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INTRODUÇÃO
O gênero Himatanthus Willd. ex Schult. é apresentam tronco com crescimento simpodial, com
um gênero pantropical pertencente a sub-família um ou mais ramos laterais em expansão na sua
Rauvolfioideae e a tribo Plumerieae. As espécies de porção distal, dos quais um será re-orientado para a
Himatanthus são árvores de ramos lenhosos porção vertical para se tornar uma nova unidade de
Caracterização das principais tipologias inundada por períodos curtos e frequêntes, sob a
vegetacionais de ocorrência de espécies do influência de marés. As matas de várzeas constituem
gênero Himatanthus em Canelatiua, Alcântara, um tipo vegetacional pouco estudado. São poucos
MA. os estudos sobre esta tipologia vegetacional, o que
Devido às modificações antrópicas que resulta em pouco conhecimento sobre a composição
ocorreu sobre a cobertura florestal da comunidade florística dos remanescentes das matas de várzea
de Canelatiua, a cobertura florestal anteriormente no Maranhão. O guanandi (Symphonia globulifera L.;
constituída pela floresta tropical subperenifolia dicótilo Clusiaceae), o mamuí ou mamorana (Pachira
palmácea deu lugar, as tipologias vegetacionais hoje aquatica Aubl.; Bombacaceae ) e a ucuuba (Virola
denominadas como florestas secundárias (capoeiras) surinamensis Warb.; Myristicaceae) são espécies
e por babaçuais. A floresta perenifólia de várzea vegetais características deste tipo de vegetação.
corresponde atualmente às matas de várzea e as Apesar da menor diversidade, a mata de várzea
restingas. apresenta o maior desenvolvimento estrutural.
Florestas Secundárias (Capoeiras): Nas Apresentam importância ecológica por serem as
áreas de terra firme, a paisagem geral é dominada áreas com maior desenvolvimento estrutural, por sua
pela vegetação secundária e associações variadas riqueza de habitats e potencial de refúgio e alimento
em relação à composição de espécies. A composição para espécies animais. Por ser um habitat mais
de espécies destas formações vegetais varia em especializado, a mata de várzea apresenta uma
função da idade, em geral hoje entre 3-10 anos, pelo diversidade menor do que a observada para as matas
uso continuado para agricultura. Embora de terra firme. Tal como os manguezais, são áreas
levantamentos neste tipo de vegetação revelem de preservação permanente e candidatas naturais a
sempre um número considerável de espécies áreas de conservação em projetos de manejo
arbóreas, a maioria dos indivíduos encontra-se em ambiental.
estágios iniciais de crescimento ou juvenis, em função Matas de Galeria: Vegetação característica
dos distúrbios continuados sobre a vegetação das margens de pequenos cursos d’água e nascentes
(particularmente desmatamentos), com muito poucos (ciliares e, portanto, de preservação permanente,
indiv íduos na f ase adulta. Estas f ormações segundo a legislação ambiental), áreas pantanosas,
secundárias, em associação ou não com o babaçu com vegetação higrófila característica, como buriti
(Orbignya phalerata Mart.), representam hoje, o tipo (Mauritia flexuosa L. f.; Palmae), juçara (Euterpe
de vegetação mais comum nos ambientes do oleraceae Mart.; Palmae), guarimã (Ischnosiphon
município. arouma (Aublet) Koern., Marantaceae) e várias
Babaçuais: Ainda na terra firme, a palmeira espécies de Araceae, Heliconiaceae, Musaceae, entre
babaçu (Orbignya phalerata Mart.) tornou-se, em outras Estes. ambientes se caracterizam por
muitos pontos, também dominante na fitofisionomia. manterem umidade mesmo no verão, quando, em
Trata-se também de uma floresta secundária, que algumas áreas, são chamados de “brejos secos”.
substitui a f loresta tropical subperenif ólia Estas formações vegetacionais também vêm
anteriormente existente. Os babaçuais constituem passando por consistente processo de pressão e
uma cobertura vegetal que vem sofrendo acelerado descaracterização, principalmente, pelo crescimento
processo de devastação, pela perda de seu valor urbano, restando alguns f ragmentos ainda
econômico (extração e venda de amêndoas para a relativamente conservados nas áreas rurais.
produção de óleo) quanto pelo fato de se localizar Restinga: Nome dado ao conjunto de
em áreas propícias à ocupação. Orbignya phalerata comunidades vegetais, distribuídas em mosaico,
Mart., é a espécie de maior distribuição, de maior associado aos depósitos arenosos costeiros
variação morfológica e de maior importância quaternários e aos ambientes rochosos litorâneos
econômica. Ocorore em parte da Bolívia, Suriname e também considerados comunidades edáficas por
no Brasil, no Estado do Maranhão (encontra-se em dependerem mais da natureza do solo do que do
60% da área de ocorrência), Piauí, Ceará, Goiás, clima. São encontradas nos ambientes de praia,
Tocantins, Mato Grosso e Pará. A área total de cordões arenosos, dunas, depressões e transições
ocorrência do babaçu no Brasil é estimada em 15,4 para ambientes adjacentes, podendo apresentar, de
milhões de hectares. A área de cobertura do babaçu acordo com a fitofisionomia predominante, estrato
no Maranhão, levantamento de 1980, foi de 10,3 herbáceo, arbustivo e arbóreo, este último mais
milhões de hectares (MIC/STI, 1982). Com a interiorizado (RESOLUÇÃO CONAMA N° 417, 2009).
