novo fez, o irmão mais velho
mencionou somente que ele gastou com prostitutas, por quê? Por que ele
está consciente disso. Normalmente, as coisas que acusamos nos outros
estão presentes em nós mesmos. Ele se revelou com essa palavra. O filho
mais velho possuía uma raiz de amargura e provavelmente tinha problema
com a luxúria e a impureza.

Quanto mais você perceber o amor de Deus e a sua graça, mais será liberto
da impureza. Isso não envolverá grandes esforços, mas será algo
espontâneo. Você simplesmente será capaz de dizer não ao pecado. Você
está consciente do perdão e do amor incondicional do Pai? Alimente-se da
graça de Deus a cada dia e a verdadeira santidade se manifestará em você.

14º Dia

O romance da graça
S
egundo estudiosos, o nome Rute tem dois significados, “amiga” ou “bela”.
Se, porém, juntarmos os dois, temos “bela amiga”.

Rute fala sobre a graça e o terno amor do Senhor para conosco. Em termos
alegóricos, ela aponta para nós, que não éramos parte do povo de Deus, mas
recebemos a sua graça. Rute era de Moabe, um povo descendente de um
incesto entre Ló e uma de suas filhas. No Velho Testamento, um moabita
não podia fazer parte da congregação de Israel até a décima geração (Dt
23.3). Eles eram um povo debaixo de maldição. Entretanto, mesmo assim
Rute foi aceita e se tornou bisavó de Davi, o rei de Israel. Em Mateus, são
mencionadas quatro mulheres na genealogia de Jesus, e Rute é uma delas.
A história do livro de Rute acontece nos dias dos juízes. O último versículo
do livro de Juízes nos dá uma imagem de como eram aqueles dias. Naqueles
dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto. (Jz 21.25)

A história do povo de Israel, no livro de Juízes, é um ciclo que alternava a


queda na idolatria, o juízo na forma de servidão e o libertador. O povo
sempre caía na idolatria. Por causa disso, Deus permitia que uma nação
viesse oprimi-los, então eles clamavam a Deus e este lhes enviava um
libertador. Este é o padrão do livro, uma sequência de queda, depois
opressão e então livramento. Tudo isso acontecia porque, naqueles dias, não
havia liderança, e cada um fazia o que achava melhor.

Quando cada um faz o que lhe parece melhor, invariavelmente haverá caos
e ausência da palavra de Deus. Nesse contexto, o livro de Rute começa
dizendo que, naqueles dias, houve fome em Israel.
Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de Belém de Judá saiu a
habitar na terra de Moabe, com sua mulher e seus dois filhos. Este homem se chamava Elimeleque, e
sua mulher, Noemi; os filhos se chamavam Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; vieram à
terra de Moabe e ficaram ali. (Rt 1.1-2)

O livro de Juízes é um dos mais sombrios da Palavra de Deus. O povo


frequentemente passava a adorar outros deuses. Lendo o livro, a impressão
que temos é que a idolatria é o pior pecado, pois ela sempre trazia o juízo de
Deus. Mas será que o povo não cometia outros pecados que também
poderiam trazer juízo? Por que somente a idolatria?

Para entendermos isso, precisamos nos lembrar de como o povo de Israel


era aceito por Deus. Todos os dias, o sacerdote deveria sacrificar um
cordeiro de manhã e à tarde no Tabernáculo. O sangue do sacrifício cobria a
nação e, assim, o juízo não vinha sobre eles. Também cada um deveria
sacrificar ao Senhor nas festas e pela sua vida pessoal. O problema é que,
quando eles caíam na idolatria, deixavam de sacrificar ao Senhor e, sem o
sangue, o juízo não pode ser contido. Então, não é que a idolatria fosse o
pior pecado ou deixasse Deus mais irado, o problema é que eles deixavam
de adorar a Deus com o sacrifício que cobria o pecado.

Vivendo longe da casa do pão


Nos dias de Rute, havia fome em Israel por causa da rebelião e da idolatria.
Lembre-se de que Deus não envia fome, Ele permite que ela venha. O
tempo verbal no hebraico é permissivo, e não causativo.

É interessante que, quando Caim derramou o sangue de Abel, o Senhor lhe


disse que a terra negaria a semente (Gn 4.12). A fome veio por causa da
rebelião.

Belém significa “casa do pão”, e Judá significa “louvor”. Houve fome na


casa do pão na terra do louvor.

Em Gênesis, Deus disse a Abraão que, no tempo de fome, ele não deveria
sair da terra, mas invocar o Senhor. Elimeleque, porém, decidiu sair de
Belém junto com a sua esposa e dois filhos e ir morar em Moabe.

Elimeleque significa “Deus é rei”, Malom significa “doente”, e Quiliom


significa “desfalecendo ou morrendo”. Os nomes na Palavra de Deus
sempre possuem significado. Os seus filhos refletem um pouco de como
Elimeleque pensava.
Morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois filhos, os quais casaram com
mulheres moabitas; era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos.
Morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando, assim, a mulher desamparada de seus dois
filhos e de seu marido. (Rt 1.3-5)

Na Bíblia, vemos que aqueles que servem a Deus e o adoram nunca sofrem
em tempos de fome. Abraão passou pela fome e prosperou. Isaque semeou
em tempos de fome e colheu cem vezes mais (Gn 26.1-2 e 12). José estava
na terra do Egito quando houve fome e Deus o usou para salvar o mundo.
Precisamos sempre nos lembrar disso, porque, no mundo, as crises são
cíclicas, mas a promessa é que seremos supridos no meio da crise.

Em vez de permanecer na terra, Elimeleque saiu e foi para Moabe, um povo


que havia sido rejeitado por Deus naquela época. Ele havia esquecido o
significado do próprio nome e fez apenas o que achava melhor. Os seus
filhos, contrariando o ensino da lei, casaram-se com moabitas.

Longe de Belém, a casa do pão, Elimeleque e seus dois filhos – “doente” e


“desfalecido” – morreram. Noemi ficou sozinha com suas duas noras.
Em termos de alegoria, Noemi representa Israel, a nação que Deus escolheu
entre todas, não por ser melhor, mas para mostrar a glória de Deus ao resto
do mundo.
Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu que o
SENHOR se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Saiu, pois, ela com suas duas noras do lugar onde
estivera; e, indo elas caminhando, de volta para a terra de Judá [...] (Rt 1.6-7)

Noemi decidiu voltar para Belém porque ouviu que o Senhor se lembrara
do seu povo, dando-lhe pão. Não foi a dureza da terra que a fez voltar, mas
porque ouviu a respeito da bondade de Deus. Foi exatamente o que
aconteceu com o filho pródigo, ele se lembrou de que, na casa do seu pai,
havia pão em abundância (Lc 15.17). São as boas novas que trazem as
pessoas de volta para Deus.

Observe que Noemi pensava no seu coração que Deus era contra ela,
porque ela havia deixado a casa de Deus (Rt 1.20-22). É verdade que muitas
vezes coisas ruins acontecem conosco porque abandonamos a bondade de
Deus, mas precisamos saber que é a bondade de Deus que nos traz de volta.
Ela não percebia, mas Deus havia preparado algo maravilhoso para ela.
Mais tarde, veremos que ela entrou para a linhagem do Senhor Jesus.

No entanto, precisamos aprender a não deixar a casa de Deus nem a sua


presença quando as coisas parecerem ruins. Deus sempre nos dará o seu
suprimento. Elimeleque tinha medo de que a fome o destruísse, por isso
saiu da casa do pão, mas aquilo que ele temia veio a acontecer com ele e
seus filhos.

A lei do remidor
Rute era moabita. Os moabitas haviam sido amaldiçoados e não podiam
participar da congregação do Senhor. Assim, houve um momento em que
Rute vivia debaixo da maldição e estava fora da casa de Deus.

Enquanto estava casada com Malom, Rute não tinha filhos. Malom
significa “doente”. Enquanto estava unida à doença, ela era infrutífera.
Depois que Elimeleque e Malom morreram, Rute foi para Israel com a sua
sogra Noemi. E foram viver em Belém. Enquanto vivia ali, Rute saía para
apanhar as espigas que caíam enquanto os segadores colhiam. Esta era a
posição mais pobre e humilde em Israel.

Acontece que, certo dia, o dono do campo veio até ela. O seu nome era
Boaz, que em hebraico significa “nele há força”. E a Palavra do Senhor diz
que Rute encontrou favor diante dos seus olhos. Ele era o homem mais rico
de Belém e era solteiro. Boaz é um tipo de Cristo.

Na lei de Moisés, estava escrito que, quando uma pessoa se empobrecia em


Israel e sua terra fosse entregue aos credores para pagar dívidas, ainda
haveria uma saída para livramento. Isso é chamado de princípio do parente
remidor. Se a pessoa tivesse um parente próximo rico que estivesse disposto
a comprar a terra e que quisesse se casar com a viúva, então ele poderia
resgatar de volta os bens de quem empobrecera.

Muitos possuíam parentes ricos, mas estes não estavam dispostos a resgatar
a dívida. Muitas vezes, aquele que ficava pobre era alguém que
administrava mal as suas finanças, por isso o parente rico não tinha
disposição de abençoar. Tudo isso aponta para o Senhor Jesus. Ele não era
apenas rico, mas também queria nos redimir. Ele se fez homem para ser o
nosso parente próximo e assim poder legalmente nos redimir.

Vemos que Boaz era um parente próximo de Rute e ele já estava


apaixonado por ela. Ele estava disposto a redimi-la da pobreza, dos bens
que foram perdidos por causa do seu ex-marido que havia falecido.

Abrigando nas asas do Senhor


Disse ele: Quem és tu? Ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva,
porque tu és resgatador. Disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste a tua
última benevolência que a primeira, pois não foste após jovens, quer pobres, quer ricos. (Rt 3.9-10)

À meia-noite, Boaz acorda e se assusta com Rute aos seus pés. Estar aos
pés é uma atitude de adoração. Nos Evangelhos, cada vez que uma pessoa
caiu aos pés do Senhor, ela recebeu o seu milagre, recebeu o poder do
redentor.
Rute, então, diz a Boaz: “Estende a tua capa sobre a tua serva”. No
hebraico, a palavra “capa” nesse contexto é a mesma para “asas”. Uma
tradução apropriada, portanto, seria: “Estende as tuas asas sobre a tua
serva”.

A palavra “capa” usada nas orações judaicas é chamada de talit. Na orla


dessa veste, havia um cordão azul, que simboliza a graça de Deus que
desceu do céu.
Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam
borlas pelas suas gerações; e as borlas em cada canto, presas por um cordão azul. E as borlas estarão
ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não
seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando,
para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus.
(Nm 15.37-40)

Como todo mestre em Israel, o Senhor Jesus também usava um talit,


acessório religioso judaico em forma de um xale feito de linho, tendo em
suas extremidades franjas. Ele é usado como uma cobertura principalmente
no momento da oração.

As duas pontas do talit são chamadas de asas. No último livro do Velho


Testamento, lemos que o Messias traria salvação nas suas asas.
Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; vós
saireis e saltareis como os bezerros da estrebaria. (Ml 4.2 TB)

O talit simboliza a justiça. Quando você toca a justiça do Senhor, este é o


momento em que o milagre acontece. Foi exatamente assim que a mulher
hemorrágica foi curada.

Boaz certamente tinha um talit, e Rute pede que ele a cubra com as suas
asas ou o com o seu talit. Ela estava falando de casamento, pois em Israel o
homem cobre a sua noiva com o talit no dia do casamento. Em termos
espirituais, significa que tudo aquilo que o Senhor cobre Ele redime para si
mesmo.

O parente mais próximo


Entretanto, no meio desse santo drama, havia uma terceira parte. Existia
ainda um parente mais próximo do que Boaz. Você sabe que a lei veio antes
do Senhor Jesus. É isso que Boaz diz a Rute quando promete se casar com
ela. Ele daria a oportunidade de aquele parente mais próximo exercer a sua
prerrogativa.
Ora, é muito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro resgatador há mais chegado do que eu.
(Rt 3.12)

A Palavra de Deus diz que, no dia seguinte, Boaz tomou dez homens dos
anciãos da cidade para tê-los como testemunhas. Por que eram dez? Esses
dez são uma representação da lei. Então, esse parente mais próximo
apareceu, mas o seu nome nunca é mencionado no livro de Rute. É assim
porque a lei não tem nome. Romanos 3.21 diz que a própria lei é
testemunha do dom da justiça que recebemos hoje em Cristo.

Embora o Senhor Jesus existisse antes da lei – pois a Bíblia diz que Ele
estava desde o princípio com Deus –, do ponto de vista de manifestação ao
homem, a lei foi dada primeiro, por isso ela era o parente mais próximo.
Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia
passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou.
Então, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade e disse: Assentai
-vos aqui. E assentaram-se. Disse ao resgatador: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso
irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, a tem para venda. Então, disse o resgatador: Para
mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha; redime tu o que me cumpria resgatar,
porque eu não poderei fazê-lo. (Rt 4.1-3 e 6)

A lei não tem poder para nos salvar. A lei está numa posição elevada e não
pode curvar-se para redimir um pecador. O padrão da lei não pode ser
alterado. Mas o Senhor Jesus desceu da glória e se fez como um de nós para
nos levar de volta ao Pai.

Naquele tempo, o costume em Israel quanto a resgates e permutas era este:


o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu
parceiro, assim se confirmava negócio em Israel (Rt 4.7).

O que significa tirar o sapato? Significa reconhecer que não tem direitos.
Portanto, a partir daquele momento, a lei não tinha mais nenhum direito
sobre Rute. Você certamente já percebeu que Rute aponta para nós, Boaz é
o Senhor Jesus, e esse parente mais próximo é a lei.

A Moisés, que estava debaixo da lei, o Senhor mandou que tirasse os


sapatos. Isso significa que ele não tinha nenhum direito de se colocar na
presença de Deus. Todavia, na história do filho pródigo, debaixo da graça, o
pai manda calçar o filho com o sapato. E aquele garoto nem era tão santo
quanto Moisés, havia cometido todo tipo de pecado, mas o pai diz que ele
tem o direito de se colocar na sua presença. Moisés era servo, mas ele era
filho.
Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de que comprei da mão de
Noemi tudo o que pertencia a Elimeleque, a Quiliom e a Malom. (Rt 4.9)

Boaz, que representa o Senhor Jesus, declara diante do mundo espiritual


que comprou de volta tudo o que pertencia a Elimeleque, que significa
“Deus é rei”. Em outras palavras, tudo o que foi dado por Deus, o Rei, ao
homem, mas que foi perdido, agora foi comprado de volta por Cristo. Isso
significa redimir. Tudo aquilo que foi perdido por Quilion (morrendo) e
Malon (doente), tudo o que está relacionado com a morte e a doença, o
Senhor comprou de volta para a igreja, a verdadeira Rute. E a lei não tem
mais o direito de andar sobre a sua herança.

Depois que Boaz e Rute se casam, eles têm um bebê chamado Obede. Este
se tornou o pai de Jessé, que foi o pai de Davi. E, assim, o nome de Rute
entrou para a genealogia de Cristo. A história de amor de Rute é um quadro
do evangelho. Aquela que pertencia a um povo amaldiçoado, que não tinha
nenhum direito ao povo de Deus, tornou-se participante da genealogia do
próprio Cristo.

