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CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line

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ISSN 1678-6343 Programa de Pós-graduação em Geografia

CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO


ITAPECURU, MARANHÃO - BRASIL

Enner Herenio de Alcântara


Dep. de Oceanografia e Limnologia, Lab. de Hidrobiologia - LABOHIDRO - UFMA
e-mail: ennerha@yahoo.com.br

RESUMO
Este trabalho é fruto da reunião de algumas bibliografias sobre o Rio Itapecuru
bacia, com o objetivo congregar a informações e dados sobre o mesmo, para servir
de referência para os interessados neste rio fascinante. A bacia hidrográfica do
Rio de Itapecuru se localiza no centro-leste do Estado do Maranhão, entre as
coordenadas 2°51 6°56 Lat. S e 43°02 43°58 Long. W. Esta bacia se apresenta zona
de transição de climassemi-árido do nordeste para úmido equatorial de Amazônia,
que norte da bacia é refletido nas formações vegetais que transicionais de cerrado
(pasto Aberto), no sul, para a Floresta Estacional Decidual e Semidecidual, na
parte norte.

Palavras chaves: Bacia do rio Itapecuru, Maranhão, caracterização ambiental

CHARACTERIZATION OF ITAPECURU RIVER'S


HIDROGRAPHIC BASIN, MARANHÃO - BRAZIL

ABSTRACT
This work is fruit of the meeting of some bibliographies on the Itapecuru River
basin, with the objective to congregate the data/existing information on the same
one, to serve of reference for the interested parties in this fascinating river. The
hidrographic basin of Itapecuru river places in the part center-east of the State of
the Maranhão, between the coordinates 2°51 6°56 Lat. S and 43°02 43°58 Long W.
This basin points out in zone of transistion of climates half-barren of northeast for
humid equatorial of Amazônia, what north of the basin is reflected in the vegetal
formations that transicional of the Savannah (Open pasture), in the south, for the
Forest Estacional Decidual and Semidecidual, in the part.

Keywords: Itapecuru river basin, Maranhão, environmental characterization

INTRODUÇÃO1 grande”, (BATISTA, 1997). A bacia


hidrográfica do rio Itapecuru situa-se na
A palavra IRAPECURU é de origem
parte centro-leste do Estado do
indígena que etmologicamente
Maranhão, entre as coordenadas 2°51’ a
significa: ITA = pedra; PE = caminho;
6°56’ Lat. S e 43°02’ a 43°58’ Long W,
CURU = grande, “caminho da pedra
(Figura 1).
1
Recebido em: 16/07/2003
Aceito para publicação em: 18/09/2003

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Caracterização da bacia hidrográfica do Rio Enner Herenio de Alcântara
Itapecuru, Maranhão

Figura 1 - Localização da área de estudo

Abrange uma área de 52.972,1 Km2, que desembocadura na baía do Arraial, a sul
corresponde à cerca de 16% das terras do da ilha de São Luis.
Maranhão. Limita-se a sul e leste com a Um total de 45 municípios estão
bacia do rio Parnaíba através da serra do presentes na sua bacia sendo 10
Itapecuru, chapada do Azeitão e outras localizadas às margens do rio, com uma
pequenas elevações, a oeste e sudoeste população de aproximadamente
com a bacia do Mearim e a nordeste com 1.401.698 habitantes e uma densidade
a bacia do Munim. populacional de 26,5 hab/Km2,
O rio Itapecuru nasce nos contrafortes (MANUAL DE TREINAMENTO DE
das serras da Crueira, Itapecuru e AGENTES AMBIENTAIS, 1999).
Alpercatas, em altitudes em torno de O rio que define a bacia nasce nas
500 m, percorrendo uma extensão de fronteiras dos Municípios de Mirador,
aproximadamente 1.050 Km, até sua

