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ISSN 1982-3541

Belo Horizonte-MG
2007, Vol. IX, nº 2, 153-174

O Comportamento Verbal de B. F. Skinner:


uma introdução

B. F. Skinner’s Verbal Behavior:


an Introduction

Ernst A. Vargas
B. F. Skinner Foundation

Resumo

A análise de Skinner acerca do comportamento verbal requer o entendimento de suas bases ex-
perimentais e filosóficas. A sua interpretação do comportamento social conhecido como “lingua-
gem” é construída diretamente a partir da análise experimental do comportamento em contato
direto com o seu ambiente imediato, tanto interno quanto externo, e do enquadramento do con-
tato comportamental como relações de contingência. A análise das relações de contingência do
comportamento verbal, contudo, lida com propriedades de comportamento não apenas sob os
controles dinâmicos do contato direto, mas a medida que este controle é mediado pela sociedade.
Uma comunidade social constrói esta mediação moldando as ações de seus membros para pode-
rem ensinar outros membros como verbalizarem efetivamente através de formas apropriadas de
ação. Portanto, os atributos de Skinner do comportamento verbal são: 1) relacional; 2) mediacio-
nal; 3) comunal; e 4) estipulacional. Todos os quatro são componentes necessários da sua análise
de comportamento verbal, e constituem o que ele define como comportamento verbal.

Palavras-chaves: Comportamento verbal, Relacional, Mediacional, Comunal, Estipulacional.

Abstract

Skinner’s analysis of verbal behavior requires understanding its experimental and philosophical
underpinnings. His interpretation of the social behavior known as “language” builds directly
from the experimental analysis of behavior in direct contact with its immediate milieu, both inner
and outer, and from the framing of behavioral contact as contingency relations. The analysis of
the contingency relations of verbal behavior, however, deals with properties of behavior not only
under the dynamic controls of direct contact, but as that control is mediated by society. A social
community constructs that mediation by shaping its members’ actions to teach other members
how to verbalize effectively through the proper forms of action. As such, Skinner’s attributes of
verbal behavior are: 1) relational; 2) mediational; 3) communal; and 4; stipulational. All four are
necessary components of his analysis of verbal behavior, and constitute what he defines as verbal
behavior.

Key-words: Verbal behavior, Relational, Mediational, Communal, Stipulational

Ph.D. Vice Presidente e Diretor Acadêmico da Fundação B. F. Skinner Meus agradecimentos ao Dr. Jerry D. Ulman e para a Dr. Julie
S. Vargas pelo precioso feedback em uma versão anterior deste artigo. E-mail: eavargas@bfskinnerfoundation.org