Hoje, não temos mais nenhuma relação com aquele antigo parente próximo,
a lei. Você se casou com o verdadeiro remidor, Cristo. Quando estiver triste,
diga a Ele, pois Ele é a sua alegria. Quando estiver confuso, compartilhe
com Ele, pois Ele é a sua sabedoria. Quando estiver fraco, Ele é a sua força.
O amor d’Ele por você nunca muda. A sua graça e o seu amor se renovam a
cada café da manhã com você.
No fim, lemos que Boaz gerou Obede, Obede gerou Jessé, e Jessé gerou
Davi. Não há nada insignificante na Bíblia. Mesmo os nomes carregam um
sentido espiritual. Boaz significa “nele há força”. Obede significa “servo”.
Jessé significa “riqueza”. E Davi significa “amado”. Podemos ver que há
uma mensagem aqui: “Nele, há força para servir riqueza ao seu amado”.

15º Dia

O Espírito de Cristo
A
graça de Deus é algo completamente espiritual e não pode ser entendida
pela nossa mente carnal. Muitos de nós ainda raciocinamos com a nossa
carne. É comum ouvirmos que graça

e amor são básicos, mas lei e santidade são profundos, quando o contrário é
verdadeiro.

Quando Israel era um bebê, nephios, ele aprendeu a lei (Gl 4.1-4). Portanto,
a lei é elementar, ela é o ABC. A carne é lógica e razoável, mas a graça não
é lógica, nem é razoável, é por isso que você não pode argumentar sobre a
graça. Você ouve dez sermões sobre a graça, e o décimo primeiro que ouve
sobre a lei o faz esquecer os dez.

Há algo a respeito da graça que você deve ouvir, ouvir e ouvir novamente,
porque não é natural. É celestial. É do próprio Deus. O próprio Jesus é a
graça. A graça sempre confunde a nossa lógica natural e nos leva a pensar
segundo a mente de Cristo. Paulo diz que nós temos a mente de Cristo, isso
significa que, quando pensamos em linha com o evangelho da graça,
expressamos o coração do Senhor (1 Co 2.16). Podemos dizer que
manifestaremos o mesmo Espírito que houve n’Ele.

A vontade de Deus é que possamos crescer até a estatura de Cristo. Isso


acontece quando contemplamos o Senhor. Quando o contemplamos, somos
transformados de glória em glória (2 Co 3.18).

Certa vez, o Senhor planejou pousar numa aldeia de samaritanos, mas eles
não o receberam. Essa atitude deixou os discípulos indignados, então Tiago
e João disseram:
Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os
repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para
destruir as almas dos homens, mas para salvá-las (Lc 9.51-56, grifo nosso).
Infelizmente, alguns como Tiago e João ainda não sabem de que espírito
são. O Espírito de Cristo é o espírito da graça. Qualquer coisa fora do
espírito da graça não pode expressar o coração e a mente do Senhor.

A atitude dos discípulos é o espírito comum do mundo: “Se alguém faz um


mal a mim, então eu deveria fazer um mal maior a ele”. Tiago e João
queriam trazer julgamento e condenação, mas este não é o espírito de
Cristo. Todas as vezes que você se perceber julgando e condenando, você
deve parar imediatamente, pois saiu do espírito da graça de Cristo.

O problema é que presumimos que as pessoas somente vão mudar se


ouvirem uma palavra de condenação. Todos vivem debaixo de permanente
acusação e condenação do diabo e nem por isso mudam. Se condenação
tivesse o poder de nos mudar, o inimigo jamais o faria.

Nós crescemos quando manifestamos o espírito de Cristo. Gostaria de


mostrar três exemplos na vida de Paulo que ilustram o crescimento no
espírito de Cristo.

A percepção de si mesmo
Todos nós pensamos que o apóstolo Paulo é o maior de todos os apóstolos,
afinal ele escreveu três quartos do Novo Testamento. Suas cartas são
repletas de revelações profundas de Cristo. Mas talvez você se surpreenda
com a forma como Paulo se percebia. Ele não se via como sendo o maior.

Seguindo a ordem cronológica dos livros que Paulo escreveu, podemos ver
três afirmações impressionantes que ele fez, as quais mostram o seu
processo de crescimento. A primeira está em 1 Coríntios 15, onde ele diz:
Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois
persegui a igreja de Deus. (1 Co 15.9)

Paulo colocou todos os apóstolos como sendo superiores a si mesmo: “Eu


sou o menor comparado a todos os apóstolos”. Nós o consideramos, e com
razão, como o maior dos apóstolos, mas, em sua própria opinião, ele diz:
“Eu nem sou digno de ser chamado apóstolo. Sou o menor dos apóstolos”.
Ele não dizia isso por causa de alguma falsa modéstia, mas esta era a sua
realidade.

O caminho do crescimento na graça é para baixo. Achamos que o correto é


sermos iguais, mas a maturidade nos leva a concluir que os outros são
maiores do que nós. Crianças gostam de dizer umas às outras: “Você não é
melhor do que eu!”

Quando você se relaciona com alguém e tem certeza de que essa pessoa é
maior do que você, a sua postura é de respeito, honra e consideração. Mas,
quando você acredita que precisa se relacionar de igual para igual, não
conseguirá manifestar o espírito de Cristo.

Por ocasião da Última Ceia, o Senhor se vestiu de uma túnica, colocou um


avental e passou a lavar os pés dos apóstolos. Pedro se recusou a permitir
que o Senhor o lavasse, mas Jesus lhe disse: “Se eu não te lavar, não tens
parte comigo” (Jo 13.8). O Senhor não disse: “Não tens parte em mim”. Se
dissesse isso, significaria que Pedro não tinha salvação. Ele disse: “Não tens
parte comigo”, significando que não tinha comunhão. Isso é
impressionante, porque a religião ensina que nós servimos a Deus, mas o
Senhor disse que só podemos ter comunhão com Ele se Ele nos servir. Na
sua volta, o Senhor disse que servirá os seus servos (Lc 12.37).
O espírito de Cristo é que Ele, sendo Deus, desceu da glória, vestiu
-se da humanidade e serviu. O verdadeiro servo considera os outros maiores
que ele mesmo.

Depois disso, Paulo cresceu mais no Senhor e então ele escreveu o livro de
Efésios. No capítulo 3, lemos o seguinte:
A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das
insondáveis riquezas de Cristo. (Ef 3.8)

Agora, ele não está mais se comparando com o escopo limitado dos
apóstolos. Ele diz que, dentro da igreja inteira, ele era o menor. Eu me
conheço e conheço muitos irmãos que não são grandes, mas Paulo diz que é
menor que todos nós. E ele nem está se referindo ao seu passado. Ele diz
que, no presente, ele é o menor.
Quanto mais Paulo crescia, mais ele via os seus pecados. Entretanto, é
evidente que ele via tudo isso debaixo da luz da graça e do amor de Deus.
Essa percepção do pecado, portanto, apenas amplia a graça de Deus.

Quando chegamos a 1 Timóteo, veja o que Paulo diz:


Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores,
dos quais eu sou o principal. (1 Tm 1.15)

Ele cresceu na graça de Deus, mas parece que, quanto mais ele avança,
mais vê que não é perfeito. Contudo, não pare nesse ponto. Se você parar
aqui, ficará em desespero. Na graça, quanto mais você vê o seu pecado,
mais entende como foi perdoado.

Você não deve viver debaixo de condenação, mas isso não significa que
você não possa mais se avaliar ou aceitar ser avaliado. É possível perceber
as próprias deficiências e pecados e ainda assim ter completo descanso na
graça e no perdão do Senhor.

É verdade que hoje não dizemos que somos pecadores. Nós somos santos,
fomos salvos e justificados. Isso, porém, não significa que eu tenha
perfeição sem pecado. Mesmo sendo justos, ainda há pecado em nossa
carne. Perceber e admitir o pecado não é cair no desespero da condenação,
mas é engrandecer a graça de Deus, magnificar o seu amor. Quanto mais
você crescer, mais será como o apóstolo Paulo. Primeiro, ele diz: “Sou
menor que todos os apóstolos”. Então, ele ampliou para todo crente: “Eu
sou o menor de todos os santos”. Depois que cresceu um pouco mais no
Senhor, ele disse: “De todos os pecadores, eu sou o principal”. Ele exaltou a
graça de Deus.

Perdão e juízo
Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu,
guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. Na minha primeira defesa,
ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! (2
Tm 4.14-16)

Num primeiro momento, parece que Paulo está assumindo uma atitude
diferente do espírito de Cristo. Ele diz a Timóteo que Alexandre Latoeiro
lhe tinha causado muitos males e por isso Deus lhe daria a paga.

Entretanto, não foi esta a atitude de Cristo na cruz. Depois de ter sofrido
tudo, o Senhor disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc
23.34). Também não foi a atitude de Estêvão diante daqueles que o
apedrejavam. Ele disse: “Senhor, não lhes imputes este pecado” (At 7.60).
Ele demonstrou o mesmo espírito de Cristo. Apesar disso, parece que Paulo
estava pedindo a Deus que pesasse a mão sobre o tal Alexandre.

A verdade, porém, é que Paulo tinha o mesmo espírito de Cristo e de


Estêvão, ele não guardava nenhum tipo de ressentimento. Tudo fica claro
quando lemos o verso 15 e descobrimos que a indignação de Paulo, na
verdade, era porque a mensagem do evangelho estava sendo resistida. As
palavras de Paulo, a que ele se refere, obviamente apontam para a sua
pregação do evangelho da graça. Se alguém resiste ao evangelho, precisa
mesmo receber a paga de Deus. Paulo diz que o latoeiro havia resistido à
sua mensagem.

Depois, no verso 16, Paulo se refere especificamente àqueles que o


abandonaram. Ninguém ficou do seu lado quando enfrentou os detratores,
mas ele expressa a atitude de Cristo quando diz: “Que isto não lhes seja
posto em conta!” Se alguém faz algo contra mim, já está perdoado, mas,
quando produz dano ao evangelho, então sofrerá a paga.

Nesse evento, vemos claramente a atitude de Paulo para com a defesa do


evangelho e a sua postura para consigo mesmo. Quando alguém resiste à
pregação do evangelho, constitui-se inimigo de todos os homens. Quando a
mensagem é resistida, isso significa que pessoas deixarão de ouvir e por
isso não serão salvas. Tais opositores, por isso, devem receber a paga.
Contudo, quando a ofensa é contra ele mesmo, a atitude de Paulo é de
perdão e esquecimento.

O mesmo sentimento vicário


Digo a verdade em Cristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria
consciência: tenho grande tristeza e incessante dor no coração; porque eu mesmo desejaria ser
anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne. (Rm
9.1-3)
Antes de fazer a afirmação que está prestes a falar, Paulo precisa primeiro
nos dizer que ele fala na presença do Espírito do Santo. O que ele tem a
dizer é tão espantoso que antes precisa afirmar que não está mentindo, mas
fala a verdade na presença de Deus.

Esta certamente é a declaração mais estonteante do apóstolo Paulo. Ele diz


que desejaria, se possível fosse, ser amaldiçoado, sendo lançado ao inferno,
se isso significasse a salvação dos seus compatriotas. Esta é a demonstração
do espírito de Cristo no seu grau mais elevado.

Paulo diz que não se importaria em ser anátema. Isso significa ser
amaldiçoado. Gálatas 3.13 diz que Cristo se fez maldição por nós, então
Paulo demonstrava o mesmo amor de Cristo. Você algum dia desejou ser
lançado no inferno para que alguém pudesse ser salvo? Eu preciso admitir
que isso nunca me ocorreu.

Esse pessoal perseguia Paulo por todo lugar aonde ele ia. Em alguns
lugares, eles o apedrejaram; em outros, prenderam-no e o açoitaram. Eles
planejavam a morte do apóstolo, no entanto Paulo os amava tanto que
desejava até mesmo ser anátema se isso resultasse na salvação deles. Este é
o espírito da graça no nível mais elevado.

A verdade é que Paulo contemplou tanto a Cristo que, depois de muito


tempo, ele se tornou tão parecido com o Senhor que tinha no seu coração a
mesma expressão, o mesmo espírito de Cristo.

Esse tipo de crescimento não pode ser produzido pelo esforço humano, não
pode ser simulado com nossas boas intenções. Ele só acontece quando você
olha tanto para Cristo, identifica-se tanto com Ele que, no fim, os seus
sentimentos se tornam como os d’Ele. Você chega ao ponto de morrer pelos
próprios inimigos que desejam matá-lo.

Que esse seja o fruto da graça em nossa vida, a perfeita manifestação do


espírito de Cristo!

16º Dia
Morte na panela
Voltou Eliseu para Gilgal. Havia fome naquela terra, e, estando os discípulos dos profetas assentados
diante dele, disse ao seu moço: Põe a panela grande ao lume e faze um cozinhado para os discípulos
dos profetas. Então, saiu um ao campo a apanhar ervas e achou uma trepadeira silvestre; e, colhendo
dela, encheu a sua capa de colocíntidas; voltou e cortou-as em pedaços, pondo-os na panela, visto
que não as conheciam. Depois, deram de comer aos homens. Enquanto comiam do cozinhado,
exclamaram: Morte na panela, ó homem de Deus! E não puderam comer. Porém ele disse: Trazei
farinha. Ele a deitou na panela e disse: Tira de comer para o povo. E já não havia mal nenhum na
panela. (2 Rs 4.38-41)
A
primeira coisa que o texto diz é que Eliseu voltou para Gilgal. Josué 5.9 nos
dá o significado de Gilgal. O povo que saíra do Egito não havia sido
circuncidado. Quando eles chegaram a Gilgal, todo o povo que nascera no
deserto foi circuncidado antes de

entrar em Canaã. Gilgal, portanto, significa tratar com a carne.


Disse mais o SENHOR a Josué: Hoje, removi de vós o opróbrio do Egito; pelo que o nome daquele
lugar se chamou Gilgal até o dia de hoje. (Js 5.9)
Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da
carne, que é a circuncisão de Cristo. (Cl 2.11)

O que é carne? É tudo aquilo que recebemos pelo nascimento (Jo 3.6).
Coisas ruins e coisas naturalmente boas devem ser cortadas fora. O que é
nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. (Jo 3.6)

Esse é o lugar onde a vida espiritual começa genuinamente. Quem não


começa aqui não pode dizer que começou a jornada. A palavra Gilgal
significa “rolar para longe”. A cruz é o lugar onde a nossa vergonha foi
lançada e onde a nossa carne é cortada.

A segunda coisa que lemos é que era um tempo de fome (2 Rs 8.1; 6.24-
30). A verdade é que o mundo vive com fome desde que o primeiro homem
caiu no Éden. Ele comeu do fruto errado e por isso vive faminto por algo do
céu.

Aquela era uma época de grande fome na terra. Quando as pessoas estão
desesperadas por comida, elas se dispõem a comer qualquer coisa, mas
também existe fome no meio dos filhos de Deus, fome por receber a
genuína palavra de Deus.

