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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA


DEPARTAMENTO DE DEMOGRAFIA E CIÊNCIAS ATUARIAIS

A CONTRATAÇÃO DO EMPREGO DOMÉSTICO DURANTE A PANDEMIA DA


COVID-19:
Um retrato das trabalhadoras domésticas à luz das particularidades da categoria.

Luana Damasceno Diniz


Graduanda em Gestão de Políticas Públicas (UFRN), bolsista de Iniciação Científica PIBIC-
UFRN. E-mail: luanadamasceno42@gmail.com
Luana Junqueira Dias Myrrha
(Orientadora) Doutora em Demografia (UFMG), Docente do Departamento de Demografia e
Ciências Atuariais e do Programa de Pós-graduação em Demografia (UFRN).
E-mail: luanamyrrha@gmail.com

Natal, 18 de outubro de 2021.

RESUMO
A estrutura do emprego doméstico é reflexo de heranças da escravidão e da divisão sexual do
trabalho, o que implica em uma dominação de gênero, raça e classe. Nesse sentido, o serviço
doméstico remunerado é desempenhado, predominantemente, por mulheres, negras e/ou
pardas, com baixa escolaridade, de baixa renda e possui um elevado grau de informalidade. A
crise gerada pela Pandemia da Covid-19 intensificou as desigualdades sociais características
da categoria. Desse modo, o presente estudo tem o objetivo de analisar as ações tomadas pelos
contratantes de trabalhadoras domésticas durante a primeira onda da Covid-19 no Brasil,
conforme a ocupação e o vínculo empregatício. No que se refere aos procedimentos
metodológicos, a abordagem do problema se dá de forma quali-quantitativa, os procedimentos
técnicos adotados consistem em: revisão documental; levantamento de dados primários e
secundários; e revisão bibliográfica. Por fim, como resultados do estudo, evidencia-se: a alta
exposição da categoria à contaminação da Covid-19; a relação de proporcionalidade entre a
formalização e uma melhor remuneração média mensal; a permanência da relação de trabalho,
mesmo com a contratada afastada de suas atividades laborais; todavia, um número
significativo de contratantes diminuíram a remuneração da contratada, com redução de
jornada ou suspensão de contrato, e não mantiveram a relação de trabalho, essa parcela é
composta por contratantes que mantinham um vínculo empregatício informal.

The strucuture of household employment is a reflex of both slavery heritages and sexual
division of labour, which implies a class, gender and ethnicity domination. In this manner,
paid household services are conducted mostly by black and/or brown women, with lower
education, income levels and has a high degree of informality. The pandemic crisis of
COVID-19 intensified the social inequalities characteristic of the category. In this way, this
study aims to analyse actions taken during the first wave of the COVID-19 pandemic by
household labour employers in Brazil, according to occupation and employment relationship.
Concerning the adopted methodological procedures, the research problem was addressed
using a qualitative and quantitative approach, using the following technical procedures:
document review; survey of primary and secondary data; and literature review. The results
from the study highlight the following: the high exposure of household employees to COVID-
19 contamination; the proportional relationship between formalization and a better average
monthly remuneration; the permanence of the employment relationship, even with the
contractor removed from their work activities; however, a significant number of contractors
reduced the contractor's remuneration, with a reduction in working hours or suspension of
contract, and did not maintain the employment relationship, this portion is composed of
contractors who had an informal employment relationship.

PALAVRAS-CHAVE

Emprego doméstico; Informalidade; Pandemia da Covid-19.


Household Employment; Informality; COVID-19 Pandemic.