descaracterização de vários ambientes onde No Estado do Maranhão, as restingas são
originalmente não ocorre o babaçu, como as matas constituídas por formações pioneiras que ocorrem
de galeria, restingas e várzeas, esta palmeira avança com maior destaque nos municípios de Barreirinhas,
também sobre estes ambientes. Humberto de Campos, Icatu, Primeira Cruz e Tutóia.
Matas de Várzeas: Tipo de vegetação ciliar Em vários trechos observam-se os contatos da
restinga com dunas móveis quase sem vegetação. segundo Souza & Lorenzi (2008), baseado no sistema
As restingas são arbustivas ou arbóreas, com APG II (2003). As espécies amostradas foram
espécies principais temos o “guajeru” (Chrysobalanus identificadas por meio de literatura especializada e/
icaco L.), “alecrim-da-praia” (Polygala sp.) “salsa da ou por comparação com as exsicatas do Herbário
praia” (Ipomea sp.) (LIMA, 1999). O autor faz menção Rosa Mochel do Núcleo de Estudos Biológicos (NEB)
de contatos da restinga com dunas móveis, somente da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Os
a municípios pertencentes à região dos Lençóis dados foram processados e analisados usando os
Maranhenses. programas MATA NATIVA (Cientec, 2006) e JMP
(SAS, 1995).
Áreas amostradas
Os pontos de amostragem foram definidos a
partir da indicação de informantes e pela aparente RESULTADO E DISCUSSÃO
frequência de Himatanthus na comunidade vegetal
(Tabela 1.); posteriormente foram descritos os Caracterização das áreas de ocorrência de
ambientes considerando as unidades de paisagem Himatanthus spp.
existentes e o histórico de uso. Considerando a indicação dos informantes
Por falta de referência para classificação e o histórico de uso das áreas, foram essas as
fitofisionômica da vegetação secundária para o Estado principais características levantadas para as áreas
do Maranhão, a classificação utilizada foi baseada amostradas:
na Resolução CONAMA N° 010/1993, que estabelece a) Ladeira do Baixio: Relevo inclinado, solo
parâmetros básicos para análise de estágios de do tipo Latossolo Amarelo com curso d’água
sucessão da Mata Atlântica. Complementarmente, temporário na parte mais baixa da área. A tipologia
para melhor classificação da tipologia, utilizaram-se vegetal é de mata secundária com altura geral em
as Resoluções CONAMA N° 25/1994 e 26/1994, para torno de 10-12 metros, com histórico de uso agrícola
os Estados do Ceará e Piauí, seguindo modificações em pousio nos últimos 7-8 anos; segundo os critérios
e ajustes realizados por Pinheiro (2009), com base adotados a classificação é MDM. Nas partes mais
nessa legislação, os critérios principais de distinção baixas, há ocorrência de fisionomia de restinga com
dos estágios sucessionais, foram: 1) Altura: Baixa presença de guajuru (Chrysobalanus icaco L.) e cebola
(B), com indivíduos em geral de altura média abaixo (Clusia sp.). Na parte superior e mais plana, há
dos 5 metros; Média (M), entre 5 e 15 metros; alta ocorrência de babaçual. Atualmente o uso mais
(A), acima dos 15 metros; 2) Densidade: Baixa (B), frequênte é a extração de madeira e formação de roças
Média (M); Densa (D): com base no número de nas partes mais altas e planas.
indivíduos por área; 3) Estágio de Regeneração: inicial b) Araraí: Relevo inclinado com solo
ou jovem (J), para formações com menos de 5 anos; apresentando horizonte A com textura arenosa em
Média (M), para formações entre 5 e 15 anos; toda área, e camada O, com acentuado acúmulo de
Avançado (A), para formações com mais de 15 anos. serapilheira. A tipologia vegetal é de mata secundária,
com altura geral em torno de 8-10 metros e histórico
Análise fitossociológica. de uso agrícola em pousio de e” 30 anos, classificação
As plantas foram primeiramente identificadas MDA. Nas partes mais baixas da área, há ocorrência
pelo nome comum e posteriormente foi realizada a de fisionomia de restinga (Fig. 21) com presença de
identificação botânica, utilizando-se procedimento guajuru (Chrysobalanus icaco L..), murici (Byrsonima
padrão. A identificação das espécies da flora crassifolia Steud.) e caju (Anacardium ocidentalis L.).
acompanhante foi realizada diretamente a campo e, Na parte superior, limitando com uma área de
quando esta não foi possível foi coletado material chapada, há uma dominância de tucunzeiro
botânico para posterior identificação. Foi seguido o (Astrocaryum vulgare Mart.), indicando transição para
critério de classificação para as famílias botânicas terra firme.
