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RESUMO
A estrutura do emprego doméstico é reflexo de heranças da escravidão e da divisão sexual do
trabalho, o que implica em uma dominação de gênero, raça e classe. Nesse sentido, o serviço
doméstico remunerado é desempenhado, predominantemente, por mulheres, negras e/ou
pardas, com baixa escolaridade, de baixa renda e possui um elevado grau de informalidade. A
crise gerada pela Pandemia da Covid-19 intensificou as desigualdades sociais características
da categoria. Desse modo, o presente estudo tem o objetivo de analisar as ações tomadas pelos
contratantes de trabalhadoras domésticas durante a primeira onda da Covid-19 no Brasil,
conforme a ocupação e o vínculo empregatício. No que se refere aos procedimentos
metodológicos, a abordagem do problema se dá de forma quali-quantitativa, os procedimentos
técnicos adotados consistem em: revisão documental; levantamento de dados primários e
secundários; e revisão bibliográfica. Por fim, como resultados do estudo, evidencia-se: a alta
exposição da categoria à contaminação da Covid-19; a relação de proporcionalidade entre a
formalização e uma melhor remuneração média mensal; a permanência da relação de trabalho,
mesmo com a contratada afastada de suas atividades laborais; todavia, um número
significativo de contratantes diminuíram a remuneração da contratada, com redução de
jornada ou suspensão de contrato, e não mantiveram a relação de trabalho, essa parcela é
composta por contratantes que mantinham um vínculo empregatício informal.
The strucuture of household employment is a reflex of both slavery heritages and sexual
division of labour, which implies a class, gender and ethnicity domination. In this manner,
paid household services are conducted mostly by black and/or brown women, with lower
education, income levels and has a high degree of informality. The pandemic crisis of
COVID-19 intensified the social inequalities characteristic of the category. In this way, this
study aims to analyse actions taken during the first wave of the COVID-19 pandemic by
household labour employers in Brazil, according to occupation and employment relationship.
Concerning the adopted methodological procedures, the research problem was addressed
using a qualitative and quantitative approach, using the following technical procedures:
document review; survey of primary and secondary data; and literature review. The results
from the study highlight the following: the high exposure of household employees to COVID-
19 contamination; the proportional relationship between formalization and a better average
monthly remuneration; the permanence of the employment relationship, even with the
contractor removed from their work activities; however, a significant number of contractors
reduced the contractor's remuneration, with a reduction in working hours or suspension of
contract, and did not maintain the employment relationship, this portion is composed of
contractors who had an informal employment relationship.
PALAVRAS-CHAVE
1. INTRODUÇÃO
Os primeiros casos de Covid-19 no Brasil evidenciam que o vírus chegou ao país por
meio de pessoas de alto poder aquisitivo, que estavam em viagens internacionais. A partir da
contaminação, essas pessoas passaram a atuar como transmissoras do novo coronavírus no
Brasil. Logo, um grupo de alto risco de contágio são as trabalhadoras domésticas, devido a
relação de alta proximidade física que mantém com os seus contratantes, os quais são
frequentes entre aqueles com alto poder aquisitivo. Desse modo, a primeira morte por Covid-
19 no Brasil ser de um homem que trabalhava como porteiro em um bairro nobre da cidade de
São Paulo, o primeiro óbito registrado no município do Rio de Janeiro foi de uma
trabalhadora doméstica, que contraiu o vírus após o contato com sua contratante, que estava
infectada.
À vista disso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera a categoria
das trabalhadoras domésticas entre as mais expostas ao risco de contaminação pela Covid-19,
pois trabalham em contato direto com os contratantes e suas redes. Ademais, a maioria
depende do transporte público para realizar o deslocamento casa-trabalho e, por isso, tem
contato com inúmeras pessoas, em aglomerações, o que pode gerar uma provável
contaminação. Outrossim, devido ao elevado grau de informalidade para essa ocupação na
maioria dos países, a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres passou a classificar as
trabalhadoras domésticas como um dos grupos mais vulneráveis economicamente, durante a
pandemia.
Em consequência do agravamento da pandemia e atendendo às recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), governadores dos estados brasileiros e prefeitos
municipais decretaram o distanciamento social, considerando ser a única medida capaz de
reduzir o espraiamento da doença durante o ano de 2020. Esse cenário impactou o mercado de
trabalho como um todo e colocou as trabalhadoras domésticas em mais uma situação de maior
vulnerabilidade econômica e laboral, na medida em que gerou redução de renda e demissões.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do
IBGE mostram que entre o 4º trimestre de 2019 e o 1º trimestre de 2021 houve uma redução
de 1,42 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil, o que coloca a categoria como o
segundo grupo de atividades econômicas mais afetado no país.
Nesse sentido, se por um lado, a categoria enfrenta uma insegurança financeira, dado
que ao serem afastadas de suas funções podem ter sua renda reduzida ou até mesmo zeradas,
em consonância com o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva 1, a qual
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4 As seguintes ocupações foram consideradas como “outros”: passadeira, piscineiro, jardineiro e auxiliar de
serviços gerais.
proteção individual. Destarte, tais dados retratam algumas das motivações para que a
categoria seja considerada uma das mais expostas ao risco de contrair a Covid-19.
