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Amazona aestiva xanthopteryx (Psittaciformes: Psittacidae): o papagaio-do-


chaco

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Alessandro Pacheco Nunes

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Amazona aestiva xanthopteryx
(Psittaciformes: Psittacidae):
o papagaio-do-chaco

Alessandro Pacheco Nunes

ABSTRACT: The Blue-fronted Parrot (Amazona aestiva) is a


widely distributed neotropical parrot. This specie comprises two
subspecies: Amazona aestiva aestiva which occurs over much of
eastern Brazil and Amazona aestiva xanthopteryx, of Bolivia and
south-west Brazil to northern Argentina. Here I report the records
of the Chaco Blue-fronted Amazon (Amazona aestiva xanthop-
teryx) in Chaco remains at Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul,
Brazil.

O Chaco ou o Gran Chaco, como é denominado pelos guara-


nis, é uma das maiores unidades fitogeográficas da América do
Sul, abrangendo uma área superior a 800.000 km2 (National Geo-
graphic Society 2009). Figura 2. Vegetação típica dos remanescentes de Chaco
Estende-se do sudeste da Bolívia até o centro-oeste do Para- em Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul. Destaque para as
guai, englobando extensa região do norte da Argentina e uma pe- espécies características desse ecossistema, como o carandá
quena porção do Brasil, situada a sudoeste de Mato Grosso do Sul (Copernicia alba) e as árvores espinhentas do gênero Figura 3. Papagaio-do-chaco
(Prado 1993a, b; Prado & Gibbs 1993). Prosopis. Foto: Walfrido Moraes Tomas. (Amazona aestiva xanthopteryx). Foto: Michal Pikner.
Embora sua ocorrência em território brasileiro não seja reco- nada “green shouldered” que destaca-se das demais pelo encon- assim como em outras áreas da planície do Pantanal e Mato Gros-
nhecida pelo IBGE (2009), esse singular e vulnerável ecossiste- tro totalmente verde e a ausência de amarelo na face. so do Sul (Forshaw 1973, Sick 1997), possivelmente sejam indi-
ma se estende por 50.000 km2 do município de Porto Murtinho, Short (1975), Darrieu (1983) e Lopes et al (2008) relatam que víduos intermediários entre as duas subespécies.
Mato Grosso do Sul (Prado et al. 1992, Nunes 2006). na região central de Mato Grosso do Sul, há uma zona de contato Caparroz et al. (2009) relatam que A. aestiva é um bom exem-
Segundo Prado (1993a, b) e Prado & Gibbs (1993), a paisagem entre as subespécies (A. a. aestiva e A. a. xanthopteryx) e alguns plo da ação dos ciclos climáticos do Pleistoceno no processo de di-
chaquenha é heterogênea, variando desde áreas com predomínio indivíduos apresentam encontro de cor mista, com plumagem ver- ferenciação e distribuição geográfica de aves em áreas abertas na
de vegetação xeromórfica (Chaco seco) a savanas mistas, bos- melha e amarela (Figura 4 A e B). região Neotropical, tais como o Cerrado e o Chaco.
ques úmidos tropicais, bosques arbustivos e campos sazonalmen- Durante uma rápida expedição científica a Porto Murtinho,
te inundáveis (Pantanal). Mato Grosso do Sul, em setembro de 2006, foram avistados al- Conservação
De acordo com Hayes (1995) e a Guyra Paraguay (2004), na re- guns indivíduos da subespécie A. a. xanthopteryx nos remanes- De acordo com Collar & Juniper (1992) aproximadamente
gião fronteiriça entre o Brasil e o Paraguai ocorrem fitofisionomi- centes de Chaco na região. 30% dos psitacídeos da América do Sul estão ameaçados de ex-
as típicas como o Pantanal Mato-grossense (matas sub-úmidas Os primeiros indivíduos dessa subespécie (um bando com cin- tinção devido ao declínio populacional em consequência da perda
com sub-bosque denso composto principalmente por bromélias, co indivíduos) foram avistados comendo frutos de aroeira (Myra- de habitat e comércio ilegal de animais silvestres.
matas e campos sazonalmente inundados); o Chaco úmido (matas cruon urundeuva, Anacardiaceae), em uma mata seca nas imedia- Galetti et al. (2002) ponderam que as intervenções humanas na
de galeria e extensas matas de carandá, Copernicia alba) e o Cha- ções da Rodovia MS-195 (21º32’S, 57º49’W; 80 m de altitude). paisagem provavelmente colocará em risco as espécies do gênero
co seco (vegetação xerofítica, matas secas e espinhentas com O segundo avistamento de A. a. xanthopteryx ocorreu numa Ara e Amazona que habitam áreas ainda pouco impactadas, como
abundância de cactos, Figura 2). mata seca de encosta de morro, na fazenda Porto Conceição a Amazônia e o Pantanal.
