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Ficamos satisfeitos com o texto que nos enviou sobre as vias abordadas
no Esoterismo e sua preferência. Esperamos que o nosso segundo manuscrito
introdutório tenha dado uma visão geral de como se desenvolveu o Esoterismo
Ocidental em meados da Idade Média até a época da Reforma. Continuemos
aqui os estudos sobre a História da Tradição Esotérica Ocidental. Conforme dito
anteriormente, as próximas duas sessões tratam de uma introdução ao
movimento esotérico que parte das primeiras décadas do século XVII até o que
conhecemos como Esoterismo Moderno. Após ambas, detalharemos os eventos
que marcam este período, similarmente ao que fizemos no manuscrito anterior.
Teosofia Cristã
Escrito em um estranho
alemão cheio de flashes de visão
poética, as obras de Boehme
foram amplamente
disseminadas já durante sua
vida, e causou-lhe muitos
problemas com as autoridades
luteranas. Mais tarde, durante o
século XVII, muitos autores se
inspiraram no trabalho de
Boehme e o desenvolveram em
novas direções. Alguns deles
formaram pequenas
comunidades espirituais: os
primeiros exemplos claros do
que poderia hoje ser chamado de
organizações esotéricas, com
práticas devocionais próprias.
Assim, o teósofo alemão Johann
Georg Gichtel (1638-1710)
formou um grupo chamado os
"Irmãos Angélicos" em
Amsterdã, e na Inglaterra uma
"Sociedade Filadélfia" formada
em torno de John Pordage
(1607-1681) e Jane Leade (1623-1704, talvez o primeiro exemplo no Esoterismo
Ocidental de uma mulher desempenhando um papel central). Experiências
extáticas e visionárias desempenharam um papel importante nessas
comunidades; e com base em discussões de Boehme, seus membros
desenvolveram um forte fascínio com a figura de Sophia (Sabedoria) como uma
manifestação explicitamente feminina da divindade. Depois de um período de
transição durante o século XVIII, com Friedrich Christoph Oetinger (1702-82)
como a figura mais importante, a Teosofia Cristã entrou em sua “segunda idade
de ouro” das últimas décadas do século XVIII, através da era romântica. O
francês Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803, o “filósofo desconhecido”) e
o alemão Franz von Baader (1765-1841) foram talvez os mais importantes
pensadores de uma rede emergente de teosofistas cristãos que redescobriram
Boehme e interpretaram-no em novas formas, em parte sob a influência de
desenvolvimentos contemporâneos como a filosofia idealista alemã e a moda do
Mesmerismo (Hanegraaf, 2013).
Sociedades Iniciáticas
O ritual e as estruturas
organizacionais de tais Ordens
iniciáticas foram inspirados, na
maioria dos casos, por modelos
derivados da Maçonaria. Na
Escócia, no final do século XVI, as
guildas medievais de pedreiros
foram transformadas em um novo
tipo de organização que começou a
aceitar de forma ampla “cavaleiros
maçons” (indivíduos que não eram
artesãos maçônicos) durante o
século XVII. Até as primeiras
décadas do século XVIII, os maçons
eram amplamente percebidos como
rosacruzes e praticantes da
Alquimia e a irmandade atraiu muita curiosidade por causa das suspeitas de
que poderia ter preservado os misteriosos segredos da antiguidade, incluindo o
da Pedra Filosofal. Na Inglaterra, a Maçonaria distanciou-se de tais atividades
esotéricas à medida que se transformou em um movimento essencialmente
racionalista e humanitário após a fundação da Grande Loja Unida da
Inglaterra, em 1717. Mas em outros países, notadamente a França, a
preocupação com Alquimia e outras ideias e práticas esotéricas floresceram
como nunca antes: depois de terem sido iniciados nas três classes maçônicas
básicas de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom, maçons poderiam
progredir mais profundamente nos mistérios maçônicos através de elaborados
sistemas de graus superiores. À medida que muitos sistemas de graus mais
elevados foram desenvolvidos durante o final do século XVIII para juntar-se à
Maçonaria, isto tornou-se a coisa lógica a fazer para qualquer pessoa fascinada
por mistérios ocultos e pelos segredos dos antigos. O florescimento da Teosofia
Cristã em sistemas maçônicos de alto grau durante a Era da Razão - veja
especialmente o "Rito Escocês Retificado" de Jean-Baptiste Willermoz e seus
antecedentes no Elus Cohens de Martinez de Pasqually - é conhecido como
Iluminismo. Uma vez que o sistema de classe prevalecente estava suspenso
dentro da Loja - um membro da alta nobreza poderia muito bem receber sua
iniciação de um Mestre pertencente à classe trabalhadora - a Maçonaria
também era altamente atraente como um contexto onde se poderia
experimentar ideias socialmente igualitárias e, finalmente, funcionou como uma
rede internacional eficaz que assegurou que os viajantes longe de casa poderiam
sempre encontrar um lugar onde seriam acolhidos por seus irmãos
companheiros. Como tudo isso fazia da Maçonaria algo como uma sociedade
secreta dentro da sociedade pública, protegida do escrutínio externo pelo seu
cultivo do segredo, acabou evocando suspeitas dos governantes políticos e, em
alguns casos, notavelmente a Ordem de Iluminados de Adam Weishaupt, um
veículo para a política revolucionária radical, tais preocupações foram
realmente justificadas. Particularmente após a Revolução Francesa, a
Maçonaria tornou-se um alvo favorito de teóricos da conspiração que atribuíram
a quebra da autoridade religiosa e política tradicional às maquinações
subversivas dos maçons e dos “Illuminati” (Hanegraaf, 2013).