TABELA 2. Informações gerais sobre as áreas amostradas na comunidade de Canelatiua, Alcântara, MA.
apresentar alta riqueza, mas serem pouco TABELA 7. Frequências absolutas e relativas dos
abundantes. indivíduos vegetais nas localidades de Ladeira do
Com relação à grande frequência observada Baixio, Campina Grande, Farol e Araraí, com
de bacurizeiros (Platonia insignis Mart.) nas áreas respectivas áreas; Comunidade de Canelatiua,
amostradas, pode ser explicada pelas condições Alcântara, MA.
favoráveis a ocorrência desta espécie, pois segundo
Áreas amostradas Fa Fr Área (ha)
Batista & Jardim (2006), o bacurizeiro ocorre em áreas
Araraí 1180 21, 02 4,87
abertas, clareiras e, principalmente, na vegetação Campina Grande 1464 26, 07 6,61
secundária, sendo rara na floresta primária densa. Farol 834 14, 85 9,84
A dificuldade encontrada na identificação Ladeira do Baixio 2137 38, 06 5,36
botânica de parte da vegetação amostrada pode ser Total 5615 100,00 26,68
comparada aos enf rentados em estudos de
composição florística no Estado do Pará e Amazonas.
Segundo Gama (2005), a dificuldade nesses Estados
pode ser atribuída à falta de um banco de dados O que pode ser observado, é que o número
oriundo de inventário florestal sistemático da flora de indivíduos amostrados não guardou relação direta
arbórea. Comprovando essa realidade para efeito com o tamanho da área. E sim, o que define esse
deste estudo, não havia registros de ocorrência número, é a destinação que é dada a essas áreas
das espécies [Himatanthus drasticus (Mart.) associada à freqüência de uso, senão vejamos. A
Plumel] e [Himatanthus obovatus (Müll.) Arg.] para localidade do Farol foi a maior área em termos de
o município de Alcântara. Ambas as espécies extensão (9,84 ha), sendo anualmente submetida
descritas para o Estado do Maranhão, de acordo a queimadas para formação de pastagem para o
com Spina (2004), em levantamento realizado em gado. Desta forma, contribuiu com o menor número
herbários, estava circunscrita a ocorrência de [H. de indivíduos (834). Situação contrária foi observada
drasticus (Mart.) Plumel], somente nos municípios na localidade de Araraí, onde foi a menor área
de Fortaleza dos Nogueiras, Carolina, Barra do amostrada em termos de extensão (4,87 ha),
Corda, Cax ias, Loreto, São Raimundo das sendo antigamente destinada à prática agrícola, e
Mangabeiras, Mirador, Riacho e Sambaíba; e a atualmente conta com 30 anos em estado de
ocorrência de [Himatanthus obovatus (Müll. Arg.)], pousio. Desta forma, apresentou uma contribuição
restrita somente ao município de Balsas. numericamente superior de indivíduos quando
Ao se analisar a distribuição do número comparados a localidade do Farol.
de indivíduos nas unidades de paisagem, verificou- A tipologia vegetacional que predominou
se que a terra firme foi a unidade de paisagem nas áreas amostradas foi a mata secundária com
com o maior número de indivíduos amostrados, com aproximados 74% do número total de indivíduos.
62, 97% do total (Tabela 6). O que apenas confirma a condição geral observada
Gama et al (2005) reiteram esse resultado para a região. A prática agrícola itinerante define o
quando afirmam que a terra firme é o ecossistema padrão atual da vegetação na sua condição
de maior expressividade e de grande complexidade secundária em estágios variados de regeneração
na composição, distribuição e densidade das segundo seu tempo de uso. A presença frequênte
espécies. de janaúba nesses am bientes secundári os
Em se tratando do núm ero total de confirma a condição dessa espécie como de
indivíduos amostrados, as localidades ficaram sucessão, aparentemente dos estágios mais
assim distribuídas por ordem de importância: av ançados (secundária tardia), embora haja
Ladeira d o Baixio 38,06%, Campina Grande indicações claras da sua presença em áreas
26,07%, Araraí 21,02% e Farol 14,85%. (Tabela perturbadas desde os estágios iniciais do processo
7). de sucessão vegetal (Tabela 8.
Mata Atlântica, a fim de orientar os procedimentos de definição de vegetação primária e dos estágios
licenciamento de atividades florestais no Estado do sucessionais secundários da vegetação de Restinga
Piauí. Publicada no DOU nº 248, de 30 de dezembro de na Mata Atlântica e dá outras providências. (Publicação
1994, Seção 1, página 21347. – Diário Oficial da União – 24/11/2009). Disponível em:
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 417, DE 23 DE NOVEMBRO h t t p : / / w w w . m m a . g o v. b r / p o r t / c o n a m a /
DE 2009. Dispõe sobre parâmetros básicos para legiabre.cfm?codlegi=617