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ORIGEM DAS PAISAGENS


DO ESTADO DO TOCANTINS
Marcelo Eduardo Dantas (marcelo.dantas@cprm.gov.br)1
Edgar Shinzato (edgar.shinzato@cprm.gov.br)1
Amaury de Carvalho Filho (amaury.carvalho@embrapa.br)2
José Francisco Lumbreras (jose.f.lumbreras@embrapa.br)2
Wenceslau Geraldes Teixeira (wenceslau.teixeira@embrapa.br)2
Maurício Gomes Rocha (mauricio.rocha@cprm.gov.br)1
Marcely Ferreira Machado (marcely.machado@cprm.gov.br)1

1
CPRM – Serviço Geológico do Brasil
2
Embrapa Solos

SUMÁRIO

Introdução............................................................................................................ 49
Compartimentos Geomorfológicos ...................................................................... 50
Planícies Fluviais .................................................................................................52
Depressão do Médio Vale do Rio Tocantins ...................................................... 53
Chapadas e Mesetas de Estreito-Carolina ......................................................... 57
Depressão do Baixo-Médio Vale do rio Araguaia .............................................. 58
Planície do Rio Araguaia/Ilha do Bananal ...........................................................61
Serras e Patamares do Interflúvio Tocantins-Araguaia ...................................... 62
Chapadas do Alto Rio Parnaíba ......................................................................... 65
Chapada das Mangabeiras ................................................................................ 67
Planalto Dissecado do Tocantins ....................................................................... 67
Patamares do Jalapão........................................................................................ 69
Baixos Platôs do Jalapão.....................................................................................70
Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins..................................................73
Serras isoladas da depressão do médio-alto vale do rio Tocantins.....................75
Patamares do Chapadão Ocidental Baiano.........................................................76
Chapadão Ocidental Baiano ...............................................................................78
Serras do Planalto Central Goiano..................................................................... 80
Referências ........................................................................................................... 82
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

INTRODUÇÃO praticamente plano. No inverno seco, entre maio e setembro,


ocorre uma contínua descarga hídrica para os canais fluviais
A geografia física do estado do Tocantins carac- mantendo-os perenes. Em decorrência, o lençol d’água
teriza-se por um predomínio de vastas superfícies aplai- apresenta uma grande variação sazonal do seu nível freático,
nadas posicionadas em cotas modestas e por vezes originando processos de laterização e formação de camadas
interrompidas por extensos alinhamentos serranos. subsuperficiais com concentração de plintita (horizontes
Tais superfícies de aplainamento apresentam um leve plínticos) cuja evolução, por ressecamento e endurecimento
caimento regional de sul para norte e truncam um diver- irreversível, origina as couraças ferruginosas, típicas vastas
sificado conjunto de unidades litológicas, sendo drenadas regiões no Tocantins e de todo o Centro-Oeste do Brasil.
pelas bacias hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia. De forma sintética, destacam-se quatro padrões mor-
Tal configuração geomorfológica regional atesta um grau fológicos que prevalecem no estado do Tocantins: os topos
avançado de denudação associado a um relativo, mas dos chapadões em grande parte sustentados por couraças
prolongado período de estabilidade tectônica ao longo ferruginosas; os planaltos e baixos platôs dissecados,
do Cenozoico (Figura 4.1). Entretanto, ressalta-se, a leste em cotas intermediárias; as depressões interplanálticas;
e a nordeste, um conjunto de planaltos dissecados, baixos e a vasta planície do rio Araguaia junto à ilha do Bananal
platôs e chapadas modeladas por rochas sedimentares (AB’SABER, 1962; DANTAS et al., 2008). Estes ambientes es-
das bacias intracratônicas do Parnaíba e Sanfranciscana, tão submetidos a um clima quente e semiúmido, com regi-
que apresentam idade paleozoica a mesozoica. Por fim, me estacional bem definido, com verões chuvosos e invernos
sobressai-se, a sudoeste, a bacia sedimentar quaternária secos. Ainda assim, estas paisagens são submetidas a uma
forte atuação do intemperismo químico com formação de
da Ilha do Bananal que, a despeito de notável estabilidade
solos espessos, lixiviados e laterizados, recobertos por uma
morfotectônica experimentada pela região, representa
vegetação de cerrado que varia desde os campos cerrados
uma imensa área de subsidência tectônica controlada pelo
com veredas, onde predomina vegetação herbácea entre
famoso lineamento Transbrasiliano (SCHOBBENHAUS et al.,
arbustos esparsos, aos cerradões, com formações densas de
1975; ALMEIDA et al., 2000; BRITO NEVES & FUCK, 2013),
porte arbóreo. As veredas representam um ecótono singu-
que corta grande parte do território brasileiro em direção
lar ao longo das linhas de drenagem e desempenham um
sudoeste-nordeste.
papel relevante como terras úmidas no bioma Cerrado, com
O estado do Tocantins caracteriza-se por abarcar
grande significado ecológico, hidrológico e paisagístico
terrenos de dois domínios morfoclimáticos distintos:
(AB’SABER, 1962; FERREIRA, 2008). Apenas no norte do
o Domínio das Terras Baixas Florestadas Equatoriais da
Tocantins registra-se um regime climático mais úmido,
Amazônia, ao norte, junto à região denominada de Bico
com uma estação seca mais curta, que não ultrapassa três
do Papagaio; e o Domínio dos Chapadões Semiúmidos
a quatro meses, já sob o domínio da Floresta Amazônica
Tropicais do Cerrado, ao longo do centro-sul do Tocantins,
em seus rebordos orientais.
além de registrar uma extensa faixa de transição entre
esses dois domínios morfoclimáticos (AB’SABER, 2003).
Este autor destaca que os cerrados da depressão interpla-
náltica dos rios Tocantins e Araguaia são os que subsistem
em cotas mais baixas no Brasil, numa zona de transição
ecológica que sofreu importantes variações ao longo do
Quaternário (AB’SABER, 1981). De fato, é marcante o
contraste climático entre o domínio tropical semiúmido
do centro-sul e sudeste do Tocantins, com precipitação
média anual entre 1.200 e 1.500 mm, e o domínio tropical
a subequatorial úmido do norte e oeste do Tocantins, que
alcança valores de precipitação média anual entre 1.700
e 2.100 mm (SOUSA et al., 2012).
Do ponto de vista hidrológico, na paisagem dos cerrados
predominam rios perenes porque, a despeito de apresentar
uma estiagem expressiva, de 4 a 6 meses, típica de um
clima tropical semiúmido, apresenta predomínio de solos
profundos, bem drenados e porosos, pobres em nutrientes Figura 4.1- Vastas superfícies aplainadas revestidas por cerrado,
e ácidos, por vezes laterizados, com grande ocorrência de desenvolvidas sobre solos profundos e bem drenados, lixiviados
Latossolos Distróficos, Neossolos Quartzarênicos Órticos e e laterizados. Ressalta-se um cenário geomorfológico de
Plintossolos Pétricos, que apresentam elevadas taxas de infil- notável estabilidade tectônica e forte atuação do intemperismo
químico. No horizonte, observa-se o topo das chapadas cimeiras,
tração e grande capacidade de armazenamento de água. No delineando o nível morfológico mais antigo e elevado na região.
verão, o grande volume de água que precipita entre outubro Rodovia TO-110, entre as cidades de São Félix do Tocantins e
e março é retido pelo solo nos grandes chapadões de relevo Mateiros. Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

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GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Com relação às superfícies de aplainamento no esta- COMPARTIMENTOS GEOMORFOLÓGICOS


do do Tocantins, os modelos genéticos de etchplanação
(BÜDEL, 1982; THOMAS, 1994) e de pediplanação, este A partir deste breve sumário sobre as principais carac-
exaustivamente aplicado no Sudeste do Brasil (KING, 1956; terísticas do meio físico do estado do Tocantins, é possível
BIGARELLA et al., 1965), parecem ser complementares e promover uma análise dos compartimentos geomorfoló-
explicam apropriadamente os processos de evolução do gicos existentes. Com base na interpretação dos produtos
relevo que delinearam a paisagem geomorfológica do To- de sensoriamento remoto disponíveis, perfis de campo e
cantins ao longo do Cenozoico. Assim sendo, os processos estudos geomorfológicos regionais anteriores (IBGE, 1993 e
de pediplanação e pedimentação pressupõem um padrão 2007a; ROSS, 1985 e 1997; SOUSA et al., 2012), o estado do
erosivo comandado por processos de desagregação me- Tocantins foi compartimentado em 16 (dezesseis) Domínios
cânica e recuo a remontante das encostas, sob um regime Geomorfológicos (Figura 4.3), descritos a seguir.
climático dominante que oscilaria entre o semiúmido e o
semiárido. O recuo erosivo apresentado, tanto pela escar-
pa da Serra do Lajeado, próximo a Palmas, quanto pela
escarpa da Serra Geral de Goiás (no extremo sudeste do
Tocantins, junto à divisa com o estado da Bahia) documen-
tam, esplendidamente, este modelo evolutivo. Em outras
áreas do estado, o processo de aplainamento encontra-se
tão avançado que subsistem apenas esparsos inselbergs
ou morros-testemunho. Por outro lado, é inquestionável a
marcante influência do intemperismo químico em ambiente
quente e subúmido que impera na região. Registra-se com
frequência, por todo o estado do Tocantins, o desenvolvi-
mento de perfis de intemperismo com dezenas de metros
de espessura. Neste sentido, os processos de etchplanação
assumem, também, um importante papel na evolução do
relevo regional. De acordo com o modelo de evolução por
etchplanação proposto originalmente por Büdel (1982), as
superfícies seriam rebaixadas progressivamente por meio
de uma lenta denudação das superfícies de aplainamen-
to, condicionadas por um progressivo rebaixamento do
nível de base. Este rebaixamento seria controlado pela
velocidade do intemperismo químico atuando no contato
entre a rocha sã e rocha alterada. Este processo gera na
paisagem complexos mantos de alteração, muitos dos quais
exibindo espessos perfis lateríticos, maturos ou imaturos
(COSTA et al., 1991), truncados ou preservados (Figura 4.2).

Figura 4.2 - Desenvolvimento de espessos perfis lateríticos


por vastas áreas sobre as superfícies aplainadas, com geração
de solos pobres, profundos e com níveis concrecionários
(Latossolos Vermelho-Amarelos Petroplínticos e Plintossolos
Pétricos). Rodovia TO-050, entre as cidades de Porto Nacional Figura 4.3 - Domínios geomorfológicos propostos para o estado
e Silvanópolis. Fotografia: Edgar Shinzato, 2015. do Tocantins. Fonte: Marcelo Eduardo Dantas, 2018.

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ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Em adendo, são identificados os diversos padrões de


relevo do estado (tabela 1), os quais estão inseridos nos
domínios geomorfológicos referidos acima e encontram-se
representados no mapa de padrões de relevo do estado do
Tocantins (Figura 4.4), que serviu de subsídio para a ela-
boração do mapa Geodiversidade do Estado do Tocantins
(Anexo II - Biblioteca de padrões de relevo do território
brasileiro). A individualização dos diversos compartimentos
de relevo foi obtida com base em análises e interpretação
de imagens de radar do Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM), com resolução horizontal de 90 m, e de mosaicos
de imagens Geocover, sendo as unidades de relevo agrupa-
das de acordo com a caracterização da textura e rugosidade
das imagens. A escala de trabalho adotada foi 1:1.000.000.

Tabela 1 – Declividade e amplitude topográfica das formas


de relevo identificadas no estado do Tocantins.

Amplitude
Declividade
Tipo de Relevo Topográfica
(graus)
(metros)
Planícies fluviais
0a3 0a2
ou fluviolacustres (R1a)
Terraços fluviais (R1b1) 0a3 2 a 20
Vertentes recobertas por
5 a 45 variável
depósitos de encosta (R1c)
Campos de dunas (R1f) 3 a 30 2 a 40

Tabuleiros (R2a1) 0a3 20 a 50

Tabuleiros dissecados (R2a2) 2a5 20 a 50

Baixos platôs (R2b1) 0a5 20 a 50

Planaltos (R2b3) 0a5 20 a 50

Chapadas e platôs (R2c) 0a5 0 a 20


Superfícies aplainadas
0a5 0 a 10
conservadas (R3a1)
Superfícies aplainadas
0a5 10 a 30
retocadas e degradadas (R3a2)
Inselbergs e outros relevos
25 a 60 50 a 500
residuais (R3b)
Colinas amplas e suaves (R4a1) 3 a 10 20 a 50
Colinas dissecadas e morros
5 a 20 30 a 80
baixos (R4a2)
Domos em estrutura
3 a 10 50 a 200
elevada (R4a3)
Morros e serras baixas (R4b) 15 a 35 80 a 200

Domínio Serrano (R4c) 25 a 60 300 a 2.000


Escarpas de borda
25 a 60 300 a 2.000
de planalto (R4d)
Degraus estruturais
10 a 45 50 a 200
e rebordos erosivos (R4e)
Vales encaixados (R4f) 10 a 45 100 a 300
Figura 4.4 - Mapa de padrões de relevo do estado do Tocantins,
Fonte: Marcelo Eduardo Dantas, 2018. 2018. Fonte: Marcelo Eduardo Dantas, 2018.

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GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Planícies Fluviais apresenta uma sedimentação fluvial bem mais escassa,


com geração de esparsas e descontínuas planícies fluviais
Este domínio é exclusivamente representado por pla- em meio à vastidão das superfícies de aplainamento.
nícies fluviais de inundação, diques marginais e terraços É notável o controle estrutural exercido sobre segmentos
fluviais (R1a e R1b1) depositados nos fundos de vales dos do rio Tocantins assumindo, assim, um padrão retilíneo
rios Tocantins e Araguaia e de seus afluentes principais, em vários trechos, como pode ser observado na região
excetuando a bacia sedimentar da Ilha do Bananal, que conhecida como Bico do Papagaio. Deste modo, a bacia
por suas características peculiares foi individualizada como do rio Tocantins apresenta um potencial hidrelétrico que
um domínio distinto. Toda a rede de drenagem tributária inexiste na bacia do rio Araguaia.Curiosamente, a mais
destes dois grandes rios no estado do Tocantins apresenta extensa várzea desenvolvida pelo rio Tocantins foi inundada
exígua a moderada sedimentação aluvial, exibindo planícies pelo reservatório da UHE do Lajeado, cujo lago promove a
de inundação por vezes mapeáveis em escala regional. amenização climática para Palmas, a moderna capital do
Destacam-se, neste contexto, os rios Muricizal, das Cunhas, estado do Tocantins, fundada em 1989 e implantada às
Juari, Bananal, Piranhas e Caiapó, situados no baixo vale suas margens (Figura 4.8).
do rio Araguaia; e os rios do Sono (Figura 4.5), Formiga,
Manuel Alves, São Valério, Santo Antônio, Santa Teresa,
Palma, Maranhão e Paranã, situados, preferencialmente,
no médio vale do rio Tocantins.
As planícies e os terraços do sistema fluvial Tocantins-
-Araguaia se espraiam às margens dos rios que cortam as
extensas superfícies de aplainamento desenvolvidas no
estado e constituem esparsas zonas deposicionais ativas
num território marcado pela denudação e pelo aplaina-
mento (Figura 4.6).
Todos estes terrenos apresentam um amplo domínio
de solos muito pouco desenvolvidos, formados sobre
sedimentos inconsolidados recentes, em muitos casos
submetidos a forte hidromorfismo (mal drenados), com
predomínio de Gleissolos Háplicos, em geral distróficos,
mas com ocorrência também de solos eutróficos. Nas pla-
nícies aluviais do rio Araguaia e seus afluentes, os Gleissolos
Figura 4.5 - Calha do rio do Sono em meio a extensas
Háplicos ocorrem predominantemente, seguidos dos Neos- superfícies aplainadas revestidas por vegetação de cerrado.
solos Flúvicos, e subordinadamente, Plintossolos Háplicos. Rodovia TO-030, entre as cidades de Novo Acordo e São Félix do
Já nas várzeas do rio Tocantins, em especial a partir de seu Tocantins. Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.
médio curso, é frequente a ocorrência de Neossolos Flúvicos
Eutróficos, alguns com abundância de argilas expansivas,
em geral também associados a Gleissolos, registrando-se
também a ocorrência de Plintossolos Háplicos, ou ainda
Neossolos Quartzarênicos hidromórficos (IBGE, 2007b,
2012, 2014a, 2014b, 2014c).
Assim sendo, apesar de sujeitas a inundações peri-
ódicas, as planícies fluviais dos rios Araguaia e Tocantins
apresentam algumas áreas com bom potencial para
exploração agrícola, adaptada às peculiaridades desse
ambiente.
O rio Araguaia é, tipicamente, um rio de planície,
apresentando um gradiente extremamente baixo, com
múltiplos canais e ilhas. Esse padrão fluvial é denomina-
do anabranching (LATRUBESSE, 2008), assentado sobre
planícies de inundação bem desenvolvidas (Figura 4.7).
Com o incremento da produção agrícola na região torna-se Figura 4.6 - Rio Tocantins e sua planície fluvial em paisagem
premente a futura implantação da hidrovia do Araguaia. monótona das extensas superfícies aplainadas, por vezes
interrompidas por esparsas cristas quartzíticas isoladas.
O rio Tocantins, por sua vez, apesar de também desen- Ponte da rodovia TO-387, junto à cidade de São Salvador do
volver um perfil longitudinal de gradiente muito baixo, Tocantins. Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

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ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

No extremo norte do estado, na região denominada de


Bico do Papagaio, delimitada pelos vales dos rios Tocantins
e Araguaia, próximo a sua confluência, ocorreu um relativa-
mente recente e importante episódio da história nacional: a
guerrilha do Araguaia, entre o final dos anos de 1960 até os
meados dos anos 1970 durante o ápice da ditadura militar.
Até os dias de hoje, existem pessoas desaparecidas, dentre
guerrilheiros e camponeses locais em decorrência desse
conflito armado. A atividade da guerrilha e da sua repressão
pelas forças armadas, no estado de Tocantins, concentrou-
-se nas proximidades do município de Xambioá. Esta é uma
parte da História relativamente desconhecida tendo sido mais
estudada após a redemocratização do país.