1. INTRODUÇÃO
Os primeiros casos de Covid-19 no Brasil evidenciam que o vírus chegou ao país por
meio de pessoas de alto poder aquisitivo, que estavam em viagens internacionais. A partir da
contaminação, essas pessoas passaram a atuar como transmissoras do novo coronavírus no
Brasil. Logo, um grupo de alto risco de contágio são as trabalhadoras domésticas, devido a
relação de alta proximidade física que mantém com os seus contratantes, os quais são
frequentes entre aqueles com alto poder aquisitivo. Desse modo, a primeira morte por Covid-
19 no Brasil ser de um homem que trabalhava como porteiro em um bairro nobre da cidade de
São Paulo, o primeiro óbito registrado no município do Rio de Janeiro foi de uma
trabalhadora doméstica, que contraiu o vírus após o contato com sua contratante, que estava
infectada.
À vista disso, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera a categoria
das trabalhadoras domésticas entre as mais expostas ao risco de contaminação pela Covid-19,
pois trabalham em contato direto com os contratantes e suas redes. Ademais, a maioria
depende do transporte público para realizar o deslocamento casa-trabalho e, por isso, tem
contato com inúmeras pessoas, em aglomerações, o que pode gerar uma provável
contaminação. Outrossim, devido ao elevado grau de informalidade para essa ocupação na
maioria dos países, a Organização das Nações Unidas (ONU) Mulheres passou a classificar as
trabalhadoras domésticas como um dos grupos mais vulneráveis economicamente, durante a
pandemia.
Em consequência do agravamento da pandemia e atendendo às recomendações da
Organização Mundial da Saúde (OMS), governadores dos estados brasileiros e prefeitos
municipais decretaram o distanciamento social, considerando ser a única medida capaz de
reduzir o espraiamento da doença durante o ano de 2020. Esse cenário impactou o mercado de
trabalho como um todo e colocou as trabalhadoras domésticas em mais uma situação de maior
vulnerabilidade econômica e laboral, na medida em que gerou redução de renda e demissões.
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do
IBGE mostram que entre o 4º trimestre de 2019 e o 1º trimestre de 2021 houve uma redução
de 1,42 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil, o que coloca a categoria como o
segundo grupo de atividades econômicas mais afetado no país.
Nesse sentido, se por um lado, a categoria enfrenta uma insegurança financeira, dado
que ao serem afastadas de suas funções podem ter sua renda reduzida ou até mesmo zeradas,
em consonância com o que aponta uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva 1, a qual

1 Disponível em: https://www.ilocomotiva.com.br/single-post/2020/04/23/SBT-BRASIL-39-das-fam


%C3%ADlias-dispensaram-trabalhadoras-dom%C3%A9sticas-durante-a-pandemia
indica que cerca de 39% dos contratantes afastaram as diaristas de suas atividades sem
remuneração. Por outro, ao manterem a relação de trabalho com o desempenho normal das
atividades - ação tomada por, aproximadamente, 23% dos empregadores de diaristas e 39%
dos contratantes de mensalistas (GUIMARÃES, 2020) - as trabalhadoras são expostas ao
risco de contaminação.
Ademais, a partir do início da implementação das medidas de distanciamento, parte
dos contratantes solicitaram que as trabalhadoras passassem a morar nas residências em que
trabalham, com a justificativa de reduzir o risco de contrair a doença. Todavia, essa medida
pode gerar restrições de direitos trabalhistas e sociais, conforme indica as denúncias de maus
tratos recebidas pelos sindicatos de trabalhadoras domésticas e pela Federação Nacional de
Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), as quais retratam aumento da jornada de trabalho,
acúmulo de funções e restrição à mobilidade, com as trabalhadoras impedidas de irem para
suas residências (TOKARSKI; PINHEIRO, 2020).
Frente a essa situação, o cenário se mostra ainda mais grave para as trabalhadoras
domésticas que atuam na informalidade, os quais não possuem contrato de trabalho, o que
gera uma limitação quanto às garantias trabalhistas e acarreta uma dependência da
solidariedade e generosidade dos empregadores em circunstâncias atípicas, como o período de
isolamento social. Outro fator desfavorável para esse público é a conjuntura do sistema de
proteção social brasileiro, visto que, em meio a Pandemia, a única medida empreendida pelo
governo federal voltada para os trabalhadores informais foi o auxílio emergencial, que não foi
capaz de assegurar de forma efetiva a renda dessa parcela da população.
Desse modo, a justificativa do estudo “Contratação do emprego doméstico durante a
Pandemia da Covid-19” está relacionada à representatividade do emprego doméstico na força
de trabalho feminina, a sua importância na organização social e econômica do país e à
violação de direitos trabalhistas e sociais enfrentada pelas trabalhadoras domésticas frente à
pandemia da Covid-19. Por fim, o objetivo geral consiste em analisar as ações tomadas pelos
contratantes de trabalhadores domésticos - durante a primeira onda da Covid-19 - e como
essas ações se diferenciam, conforme a ocupação e o vínculo empregatício dos contratados.

2. METODOLOGIA

Os caminhos metodológicos adotados nesta pesquisa, a fim de atingir os objetivos


propostos dividem-se em três seções, em que a primeira trata da classificação da pesquisa; a
segunda versa acerca dos procedimentos técnicos: a revisão da literatura, a revisão
documental e os métodos para coleta de dados; e por fim, a terceira seção apresenta a
metodologia utilizada para a tabulação e análise dos dados.