Nesse tempo, os discípulos dos profetas estavam sentados diante de Eliseu,


e o profeta disse ao seu moço: “Coloque uma panela grande e ferva o
ensopado para os filhos dos profetas”. Então, alguém saiu ao campo para
colher ervas. O ensopado já estava fervendo, mas uma pessoa saiu para
tentar melhorar o que já estava pronto, presumindo que faltava algo para
torná-lo ainda melhor.

Tudo começou no jardim. Deus preparou um rico banquete para o homem


na primeira criação. O primeiro dia do homem foi o primeiro dia da obra
consumada da criação. Ele não precisou construir, semear ou fabricar coisa
alguma, pois a obra estava consumada.

Deus queria que o homem desfrutasse de toda a glória, mas ele começou a
olhar para uma árvore e disse: “Acho que, se eu comer desse fruto, posso
melhorar a minha sabedoria”, então veio a queda. O homem sempre quer
acrescentar algo à obra de Deus, mas o resultado disso é morte.

Um homem saiu e foi ao campo colher ervas. A palavra “erva” no hebraico


é owrah, que significa “algo brilhante, cintilante”. As pessoas sempre
querem que acrescentemos algo atraente e brilhante às nossas reuniões.
Querem atrair com coisas que brilham, mas a verdade é que a mensagem é
o mais importante.

Então, ele encontrou uma trepadeira, uma videira selvagem, e pensou que
era uma videira. Elas são chamadas colocíntidas, hoje são usadas para fazer
remédio, mas são venenosas. Ele não sabia o que era aquilo, mas estava
brilhando, parecia maduro e bom para comer – a mesma postura de Adão e
Eva diante da árvore do conhecimento.

Aquele moço cortou as colocíntidas e as colocou no ensopado, que estava


pronto e ainda estava fervendo. Então, quando começaram a comer, eles
gritaram: “Homem de Deus, há morte na panela!” E não podiam comer.

A morte espiritual começa no prato onde comemos. A Palavra de Deus diz


que somos aquilo que comemos. A maneira de o Senhor nos transformar é
mudando a nossa dieta, e a maneira de o inimigo nos atingir é envenenando
a nossa comida.

A morte na panela pode aparecer em qualquer


lugar
Infelizmente, mesmo dentro de uma estrutura forte e com ensino vivo da
palavra de Deus, pode surgir morte na panela. Precisamos vigiar
continuamente para ver se aquilo que está sendo servido aos irmãos é
realmente sadio.

Na escola de profetas, havia três características marcantes. Primeiro, lemos


que havia ensino e discipulado. A escola de profetas era o lugar onde os
profetas eram treinados. Eliseu era o mestre e um homem de poder, um
santo homem de Deus. Certamente, ele foi um homem que nunca negociou
os seus absolutos nem mercadejou o seu ministério. Entretanto, de forma
surpreendente, foi justamente nesse tempo que apareceu a denúncia: “Morte
na panela, ó homem de Deus!”

Também vemos que havia comunhão. O texto nos mostra que havia fome,
mas eles estavam juntos na crise. Mesmo numa comunidade em que há
comunhão, pode existir morte na panela.

Por fim, lemos que havia uma liderança ungida. Eliseu havia sido discípulo
de Elias e era respeitado por causa da unção que estava sobre ele. Era um
homem poderoso em obras e instrumento valioso para a realização de
milagres extraordinários. Contudo, mesmo nesse contexto, houve morte na
panela.

A morte na panela precisa ser identificada


Precisamos identificar a morte na panela no tempo certo: “E não puderam
comer”. Temos alguns exemplos bíblicos da necessidade desse
discernimento:

Em 1 Coríntios 14.29, Paulo nos adverte a respeito de profecias: “[...] os


outros julguem”.
Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem.
Em 1 João 4.1, João nos dá uma ordem clara: “Provai os espíritos”.
Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.
Em 1 Timóteo 4.1, Paulo diz que, nos últimos dias, pessoas seguiriam
doutrinas de demônios.
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por
obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios.

O Senhor Jesus não só pregou a verdade, mas também denunciou o erro.


Diversas vezes, Ele tratou duramente com o legalismo dos fariseus.

Paulo ensinou a verdade do evangelho, mas ele denunciou muitas doutrinas


falsas, como o ensino judaizante (At 15.1-2), o gnosticismo, o liberalismo
do viver no pecado para que haja mais graça (Rm 6.1) e o misticismo
legalista do não toque, não coma, não olhe etc. (Cl 2.20-23).

Como perceber quando um ensino é cheio de morte? Quando se prega lei


em vez de graça.
Quando se prega condenação em vez de perdão eterno. Quando se prega
autoajuda em vez de poder do Espírito.

Quando se prega o que o homem pode fazer em vez do que Cristo já fez.
Quando se prega que somos salvos pela graça, mas a santificação é pelo
nosso esforço próprio.
Quando a pregação nos leva a crer que Deus está irado conosco. Quando
se prega que a vitória sobre o pecado e o diabo é algo que conquistamos, e
não que recebemos pela graça. Quando a pregação nos leva a sentir culpa
e condenação em vez de ter a alegria da justificação.
Quando se prega que a bênção é para quem merece em vez de ser pela
graça.
Quando a pregação ensina a fazer barganha com Deus.

A morte na panela precisa ser denunciada


Alguém precisa ter a ousadia de dar o grito: “Morte na panela, ó homem de
Deus!” Algumas vezes, para ficarmos bem com todos, deixamos que a
morte continue sendo servida ao povo de Deus.
Precisamos do zelo e da ousadia de Paulo. Em Atos 15.1-2, lemos como ele
chegou a contender e a brigar por causa da morte que estavam colocando na
panela naqueles dias.

As pessoas estão famintas e buscam pastos verdes. Quando encontram


novidades, logo as abraçam. A trepadeira é viçosa, por isso os incautos
podem concluir que deve dar fruto bom. Há, porém, muitos ensinos que são
desafiadores, bonitos e impactantes, mas não são bíblicos, por isso são
venenosos.

Os discípulos dos profetas comeram veneno pensando estar se alimentando


de coisa boa. Acharam parecidos. O joio é parecido com o trigo, mas um é
veneno, o outro é alimento.

Por que foram buscar trepadeira se tinham


farinha?
A panela é o lugar da comida e deveria ser um lugar de vida, um lugar de
sustento. É um lugar onde você não espera encontrar morte, mas nutrição. O
que a panela representa? Creio que é o ministério de ensino na igreja. A
vida, a nutrição, o alimento da palavra devem ser liberados do púlpito. O
problema agora é que há morte na panela.

Eles gritaram para o homem de Deus. Pelo menos sabiam para quem gritar,
porque Eliseu é um tipo do nosso Senhor Jesus Cristo. E veja o que Eliseu
disse: “Tragam um pouco de farinha”. Ele a colocou na panela e
prosseguiu: “Sirva ao povo, para que eles comam”. E não havia mais
nenhum mal na panela.

No mundo, o caminho é sempre este: se houver algo ruim, remova


-o. Entretanto, nas coisas de Deus, na vida da igreja, é: acrescente algo
maior. Nós somos abençoados, mas o mundo está debaixo de maldição. Há
uma comida deliciosa à mesa, porém alguém a contaminou com uma gota
de fezes. Ninguém vai comer, porque a impureza se espalha para toda a
comida. Determinado filme é muito bom, só tem uma pequena cena erótica.
Isso contamina tudo.
Com as coisas do Espírito, é diferente. Apenas acrescente a fina flor de
farinha. Nem sempre as coisas são o que parecem ser. Os erros mais
perigosos são aqueles que parecem com a verdade. A meia verdade é mais
perigosa do que a mentira, pois se torna mais sutil, menos perceptível, por
isso é mais perigosa.

Há algo que tem contaminado a comida servida na igreja nestes dias. Eu


chamo de doença dos gálatas. Essa doença tem contaminado a igreja do
Senhor em nossa geração, e precisamos nos livrar dela. Como essa doença
se manifesta? Ela pode ser percebida na forma como os crentes se
relacionam com Deus. Eles creem que foram salvos pela graça, mas vivem
no seu dia a dia se relacionando com Deus baseados na lei do merecimento.

A doença dos gálatas é que eles misturaram as duas alianças. Eles tentaram
criar um tipo de doutrina que combinava um pouco da graça e um pouco da
lei do Velho Testamento. Observando a forma severa como Paulo tratou
esse problema, podemos concluir que se trata de algo muito perigoso para a
igreja do Senhor. É isso que tem produzido morte dentro da igreja.

Por causa dessa enfermidade espiritual, a vida cristã tem se tornado algo
pesado e cansativo. Eu creio que a origem dessa relação problemática com
Deus é fruto da doença dos gálatas. Essa doença é a mistura da lei com a
graça, a qual. Essa mistura tem produzido morte na panela. E, quando essa
comida é servida, o povo perece.

Observe que, depois de perceberem a morte na panela, Eliseu pediu farinha


e eles trouxeram. Isso significa que eles tinham farinha para fazer comida.
Por que, então, usaram uma videira selvagem se poderiam ter usado a
farinha?

• Queriam comer algo diferente. Isso é um espírito novidadesco. Não


estavam realmente insatisfeitos com a comida que tinham, mas eram
influenciados por desejo de novidades.

• Estavam cansados da comida que tinham. Como o povo no deserto,


estavam cansados do maná. Quando saímos procurando por novidades,
certamente encontraremos trepadeiras.
• Queriam oferecer uma comida especial diferente do habitual. Sempre
que pregamos para agradar, colocamos morte na panela. Sempre que
desejamos que a nossa pregação pareça única e totalmente original,
corremos o risco de colocar um ingrediente de morte na panela.

• De forma tola, simplesmente usaram para comer o que não


conheciam. A última possibilidade é que simplesmente eram ingênuos e
não conheciam aquele alimento. O homem de Deus precisa conhecer qual
alimento usar. Aqueles líderes que não estão qualificados não podem
decidir que comida liberar para a congregação ou para a célula.

Precisamos ser absolutamente cuidadosos com aquilo que nos alimenta.


Não podemos comer todo alimento que é servido em nome de Deus.
Existem muitas pregações fantásticas, ensinos arrebatadores – os quais
mexem com as emoções e sacodem as nossas estruturas – que estão
contaminadas por veneno perigoso.

O diabo gosta de citar a Bíblia, ele a citou para Jesus no deserto, porém ele
usa a Bíblia contra a Bíblia. Ele a usa para nos tentar e a cita fora do
contexto, por pretexto; cita pela metade, torcendo o seu sentido. Assim,
nem toda pessoa que menciona a Bíblia prega a Bíblia. A Bíblia na mão do
diabo não é palavra de Deus, é palavra do diabo, é tentação (Mt 4.1-10).

Nossas melhores intenções não transformam a natureza do alimento que


recebemos. Minha intenção não altera a qualidade do alimento que recebo.
A sinceridade não nos isenta das consequências de sinceramente comermos
o veneno. O fato de você não saber que um alimento é venenoso não o torna
saudável.

A morte na panela é removida pela farinha


No livro de Levítico, temos a descrição de cinco ofertas. Dessas cinco,
quatro são um tipo da morte do Senhor, mas há uma que representa a sua
vida, é a oferta de manjares.
Quando alguma pessoa fizer oferta de manjares ao SENHOR, a sua oferta será de flor de farinha;
nela, deitará azeite e, sobre ela, porá incenso. (Lv 2.1)
O primeiro elemento é a fina flor de farinha. Essa farinha é completamente
pura, suave e macia. Nela, não há nada grosseiro ou irregular. No Senhor,
não havia nada grosseiro em suas palavras ou maneiras. Nenhuma
característica n’Ele prepondera. Quando é firme, Ele não fere. Quando está
servindo e lavando os pés, Ele não é servil, ainda há realeza n’Ele. É
verdadeiro, mas gentil. Algumas pessoas são gentis às custas da verdade.
Elas não dizem a verdade para parecerem agradáveis. Outras são muito
sinceras, mas sem amor. Ele, porém, fala a verdade em amor.

Jesus é farinha fina e, sobre essa farinha, o óleo era derramado. O óleo é o
Espírito Santo. Isso aponta para a sua vida terrena. Ele é uma farinha fina
que é cheia do Espírito Santo. Toda palavra e toda ação foram motivadas
pelo Espírito. Depois, era acrescentado o incenso. Isso significa que todo
pensamento, toda palavra e toda ação subiam como um doce perfume diante
de Deus. Ele era perfeitamente agradável a Deus.

Quando Eliseu manda trazer farinha, isso aponta para Cristo. Quando
servimos Cristo como pão, a comida que servimos não pode fazer mal
nenhum. Precisamos ter o Senhor como centro das nossas pregações. Tenho
ouvido pregadores que não mencionam o nome do Senhor uma vez sequer
em toda a mensagem. Infelizmente, não trazem a farinha que elimina a
morte na panela.

Nossos sermões nunca são perfeitos, portanto estejamos certos de ter o


Senhor Jesus neles, pelo menos isso purificará o restante dos elementos
impuros em nossa pregação. Em todo sermão, há uma opinião humana. Em
todo sermão, há alguma tradição ou uma ignorância sendo manifestada.
Quando, porém, pomos o Senhor Jesus nele, isso purifica o resto da
mensagem. Neste mundo debaixo de maldição, um pouquinho de impureza
compromete todo o alimento, mas o Senhor Jesus é o único que faz o
impuro se tornar puro. E Ele é o único maior que a impureza. Quando Ele
toca o impuro, este se torna limpo.

A multiplicação dos pães


Então, veio um homem de Baal-Salisa, e trouxe ao homem de Deus pão das primícias. (2 Rs 4.42)
O Espírito Santo ligou esses dois milagres, o dízimo e a comunhão, porque
hoje a forma como recebemos de maneira prática a farinha fina é também
por meio da comunhão da ceia.

Em tempos de fome (2 Rs 4.38), veio alguém trazendo as primícias, o


dízimo. E este foi o meio pelo qual aconteceu o milagre da multiplicação.
As primícias deveriam ser entregues ao sacerdote, mas esse homem trouxe
a Eliseu, o profeta.

Há uma mentira que estava acontecendo pouco antes da partida do apóstolo


João. A propósito, ele viveu uma vida longa e escreveu três epístolas. João
advertiu sobre os gnósticos, os quais não acreditam que Jesus veio em carne
e osso, mas que Ele é uma consciência cósmica. Segundo o gnosticismo,
cada um tem Cristo dentro de si. É uma questão de voltar-se para dentro e
tocar Cristo, a consciência cósmica. Isso é perigoso. Isso traz morte à alma.

Entretanto, todo espírito que nega que Cristo veio em carne é um espírito
que não é de Deus, é o espírito do anticristo. Toda vez que você tem
comunhão, você se opõe a essa mentira. Há o pão e o vinho, o corpo e o
sangue. Toda vez que participa deles, você quebra o gnosticismo em
pedaços.