Depressão do Médio Vale do Rio Tocantins


Figura 4.7- Margem direita do rio Araguaia, apresentando
expressivo potencial turístico, pesqueiro e de navegação. A maior parte do estado é constituída por terras
Segundo Latrubesse (comunicação oral), o rio Araguaia é um baixas, porém bem drenadas, sendo caracterizadas pelas
dos maiores rios brasileiros cujo perfil longitudinal não foi barrado
por qualquer ação antrópica, com destaque para implantação depressões interplanálticas dos vales dos rios Tocantins e
de usinas hidrelétricas. Deste modo, a bacia hidrográfica Araguaia (ROSS, 1985; IBGE, 1993; IBGE, 2007a).
do rio Araguaia ainda é uma das mais preservadas do território A Depressão do médio vale do rio Tocantins foi for-
nacional. Porto fluvial da cidade de Caseara. malmente caracterizada por IBGE (1993) e consiste num
Fotografia: Márcio Costa Abreu, 2015.
dos mais extensos domínios geomorfológicos do estado.
Neste trabalho, abrange também a Depressão de Impera-
triz, individualizada pelo IBGE (2007a).
Este domínio geomorfológico foi outrora denominado
Depressão ortoclinal do Tocantins por Barbosa et al. (1973)
e é representado por uma vasta superfície de aplainamento
pontilhada por relevos residuais sob forma de mesetas e
morros-testemunho, apresentando um caimento geral de
sul para norte. Posicionada em cotas muito baixas, entre
100 e 350 metros de altitude (Figura 4.9), esta vasta su-
perfície é drenada, à margem direita, pelos vales dos rios
do Sono, Manuel Alves Pequeno e Manuel Alves Grande,
e na margem esquerda, por rios de menor extensão, como
Providência, dos Bois, ribeirões Tabocão, Tranqueira e Pau
Seco, e rio João Aires, dentre os principais.

Figura 4.8 - Lago de Palmas. Barragem do rio Tocantins formando


uma represa de 8 km de largura inundando a planície fluvial.
Ao fundo, escarpa da Serra do Lajeado. Rodovia TO-080,
entre as cidades de Palmas e Paraíso do Tocantins.
Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

O rio Tocantins representou uma histórica via de po-


voamento de uma vasta região que outrora compunha o
“norte do estado de Goiás” e que remonta ao século XVIII,
na esteira do ciclo da mineração. Além da atual capital
estadual - Palmas, e da antiga cidade - polo - Porto Nacio-
nal, destacam-se as cidades de São Salvador do Tocantins,
Peixe, Ipueiras, Brejinho de Nazaré, Lajeado, Miracema do
Tocantins, Pedro Afonso, Itapiratins, Palmeirante, Barra
do Ouro, Filadélfia, Babaçulândia, Aguiarnópolis, Tocanti-
nópolis, Itaguatins, Sampaio e São Salvador do Tocantins, Figura 4.9 - Extensa superfície de aplainamento suavemente
dissecada por uma rede de drenagem de muito baixa densidade.
dentre as principais. No vale do Araguaia, destacam-se as No horizonte, observa-se relevo residual sob forma de morro-
cidades de Caseara, Araguacema, Pau d’Arco, Araguanã, testemunho. Rodovia TO-416, entre as cidades de Riachinho e
Xambioá e Araguatins. Xambioá. Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011.

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GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Este domínio estende-se por uma comprida faixa de Este conjunto de formas de relevo resulta do arrasa-
direção norte-sul que abrange o centro-norte e o nordeste mento generalizado do substrato geológico de uma sequ-
do estado do Tocantins, incluindo a região denominada ência vulcanossedimentar praticamente completa de idade
de Bico do Papagaio. A Depressão do médio vale do rio devoniano-cretácica da bacia sedimentar do Parnaíba, que
Tocantins delimita-se, a oeste, com as serras e patamares compreende desde os siltitos e folhelhos das formações
do interflúvio Tocantins-Araguaia; a sul, com o Planalto Pimenteiras, Cabeças e Longá, até os arenitos e argilitos das
dissecado do Tocantins e com os patamares do Jalapão; e, a formações Corda e Itapecuru;e os derrames basálticos da
sudeste, com as chapadas do alto rio Parnaíba (Figura 4.10). formação Mosquito. Por fim, sobre todo este conjunto de
Em seu interior, estão inseridas as chapadas e mesetas de litologias, desenvolveu-se um aplainamento generalizado
Estreito-Carolina. Por fim, a norte e a leste, este domínio do relevo e um evento de laterização durante o Neógeno,
estende-se, em larga escala, pelo estado do Maranhão. que gerou perfis lateríticos imaturos.
Seu relevo é constituído por extensas superfícies Em decorrência da grande variabilidade geológica
aplainadas (R3a2), com esporádica ocorrência de morros- e biogeográfica registrada na Depressão do médio vale
-testemunho (R3b), incipientemente dissecadas por uma do rio Tocantins, observa-se uma profusão de tipos de
rede de drenagem de baixa densidade, todavia sem perder solos desenvolvidos na região. De forma geral, podemos
seu caráter aplainado. De forma frequente, ocorrem baixos subdividir esta vasta superfície em dois domínios morfo-
platôs (R2b1) (Figura 4.11) e rebordos erosivos (R4e) ligei- pedológicos principais:
ramente ressaltados topograficamente. Em determinadas a) Região do Bico do Papagaio, a norte da cidade de
porções desse domínio geomorfológico, predominam Araguaína, onde predominam solos profundos e lixivia-
terrenos modelados em morros baixos ou colinas com grau dos, devido a forte atuação do intemperismo químico em
variável de dissecação (R4a1 e R4a2). A planície aluvial clima subequatorial úmido a subúmido, revestidos tanto
do rio Tocantins ocorre de forma descontínua ao longo de pela Floresta Amazônica, quanto por mata de cocais, com
seu fundo de vale. Num dos estrangulamentos rochosos, predomínio do babaçu (Attalea speciosa), ou por florestas
inclusive, foi construída a UHE de Estreito, sobre rochas estacionais (IBGE, 2007c) (Figura 4.12). Predominam nas
vulcânicas da formação Mosquito. Entretanto, essa planície áreas mais planas os Latossolos Vermelho-Amarelos e
torna-se bem mais larga em seu baixo curso, próximo à Amarelos, Distróficos, em alguns casos associados a Ne-
confluência do rio Araguaia, a jusante da cidade de Impe- ossolos Quartzarênicos Órticos, cuja ocorrência está em
ratriz (DANTAS et al., 2013). geral relacionada ao afloramento de arenitos eólicos de

Figura 4.10 - Perfil geológico-geomorfológico de direção W-E, atravessando o centro-norte do estado do Tocantins entre a
cidadelocalidade de Couto de Magalhães, no vale do rio Araguaia e as chapadas do alto Parnaíba.
Fonte: Marcelo Eduardo Dantas & Maurício Gomes Rocha, 2018.

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ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

idade triássica da Formação Sambaíba. Ocorrem também relevo nos limites dos topos com as partes superiores das
Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos, que em algu- encostas dos vales que dissecam a paisagem. A ocorrên-
mas áreas apresentam horizonte superficial mais espesso e cia generalizada desses Plintossolos sugere um ambiente
escuro (A proeminente) ou ocorrência de plintita (plintos- pretérito de restrição de drenagem e alternância de condi-
sólicos), além de Plintossolos Háplicos, situados em áreas ções redutoras e oxidantes que resultou na concentração
de níveis altimétricos mais baixos, marginais às planícies diferencial de óxidos de ferro e a formação de horizontes
fluviais dos rios Tocantins e Araguaia, e ainda Neossolos plínticos em grandes extensões, a exemplo do que ocorre
Litólicos, estes em terrenos mais declivosos na borda atualmente em algumas planícies e fundos de vale, de cujo
de relevos residuais e em alguns vales mais encaixados. endurecimento irreversível por dessecamento posterior,
Destaca-se ainda a ocorrência de Latossolos Vermelhos Dis- condicionado a um rebaixamento do nível de base em
tróficos e Nitossolos Vermelhos Distróficos ou Eutróficos, escala regional, teve origem o material concrecionário
ambos de textura argilosa, que estão associados ao intem- atual. Igualmente abundantes são os Neossolos Quart-
perismo dos basaltos de idade jurotriássica da Formação zarênicos Órticos, predominantes nas áreas mais amplas,
Mosquito. Por fim, ressaltam-se manchas de solos de boa de conformação suave e extensos interflúvios, como nos
fertilidade natural associado à presença de argilas ativas, topos dos baixos platôs (R2b1) que sobressaem levemente
que contribuem para a retenção de nutrientes, como os do nível de aplainamento geral. Com frequência ocorrem
Luvissolos Háplicos e Chernossolos Argilúvicos, em meio associados a Latossolos Amarelos de textura média, que
a um amplo domínio de solos de baixa fertilidade natural se distribuem por toda a área, em geral em topografia
(IBGE, 2007b, 2012, 2014a). plana a suave ondulada (< 8% de declive). A ocorrência de
b) A sul de Araguaína este domínio apresenta solos Latossolos Vermelho-Amarelos é bem menos expressiva;
pobres em nutrientes, em grande parte arenosos e forte- destaca-se, todavia a sul, à margem esquerda do rio do
mente laterizados, em clima estacional seco-úmido, típico Sono, próximo à confluência com o rio Tocantins, a do-
dos cerrados. Destaca-se, neste contexto, a expressiva minância de Latossolos Vermelhos, de textura argilosa ou
ocorrência de Plintossolos Pétricos Concrecionários, que muito argilosa, desenvolvidos sobre espessas coberturas
se caracterizam por apresentar grande quantidade, mais detríticas nos topos de baixos planaltos (R2b3), em relevo
de 50% em volume, de concreções ferruginosas (petro- plano de grande extensão, que apresentam condições
plintita) do tamanho de calhaus ou cascalhos (diâmetro favoráveis à agricultura intensiva. Ocorrem, subordina-
>2 mm) em sua constituição, material este que por sua damente, Argissolos Vermelho-Amarelos e Plintossolos
maior resistência à remoção pelos processos erosivos atua Háplicos, ambos quase sempre de caráter distrófico, assim
como fator a retardar o avanço da erosão geológica remon- como Neossolos Litólicos e Cambissolos Háplicos, estes em
tante. Por essa razão, esses solos tendem a sobressair na geral relacionados a áreas mais declivosas, nas encostas
paisagem, muitas vezes delineando pequenas quebras de de vales (IBGE, 2007b, 2012, 2014a, 2014b).

Figura 4.11 - Relevo de baixos platôs ligeiramente mais elevados Figura 4.12 - Superfície de aplainamento com ocorrência de
que as superfícies aplainadas circunjacentes, recobertos por baixos platôs residuais (sobressaindo ao fundo) sustentados
solos profundos e bem drenados, por vezes concrecionários. por crostas lateríticas. Paisagem revestida por mata de babaçus
Estes terrenos encontram-se sulcados por uma rede de em condição climática úmida, típica do norte do estado, em
drenagem de baixa densidade. Rodovia TO-432, entre transição entre os biomas do Cerrado e da Floresta Amazônica.
as cidades de Colinas do Tocantins e Tupiratins. Rodovia TO-201, nas imediações da cidade de Buriti do Tocantins.
Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011. Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011.

55
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Em campo, observou-se uma expressiva área embasada Ressalta-se ainda o registro de um notável geossítio
por siltitos e folhelhos das formações Poti e Piauí, ambas de descrito pelo SIGEP (DIAS-BRITO et al, 2009), associado
idade carbonífera, que exibem processos de erosão laminar aos famosos troncos fósseis espalhados nos sedimentos
acelerada, sulcos e ravinamentos de tal relevância que provo- da Formação Pedra de Fogo, na bacia sedimentar do
caram a remoção da vegetação original e a perda da camada Parnaíba, especialmente na região de Bielândia, distrito
superficial do solo (Figuras 4.13 e 4.14). O cenário resultante de Filadélfia. Vulgarmente eles são conhecidos como
de tal dinâmica geomorfológica é uma paisagem típica de psaronius, representados por pedaços de troncos e ga-
um estágio inicial de desertificação, com uma profusão lhos, por vezes quase que inteiros, completos, métricos,
de solos decapitados e pedregosos, selados pela ação da silicificados por quartzo, que surpreendem até os mais
chuva e submetidos a uma intensa ação erosiva impetrada calejados paleontólogos (MARTINS et al., 2010).
pelo escoamento superficial. Este fenômeno de degrada- Historicamente, o vale do rio Tocantins representou
ção ambiental decorre do desmatamento generalizado do um corredor de comunicação entre o Centro-Oeste e o
cerrado nativo sobre terrenos muito frágeis, referentes a Norte do Brasil, vocação esta impulsionada na década
Plintossolos Pétricos Concrecionários e Cambissolos Háplicos de 1960, com a construção da rodovia Belém-Brasília
Tb Distróficos embasados por rochas pelíticas. (BR-153). Com a consolidação deste corredor viário, foi
Ressalta-se, por fim, a ocorrência muito restrita de desencadeado nas últimas décadas um vertiginoso pro-
antigos depósitos eólicos de presumível idade pleistocênica. cesso de desmatamento da vegetação original associado
As dunas fixas (R1f) atestam a vigência de paleoclimas ao avanço da extração madeireira e da fronteira agrope-
pretéritos mais secos ao longo do Quaternário em toda a cuária na região. O desenvolvimento econômico calcado
região (Figura 4.15). nas atividades agropecuárias foi significativo, projetando
a cidade de Araguaína como um importante polo regio-
nal, sendo alçada à condição de segunda cidade mais
importante do estado.
Este domínio é atravessado, de norte a sul, pela
rodovia BR-153 (Belém-Brasília). As principais cidades si-
tuadas na Depressão do médio vale do rio Tocantins são:
Araguaína, Lajeado, Miracema do Tocantins, Miranorte,
Rio Sono, Pedro Afonso, Guaraí, Colinas do Tocantins,
Itapiratins, Nova Olinda, Goiatins, Filadélfia, Babaçulândia,
Aguiarnóplis, Tocantinópolis, Itaguatins, Wanderlândia,
Piraquê, Axixá do Tocantins, Augustinópolis, Sampaio e
São Salvador do Tocantins.

Figuras 4.13 e 4.14 - Processos de erosão laminar acelerada Figura 4.15 - Dunas fixas constituídas por areias quartzosas
e ravinamentos promovendo a remoção do cerrado nativo inconsolidadas e oxidadas (Neossolos Quartzarênicos
e evidenciando fenômeno de degradação ambiental sobre as Órticos), apresentando coloração amarelado-clara.
superfícies aplainadas em área de solos concrecionários. Este depósito encontra-se escavado pela rodovia TO-010,
Rodovia TO-030, entre as cidades de Novo Acordo e São Félix do entre as cidades de Lajeado e Miracema do Tocantins.
Tocantins. Fotografias: Edgar Shinzato, 2015. Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2015.