2.1. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Como forma de orientar a elaboração desta pesquisa, definiu-se um caminho


metodológico concreto. Assim, a partir da ideia de Prodanov e Freitas (2013), a classificação
da pesquisa se dá de acordo com a sua natureza, os objetivos, os procedimentos técnicos e a
abordagem do problema.
Nesta perspectiva, no que se refere à natureza da pesquisa, esta classifica-se como
básica, a qual é entendida como a base para o desenvolvimento do conhecimento (NADER,
2014). Basta ver que a pesquisa básica, ou fundamental, produz novos estudos, tornando-se
assim necessária para futuras pesquisas com resultados aplicáveis.
Quanto aos objetivos, esta classifica-se como descritiva (PRODANOV; FREITAS,
2013), pois descreve o novo contexto enfrentado pelo emprego doméstico com o agravamento
da pandemia gerada pelo novo coronavírus no Brasil, bem como as ações desenvolvidas pelos
empregadores para com os seus empregados, corroborando com Gil (2002), quando afirma
que pesquisas descritivas objetivam descrever características de determinada população ou
fenômeno, podendo estabelecer relações entre as variáveis investigadas.
Em relação à abordagem do problema, essa pesquisa se classifica como sendo quali-
quantitativa, também conhecida como pesquisa mista ou combinada, na qual diferentes
técnicas de coleta e análise de dados são utilizadas de maneira simultânea e complementar
(CRESWELL E CLARK, 2013).

2.2. PROCEDIMENTOS TÉCNICOS

2.2.1. Revisão Bibliográfica


Esse estudo teve início a partir de um levantamento bibliográfico acerca da temática
do emprego doméstico no Brasil antes e durante a fase inicial2 da pandemia da Covid-19.
Assim, a fim de estruturar e aprofundar o estudo, foi realizada uma revisão da literatura, de
modo a contemplar artigos mais difundidos sobre o assunto.
Além disso, o estudo também utiliza como base teórico-metodológica os estudos
qualitativos desenvolvidos por diversos autores, objetivando fundamentar o presente trabalho
2 Período que compreende os meses de março e junho de 2020.
com as discussões referentes à temática analisada. Haja vista que “[...] nenhuma ciência brota
do cérebro de seus fundadores. Ela resulta da investigação realizada por muitos estudiosos,
sobre problemas que aparecem em determinadas condições históricas” (VIEIRA, 1996, p. 15).

2.2.2. Revisão Documental


Embora exista uma similaridade entre as pesquisas bibliográficas e documentais, a
maior diferença entre elas é a natureza das fontes, tendo em conta que a primeira utiliza-se
como fonte autores sobre o tema, e a segunda é baseada em materiais que ainda não
receberam algum tratamento analítico (GIL, 2002). Diante disso, entende-se que a pesquisa
documental utiliza-se de reportagens, aspectos normativos, revistas, gravações, fotos, etc., ou
seja, documentos “brutos”, sem tratamentos científicos (OLIVEIRA, 2007).
À vista disso, com o intuito de acompanhar o impacto da pandemia gerada pelo novo
coronavírus no emprego doméstico, o estudo analisou notícias atuais que retratam o novo
cenário, assim como os normativos e as medidas propostas pelo governo federal com foco no
enfrentamento à pandemia.

2.2.3. Métodos para coleta de dados


Por se tratar de uma pesquisa com abordagem mista, para caracterizar
quantitativamente o emprego doméstico no Brasil na fundamentação teórica deste estudo,
utilizou-se de dados secundários disponibilizados nos bancos de dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Para além disso, a fim de analisar qualitativamente, o estudo fez uso de dados
primários coletados mediante questionários aplicados de forma online, o qual foi
desenvolvido por meio do Google Forms - um instrumento de coleta de dados lançado pelo
Google - e construído por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Regional do Cariri (URCA)
e Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Desse modo, o survey intitulado “ A contratação de trabalhadores domésticos durante
a pandemia da COVID-19” esteve em campo entre os dias 25 de maio e 06 de junho de 2020,
alcançou 1.696 respostas válidas e teve como público-alvo: os contratantes, com acesso à
internet, de trabalhadores domésticos na modalidade formal e informal. É importante destacar
que a pesquisa se concentrou nos contratantes em razão da dificuldade em localizar
trabalhadores domésticos com acesso a internet, visto que, devido ao distanciamento social, a
metodologia precisou ser aplicada de forma online. Assim, por se tratar de um grupo com
características pré-determinadas, foi utilizada a bola de neve - uma técnica de amostragem
não probabilística - que ocorre em meio a uma cadeia de referência, em que um respondente
indica outras pessoas que integram o mesmo grupo (VINUTO, 2014).