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Itapecuru, Maranhão

Grajaú e São Raimundo das médio, justamente a porção sul-sudeste,


Mangabeiras na encosta setentrional aquela voltada para o sertão nordestino.
da Serra da Croeira, indo desaguar Aí, as precipitações anuais variam de
1.450 Km depois no Oceano 1.200 a 1.400 mm (as mais baixas da
Atlântico, na Baía de São José, a leste Bacia), porém sendo atenuadas por uma
da Ilha de São Luis (Feitosa, 1983). melhor distribuição ao longo de até oito
meses (outubro a abril) e favorecidas
A bacia do Itapecuru constitui um
por um coeficiente de variação menor
divisor que se interpõe entre a Bacia
que 30%. O período menos chuvoso vai
do Parnaíba, a leste, e a Bacia do
de junho a setembro. A temperatura
Mearim, a oeste.
média anual varia de 27° C a 29° C já
Como afluentes importantes temos o
no limite com a bacia do rio Parnaíba: o
rio Alpercatas, rio Corrente, rio
período mais quente do ano vai de
Pucumã, rio Santo Amaro, rio
setembro a novembro e o mais frio de
Itapecuruzinho, rio Peritoró, rio
maio a julho.
Tapuia, rio Pirapemas, rio Gameleira e
O clima subúmido ocupa uma estreita
rio Codozinho.
faixa no início do baixo curso,
Esta bacia situa-se numa zona de
chegando até a altura de Coroatá. As
transição dos climas semi-áridos do
precipitações anuais variam de 1.400 a
interir do Nordeste para os úmidos
1.600 mm ao longo dos meses de
equatoriais da Amazônia, o que é
novembro a maio, sendo o período
refletido nas formações vegetais que
menos chuvoso de junho a outubro. As
transicionam da Savana (Cerrado), no
precipitações anuais são consideradas
sul, para Floresta Estacional Decidual e
altas, porém a distribuição é irregular
Semidecidual, na parte norte da bacia.
principalmente na faixa que vai de
A distribuição dos climas, de acordo Caxias às proximidades de Itapecuru-
com o índice de umidade de Mirim, onde o impacto pluvial é mais
2
Thornthwaite (Figura 2) , mostra um agressivo. A temperatura média anual
predomínio da transição de subúmido varia de 26° C a 27° C, sendo o
para o semi-árido nos cursos alto e período mais quente de outubro a
novembro e o mais frio de junho a
2
índice de umidade de Thornthwaite: B1 = úmido,
40 a 20; C2 = subúmido, 20 a 0; C1 = subúmido a agosto.
úmido, 0 a 20 (IBGE modificado, 1984)

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Figura 2 - Tipologia climática, segundo graus de umidade

O clima úmido se estende pelo baixo intensas e concentradas, de grande


curso até a foz do rio Itapecuru. impacto. A temperatura média anual
Apresenta as mais altas precipitações, situa-se entre 26° C a 27°C, crescendo
variando de 1.600 a mais de 2.000mm em direção ao litoral pelo fator
durante seis meses (de dezembro a maritimidade, sendo o período mais
junho) e os meses menos chuvosos de quente de setembro a novembro e o
julho a novembro. Ocorrem também, na mais frio de fevereiro a março, devido à
área a leste de Cantanhede, chuvas nebulosidade alta. Segundo a

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Itapecuru, Maranhão

classificação climática de Koeppen, a Geomorfologia e pedologia


bacia do Itapecuru se enquadra no tipo
O rio Itapecuru pode ser caracterizado
Aw’- clima tropical úmido, com
fisicamente em 3 regiões distintas: Alto,
temperaturas elevadas, médias acima de
Médio e Baixo Itapecuru. Fatores tais
20° C, e precipitação entre 1000 e 1500
como as características da rede de
mm/ ano, com duas estações bem
drenagem, a compartimentação e as
distintas, uma chuvosa e outra seca
formas de relevo da Bacia e a
(LEMOS, 2002).
navegabilidade foram os critérios nos
METODOLOGIA quais a SUDENE se baseou para dividir

Este trabalho é fruto da reunião de o curso do rio (Bezerra, 1984).

várias bibliografias sobre a Bacia Alto Itapecuru - vai da nascente até o


Hidrográfica do Rio Itapecuru, com o Município de Colinas.
objetivo de reunir os dados/ Geomorfologicamente há uma
informações existentes sobre a mesma, predominância de chapadões, chapadas
para servir de referência para os e cuestas, apresentado um relevo forte
interessados neste fascinante rio. ondulado compondo as partes mais

As figuras contidas neste trabalho elevadas (350 metros) da baía com as

foram revitalizadas/ modificadas do serras de Itapecuru, Alpercatas, Croeira

seu original, no sentido de “renovar” e Boa Vista.