Os remanescentes de vegetação chaquenha em Porto Murtinho Figura 1. Papagaio-do-chaco (21º28’S, 57º55’W; 84 m de altitude), localizada nas proximida- O papagaio-verdadeiro não está incluso nas listas de espécies
ainda são pouco estudados. Estudos fitofisionômicos na região fo- (Amazona aestiva xanthopteryx). Foto: Michal Pikner. des da região conhecida como Feixo dos Morros, às margens do ameaçadas de extinção em âmbito global (BirdLife International
ram conduzidos por Veloso & Strang (1970), Prado et al. (1992), Distribuição rio Paraguai. As aves (três indivíduos) estavam forrageando flo- 2009) e nacional (Silveira & Straube 2008).
Nunes (2006), Alves & Sartori (2009) e Noguchi et al. (2009). No O papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) é uma espécie de res de piúva (Tabebuia heptaphylla, Bignoniaceae). No entanto, a captura de filhotes na natureza para atender o
entanto, em relação aos demais táxons, ainda há consideráveis la- ampla distribuição na América do Sul(Sick 1997). Em ambos avistamentos, chamou a atenção o intenso e con- mercado ilegal de animais silvestres ameaça seriamente suas po-
cunas de conhecimento. Esta espécie congrega duas subespécies, que se diferenciam trastante amarelo que se estendia por grande parte da plumagem pulações no Pantanal e no estado de Mato Grosso do Sul (Pinho &
Short (1975) relaciona a ocorrência de 723 espécies de aves pa- morfologicamente pela coloração da plumagem (Darrieu 1983): da face, nuca, garganta e coberteiras superiores do encontro. Nogueira 2000, Seixas & Mourão 2000).
ra a região do Chaco, entre as quais, o papagaio-do-chaco (A. aes- A. a. aestiva, que tem o encontro vermelho e A. a. xanthopteryx, Entretanto, em ambas as ocasiões não foram possíveis o registro O papagaio-verdadeiro está presente no Anexo II da CITES
tiva xanthopteryx). de encontro amarelo com manchas vermelhas (Figura 3). fotográfico dos papagaios. (2009), que inclui espécies atualmente não ameaçadas de extin-
Embora Straube et al. (2006), tenham listado mais de 280 espé- A subespécie A. a. aestiva ocorre no Brasil oriental, do leste do Padrão similar ao apresentado pelos indivíduos de A. a. xant- ção, porém, seu comércio ilegal necessita de controle para evitar
cies de aves para o Chaco brasileiro, não há nenhuma menção des- Pará ao sul do Paraná e sudeste de Mato Grosso, enquanto A. a. hopteryx, oriundos de um criadouro autorizado na Argentina (ver o declínio na população.
sa subespécie. xanthopteryx ocorre do nordeste da Bolívia e sudoeste de Mato Figura 3). Beissinger & Bucher (1992) relatam que o papagaio-
Nesse artigo é relatada a ocorrência da forma chaquenha do pa- Grosso do Sul ao sul do Paraguai e norte da Argentina (Darrieu A ocorrência da forma chaquenha do papagaio-verdadeiro, pa- verdadeiro é a ave mais negociada na Argentina, com mais de
pagaio-verdadeiro, também conhecido como papagaio-do- 1983, Forshaw 1989, Lopes et al. 2008). rece ser restrita à região de Chaco em Porto Murtinho. 51.000 indivíduos exportados entre 1982 e 1986.
chaco (A. a. xanthopteryx) em Porto Murtinho, Mato Grosso do Em Sierra de Santa Bárbara, nordeste da Argentina, Areta Os papagaios tidos como A. a. xanthopteryx em Descalvados, De acordo com Fernández-Juricic (1990), Wright et al. (2001)
Sul. (2007) relata a ocorrência de uma variante de A. aestiva, denomi- Chapada dos Guimarães e Fazenda Palmeiras (Naumburg 1930), e Uhart & Milano (2002), esse psitacídeo está seriamente amea-
4 Atualidades Ornitológicas Nº 154 - Março/Abril 2010 - www.ao.com.br Atualidades Ornitológicas Nº 154 - Março/Abril 2010 - www.ao.com.br 5
Conclusão Naumburg, E.M.B (1930) The birds of Matto Grosso, Brazil: a report on the birds
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De acordo com Harris et al. (2006), Porto Murtinho está entre do papagaio-verdadeiro (A. a. xanthopteryx) na lista de espécies Leite, K.C.E., G.H.F. Seixas, I. Berkunsky, R.G. Collevatti & R. Caparroz (2008) A.V. Berovides, X.A. Galvez, A.T. Brice, K. joyner, J.R. Eberhard, J. Gilar-
Population genetic structure of the blue-fronted Amazon (Amazona aestiva, di, S.E. Koenig, S. Stoleson, P. Martuscelli, J.M. Meyers, K. Renton, A.M.
os municípios da Bacia do Alto Paraguai com as maiores taxas de ameaçadas de extinção em âmbito nacional e regional, na catego- Psittacidae: Aves) based on nuclear microsatellite loci: implications for con- Rodriguez, A.C. Sosaasanza, F.J. Vilella & J.W. Wiley (2001) Nest poaching
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