2.3 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

A tabulação consiste no exercício de transformar dados em informações, de modo que


facilite a visualização e agrupe respostas. Esse processo pode se dar de forma simples e/ou
agrupada. Na tabulação simples, cada questão é transformada em uma informação, a
tabulação cruzada, por sua vez, permite fazer uma conexão entre duas ou mais questões. A
tabulação cruzada possibilita que a pesquisa identifique perfis e cenários. Neste estudo, foi
feito o uso das duas tipologias.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção, serão explicitados os resultados e discussões a respeito dos dados


coletados, por meio do questionário online aplicado com os contratantes de trabalhador
doméstico no período que compreende a fase inicial da pandemia - de março a junho de 2020.
Isto é, em meio à primeira onda da propagação do vírus em todo o território brasileiro, ao
aumento exponencial de casos e óbitos, ao estabelecimento de medidas de distanciamento
social e ao início do pagamento dos auxílios governamentais.
Logo, serão explicitadas e analisadas informações alusivas ao perfil das trabalhadoras
domésticas contratadas pelos respondentes da pesquisa; bem como, o perfil dos contratantes e
as medidas adotadas por eles, frente ao contexto da pandemia. Além disso, apresenta-se uma
análise das ações tomadas pelos contratantes considerando o perfil da contratada no que tange
a sua função (diarista, mensalista, babá ou cuidadora de idosos) e seu vínculo empregatício.
.
3.1. CARACTERIZAÇÃO DAS CONTRATADAS

No que se refere ao perfil das trabalhadoras domésticas contratados pelos respondentes


da pesquisa3, 98,82% pertencem ao gênero feminino. Esse dado corrobora com os dados da
3 As informações sobre as trabalhadoras domésticas referem-se àquelas que eram contratadas antes da
pandemia, na medida em que a primeira rodada desta pesquisa tinha como objetivo captar os efeitos da pandemia
nas contratações que já estavam estabelecidas no momento pré-pandêmico.
Pnad Contínua, do IBGE, os quais demonstram que, em 2020, mais de 92% dos postos de
trabalho doméstico foram ocupados por mulheres; assim como, com a teoria proposta por
Bruschini (1990) de que as mulheres assumem a responsabilidade pela realização das
atividades domésticas, sejam elas remuneradas ou não. Desse modo, diante da predominância
das mulheres sobre o universo e a amostra deste estudo, a análise será construída com base em
uma perspectiva de gênero, a qual indica as mulheres como a chave de leitura da pesquisa.
Relativo à ocupação contratada, apesar dos estudos recentes não tratarem, em termos
proporcionais, os tipos de ocupação que compreendem os serviços domésticos, a pesquisa
buscou categorizar as atividades, de modo a traçar um perfil mais preciso das trabalhadoras.
Verifica-se, então, que 59,49% dos contratantes da amostra reportaram informações sobre
diaristas, 36,14% sobre mensalistas, 2,65% sobre babás, 1,12% sobre cuidadora de idosos e
0,58% que corresponde a outros4. Cabe informar que a pesquisa investigou também se o
contratante tinha mais de um(a) trabalhador(a) doméstico e houve contratantes que reportaram
ter mais de 1 trabalhador(a). Contudo, o questionário investigou as características apenas
do(a) trabalhador(a) doméstico considerado mais essencial pelo contratante, o que explica, em
partes, a baixa quantidade de informações sobre babás e cuidadoras.
Quanto à faixa etária das contratadas, a maioria (65,92%) concentra-se nas idades de
30 a 49 anos, alinhando-se com os dados da Pnad Contínua, que aponta 44 anos como a idade
média das trabalhadoras domésticas. Outrossim, apenas três contratadas (0,18%) têm entre 15
e 19 anos. Desse modo, a amostra reflete o efeito das mudanças na faixa etária da categoria,
uma vez que, conforme aponta Pinheiro et al. (2019), o emprego doméstico enfrenta um
processo de envelhecimento ao longo dos anos, devido a implementação de políticas
educacionais que ampliaram o acesso à educação para mulheres de baixa renda,
oportunizando outras formas de inserção no mercado de trabalho para além do trabalho
doméstico.
Em relação às condições de trabalho, nota-se que 77,1% das contratadas dependem de
transporte público para se deslocar, configurando uma maior exposição à transmissão da
Covid-19, visto que o transporte coletivo é considerado um dos ambientes mais propícios à
contaminação. Além disso, a respeito da utilização de máscara durante a realização das
atividades laborais, 66,67% dos contratantes respondentes que mantiveram a trabalhadora nas
atividades laborais afirmaram que as trabalhadoras não fazem uso do equipamento de