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Ernst A. Vargas

Introdução rentes formas de comportamento verbal. Po-


rém, mais do que somente controles estão em
Em Comportamento Verbal Skinner questão no entendimento do comportamento
afirma que uma iniciação apropriada à lei- verbal. Junto a esses controles há atributos
tura de seu livro é primeiramente ler Ciência de definição que compõe o “comportamento
e Comportamento Humano. Nada mais certo. verbal” sendo que há mais de um. O compor-
Sem compreender a ciência subjacente à sua tamento verbal não é definível apenas por um
análise das relações verbais, seria impossível tipo de atributo, a sua característica media-
entender aquela análise ou pior, o que ele es- cional – mesmo sendo este importante. Um
creveu seria grandemente mal interpretado. certo número de outras características são
Uma resenha antiquada feita por um lingüis- igualmente importantes para se compreen-
ta nos fornece um dos melhores exemplos der o que Skinner chama de “comportamento
de não se seguir o conselho acima. O revisor verbal”. Tanto a anatomia como os atributos
aproximou-se da análise de Skinner através expressam o essencial do que vem a ser o
do periscópio de uma psicologia do estímu- comportamento verbal.
lo-resposta, tão ultrapassada que era a pró-
pria antítese da posição de Skinner. Tal como A teoria de Skinner de seleção
MacCorquodale (1970, pp.83-98) afirmou “O comportamental
verdadeiro alvo de Chomsky é apenas meio
Skinner, com o resto sendo uma mistura de O Caráter da Teoria
esquisitices e condições de outros behavioris-
mos e outras crendices de origem desconhe- Com relação a um domínio dos fe-
cida... um amálgama de ... doutrinas behavio- nômenos, uma teoria é um sistema coeren-
rísticas fora de moda”. te de proposições dos quais se podem tirar
Mesmo que essa interpretação estí- conclusões prováveis. Ela agrega os dados
mulo-resposta estivesse atualizada, ela ainda que constituem uma disciplina, relacionan-
estaria inadequada, pois Skinner rejeitaria tal do como eventos que aparentemente diferem
formulação. Perguntado se ele teria lido tal compartilham propriedade comuns. Uma
resenha, não foi surpresa que Skinner tivesse maçã que cai de uma árvore compartilha as
respondido que ele começara a fazê-lo, lera mesmas relações de gravidade tal qual a lua
alguns poucos parágrafos e desistira quando faz com a Terra. O ácido chamado desoxir-
ele viu que ela havia escapado à compreensão ribonucléico de uma mosca de fruta produz
do resenhista. Uma resposta bastante educa- uma anatomia diferente da dos seres huma-
da. nos, se bem que seus mecanismos de pro-
Esta Introdução não substitui Ciên- duzir proteína operam da mesma maneira.
cia e Comportamento Humano. Pelo contrário, Uma programação intermitente de reforço
esta Introdução fornece a anatomia conceitu- produz o mesmo efeito numa pomba bican-
al que constitui a análise do comportamento do um disco por comida tal como o faz em
verbal de Skinner. Esta anatomia conceitual um ser humano acionando uma alavanca por
deriva da Teoria da Seleção Comportamental dinheiro. Nesta programação as espécies são
de Skinner. Um componente dessa teoria, a diferentes, as topografias de comportamento
análise do comportamento verbal, traz à tona são diferentes, até mesmo os reforçadores são
o impacto da cultura. Outro componente, a diferentes, mas as propriedades dinâmicas
análise do comportamento experimental, pro- descritivas da relação de ação e efeito são as
videncia a infra-estrutura do comportamento mesmas. A elucidação de propriedades simi-
verbal. Os fundamentos experimentais a par- lares, por trás de restos cotidianos de eventos
tir de laboratório fornecem os vários tipos de diferentes caracteriza a mais poderosa das te-
controles que emprestam significado a dife- orias nas ciências físicas, biológicas e compor-

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tamentais. Fundamentos temáticos: Para esta In-


Em todo o caso o termo teoria tem trodução, três temas são pertinentes. Primeiro:
adquirido uma má conotação. Pelo menos a teoria de Skinner assume uma continuidade
o comunal leigo usa freqüentemente a pala- nas propriedades do comportamento com to-
vra teoria de uma maneira pejorativa. É fá- dos os tipos de vida animal. O comportamen-
cil ver por quê. Para se dar respeitabilidade, to é sujeito às mesmas leis independentemen-
qualquer noção mal requentada é chamada te da espécie em questão. Devido à diferença
quase sempre de teoria. Especulações loucas na anatomia e fisiologia, os animais podem
sobre discos voadores são chamadas de teo- ser diferentes nas maneiras especiais com
ria. Conjecturas sonhadoras sobre arcas su- que interagem com o seu ambiente. Os pás-
postamente encontradas no Monte Ararat são saros voam. As pessoas escrevem. Mas se um
nomeadas de teorias. Palpites impertinentes pássaro ou uma pessoa está sem comer por
sobre a cura para a velhice são chamados de vários dias, qualquer ação que produza comi-
teoria. Não é de se surpreender que o termo da provavelmente será repetida. A relação de
para a pessoa leiga significa “não comprova- contingência opera independentemente da
do” ou “especulativo” ou apenas “altamente espécie em questão. Se a ação acontece em um
opinativo”, mas não para o filósofo da ciência determinado padrão, então este padrão tende
ou o historiador da ciência ou o cientista pro- a persistir ao longo do tempo conquanto que
fissional. Para uma ampla gama de eventos, as relações de contingência permaneçam as
teoria denota a poderosa explanação através mesmas. Segundo: Skinner assegura que o
da qual se atingem novos insights. Aplica-se comportamento pode ser descrito e então ex-
o termo teoria para os mais altas realizações plicado pela inter-relação funcional entre vari-
do esforço científico. áveis independentes e dependentes. A função
Geralmente um nome é vincula- é substituída pela causalidade. A implicação
do a esta realização: A Teoria Mecânica de filosófica de uma estrutura determinista é
Newton, A Teoria Evolutiva de Darwin, A evitada. A função denota seu uso matemático
Teoria da Relatividade de Einstein, A Teoria – a relação correlacionada de valores de duas
de Skinner de Seleção Comportamental. O ou mais variáveis. Terceiro: a teoria de Skin-
nome dá crédito ao indivíduo que de manei- ner rejeita qualquer forma de interferência
ra coesa descreveu as propriedades relevan- como uma força causal explicita ou implíci-
tes de um domínio de fenômeno e a base de ta. A Contingência substitui a interferência na
dados da ciência que o aborda. Estes cientis- descrição da interação de ações com os even-
tas conseguiram atingir suas realizações de tos internos ou externos a qualquer nível de
várias maneiras. A teoria de Newton resultou análise. Não há “personalidade”, ou “ego”,
principalmente de suas experiências. Darwin ou “eu”, ou nesta questão, pomba ou falante,
na maior parte construiu sua teoria a partir responsável por uma ação que seja ficar bi-
das observações do mundo natural encontra- cando um disco ou digitando em um iFone. A
do durante a sua viagem de cinco anos pelo ação está capturada em um nexo de relações
mundo. Einstein construiu sua teoria a partir contingenciais, e é uma conseqüência vetorial
da sua reinterpretação dos dados e teorias da de fatores relevantes tais como privação e re-
física do seu tempo. Skinner produziu a sua forço assim como história filogenética.
teoria a partir das suas experiências em labo- Fundamentos experimentais: O com-
ratório e a partir da observação e da interpre- portamento entra em contato direto com um
tação das ações linguais da vida social diária. meio tanto interno quanto externo. (Veja Fi-
gura 1.) Estas ações são governadas por even-
A Estrutura da Teoria de Seleção Comportamen- tos. Todas as ciências examinam ações gover-
tal de Skinner nadas por eventos.