56
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Chapadas e Mesetas de Estreito-Carolina

As Chapadas e Mesetas de Estreito-Carolina (de-


nominação extraída de DANTAS et al., 2013) consistem
numa antiga superfície planáltica francamente dissecada
e submetida a processos de pediplanação, resultando num
cenário de uma sucessão de planaltos, mesas e mesetas
(R2b3), entremeadas por vales encaixados (R4f) e algumas
colinas amplas (R4a1) e baixos platôs (R2b1) em meio a
vastas superfícies de aplainamento (R3a2) desenvolvidas
por intermédio do recuo lateral dos rebordos erosivos si-
tuados nos limites e no interior desse planalto dissecado.
Este domínio geomorfológico, pontilhado por inselbergs,
encontra-se quase que exclusivamente revestido por vege-
tação de cerrado (IBGE, 2007c) e também representa um
divisor de drenagem secundário entre as bacias hidrográ-
ficas dos rios Tocantins e Araguaia, onde se confrontam as
nascentes de pequenos tributários do Tocantins. O topo da
superfície planáltica está alçado a cotas que variam entre
300 e 450 metros de altitude, enquanto que as superfícies
pediplanadas circunjacentes da Depressão do médio vale
do rio Tocantins estão posicionadas em cotas em torno de
180 a 250 metros de altitude. Assim sendo, no estado do
Tocantins, este domínio geomorfológico não apresenta ele-
vações tão expressivas quanto no Maranhão. As vertentes Figura 4.16 - Voçoroca gerada sobre solos muito friáveis
e erodíveis (Neossolos Quartzarênicos), oriundos da
declivosas dos rebordos erosivos delineiam o limite entre intemperização dos arenitos de origem eólica da Formação
o piso das superfícies aplainadas e o topo do planalto, Sambaíba. Rodovia TO-210, entre as cidades de Ananás e
apresentando amplitudes de relevo modestas que variam Angico. Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011.
entre 100 e 200 metros de desnivelamento.
Esta típica modelagem da paisagem em planaltos, re- E sob a influência dos basaltos da Formação Mosquito
bordos erosivos e superfícies pediplanadas resulta de intrin- ocorrem solos de cores avermelhadas e textura argilosa
cado processo de esculturação do relevo condicionado por (Figura 4.17), em geral de boa fertilidade natural, como os
planos de fraturas ou falhas, ressaltados por lineamentos de Nitossolos Vermelhos Distróficos ou Eutróficos, relacionados
direção E-W impressos na rede de drenagem, com destaque preferencialmente às partes mais encaixadas dos vales que
para a direção assumida pelos ribeirões Taboca, Brejão e dissecam a paisagem, em relevo suave ondulado ou on-
Campo Alegre, todos pequenos afluentes do rio Tocantins. dulado, enquanto os Latossolos Vermelhos Distróficos, de
Este domínio geomorfológico abrange uma sequência maior expressão geográfica, ocorrem em cotas mais altas das
vulcanossedimentar da bacia gondwânica do Parnaíba, amplas encostas de relevo suave; registra-se ainda, nas pro-
composta por arenitos ortoquartzíticos de origem eólica ximidades da cidade de Angico, a presença de Chernossolos
e idade triássica da Formação Sambaíba, por derrames ba- Argilúvicos, caracterizados por sua fertilidade natural muito
sálticos de idade jurotriássica da Formação Mosquito e por elevada conjugada à alta atividade da fração argila, e por
arenitos flúvio-eólicos de idade jurocretácica da Formação apresentarem horizonte superficial do tipo A chernozêmico.
Corda. Frequentemente, sobre os topos planos do planalto Solos rasos e de alta erodibilidade, tais como os Neossolos
assentam-se coberturas detríticas de idade neógena. As Litólicos, ocupam as encostas mais íngremes dos rebordos
cornijas que encimam e sustentam o topo do planalto são erosivos, com ocorrência também de Argissolos Vermelho-
constituídas tanto por quartzo-arenitos endurecidos, ou -Amarelos. Nas superfícies pediplanadas circunjacentes,
mesmo silicificados, ou por rochas de derrames basálticos. posicionadas em cotas mais baixas, predominam solos muito
Sobre os topos dessas superfícies planálticas e nas pobres, arenosos ou lateríticos, tais como os Neossolos
colinas amplas em nível topográfico um pouco mais baixo Quartzarênicos Órticos, Plintossolos Háplicos e Plintossolos
desenvolvem-se solos muito pobres, profundos e fortemen- Pétricos Concrecionários (IBGE, 2007b, 2012, 2014a).
te drenados, tais como os Neossolos Quartzarênicos Órticos Este domínio encontra-se atravessado pela BR-226, em
e Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos Distróficos de sua parte central, e pela rodovia TO-134, que liga a locali-
textura média, relacionados aos arenitos das formações dade de Darcilândia e a cidade de Angico, situadas em sua
Sambaíba e Corda e às coberturas neógenas, que embora porção norte. As cidades de Wanderlândia e Babaçulândia
em relevo suave podem apresentar alta suscetibilidade à ero- situam-se no seu entorno, já no domínio da Depressão do
são se expostos a fluxo de água concentrado (Figura 4.16). médio vale do rio Tocantins.

57
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Este domínio delimita-se, a leste, com as serras e patama-


res do interflúvio Tocantins-Araguaia ou com a Depressão
do médio-alto vale do rio Tocantins; e, a sudoeste, com a
bacia sedimentar quaternária da Ilha do Bananal (Figura
4.18). A oeste, além da planície fluvial do rio Araguaia,
este domínio estende-se, em larga escala, pelo estado do
Pará (DANTAS & TEIXEIRA, 2011).
Seu relevo consiste de uma superfície aplainada bem
elaborada, com desenvolvimento de uma superfície aplai-
nada de grande extensão (R3a1 e R3a2) (Figura 4.19) ou
levemente dissecada em colinas muito amplas e suaves
(R4a1) (Figura 20). As planícies aluviais do rio Araguaia,
embutidas neste domínio geomorfológico, ocorrem de
forma descontínua ao longo de seu fundo de vale. Todavia
essas planícies são mais expressivas em seu médio curso,
Figura 4.17 - Corte de estrada em de solo profundo, argiloso, a montante da cidade de Araguacema.
de coloração e estrutura bastante homogêneas e boa fertilidade Esta vasta superfície de aplainamento resulta do ar-
natural, derivado da decomposição química de basaltos da rasamento generalizado do substrato geológico da faixa
Formação Mosquito. Rodovia TO-134, entre as cidades de de dobramentos Paraguai-Araguaia. Ressaltam-se, neste
Luzinópolis e Angico. Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011.
contexto, rochas de baixo a médio grau metamórfico de
idade neoproterozoica, constituídas por clorita xistos, filitos,
Depressão do Baixo-Médio ardósias e muscovita-biotita xistos das formações Couto
Vale do rio Araguaia Magalhães, Pequizeiro e Xambioá, além de conglomerados
basais e quartzitos da Formação Morro do Campo. Essas
A Depressão do baixo-médio vale do rio Araguaia litologias, pouco resistentes ao intemperismo e à erosão,
foi caracterizada pelo IBGE (1993) e estende-se por uma com exceção das rochas da Formação Morro do Campo
comprida faixa de direção norte-sul que abrange exten- correspondem, em geral, às vastas superfícies aplainadas
sas áreas da porção ocidental do estado do Tocantins. observadas na região. Destaca-se também a existência loca-
Neste trabalho, compreende também a Depressão de lizada de um greenstone belt de idade arqueana, composto
Cristalândia, individualizada também pelo IBGE (2007a). por xistos e rochas ultramáficas do Grupo Rio do Coco;

Figura 4.18 - Perfil geológico-geomorfológico de direção WNW-ESE, atravessando a porção central do estado do Tocantins,
entre as cidades de Caseara, no vale do rio Araguaia, e Mateiros, situada nos baixos platôs do Jalapão.
Fonte: Marcelo Eduardo Dantas & Maurício Gomes Rocha, 2018.

58
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

a ocorrência episódica de serpentinitos, xistos e gabros Estes terrenos aplainados ou de colinas ? suaves
do complexo máfico-ultramáfico das unidades Quatipuru apresentam cotas que variam entre 130 e 300 metros,
e Serra do Tapa, assim como um extenso gráben cretácico gradualmente decrescentes de sul para norte, seguindo,
de direção N-S preenchido por arenitos e conglomerados em linhas gerais, o curso do vale do rio Araguaia.
da Formação Rio das Barreiras (Figura 4.10). Este gráben, Valente & Latrubesse (2011) caracterizam o estágio
situado no noroeste do estado, se instala de forma irregu- avançado de desenvolvimento desta superfície aplainada
lar em meio à faixa móvel Paraguai-Araguaia, apresenta e ressaltam que a ilha do Bananal situa-se numa zona de
extensão de 170 quilômetros e largura máxima de 40 fraqueza crustal ao longo do megalineamento Transbrasilia-
quilômetros, afinando-se em direção sul (IBGE, 2007d). no que atravessa, transversalmente (numa direção SW-NE),
Coberturas detrito-lateríticas de idade neógena se espraiam boa parte do território brasileiro. Observa-se que este do-
por diversas áreas das superfícies pediplanadas. mínio geomorfológico posiciona-se em cotas ligeiramente
mais elevadas que as verificadas na bacia sedimentar da
Ilha do Bananal. Assim sendo, tal fato ajuda a explicar o
sutil reafeiçoamento moderno desta superfície, em ajuste
a um nível de base subsidente do rio Araguaia, na bacia
da Ilha do Bananal.
Ressalta-se ainda nesse domínio o desenvolvimento
de feições cársticas, tais como dolinas e morrotes residuais,
associados ao afloramento de rochas calcárias da Formação
Couto Magalhães (Figura 4.21). As maiores depressões
fechadas em meio a esta plataforma carbonática desen-
volvem extensas lagoas, cujos espelhos d’água estão
condicionados pela variação sazonal do nível freático (vide
lagoas da Confusão e da Trindade, dentre as principais)
(Figura 4.22). As depressões menores são colonizadas
por uma vegetação peculiar de porte florestal em meio
ao ambiente graminoso, sendo denominada de ipuca
(MARTINS et al., 2002; MARTINS et al., 2006). As ipucas
constituem, portanto, enclaves florestais que ocupam o
Figura 4.19 - Superfície aplainada levemente reafeiçoada,
interior de pequenas dolinas, e frequentemente apresentam
modelada em arenitos da bacia em rift Água Bonita, de idade um condicionamento estrutural, onde os eixos de dolinas
siluro-devoniana e associada a uma antiga zona de distensão do e uvalas seguem direções da rede de diáclases e fraturas
lineamento Transbrasiliano. Rodovia TO-373, entre as cidades de
(NASCIMENTO & MORAIS, 2012).
Araguaçu e Alvorada. Fotografia: Mauricio Gomes Rocha, 2015.
As ipucas são fragmentos florestais circulares, de ta-
manho variando, na sua maioria de alguns hectares, mas
ocorrendo em áreas de centenas de hectares (MARTINS et
al., 2002). Trata-se de uma floresta estacional semidecidual
aluvial, sendo frequente a ocorrência do Landi (Calophyllum
brasiliense) em algumas áreas ocorre o predomínio da
pimenteira (Licania parviflora) (MARTINS et al., 2002; MA-
RIMOM e LIMA, 2001). O acúmulo de matéria orgânica no
ecossistema de ipucas resulta em ambiente ácidos e pobres
em nutrientes, com predomínio de Gleissolos Melânicos
nas áreas centrais podendo ocorrer horizontes plínticos
em subsuperfície (MARTINS et al., 2006) As ipucas são
elementos importantes na ecologia e ciclo hidrológico da
região, uma vez que no período de cheias estabelecem a
ligação entre os vários rios, córregos e lagoas. Por serem
áreas endêmicas e frágeis, as ipucas devem ser consideradas
áreas de conservação e preservação.
A Depressão do baixo-médio vale do rio Araguaia, a
Figura 4.20 - Superfície aplainada desfeita em um relevo de jusante da ilha do Bananal, notadamente entre as cidades
colinas muito amplas e suaves, modeladas em xistos do Grupo
de Caseara e Conceição do Araguaia, no Pará, apresenta
Xambioá. Rodovia TO-374, entre as cidades de Gurupi e Duerê.
Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012. vastas extensões de terrenos planos com solos profundos

59
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

e bem drenados, adequados para a agricultura mecanizada


(Figura 4.23). Latrubesse & Stevaux (2006) ressaltam o re-
cente e acelerado avanço da fronteira agrícola em direção
ao baixo-médio vale do rio Araguaia, alertando para os
sérios impactos ambientais decorrentes tanto da supressão,
em larga escala, do cerrado nativo, quanto das alterações
da dinâmica fluvial e do assoreamento do rio Araguaia.
Deste modo, o vale do Araguaia, assim como o sudeste do
Pará, está integrado à franja pioneira do desmatamento
denominado “Arco do Desflorestamento”.

Figura 4.23 - Frente de expansão agrícola alcança os terrenos


aplainados, sustentados por rochas metapelíticas da
Formação Couto Magalhães, com ocorrência de Latossolos
Vermelhos Distróficos, profundos e bem drenados.
Rodovia TO-080, entre as cidades de Caseara e Marianópolis
do Tocantins. Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2015.

Na Depressão do baixo-médio vale do rio Araguaia,


a norte da cidade de Juarina, ocorre a Floresta Amazônica
em sua franja sul-oriental. O centro-sul deste domínio, a
partir da cidade de Couto de Magalhães, é ocupado pelos
cerrados. Entretanto, as áreas foram desmatadas e são
ocupadas por atividades agropecuárias (IBGE, 2007c).
Sobre a porção norte da Depressão do baixo-médio
Figura 4.21 - Morrotes residuais constituídos de metacalcários
da Formação Couto Magalhães, com lavra de exploração para vale do rio Araguaia com clima úmido e revestido por
suprimento de insumos para o florescente polo agrícola local. floresta, situado entre as cidades de Xambioá e Juarina,
Ressalta-se a ocorrência de solos rasos, de boa fertilidade natural desenvolvem-se solos bem drenados e de baixa fertilidade
e baixa capacidade de armazenamento de água (Chernossolos natural, por vezes com ocorrência de horizontes plínticos,
Rêndzicos), revestidos por mata seca (floresta estacional decídua).
Rodovia TO-374, unto às cercanias da cidade de Lagoa da
predominando os Argissolos Vermelho-Amarelos. Ocorrem,
Confusão. Fotografia Marcely Ferreira Machado, 2015. de forma subordinada, Latossolos Vermelho-Amarelos
e Amarelos, além de Argissolos Amarelos, estes relacio-
nados aos arenitos do gráben Rio das Barreiras; e nas
áreas mais dissecadas ou declivosas do relevo ocorrem
os Neossolos Litólicos, Distróficos ou mesmo Eutróficos
(sobre algumas das esparsas ocorrências de rochas ul-
tramáficas na região), ou ainda Cambissolos Háplicos.
A porção centro-sul da Depressão do baixo-médio vale
do rio Araguaia, com clima semiúmido e revestido por
cerrado, a sul da cidade de Couto de Magalhães, apresenta
grande abundância de solos pedregosos e extensamente
laterizados. Esta área representa o domínio absoluto
dos Plintossolos Pétricos Concrecionários. Subordina-
damente, ocorrem Latossolos Vermelho-Amarelos, em
geral dominantes em áreas de interfl úvios mais am-
plos, em relevo plano e suave ondulado, seguidos dos
Argissolos Vermelho-Amarelos, ambos Distróficos e
apresentando cascalhos de concreções ferruginosas
(petroplínticos); em proporção inferior encontram-se
Figura 4.22 - Lagoa da Confusão. Inusitado “lago cárstico”, com Neossolos Quartzarênicos Órticos e Cambissolos Hápli-
grande potencial turístico, resultante da formação de uma dolina,
posteriormente inundado pelo lençol freático. cos Distróficos, além de algumas áreas deprimidas com
Foto: Marcelo Eduardo Dantas, 2012. Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos (IBGE, 2007b).

60
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

De forma localizada ocorrem também solos de melhor ferti- ilha do Bananal foi gerada por um processo de avulsão do
lidade natural, alguns com expressiva quantidade de argilas rio Araguaia.Nesse contexto, o “rio” Javaés não constitui
expansivas (Cambissolos Háplicos Ta Eutróficos), associados um paraná, mas um braço abandonado do rio Araguaia.
à decomposição das rochas carbonáticas da Formação Em concordância com esta teoria, o alto curso do rio Ja-
Couto Magalhães. vaés, a montante de sua confluência com o rio Formoso,
As principais cidades que se situam neste domínio fica praticamente seco durante o período de estiagem
geomorfológico são Araguaçu, Formoso do Araguaia, devido à vazante do rio Araguaia e ao rebaixamento do
Duerê, Lagoa da Confusão, Cristalândia, Pium, Divinópolis nível freático regional.
do Tocantins, Marianópolis do Tocantins, Goianorte, Case-
Assim como o Pantanal, a bacia sedimentar da Ilha
ara, Araguacema, Couto de Magalhães, Juarina, Bernardo
do Bananal representa um sub-bioma peculiar do cerrado
Sayão, Arapoema, Pau d’Arco, Araguanã e Xambioá.
brasileiro que reserva uma extraordinária biodiversidade,
específica das terras úmidas das savanas tropicais. A ilha do
Planície do Rio Araguaia / Ilha do Bananal
Bananal caracteriza-se por vastos terrenos sazonalmente
No médio vale do rio Araguaia destaca-se uma grande inundáveis no período úmido (verão), em associação com
bacia sedimentar quaternária – a bacia do Bananal –, que as cheias do rio Araguaia e a consequente elevação do nível
consiste na mais extensa área deposicional intracratônica freático regional (VALENTE et al., 2013).
moderna do Brasil Central, inserida numa faixa de transição
entre os biomas do Cerrado e da Floresta Amazônica (VA-
LENTE & LATRUBESSE, 2011). A Planície do Rio Araguaia/
Ilha do Bananal foi formalmente caracterizada pelo IBGE
(1993) e estende-se por uma comprida faixa de direção
SSW-NNE que abrange extensas zonas alagadas no sudo-
este do estado do Tocantins.
A denominada Ilha do Bananal situa-se no estado do
Tocantins, mas sua bacia sedimentar estende-se, a oeste e
a sul, para os estados de Mato Grosso e Goiás. Esta bacia
sedimentar é preenchida por sedimentos fluviais de idade
pleistocênica da Formação Araguaia (BARBOSA et al., 1966;
LATRUBESSE et al., 2009), muitos dos quais posicionados
como terraços fluviais (R1b1) e, posteriormente, por uma
disseminada sedimentação fluvial holocênica que originou
uma vasta planície de inundação (R1a) (Figuras 4.24 e 4.25)
e a maior ilha fluvial do mundo, com mais de 20.000 km2.
Este domínio delimita-se, a leste, com a Depressão
do baixo-médio vale do rio Araguaia; e, a sul e a oeste,
estende-se para os estados de Goiás e Mato Grosso,
respectivamente. A bacia sedimentar quaternária da Ilha
do Bananal consiste na principal zona deposicional ativa
no Tocantins. É por sua vez drenada por tributários do rio
Araguaia (rios do Coco, Riozinho, Urubu, Duerê, Formoso,
Xavante e Água Fria), em cujas margens ocorrem planícies
fluviais constituídas por sedimentos recentes que se am-
pliam na medida em que se aproximam da extensa bacia
sedimentar da Ilha do Bananal. Esta vasta zona deposicional
apresenta cotas baixas que variam entre 170 e 220 metros,
embutidas em altitudes ligeiramente mais baixas do que
as das superfícies circunjacentes (Figura 4.26), sendo que
a grande planície apresenta altitudes gradualmente de-
crescentes de sul para norte, seguindo, em linhas gerais,
o curso do vale do rio Araguaia. Figuras 4.24 e 4.25 - Vasta planície aluvial do rio Urubu,
Valente & Latrubesse (2011) caracterizam o padrão subafluente do rio Javaés, no limite leste da bacia sedimentar
sedimentar da ilha do Bananal como um sistema agrada- da Ilha do Bananal. Plantio de soja em pleno período de estiagem,
em terrenos planos com lençol freático subaflorante. Predomínio
cional avulsivo, associado a um padrão de canal anabran- de Gleissolos Háplicos Distróficos. Rodovia TO-374,
ching (LATRUBESSE, 2008). Valente & Latrubesse (op. cit.) entre as cidades de Dueré e Lagoa da Confusão.
e Valente et al. (2013) demonstram, inclusive, que a própria Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2015.