O Espírito Santo reuniu essas duas histórias para nos ensinar algo. O
primeiro ensinamento consiste na resposta correta para a época da fome; o
segundo é sobre a provisão. Um homem veio de Baal-Salisa e trouxe ao
homem de Deus o pão das primícias, que é o dízimo, bachurim, em
hebraico. Vinte pães de cevada e grãos recém-amadurecidos em sua
mochila. Eliseu disse: “Dê ao povo, para que coma”. E o servo do homem
de Deus disse: “O quê? Devo colocar isso diante de cem homens? Não é
suficiente para tantas pessoas”. Mas Eliseu disse novamente: “Dê ao povo,
para que coma; pois assim diz o Senhor: Comerão e sobrará”. Então, ele
colocou diante deles, os quais comeram e sobrou, de acordo com a Palavra
do Senhor.

Esta é a razão pela qual a nação, naquela época, estava em um tempo de


escassez, de fome: os dízimos não estavam sendo trazidos. Não era para
serem trazidos nem para o profeta, mas para os filhos de Arão, que, nessa
época, haviam sido expulsos da terra do reino do Norte. As coisas não
estavam mais no seu lugar. Tudo estava em desordem e confusão, por isso
lemos a respeito de um homem que foi sincero: “Ainda quero dar o dízimo,
mas para onde vou?” Ele foi até Eliseu. E não apenas as provisões fluíam,
havia sobras.

Essa história lembra alguma coisa? A Bíblia mostra duas diferenças entre
Jesus e Eliseu: uma é o tamanho do milagre, a outra é o estilo. Eliseu
alimentou cem homens. Nosso Senhor alimentou cinco mil homens, sem
contar mulheres e crianças, o que provavelmente daria de quinze a vinte mil
pessoas, visto que sempre há mais mulheres e crianças do que homens, e
eles tiveram sobras de doze cestos.

Observe que Eliseu precisou dizer: “Assim diz o Senhor”. Jesus não
precisava dizer isso, porque Ele é o Senhor. Eliseu precisou usar o nome do
Senhor. Ele precisou usar a palavra do Senhor, mas Jesus é o Senhor. Ele é a
palavra de Deus que se tornou carne. O nosso Senhor Jesus é a palavra que
Eliseu usou para alimentar as pessoas.

Por que há sobras nos dois casos? Porque Deus quer que você conheça a
sua provisão. A provisão de Deus é sempre maior do que a sua necessidade.
Na casa do Pai, há pão suficiente e ainda há sobra. Sempre excede a sua
necessidade. O amor do nosso Senhor Jesus é tão grande quanto o seu
poder, e não há medida ou fim para Ele. O seu poder é tão grande quanto o
seu amor, incomensurável.

Você sabe onde aconteceu a alimentação dos cinco mil? Em um lugar


deserto. O que é um lugar deserto? O que é deserto para o homem é o
armazém do nosso Deus.

O problema é que, quando você pensa que é capaz, Ele não pode ser a sua
suficiência. Quando você pensa que pode, Ele não pode se apresentar a
você com poder. Quando você pensa que tem a capacidade, Ele deixa de ser
a sua capacidade. Contudo, no momento em que você descansa, Ele se torna
a sua capacidade.

Para toda situação que você enfrentar a partir de hoje, diga: “Senhor, esta é
a sua situação. Este é o seu problema”.
17º Dia

A transformação da alma
A
palavra “transformação” é metamorphos no original e significa que uma
substância é mudada em sua natureza e forma. É uma mudança na natureza
interior que causa uma mudança

na forma, um tipo de mudança metabólica. Não é simplesmente uma


alteração exterior, ela ocorre tanto na constituição interior quanto na forma
externa. No processo de metabolismo, ingerimos uma comida cheia de
vitaminas, que entra em nosso corpo e produz uma mudança química em
nosso organismo. Essa reação química muda a constituição do nosso ser.
Isso é transformação.

Suponha que uma pessoa seja muito pálida, e alguém, desejando mudar o
seu aspecto, lhe aplique alguma maquiagem. Isso produz uma mudança
exterior, mas não é uma mudança orgânica, em sua vida. Como, então, essa
pessoa poderia ter uma face corada? Alimentando-se diariamente com
comida saudável. Quando uma substância orgânica entra no seu corpo, um
composto químico é formado pelo processo de metabolismo. Gradualmente,
esse processo interior mudará a coloração da sua face. Essa mudança não é
exterior, é algo que vem de dentro, o resultado de um processo metabólico.

No processo de metabolismo, um novo elemento adicionado ao organismo


substitui o velho e faz com que ele seja eliminado, algo novo é criado para
substituir o velho elemento, que é levado embora. O metabolismo, portanto,
inclui três itens:

O suprimento de um novo elemento;


A substituição do velho elemento pelo novo;
A eliminação ou remoção do velho elemento.

Qual é o novo elemento que produz essa mudança interior? Cristo. Desde o
momento em que fomos regenerados em nosso espírito, o Senhor deseja
que essa vida continue expandindo-se do nosso espírito para a nossa alma.
Assim, a nossa mente, emoção e vontade podem ser transformadas.
No momento da nossa conversão, o nosso espírito é regenerado e mudado,
mas a nossa mente, emoção e vontade não são transformadas, ainda
permanecem as mesmas. Recebemos Cristo como vida em nosso espírito,
mas agora precisamos tê-lo em nossa alma.

Precisamos que Cristo transborde do nosso espírito para a nossa alma até
que cada parte seja transformada à sua imagem (Rm 12.2; 2 Co 3.18), então
pensaremos como Ele pensa, amaremos como Ele ama e escolheremos
como Ele escolhe. Teremos a semelhança do Senhor em nossa vida prática,
porque nossa alma estará saturada da sua vida.

A transformação pela renovação da mente


Romanos 12 não diz como podemos renovar a nossa mente, mas, em Tiago
1.21, descobrimos que a palavra de Deus salva a nossa alma. A palavra
“salvar” ali é sozo, que significa “restaurar, salvar, curar e renovar”. Ser
salvo aqui é o mesmo que ser transformado.
Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra
em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. (Tg 1.21)

Podemos concluir que a forma como Deus nos transforma é pela sua
palavra. Como renovamos a nossa mente usando a palavra? Simplesmente
recebendo-a.

A primeira maneira de tomarmos a palavra é ouvindo-a. Quando fazemos


isso, estamos renovando a nossa mente e, dessa forma, nos submetendo a
uma mudança metabólica.

Muitas pessoas pensam que ir ao culto na igreja é algo secundário e sem


importância. Isso não é verdade. Quando nos reunimos para ouvir a palavra,
estamos nos alimentando e sendo transformados.

Além de ouvir, precisamos de ter outras práticas relacionadas à palavra,


como vemos em Josué 1.8.
Falar a palavra;
Meditar na palavra;
Praticar a palavra.
Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de
fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-
sucedido. (Js 1.8)

A palavra tem poder para nos transformar quando se torna revelação em


nosso coração. Em Mateus 16.13-17, lemos que Pedro foi transformado
pela revelação e pela confissão. Na Bíblia, a mudança de nome significa
transformação de vida. Antes, ele era Simão, mas se tornou Pedro. Foi sua
confissão e revelação de que Cristo era o Filho de Deus que o transformou
de Simão em Pedro.

Depois, em sua epístola, Pedro nos mostra que a igreja é edificada com
pedras, ou seja, pessoas que são transformadas (1 Pe 2.4-5).

A transformação por contemplar o Senhor


E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)

A palavra “transformar” é metamorphos no original. Essa palavra só


aparece três vezes na Bíblia. Uma, é nos Evangelhos, onde é traduzida
como “transfigurar”, e as outras duas, em Romanos 12 e 2 Coríntios 3.18.
Em Romanos, vemos que a transformação é pela renovação da mente; mas,
em Coríntios, lemos que também é pela contemplação do Senhor.

Paulo diz, em 2 Coríntios 3.18, que precisamos ser espelhos contemplando


e refletindo a glória do Senhor. Um espelho reflete tudo o que contempla.
Quando estamos contemplando o Senhor, nós o refletimos.

O versículo poderia ser parafraseado da seguinte maneira: “Todos nós, com


o rosto desvendado, somos um espelho refletindo a glória do Senhor. E,
quanto mais o refletimos, mais somos transformados na sua própria imagem
refletida em nós”.

O espelho precisa ter o véu removido


Paulo diz que precisamos contemplar o Senhor com o rosto desvendado. Se
um véu for colocado sobre o espelho, nada poderá ser refletido. O que vem
a ser esse véu a que Paulo se refere?

Hebreus 10 fala de um véu, mas ali é o véu da parte interna do Tabernáculo


(Hb 9.3), enquanto o de 2 Coríntios 3 é o véu posto sobre o rosto de Moisés
(v. 13). Este é o sentido literal. Mas o que ele significa para nós hoje? O véu
aqui representa a lei.

Se a lei estiver encobrindo o nosso coração, não poderemos refletir a glória


do Senhor e ser por Ele transformados de glória em glória. Lei é o oposto
da graça. Lei é tentar se relacionar com Deus com base na própria
obediência e merecimento, mas a graça é se relacionar pelo favor
imerecido.

O espelho precisa ser posicionado corretamente

O nosso coração precisa estar voltado para o Senhor de modo a podermos


contemplá-lo com o rosto desvendado. Um espelho precisa estar voltado na
direção do seu rosto para que possa refleti-lo.

O mesmo princípio se aplica ao Senhor, podemos ter o véu retirado, mas


isso não adiantará coisa alguma se o espelho está focalizado em outra
direção.
Contemplar o Senhor é investir tempo com todos os tipos de oração:
petição, súplica, louvor, adoração, consagração, entrega, intercessão,
meditação, ações de graças e tudo mais. Isso é o mesmo que direcionar
apropriadamente o espelho da nossa alma.

O Salmo 115.8 diz que nos tornamos semelhantes àquilo que adoramos.
Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e quantos neles confiam. (Sl 115.8)
Como uma máquina fotográfica

Paulo diz que somos como espelhos refletindo o Senhor. Na época de


Paulo, não existia nada parecido com uma máquina fotográfica, mas a
ilustração de um espelho que se transforma na imagem que está refletindo é
o mesmo que uma fotografia.
No processo de tirar uma foto, quatro elementos são necessários: luz, lente,
diafragma e filme.

A luz é o meio pelo qual o cenário é trazido para dentro da câmara. Na


esfera espiritual, a luz é o desvendar do Espírito Santo explodindo
revelação em nosso interior.

O segundo elemento é a lente. Uma vez que temos luz, necessitamos da


lente, que aponta para a nossa mente. Se a nossa mente não compreender,
nada pode entrar em nós.

Além da lente, ainda precisamos do diafragma. É ele que se abre e fecha


fazendo o click. O diafragma aponta para o nosso coração. Se o coração não
abrir, a luz de Deus não entra, ainda que a lente da nossa mente possa
compreender.

Por fim, temos o filme, que é a nossa alma. É em nossa alma que a imagem
de Deus fica impressa. O nosso espírito foi criado para conter Deus, mas a
nossa alma foi criada para refletir a sua imagem.

Dia e noite, precisamos nos abrir para o Senhor e, então, Cristo, o cenário
celestial, será impresso em nós repetidamente de forma cada vez mais clara
e nítida.

18º Dia

A verdadeira transformação
P

aulo diz, em 2 Coríntios 3.18, que precisamos ser espelhos contemplando e


refletindo a glória do Senhor. Um espelho reflete tudo o que contempla.
Quando estamos contemplando o
Senhor, nós o refletimos.
E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Co 3.18)

O versículo poderia ser parafraseado da seguinte maneira: “Todos nós, com


o rosto desvendado, somos um espelho refletindo a glória do Senhor. E,
quanto mais o refletimos, mais somos transformados na sua própria imagem
refletida em nós”.

Tenha o rosto desvendado


Paulo começa dizendo: “E todos nós, com o rosto desvendado [...]”. Se
você quer mudança, precisa tirar o véu do rosto. Só há transformação para
quem tirou o véu. Se um véu for colocado sobre o espelho, nada poderá ser
refletido. Paulo diz que precisamos contemplar o Senhor com o rosto
desvendado.

O que vem a ser esse véu a que Paulo se refere? Há dois tipos de véus
mencionados no Novo Testamento. Hebreus 10 fala de um véu, mas ali é o
véu da parte interna do Tabernáculo (Hb 9.3), enquanto o de 2 Coríntios 3 é
o véu posto sobre o rosto de Moisés (v. 13).

O primeiro, mencionado em Hebreus, refere-se ao véu que separava o lugar


santo do santo dos santos. É o véu que se rasgou de alto a baixo no dia em
que Jesus disse: “Está consumado”. Este é o véu da separação. O fato de ter
sido rasgado significa que não há mais separação entre você e Deus, você
foi aproximado pelo sangue de Jesus, os seus pecados foram cancelados,
não há mais dívida diante de Deus e você agora pode entrar com ousadia no
santo dos santos para encontrar graça diante de Deus.

Esse, porém, não é o véu mencionado por Paulo. Pelo contexto, lemos, no
verso 13, que Moisés punha um véu sobre a face para que os filhos de Israel
não atentassem na terminação do que se desvanecia. Era a glória da Velha
Aliança que estava passando e, para que ninguém percebesse, Moisés
colocava esse véu, que simboliza a lei do Velho Testamento. Assim, tirar o
véu significa ser liberto da lei.
O que é a lei? Lei é tudo o que eu faço com o objetivo de conquistar o favor
de Deus. Lei é tentar merecer o favor de Deus. Em outras palavras, na lei, a
bênção é de acordo com o seu esforço, com o seu merecimento. Todos os
que vivem com base no merecimento ainda estão vivendo na lei. A ideia é
que eu preciso cumprir todas as condições para então merecer a bênção.

Aqueles que vivem assim ainda estão com o véu sobre o rosto e por isso são
incapazes de contemplar a glória de Cristo. Enquanto está com o véu, você
está pensando que pode se transformar. Quem vive pela lei pensa que tudo
depende de si mesmo. Tenta ser diferente na força do braço. Isso tudo é
Velho Testamento. Por isso Paulo diz: “Tire o véu e venha viver pela justiça
de Cristo em você”.

Você não precisa mais cumprir a lei para ser aceito diante de Deus.
Ninguém jamais cumpriu a lei, pois, pela lei, nenhum homem jamais foi
justificado. Hoje, na Nova Aliança, Cristo já cumpriu a lei por você e o fez
participante da sua justiça. Hoje você é justo, não porque cumpriu a lei
obedecendo a todos os mandamentos, mas porque ganhou o dom da justiça.
Cristo se tornou a sua justiça. Precisamos ter revelação dessa verdade.

O verso 16 diz que, quando o coração “se converte ao Senhor, o véu lhe é
tirado”. O nosso coração precisa estar voltado para o Senhor de modo a
podermos contemplá-lo com o rosto desvendado.

Um espelho precisa estar voltado na direção do seu rosto para que possa
refleti-lo. O mesmo princípio se aplica ao Senhor, podemos ter o véu
retirado, mas isso não adiantará coisa alguma se o espelho está focalizado
em outra direção. Precisamos olhar unicamente para o Senhor.

Para sermos transformados, precisamos contemplar o Senhor, o problema é


que ainda somos muito distraídos pela lei do Velho Testamento e pelos
profetas. Vemos os servos, mas, em grande medida, ignoramos o Senhor
dos servos.