De modo geral, pode-se dizer que esse novo Manifesto tinha um aspecto
milenarista. Após o otimismo proclamado pelo primeiro, que via abrir-se uma
nova era enriquecida pelo advento de um novo conhecimento, Confessio pareceu
mais pessimista. Com efeito, anunciou que o mundo estava “prestes a atingir o
estado de repouso (...) após a conclusão do seu período e do seu ciclo”. Esse fim
dos tempos era o do Milênio, o período de mil anos que se sucederia aos seis mil
anos já decorridos, segundo a profecia de Elias, pois os rosacruzes receberam a
missão de acender “o sexto candelabro”. Essa época corresponde à terceira era
de Joaquim de Flora, a era do Espírito Santo, em que o sexto selo acabaria de
se abrir. Os rosacruzes apresentavam sua revelação como uma derradeira graça
oferecida por Deus “ao mundo cujo fim em breve adviria”. Ela permitiria à
humanidade desfrutar durante algum tempo uma “vida e uma magnificência
semelhante às que Adão perdera e desperdiçara no Paraíso”. Confessio
Fraternitatis retomava aqui um elemento presente no primeiro Manifesto, a
“revelação primordial” que Adão teria recebido após a Queda. Entenda os
derradeiros tempos como apresentados nos Manifestos como uma “meta-
história”, expressão proposta por Henry Corbin, ou seja, não se trata de um
evento próprio do tempo humano, mas de um tempo do espírito, vivido no
interior de uma alma regenerada pela iluminação (Rebisse, 2004).
Johan Arndt (1555-1621), que Johann Valentin Andreae tinha como seu
pai espiritual, poderia ter sido o mentor do grupo. Pastor, teólogo, médico,
alquimista, apaixonado por Tauler e Valentim Weigel, foi o autor de um
comentário das pranchas do Anfiteatro da Sabedoria Eterna de Heinrich
Khunrath. Segundo sua carta de 29 de janeiro de 1621 ao duque de Brunswick,
ele queria desviar os estudantes e buscadores da teologia polêmica, para
conduzi-los de volta a uma fé viva, a uma prática de piedade. Místico e
alquimista, tentou integrar a herança paracelsiana à teologia medieval e, sem
seus livros, desenvolveu a ideia de uma Alquimia interior, de um renascimento
espiritual. Escreveu um dos textos de devoção mais lidos até o século XIX: Os
Quatro Livros do Verdadeiro Cristianismo (Rebisse, 2004).
Ele veio de uma ilustre família de teólogos. Seu avô, Jakob Andrae, foi
um dos redatores da fórmula da Concórdia, um elemento marcante da história
do protestantismo. Em reconhecimento por seus méritos, o conde palatino Otto
Heinrich lhe concedera um brasão. Jakob o compôs associando a cruz de Santo
André, correspondente ao seu patronímico, a
quatro rosas, por deferência para com Lutero,
cujo brasão continha uma rosa. O brasão de
Lutero pode ser descrito assim: no centro se
encontra uma cruz negra evocando a
mortificação e lembrando que a fé no Cristo
ressuscitado é redentora. Essa cruz repousa no
centro de um coração vermelho, símbolo da vida.
Este último está colocado numa rosa branca,
emblema da alegria e da paz. O conjunto é
cercado de um anel de ouro que simboliza a vida
eterna. É possível que esse brasão tenha sido
inspirado nos escritos de São Bernardo, que
Lutero apreciava muito. Com efeito, em seus
sermões sobre o Cântico dos Cânticos, Bernardo recorreu muitas vezes à
imagem de uma cruz unida a uma flor, ao evocar as núpcias da alma com Deus.
Notemos que o brasão de Lutero constitui uma Rosacruz e, como já dissemos
antes, muitos pesquisadores indagaram sobre a relação entre Martinho Lutero,
a Reforma e o Rosacrucianismo, sem se encontrar uma resposta definitiva
(Rebisse, 2004).
Hiero-História do Rosacrucianismo
Fraternalmente,