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PRIMEIROS REGISTROS DA EMERSÃO DO ORÓGENO DA FDB EM GOIÁS:

FORMAÇÃO SERRA DE SANTA HELENA

Edi Mendes Guimarães (IG/UnB, rxedi@unb.br); Marcel Auguste Dardenne; Sandra Nélis

Tonietto.

O Grupo Bambuí, do neoproterozóico, expõe seu empilhamento típico na região de

Bezerra (Formosa, GO), sobrepondo a Formação Jequitaí ou, na sua ausência, diferentes

unidades do Grupo Paranoá. Caracterizado por sua natureza pelito-carbonática, representada

pelas formações Sete Lagoas - unidade basal - e Lagoa do Jacaré, o Grupo Bambuí, nessa

região, é formado em sua maior parte por termos terrígenos. Estes constituem a Formação

Serra de Santa Helena, posicionada entre as duas unidades carbonáticas, bem como a porção

superior do grupo: formações Serra da Saudade e Três Marias. Com cerca de 50 metros de

espessura, a Formação Serra de Santa Helena compreende um pacote predominantemente

síltico, contendo arenitos finos, raramente médios. Localmente, na base, ocorrem camadas

submétricas de calcário cinza escuro. Os arenitos apresentam cimento calcítico, são bem

selecionados, com grãos orientados segundo o acamamento, particularmente nos níveis ricos

em filossilicatos. São constituídos por cerca de 40% de quartzo, 30-40% de feldspato, 10-20%

de filossilicatos, que podem atingir até 50%, e menos de 10% de grãos líticos e material não-

identificado, bem como traços de minerais opacos, turmalina, epidoto, zircão e glauconita.

Por microscopia, os filossilicatos identificados são moscovita e clorita, além da ilita detrítica

ou neoformada a partir da alteração de feldspatos e micas. As micas, com encurvamento e

quebra entre os grãos rígidos como efeito de compactação, mostram alteração diagenética

para ilitas, cloritas e minerais opacos. As cloritas substituem preferencialmente as biotitas,

das quais herdam o hábito e têm cores de birrefringência verde-marrom na maioria dos
cristais, ou azul-violeta em lamelas isoladas. Cristais subédricos de clorita maiores que

0,25mm, limpos ou com pontos de minerais opacos, são interpretados como substituição de

mineral detrítico. Raros fragmentos líticos identificáveis são de rocha sedimentar pelítica, ou

são constituídos por biotita, clorita, moscovita, quartzo e minerais opacos. A deformação de

fragmentos por compactação produziu a escassa pseudomatriz. Raros glóbulos verde-

esmeralda de glauconita, limpos, dispersos na rocha, são interpretados como grãos detríticos,

provenientes dos níveis glauconíticos do Grupo Paranoá. Os constituintes da fração fina das

rochas foram identificados por difração de raios-X (DRX), enquanto a caracterização química

de filossilicatos foi feita por análises de microssonda eletrônica (ME), sobre lâminas de

psamitos e pelitos. Por análises de DRX foram identificadas a vermiculita, a ilita e a clorita,

sendo a última de composição ferromagnesiana, determinada por ME. Esta composição foi

atribuída à transformação diagenética de minerais máficos e à evolução de esmectitas. A

composição das rochas detríticas e a química mineral indicam a existência de rochas de

composição ferromagnesiana na área-fonte dos sedimentos da Formação Serra de Santa

Helena, contrastando com a proveniência cratônica dos sedimetos subjacentes do Grupo

Paranoá. Grãos retrabalhados de quartzo, de glauconita e fragmentos de rochas pelíticas

indicam erosão de porções expostas desse grupo, enquanto as cloritas e vermiculitas

provenientes de rochas básicas registram a erosão das primeiras porções emersas do orógeno

da Faixa Dobrada Brasília.

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