e/ou resguardar os mesmos. As A navegabilidade é difícil, e apenas em


imagens foram scaniadas, e logo em pequenas canoas, até o trecho em que o
seguida digitalizadas no programa Itapecuru se encontra, na altura de
AutoCAD 2000. Sendo assim, os Colinas, com o rio Alpercatas, seu mais
arquivos estão à disposição a quem importante afluente, que passa a
possa interessar. contribuir com cotas significativas de

Foram feitos levantamentos da água (Aranha, 1992).

geomorfologia, pedologia, potencial Nas áreas de chapada, há uma


geoambiental, uso do solo e sua predominância de solos latossolos
estrutura, recursos hídricos (superficiais amarelos e latossolos vermelho-
e subterrâneos) e aspectos hidrológicos. amarelo, profundos, bem drenados, de
textura média e argilosa, originária de
RESULTADOS E DISCUSSÃO

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sedimentos areno-argiloso do Grupo culturas de subsistência, extrativismo do


Barreiras do terciário, da formação coco babaçu e pecuária extensiva (da
Itapecuru do cretáceo e da Formação silva, 1992).
Pedra do Fogo do permiano. Nessas
Baixo Itapecuru - vai do Município de
áreas a pecuária é explorada em regime
Caxias até a foz, na Baía de São José.
intensivo, ocorrendo também a
Essa área possui uma geomorfologia
utillização de pequenos talhões com
caracterizada pela presença da
cultura de milho, feijão, arroz e
superfície maranhense com testemunho
mandioca, pastagens de gramíneas,
e na sua foz pelo Golfão Maranhense,
além do extrativismo do coco do
com um relevo de superfície suave
babaçu. A fruticultura é pouco
ondulado.
explorada (da silva, 1992).
Conpreende o trecho de maior
Nas encostas das chapadas são
navegabilidade. Contudo, esta é
encontrados solos litólitos com presença
prejudicada pela baixa declividade do
ou não de cascalhos e/ ou calhaus.
terreno que propicia a formação de
Devido ao seu pouco desenvolvimento
bancos de areia a partir de Itapecuru-
genético e sua situação no relevo, são
Mirin até a foz, e pela Cachoeira de
solos muito susceptíveis à erosão.
Vera Cruz que interrompe o tráfego por
Médio Itapecuru - vai do Município de ocasião da baixa-mar (Bezerra, 1984).
colinas até o Município de Caxias. Esta
Nessa área há uma predominância de
área apresenta uma situação
solos da classe dos plintossolos, sujeitos
morfológica denominada testemunhos,
a um excesso de umidade durante um
onde predomina o relevo de chapadas
período de tempo, devido a diferenças
baixas e uma superfície suave ondulado
texturais entre horizontes arenosos e
a forte ondulado, com uma diferença de
argilosos. Situa-se em áreas de relevo
altitude de 60 metros.
plano ou suave ondulado e são
Os solos são predominantemente do originários de materiais principalmente
tipo podzólicos vermelho-amarelo, da Formação Itapecuru do cretáceo.
originários principalmente de Estes solos estão sendo utilizados quase
sedimentos da Formação Pedra do Fogo que predominantemente com pastagens
do permiano, sendo utilizados em implantadas, onde se verificam grandes

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derrubadas de babaçu e em menor geofácies, que traduzem as