A Palavra de Deus diz que Jesus levou Pedro, Tiago e João a um alto monte
e foi transfigurado diante deles, os quais viram a glória do Senhor
resplandecendo como o sol ao meio-dia. Deveriam contemplar o Senhor,
mas Elias e Moisés apareceram naquele momento. Pedro, então, sugeriu
fazer três tendas, uma para Jesus, outra para Moisés e outra para Elias (Mt
17.1-8). Isso significa que eles ficaram mais encantados com Moisés e Elias
do que com o Cristo em glória.

Moisés representa a lei, e Elias aponta para os profetas. Antes que Pedro
terminasse de falar, o Pai disse do meio de uma nuvem luminosa: “Este é o
meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mt 17.5).

Isso significa que não precisamos mais ouvir nem Moisés e nem Elias, mas
apenas Cristo. Moisés deu a lei que mostrou o pecado do homem, e os
profetas trouxeram o homem de volta para Deus, mas hoje é o tempo do
Filho de Deus.

Aquela nuvem brilhante era a shekinah, a mesma nuvem que veio sobre o
Tabernáculo e o Templo. É interessante que, quando a lei foi dada, houve
trevas e escuridão, mas agora a glória brilhante resplandece em Cristo.
Visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado. (Rm 3.20)

Você precisa ter clareza de que, pela lei, não vem o conhecimento da
santidade, mas o conhecimento do pecado. A lei não tem poder de nos fazer
santos. A justiça hoje é um dom que nos é dado à parte da lei.

Diante de Cristo, a lei e os profetas não têm mais nada a dizer. O texto diz
que, quando os discípulos ouviram a voz do Pai, eles caíram de bruços,
tomados de grande medo. E, quando levantaram os olhos, a ninguém viram,
senão Jesus. Moisés se foi e Elias também, eles viram somente Jesus. Este
deve ser o centro de nossa mensagem (Mt 17.8). O Pai disse que
deveríamos ouvir somente Jesus, e não Moisés e Elias.

Contemple o Senhor
Na Velha Aliança, a transformação dependia exclusivamente do esforço do
homem para cumprir a lei, por isso ninguém conseguiu; mas, na Nova
Aliança, somos transformados simplesmente por contemplar o Senhor.
Precisamos ficar impressionados com o fato de que a verdadeira mudança
consiste apenas em contemplar. Não existe nenhuma obra humana
envolvida. É algo que acontece inteiramente pela fé e pelo desfrutar de
Cristo.

Contemplar, porém, é muito mais que simplesmente olhar algo, é ter uma
atitude semelhante àquele que fica extasiado diante de uma paisagem. Ele
fica deslumbrado e gostaria que mais pessoas pudessem ver o que ele está
contemplando.

Muitas pessoas olham com indiferença para o Cristo de Deus. Quem olha
com indiferença não pode ser mudado. Quem é transformado é só aquele
que tem sido atraído por Ele, que tem ficado embevecido, deslumbrado,
encantado e fascinado com a palavra, com a verdade, com o caráter e com a
glória.

Contemplar a formosura do Senhor não é como contemplar um quadro


religioso; antes, é contemplar um quadro que é pintado com a sua palavra,
mostrando o seu amor, a verdade do evangelho e a Graça que se fez gente.
Quando você contempla, inevitavelmente será mudado. Algo de glória será
acrescentado em sua vida.

Quando adora com sinceridade, você contempla. Quando ora, você


contempla. Quando medita e o seu coração é incendiado, você contempla.
Quando ouve a ministração da palavra viva e tem os olhos abertos, você
contempla. Semana após semana, quando somos lavados pela palavra, a
ruga do pecado a da morte vai sendo removida de nós e nos tornamos
semelhantes a Cristo, de glória em glória.

Tire os olhos de si mesmo


Não basta tirar o véu, não basta contemplar, é preciso contemplar apenas o
Senhor. Nesse ponto, precisamos nos opor frontalmente ao ensino de que
somos mudados quando olhamos para nós mesmos. Isso é uma mentira
maligna disseminada no mundo, e muitos caíram no engano de trazer a
psicologia para dentro da igreja.
O diabo quer desviar a nossa atenção de Cristo e colocá-la em nós mesmos.
Pensamos que, se nos olharmos, analisarmos e nos conhecermos,
poderemos ser mudados, mas não é essa a verdade do evangelho, somos
mudados apenas se olharmos para Cristo.

Olhar para si mesmo continuamente é chamado de introspecção. Quem vive


se olhando e se analisando acredita que pode mudar a si mesmo, mas a
verdade é que a introspecção produz apenas desânimo e condenação.

Quanto mais você olha para si mesmo, menos fé você tem. Quanto mais
consciente você fica de si mesmo, mais sentirá condenação e angústia. Nós
só podemos ter fé quando olhamos para Cristo.

Infelizmente, muitos crentes acreditam que a psicologia tem o poder de


mudar o homem. De forma bem geral, podemos dizer que a psicologia
ensina que você é o que é hoje porque existe algo que aconteceu no passado
que ainda afeta o seu presente. Se você pudesse lembrar, então seria
mudado. Assim sendo, é só fazermos uma regressão, uma terapia até nos
lembrarmos de tudo e seremos transformados.

Tudo isso é apenas obra humana. Se a psicologia pudesse mudar o homem,


o Senhor Jesus não precisava ter vindo.

A máxima filosófica “Conhece-te a ti mesmo” não é bíblica. Jesus disse que


a vida eterna é esta: “que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a
Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Só podemos ser mudados quando conhecemos a Cristo. Olhar para si


mesmo só produz depressão e desespero em alguns e sentimento de justiça
própria em outros.

Psicologia é o homem tentando mudar o homem, mas a verdadeira mudança


só acontece pelo poder do evangelho. Paulo diz que o evangelho é o poder
de Deus para a salvação de todo o que crê (Rm 1.16). A palavra “salvar” é
sozo no grego e significa não apenas ser salvo do inferno, mas também ser
transformado e restaurado.
O evangelho é olhar para Cristo e ser transformado, e não viver mergulhado
na introspecção, olhando o tempo todo para si mesmo. A introspecção nos
paralisa, pois estamos sempre nos olhando para ver se há algum pecado, se
estamos na carne ou no espírito, se tudo está correto em nós, se oramos o
suficiente, se estudamos o suficiente, se fizemos tudo o suficiente.

Por que muitos não conseguem avançar? Porque estão o tempo inteiro se
questionando sobre si mesmos. Se eu ficar o tempo inteiro olhando para
mim, não vou conseguir fazer nada. Uma das coisas mais terríveis é ficar
consciente de si mesmo o tempo todo.

Quem vive assim está sempre com a alma cansada. Ser crente assim é
extenuante. Jesus disse que, para você herdar o reino, precisa ser como
criança. A criança nunca se olha, nunca está consciente de si, por isso ser
criança é ser sempre livre. Ela não está se olhando e se vasculhando.

Então, será que devemos ignorar quando algo está errado conosco? Claro
que não. Entretanto, nem precisamos nos preocupar, pois o Espírito mesmo
vai falar conosco quando algo precisar ser corrigido. O padrão bíblico é:
“Senhor, tu me sondas; tu me conheces; tu vês se há em mim algum
caminho mau; e o Senhor me guia pelo caminho eterno” (Sl 139.23-24). No
entanto, alguns irmãos mudaram completamente o conceito bíblico. Veja
como eles confessam o versículo: “Eu me sondo; eu me conheço; eu vejo se
há em mim algum caminho mau; eu me guio pelo caminho eterno”.
Desvirtuam a palavra de Deus para o seu próprio sofrimento.

Mas a palavra de Deus não diz que devemos examinar a nós mesmos, por
exemplo, antes de participarmos da ceia? Sem dúvida, 1 Coríntios 11.28
diz: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba
do cálice”.

Todavia, para entender esse “examine-se a si mesmo”, você precisa


entender o contexto. Os irmãos da igreja de Corinto tinham um problema,
eles ficavam bêbados no dia da ceia. Consegue imaginar algo assim? Paulo,
então, lhes diz:
Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até
que ele venha. Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu
do corpo e do sangue do Senhor. (1 Co 11.26-27)
O que significa a expressão “indignamente”? É um advérbio de modo, é a
maneira como se faz algo. Não é a pessoa que é indigna, é a maneira como
ela está agindo. Paulo não disse que eles deveriam observar se eram dignos
de participar da ceia. Ele disse que deveriam avaliar se estavam fazendo de
uma maneira reverente e correta.

Muitos, porém, interpretam mal o versículo e transformam o dia da ceia em


uma reunião de introspecção. O pastor pega o pão e o cálice e pergunta aos
irmãos: “Será que você é digno de comer deste pão e beber deste cálice?”
Qualquer pessoa minimamente honesta reconhecerá que não é digna de
participar da mesa do Senhor.

É óbvio que ninguém é digno, não há um sequer que seja digno. A Bíblia
diz que não se achou nos céus, nem na terra e nem debaixo da terra alguém
digno. João chorava, mas o ancião falou: “Não chore, porque o Cordeiro, o
Leão da Tribo de Judá, venceu e Ele vai abrir o livro, porque Ele é digno.
Só Ele é digno” (Ap 5.1-5).

Esse desejo de merecer a bênção é viver na lei do Velho Testamento. A


introspecção mata, por isso a ceia é dia de morte para muitos.

Deslumbrados com o Senhor


Como cristãos, precisamos ser como turistas loucos para ver a mais bela
paisagem. Outro dia, fui ao Grand Canyon. Precisei me esforçar para chegar
lá. Paguei por uma vã, depois paguei por um helicóptero para chegar ao
lugar e ficar extasiado com a paisagem. Entretanto, diante daquela
paisagem, o guia me disse: “Este ainda não é o melhor lugar. Há um ponto
ainda mais extraordinário, mas é muito difícil chegar até lá”.

Eu estava disposto a pagar para chegar até aquele ponto. Precisamos ser
como turistas loucos para ver o Senhor. Quando achamos que já vimos algo,
ansiamos loucamente por mais. Não importa o preço, não importa a
dificuldade, eu quero vê-lo.

Nós somos transformados apenas por contemplar a glória do Senhor.


Contemplar é algo que não exige esforço humano. Eu preciso apenas me
disciplinar para não ser distraído por outras coisas enquanto estou
contemplando.

Na Nova Aliança, não somos mudados pelo nosso esforço, mas apenas por
olhar para Jesus. Quando as pessoas o contemplam, elas são transformadas.
E somos transformados de glória em glória. Nós podemos crescer nessa
glória, basta que tenhamos os olhos abertos para contemplar o Senhor.

Não pense que você é transformado por contemplar a si mesmo e se


penalizar por todos os defeitos que possui. Nada disso. O que você faz não
define quem você é. Você é aquilo que Deus diz que você é.

A glória é a própria imagem do Senhor. Na Nova Aliança, você não é


transformado pelo seu esforço, nem pelo quanto se empenhou em cumprir a
lei. Na Nova Aliança, você é transformado sem esforço, é algo que acontece
de forma espontânea pelo poder de Deus. Tudo o que temos de fazer é
contemplar, ficar embevecidos, deslumbrados, embasbacados diante da
formosura do Senhor. Se você contempla o Senhor da glória, algo da sua
glória é transmitido a você. É um pouco de glória hoje, outro tanto amanhã,
até que sejamos completamente tomados pela plenitude de Deus.
Em Marcos 4, Jesus disse:
O reino de Deus é assim como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se
levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como. A terra por
si mesma frutifica: primeiro a erva, depois, a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga. (Mc 4.26-28)

A terra é o seu coração, e a semente é a palavra de Deus. A sua parte é só


plantar, dormir e acordar, dormir e acordar, até que a semente da palavra
germine para a vida eterna.

Basta apenas ser semeado, pois não é o seu esforço que vai produzir
mudança. Ninguém vai se gloriar diante de Deus naquele dia, dizendo: “Eu
me esforcei, trabalhei muito e me disciplinei, por isso fui transformado”.
Ninguém poderá dizer isso.

O testemunho de todo salvo será completamente diferente, pois dirá: “Eu


nem sei como aconteceu. Eu acordei e estava diferente”. Este é o
cristianismo do Novo Testamento. Não é fruto seu, é fruto do Espírito de
Deus. Não é obra sua, é obra do poder de Deus. Não é você que faz, é Ele
que vai realizar.

19º Dia

A fé correta produz o comportamento correto


A

s pessoas estão acostumadas a pensar no cristianismo como uma religião,


mas o cristianismo não é uma religião. Evidentemente, nós falamos às
pessoas de fora como se fosse, para que possam entender, mas a verdade é
que o cristianismo não é uma religião.

Cristianismo é crer corretamente. Não é, antes de tudo, uma questão de se


comportar corretamente, mas de crer corretamente. Obviamente, teremos
um comportamento correto, porém apenas como resultado de crer
corretamente.

Crer corretamente é importante porque a sua fé afeta o seu espírito, corpo,


alma, vida financeira, familiar, profissional, enfim cada aspecto da sua vida.
Todo comportamento é resultado de uma crença.

Uma crença errada sempre vai produzir um comportamento errado.


Costumo dizer que não existe teologia neutra, pois aquilo em que cremos
sempre vai produzir um estilo de vida como resultado.

Dessa forma, se queremos ser transformados, precisamos mudar a nossa


crença. Esse processo de mudança de crença é uma mudança de mente, que
a Palavra de Deus chama de arrependimento. A palavra “arrependimento”
no grego é metanóia, que literalmente significa “mudança de mente,
mudança de ideia”.
Viva no arrependimento
O que é o arrependimento genuíno? O arrependimento verdadeiro é uma
questão de mudança de mente. É uma mudança radical de entendimento e
opinião. Quando renovamos a nossa mente com a palavra de Deus, estamos
nos arrependendo.

Em Lucas 15, o Senhor contou uma parábola para ilustrar o


arrependimento:
Então, lhes propôs Jesus esta parábola: Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e
perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até
encontrá-la? Achando-a, põe-na sobre os ombros, cheio de júbilo. E, indo para casa, reúne os amigos
e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos que,
assim, haverá maior júbilo no céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos
que não necessitam de arrependimento. (Lc 15.3-7)

A Parábola das Cem Ovelhas é uma ilustração do verdadeiro


arrependimento. Entretanto, é interessante que nada nos é dito sobre a
ovelha, senão unicamente sobre o pastor. É o pastor que sai para procurar a
ovelha; ele é que deixa as outras noventa e nove no aprisco; é ele que a
coloca nos ombros e a carrega; e depois é o pastor que se alegra com os
amigos.

Onde fica a ovelha nessa história? Não é ela que precisava de


arrependimento? A única atitude da ovelha foi a de se deixar ser levada de
volta para casa. Ela simplesmente se entregou ao pastor. O Senhor disse que
esse é o verdadeiro arrependimento.