No que tange o vínculo empregatício de trabalho, 62,15% da amostra atua na
informalidade e 37,85% são trabalhadoras registradas formalmente. Esse dado se mostra
inferior ao obtido pela Pnad Contínua, o qual indica que, entre 2019 e 2020, houve um
aumento na proporção de trabalhadoras domésticas que não possuíam carteira de trabalho
assinada, resultando em 72% do total.
Ao analisar o tipo de ocupação comparado com o vínculo empregatício, identifica-se
que a ampla maioria das mensalistas (85,83%) tem vínculo empregatício formal, ao passo que
a maior parte (91,56%) das diaristas atuam na informalidade. Essa realidade pode ser reflexo
do que é estabelecido na LC nº 150/2015, posto que a formalização é obrigatória apenas para
os trabalhadores que prestam serviço, em um mesmo domicílio, por mais de dois dias na
semana. No que concerne às demais ocupações, 72,1% das babás e 57,9% das cuidadoras
possuem vínculo empregatício formal, aqueles que classificam como outros têm 60%
trabalhadores atuando na informalidade.
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
A respeito da remuneração média mensal das contratadas, conforme Gráfico 4, os
dados mostram-se equiparados entre aqueles que recebem até ½ salário mínimo 5, acima de ½
até salário mínimo e acima de 1 até 2 salários mínimos. Todavia, as trabalhadoras que
recebem acima de 2 até 5 salários mínimos representam apenas 3,6% do total da amostra.
Importante ressaltar que essa informação não se refere à remuneração mensal das diaristas,
por exemplo, uma vez que o contratante respondente informou sobre a remuneração que ele
realizava para a trabalhadora doméstica e não a remuneração total que essa mulher teve no
mês, considerando todos os domicílios que trabalhava.
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.
Desse modo, identifica-se que as diaristas que atuam na informalidade possuem uma
remuneração média mensal do contratante respondente inferior às demais ocupações, uma vez
que 50,05% destas recebem até ½ salário e apenas 0,21% têm um rendimento acima de 2
salários mínimos. Esse resultado também é influenciado pelo fato dessa remuneração ser
apenas aquela reportada pelo contratante respondente e não a remuneração mensal total da
diarista, posto que o contratante respondente oferece informações apenas sobre a remuneração
que ele realizava e não a remuneração total que a trabalhadora recebe no mês, considerando
todos os domicílios que trabalhava. Em contrapartida, ainda que as diaristas formalizadas se
apresentem em um contexto de remuneração mais favorável do que as informais, apenas
20,45% recebem acima de 1 salário mínimo do contratante respondente.
No tocante às demais ocupações, destaca-se que 15,38% das babás que não possuem
carteira de trabalho assinada recebem até 1⁄2 salário mínimo, enquanto nenhuma alcança
rendimento superior a 2 salários mínimos; em compensação, nenhuma das babás formais
recebem menos de 1⁄2 salário mínimo e 15,63% possuem rendimento médio acima de 2
salários mínimos. Ademais, acerca das trabalhadoras que desempenham funções de cuidadora
de idosos, na medida em que nenhum informal obtém rendimento médio mensal superior a 2
salários mínimos, 27,27% dos formais alcançam essa remuneração.
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.
No que se refere à contratação do emprego doméstico, por ser uma função que precisa
ser desempenhada presencialmente, os contratantes fizeram uso de medidas específicas para o
enfrentamento à Covid-19. Ressalta-se que a pesquisa foi aplicada entre os meses de maio e
junho de 2020, período considerado como a fase inicial da pandemia, visto que compreende o
aumento dos casos e a intensificação das estratégias de distanciamento social.
Posto isto, baseado no Gráfico 7, a maioria (49,71%) dos contratantes mantiveram a
relação de trabalho, de modo que a contratada permanecesse afastada de suas atividades
laborais; 26,24% optaram por manter a relação de trabalho sem reduzir a remuneração e a
contratada continuou a trabalhar normalmente ou parcialmente; 12,62% decidiram não
contratar mais o serviço ou dispensaram a contratada; 7,31% diminuíram a remuneração e
reduziram a jornada ou suspensão; 2,30% tomaram demais ações; e 1,83% mantiveram a
contratada afastada temporariamente, por meio da suspensão de contrato, a qual permite a
complementação salarial por parte do governo federal.
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
Ao fazer uma análise das medidas adotadas pelos contratantes com o tipo de ocupação
das contratadas, como mostra a Tabela 03, constata-se que, a principal medida adotada para as
cuidadoras foi a permanência do desenvolvimento das atividades normalmente ou
parcialmente, sem qualquer prejuízo em seus rendimentos. Esses dados ilustram a concepção
de Moreira e Caldas (2007) de que o envelhecimento populacional, acompanhado do aumento
proporcional de doenças e limitações de locomoção, faz com que os cuidadores assumam
papéis indispensáveis na rotina de idosos dependentes de cuidados.
Outrossim, seguindo a observação das variáveis correlacionadas, percebe-se que
53,34% dos contratantes de mensalistas mantiveram a relação de trabalho e 10,6%
convergiram em medidas que, possivelmente, ocasionaram em redução de seus rendimentos.
Essa configuração se repete para as pessoas que estão ocupadas como babá, de modo que
17,77% da ocupação concentram-se em medidas que podem gerar prejuízo à remuneração.
Quanto às diaristas, 49,26% dos contratantes afirmaram que mantiveram a relação de trabalho
com ou sem suspensão do contrato, mas a trabalhadora permaneceu afastada de suas
atividades laborais, 29,04% podem ter tido suas rendas afetadas.
Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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