4 As seguintes ocupações foram consideradas como “outros”: passadeira, piscineiro, jardineiro e auxiliar de
serviços gerais.
proteção individual. Destarte, tais dados retratam algumas das motivações para que a
categoria seja considerada uma das mais expostas ao risco de contrair a Covid-19.
No que tange o vínculo empregatício de trabalho, 62,15% da amostra atua na
informalidade e 37,85% são trabalhadoras registradas formalmente. Esse dado se mostra
inferior ao obtido pela Pnad Contínua, o qual indica que, entre 2019 e 2020, houve um
aumento na proporção de trabalhadoras domésticas que não possuíam carteira de trabalho
assinada, resultando em 72% do total.
Ao analisar o tipo de ocupação comparado com o vínculo empregatício, identifica-se
que a ampla maioria das mensalistas (85,83%) tem vínculo empregatício formal, ao passo que
a maior parte (91,56%) das diaristas atuam na informalidade. Essa realidade pode ser reflexo
do que é estabelecido na LC nº 150/2015, posto que a formalização é obrigatória apenas para
os trabalhadores que prestam serviço, em um mesmo domicílio, por mais de dois dias na
semana. No que concerne às demais ocupações, 72,1% das babás e 57,9% das cuidadoras
possuem vínculo empregatício formal, aqueles que classificam como outros têm 60%
trabalhadores atuando na informalidade.

Gráfico 4 - Proporção do tipo de ocupação por vínculo empregatício

Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.
A respeito da remuneração média mensal das contratadas, conforme Gráfico 4, os
dados mostram-se equiparados entre aqueles que recebem até ½ salário mínimo 5, acima de ½
até salário mínimo e acima de 1 até 2 salários mínimos. Todavia, as trabalhadoras que
recebem acima de 2 até 5 salários mínimos representam apenas 3,6% do total da amostra.
Importante ressaltar que essa informação não se refere à remuneração mensal das diaristas,
por exemplo, uma vez que o contratante respondente informou sobre a remuneração que ele
realizava para a trabalhadora doméstica e não a remuneração total que essa mulher teve no
mês, considerando todos os domicílios que trabalhava.

Gráfico 5 - Remuneração média mensal das contratadas

Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

No que se refere ao rendimento dos contratadas à luz do vínculo empregatício de


trabalho (formal e informal), de acordo com o Gráfico 5, percebe-se que a remuneração é
proporcional à formalização, de modo que 93,04% das contratadas que recebem até ½ salário
mínimo atuam como trabalhadoras informais e 86,89% daquelas que recebem acima de 2
salários mínimos são formalizadas.
5 O salário mínimo considerado na pesquisa corresponde a R$1.045,00, valor de referência para o ano de 2020.
Desse modo, ½ salário mínimo corresponde ao valor de R$522,50; acima de ½ até 1 salário mínimo equivale a
R$522,51 a R$1.045,00; acima de 1 até 2 salários mínimos é igual ao valor de R$1.045,01 a R$2.090,00; e
acima de 2 até 5 salários mínimos faz referência aos valores de R$2.090,01 a R$5.225,00.
Gráfico 6 - Remuneração média mensal paga pelos contratantes respondentes à trabalhadora
doméstica, conforme modalidade de contrato

Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

A partir de um cruzamento entre os dados de modalidade de contrato, ocupação e


remuneração, de acordo com a Tabela 1, é possível inferir que o aumento salarial é um
movimento presente em todas as ocupações ao passo que ocorre a formalização. Haja vista
que, se por um lado, 70,88% das trabalhadoras formais têm remuneração média mensal acima
de 1 salário mínimo; por outro, apenas 15,84% das informais recebem o mesmo. Tais achados
conversam com a teoria de Silva e Kappes (2016) de que a formalização do emprego oferece
garantias trabalhistas e, por conseguinte, melhores condições de trabalho.

Tabela 1 - Remuneração média mensal das contratadas, de acordo com o vínculo


empregatício e a ocupação
Até 1/2 Acima de 2 até 5
Contrato de Acima de 1/2 até 1 Acima de 1 até 2 Total por
Ocupação salário salários
trabalho salário mínimo salários mínimos ocupação
mínimo mínimos
Babá 15,38% 30,77% 53,85% 100%
Cuidador 37,50% 62,50% 100%
Informal
Diarista 50,05% 36,79% 12,95% 0,21% 100%
Mensalista 12,90% 43,55% 33,87% 9,68% 100%
Outros 83,33% 16,67% 100%
Subtotal - Informal 47,25% 36,91% 15,09% 0,76% 100%
Babá 15,63% 68,75% 15,63% 100%
Cuidador 27,27% 45,45% 27,27% 100%
Formal Diarista 20,45% 59,09% 18,18% 2,27% 100%
Mensalista 0,18% 25,77% 66,24% 7,80% 100%
Outros 25% 50% 25% 100%
Subtotal - Formal 1,56% 27,57% 62,62% 8,26% 100%

Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.