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cia behaviorista aborda as suas relações con-


tingentes. A natureza única destas relações
contingentes, e.g. a operante, providencia seus
significados. Se a relação contingente está pre-
sente no interior do corpo ou entre o corpo e
um ambiente externo é irrelevante como foi
mostrado por Silva, Gonçalves, e Garcia Mija-
res (2007) em um panorama dos diferentes ní-
veis de acontecimentos neurofisiológicos que
exibem efeitos de seleção contingencial. Os
mesmos processos comportamentais básicos
operam. Estes processos decorrem da seleção
por conseqüências. Os seus nomes descritivos
são reforço, punição, indução e discrimina-
ção. Outras disciplinas estudam as ações de
maneira diferente. A análise psicológica, es-
pecialmente a cognitiva, do comportamento
se concentra no efeito do estímulo antecedente
em respostas subseqüentes. Para poder corri-
gir a disparidade entre os valores de estímulo
e resposta, uma ação de intervenção é inter-
posta (Vargas, 1993, Outubro). A análise com-
Comportamento Governado por Evento: portamental começa com o efeito de eventos
posteriores em uma classe de ações. A análise
Estas ações governadas por eventos começa com efeitos observados diretamente
ocorrem com todo domínio de fenômenos entre variáveis dos valores do estímulo pos-
que a ciência estuda – físico, biológico, e com- terior e os valores das propriedades de clas-
portamental. As ciências física e biológica ses de ações anteriores. Efeitos posteriores ou
têm estudado as ações de maneira cientifica aumentam ou diminuem as propriedades de
por mais tempo e as têm analisado rigorosa- uma classe de ação anterior, tal como aumen-
mente dentro daquelas estruturas dimensio- tando ou diminuindo a sua frequência. (Em
nais da ciência de descrição e explicação. A termos atuais, portanto reforçando ou punindo
Patinação, por exemplo, pode ser analisada a classe de ações anteriores.) Considerando
em relação às suas propriedades biomecâ- o efeito recíproco relacional entre a ação e as
nicas. As lâminas estendidas da patinação a classes de estímulos, a relação contingente
dão uma “vantagem em relação a meios de básica de dois termos de uma classe de ação
transporte sem auxilio (como correr) porque, existente e uma classe de estímulo posterior
na verdade, quanto mais lento um músculo é chamada de operante. O operante pode ser
se contrai, maior é a força que ele desenvol- analisado como um sistema, independente
ve” (Summers, 2007/2008, p. 20). A Patina- de outros efeitos. Uma dada relação de dois
ção também pode ser analisada em relação termos poderá ser evocada apenas na pre-
aos fatores culturais envolvidos na corrida. E sença de uma certa classe de estímulos. Um
também a ciência de Skinner designada aqui efeito restritivo desta relação de três termos
como ciência behaviorista, estuda a patinação é tipicamente chamado de discriminação. Ou,
e também todas as outras ações dentro da sua a relação de dois termos poderá ocorrer com
própria dimensão especial de descrição e ex- qualquer uma de uma série de características
plicação. sobrepostas de um conjunto de classes de es-
Ao descrever e explicar ações, a ciên- tímulos. Uma expansão subseqüente de efei-