Para se permitir ser levada, a ovelha precisa reconhecer que está perdida.
Ela precisa perceber o amor do pastor e desejar voltar para casa. O resto do
trabalho é do pastor, e o pastor aqui é o próprio Senhor Jesus.
É interessante ler na Palavra de Deus que Judas se arrependeu depois de ter
traído Jesus. Certamente, foi mais um tipo de remorso do que
arrependimento, mas ele até devolveu as moedas e reconheceu que havia
traído sangue inocente. Apesar disso, ele se perdeu porque tomou a justiça
sobre si mesmo e se enforcou. Podemos dizer que ele não se permitiu ser
levado pelo bom pastor. Ele se enforcou pendurado numa árvore sem saber
que, poucas horas depois, o Filho de Deus seria pendurado no madeiro para
salvá-lo (Mt 27.3-5).

No Velho Testamento, os ninivitas se arrependeram porque Jonas disse que


a cidade seria destruída em três dias. No Novo Testamento, porém, é a
bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento. Foi o olhar amoroso
de Jesus que conduziu Pedro ao arrependimento.
Ou desprezas a riqueza da sua bondade, e tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de
Deus é que te conduz ao arrependimento? (Rm 2.4)

Observe que Pedro somente chorou depois que viu o olhar de Jesus. Assim,
não foi o choro de Pedro que atraiu o amor de Deus; na verdade, foi o amor
de Jesus que o levou a chorar (Mt 26.75).

No Velho Testamento, o homem precisava se arrepender primeiro e então


Deus o abençoaria; mas, no Novo Testamento, nós provamos primeiro o
amor de Deus e então nos arrependemos.

O arrependimento envolve a tristeza segundo Deus pelo pecado, no entanto


é mais do que isso, é uma mudança de opinião em relação a si mesmo e a
Deus.
Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar;
mas a tristeza do mundo produz morte. (2 Co 7.10)

Em relação a Deus, precisamos reconhecer que Ele nos ama. O Senhor já


nos amava quando vivíamos no pecado e blasfemávamos contra Ele.
Testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor
Jesus Cristo. (At 20.21)

Em relação a nós mesmos, precisamos reconhecer o pecado da justiça


própria. O arrependimento segundo o evangelho é abandonar a ideia de que
possuímos algum merecimento. É, na verdade, um arrependimento de obras
mortas. É reconhecer que boas obras, moralidade ou sacrifícios religiosos
não podem salvar.
Por isso, pondo de parte os princípios elementares da doutrina de Cristo, deixemo-nos levar para o
que é perfeito, não lançando, de novo, a base do arrependimento de obras mortas e da fé em Deus.
(Hb 6.1)
A Palavra de Deus diz que a fé que salva é aquela que Deus justifica o
ímpio. Se não reconhecemos que somos ímpios, então não precisamos de
um salvador.
Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como
justiça. (Rm 4.5)
Lutero dizia: “Senhor, tu és o meu pecado na cruz, e eu sou a sua justiça na
terra”.

Viva pela justiça de Cristo


Pedro cometeu o mesmo pecado de traição de Judas, mas ele se permitiu ser
amado pelo Senhor. Muitos são como Judas, querem fazer justiça punindo a
si mesmos pelos próprios pecados. Quando fazemos isso, estamos
simplesmente andando pela justiça própria. A mãe de todos os pecados é a
justiça própria.

O Senhor Jesus amaldiçoou a figueira porque ela simbolizava a justiça


própria. Num tempo em que deveria estar seca, aquela figueira estava verde
como se tivesse fruto (Mc 11.13-14). A primeira menção de figueira na
Palavra de Deus é quando Adão e Eva tomaram das suas folhas e fizeram
roupas para si. As cintas tipificam as obras humanas tentando se justificar
diante de Deus (Gn 3.7).

Amaldiçoe a justiça própria em sua vida. Renuncie toda justiça própria


diante de Deus e se aproprie da justiça que vem de Cristo.
Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também,
por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos. (Rm 5.19)

Nós nos tornamos pecadores por causa do pecado de um único homem.


Você não é pecador por causa de seus próprios pecados, ainda que
certamente os tenha, mas você é pecador porque herdou a natureza de
Adão.

Isso pode soar injusto para você, uma vez que não nos parece razoável ser
condenados pelo pecado de um homem. Mas Deus mostra a sua justiça nos
fazendo justos por causa da obediência de um só homem. Você se tornou
justo por causa da obediência de Cristo. Do mesmo modo que você herdou
o pecado de Adão, agora você herda a justiça de Cristo.

No tempo em que você era pecador, certamente fazia boas obras, como dar
comida aos pobres, ajudar os enfermos e coisas afins. Essas boas obras o
faziam justo diante de Deus? Certamente não. Você ainda era um pecador.
Existem pecadores decentes e existem pecadores realmente malignos, mas
são todos pecadores. Não adianta ficar medindo a iniquidade dos pecadores
porque todos eles estão mortos e ninguém pode estar mais morto que outro.
Todos necessitam igualmente receber a vida de ressurreição.

O que o primeiro Adão fez foi tão poderoso que você não pode desfazer
pelas suas próprias obras. Entenda que as suas boas obras não podiam
mudar o seu status de pecador. Quando você fazia boas obras, ainda
continuava sendo um pecador. O mesmo princípio continua valendo depois
que você recebe a justiça de Cristo. Uma vez que recebe a justiça, já não é
mais pecador. Ainda está sujeito ao pecado e ainda pode pecar, mas não é
mais pecador. O pecado não pode mais mudar a sua posição de justo. O
poder do pecado não é maior do que o poder da justiça de Cristo que nos foi
dada.

Nunca julgue a sua posição pelo seu comportamento, mas sempre julgue o
seu comportamento baseado na sua posição. A sua posição é que você é
justo em Cristo, então declare que o seu comportamento errado é agora
inadequado para alguém justo como você. Mas nunca faça o contrário, não
rejeite a sua posição de justo porque você pecou.

Isso não é um tipo de licença para pecar. Em primeiro lugar, porque a força
do pecado não é a graça, e sim a lei. E também porque o pecado não tem
mais domínio sobre aqueles que estão debaixo da graça.
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça. (Rm
6.14)

O problema é que pensamos que somos justos apenas quando confessamos


o nosso pecado. Evidentemente, devemos confessar quando pecamos, mas a
confissão não nos faz justos, nós já fomos feitos justos pelo sangue de
Jesus.
Rejeite toda introspecção
Muitos ficam todo o tempo se analisando para ver se acham alguma justiça
neles mesmos, mas, ao fazerem isso, caem na arapuca da introspecção.
Ficar se olhando e se analisando o tempo todo produz apenas angústia e
morte. A introspecção é um tipo de justiça própria. É a carne tentando se
melhorar. É o homem pensando que pode se transformar pelo próprio braço.

O diabo procura nos levar a ficar ocupados com nós mesmos, olhando-nos e
nos analisando o tempo todo. O resultado disso é sentimento de culpa,
depressão, desânimo e incredulidade. Mas o alvo de Deus é que olhemos
para Cristo.

Quanto mais olhamos para Cristo e nos esquecemos de nós mesmos, mais
somos cheios de vida e também somos transformados de glória em glória.
Precisamos entender que é a justiça d’Ele que nos faz justos, e não o nosso
próprio bom comportamento e boas obras.

O diabo sempre nos dirá: “Olhe para você. Você não obedeceu o suficiente.
Como pode crer em Deus para receber cura? Como pode crer em Deus para
prosperidade? Você desobedeceu. Você já não é mais justo diante de Deus”.
É nesse momento que precisamos trazer todo pensamento à obediência de
Cristo.
Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas,
anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo
todo pensamento à obediência de Cristo. (2 Co 10.4-5)

Não é que nós trazemos o nosso pensamento para obedecer a Cristo. Não é
isso que o texto diz. É trazer todo pensamento à obediência de Cristo. A
obediência é de Cristo, e, porque Ele obedeceu, eu fui feito justo pela fé.
Agora toda fortaleza maligna é quebrada por causa da obediência de Cristo.

Descanse no seu representante


O diabo é o acusador. Quando você obedece, ele diz que você não obedeceu
o suficiente; e, quando você desobedece, ele o condena. Precisamos ter em
mente que, assim como Cristo é, nós somos neste mundo.
Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois,
segundo ele é, também nós somos neste mundo. (1 Jo 4.17)

Depois que foi assunto ao céu, o Senhor se tornou o nosso sumo sacerdote.
E o que Ele está fazendo agora? Hebreus 1.3 diz que, depois que o Senhor
fez a purificação dos pecados, Ele se assentou à destra da majestade nas
alturas. Ele se assentou porque a sua obra está completa. Ele está sentado
como sumo sacerdote por causa de nós.

O profeta fala de Deus aos homens, mas o sacerdote fala dos homens a
Deus (Hb 5.1). O sacerdote representa o homem diante de Deus. É claro
que o Senhor Jesus também é profeta, mas Ele está sentado como sumo
sacerdote em nosso favor. Ele nos representa diante de Deus.
Porque todo sumo sacerdote, sendo tomado dentre os homens, é constituído nas coisas concernentes a
Deus, a favor dos homens, para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados. (Hb 5.1)

Deus sempre trabalha com representantes. Quando Davi venceu Golias, a


sua vitória foi a vitória de todo o Israel. Não era necessário que todo o
Israel lutasse, eles tinham um representante.

O mesmo princípio se aplicava ao sacerdote. Ele representava todo o povo


diante de Deus. Em Israel, havia um dia do perdão nacional, era chamado
de Dia da Expiação. Nesse dia, o sumo sacerdote entrava no santo dos
santos do templo para fazer a expiação dos pecados da nação.

Se o sacerdote entrasse no santo dos santos e caísse morto ali, ele seria
arrastado para fora e toda a nação saberia que Deus os havia rejeitado. Eles
agora teriam um ano ruim, com derrota para os inimigos, seca e fome.
Todavia, quando o sumo sacerdote saía do santo dos santos vivo, ele erguia
a sua mão para abençoar a nação, e agora eles sabiam que Deus os havia
aceitado e teriam um grande ano, com chuva e abundância. O que Deus
estava dizendo é que, se o seu sumo sacerdote é bom, você estará bem. Se o
sumo sacerdote é aceito, você é aceito também.

Entretanto, o que acontecia naquele tempo é que os bons sumo sacerdotes


envelheciam e morriam. É por causa disso que a segurança no Velho
Testamento não era permanente. Aquele bom sumo sacerdote ficava velho,
e as pessoas olhavam temerosas para o seu filho que o sucederia e que não
tinha um bom comportamento. Agora, porém, nós temos um sumo
sacerdote que vive para sempre. Quando o sumo sacerdote é aceito, nós
somos aceitos também, e hoje o nosso sumo sacerdote é Jesus.

João diz que, como Ele é, nós somos neste mundo (1 Jo 4.17). Se Ele é
aceito por Deus, nós também somos aceitos. Se Ele é justo, nós também
somos justos. Se Ele é saudável, nós também somos neste mundo. Se Ele é
próspero, nós também somos. Se Ele está debaixo do favor de Deus, nós
também estamos.

Sei que são afirmações poderosas, as quais eventualmente são confrontadas


pelas nossas circunstâncias. Se você está doente, lembre-se de que a sua
doença é um fato, mas a verdade é maior do que o fato. É um fato que você
está enfermo, mas a verdade é que Cristo já levou na cruz as nossas
doenças. Fique com a verdade e rejeite o fato. O fato é momentâneo, mas a
verdade é eterna.

No Velho Testamento, o sumo sacerdote precisava usar uma roupa especial


e uma mitra na cabeça. Cada peça do vestuário do sacerdote tem uma
maravilhosa relação com a redenção, mas, na frente de sua testa, havia uma
placa de ouro na qual estava escrito: “Santidade ao Senhor”. Qual o ensino
espiritual aqui? A resposta está em Êxodo 28.38.
E estará sobre a testa de Arão, para que Arão leve a iniquidade concernente às coisas santas que os
filhos de Israel consagrarem em todas as ofertas de suas coisas santas; sempre estará sobre a testa de
Arão, para que eles sejam aceitos perante o SENHOR. (Êx 28.38)

Essa placa indicava que os pensamentos do sumo sacerdote deveriam ser


sempre santos ao Senhor. Muitos não sabem, mas, mesmo nos momentos de
adoração, existe iniquidade em nossa ministração. Mesmo naqueles
momentos em que pensamos desfrutar da mais doce intimidade, ainda
existe pecado ali. Contudo, não precisamos parar a adoração preocupados,
pois o nosso sumo sacerdote, Cristo, traz na sua mente a santidade ao
Senhor para que nós sejamos aceitos diante de Deus. Desde que os
pensamentos de Cristo sejam santos, então nós seremos sempre aceitos
diante de Deus. Lembre-se de que Ele é o nosso representante.
O padrão não era: “Se os seus pensamentos forem santos, então você será
aceito”. Em vez disso, Deus diz que, uma vez que os pensamentos do sumo
sacerdote sejam santos, nós seremos aceitos. Como Cristo é eternamente
santo, nós seremos para sempre aceitos diante de Deus.

Temos um sumo sacerdote que se compadece de nós e intercede por nós.


Você sabe por que Deus escolheu Arão e não Moisés para ser o sumo
sacerdote? Isso é curioso porque Moisés era o libertador, o homem que
falava com Deus face a face. Ainda assim, Deus escolheu Arão. Eu creio
que a razão disso é que Moisés nunca havia sido escravo como o povo.
Enquanto todo o povo sofria debaixo da escravidão, Moisés estava no
palácio de Faraó, então ele não podia se identificar com o povo. Por outro
lado, Arão sofreu junto com o povo. O sumo sacerdote precisa ser alguém
que se identifica com o seu povo. Esta é a razão por que Cristo se fez
homem, para ser o nosso sumo sacerdote. Ele nos compreende e nos ama
porque se fez como nós.
Pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água
da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. (Ap 7.17)

Quem nos apascenta não é o grande pastor, mas o Cordeiro. Ele se fez
Cordeiro para que pudesse se compadecer de nós e interceder por nós diante
do Pai. É claro que Ele é o Supremo Pastor, mas Ele só é supremo porque
também é um cordeiro.

20º Dia

O dízimo no tempo da graça


D

eus não precisa do seu dízimo. O Senhor não quer que você dê o dízimo
porque Ele supostamente precisaria do seu dinheiro. Nada disso. O nosso
Deus é rico e nos chamou para a riqueza também. Há muitos que pregam a
graça, mas dizem que as pessoas devem

permanecer pobres. Devemos resistir a todo espírito de intimidação que


queira nos convencer de que a pobreza é o melhor de Deus para nós. Não é.

O diabo não quer que a igreja prospere, porque uma igreja próspera pode
fazer muito para o reino de Deus. Precisamos rejeitar essa mentalidade de
pobreza.

Riquezas para confirmar a aliança


A nação de Israel é um tipo da igreja no Velho Testamento. Em
Deuteronômio 8, vemos que a vontade de Deus é que não houvesse pobre
entre eles.
Não digas, pois, no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me adquiriram estas riquezas.
Antes, te lembrarás do SENHOR, teu Deus, porque é ele o que te dá força para adquirires riquezas;
para confirmar a sua aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais, como hoje se vê. (Dt 8.17-18)

Não ensinamos que as pessoas devem ser ricas, mas cremos que todo filho
de Deus pode ser próspero. Evidentemente, tornar-se um materialista cheio
de amor ao dinheiro é muito ruim, contudo há pessoas pobres que pensam
em dinheiro o tempo todo. Ser pobre não protege ninguém do materialismo,
e ser rico não significa algo ruim, desse modo, Abraão teria sido o pior de
todos, pois a Palavra de Deus diz que ele era riquíssimo.