escala, culturas de arrroz, feijão, milho particularidades do modelado e dos solos.
e mandioca (da Silva, 1992). A região denominada Planície Costeira
Uma vez que o rio Itapecuru atravessa está no domínio das Formações Pioneiras
diferentes gradientes de topografia, comportando a Planície Flúvio-Marinha,
apresenta conseqüentemente diferentes que corresponde a uma superfície plana,
regiões climáticas. Ele nasce e situada em altitudes inferiores a 10 m,
desemboca em clima quente e semi- resultantes da acumulação flúvio-
úmido, passando por uma interface, no marinha, onde ocorrem mangues solos
seu curso médio, de clima quente semi- indiscriminados de Mangue.
árido, classificando-se portanto como A região Planalto e Superfície
rio dirreico (Aranha, 1992). Rebaixada correspondem ao baixo e
Potencial geoambiental parte do médio curso do Itapecuru,
estando sob o domínio da Floresta
A bacia do Rio Itapecuru está situada
Estacional. Abrange duas unidades:
em quatro regiões, definidas pelas
uma superfície rampeada – superfície
similaridades com os condicionantes
sub-litorânea – em níveis altimétricos
geológicos, com a evolução
de 70 a 100m. Dominam os Plintossolos
geomorfológica e as características
e Podzólicos Vermelho-Amarelo
bioclimáticas regionais. Essas regiões
concrecionários e a Floresta Estacional
comportam 11 unidades geoambientais,
Semidecidual sob clima úmido. O
identificadas pela convergência de
Planalto Dissecado em colinas e morros
semelhança de seus componentes
está em altitude entre 140 e 200 m, onde
físicos e bióticos e de suas dinâmicas,
há um predomínio dos solos Podzólicos
correspondendo aos sistemas naturais
Vermelho-Amarelo concrecionários,
(Figura 3) 3.
Plintossolos e Latossolos Amarelos e da
Esses sistemas encerram unidades
Floresta Estacional Decidual sob clima
elementares de análises denominadas
sub-úmido a semi-árido.
3
I- planície flúvio-marinha; II- superfície sub- A região dos Tabuleiros e Patamares no
litorânea; III- Planalto dissecado; IV- superfície
rampeada; V- planos rebaixados; VI- patamar de domínio da Tensão Ecológica da
Caxias; VII- tabuleiros do médio Itapecuru; VIII-
patamar do baixo Alpercatas; IX- vales dissecados; Savana/ Floresta Estacional comporta
X- vales pedimentares; XI- chapadões do alto
Itapecuru, (IBGE modificado, 1984).

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quatro unidades ou sistemas naturais, e níveis altimétricos de 120 a 150 m,


abrange a média bacia do Itapecuru. A recoberta por Areias Quartzosas sob
superfície Rampeada está situada em clima úmido a sub-úmido.

Figura 3 - Regiões/ unidades geoambientais da Bacia do Itapecuru

Os Planos Rebaixados estão em úmido a sub-úmido. O patamar de


altitude de 130 a 150 m, com solos Caxias está dissecado em morros e
Podzólicos e Plintossolos e clima colinas separados por vales de fundo

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plano. Dominam os solos Podzólicos Quartzosas e Latossolos, a Savana


e clima sub-úmido a semi-árido. Os Parque com Floresta de Galeria e
Tabuleiros do Médio Itapecuru Savana Arbórea Aberta. Os chapadões
correspondem a uma superfície a uma do Alto Itapecuru correspondem às
superfície dissecada em lombas e chapadas residuais de topo plano com
colinas em altitudes variando de 180 altitude de 450 a 500 m, limitadas por
a 240 m, sob clima sub-úmido a semi- escarpamentos (SOS ITAPECURU,
árido, onde a cobertura areno-argilosa 1992).
por vezes concrecionária, originou
O uso do Solo e sua Estrutura
latossolos.
Dos 20 padrões de uso mapeados pelo
A região dos Chapadões e Vales está no
IBGE na área de estudo, resultam 4
domínio da Savana sob clima sub-
estruturas de uso com suas variações
úmido a semi-árido. Abrange quatro
que definem 8 unidades estruturais de
sistemas naturais. O Patamar do Baixo
uso do solo.
Alpercatas trata-se de uma superfície
Estrutura Tradicional - apresenta-se na
dissecada em lombas, com cotas de 180
área com base na atividade extrativa e
a 250 m, onde a cobertura areno-
na pecuária extensiva. As relações
argilosa, originou latossolos. Os vales
sociais de produção em geral são
Dissecados em lombas e colinas estão
familiares, (Figura 4) 4.
em altitude de 250 a 280 m e
correspondem à parte do Alto Itapecuru Estrutura de Transição - caracteriza-se
e ao vale do Rio Balseiro, onde por produtores tradicionais ou não, em
dominam os Latossolos Vermelho- geral são produtores que têm acesso a
Escuros e Amarelos sob área de Tensão informações de inovações tecnológicas,
Ecológica da Savana/ Floresta porém existe um hiato entre a
Estacional e Savana Arbórea Densa. Os introdução e a utilização destas técnicas.
vales Pedimentados são amplos, planos Ocorre nas áreas de Estruturas de
e rampeados em direção à drenagem
4
I – Estrutura tradicional com base no extrativismo; II –
principal, representada pelo alto Estrutura de transição com base na extração e
beneficiamento de minerais; III – Estrutura de transição
Itapecuru e seu afluente rio Alpercatas. com base na agropecuária; IV – Estrutura tradicional
com base na pecuária extensiva; V – Estrutura
Estão em cotas que variam de 350 a modernizada com base na agropecuária; VI – Estrutura
de transição com base na agroindústria; VII – Estrutura
400, onde dominamas Areias especial; VIII – Estrutura modernizada com base na
agricultura comercial, (IBGE modificado, 1984).