61
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Figura 4.26 - Perfil geológico-geomorfológico de direção W-E, atravessando o centro-sul do estado do Tocantins, entre a ilha do Bananal,
no vale do rio Araguaia, e o Chapadão Ocidental Baiano. Fonte: Marcelo Eduardo Dantas & Maurício Gomes Rocha, 2018.

Neste peculiar ambiente, dominam os solos hidromór- partir da demarcação do Parque Nacional do Araguaia, que
ficos ou imperfeitamente drenados e fortemente lateriza- abrange boa parte da sua porção ocidental, considerado
dos, invariavelmente de baixa fertilidade natural. Trata-se pela Unesco como Reserva da Biosfera.
do domínio dos Plintossolos Háplicos e dos Plintossolos
Argilúvicos, estes predominantes na porção oeste, em geral Serras e Patamares
associados com Planossolos Háplicos, cuja característica do Interflúvio Tocantins-Araguaia
de mudança textural abrupta, com o aumento brusco do
conteúdo de argila no horizonte B, característica também As Serras e Patamares do Interflúvio Tocantins-
bastante comum nos Plintossolos Argilúvicos abruptos -Araguaia, termo cunhado pelo IBGE (1993), compreende
desta região, reflete o processo pedogenético de destruição um conjunto de elevações dispostas em alinhamentos
e translocação da fração argila dos horizontes superiores serranos, morros alinhados, escarpas e planaltos residuais,
do solo seguido de acúmulo em subsuperfície, processo que abrangem as denominadas Serras do Estrondo, das
denominado argiluviação. Nestes Plintossolos ocorre de Cordilheiras, da Malhada Alta e do Roncador. Este conjunto
forma associada a alternância de condições de redução e de serras perfaz um extenso divisor entre as bacias dos
oxidação, essencial à formação de plintitas (plintitização). rios Tocantins e Araguaia, e estende-se por mais de 500
Subordinadamente, em áreas mais baixas ocorrem solos quilômetros numa comprida faixa de direção norte-sul ao
mal drenados, como Gleissolos, enquanto nas porções longo do centro-norte do estado do Tocantins (MAMEDE
um pouco mais altas, em muitos casos correspondentes et al., 1981a). Entretanto, este conjunto de elevações exibe
aos terraços da ilha do Bananal, sob vegetação de porte um intenso desgaste erosivo e denudacional e apresenta-se
florestal, ocorrem solos de drenagem moderada, tais como de forma descontínua, interpenetrado pelas superfícies de
Latossolos Amarelos Distróficos plínticos e Argissolos aplainamento circundantes (Figura 4.27). Desse modo, os
Amarelos Distróficos plínticos. E nas várzeas situadas ao divisores entre as bacias dos dois grandes rios estão, em
longo dos fundos de vales dos rios Araguaia e Javaés e de muitas áreas, destruídos e arrasados ao nível dos pediplanos
toda a densa rede de tributários, predominam os Gleisso- que dominam a paisagem regional. Este domínio encontra-
los Háplicos Distróficos e, subordinadamente, Neossolos -se cercado e atacado pelas frentes erosivas das superfícies
Flúvicos Distróficos. A condição especial que caracteriza de aplainamento por todas as direções: delimita-se, a leste,
o ambiente dessa extensa planície, relacionada sobretudo com a Depressão do médio vale do rio Tocantins; a oeste,
ao alagamento sazonal, inviabiliza a constituição de aglo- com a Depressão do baixo-médio vale do rio Araguaia; e,
merados urbanos, todos periféricos, ao mesmo tempo em a sul, está circundada pela Depressão do médio-alto vale
que sua importância ecológica é reconhecida desde 1959, a do rio Tocantins.

62
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

ajustados ao nível de base das superfícies aplainadas


circundantes.Os terrenos declivosos das serras e escarpas
mantêm a vegetação nativa de cerrado, enquanto que
os topos dos platôs apresentam vegetação rasteira de
campo cerrado (IBGE, 2007c). Os topos dessa superfície
planáltica fragmentada estão alçados em cotas que variam
entre 450 e 650 metros de altitude, enquanto que as
superfícies pediplanadas circunjacentes estão posiciona-
das em cotas em torno de 220 a 320 metros de altitude.
As escarpas de borda de planalto constituem vertentes
abruptas e delineiam o limite entre o piso das superfícies
aplainadas e o topo do planalto, apresentando amplitudes
de relevo modestas que variam entre 200 e 300 metros
de desnivelamento.
A compartimentação geológico-geomorfológica
Figura 4.27 - Extensa superfície de aplainamento da Depressão desses terrenos configura-se do seguinte modo: o topo
do baixo-médio vale do rio Araguaia, que trunca e subdivide o dos platôs encontra-se sustentado por folhelhos, siltitos e
relevo planáltico da Serra das Cordilheiras, ao fundo. Rodovia
TO-255, entre as cidades de Fátima e Porto Nacional. arenitos de idade siluro-devoniana das formações Pimen-
Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012. teiras e Serra Grande, que representam a porção basal da
bacia sedimentar do Parnaíba. As escarpas e os pediplanos
Com o intuito de melhor avaliar este extenso conjunto subjacentes, por sua vez, encontram-se esculpidos em um
de terras elevadas que forjam uma espécie de “espinha complexo conjunto litológico da porção norte da faixa mó-
dorsal” do estado do Tocantins, optou-se por analisá-lo em vel Brasília, composto por um embasamento de idade pale-
duas partes: primeiramente será avaliado o conjunto serrano oproterozoica, constituído por ortognaisses do Complexo
formado pelas serras do Roncador, da Malhada Alta e das Rio dos Mangues, granulitos da unidade Porto Nacional e
Cordilheiras; a seguir, será analisada a Serra do Estrondo. metagabros e metanortositos da suíte Carreira Comprida;
Curiosamente, as serras das Cordilheiras e do Estrondo são e por granitoides intrusivos de idade neoproterozoica, refe-
separadas pelo vale plano e aberto do ribeirão Santa Lu- rentes aos metagranitos das unidades Matança, Lajeado e
zia, ajustado ao nível das superfícies aplainadas inferiores. Santa Luzia e aos metaconglomerados da Formação Morro
Apenas em um trecho curto, este vale encontra-se estran- do Campo e xistos da Formação Xambioá, estes últimos
gulado pelas vertentes escarpadas das serras supracitadas, associados à faixa móvel Paraguai-Araguaia.
formando um pequeno cânion. O vale do ribeirão Santa
Luzia constitui um dos exemplos de descontinuidade deste
domínio geomorfológico, resultante da coalescência dos
pediplanos das depressões dos rios Tocantins e Araguaia.
As serras do Roncador, da Malhada Alta e das Cordi-
lheiras correspondem à porção sul deste domínio geomor-
fológico e estão situadas próximo à margem esquerda do
rio Tocantins, balizadas pelas cidades de Porto Nacional,
Brejinho de Nazaré, Crixás do Tocantins e Santa Rita do
Tocantins, a sul; e pelas cidades de Palmas, Paraíso do
Tocantins e Monte Santo do Tocantins, a norte. Estas ele-
vações constituem superfícies planálticas residuais (R2b3),
ladeadas por curtas escarpas de borda de planalto (R4d),
ou serras isoladas (R4c). A Serra do Roncador, no extremo
sul desse domínio, próximo à cidade de Crixás do Tocantins,
apresenta-se como um maciço isolado e mais elevado, com
altitudes superiores a 700 metros. A Serra das Cordilheiras se
apresenta como uma extensa cuesta festonada, cujo front Figura 4.28 - Vista geral das vertentes abruptas que delineiam
o front escarpado da Serra das Cordilheiras, e dos topos planos
está voltado para oeste, em direção às cidades de Fátima e do reverso da cuesta, adernados suavemente para leste. Limite
Paraíso do Tocantins (Figura 4.28); e seu extenso e suave re- geotectônico entre a bacia do Parnaíba, representada pelos
verso está voltado para a calha do rio Tocantins (Figura 4.18). folhelhos da Formação Pimenteiras no reverso da cuesta, e a faixa
Este conjunto de serras encontra-se fragmentado móvel Paraguai-Araguaia, representada pelos quartzitos e xistos da
Formação Morro do Campo, no front da cuesta. Rodovia TO-374,
pelos ribeirões Conceição, do Carmo e dos Mangues, to- nas imediações da cidade de Paraíso do Tocantins.
dos tributários do rio Tocantins, cujos vales encontram-se Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2015.

63
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Sobre as superfícies planálticas ocorrem Cambissolos


Háplicos petroplínticos, pouco profundos e dominantes nos
trechos menos conservados dos topos e encostas adjacen-
tes, e Latossolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos, que são
profundos e argilosos, nas áreas mais amplas de relevo plano
ou suave ondulado. Em campo, observa-se que espessas
crostas lateríticas resistentes à erosão sustentam os topos
planos e retardam o processo de desmantelamento dos pla-
naltos remanescentes. Correspondem a Plintossolos Pétricos
Concrecionários, cuja gênese está relacionada a ambiente
com restrições de drenagem no passado, condicionando a
formação de plintita, que por dessecamento posterior deu
origem a petroplintita, presente em grande quantidade
nesses solos, hoje em posição topográfica levemente des-
tacada nos limites dos topos. Sobre as encostas íngremes
das escarpas de borda de planalto, assim como na serra do
Roncador, desenvolvem-se solos rasos ou pouco profundos Figura 4.29 - Aspecto do relevo da Serra do Estrondo, esculpida
e com alta suscetibilidade à erosão, tais como os Neossolos em morros dissecados com topos aplainados, denunciando uma
pretérita superfície planáltica, atualmente desfeita em morros.
Litólicos e Cambissolos Háplicos. Subordinadamente, ocor-
Rodovia TO-336, entre as cidades de Guaraí e Colméia.
rem Argissolos Amarelos petroplínticos, além de algumas Fotografia: Márcio Costa Abreu, 2015.
áreas com afloramentos de rocha (IBGE, 2007b, 2012).
Recentemente, os topos dos planaltos residuais e os re- Praticamente toda a Serra do Estrondo encontra-se
versos das cuestas vêm sendo desmatados para introdução revestida por fragmentos de vegetação de cerrado em
de atividades agropecuárias. Destaca-se, nesse contexto, meio a áreas desmatadas, excetuando-se sua porção norte,
a Serra das Cordilheiras, atravessada pela rodovia TO-080, nas proximidades de Xambioá, onde se observam rema-
entre as cidades de Palmas e Paraíso do Tocantins. nescentes de uma floresta ombrófila aberta (IBGE, 2007c).
Imediatamente a norte dessa rodovia estende-se a
De modo geral, a Serra do Estrondo, em toda a sua exten-
serra do Estrondo, desde as cidades de Monte Santo do
são não apresenta altitudes muito expressivas (Figura 4.10).
Tocantins e Barrolândia, até a cidade de Xambioá, avan-
Os topos dessa superfície planáltica fragmentada e os mor-
çando, inclusive, pelo estado do Pará. Este conjunto de
ros mais elevados atingem cotas que variam entre 400 e 700
elevações demonstra uma clara direção N-S, separando as
metros de altitude, enquanto as superfícies pediplanadas
bacias hidrográficas dos rios Tocantins e Araguaia (Figura
circunjacentes estão posicionadas em cotas em torno de
4.10) e são constituídas por planaltos residuais (R2b3) ou
140 a 260 metros de altitude.
baixos platôs (R2b1), frequentemente desfeitos num relevo
A despeito da grande extensão norte-sul ocupada
de morros e serras baixas alinhadas (R4b).
pela Serra do Estrondo, ela é constituída basicamente por
A porção sul da Serra do Estrondo, entre as cidades
duas províncias geológicas: a faixa móvel Paraguai-Araguaia
de Barrolândia e Colméia, assume a conformação de uma
e a bacia sedimentar do Parnaíba. Entretanto, devido à
grande cuesta com um front escarpado (R4d) voltado para
oeste e um reverso suave voltado para leste, frequentemen- complexidade geológico-geomorfológica apresentada por
te dissecado em rebordos erosivos (R4e). Já a sua porção esses terrenos profundamente desgastados pela erosão,
central, entre as cidades de Colméia e Bandeirantes do optou-se por uma avaliação em dois segmentos:
Tocantins, apresenta um estágio erosivo-denudacional mais O segmento meridional da Serra do Estrondo, situado
avançado, onde se observa um relevo de morros dissecados entre as cidades de Barrolândia e Colméia apresenta uma
(R4b) com a preservação de esparsos remanescentes do compartimentação geológico-geomorfológica no qual os
planalto original (R2b3) (Figura 4.29). Justamente em Ban- topos dos planaltos residuais estão sustentados por folhe-
deirantes do Tocantins desenvolve-se um extenso vão que lhos, siltitos e arenitos de idade devoniana da Formação
secciona a Serra do Estrondo devido a outra coalescência Pimenteiras. As escarpas e os morros dissecados, por sua
entre os pediplanos das depressões dos rios Tocantins e vez, encontram-se esculpidos em xistos da Formação Xam-
Araguaia. Por fim, entre as cidades de Bandeirantes do bioá ou em granitoides intrusivos da unidade Santa Luzia.
Tocantins e Xambioá, a Serra do Estrondo apresenta um Já o segmento setentrional apresenta uma maior
baixo planalto (R2b1), em parte fragmentado em morros complexidade geológica: além dos baixos planaltos
(R4b) ou em colinas dissecadas (R4a2). Este conjunto de mantidos pelas rochas sedimentares da formação Pimen-
elevações, seccionado pelo rio Lontras, afluente do rio Ara- teiras, com desenvolvimento de crostas lateríticas, e o
guaia, estende-se além de Xambioá rumo norte e atravessa relevo dissecado de colinas e morros esculpidos em xistos
o rio Araguaia adentrando o estado do Pará. Destacam-se, da Formação Xambioá (Figura 4.30), ocorrem ainda os
próximo a Xambioá, duas estruturas circulares de domos metaconglomerados da Formação Morro do Campo que
arrasados pela erosão, da Serra da Ametista. mantém as elevações mais proeminentes (Figura 4.31).

64
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

e os Argissolos Vermelho-Amarelos, petroplínticos ou


não. Subordinadamente, ocorrem Cambissolos Háplicos
e Neossolos Litólicos, ambos de baixa fertilidade natural
(distróficos) e em geral cascalhentos, ou mesmo pedrego-
sos. E sobre os metaconglomerados da Formação Morro
do Campo onde emergem cristas anelares dos morros
arrasados, além de relevos escarpados, predominam
solos rasos, tais como os Neossolos Litólicos Distróficos,
em geral associados a exposições rochosas (IBGE, 2007b).
Por fim, ocorrências localizadas de Argissolos Vermelhos e
Nitossolos Vermelhos, Distróficos ou Eutróficos, parecem
estar diretamente associadas ao afloramento de rochas
metabásicas da unidade Quatipuru.
As principais cidades que se situam ao longo das
Serras e Patamares do Interflúvio Tocantins-Araguaia são
Barrolândia, Colméia, Guaraí (distrito de Mirandópolis),
Figura 4.30 - Relevo de morros altos da porção setentrional
da Serra do Estrondo, modelado em xistos da Formação Xambioá. Itaporã do Tocantins, Aragominas, Carmolândia e Xambioá,
Rodovia BR-153, entre as cidades de Wanderlândia e Xambioá. esta última localizada nas adjacências desse domínio, às
Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011. margens do rio Araguaia.