Desse modo, identifica-se que as diaristas que atuam na informalidade possuem uma
remuneração média mensal do contratante respondente inferior às demais ocupações, uma vez
que 50,05% destas recebem até ½ salário e apenas 0,21% têm um rendimento acima de 2
salários mínimos. Esse resultado também é influenciado pelo fato dessa remuneração ser
apenas aquela reportada pelo contratante respondente e não a remuneração mensal total da
diarista, posto que o contratante respondente oferece informações apenas sobre a remuneração
que ele realizava e não a remuneração total que a trabalhadora recebe no mês, considerando
todos os domicílios que trabalhava. Em contrapartida, ainda que as diaristas formalizadas se
apresentem em um contexto de remuneração mais favorável do que as informais, apenas
20,45% recebem acima de 1 salário mínimo do contratante respondente.
No tocante às demais ocupações, destaca-se que 15,38% das babás que não possuem
carteira de trabalho assinada recebem até 1⁄2 salário mínimo, enquanto nenhuma alcança
rendimento superior a 2 salários mínimos; em compensação, nenhuma das babás formais
recebem menos de 1⁄2 salário mínimo e 15,63% possuem rendimento médio acima de 2
salários mínimos. Ademais, acerca das trabalhadoras que desempenham funções de cuidadora
de idosos, na medida em que nenhum informal obtém rendimento médio mensal superior a 2
salários mínimos, 27,27% dos formais alcançam essa remuneração.

3.3. CARACTERIZAÇÃO DOS CONTRATANTES

Em relação ao perfil dos contratantes, 82,66% se identificam com o gênero feminino.


Quanto à idade, os dados mostram-se equiparados entre a faixa etária de 30 a 59 anos, posto
que 25,47% afirmam ter entre 30 a 39 anos, 23,88% têm de 40 a 49 anos e 25,12% pertencem
ao grupo de 50 a 59 anos. Sobre o nível de escolaridade, 95,93% declararam possuir ensino
superior completo. Em relação à composição étnica dos contratantes, observa-se que 75,94%
se consideram brancos, 17,86% como pardos, 4,30% como pretos, 1,71% como amarelos e
0,18% como indígenas.
Quanto à renda total do domicílio antes da pandemia, é possível constatar que 61,85%
retêm uma renda superior a 10 salários mínimos 6, 28,42% dispõem de renda entre 5 e 10
salários mínimos, 8,37% têm renda superior a 2 até 5 salários mínimos (Gráfico 6). Ao serem
questionados sobre uma possível redução na renda durante os primeiros meses de pandemia,
59,96% afirmaram que não tiveram a renda domiciliar reduzida; por outro lado, 38,15%
apresentaram redução.

Gráfico 7 - Renda média mensal do domicílio do contratante

Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

Ao correlacionar as informações que tratam da renda total do domicílio, com o vínculo


empregatício e o tipo de ocupação, em concordância com a Tabela 2, verifica-se um aumento
gradual no número de babás, diaristas e mensalistas, conforme o nível de renda domiciliar
cresce. É possível observar também que com o aumento da renda, as contratações formais
aumentam, porém essa formalização não chega a 50%, mesmo entre os domicílios com renda
superior a 10 salários.
6 O salário mínimo considerado na pesquisa corresponde a R$1.045,00, valor de referência para o ano
de 2020. Desse modo, até 5 salários mínimos corresponde ao valor de R$5.225,00; acima de 5 até 10 salários
mínimos equivale a R$5.225,01 a R$10.450,00; e acima de 10 salários faz referência a valores superiores a
R$10.450,01.
Tabela 2 - Renda média mensal do domicílio contratante, de acordo com o vínculo
empregatício e a ocupação

Acima de 5 até Acima de 10


Contrato de Até 5 salários
Ocupação 10 salários salários Total geral
trabalho mínimos
mínimos mínimos
Babá 15,38% 38,46% 46,15% 100%
Cuidador 12,50% 62,50% 25% 100%
Informal Diarista 13,68% 33,78% 52,54% 100%
Mensalista 14,52% 33,87% 51,61% 100%
Outros 50% 33,33% 16,67% 100%
Subtotal - Informal 13,95% 34,06% 51,99% 100%
Babá 3,13% 28,13% 68,75% 100%
Cuidador 9,09% 9,09% 81,82% 100%
Formal Diarista 6,82% 34,09% 59,09% 100%
Mensalista 2,90% 17,24% 79,85% 100%
Outros 100% 100%
Subtotal - Formal 3,27% 18,69% 78,04% 100%

Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.

Em contraste com esse fenômeno, as pessoas ocupadas como cuidadoras de idosos na


modalidade informal se mostram em um contexto divergente, dado que 62,50% desses
trabalhadores desempenham suas funções em domicílios de renda mensal média entre 5 e 10
salários mínimos; assim como, aqueles classificados como outros, os quais apresentam-se em
contextos diferentes, consoante o vínculo empregatício.