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to é tipicamente chamada de indução. Conco-


mitantemente, outras variáveis operam para
transformar eventos físicos em classes de
estímulos dependendo destes outros efeitos
variáveis em propriedades comportamentais,
e.g. pouco esforço pode ser feito em buscar
água até que uma grande quantidade de sal
seja ingerida ou nenhuma reação é feita em
relação a uma luz até que seja correlacionada
com comida.

Comportamento governado por eventos: Processos


Primários

Dentro do contexto de análise de con-


tingência, estes processos dinâmicos expli-
cam o fenômeno comportamental e as suas
formas.
Várias relações comportamentais sub-
sidiárias dependem e permutam a partir des-
tes processos básicos. Juntamente com orga-
nizações de estímulos complexas, estes efei-
tos secundários são responsáveis por outros
efeitos comportamentais. Contingências de
reforço produzem conseqüências específicas
e previsíveis em padrões especiais de ação.
Relações de equivalência induzem novas re-
lações controladoras. Comparação demons-
tra a distribuição proporcional de relações de
reforço. E assim por diante. experimental de muitas de suas proposições
teóricas sobre o comportamento verbal, e à
Comportamento governado por eventos: Processos aplicação prática de ensinar o comportamen-
Primários & Secundários to verbal.

Estes processos básicos e secundários A Interpretação de Skinner do


de relações contingentes providenciam as ba- Comportamento Verbal
ses para a interpretação do comportamento
verbal. Embora muito tem sido conquistado, Atributos Teóricos
a compreensão do comportamento verbal em
relação a estes processos básicos e secundá- As teorias aparecem em diversas for-
rios cada vez mais complexos mal tem bei- mas e estilos. A teoria de Skinner acerca dos
rado a superfície. Qualquer crítica quanto a processos primários que fundamentam o fe-
inadequação da análise de Skinner acerca do nômeno comportamental era uma questão
comportamento verbal tem que primeiro tra- dispersa. Ele a construiu durante muitos anos.
tar da questão da adequação da ciência. E in- Ele adicionou dados e constatações ao longo
dependente desta questão, a ciência tem sido do tempo. Impulsionado pelo que ele encon-
levada até a análise conceitual do comporta- trava em seus experimentos de laboratório,
mento verbal com sucesso, à demonstração de modo geral ele teorizava indutivamente.