Quando o favor e a bênção de Deus vêm, você prospera, mas a advertência


do Senhor é para que não pensemos que foi o nosso braço que nos trouxe a
prosperidade. Não devemos tomar o crédito pela bênção. Devemos nos
lembrar do Senhor.

Creia e espere pelo favor de Deus de forma sobrenatural. Você será


promovido de um nível para outro de prosperidade e riqueza por causa da
mão poderosa do Senhor. Nestes dias, eu creio que o Senhor vai mudar o
nosso patamar de prosperidade. Há uma grande obra a ser feita.
Quem lhe dá o poder de adquirir riquezas? Certamente não é o maligno, ele
quer é roubar de você. Quando, porém, o inimigo não consegue impedi-lo
de prosperar, ele certamente o puxará para o outro extremo, levando-o a
pensar em dinheiro o tempo todo.

E por que o Senhor nos dá riquezas? A resposta é clara: “Para confirmar a


sua aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais”. Esta é a aliança
abraâmica, não é a lei de Moisés. Portanto, aponta para a Nova Aliança,
para a graça. O Senhor quer confirmar a sua aliança em nossa vida.

Para que a aliança seja confirmada e pregada em todo o mundo, é preciso


dinheiro. A salvação é de graça, mas, para que as pessoas recebam a
mensagem, alguém precisa ser enviado e sustentado. Levantar e enviar
pastores custa dinheiro.

Abraão era alguém preocupado sobre quem teria o crédito pela sua
prosperidade e riqueza. Ao rei de Sodoma ele disse: “Nada tomarei de tudo
o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não
digas: Eu enriqueci a Abrão”.

Quando não damos o crédito ao Senhor, deixamos de reconhecer que Ele é


a nossa fonte.

O dízimo honra a sua fonte


E, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem,
tendo sido nomeado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. (Hb 5.9-10)

O Senhor Jesus é sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, e não


segundo a ordem de Levi. Isso mostra o Senhor muito tempo antes da lei.

Alguns acreditam que Melquisedeque era um homem comum, outros creem


que ele era o próprio Senhor Jesus numa teofania, ou seja, uma
manifestação humana no Velho Testamento, mas o que importa realmente é
o que ele representa.

Segundo o sacerdócio levítico, se você obedece, é abençoado; e, se


desobedece, é amaldiçoado; mas, segundo o sacerdócio de Melquisedeque,
você tem apenas a bênção.

A história de Melquisedeque está registrada em Gênesis 14. Abraão estava


voltando de uma batalha contra quatro reis, e Melquisedeque, rei de Salém,
sai ao seu encontro.
Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a
Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o
Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.
Então, disse o rei de Sodoma a Abrão: Dá-me as pessoas, e os bens ficarão contigo. Mas Abrão lhe
respondeu: Levanto a mão ao SENHOR, o Deus Altíssimo, o que possui os céus e a terra, e juro que
nada tomarei de tudo o que te pertence, nem um fio, nem uma correia de sandália, para que não
digas: Eu enriqueci a Abrão. (Gn 14.18-23)

A palavra “Melquisedeque” significa “rei de justiça”, e “Salém” significa


“paz”, então ele era rei de justiça e rei da paz. Este é o Senhor Jesus. Não há
nada aqui relacionado com a lei, mas tudo está conectado com a bênção de
Abraão, a bênção que recebemos hoje pela graça.

Melquisedeque dá a Abraão pão e vinho, que aponta para a ceia. O pão e o


vinho são para a nossa saúde e anunciam a morte do Senhor.
Melquisedeque, então, abençoa Abraão no nome do Deus Altíssimo, El
Elyon, em hebraico. Esta é a primeira menção desse nome de Deus nas
Escrituras. Significa que Ele é o Senhor do céu e da terra. Significa que
Deus é aquele que move as circunstâncias e move eventos em favor dos
seus filhos.

Abraão, portanto, deu o dízimo de tudo. No sacerdócio de Melquisedeque,


existe o pão e o vinho, que apontam para a Nova Aliança, mas possui o
dízimo também. O pão e o vinho anunciam a sua morte, mas o dízimo
declara que Ele vive.

Uma vez que você entende que Jesus é sumo sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque, você sabe que precisa fazer o mesmo hoje. Nós somos
filhos de Abraão. Se, contudo, você ainda não teve essa revelação e não
quer dar o dízimo, então não dê. Somente faça se for fruto de revelação e
não por uma obrigação legalista. Muitos gostam de dizer que o dízimo é da
lei, mas ninguém mandou Abraão dar o dízimo. Ele entendeu por uma
revelação divina que era a coisa certa a ser feita. O mesmo vale para nós
hoje. Não é um mandamento, é fruto de uma revelação de Deus.
Entretanto, não foi apenas Melquisedeque que saiu ao encontro de Abraão,
o rei de Sodoma também foi ter com ele. Evidentemente, o rei de Sodoma
aponta para o diabo. E o que ele diz a Abraão? “Dá-me as pessoas, e os
bens ficarão contigo”. Abraão, então, jurou que jamais pegaria nada que
pertencesse a ele para que não dissesse: “Eu enriqueci a Abraão”. Veja que
Abraão se importava com quem teria o crédito pela sua riqueza e também
mostra que ele queria, sim, ser rico.

Dois reis vieram ao encontro de Abraão: Melquisedeque e o rei de Sodoma.


Ló seguiu o rei de Sodoma, mas Abraão segui o rei de Salém. Abraão
recebeu o pão e o vinho, mas Ló não participou da mesa.

Sabemos que Ló tornou-se alguém importante em Sodoma. Mais tarde,


quando os anjos vieram para destruir a cidade, ele os recebeu na porta da
cidade, este era lugar das autoridades e juízes. No fim, Ló perdeu tudo e
morreu no esquecimento. Abraão, por sua vez, tornou
-se riquíssimo. Ele entregou o dízimo de tudo a Melquisedeque, mas Ló,
que havia acabado de ser salvo e teve a sua própria vida e bens devolvidos,
não entregou coisa alguma.

Quando você dá o dízimo, está reconhecendo quem está por trás da sua
prosperidade e riqueza. O Senhor é a fonte do seu trabalho, saúde, posição e
até do ar que você respira. Os seus dez por cento mostram que você
reconhece que Ele é a fonte.

Lembre-se disso, ninguém mandou Abraão dar o dízimo. Não era uma lei
que ele tinha de obedecer, mas com certeza foi uma revelação que ele
recebeu de Deus.

Tudo o que se relaciona a Abraão está ligado a esse tempo de graça. A


Nova Aliança é uma continuação da aliança com Abraão. É por isso que
Paulo diz que somos filhos de Abraão. O dízimo, portanto, é para os filhos
de Abraão, mas também continuará existindo mesmo na próxima
dispensação.

O dízimo passa por dispensações


Eu sei que há muita gente ensinando que não devemos mais dar dízimo
porque vivemos em outra dispensação, mas hoje eu quero ousar lhe dizer
que o dízimo vai continuar existindo até na mesmo na próxima dispensação,
a do reino milenar.

O contexto de Malaquias 3 é uma profecia a respeito do Messias. Muitos


rejeitam esse texto porque é do Velho Testamento, mas o seu contexto é
totalmente profético.
Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu
templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o
SENHOR dos Exércitos. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir
quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros.
Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata; purificará os filhos de Levi e os refinará como
ouro e como prata; eles trarão ao SENHOR justas ofertas. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será
agradável ao SENHOR, como nos dias antigos e como nos primeiros anos. (Ml 3.1-4)

Esta é uma profecia que aponta para a segunda vinda. O texto diz que o
Senhor virá repentinamente. Ele não veio repentinamente em sua primeira
vinda, mas virá assim na segunda. Portanto, o contexto dessa passagem
aponta para o nosso tempo, Ele virá repentinamente. Isso significa que a
casa do tesouro, mencionada no verso 10, é a igreja.

O verso 2 diz: “Quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá
subsistir quando ele aparecer?” Na sua primeira vinda, as pessoas puderam
suportar, porque Ele veio como bebê, mas, na sua segunda vinda, Ele virá
como juiz.

Assim, o contexto de Malaquias 3 é para hoje, porque vivemos nos últimos


dias. Se, porém, formos a Ezequiel, veremos que haverá ainda o dízimo no
futuro.
O melhor de todos os primeiros frutos de toda espécie e toda oferta serão dos sacerdotes; também as
primeiras das vossas massas dareis ao sacerdote, para que faça repousar a bênção sobre a vossa casa.
(Ez 44.30)

O profeta Ezequiel fala de um templo que existirá durante o milênio. Você


pode ler isso nos capítulos 40 a 44 do seu livro. Nesse tempo, as pessoas
ainda trarão os seus dízimos para a casa do Senhor.
Isso é extraordinário! O dízimo é um princípio espiritual que passa por
dispensações. É a forma que Deus escolheu para que o seu povo demonstre
adoração e reconhecimento de que Ele é a fonte de tudo o que temos.

O dízimo é um ato de fé
Evidentemente, todo materialismo e amor ao dinheiro é maligno, mas não
há nada de errado em querer prosperar e dar o melhor para a sua família. O
Senhor Jesus nos encoraja a dar para recebermos ainda mais.
Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão;
porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também. (Lc 6.38)

Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós,
para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos. (2 Co 8.9)

Todo o contexto de 2 Coríntios 8 e 9 é sobre oferta. A lei da semeadura está


claramente estabelecida no verso 6 do capítulo 9: “Aquele que semeia
pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância
também ceifará”. Não corremos atrás de riqueza, mas sabemos que, quando
ofertamos, receberemos muito mais de volta. O resultado inevitável é a
nossa prosperidade.

A semeadura é o ato de fé por meio do qual demonstramos que realmente


cremos que, pela obra da cruz, fomos enriquecidos. Não ofertamos para ser
ricos, mas porque cremos que já fomos enriquecidos por causa da obra
consumada.

O princípio espiritual é bem claro. Em primeiro lugar, nós já fomos


enriquecidos por causa da pobreza de Cristo na cruz. Em segundo lugar,
uma vez que cremos que já somos ricos, devemos agir como tal, devemos
dar com alegria.

Seja fiel no pouco


Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito.
Se, pois, não vos tornastes fiéis na aplicação das riquezas de origem injusta, quem vos confiará a
verdadeira riqueza? Se não vos tornastes fiéis na aplicação do alheio, quem vos dará o que é vosso?
(Lc 16.10-12)

Você não pode ser um líder na casa de Deus se não é um dizimista. Cremos
assim porque a forma como você lida com o dinheiro fala a respeito do seu
caráter.

O Senhor considera o dinheiro uma ferramenta. Se você é fiel no pouco,


que é ofertar, também será fiel no muito, que é cuidar da casa de Deus.

O Senhor Jesus diz que toda riqueza neste mundo tem uma origem injusta.
De alguma forma, o dinheiro que ganhamos não vem de maneira
completamente correta aos olhos de Deus. O patrão não pagou o imposto
devido, e você recebeu um salário, mas não trabalhou exatamente o tempo
contratado, sempre havia alguma enrolação. No fim, toda riqueza é injusta.

Por isso, o Senhor diz que, se você não é fiel no uso dessas riquezas
injustas, Deus não vai lhe confiar a verdadeira riqueza, que são as almas.
Sei que parece estranho dizer isso, mas muitos líderes não multiplicam suas
células porque não são dizimistas. Não são fiéis no pouco. Na verdade,
existem até mesmo pastores assim, a igreja deles não cresce porque Deus
não lhes pode confiar a verdadeira riqueza, que são as vidas, pois não são
fiéis no pouco. O uso do dinheiro é um grande teste de Deus em nossa vida.

As riquezas injustas
Antes, dai esmola do que tiverdes, e tudo vos será limpo. Mas ai de vós, fariseus! Porque dais o
dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças e desprezais a justiça e o amor de Deus; devíeis,
porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas. (Lc 11.41-42)

De maneira geral, o Senhor diz que o dinheiro é injusto. Há muita


iniquidade associada a Mamom, mas o Senhor diz que, se dermos a oferta,
ela purificará o resto do nosso dinheiro.

Eu costumava dizer que, se um bom homem usa o dinheiro, este se torna


um bom dinheiro; e, se um homem mau usa o dinheiro, ele se torna um
dinheiro ruim; mas Deus não diz assim. O Senhor diz que as riquezas são
injustas. O dinheiro é impuro porque a maneira como ele foi usado em todo
o mundo é injusta.

Então, Deus diz como você pode santificar o dinheiro: se você der as
primícias, o resto dos frutos será santificado. E o que é santificado o diabo
não pode tocar.
E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz,
também os ramos o serão. (Rm 11.16)

Alguém, no entanto, pode dizer que, se você apenas tocar no dinheiro, ele
será santificado, assim como Jesus apenas tocou no leproso e ele foi
purificado. Este é um pensamento errado. Se você pegar na droga, ela não
será santificada; se você dormir com uma prostituta, ela também não será
santificada.

Jesus disse: “Dê esmolas e tudo ficará limpo”. Há alguma coisa que você
deve fazer com o dinheiro. Ele não faz parte de você. Você está limpo, sim.
Você é justo, sim. Mas o dinheiro é injusto. Então, você pega o primeiro
fruto e oferece ao Senhor, e agora o resto se torna santo. O que é santo se
multiplica. O diabo não pode tocar.

21º Dia

Prosperando em tempos de crise


Sobrevindo fome à terra, além da primeira havida nos dias de Abraão, foi Isaque a Gerar, avistar-se
com Abimeleque, rei dos filisteus. Apareceu-lhe o SENHOR e disse: Não desças ao Egito. Fica na
terra que eu te disser; habita nela, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti e a tua descendência
darei todas estas terras e confirmarei o juramento que fiz a Abraão, teu pai. Multiplicarei a tua
descendência como as estrelas dos céus e lhe darei todas estas terras. Na tua descendência serão
abençoadas todas as nações da terra; porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os meus
mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis. Isaque, pois, ficou em Gerar.
Perguntando-lhe os homens daquele lugar a respeito de sua mulher, disse: É minha irmã; pois temia
dizer: É minha mulher; para que, dizia ele consigo, os homens do lugar não me matem por amor de
Rebeca, porque era formosa de aparência. Ora, tendo Isaque permanecido ali por muito tempo,
Abimeleque, rei dos filisteus, olhando da janela, viu que Isaque acariciava a Rebeca, sua mulher.
Então, Abimeleque chamou a Isaque e lhe

disse: É evidente que ela é tua esposa; como, pois, disseste: É minha irmã? Respondeu-lhe Isaque:
Porque eu dizia: para que eu não morra por causa dela. Disse Abimeleque: Que é isso que nos
fizeste? Facilmente algum do povo teria abusado de tua mulher, e tu, atraído sobre nós grave delito. E
deu esta ordem a todo o povo: Qualquer que tocar a este homem ou à sua mulher certamente morrerá.
Semeou Isaque naquela terra e, no mesmo ano, recolheu cento por um, porque o SENHOR o
abençoava. Enriqueceu-se o homem, prosperou, ficou riquíssimo; possuía ovelhas e bois e grande
número de servos, de maneira que os filisteus lhe tinham inveja. (Gn 26.1-14)
A
Palavra de Deus nos mostra que há tempos de fome. Deus não envia ou
inicia a fome. Se assim fosse, isso significaria que no céu haveria fome,
mas sabemos que no céu há abundância. Portanto, a fome não procede do
Senhor, embora Ele certamente

use os tempos de fome para demonstrar os seus recursos ilimitados e expor


as limitações humanas.

