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Argumento de

Marçal Oliveira

ESPERANÇA

Dentro de um ônibus Joana, 35 anos, olhar inseguro, vestes


típicas do interior paulista e segurando duas malas. Ponto
de vista de Joana olhando os degraus do ônibus, a porta se
abre.

No desembarque, ainda de cabeça baixa, Joana observa


fixamente tampinhas, parafusos, palitos de fósforo, moedas e
chicletes colados no asfalto, pessoas a interrompem pedindo
licença para desembarcar.

Caminha em direção a porta que dá acesso ao saguão.

No saguão, um mosaico confuso de imagens, pessoas se


abraçando, falando no celular e malas por todos os lados,
Joana (vislumbrada) no centro do saguão, coloca as malas no
chão e ali fica por alguns minutos.

Ela pega uma foto e uma carta de uma das malas que carrega,
se senta e a lê.
Em (off), voz masculina, e um sotaque que mistura a modéstia
do interior com a gíria da periferia, nela ele fala que
conseguiu emprego, alugou uma casa e que finalmente eles
podem casar. No final o nome João de deus.

Algumas horas depois, Joana espera pacientemente no agora


saguão vazio, nenhum sinal de João.

É crepúsculo e Joana sai da estação, o barulho e a


movimentação intensa de automóveis, e pedestres disputando
espaço com camelôs, deixa Joana apavorada, a paisagem opaca
da cidade que contracena com as cores vibrantes dos painéis
e outdoors, á contagia.

No reflexo de uma vitrine, Joana olha para seu vestido, para


sua sandália, ajeita seu cabelo e no fundo do reflexo vê
alguns cobertores, dobrados e guardados no vão da passarela.
Uma senhora se aproxima, e comenta que Joana é linda, e se
parece com ela quando chegou naquela estação.

Joana sente um cheiro repulsivo, e se afasta rapidamente da


velha, que continua a falar sozinha e a ri sem cessar.
Ponto de vista da senhora, Joana pega as malas, corre e olha
por cima dos ombros.
Em uma pousada de quinta, Joana conta seu dinheiro e
percebe que o restante não dá para outra diária. Isto não a
preocupa muito, ela está convicta que seu noivo vai buscá-la
na estação.
Entrega o dinheiro para o homem do outro lado do balcão, que
junto segura sua mão.
Joana olha para aquele homem de meia idade, barba por fazer,
rosto coberto de suor, bigode amarelado de nicotina, faltando
alguns dentes e com um olhar malicioso.

Ela puxa a mão bruscamente, e ao tentar pegar a chave do


quarto no balcão, deixa cair suas malas. O nervosismo e o
medo tomam conta de seu semblante. Ela apanha as malas, a
chave e sobe para o quarto, desconfiada.

Dia seguinte

Na estação, Joana anda de um lado para o outro, pergunta


diversas vezes para os seguranças, recepcionistas e pessoal
da limpeza, se não viram seu noivo João de deus. Indignada e
Chorando, senta.

Um dos seguranças, Manoel 30 anos, senta do seu lado, e


pergunta se ela quer ajuda, Joana fala sobre a carta e
convida Manoel para esperar João com ela. Ele aconselha
Joana a esquecer João e a voltar para casa, Joana se irrita,
com a voz estranhamente alterada, diz que João virá, Manoel
se afasta perplexo. Joana, dia após dia espera João de deus,
naquela estação.

Sem ter onde dormir e sem dinheiro, se entrega para o dono


da pousada, para o dono da lanchonete, trombadinha rouba
suas malas. Ainda assim, Joana não fica um só dia, sem ir a
estação, com a carta na mão esperando por João.

Na frente de uma vitrine, Bruno 17 anos, aparentando esperar


por alguém, ajeita seu cabelo. Joana, maltrapilha, se
aproxima e diz que, João de deus está para chegar.

O menino sente um odor fétido e se afasta rapidamente.


Ponto de vista de Bruno olhando para trás, Joana ri
desvairadamente, com uma carta na mão.

FIM

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