Chapadas do Alto Rio Parnaíba

As Chapadas do Alto Rio Parnaíba, termo baseado em


denominação proposta pelo IBGE (1993), localizam-se no
nordeste do estado do Tocantins e se estendem em larga
escala pelo estado do Maranhão. Constituem superfícies
planálticas de extensos topos planos (R2b3), por vezes
sulcados por vales encaixados (R4f). Estes planaltos estão
alçados em cotas que variam entre 400 a 600 metros de
altitude, sendo que, no estado do Tocantins, registra-se
apenas seu limite ocidental, pois se observa, imediata-
mente, extensas escarpas de borda de planalto (R4d)
que demarcam o contato com as superfícies aplainadas
subjacentes, apresentando altitudes variáveis entre 300 a
370 metros. As escarpas de borda de planalto recebem a
denominação local de Serra do Gado Bravo e apresentam-
Figura 4.31 - Visada panorâmica da Serra da Ametista, que -se festonadas, com vertentes muito íngremes e dissecadas
consiste de uma crista anelar sustentada por rochas resistentes
e desnivelamentos totais entre 150 e 300 metros (Figura
da Formação Morro do Campo (quartzitos e conglomerados),
que demarca o limite externo de um domo arrasado de rochas 4.10). Ressalta-se, ainda, uma significativa sedimentação
arqueanas do Complexo Colméia. Rodovia TO-164, de colúvios e depósitos de tálus no sopé. Assim sendo, tais
entre as cidades de Araguanã e Carmolândia. escarpamentos constituem áreas de alta suscetibilidade a
Fotografia: Juliana Maceira Moraes, 2011. processos erosivos e a movimentos de massa. Estas formas
de relevo indicam, portanto, uma retomada erosiva por
Afloram também, no núcleo de domos arrasados, rochas evolução regressiva das vertentes escarpadas com a con-
muito antigas do embasamento arqueano a paleoprotero- comitante expansão das áreas pediplanadas da Depressão
zoico, representadas por gnaisses, migmatitos e granitos do médio vale do rio Tocantins.
do Complexo Colméia e da unidade Cantão e, por fim, As Chapadas do Alto Rio Parnaíba são revestidas,
intrusões de serpentinitos, xistos e gabros do complexo integralmente, por vegetação do bioma Cerrado, com
máfico-ultramáfico da unidade Quatipuru. predomínio de campos cerrados, nos topos planos, em
Sobre as superfícies planálticas de topografia suave grande parte já convertidos para agricultura mecanizada,
desenvolvem-se solos profundos, argilosos, com frequência a cerrados típicos e cerradões nas encostas das escarpas
cascalhentos e laterizados: Latossolos Vermelho-Amarelos (IBGE, 2007c).
petroplínticos e, subordinadamente, Latossolos Verme- No topo do planalto, correspondendo à Superfície
lhos, ambos de caráter distrófico. Já no relevo ondulado Sul-Americana de King (1956), desenvolvem-se perfis la-
dos morros dissecados, predominam solos fortemente teríticos ou detrito-lateríticos maturos e imaturos de idade
laterizados como os Plintossolos Pétricos Concrecionários paleógena. Subjacente a estas espessas formações superfi-

65
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

ciais registra-se uma complexa sequência de rochas da bacia Distróficos e Argissolos Vermelho-Amarelos Distróficos,
sedimentar do Parnaíba, constituída por siltitos, folhelhos, além de afloramentos de rocha (IBGE, 2007b, 2012,
arenitos, calcários e silexitos das formações Piauí e Pedra de 2014a, 2014b).
Fogo, que remontam do Carbonífero ao Triássico. Restrito à Por fim, ressalta-se a existência de uma notável estru-
porção meridional deste domínio geomorfológico afloram tura geológica caracterizada por uma cratera de impacto,
arenitos eólicos ortoquartzíticos da Formação Sambaíba e ou astroblema, incrustada em rochas de idade paleozoica
derrames basálticos da Formação Mosquito. da bacia sedimentar do Parnaíba (Figura 4.32). A denomina-
Nos topos planos dos chapadões, ocorrem solos ção local do astroblema é a Serra da Cangalha, que consiste
bastante profundos, fortemente drenados e de baixa numa estrutura circular de 12 quilômetros de diâmetro e
fertilidade natural, predominando Latossolos Amarelos cristas anelares resultante de impacto de meteoro ocorri-
Distróficos, de textura média, e em menor proporção Ne- do há cerca de 220 milhões de anos, durante o Triássico
ossolos Quartzarênicos Órticos, estes relacionados às en- (ALMEIDA FILHO et al., 2003). A cratera de impacto está
costas suaves que margeiam as linhas de drenagem pouco localizada num patamar intermediário (R2b1), delimitado
encaixadas, que são acompanhadas por estreita faixa de por rebordos erosivos (R4e) entre o topo da chapada
solos hidromórficos: Gleissolos Háplicos, Neossolos Quart- (R2b3) e um relevo de colinas e morros baixos (R4a2) da
zarênicos Hidromórficos e mesmo Organossolos Háplicos. depressão subjacente.
Em acentuado contraste, nas vertentes escarpadas que Neste domínio, não existe qualquer aglomerado urba-
bordejam os chapadões e rebordos erosivos adjacentes, no. As cidades de Lizarda, no extremo sul, e Campos Lindos,
prevalecem solos jovens e rasos: os Neossolos Litólicos a norte, são as aglomerações mais próximas, situadas no
Distróficos e, subordinadamente, Cambissolos Háplicos sopé deste domínio planáltico.

Figura 4.32 - Notável feição de dois anéis circulares com padrão de drenagem radial, associado ao astroblema da Serra da
Cangalha, no leste do estado do Tocantins. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Serra_da_Cangalha, acessado em 26/06/2018.

66
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Chapada das Mangabeiras na realidade, representa uma genuína escarpa de borda de


planalto (R4d), que emoldura uma paisagem emblemática
A Chapada das Mangabeiras, definida pelo IBGE junto à capital do estado – Palmas, juntamente com o lago
(2007a), representa uma extensa superfície cimeira regio- da represa da UHE Luís Eduardo Magalhães, que banha a
nal denominada de Espigão Mestre, que abrange zonas cidade (Figura 4.33).
limítrofes dos estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e De modo geral, o Planalto dissecado do Tocantins
Piauí, correspondente ao topo da bacia sedimentar San- comporta-se como uma superfície soerguida e ligeira-
franciscana. Este vasto planalto ocupa uma exígua área no mente basculada para leste, assumindo a forma de um
leste do estado do Tocantins. Consiste de um vasto platô extenso relevo de cuestas, cujo front está voltado para
(R2c) alçado a cotas que variam entre 750 e 850 metros o rio Tocantins e seu reverso prolonga-se em direção à
de altitude, sendo abruptamente delimitado por escarpas região do Jalapão (Figura 4.18). Entretanto este relevo
de borda de planalto (R4d) e degraus reafeiçoados (R4e). cuestiforme encontra-se, por vezes, intensamente dis-
Todavia, junto às cabeceiras dos rios Preto e Galhão e seus secado e a superfície original dos planaltos adernados
formadores, observa-se um contato gradual entre o topo está desmantelada num relevo de serras (R4c) e morros
da Chapada das Mangabeiras e a superfície de erosão dissecados (R4b).
posicionada em cotas baixas, correspondente aos Baixos Os topos aplainados das Serras do Lajeado e do Carmo
Platôs do Jalapão (Figura 4.18). A superfície cimeira está consistem de planaltos residuais em posição de cimeira
sobrelevada cerca de 100 a 300 metros acima do piso das (R2c), delimitados no flanco ocidental por escarpas de
superfícies de aplainamento subjacentes. Este domínio borda de planalto (R4d) (Figuras 4.34 e 4.35), e a leste
delimita-se, a oeste, com os Baixos Platôs do Jalapão e os por rebordos erosivos (R4e), superfícies planálticas ou pa-
Patamares do Jalapão; e, a leste, estende-se para os estados tamares em cotas intermediárias (R2b3), ou morros (R4b)
do Maranhão, Piauí e Bahia. e relevos serranos (R4c). Deste modo, as Serras do Lajeado
Esta restrita porção do platô do Espigão Mestre, assim e do Carmo apresentam-se como um planalto sobrelevado
como as escarpas erosivas que a circundam, está sustentada com altitudes entre 600 e 700 metros, com suave declive
por arenitos e conglomerados cretácicos do Grupo Urucuia, para leste (Figura 4.36). Para oeste, destacam-se abruptas
pertencente ao fecho deposicional da bacia sedimentar vertentes escarpadas com mais de 400 metros de desni-
Sanfranciscana. velamento, como observado junto às cidades de Palmas e
Sobre o topo da Chapada das Mangabeiras desenvol- Monte do Carmo, situadas próximo ao sopé, nas depressões
vem-se Latossolos Amarelos Distróficos, de textura média, e aplainadas subjacentes cujas cotas variam entre 230 e 300
subordinadamente, Neossolos Quartzarênicos Órticos, em metros de altitude. Para leste, este domínio geomorfológico
geral situados em nível topográfico um pouco mais baixo
registra um decréscimo gradativo de altitudes até atingir a
que o topo do platô. Nas escarpas de borda de chapada,
região do Jalapão, em nível mais baixo, em torno de 300
por sua vez, ocorrem Neossolos Litólicos Distróficos e aflo-
metros de altitude.
ramentos de rocha (IBGE, 2007b, 2012, 2013).
Neste domínio, não existe qualquer aglomerado urba-
no, sendo uma das áreas de cerrado nativo ainda conser-
vado na divisa quádrupla entre os estados do Maranhão,
Piauí, Tocantins e Bahia (DANTAS et al., 2013). Entretanto,
estes terrenos estão sendo recentemente alcançados pela
fúria da marcha da fronteira agrícola sobre os chapadões
revestidos por cerrado.

Planalto Dissecado do Tocantins

O Planalto Dissecado do Tocantins, denominação


proposta pelo IBGE (2007a), abarca um conjunto de ele-
vações de direção aproximada SSE-NNW que se estende
por aproximadamente 250 quilômetros, dispostas em
planaltos residuais, escarpas, serras e morros dissecados,
abrangendo as denominadas Serras do Lajeado e do Carmo,
dentre outras. Este domínio geomorfológico se caracteriza
por um conjunto de terras altas situadas a leste da calha Figura 4.33 - Vista da cidade de Palmas, às margens da represa
da UHE Luís Eduardo Magalhães. Ao fundo, as vertentes abruptas
do rio Tocantins num segmento de seu médio curso, entre da escarpa da Serra do Lajeado. Rodovia TO-080, entre
as localidades de Ipueiras e Miracema do Tocantins. Numa as cidades de Palmas e Paraíso do Tocantins.
visada de oeste para leste, a Serra do Lajeado (Figura 4.18), Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

67
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Este domínio delimita-se, a norte e a nordeste, com a


Depressão do médio vale do rio Tocantins; a sul e a oeste,
com a Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins; a
leste, com os Patamares do Jalapão; e a sudeste confron
ta-se com o domínio das serras isoladas da depressão do
médio-alto vale do rio Tocantins.
Em termos gerais, o Planalto Dissecado do Tocantins
abrange a borda sudoeste da bacia sedimentar do Parnaíba.
A compartimentação geológico-geomorfológica desses
terrenos configura-se do seguinte modo: o topo do planalto
dissecado e todo seu reverso encontram-se sustentados por
folhelhos, siltitos e arenitos de idade siluro-devoniana das
formações Pimenteiras e Serra Grande, que representam a
porção basal da bacia sedimentar do Parnaíba. Coberturas
lateríticas ou detrito-lateríticas de idade neógena capeiam
as porções mais conservadas das superfícies planálticas.
As escarpas e os pediplanos subjacentes, por sua vez,
encontram-se esculpidos em um complexo conjunto lito-
lógico da porção norte da faixa móvel Brasília, composto
por um embasamento de idade paleoproterozoica, cons-
tituído por granulitos da unidade Porto Nacional, e por
granitoides intrusivos de idade neoproterozoica, referentes
aos metagranitos das unidades Matança, Palmas e Carmo,
além de uma sequência vulcanossedimentar constituída por
arenitos, conglomerados e rochas vulcânicas da Formação
Monte do Carmo.
Feições cársticas em forma de cavernas esculpi-
das em arenitos finos da Formação Pimenteiras são
encontradas nesse domínio geomorfológico (MORAIS
& ROCHA, 2011).
Figuras 4.34 e 4.35 - Front dissecado da escarpa da Serra do Sobre as superfícies planálticas desenvolvem-se solos
Lajeado, sustentada por cornijas de folhelhos laterizados com profundos e argilosos, frequentemente pedregosos e late-
estratificação sub-horizontal da Formação Pimenteiras.
Rodovia TO-010, entre as cidades de Palmas e Lajeado. rizados: Latossolos Vermelhos Distróficos, predominantes
Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2015. nos trechos mais conservados dos topos, os Plintossolos
Pétricos Concrecionários, que sobressaem nos trechos
dissecados da maior parte desse domínio, secundados por
Argissolos Vermelho-Amarelos e Cambissolos Háplicos,
em geral petroplínticos. Subordinadamente, em áreas de
topografia suave ocorrem Latossolos Vermelho-Amarelos
Distróficos e Neossolos Quartzarênicos Órticos. Todavia,
na porção meridional deste domínio geomorfológico,
predominam solos rasos, cascalhentos e pedregosos, repre-
sentados por Neossolos Litólicos e Cambissolos Háplicos,
e alguns fortemente laterizados: os Plintossolos Pétricos
Litoplínticos. Em campo, observam-se cornijas lateríticas
resistentes à erosão sustentando o front das cuestas da
Serra do Lajeado. Sobre as encostas íngremes das escar-
pas de borda de planalto, desenvolvem-se solos pouco
profundos e com alta suscetibilidade à erosão, tais como:
os Cambissolos Háplicos, Argissolos Vermelho-Amarelos e
Neossolos Litólicos, em geral de baixa fertilidade natural
Figura 4.36 - Relevo plano a suavemente ondulado no topo, (distróficos) (IBGE, 2007b, 2012, 2014b).
no reverso da Serra do Lajeado, com ocorrência de Latossolo
Vermelho Distrófico. Rodovia TO-020, entre as cidades de
O Planalto dissecado do Tocantins está revestido,
Aparecida do Rio Negro e Novo Acordo. integralmente, por vegetação do bioma Cerrado, com
Fotografia: Edgar Shinzato, 2012.. predomínio de cerrado típico e ocorrência esporádica de

68
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

capões de cerradão. Boa parte da vegetação original está Os Patamares do Jalapão estão assentados sobre uma
conservada, a despeito da recente expansão de pastagens espessa sequência sedimentar da bacia do Parnaíba de
nas áreas mais planas (IBGE, 2007c). idade devoniano-triássica composta por folhelhos, siltitos,
As principais cidades situadas sobre os terrenos mais arenitos, calcários e silexitos das formações Pimenteiras,
elevados deste domínio geomorfológico são Aparecida do Cabeças, Longá, Poti, Piauí e Pedra de Fogo, e por arenitos
Rio Negro, Taquaruçu do Porto (distrito de Palmas), Santa ortoquartzíticos de origem eólica da Formação Sambaíba
Teresa do Tocantins e Pindorama do Tocantins. Lajeado e (Figuras 4.37 e 4.38). Sobrepostos a este pacote sedimentar,
Monte do Carmo, por sua vez, situam-se no piemonte de afloram arenitos de idade cretácica do Grupo Urucuia, da
sua vertente ocidental. bacia sedimentar Sanfranciscana. Estes terrenos estão inte-
gralmente revestidos por cerrados, sendo que a vegetação
Patamares do Jalapão original foi pouco alterada.
Sobre as superfícies aplainadas e as colinas amplas
Os Patamares do Jalapão, cuja individualização é desse domínio desenvolvem-se solos muito pobres,
proposta no presente trabalho, consistem num extenso frequentemente arenosos e fortemente drenados, com
pediplano composto por superfícies aplainadas degra- destaque para os Neossolos Quartzarênicos Órticos, e
dadas (R3a2), por vezes dissecadas em colinas amplas ocorrência bem menor de Latossolos Amarelos e Vermelho-
-Amarelos de textura média. Nos fundos de vales pouco
e suaves (R4a1) (Figura 4.18). Quando comparados ao
incisos e áreas abaciadas em meio a essas superfícies
posicionamento altimétrico das grandes superfícies de
aplainadas formam-se espraiadas planícies fluviais com
aplainamento regionais, correspondem a um patamar inter-
desenvolvimento de Gleissolos Háplicos e Melânicos
mediário resultante do desdobramento erosivo policíclico.
Distróficos e Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos.
Assim sendo, os Patamares do Jalapão encontram-se em
cotas mais altas do que as da Depressão do médio vale do
rio Tocantins, situadas a norte e noroeste deste domínio.
O limite entre eles, porém, não é muito preciso. Apenas
em determinados trechos ressaltam-se rebordos erosivos
(R4e) que demarcam mais precisamente os diferentes níveis
escalonados do aplainamento policíclico. Por outro lado,
este domínio geomorfológico posiciona-se em cotas mais
baixas do que as registradas nos Baixos Platôs do Jalapão,
situados a leste. A delimitação entre essas duas superfícies
de aplainamento é nítida, delineada por degraus estruturais
(R4e). Por fim, confronta-se, a oeste, com o Planalto Dis-
secado do Tocantins, cujos limites são evidenciados pelos
relevos mais suaves, em nível um pouco mais alto.
Desse modo, no centro-leste do estado do Tocantins
podemos reconhecer uma complexa evolução geomorfoló-
gica calcada em diferentes ciclos de pediplanação, a partir
da elaboração de quatro distintos níveis morfológicos,
dispostos em degraus escalonados: a superfície aplainada
da Depressão do médio vale do rio Tocantins, embutida
em cotas entre 270 e 350 metros, onde se encontram as
cidades de Novo Acordo e Lagoa do Tocantins; os Patama-
res do Jalapão, posicionados entre 300 e 550 metros de
altitude, onde estão situadas as cidades de Lizarda e Ponte
Alta do Tocantins; os Baixos Platôs do Jalapão, elevados
em cotas que variam entre 400 e 600 metros, onde estão
situadas as cidades de São Félix do Tocantins e Mateiros;
e, como testemunhos da superfície cimeira mais antiga,
elaborada durante o Paleógeno, sobressaem-se os topos
planos do Planalto Dissecado do Tocantins e da Chapada
das Mangabeiras, alçados a 700 - 850 metros de altitude.
Por último, os rebordos erosivos, degraus litoestruturais e Figuras 4.37 e 4.38 - Afloramentos de arenito ortoquartzítico de
origem eólica da Formação Sambaíba, com estratificação cruzada
escarpas de borda de planalto na transição entre eles de-
cuneiforme de grande porte e esculturação de relevo ruiniforme.
marcam o ritmo do recuo lateral das vertentes, decorrentes Rodovia TO-030, entre as cidades de Novo Acordo e São Félix do
dos processos de aplainamento policíclico. Tocantins. Fotografias: Edgar Shinzato, 2012..