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Transição com base na agroindústria e social de produção é assalariada, os


extração e beneficiamento de minerais produtos produzidos neste sistema em
não metálicos. geral não trazem melhorias e

Estrutura Modernizada - apresenta-se beneficiamento para a região; exceções

com base na agropecuária e agricultura, se faz em algumas áreas agrícolas.

o nível de vida é elevado e a relação

Figura 4 - Usos dos solos da Bacia do Itapecuru

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Recursos Hídricos Colinas. A partir daí, segue em direção


norte-nordeste até a baía de São José,
As águas do rio Itapecuru proporcionam
através de dois braços denominados
usos múltiplos tais como: abastecimento
Tocha (o principal) e Mojó (o
para a cidade de São Luis e de todas as
secundário), após um percurso total da
cidades ribeirinhas e/ ou adjacentes,
ordem de 900 km.
transporte, recreação tanto de contato
primário como secundário,irrigação, Segundo características morfológicas
pesca, dessedentação de animais, das regiões as quais atravessa, o rio
agricultura de vazante, piscicultura e uma Itapecuru pode ser dividido em alto,
atividade bem característica da região que médio e baixo curso (Figura 5) 5.
é o uso para a lavagem de roupas. Isto
O Alto Itapecuru
ocorre mesmo onde existe rede de
O mais importante afluente do rio
distribuição d’água.
Itapecuru na alta bacia é o rio
Superficiais Alpercatas. Este rio, nascido
O rio Itapecuru nasce no sistema formado também na serra da Aroeira
pelas serras de Crueiras, Itapecuru e (próximo às nascentes do
Alpercatas, a cerca de 500 metros de Itapecuru), coleta a contribuição de
altitude. vários riachos na região do alto e
vai influenciar o rio Itapecuru a
A superfície total da bacia hidrográfica é
montante de Colinas com um
de 52.884 Km2 (cerca de 16% do
território do Maranhão). volume médio superior a 60% do
volume do rio Itapecuru médio em
O rio principal e seus tributários formam
Colinas. Ou seja, o volume médio
uma bacia hidrográfica falciforme, cuja
do rio Itapecuru em Mirador é de
concavidade está voltada em direção
17,6 m 3 /s, enquanto que o rio
oeste, para o vale do Mearin.
Alpercatas em Porto do Lopes
A partir de suas nascentes, o rio apresenta um volume de 34,3 m 3 /s.
Itapecuru corre inicialmente na direção Na estação de Colinas localizada
oeste-leste até as proximidades de cerca de 50 Km a jusante de
Mirador, quando toma, então, rumo 5
1- Pedra Preta; 2- Califórnia; 3- Dente de Cão; 4-
norte até a barra do rio Alpercatas, Cajazeiras; 5- Olho d’água; 6- Aperta Maia; 7- Canal
Torto; 8- Terra Dura; 9- Sucuriú; 10- Rosário, (IBGE
poucos quilômetros a montante de modificado, 1984).

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Mirador o volume do rio Itapecuru Correntes (4,61 m3/s) e Pucumã


3
se eleva para 55,9 m /s, merecem algum destaque. Este trecho,
correspondendo a um aumento de entre Colinas e Caxias mede
63% no volume de água. aproximadamente 230 Km. A largura é
de aproximadamente 50 metros e a
O Médio Itapecuru
vazão média medida no porto de
Caracteriza-se pela quase ausência de
Caxias é de 70,5 m3/s.
afluentes importantes. Apenas os rios