3.4. MEDIDAS ADOTADAS FRENTE À PANDEMIA

No que se refere à contratação do emprego doméstico, por ser uma função que precisa
ser desempenhada presencialmente, os contratantes fizeram uso de medidas específicas para o
enfrentamento à Covid-19. Ressalta-se que a pesquisa foi aplicada entre os meses de maio e
junho de 2020, período considerado como a fase inicial da pandemia, visto que compreende o
aumento dos casos e a intensificação das estratégias de distanciamento social.
Posto isto, baseado no Gráfico 7, a maioria (49,71%) dos contratantes mantiveram a
relação de trabalho, de modo que a contratada permanecesse afastada de suas atividades
laborais; 26,24% optaram por manter a relação de trabalho sem reduzir a remuneração e a
contratada continuou a trabalhar normalmente ou parcialmente; 12,62% decidiram não
contratar mais o serviço ou dispensaram a contratada; 7,31% diminuíram a remuneração e
reduziram a jornada ou suspensão; 2,30% tomaram demais ações; e 1,83% mantiveram a
contratada afastada temporariamente, por meio da suspensão de contrato, a qual permite a
complementação salarial por parte do governo federal.

Gráfico 8 - Medidas adotadas na contratação do emprego doméstico frente à pandemia

Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

Ademais, correlacionando a medida adotada pelo contratante com o tipo de


modalidade de contrato, verifica-se que dentre os contratantes que diminuíram a remuneração
da contratada, com redução de jornada ou suspensão de contrato 92,74% mantinham vínculo
empregatício informal e daqueles que não mantiveram a relação de trabalho ou dispensaram
os serviços, 90,19% também configuram uma relação de trabalho informal.

Gráfico 9 - Proporção percentual de medidas adotadas na contratação do emprego doméstico


por vínculo empregatício
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

Ao fazer uma análise das medidas adotadas pelos contratantes com o tipo de ocupação
das contratadas, como mostra a Tabela 03, constata-se que, a principal medida adotada para as
cuidadoras foi a permanência do desenvolvimento das atividades normalmente ou
parcialmente, sem qualquer prejuízo em seus rendimentos. Esses dados ilustram a concepção
de Moreira e Caldas (2007) de que o envelhecimento populacional, acompanhado do aumento
proporcional de doenças e limitações de locomoção, faz com que os cuidadores assumam
papéis indispensáveis na rotina de idosos dependentes de cuidados.
Outrossim, seguindo a observação das variáveis correlacionadas, percebe-se que
53,34% dos contratantes de mensalistas mantiveram a relação de trabalho e 10,6%
convergiram em medidas que, possivelmente, ocasionaram em redução de seus rendimentos.
Essa configuração se repete para as pessoas que estão ocupadas como babá, de modo que
17,77% da ocupação concentram-se em medidas que podem gerar prejuízo à remuneração.
Quanto às diaristas, 49,26% dos contratantes afirmaram que mantiveram a relação de trabalho
com ou sem suspensão do contrato, mas a trabalhadora permaneceu afastada de suas
atividades laborais, 29,04% podem ter tido suas rendas afetadas.

Tabela 03 - Medidas adotadas na contratação do emprego doméstico, conforme a ocupação


da contratada
Babá Cuidador Diarista Mensalista Outros
Diminuiu remuneração, com
redução de jornada ou 2,22% 5,26% 10,90% 1,79% 10%
suspensão
Manteve a relação de trabalho
com a mesma remuneração e o
trabalhador(a) continuou a 42,22% 84,21% 19,82% 33,77% 30%
trabalhar normalmente ou
parcialmente
Manteve a relação de trabalho
com ou sem suspensão do
contrato, mas o trabalhador(a) 33,33% 5,26% 49,26% 53,34% 30%
permanecer afastado na casa
dele(a)
Não contratou mais o serviço /
11,11% 0% 18,14% 4,08% 10%
dispensou o trabalhador
Suspendeu a relação de trabalho 4,44% 0% 0% 4,73% 0%
Demais ações 6,67% 5,26% 1,88% 2,28% 20%
Total 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte dos dados básicos: Primeira rodada do Survey online “A contratação dos trabalhadores domésticos durante
a pandemia da covid-19”, 2020.

No que tange a concomitância entre a renda domiciliar mensal e as medidas adotadas


frente à pandemia, de acordo com o Gráfico 11, nota-se que aqueles contratantes que aderiram
a medidas de contenção de custos, que culminaram na redução da renda das contratadas,
também apresentaram diminuição em sua renda domiciliar.