Isaque foi alguém que prosperou no meio de um tempo de fome. Não havia
chuva e a semente mirrava sobre a terra, mas ele semeou e colheu cem
vezes mais mesmo no tempo de crise. Isaque é um tipo do crente da Nova
Aliança. Ele não conquistou coisa alguma, mas recebeu tudo de seu pai. Ele
é o símbolo do herdeiro. Todas as coisas foram preparadas para ele
simplesmente porque era filho.
E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa. (Gl 3.29)

Hoje, fomos feitos filhos de Abraão. Estamos em Cristo e por isso somos a
verdadeira semente de Abraão. Somos herdeiros da promessa. Dessa forma,
podemos dizer que somos como Isaque e podemos provar das mesmas
bênçãos que ele experimentou, pois também somos filhos de Abraão.

Nesse texto, encontramos Isaque, o herdeiro da promessa, enfrentando a


fome, mas prosperando muitíssimo mesmo em tempos muito difíceis.
Vamos ver quais princípios espirituais o capacitaram a vencer naquele
tempo de crise.

A herança é nossa, mesmo que ainda não


estejamos na posse dela (vv. 1-5)
Deus disse a Isaque que ele não deveria descer ao Egito, mas deveria ficar
ali, pois aquela terra seria dele. Todavia, naquele momento, Abimeleque era
o rei de Gerar, o lugar onde Isaque habitava. Isso significa que, em algum
momento, Deus iria transferir a posse daquela terra com toda a sua riqueza
para Isaque e a sua descendência.

Transferência de riqueza aconteceu muitas vezes na Bíblia e vai acontecer


novamente em nossos dias. Depois da noite da Páscoa no Egito, Deus
transferiu as riquezas do Egito para Israel.

O Senhor, porém, jamais faz coisa alguma de forma injusta ou ilegal. Ele
não rouba de umas pessoas para dar a outras. Deus não é Robin Hood.
Como Ele pode transferir riquezas? Suponha que você tenha uma casa e
tenha ficado longe por muito tempo. Ao voltar, encontra pessoas que a
invadiram. Você é o dono da casa, mas outros a invadiram, portanto pode ir
à justiça para tê-la de volta. Deus é o dono da terra, mas outros tomaram
posse dela, no entanto Deus continua sendo o proprietário.

A transferência de riquezas acontece em tempos de fome. Foi numa época


de fome que Deus colocou José para ser o segundo na corte de Faraó.

Não desça ao Egito (v. 2)


O Senhor disse a Isaque que ele deveria permanecer na terra, e não descer
ao Egito. Deus somente pode nos abençoar se permanecemos na posição
certa. Qual o significado do Egito?
Porque a terra que passais a possuir não é como a terra do Egito, donde saístes, em que semeáveis a
vossa semente e, com o pé, a regáveis como a uma horta; mas a terra que passais a possuir é terra de
montes e de vales; da chuva dos céus beberá as águas. (Dt 11.10-11)

O Egito é um símbolo da vida natural que não depende de Deus. No Egito,


as pessoas não precisavam depender da chuva do céu, mas dependiam dos
recursos naturais. Eles podiam confiar nos recursos próprios.

No Egito, eles estão no controle da situação, podem plantar com os pés e


depender apenas de seu esforço. Quando dependemos dos recursos naturais,
olhamos para baixo, procuramos por algo em que possamos confiar. No
Egito, andamos por vista, e não por fé.
Todavia, em Deuteronômio, lemos que a terra prometida depende da chuva
que vem do céu. No Egito, as pessoas olhavam para o chão enquanto
semeavam, mas, em Israel, elas olham para o céu esperando a chuva de
Deus. Isso faz com que andemos por fé, e não por vista. A bênção acontece
quando dependemos de Deus.

Se você anda por vista, nunca encontrará nada ao redor que satisfaça as suas
expectativas e lhe dê segurança. O Egito é um tipo espiritual e simboliza a
vida natural que atenta apenas naquilo que é temporal. Se, porém, andamos
por fé, atentamos naquilo que é invisível e eterno.

Na terra santa, Isaque precisava depender da chuva que vem do céu. Se a


chuva não viesse, nada poderia frutificar. Deus ama quando vivemos por fé
na sua graça. Entretanto, é preciso deixar de olhar para o chão e olhar para o
céu.

Quando Deus mandou Noé construir a arca, Ele orientou que se fizesse
apenas uma janela, a qual deveria ficar na parte de cima da arca. Por que
não havia janelas ao redor? Porque Deus não quer que olhemos ao redor
para as circunstâncias. Ele não queria que Noé e sua família olhassem para
a morte e destruição ao redor, mas firmassem os seus olhos no céu.

Quando o Senhor multiplicou os pães e os peixes, Ele não olhou para o


tamanho da multidão e a limitação dos recursos. Os discípulos olharam,
mas Ele não. Ele ergueu os olhos para o céu e deu graças. Quando olhamos
para cima, experimentamos a provisão. Aqueles que andam na carne estão
sempre procurando algo que possam pegar, algo que possam fazer, algo em
que possam se apoiar. Os que dependem de Deus, entretanto, sentem-se
vulneráveis, mas são esses que experimentam a bênção, pois somente eles
exercitam a fé.

Não vá para o Egito. Não ande por vista. Não procure meios para não
depender de Deus.

Somos abençoados apesar de nossas falhas


Todas as vezes que a Bíblia menciona a esposa de um homem de Deus, ela
afirma que era formosa. Rebeca também era uma mulher muito bonita. Isso
certamente é parte da herança dos filhos de Abraão.

Agora chegamos a uma situação constrangedora. Isaque mentiu. Alguns


dizem que, quando você mesmo causa o problema, Deus não o ajudará. Esta
é uma questão para a qual precisamos ter uma resposta, pois há muitos
problemas que nós mesmos provocamos.

No Salmo 23, lemos que o Senhor é o nosso pastor e Ele nos leva para
águas tranquilas e pastos verdejantes. Ele nos guia pelas veredas da justiça,
mas depois o salmo diz que, ainda que andemos (não fomos levados ou
guiados) pelo vale da sombra da morte, não temeremos mal algum, pois Ele
está conosco. Deus não diz: “Que pena! Você andou pelos seus próprios
caminhos e entrou no vale da sombra. Agora se vire para sair daí!” Ele não
fica cuidando das noventa e nove e deixa a extraviada se perder, mas sai em
busca dela. Deus não nos abandona quando bagunçamos as coisas, Ele
continua conosco.

Isaque mentiu, e isso certamente é errado, mas mesmo assim Deus o livrou.
Abimeleque poderia tê-lo matado para ficar com Rebeca, porém, em vez
disso, protegeu os dois. Ficamos confusos quando Deus nos livra mesmo
quando nós é que fizemos a bagunça, mas essa é a graça de Deus, a sua
bênção é justamente para quem não merece.

Em Rute 1, lemos que Noemi e Elimeleque deixaram Belém, que significa


“casa do pão”, e foram para uma terra distante, dependendo dos seus
próprios recursos. No fim, ela perdeu o marido e seus dois filhos, mas ficou
sabendo que havia pão em Belém. Quando voltaram para Belém, Rute se
casou com o homem mais rico do lugar. Deus pode mudar a nossa condição
mesmo quando nós mesmos bagunçamos tudo com as nossas próprias
mãos.

Mesmo quando você próprio causou os seus problemas, se você clamar a


Deus, Ele virá socorrê-lo (Lc 15.13-14). Um grande exemplo dessa verdade
é o filho pródigo. Ele saiu de casa e esbanjou toda a herança que havia
recebido. Quando perdeu tudo, a fome veio sobre a terra. Foi nesse
momento que ele caiu em si e resolveu voltar para a casa do pai. A fome faz
com que as pessoas caiam em si e percebam que precisam de Deus. A crise
é útil porque ela pode levar as pessoas à lucidez, como aconteceu com o
filho pródigo.

Depois que ele gastou toda a sua fortuna, veio uma severa fome sobre a
terra. Contudo, na casa do pai, havia pão em abundância. Alguns pensam
que a verdadeira prosperidade está lá fora, mas só há abundância na casa de
Deus. O fato de haver um novilho cevado era sinal de que havia abundantes
recursos, pão em abundância a ponto de poderem engordar um boi.

Quando ele voltou para casa, o seu pai não falou coisa alguma a respeito do
dinheiro perdido, desperdiçado, apenas disse: “Matem o novilho. Eu tenho
mais para gastar com você”.

A parábola diz que o filho voltou porque havia grande fome, mas, na casa
do pai, havia novilhos que foram engordados unicamente para o dia da
festa. Pode haver fome lá fora, mas sempre haverá suprimento na casa de
Deus.

Somos abençoados apesar das circunstâncias (vv.


1,6)
Deus abençoou Isaque quando ele resolveu o problema que envolvia o seu
casamento. Somos abençoados depois que resolvemos os problemas em
nosso casamento. Somos abençoados quando o nosso casamento possui
realidade. O diabo procura destruir o casamento porque ele sabe que,
quando há unidade de coração, pensamento e propósito, tudo o que ligarem
na terra será ligado no céu (Mt 18.18).

O princípio da primeira menção diz que a primeira menção de cada assunto


na Bíblia traz luz sobre o seu significado. A primeira menção de ajuda e
socorro na Bíblia foi quando Deus criou a mulher para ser ajudadora (Gn
2.18). A sua esposa não é um obstáculo. Ela não é contra você. Deus lhe
deu uma esposa para ser a sua ajudadora. Isso, porém, não significa que ela
deve concordar com tudo silenciosamente.
Isaque também prosperou porque ele semeou naquela terra onde havia
fome. A terra estava seca e sem vida, porém ele tinha a bênção de Deus e
por isso colheu cem vezes mais.

Em tempos de seca, o preço das commodities sobe muito, e foi justamente


num tempo assim que Isaque teve uma supercolheita. Ele colheu em um ano
o equivalente a um século. E tudo isso em um ano de seca e fome.

Isaque saiu com a sua semente vendo a poeira se levantar da terra seca, mas
ele o fez por fé, confiando que o Senhor o prosperaria. E, nesse ano de
fome, ele colheu cem vezes mais.

Nós somos filhos de Abraão e, quando filhos de Abraão semeiam numa


terra seca, eles colhem cem vezes mais. A bênção de Deus está sobre a
semente de Abraão. Não importa o quão educado, habilidoso ou inteligente
você seja, desde que a bênção esteja sobre você, a prosperidade virá.

A bênção de Deus é tudo de que precisamos. O mundo valoriza a habilidade


e busca a sorte, mas os filhos de Abraão possuem a bênção de Deus sobre a
sua vida.

Será que Isaque não sabia que havia fome? Como ele poderia plantar
mesmo assim? Simplesmente porque estava debaixo da bênção de Deus.

A vontade de Deus é a nossa prosperidade. Não seja hipócrita criticando a


prosperidade dos filhos de Deus e, ao mesmo tempo, desejando
prosperidade a todos a cada novo ano.
Cantem de júbilo e se alegrem os que têm prazer na minha retidão; e digam sempre: Glorificado seja
o SENHOR, que se compraz na prosperidade do seu servo! (Sl 35.27)

Deus tem prazer em que os seus filhos prosperem, por isso não se
envergonhe de buscar as melhores escolas para os seus filhos, de desejar ter
a sua própria casa e o seu carro. Deus quer que você prove do melhor e viva
debaixo da bênção.

Somos abençoados porque semeamos


Existe algo de espiritual em toda semeadura. O lavrador, ao semear, precisa
depender de Deus para que mande a chuva e faça a semente reviver no solo,
mas Deus não ressuscita apenas a semente, Ele ressuscita a árvore que
possui frutos, os quais carregam muitas sementes.

Semear e colher é a maneira de Deus de nos fazer prosperar. Aquele que


semeia precisa depender de Deus para que venha a chuva e aconteça a
multiplicação. Não é algo que o homem possa fazer.

Antes de semear, é preciso experimentar a graça de Deus de colher o que


nunca plantou. Só depois de ter descoberto que tudo o que você possui lhe
foi dado graciosamente, sem merecimento algum, é que você se torna
qualificado para ser um semeador. Em outras palavras, você precisa ter uma
primeira semente para começar a sua plantação. E de onde virá essa
semente? Ela lhe será dada gratuitamente por Deus. Essa primeira semente
não é fruto de semeadura, mas é a simples expressão da graça de Deus.

Ninguém realmente dá nada a Deus, apenas devolve o que recebeu, porque


homem nenhum pode ter coisa alguma se do céu não lhe for concedido (Jo
3.27). Entretanto, depois que experimenta a graça de ganhar a semente,
você precisa semeá-la. Essa semeadura já é a sua recompensa, porque mais
bem-aventurada coisa é dar do que receber (At 20.35). Não transforme a
sua semeadura num tipo de barganha com Deus.

Somos abençoados apesar das perseguições


O resultado inevitável da prosperidade é que pessoas terão inveja de nós.
Essa inveja eventualmente se transformará em perseguição.

O Senhor Jesus prometeu que todo aquele que renunciasse a algo por amor
a Ele e ao evangelho receberia cem vezes mais. Esta também foi a medida
com a qual Isaque foi abençoado.
Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou
mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no
presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo
por vir, a vida eterna. (Mc 10.29-30)
O Senhor não diz que devemos nos divorciar de pais, mães e filhos. O que
Ele diz é que, quando renunciamos, receberemos cem vezes mais. Cada vez
que viajo e preciso ficar longe da minha esposa e filhas, quando volto, sou
restituído cem vezes mais. Qualquer coisa que sacrificamos por causa do
Senhor e por causa do evangelho nós receberemos de volta multiplicado por
cem.

O Senhor não diz que a recompensa virá no céu, mas afirma claramente que
será no presente. Ele não diz que receberemos o cêntuplo de esposas. A
promessa não se aplica ao casamento, porque a vontade de Deus não é que
renunciemos ao casamento, mas que sirvamos ao Senhor juntos, como
casal.

Todavia, receberemos cem vezes mais casas e campos que tenhamos


sacrificado como semeadura por causa do Senhor e da sua casa. Contudo,
junto com a prosperidade teremos também algo do qual não podemos
escapar: a perseguição. Assim como Isaque, aqueles que prosperam são
perseguidos. Mas não devemos ficar desanimados, porque, no fim, a
promessa do Senhor é que podemos ter o melhor deste mundo e também do
vindouro.

O mesmo Deus que abençoou Isaque também vai abençoar você. É preciso
semear com a atitude de fé de que estamos debaixo do favor de Deus,
porque, em Cristo, somos filhos de Abraão.

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