Figura 5 - Rede Hidrográficas e principais corredeiras

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O Baixo Itapecuru afluentes (figura 6) 6. Esses postos são


controlados pelo DNAEE no período de
Compreende o trecho situado entre
1963 até hoje, embora a maior parte
Caxias e a foz na baía de São José. Os
desses dados esteja disponível só até
afluentes mais importantes neste trecho
1983.
são os rios: Pirapemas, Peritoró, Seco,
As variações fluviais sazonais na bacia do
da Limpeza e Codozinho. A largura
Itapecuru apresenta-se em ritmo mais ou
média do rio aumenta para cerca de 75
menos constante, ocorrendo geralmente
m em Codó e para 80 em Pirapemas,
as cheias e estiagens sempre nos mesmos
porém o aumento de largura mais
períodos, mesmo havendo em um ano ou
notável ocorre próximo a São Miguel
outro atraso ou antecipação de um dos
(12 Km a montante de Rosário) quando
períodos. O regime hidrológico é simples.
o rio Itapecuru assume uma largura
Existem apenas duas variações definidas:
próxima dos 180 m. Nestre trechos da
as águas máximas (cheias) e das mínimas
baixa bacia ocorre notável influência
(vazantes ou estiagens).
marinha notada já em Itapecuru-Mirim,
onde foram observadas oscilações Na região do Itapecuru a dominância é do
diárias no nível das águas e influência regime fluvial tropical, explicado pela
de correntes. Neste trecho também o rio existência de uma estação de águas
passa a ser mais piscoso. Próximo a abundantes que se inicia em janeiro e se
Rosário já ocorre a mistura água doce/ prolonga até maio e outra de águas
salgada, influenciando a fauna e a flora. escassas que principia em fins de junho e
vai até meados de novembro. É fácil notar
A influência das marés se faz sentir
que, pelo fato do rio Itapecuru cortar
poucos quilômetros a jusante de
rochas sedimentares em uma região de
Itapecuru-Mirim. A presença de
elevados totais pluviométricos, é
manguezais se faz sentir a partir de
fortemente alimentado
Rosário.

Aspectos Hidrológicos 6
1- Rio Itapecuru em Mirador; 2- Rio Alpercatas em
Campo Largo; 3- Rio Alpercatas em Porto do Lopes;
O controle de toda a rede de drenagem da 4- Rio Itapecuru em Colinas; 5- Rio Correntes em
Mendes; 6- Rio Itapecuru em Montevidéo; 7- Rio
bacia do rio Itapecuru é feito através de Itapecuru em Caxias; 8- Rio Itapecuru em Codó; 9-
Rio Codozinho em Fazenda Sobral; 10- Rio Itapecuru
14 postos fluviométricos, sendo sete no em Coroatá; 11- Rio Pirapemas em Pirapemas; 12-
Rio Peritoró em Peritoró; 13- Rio Itapecuru em
rio principal e sete em seus principais Cantanhede; 14- Rio Itapecuru em Pedras, (IBGE
modificado, 1984).

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Itapecuru, Maranhão

através de formações sedimentares mesmo que a estiagem se prolonge um


porosas permite maior acúmulo de chuvas pouco mais, o nível das águas do
nos lençóis subterrâneos e distribuição Itapecuru quase não se alterara, o mesmo
mais regular à rede hidrográfica, não ocorrendo com seus principais afluentes,
havendo grandes diferenças entre especialmente o Alpercatas.
máximas e mínimas vazões. Assim,

Figura 6 - Postos Fluviométricos

tendências básicas. As
Analisada de uma maneira geral, a
transformações chuva/deflúvio
bacia do rio Itapecuru apresenta ao
efetuam-se com maior rendimento na
longo do curso principal duas

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Itapecuru, Maranhão

alta bacia, função da maior para o trecho Caxias – Codó a contribuição


unitária média anual de 2,39 L/s/Km2 e para
regularidade das precipitações e da o trecho Codó – Cantanhede o valor de 3,42
L/s/Km2.
presença de sedimentos mais porosos
e permeáveis. Ao longo do seu curso, o rio
Itapecuru tem seus primeiros
Na média e baixa bacia, apesar do
registros a partir da estação
gradativo aumento nos totais
fluviométrica de Mirador, instalada
pluviométricos, verifica-se uma maior
em 1968 e em operação até hoje.
irregularidade das precipitações,
Neste ponto, o rio apresenta uma
caracterizando um regime mais
vazão média anual de 17,6 m3/s,
torrencial. Ou seja, no médio/ baixo
sendo os meses de agosto, março e
curso o escoamento superficial é mais
abril apresentam as mais elevadas
pronunciado, o que compromete a
médias.
realimentação dos aqüíferos,
acentuando as diferenças entre vazões Subterrâneas

extremas. Daí decorre um período De acordo com o documento SOS


crítico, correspondente aos meses de ITAPECURU (1992), o potencial
agosto a outubro, onde ocorrem subterrâneo foi estimado em 2 bilhões e
pronunciadas diferenças no deflúvio 900 milhões de m3 anuais, o que
entre as estações seca e chuvosa. Na representa aproximadamente 30% do
época de estio as descargas de base escoamento total do rio principal. A
dos pequenos riachos atingem os seus maior parte desse potencial é relativa à
mínimos e a maioria deles seca. margem esquerda (principalmente