69
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Por fim, nas vertentes declivosas dos rebordos erosivos, mais antiga, caracterizada por um notável aplainamento
predominam solos mais rasos e de alta erodibilidade: Neos- de enorme extensão e à elaboração da Superfície Velhas,
solos Litólicos e Cambissolos Háplicos, e subordinadamente, de idade neógena. Entretanto esta superfície rebaixada do
nos trechos um pouco mais suaves ocorrem Argissolos Jalapão consiste num pediplano intermediário, desdobrado
Vermelho-Amarelos e Plintossolos Pétricos Concrecionários e alçado por uma sequência de degraus/patamares escalo-
ou Litoplínticos (IBGE, 2007b). nados estando, portanto, posicionado cerca de 150 a 300
Lizarda e Ponte Alta do Tocantins são as únicas ci- metros acima do nível de base regional, representado pelo
dades localizadas neste domínio, que é atravessado pelas piso da Depressão do médio vale do rio Tocantins.
rodovias TO-030 e TO-250 que interligam a capital Palmas Esta unidade geomorfológica encontra-se modelada,
à região do Jalapão. exclusivamente, em arenitos de idade cretácica do Grupo
Urucuia. Todavia, a despeito de uma pretensa monotonia
Baixos Platôs do Jalapão litológica sobre esse domínio geomorfológico, a ocorrência
dos degraus litoestruturais (R4e) demarcando o limite entre
Os Baixos Platôs do Jalapão, outrora denominado os baixos platôs e as superfícies em nível topográfico infe-
Patamares das Mangabeiras (IBGE, 2007a), constituem um rior pode ser explicada por resistência diferencial à erosão
extenso pediplano, drenado pela bacia do rio do Sono, promovida por camadas silicificadas em meio ao espesso
composto em quase toda a sua extensão por Planaltos pacote arenítico do Grupo Urucuia (Figuras 4.41 e 4.42).
(R2b3) posicionados em cotas mais elevadas do que as dos
Patamares do Jalapão e da Depressão do médio vale do
rio Tocantins, por vezes reafeiçoados em colinas amplas e
suaves. Ressaltam-se na paisagem regional mesas elevadas
(R2c) de excepcional beleza cênica, delimitadas por escar-
pas abruptas, com ocorrência de paredões rochosos (R4d) e
depósitos de tálus (R1c) (Figura 4.39). A superfície de topo
das mesas, por sua vez, encontra-se, invariavelmente, man-
tida por níveis areníticos endurecidos e silicificados, muito
resistentes à erosão (Figura 4.40). Este domínio delimita-
-se, a oeste e a noroeste, com os Patamares do Jalapão; a
leste e a nordeste, com a Chapada das Mangabeiras (Figura
4.18); e no extremo sul confronta-se com os Patamares do
Chapadão Ocidental Baiano.
Com base na análise apresentada por estudos ante-
riores (MAMEDE et al., 1981a; BARTORELLI et al., 2010;
VILLELA & NOGUEIRA, 2011), o relevo regional é carac- Figura 4.39 - Aspecto de uma mesa imponente que se destaca
na paisagem regional do Jalapão em meio às superfícies
terizado por dois níveis geomorfológicos distintos: uma pediplanadas revestidas por cerrado. Rodovia TO-110,
superfície cimeira residual representada por imponentes entre as cidades de São Félix do Tocantins e Mateiros.
mesas e chapadas de topos planos, concordantes e subni- Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.
velados com o topo da Chapada das Mangabeiras; e por
uma vasta superfície suavemente ondulada disposta em
patamares escalonados que perfaz o conjunto dos baixos
platôs do Jalapão. Em meio à superfície pediplanada dos
baixos platôs ressalta-se a ocorrência esporádica dessas
mesas e chapadas, como morros-testemunho atestando
uma maior abrangência pretérita dos chapadões do oeste
baiano e do sul do Maranhão sobre o leste do Tocantins.
Conforme descrito por Villela & Nogueira (2011), o modelo
de evolução de relevo proposto por King (1956) coaduna-se
perfeitamente com esta paisagem geomorfológica.
Nesse sentido, e considerando a literatura geomorfo-
lógica clássica do Planalto Central, em especial, Almeida,
1953; Christofoletti, 1966; Ab’Saber, 1981, pode-se presu-
mir que o topo das chapadas cimeiras, alçadas entre 700 e
800 metros de altitude, estaria correlacionado à Superfície
Figura 4.40 - Aspecto de cornija formada por arenitos
Sul-Americana, de idade neocretáceo-paleógena. Os baixos silicificados da Formação Urucuia, sustentando o topo da mesa.
platôs, por sua vez, posicionados em cotas entre 400 e 700 Entrada da sede administrativa do Parque Estadual do Jalapão.
metros, estariam associados à destruição dessa superfície Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

70
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Figuras 4.41 e 4.42 - Degrau litoestrutural controlado por nível silicificado do arenito Urucuia apresentando desnivelamentos locais entre
50 e 90 metros e depósitos de tálus na base. Domínio de campo cerrado sobre Neossolos Quartzarênicos, formado predominantemente
por areias muito finas e permeáveis. Rodovia TO-255, entre as cidades de Mateiros e Ponte Alta do Tocantins.
Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

Sobre os Baixos Platôs do Jalapão desenvolvem-se geral cascalhentos e pedregosos, além de afloramentos de
solos muito pobres, arenosos e fortemente drenados, rocha (IBGE, 2007b, 2012, 2014b).
com destaque para os Neossolos Quartzarênicos Órticos, Neste domínio situam-se as cidades de Mateiros e
dominantes em quase toda a área, com ocorrência pouco São Félix do Tocantins, e pode ser acessado pelas rodo-
expressiva de Latossolos Amarelos Distróficos de textura viasTO-030 e TO-255 que conecta a região do Jalapão à
média que, no entanto ocupam a maior parte do relevo capital do estado, Palmas.
plano no topo das mesas. Os fundos de vales e áreas aba- Tal como documentado por Cristo et al. (2013), os
ciadas em meio às superfícies aplainadas desenvolvem em Baixos Platôs do Jalapão representam uma região de grande
certos trechos amplas planícies fluviais, com drenagem potencial geoturístico, a partir da associação de uma vasta
limitada. Predominam os Gleissolos Háplicos Distróficos e área de cerrado preservado com a ocorrência de rios, ca-
Neossolos Quartzarênicos Hidromórficos. Por fim, sobre choeiras, mesas e morros-testemunhos, cânions e dunas de
as vertentes abruptas e encostas íngremes dos degraus formidável beleza cênica (Figuras 4.43 e 4.44).Uma atração
litoestruturais e dos escarpamentos que bordejam o topo peculiar da região são os denominados “fervedouros”, que
das mesas, predominam solos rasos e de alta erodibilidade, consistem de pontos de surgência do aquífero Urucuia por
muito suscetíveis a movimentos de massa, tais como os artesianismo em porções mais rebaixadas da superfície pe-
Neossolos Litólicos Distróficos e Cambissolos Háplicos, em diplanada, gerando pequenos lagos com água ascendente.

Figuras 4.43 e 4.44 - Cachoeira da Formiga e fervedouro do Buriti, respectivamente. Acesso através de pequenas vicinais de terra, a
partir da Rodovia TO-110, entre as cidades de São Félix do Tocantins e Mateiros. Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

71
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Grande parte deste território está inserida em Uni-


dades de Conservação da Natureza (UCN) de proteção
integral, tais como o Parque Estadual do Jalapão, o Par-
que Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba e a Estação
Ecológica Serra Geral do Tocantins, e em UCN de Uso Sus-
tentável – Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão.
Destacam-se ainda comunidades quilombolas remanescen-
tes que vivem da agricultura de subsistência e do artesanato
de uma planta local, o capim-dourado (Syngonanthus
nitens), que não é uma planta da família predominante
dos capins, a Poacea, mas uma espécie da família Eurio-
caulaceae, mais conhecida pelas flores das sempre-vivas
que também são extraídas para confecção de artesanato
(Figura 4.45).O manejo destas áreas utilizando o arcaico
manejo de manejo de fogo, quando aplicado de forma
intensiva, pode ser prejudicial para a vegetação local dos
campos cerrados, em especial em ambientes frágeis como
estes que, em geral, apresentam reduzidos níveis de matéria
orgânica e são suscetíveis aos processos erosivos, mesmo
que em locais de baixa declividade, portanto são ambientes
que requerem uma atenção especial para prevenção de sua
degradação (LUMBRERAS et al., 2015).
Bartorelli et al. (2010) ressaltam o caráter local do
desenvolvimento das dunas do Jalapão, associado à erosão
regressiva da escarpa de uma grande mesa, denominada
de Serra do Espírito Santo. Desse modo, as famosas dunas
do Jalapão são resultantes de processos modernos de
remobilização eólica de areias quartzosas provenientes
do desmonte de uma chapada constituída por arenitos Figuras 4.46 e 4.47 - Aspecto da erosão generalizada da
da Formação Urucuia (Figuras 4.46 e 4.47). escarpa arenítica da Serra do Espírito Santo disponibilizando um
expressivo aporte de areias quartzosas inconsolidadas que, por
retrabalhamento eólico, geram as dunas do Jalapão. Rodovia TO-
Depressão do médio-alto vale 255, entre as cidades de Mateiros e Ponte Alta do Tocantins.
do rio Tocantins Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

A Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins é uma


O aplainamento foi tão eficiente que remanescem apenas
denominação adaptada do mapa original do IBGE (1993) e
esparsos inselbergs ou pequenas cristas isoladas sustentadas,
consiste no mais extenso domínio geomorfológico do sul
do estado do Tocantins. Representa uma superfície aplainada via de regra, por rochas muito resistentes ao intemperismo.
bem elaborada, com notável grau de arrasamento sobre Este extenso pediplano está posicionado em cotas
um diversificado conjunto litológico (Figuras 4.48 e 4.49). muito baixas, entre 250 a 450 metros de altitude, apre-
sentando caimento gradual e extremamente suave para sul
e para oeste. Esta vasta superfície é drenada, à margem
direita do Tocantins, pelos vales dos rios Paranã, Palma,
Conceição, São Domingos, São Valério, Manuel Alves, For-
miga, Areias e Água Suja, e na margem esquerda pelos rios
Santa Teresa, Santo Antônio, Crixás, ribeirão dos Mangues
e ribeirão Santa Luzia, dentre os principais.
A Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins
delimita-se, a oeste, com a Depressão do baixo-médio
vale do rio Araguaia; a norte, com as Serras e patamares
do interflúvio Tocantins-Araguaia, além de coalescer com a
Depressão do médio vale do rio Tocantins. A nordeste, e a
leste, delimita-se com o Planalto Dissecado do Tocantins e
com os Patamares do Chapadão Ocidental Baiano. Em seu
interior, estão inseridas as Serras da Depressão do médio-
Figura 4.45 - Peças típicas de artesanato do Jalapão produzidas a partir -alto vale do rio Tocantins e as Serras do Planalto Central
do capim-dourado. Fotografia: Wenceslau Geraldes Teixeira, 2018. Goiano (Figura 4.26).

72
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Figuras 4.48 e 4.49 - Pediplano conservado com relevo praticamente plano, exibindo notável grau de aplainamento.
Rodovia TO-050, entre as cidades de Silvanópolis e Santa Rosa do Tocantins.
Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

Seu relevo é constituído por extensas superfícies de ocupando terrenos com elevada aptidão e potencial para
aplainamento conservadas (R3a1) ou levemente reafei- produção agrícola intensiva (LUMBRERAS et al., 2015).
çoadas pela incisão fluvial moderna (R3a2), com espo- As vastas superfícies pediplanadas deste domínio
rádica ocorrência de inselbergs e cristas alinhadas (R3b). geomorfológico resultam do arrasamento de um complexo
Destacam-se ainda as planícies aluviais dos rios Tocantins, e intrincado conjunto litológico da porção norte da faixa
Paranã, Palma, Manuel Alves, Santa Teresa, Santo Antô- móvel Brasília. Devido à grande variabilidade de litologias
nio, São Valério, Formiga e Água Suja (R1a). Um pouco a registrada na Depressão do médio-alto vale do rio Tocan-
jusante da confluência entre os rios Tocantins e Paranã foi tins, optou-se por subdividir estes terrenos em dois domí-
construída a UHE Peixe-Angical, num trecho mais encaixado nios geotectônicos distintos, delimitados por um marcante
desses fundos de vale. lineamento diagonal de direção SW-NE (IBGE, 2007d) que
Leite & Rosa (2012) descreveram uma superfície plana cruza o rio Tocantins cerca de 30 quilômetros a jusante da
a suave ondulada ou modelada em colinas rasas para uma cidade de Peixe, descritos a seguir.
pequena bacia hidrográfica de aproximadamente 1.800 a) Na porção noroeste deste domínio, as superfícies
km2, em meio à vasta depressão do rio Tocantins, mais aplainadas estão sustentadas por um embasamento de
especificamente, na bacia do rio Formiga, em cuja foz idade paleoproterozoica constituído por ortognaisses do
se localiza a cidade de Ipueiras. As amplitudes de relevo Complexo Rio dos Mangues, granulitos da unidade Porto
mensuradas são muito baixas (inferiores a 20 metros) o Nacional e metagranitos da suíte Serrotes; por granitoides
que atesta o caráter de superfície aplainada de idade neó- intrusivos de idade neoproterozoica, constituídos por
gena, correlacionada à Superfície Velhas, de King (1956), granitos e metagranitos das unidades Palmas e Matança,
levemente dissecada por uma denudação moderna. Lajeado e Santa Luzia; e por uma sequência vulcanossedi-
Leite et al. (2014) analisando a bacia do rio Areias, mentar constituída por arenitos, conglomerados e rochas
situada logo a norte da bacia do rio Formiga, a sudoeste da vulcânicas da Formação Monte do Carmo. Na porção
cidade de Porto Nacional, também descrevem o relevo su- norte, afloram metaconglomerados da Formação Morro
avemente ondulado das superfícies aplainadas, mas ressal- do Campo e xistos da formação Xambioá, da porção basal
tam a ocorrência de relevos acidentados que emergem dos da faixa móvel Paraguai-Araguaia; e folhelhos, siltitos e
pediplanos sob forma de serras isoladas, ou pelas vertentes arenitos de idade devoniana da Formação Pimenteiras, esta
íngremes do Planalto Dissecado do Tocantins, situadas na pertencente à bacia sedimentar do Parnaíba.
borda oriental da bacia do rio Areias. Destaca-se uma gran- Nestes terrenos predominam os Latossolos Verme-
de suscetibilidade à erosão laminar sobre os terrenos mais lho-Amarelos profundos e lixiviados, sob forte atuação
declivosos, especialmente se estiverem embasados por solos do intemperismo químico e laterítico em clima tropical
pedregosos ou lateríticos (Plintossolos Pétricos). Tais áreas, semiúmido, revestidos preferencialmente por vegetação
de baixa aptidão natural para atividades agropecuárias, de cerrado, contudo apresentando esparsas manchas de
concentram os fragmentos remanescentes de cerrado floresta estacional (IBGE, 2007c). Nos relevos aplainados
nativo. Por outro lado, os autores verificaram nas planuras de topografia suave e conformação ampla, predominam
das superfícies aplainadas embasadas por solos profundos os Latossolos Amarelos e Vermelhos, em geral distróficos
e bem drenados (Latossolos) ocorre o avanço recente da e de textura argilosa, por vezes apresentando cascalhos de
agricultura mecanizada em grande escala (sojicultura), concreções ferruginosas em subsuperfície (petroplínticos).

73
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Subordinadamente, ocorrem Plintossolos Pétricos Concre- alta atividade, e Argissolos Vermelho-Amarelos, todos
cionários, e em menor proporção Cambissolos Háplicos e eutróficos, associados ao afloramento de rochas máficas
Argissolos Vermelho-Amarelos, que tendem a ocorrer nas do embasamento e de rochas carbonáticas do Subgrupo
áreas um pouco mais recortadas de relevo suave ondulado Paraopeba. Já nas várzeas situadas nos fundos de vales dos
a ondulado. Embora com pequena expressão territorial, rios Palma e Paranã desenvolvem-se Neossolos Flúvicos
merece destaque também a presença de Latossolos Verme- Eutróficos (IBGE, 2007b, 2012, 2014b, 2014c).
lhos Distróférricos, anteriormente denominados Latossolos Por fim, a regularidade do relevo por todo este con-
Roxos, relacionados ao intemperismo de rochas básicas e ul- junto de litologias, ao lado das características e distribuição
trabásicas da suíte Carreira Comprida. Nas várzeas situadas dos solos, indica a ocorrência de um aplainamento gene-
ao longo dos fundos de vales dos rios Tocantins e de seus ralizado correlacionado à Superfície Velhas, seguido por
principais afluentes desenvolvem-se Gleissolos Háplicos e, um evento regional de laterização, que pelo dissecamento
subordinadamente, Neossolos Flúvicos, ambos distróficos subsequente, acompanhando o aprofundamento do nível
(IBGE, 2007b, 2012, 2013, 2014b, 2014c). de base, gerou perfis lateríticos por vastas extensões. Assim
b) Nas porções sul e sudeste deste domínio, as super- sendo, coberturas lateríticas ou detrito-lateríticas de idade
fícies aplainadas estão sustentadas por um embasamento neógena se disseminam por diversas áreas das superfí-
de idade paleoproterozoica constituído por um complexo cies pediplanadas, com desenvolvimento de solos muito
gnáissico-migmatítico ou granítico da Unidade Almas- profundos e lixiviados: os Latossolos Vermelho-Amarelos,
-Cavalcante e por ocorrências de rochas metamáficas de com frequência apresentando expressivas quantidades de
idade arqueana a paleoproterozoica dos grupos Gameleira concreções ferruginosas (Figuras 4.51 e 4.52); enquanto
e Riachão do Ouro. No sul do estado, junto à divisa com os Plintossolos Pétricos estão relacionados de forma pre-
Goiás, afloram rochas de baixo grau metamórfico dos ferencial às áreas um pouco mais dissecadas.
grupos Serra da Mesa e Traíras (xistos, filitos e rochas
carbonáticas), formadas no final do Paleoproterozoico.
Destacam-se também rochas de idade neoproterozoica,
tais como os ortognaisses do Oeste do Tocantins e os
granitos das unidades Lajeado e Santa Teresa. Na porção
sudeste, afloram rochas metassedimentares de muito baixo
grau metamórfico, compostas por calcarenitos, argilitos,
dolomitos e siltitos do Subgrupo Paraopeba (bacia Bambuí),
gerados na borda ocidental do cráton do São Francisco.
Já sobre esta diversificada gama de litologias desen-
volve-se uma miríade de tipos de solos, frequentemente
pobres e laterizados, associados a um clima mais seco no
contexto do domínio tropical semiúmido dos cerrados. Os
solos predominantes são os Argissolos Vermelho-Amarelos
Distróficos, seguidos dos Plintossolos Pétricos Concrecio-
nários (Figura 4.50). Os primeiros são bastante expressivos
nos terrenos mais recortados, e em posição topográfica
ligeiramente inferior, dos vales dos rios Tocantins e Palma,
onde com frequência encontram-se associados a Cambis-
solos Háplicos, em muitos casos de pequena profundidade
(lépticos), e também a Neossolos Litólicos, cuja ocorrên-
cia em relevo tão suave é digna de registro; são eles, no
entanto, dominantes sobre as cristas isoladas e inselbergs.
Subordinadamente, ocorrem também Latossolos Verme-
lho-Amarelos Distróficos, relacionados preferencialmente
a áreas de relevo mais conservado, em nível topográfico
relativo um pouco mais alto, e de forma mais restrita
Plintossolos Háplicos Distróficos, em áreas deprimidas
com drenagem algo restrita, com destaque para as proxi-
midades das cabeceiras do rio Palma. Registra-se ainda a
presença de solos de boa fertilidade natural, alguns com Figura 4.50 - Perfil de Plintossolo Pétrico, com destaque
horizonte superficial do tipo A chernozêmico, em geral para o horizonte concrecionário próximo à superfície,
composto majoritariamente por nódulos pisolíticos da porção
bastante argilosos, que ocorrem de forma restrita no superior de um perfil laterítico. Rodovia TO-387, entre as cidades
extremo sudeste desse domínio, referentes a Nitossolos de Paranã e São Salvador do Tocantins.
Vermelhos, Cambissolos Háplicos, alguns com argila de Fotografia: Edgar Shinzato, 2012.