Gráfico 11 - Medidas adotadas na contratação do emprego doméstico, de acordo com a renda


média mensal do domicílio
Fonte: Elaboração própria da autora com base nos dados da primeira rodada do Survey online “A contratação
dos trabalhadores domésticos durante a pandemia da covid-19”, 2020.

Nota-se, então, que a pandemia representou efeitos econômicos no mercado produtivo


e no mercado reprodutivo, impactando de forma direta as relações de trabalho. Todavia, os
determinantes sociais, como a renda, fazem com que esses efeitos sejam sentidos de forma
distintas entre as classes sociais. Desse modo, enquanto a redução das rendas das famílias de
maior poder aquisitivo acarretam numa possível perda de privilégios, a diminuição dos
rendimentos das famílias de baixa renda se reflete na dificuldade em estabelecer direitos
básicos, como moradia e alimentação.

CONCLUSÕES

Diante de todas as discussões apresentadas no presente trabalho, é possível afirmar


que a pandemia da Covid-19 exacerbou, em maior grau, as desigualdades sociais que
caracterizam o emprego doméstico e acentuou as fragilidades quanto às garantias trabalhistas.
Ao passo que a categoria foi a segunda a apresentar mais perdas de postos de trabalho,
refletindo na redução dos rendimentos das trabalhadoras. Em contrapartida, as trabalhadoras
que continuaram desempenhando suas atividades laborais, a fim de não prejudicar sua renda,
enfrentaram a violação de direitos trabalhistas e sociais, além do risco de contrair o vírus.
Logo a categoria apresenta-se em um contexto de vulnerabilidade, visto que depende de
transporte público para fazer o deslocamento de casa para o trabalho e, na maior parte, não
fazem uso de máscaras no interior dos domicílios.
Desse modo, as medidas adotadas a respeito da contratação do emprego doméstico,
durante a primeira onda da pandemia, exprimem efeito não só do ponto de vista econômico,
como também da seguridade social. Assim, apesar de os dados demonstrarem que a maioria
dos contratantes optou por manter a contratada afastada de suas atividades laborais sem
reduzir a remuneração paga, ressalta-se uma que parcela significativa dos contratantes
afirmou que manteve a relação de trabalho com a contratada desempenhando sua função
normalmente.
Ademais, alguns contratantes informaram ter reduzido a remuneração da contratada ou
ter rompido a relação de relação de trabalho. Logo, ao analisar o perfil desses contratantes é
evidente a existência de uma relação direta entre a renda dos contratantes e as medidas
adotadas por eles, posto que as medidas que culminaram na redução da renda das contratadas
foram tomadas por aqueles que também sofreram diminuição da renda domiciliar. Em razão
disso, identifica-se o poder de influência que as atividades econômicas possuem, direta ou
indiretamente, sobre as outras.
Ainda no que se refere às medidas adotadas pelos contratantes, os dados retratam uma
maior segurança econômica para as trabalhadoras ocupadas como mensalistas, isso porque a
maioria da amostra de mensalista atua de modo formal. Em conformidade com a análise
anterior, as diaristas foram as mais atingidas por uma possível redução de renda. Além disso,
um achado da pesquisa evidencia as cuidadoras como a ocupação que mais se manteve
trabalhando normalmente durante a primeira onda da pandemia.
No que concerne ao vínculo empregatício, àquelas medidas que representam
instabilidade para as rendas das trabalhadoras foram majoritariamente tomadas por
contratantes que mantinham relação de trabalho informal. Portanto, com relação à ausência de
proteção social, as trabalhadoras informais apresentaram-se em uma conjuntura ainda mais
precária, dado que a maioria das contratadas que sofreram redução na renda e tiveram a
relação de trabalho rompida atuavam na informalidade. Nessa lógica, a ocupação mais
prejudicada por essas medidas corresponde às diaristas, já as trabalhadoras formais
apresentaram um menor prejuízo à remuneração mensal até junho de 2020, uma vez que ao
manter as atividades de forma total ou parcial, mantiveram sua renda no período analisado.
Em face do exposto, é evidente que a estrutura do emprego doméstico é um problema
social, o qual transparece nas desigualdades sociais, nas precárias condições de trabalho e na
ofensa de direitos enfrentada pela categoria. No entanto, apesar de sua relevância para a
organização social e econômica do país, não há políticas públicas que visem a proteção das
trabalhadoras domésticas, dado que nem mesmo as legislações trabalhistas voltadas para a
categoria versam acerca de seu perfil exploratório.

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novembro de 2005; revoga o inciso I do art. 3o da Lei nº 8.009, de 29 de março de 1990, o art. 36 da Lei nº
8.213, de 24 de julho de 1991, a Lei no 5.859, de 11 de dezembro de 1972, e o inciso VII do art. 12 da Lei nº
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