Com relação aos deflúvios médios devido ao rio Alpercatas), cujos

anuais observa-se que: tributários contribuem com cerca de 1


bilhão de m3.
⇒ no alto Itapecuru a bacia do Alpercatas
possui as mais elevadas contribuições
unitárias, variando de 5,36 a 10,73
A alta bacia é responsável por um
L/s/Km2. O rio Itapecuru nesta região potencial de cerca de 2,8 bilhões de m3/
apresenta módulo inferior ao do Alpercatas,
com apenas 2,50 L/s/Km2. ano (78% do potencial subterrâneo
⇒ no médio Itapecuru a bacia do Correntes total). Neste trecho, o escoamento
apresenta módulo de 0,93 L/s/Km2, inferior
portanto aos valores encontrados no alto subterrâneo representa cerca de 85% do
curso.
escoamento total, o que denota a
⇒ no baixo Itapecuru as contribuições
unitárias voltam a crescer, encontrando-se magnífica restituição dos aqüíferos da

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Caracterização da bacia hidrográfica do Rio Enner Herenio de Alcântara
Itapecuru, Maranhão

região do alto curso. Este potencial margens, destacam-se: Caxias, Mirador,


decai sensivelmente em direção à foz, Colinas, Codó, Aldeias Altas, Timbiras,
para 57% em Caxias, 38% em Coroatá e Coroatá, Pirademas, Itapecuru-Mirim,
25% em Cantanhede. Santa Rita e Rosário. Mas apesar de

Relacionando as águas subterrâneas às suas riquezas O rio Itapecuru já perdeu

águas superficiais verifica-se a grande 73% de seu volume de água, projetando

importância do altíssimo curso do rio para o futuro expectativas nada

Itapecuru na manutenção de suas animadoras. A única forma de reverter a

vazões. Os aqüíferos sedimentares, tendência à exaustão é a aplicação de

bastante porosos, que ocorrem nesta medidas enérgicas no sentido de

região (parque do Mirador) absorvem preservar as matas ciliares, evitar o

boa parte das precipitações e as assoreamento, acabar com o despejo de

retransmitem regularmente aos rios- resíduos sólidos, inibir a pesca

especialmente o Alpercatas-, sendo a predatória e racionalizar o uso das terras

diferença entre as mínimas e máximas localizadas às margens do rio.

pouco significativas. O mesmo não REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ocorre no médio/ baixo curso onde os
ARANHA, F. J. Caracterização sócio-
afluentes são em maioria temporários e
econômica e ambiental da bacia do rio
pouco contribuem para a vazão do rio
Itapecuru no pico da seca, Maranhão.
principal. O escoamento subterrâneo
Relatório Técnico. Instituto do Homem,
neste trecho representa cerca de 20% do
1992.
escoamento total, demonstrando a
BATISTA, L. M. R. O sistema
intensa irregularidade dos deflúvios
ITALUIS na participação do
(elevados nas épocas chuvosas e
abastecimento de água da capital do
modestos nas épocas de estiagem), SOS
Maranhão. Degeo, UFMA. 1997.
ITAPECURU (1992).
BIZERRA, A. S. Contribuição à
CONCLUSÃO
geomorfologia da bacia do Itapecuru,
O rio Itapecuru é responsável por
Maranhão. Tese de Mestrado. Unesp.
grande parte do abastecimento de agua
Rio Claro, SP, 1984.
na capital São Luis e de Caxias. Entre
FEITOSA, A. L. O Maranhão
as cidades que se encontram nas suas
Primitivo: uma tentativa de

Caminhos de Geografia 7(11)97-113, Fev/2004 Página 112


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Itapecuru, Maranhão

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Rio de Janeiro, RJ, 1984.

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