74
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Figuras 4.51 e 4.52 - Superfície aplainada conservada por espesso perfil laterítico de idade neógena observando-se ao fundo uma crista
baixa isolada em meio à paisagem monótona regional. Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico petroplíntico, por vezes truncado pela
erosão laminar, exibindo pavimento detrítico composto por pisólitos do nível laterítico concrecionário. Rodovia TO-050, entre as cidades de
Porto Nacional e Silvanópolis. Fotografias: Edgar Shinzato, 2012.

Este domínio é atravessado, de norte a sul, pela rodo-


via BR-153 (Belém-Brasília). De modo geral, nota-se uma
vastidão de pastagens naturais com esparso povoamento
concentrada nas cidades principais, com destaque para
Palmas, Porto Nacional, Gurupi e Paraíso do Tocantins,
que estão entre as mais populosas do estado. Destacam-
-se também as localidades de Brejinho de Nazaré, Ipuei-
ras, Silvanópolis, Santa Rosa do Tocantins, Natividade,
Almas, Porto Alegre do Tocantins, Peixe, Conceição do
Tocantins, São Salvador do Tocantins, Jaú do Tocantins,
Palmeirópolis, Alvorada, Figueirópolis, Aliança do Tocan-
tins, Crixás do Tocantins, Santa Rita do Tocantins e Fátima,
dentre as principais.

Serras isoladas da depressão Figura 4.53 - Aspecto geral do relevo movimentado da serra de
do médio-alto vale do rio Tocantins João Damião que emerge em meio às superfícies aplainadas
do médio-alto vale do rio Tocantins. Rodovia TO-050,
As Serras isoladas da depressão do médio-alto vale entre as cidades de Porto Nacional e Silvanópolis.
Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas.
do rio Tocantins, denominação proposta pelo presente
trabalho, abrange dois conjuntos de alinhamentos serra-
Este alinhamento de serras encontra-se sustentado por
nos paralelos, de direção aproximada SW-NE, constituí-
litologias da porção norte da faixa móvel Brasília, referentes
dos por serras e cristas descontínuas situadas na porção
a rochas do embasamento de idade paleoproterozoica,
centro-norte da Depressão do médio-alto vale do rio
representadas por ortognaisses do Complexo Rio dos Man-
Tocantins (Figura 4.26).
gues, e por granitoides intrusivos de idade neoproterozoica
O alinhamento situado a noroeste compreende as ser-
das unidades Lajeado e Areias, além de uma sequência
ras do Mourão, de Santo Antônio e de João Damião (Figura
vulcanossedimentar constituída por arenitos, conglome-
4.53) e estende-se por aproximadamente 110 quilômetros, rados e rochas vulcânicas da Formação Monte do Carmo.
sendo constituído por serras de vertentes íngremes (R4c) e Sobre as vertentes íngremes das cristas serranas,
cristas isoladas (R4b). Este alinhamento serrano é cortado desenvolvem-se solos rasos, com alta suscetibilidade à
pelo rio Tocantins junto à cidade de Ipueiras e ressalta o erosão fluvial e movimentos de massa, com destaque para
caráter residual destas serras em meio ao vasto pediplano os Neossolos Litólicos Distróficos. Subordinadamente,
circunjacente. As linhas de cumeada e os picos que emer- ocorrem Cambissolos Háplicos Distróficos e afloramentos
gem das superfícies pediplanadas atingem cotas que variam de rocha (IBGE, 2007b). Sobre os pediplanos circundantes,
entre 400 a 650 metros, perfazendo desnivelamentos de desenvolvem-se Plintossolos Pétricos Concrecionários.
pelo menos 150 metros acima do piso da depressão, em- Todas estas classes de solo têm restrições para usos agrí-
butida em cotas baixas, entre 250 e 300 metros. colas mais intensivos.

75
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

O alinhamento situado mais a nordeste compreende um Sobre as vertentes íngremes das cristas serranas,
conjunto de cristas alinhadas e elevações denominadas de escarpas e morros dissecados em ambos os conjuntos de
Serra da Natividade pelo IBGE (2007a) e estende-se por apro- serras desse domínio predominam solos rasos, com alta
ximadamente 150 quilômetros, sendo constituído por serras suscetibilidade à erosão e a movimentos de massa, com
de vertentes íngremes (R4c) e morros dissecados (R4b). destaque para os Neossolos Litólicos e Cambissolos Hápli-
A cidade de Natividade localiza-se junto ao sopé de uma das cos em geral distróficos, com ocorrência bem menor de
mais expressivas serras deste domínio geomorfológico, com Argissolos Vermelho-Amarelos, eutróficos ou distróficos e
amplitudes de relevo superiores a 400 metros (Figura 4.26). Plintossolos Pétricos Concrecionários, além de afloramentos
Ao norte, este alinhamento da serra da Natividade se de rocha. Já nas superfícies aplainadas que encimam alguns
une com os terrenos acidentados do Planalto Dissecado do trechos das serras e planaltos residuais na região de Nativi-
Tocantins e com as superfícies aplainadas dos Patamares do dade, desenvolvem-se solos profundos e lixiviados, alguns
Jalapão, e apresenta topos elevados e aplainados, típicos de fortemente laterizados, com destaque para os Latossolos
um planalto residual (R2b3), bordejado por curtos escarpa- Vermelho-Amarelos Distróficos e os Plintossolos Pétricos
mentos (R4d).As linhas de cumeada e os picos que emergem Concrecionários, que ocorrem ainda em áreas estreitas
das superfícies pediplanadas atingem cotas que variam entre embutidas e marginais às serras, conectadas aos pediplanos
550 e 800 metros, cerca de 300 a 400 metros acima do piso circundantes (IBGE, 2007b, 2012, 2014b, 2014c).
dos pediplanos circundantes, embutidos em cotas baixas, As serras da Depressão do médio-alto vale do rio
entre 300 e 350 metros. A superfície planáltica situada ao Tocantins estão recobertas, integralmente, por vegetação
norte deste domínio serrano apresenta algumas das cotas do bioma Cerrado, com predomínio de cerrado típico e
mais elevadas do estado, atingindo 940 metros de altitude. ocorrência esporádica de campos cerrados (IBGE, 2007c),
sendo que a vegetação original encontra-se conservada,
Este conjunto de terras altas encontra-se sustentado
devido à dificuldade de ocupação desses terrenos íngremes.
por litologias da porção norte da faixa móvel Brasília repre-
Sendo assim, ressalta-se a vocação natural deste domínio
sentadas por um embasamento de idade paleoproterozoica
para preservação ambiental.
constituído por rochas metamáficas do Grupo Riachão do
A cidade de Natividade constitui um dos antigos ar-
Ouro e pelo complexo gnáissico-migmatítico ou granítico
raiais mais setentrionais estabelecidos durante o ciclo do
da unidade Almas-Cavalcante. A Serra de Natividade é
ouro no século XVIII. Esta cidade se caracteriza também
embasada por rochas metassedimentares em baixo grau
por uma herança cultural de ourivesaria portuguesa, com
(xistos, metacalcários, filitos, quartzitos e conglomerados)
a fabricação de joias artesanais em filigrana. Sua fundação
do Grupo Natividade. Por fim, no topo do planalto aflo-
remonta a 1734 e mantém um casario colonial preservado
ram folhelhos, siltitos e arenitos de idade devoniana das
(Figuras 4.55 e 4.56), o que confere a esta cidade um grande
formações Pimenteiras e Cabeças, pertencentes à bacia
potencial turístico de caráter histórico e geomineiro.
sedimentar do Parnaíba.
Destacam-se nos flancos dessas serras, importantes Patamares do Chapadão Ocidental Baiano
jazidas de metacalcários (Figura 4.54), que são utilizadas
como corretivo agrícola para suprir a demanda da agricul- Os Patamares do Chapadão Ocidental Baiano, denomi-
tura do Tocantins e de outros estados, especialmente do nação proposta pelo IBGE (2007a), consiste numa superfície
oeste da Bahia. aplainada elaborada sob forma de uma depressão marginal,
situada no piemonte oeste do Chapadão Ocidental Baiano,
também denominado de Espigão Mestre (Figura 4.26). Po-
dendo ser considerado um prolongamento meridional dos
Patamares do Jalapão, este domínio geomorfológico repre-
senta um extenso patamar intermediário entre a Depressão
do médio-alto vale do rio Tocantins, a oeste; e o sopé do
Chapadão Ocidental Baiano, a leste. Consiste de um do-
mínio de baixos platôs (R2b1), frequentemente dissecado
em relevo de colinas e morros baixos (R4a2). Destacam-se
na paisagem regional esparsos morros-testemunho que
emergem da superfície aplainada, com destaque para a
imponente mesa da Serra de Taguatinga, que inclusive
representa um resquício de uma outrora posição mais a
oeste do Espigão Mestre. O contato entre os Patamares do
Chapadão Ocidental Baiano e a subjacente Depressão do
médio-alto vale do rio Tocantins é demarcado por extensos
Figura 4.54 - Alinhamento serrano sustentado por metacalcários
rebordos erosivos (R4e). A leste, é delimitado bruscamente
intercalados com quartzitos em área de mineração para produção
de insumos agrícolas. Rodovia TO-280, nas imediações da cidade com os terrenos acidentados da escarpa de borda de pla-
de Natividade. Fotografia: Márcio Costa Abreu, 2015. nalto do vasto Chapadão Ocidental Baiano (Figura 4.26).

76
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Figuras 4.55 e 4.56 - Ruas, casas e igrejas de Natividade, que remetem ao passado arquitetônico colonial.
Fotografias: Davi Nascimento Souza, 2015.

Este longo escarpamento é popularmente denominado de


Serra Geral de Goiás. Sustentado por cornijas de arenitos
endurecidos ou laterizados, esta formidável feição mor-
fológica apresenta vertentes muito íngremes e paredões
rochosos com uma espraiada sedimentação de depósitos
de tálus (R1c) no seu sopé. Em campo, observa-se a grande
magnitude dos processos erosivos que incidem sobre os
quartzo-arenitos friáveis da Formação Urucuia que mo-
delam a escarpa de borda de planalto, promovendo um
intenso aporte de sedimentos que entulham os fundos de
vales dos rios que drenam as superfícies subjacentes ao
extenso escarpamento (Figuras 4.57 e 4.58).
Desse modo, podemos caracterizar uma evolução
geomorfológica do sudeste do estado do Tocantins ba-
seada na elaboração de distintos ciclos de pediplanação,
a partir do aplainamento policíclico em três níveis morfo-
lógicos: a Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins,
embutida em cotas entre 370 e 450 metros, onde estão
situadas as cidades de Combinado, Taipas do Tocantins
e Porto Alegre do Tocantins; os Patamares do Chapadão
Ocidental Baiano, posicionados em cotas que variam
entre 500 e 650 metros, onde estão situadas as cidades
de Rio da Conceição, Dianópolis, Novo Jardim, Ponte
Alta do Bom Jesus, Taguatinga e Aurora do Tocantins; e,
como superfície cimeira mais antiga, elaborada durante
o Paleógeno, sobressai-se os topos planos do Chapadão
Ocidental Baiano ou Espigão Mestre, alçados a mais de
800 metros de altitude. Por fim, os rebordos erosivos e
as escarpas de borda de planalto caracterizam o recuo
erosivo das vertentes em direção a leste, decorrentes dos
processos de aplainamento policíclico, com destaque para
Figuras 4.57 e 4.58 - Fundo de vale do ribeirão do Salto
a Serra Geral de Goiás (Figura 4.59).
entulhado por sedimentos arenosos, gerando terraços fluviais de
Os Patamares do Chapadão Ocidental Baiano estão 4 a 5 metros de espessura em um padrão de canal entrelaçado,
assentados sobre rochas metassedimentares de idade oriundo do recuo erosivo da escarpa do Chapadão Ocidental
neoproterozoica da bacia Bambuí, apresentando meta- Baiano, numa paisagem pontilhada por morros-testemunho.
morfismo de muito baixo grau, gerado na borda ocidental Tal escarpamento, sustentado por cornijas resistentes à erosão,
exibe profundas cicatrizes de erosão linear e movimentos
do cráton do São Francisco. Ressaltam-se, neste contexto, de massa em suas vertentes íngremes. Rodovia TO-040,
os calcarenitos, argilitos, margas, siltitos e calcilutitos da entre a cidade de Novo Jardim e a divisa estadual TO-BA.
Formação Lagoa do Jacaré; e os arcóseos, calcarenitos, Fotografias: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

77
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

ficos, como os Neossolos Litólicos e Cambissolos Háplicos,


e subordinadamente Argissolos Vermelho-Amarelos, por
vezes de caráter eutrófico, além de afloramentos de rocha
(IBGE, 2007b, 2012, 2914b, 2014c).
Sobre os Patamares do Chapadão Ocidental Baiano,
situam-se as localidades de Rio da Conceição, Dianópo-
lis, Novo Jardim, Ponte Alta do Bom Jesus, Taguatinga e
Aurora do Tocantins e encontra-se atravessado, de norte
a sul, pelas rodovias TO-476, TO-040 e TO-110. Trata-se
de uma região com farta disponibilidade de água e com
potencial para o ecoturismo, com base na beleza natural
e nas possibilidades recreativas das surgências cársticas
(Figura 4.60).

Figura 4.59 - Paredões rochosos e depósitos de tálus


da imponente Serra Geral de Goiás. Rodovia TO-110,
entre as cidades de Taguatinga e Aurora do Tocantins.
Fotografia: Márcio Costa Abreu, 2015.

folhelhos, dolomitos e margas do Grupo Paraopebas.


Na porção noroeste deste domínio afloram rochas do
embasamento de idade paleoproterozoica, constituído
por um complexo gnáissico-migmatítico ou granítico da
unidade Almas-Cavalcante, e por ocorrências de rochas
metamáficas de idade arqueana a paleoproterozoica dos
grupos Gameleira e Riachão do Ouro e de granitos da
unidade Serra do Boqueirão. Por fim, na porção nordeste
deste domínio, esse conjunto de litologias encontra-se re-
coberto por arenitos ortoquartzíticos de ambiente fluvial a
Figura 4.60 - Surgência cárstica do rio dos Azuis, utilizado para
eólico, de idade cretácica, do Grupo Urucuia, pertencente
fins turísticos e recreativos. Pequena vicinal de terra a partir da
à bacia Sanfranciscana. rodovia TO-110, entre as cidades de Taguatinga e Aurora do
Na porção sul deste domínio, entre Ponte Alta do Bom Tocantins. Fotografia: Marcely Ferreira Machado, 2015.
Jesus e Novo Alegre, predominam florestas estacionais se-
midecíduas a decíduas, em grande parte desmatadas para
Chapadão Ocidental Baiano
introdução de atividades agropecuárias. Na porção norte,
entre Rio da Conceição e Taguatinga, prevalece o cerrado,
O Chapadão Ocidental Baiano, definido pelo IBGE
em boa parte preservado (IBGE, 2007c).
(2007a), também denominado de Espigão Mestre por
Na parte sul, predominam áreas de relevo mais
Ab’Saber (1964), representa uma vasta superfície cimeira
recortado, onde se desenvolvem solos em geral pouco
regional que apresenta um rebordo abrupto e escarpado
profundos e de boa fertilidade natural (eutróficos), sob a
para oeste, em direção ao vale do rio Tocantins, e um
influência dos metassedimentos carbonáticos do Grupo
imenso planalto de relevo plano e monótono com um
Paraopeba, tais como Cambissolos Háplicos, em alguns
caimento imperceptível para leste, drenado por impor-
casos com argila de alta atividade, e Neossolos Litóli-
tantes afluentes da margem esquerda do rio São Francisco
cos. Subordinadamente ocorrem Nitossolos Vermelhos,
(Figura 4.26). Esta superfície cimeira corresponde ao topo
Chernossolos Háplicos e Argissolos Vermelho-Amarelos.
da bacia sedimentar Sanfranciscana. Este extenso domínio
Já acima do paralelo de Ponte Alta do Bom Jesus é mais
geomorfológico, todavia, ocupa uma exígua área no leste
ampla a faixa de relevo suave que bordeja a escarpa do
planalto a leste, onde predominam solos mais profundos e do estado do Tocantins. Consiste de um vasto platô (R2c)
de baixa fertilidade natural, em grande parte relacionados alçado em cotas que variam entre 860 e 980 metros de
aos arenitos cretácicos do Grupo Urucuia, com destaque altitude, sendo abruptamente delimitado por escarpas
para os Neossolos Quartzarênicos Órticos, e ocorrência de borda de planalto (R4d). Este extenso escarpamen-
menor de Latossolos Vermelho-Amarelos de textura média to é caracterizado por um relevo íngreme de vertentes
e Cambissolos Háplicos Distróficos, estes em geral em áreas muito acidentadas e amplitudes topográficas entre 300
mais desgastadas pela erosão. Já nas encostas dissecadas e 400 metros, com franca ação de processos erosivos e
e sobre os terrenos declivosos dos rebordos erosivos pre- movimentos de massa (especialmente quedas de blocos e
dominam solos rasos e pouco profundos, em geral distró- deslizamentos translacionais rasos no contato solo-rocha)

78
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Figura 4.62 - Superfície cimeira do Chapadão Ocidental Baiano,


Figura 4.61 - Queda de blocos a partir do desprendimento de relevo plano e solos profundos, bem drenados e lixiviados
de pedaços da rocha da cornija arenítica endurecida, gerando (Latossolos Vermelho-Amarelos e Amarelos) ocupada por uma
um pequeno fluxo de detritos ao longo da vertente agricultura tecnificada em grandes propriedades.
íngreme da escarpa de borda de planalto. Rodovia TO-040, junto à divisa estadual TO-BA.
Fotografia: Márcio Costa Abreu, 2015. Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2012.

(Figura 4.61). O topo do chapadão é, frequentemente, Uma abordagem concatenada dos diversos parâmetros
sustentado por cornijas de arenitos silicificados e cangas do meio físico que caracterizam o território do sudeste do
lateríticas. Espraiadas rampas de colúvio e tálus (R1c) se Tocantins (Figura 4.63) permite proceder a uma análise
derramam junto ao sopé das escarpas. Por fim, o processo espacial sofisticada, como descrito a seguir: o topo do planal-
mais acentuado de recuo erosivo a remontante da escar- to do Chapadão Ocidental Baiano apresenta boa aptidão
pa, promovido pelos rios Mosquito, Sobrado, Palmeiras para agricultura mecanizada e representa uma relevante
e ribeirão do Inferno, gera vales encaixados (R4f) com zona de recarga para o importante aquífero Urucuia, que
cânions abruptos. Este domínio delimita-se, a oeste, com abastece os tributários das bacias hidrográficas dos rios
os Patamares do Chapadão Ocidental Baiano; e, a leste, Tocantins e São Francisco. Por outro lado, o relevo escarpa-
estende-se para o estado da Bahia. do que marca o limite com as superfícies de aplainamento
Esta restrita porção do platô do Espigão Mestre, assim de nível inferior inseridas na bacia do Tocantins apresenta
como as escarpas erosivas que o delimitam, está sustentada uma notável fragilidade morfodinâmica, evidenciada tanto
por arenitos e conglomerados cretácicos do Grupo Urucuia, nas cicatrizes de erosão e deslizamentos em suas vertentes
pertencente ao fecho deposicional da bacia sedimentar íngremes, quanto na deposição de possantes acumulações
Sanfranciscana. de colúvio-tálus em seu sopé. Assim sendo, devido à alta
Sobre o topo do Chapadão Ocidental Baiano desen- suscetibilidade deste ambiente a processos erosivos e gravi-
volvem-se solos profundos, bem drenados e lixiviados, tacionais, os terrenos escarpados devem ser destinados à
tais como Latossolos Vermelho-Amarelos e Amarelos preservação e exploração de atividades geoturísticas, como
Distróficos, de bom potencial agrícola desde que se utilize também nas áreas de afloramento dos metassedimentos e
um elevado nível tecnológico (LUMBRERAS et al., 2015). carbonatos do Grupo Bambuí, sotoposto ao arenito Urucuia,
Subordinadamente ocorrem também Neossolos Quartza- onde a ocorrência de surgências cársticas conferem grande
rênicos Órticos, em geral associados às encostas suaves potencial para o desenvolvimento do ecoturismo (Figura
dos poucos vales que recortam o chapadão. Nas escarpas 4.60). Destaca-se, todavia, a vulnerabilidade do aquífero
de borda de chapada, por sua vez, predominam Neossolos Urucuia frente à contaminação. O uso inadequado de
Litólicos Distróficos e afloramentos de rocha. Por fim, sobre agrotóxicos no topo do planalto pode acarretar, em longo
as rampas de colúvio e tálus, no sopé do longo escarpa- prazo, uma irreversível contaminação dos aquíferos intergra-
mento da Serra Geral de Goiás (Figura 4.26), os Neossolos nular e cárstico conectados, com severos prejuízos para o
Quartzarênicos Órticos são amplamente dominantes ambiente e saúde pública. Em síntese, é possível tecer uma
(IBGE, 2007b, 2012, 2014b, 2014c). série de recomendações para os gestores públicos com base
Neste domínio, a vegetação de cerrado nativo, que na análise efetuada pela Geodiversidade, em que se ressalta
outrora recobria o topo do chapadão, praticamente não a necessidade de uma redução significativa do emprego de
existe mais, pois seus terrenos estão situados numa zona de agrotóxicos e fertilizantes no topo do planalto; a proteção de
franca consolidação de agricultura mecanizada em grandes nascentes e encostas do relevo de escarpas; e o adensamen-
propriedades e voltada para exportação (soja e algodão) to das atividades econômicas (em especial o agroturismo)
(Figura 4.62), subsistindo apenas nas encostas declivosas nos patamares adjacentes ao Chapadão Ocidental Baiano e
da borda do planalto. superfícies aplainadas que se estendem além deles.

79
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

Figura 4.63 - Modelo conceitual sintético da Geodiversidade do Sudeste do estado do Tocantins.

Serras do Planalto Central Goiano nos tornam-se progressivamente mais baixos e assumem o
modelado de cristas quartzíticas alinhadas e descontínuas
As Serras do Planalto Central Goiano, denominação (R4b), sendo que, frequentemente, refletem os dobra-
proposta pelo presente trabalho, abarcam três conjuntos de mentos regionais ao qual o substrato foi submetido. Neste
alinhamentos serranos situados na divisa entre os estados sentido, tais cristas representam os últimos remanescentes
do Tocantins e de Goiás, constituídos por serras e cristas a resistir ao aplainamento generalizado que elabora a
aguçadas de direção preferencial N-S que se destacam Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins, dominan-
topograficamente em meio às planuras da Depressão do te na paisagem regional do sul do estado do Tocantins.
médio-alto vale do rio Tocantins. Entretanto, já no estado As linhas de cumeada e os picos que emergem das superfí-
de Goiás, tais terrenos elevados integram um domínio cies pediplanadas atingem cotas elevadas que variam entre
geomorfológico mais extenso que consiste no Planalto 700 e 950 metros. Desse modo, estas elevações perfazem
Central Goiano, cujo contraponto, em termos de superfícies desnivelamentos entre 250 e 400 metros acima do piso da
aplainadas rebaixadas, é representado, a leste pelo Vão do depressão, embutidas em cotas baixas, entre 300 e 350
metros. Todavia, nas cercanias da cidade de Palmeirópolis,
Paranã e, a oeste, pela Depressão do médio-alto vale do
junto à divisa com Goiás, as superfícies aplainadas já se
rio Araguaia (IBGE, 1993). Assim sendo, tais serras que se
encontram posicionadas a 500 metros de altitude, num
destacam no sul do estado do Tocantins constituem apenas
relevo de transição para as superfícies mais elevadas do
a extremidade setentrional de um vasto domínio geomor-
Planalto Central Goiano. Mais a norte, junto à localidade de
fológico que abrange extensas áreas do centro-norte do
Jaú do Tocantins, ressalta-se um conjunto de baixas cristas
estado de Goiás (MAMEDE et al., 1981b).
de quartzito alinhadas com vertentes declivosas e linhas de
Com base numa adaptação do mapeamento geomor-
cumeada bem marcadas, cerca de 100 a 200 metros acima
fológico do IBGE (2007a), os três conjuntos de alinhamentos
das superfícies aplainadas adjacentes.
serranos que compõem este domínio geomorfológico, Estes terrenos acidentados são sustentados por lito-
considerados como unidades distintas naquele trabalho, logias muito antigas, de idade paleoproterozoica, da faixa
englobam, de oeste para leste: as Serras de Palmeiró móvel Brasília, representadas por rochas metassedimen-
polis-Grande; o complexo montanhoso Veadeiros-Araí; e tares do Grupo Serra da Mesa. Em decorrência de processos
as Serras de Arraias-Santa Brígida. de erosão diferencial, os quartzitos sustentam as cristas e
Os alinhamentos situados mais a oeste compreendem serras elevadas, enquanto que os xistos e metacalcários,
as serras de Palmeirópolis-Grande e estendem-se por 115 menos resistentes ao intemperismo, afloram em áreas mais
quilômetros, num sentido N-S, até praticamente alcançar rebaixadas e desgastadas desse domínio serrano (Figura
a calha do rio Tocantins. Estas elevações são caracterizadas 4.64). Ocorrem também granitoides intrusivos de idade
por serras imponentes (R4c) junto à divisa com Goiás, mas mesoproterozoica da unidade Serra Dourada e sienitos da
à medida que avançam para norte, tais alinhamentos serra- suíte alcalina de Peixe.

80
ORIGEM DAS PAISAGENS DO ESTADO DO TOCANTINS

Este conjunto de terras altas encontra-se sustentado


por litologias da faixa móvel Brasília composto por rochas
antigas de idade meso a paleoproterozoica, representadas
por rochas metassedimentares de baixo grau metamórfico
da Formação Traíras (filitos e xistos) e do grupo Paranoá
(quartzitos, metassiltitos e metargilitos). Na porção leste
destas serras afloram quartzitos, conglomerados e rochas
metavulcânicas da Formação Arraias.
Num contexto regional, observa-se um típico relevo
apalachiano constituído por cristas de quartzito interca-
ladas com superfícies aplainadas modeladas em xistos.
Este modelado torna-se característico desta zona serrana,
constituída de rochas metassedimentares de baixo grau
metamórfico e intensamente dobradas da Formação Traíras
e dos grupos Serra da Mesa e Paranoá.
Figura 4.64 - Relevo bimodal marcado pela alternância de
extensos e baixos alinhamentos serranos sustentados por Sobre os terrenos acidentados das serras, escarpas
quartzitos que se estendem por dezenas de quilômetros, com vales e planaltos alçados, predominam solos rasos ou pouco
paralelos embutidos em pediplanos, modelados em rochas mais profundos, com alta suscetibilidade à erosão e a movimen-
tenras e suscetíveis a processos de intemperismo, denudação e
tos de massa, com destaque para os Neossolos Litólicos
aplainamento. Fotografia: Mauricio Gomes Rocha, 2015.
e Cambissolos Háplicos, além de afloramentos de rocha.
Registra-se também a presença de Argissolos Vermelho-
Sobre as vertentes íngremes das cristas serranas -Amarelos, em alguns casos de caráter eutrófico e com ho-
desenvolvem-se solos muito rasos, com alta suscetibilidade rizonte A chernozêmico; e nos topos mais conservados dos
à erosão e a movimentos de massa, com destaque para planaltos, em relevo suave, ocorrem Latossolos Vermelhos
os Neossolos Litólicos, em geral associados a afloramentos Distróficos (IBGE, 2007b, 2012, 2013, 2014c).
de rocha, e em menor proporção Cambissolos Háplicos. Por fim, os alinhamentos situados mais a leste compre-
Subordinadamente ocorrem Argissolos Vermelho-Ama- endem as Serras de Arraias-Santa Brígida e estendem-se por
relos, que predominam nos terrenos um pouco menos 50 a 70 quilômetros, em sentido SE-NW, até sucumbir ante as
declivosos de nível topográfico inferior embutidos entre as planuras da Depressão do médio-alto vale do rio Tocantins.
serras, ou na transição para as superfícies aplainadas do Estas elevações são caracterizadas por planaltos elevados
entorno, dominadas por Latossolos Vermelho-Amarelos (R2b3) junto à divisa com Goiás (planalto de Arraias-Campo
(IBGE, 2007b, 2012, 2013). Belo), serras imponentes de cristas alinhadas (R4c) e morros
O alinhamento serrano central, posicionado entre os dissecados (R4b). Os planaltos estão alçados em cotas que
vales dos rios Tocantins e Paranã, está incluso no complexo variam entre 550 e 730 metros. As linhas de cumeada e os
montanhoso Veadeiros-Araí (IBGE, 2007a) e estende-se picos que emergem das superfícies pediplanadas atingem
por aproximadamente 120 quilômetros. Assim como as cotas elevadas que variam entre 700 e 1.000 metros.
serras de Palmeirópolis-Grande, apresenta um decréscimo Desse modo, estas elevações perfazem desnivelamentos
de altitudes em direção a norte até se dissipar em baixas entre 300 e 400 metros acima do piso da depressão,
cristas alinhadas em direção N-S, sendo que, inclusive, embutida em cotas mais modestas, entre 400 e 450 metros.
atravessam a calha do rio Tocantins sob a denominação de Este conjunto de terras altas encontra-se sustentado
Serra Vermelha. Este conjunto serrano consiste de serras de por litologias da faixa móvel Brasília, composta por rochas
vertentes íngremes (R4c). Na divisa com Goiás, ressalta-se do embasamento de idade paleoproterozoica referentes
um relevo planáltico (R2b3 e R2c) pertencente ao Planalto a um complexo gnáissico-migmatítico ou granítico da
Central Goiano e curtas escarpas (R4d) na vertente leste. unidade Almas-Cavalcante. Todavia, predominam rochas
As localidades de São Salvador do Tocantins e Paranã metavulcanossedimentares da Formação Arraias (quartzi-
assentam-se nas imediações deste domínio serrano. tos e, subordinadamente, xistos, conglomerados e rochas
Os topos das superfícies planálticas do complexo metavulcânicas). Também afloram na porção leste deste
montanhoso Veadeiros-Araí estão alçados em cotas que domínio serrano rochas de idade neoproterozoica da
variam entre 800 e 1.220 metros de altitude. Sobre estes Formação Sete Lagoas – Grupo Paraopebas (metapelitos,
planaltos emerge a Serra das Traíras, na divisa com Goiás, arcóseos, dolomitos, metacalcários).
que consiste no ponto culminante do estado do Tocantins, Observa-se em campo, claramente, um controle lito-
com 1.340 metros de altitude. Mais a norte, as serras e os lógico na configuração regional do relevo, onde as serras
picos que emergem das superfícies pediplanadas atingem estão sustentadas pelos quartzitos (Figura 4.65) e o relevo
cotas que variam entre 600 e 1.000 metros, cerca de 300 de morros mais rebaixado foi elaborado em rochas mais
a 500 metros acima do piso dos pediplanos circundantes, tenras e vulneráveis ao intemperismo, como xistos, riolitos
embutidos em cotas baixas, entre 280 e 360 metros. e mármores.

81
GEODIVERSIDADE DO ESTADO DO TOCANTINS

As Serras do Planalto Central Goiano estão recober-


tas, integralmente, por vegetação do bioma Cerrado, com
mescla de cerrado típico e campos cerrados (IBGE, 2007c),
sendo que a vegetação original encontra-se em grande
parte conservada, devido à dificuldade de ocupação desses
terrenos íngremes. Sendo assim, ressalta-se a vocação natu-
ral deste domínio para preservação ambiental, ecoturismo
e turismo geocientífico.
Assim como Natividade, a cidade de Arraias, inserida
na porção mais oriental deste domínio serrano, consiste
numa cidade histórica, fundada em 1740, no rastro do
ciclo da mineração (Figura 4.66).

Figura 4.65 - Paredão rochoso em crista elevada sustentada por


quartzitos da Serra Branca ou Serra de Arraias.
Rodovia TO-050, nas imediações da cidade de Arraias.
Fotografia: Marcelo Eduardo Dantas, 2015.

Sobre as vertentes íngremes das cristas serranas,


desenvolvem-se solos rasos e pouco profundos, com
alta suscetibilidade à erosão e a movimentos de massa,
com destaque para os Neossolos Litólicos e Cambissolos
Háplicos, em geral de baixa fertilidade natural, com expres-
siva ocorrência também de afloramentos de rocha.Sobre
as superfícies planálticas ocorrem Plintossolos Argilúvicos,
Cambissolos Háplicos e Latossolos Vermelho-Amarelos; e
relacionados à plataforma metapelítico-carbonática da
bacia Bambuí (Formação Sete Lagoas) desenvolvem-se
solos de boa fertilidade natural, tais como os Nitossolos
Vermelhos Eutróficos e Cambissolos Háplicos Ta Eutróficos, Figura 4.66 - Museu Histórico e Cultural de Arraias.
alguns de caráter carbonático (IBGE, 2007b, 2012, 2014c). Fotografia: Davi Nascimento Souza, 2015.

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