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O que ele encontrava mudava seus esforços mento por sua vez, se desenvolveu através do
experimentais. Ele também mudava o aparato seu contato com o seu mundo social, bioló-
e os requisitos de contingência. Apenas pos- gico e físico. Skinner portanto lidou com um
teriormente ele mudou as espécies, de ratos tipo de comportamento de segunda ordem
para pombos, mas os processos contingentes – mutuamente e concomitantemente contro-
que produziam propriedades comportamen- lado cercando eventos físicos e biológicos,
tais similares provaram ser os mesmos. A te- internos e externos, e através de uma cultura
oria de comportamento resultante foi lançada do ambiente, traduzida socialmente. Nesta
em vários artigos começando pelo A natureza interseção sobreposta de natureza e cultura,
genérica dos Conceitos de estímulo e da resposta os processos comportamentais descobertos
(1935), essencialmente uma reescrita da sua no laboratório se mostraram aplicáveis. Uma
tese, e encontrou expressão em forma de li- vez que a cultura é uma grande elaboração de
vro tal como O Comportamento dos Organismos relações comportamentais, o comportamento
(1938), Esquemas de Reforço (1957), e Contin- verbal exibiu uma complexidade labiríntica
gências de Reforço: Uma Análise Teórica (1969). talvez maior do que a sua contraparte não
Estes tocavam em todo tópico que lidava com verbal. Mas os mesmos processos estavam
comportamento. Mas a forma da teoria nun- em trabalho. O que era necessário era inter-
ca foi realmente completada. A maneira de pretar esta complexidade comunal dentro
apresentação da teoria nunca foi unitária. da estrutura da sua teoria. Na ambientação
A interpretação do comportamento singular de O Comportamento Verbal, Skinner
verbal também foi construída durante muitos providenciou esta interpretação.
anos, mas contrastantemente teve uma úni- O Comportamento Verbal é um livro
ca expressão inclusiva. Em sua autobiografia interessante. Construído indutivamente, ele
Skinner descreve como trabalha indutivamen- apresenta suas proposições dedutivamente.
te, organizando e reorganizando tanto fatos Respeitando a “reputação” de Skinner como
quanto categorias. Mas o sistema conceitual um não teórico, tal formato é irônico. Não de-
foi geralmente tirado a partir da análise expe- veria ter sido inesperado pois há um toque
rimental do seu trabalho em laboratório. Obti- do modo dedutivo em O Comportamento dos
das a partir das ações de organismos lidando Organismos, o livro que estabelece os funda-
com os seus arredores físicos, estas relações mentos experimentais da sua teoria. O livro
estabelecidas foram alteradas para se encai- começa com uma série de leis dinâmicas e es-
xarem aos novos requisitos colocados por um táticas do reflexo a partir da qual o leitor deve
dado social. Embora seja comportamental, a se orientar para o que se segue depois. Em
linguagem é um fenômeno cultural e não bio- Comportamento Verbal não há tal comentário
lógico ou físico. O fato de que a linguagem de tais leis ou mesmo o trabalho experimen-
requer um substrato biológico e físico não é a tal básico – com tabelas, gráficos, e equações
sua distinção crucial. Estes substratos podem – que dá suporte à análise da linguagem que
ser necessários mas não suficientes, da mes- se segue. Ao contrário, o estilo é quase literá-
ma maneira que é necessário um par de per- rio. Autores são mencionados sem a inserção
nas para andar até à loja mas isto não fornece da citação. Se estiver em outra língua que não
razão suficiente do porquê que alguém fez seja o inglês, a citação pode estar naquela lín-
isto. Sem uma comunidade social que atra- gua. Notas de rodapé são raras. Uma série de
vés de gerações transmita o comportamento neologismos aparecem, rapidamente defini-
adquirido por outros no grupo, nenhuma dos, com os exemplos sustentando o peso da
linguagem é possível. O comportamento ver- definição assim como os vários aspectos do
bal, a verbalização da linguagem pelo falante, significado da definição. Em nenhum lugar
se desenvolve através do seu contato com o aparente aparecem os sinais de um sistema
comportamento dos outros cujo comporta- hipotético-dedutivo que requer o modo de

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um cálculo propositivo. Mas proposições (e a seleção por conseqüências é a força motora.


as hipóteses implicadas) existem, e há muitas Alguns enxergam o efeito de estímulo prévio
delas. Cada afirmação praticamente pede por apenas através da lente da relação operante.
um teste; não as declarações de definições, Estímulos evocativos conseguem seu efeito
claro. Quando é expresso que se alguém pede após se unirem com a contingência operante.
algo e outra pessoa o dá e então esta afirma- O tato, por exemplo, obtém seu efeito através
ção será agora chamada de mando, poderia-se de reforço generalizado providenciado para
argumentar quanto ao rótulo mas não quanto eventos antecedentes conjuntamente com
ao fato da observação. O fato apenas descre- operantes linguais. Sob a complexidade da
ve o que é conhecido da vida diária e o que é análise há a simplicidade profunda de poucas
observado a partir de estudo de laboratório. variáveis, quase da mesma maneira como a
As razões, e portanto a formulação te- complexidade do mundo físico imediato está
órica, vieram de um trabalho operante básico. sustentada na interação de algumas poucas
Teorias alternativas sempre estiveram presen- variáveis tais como força, massa, e aceleração.
te em análises lingüísticas anteriores. Nelas, Em Comportamento Verbal, Skinner fornece a
o significado vinha do que era intencionado, formulação teórica de como as variáveis re-
ou de uma série de condições inferidas na levantes para a seleção por conseqüências de
ação diretiva dentro do organismo. A formu- atividades governadas por eventos operam
lação teórica de Skinner era radicalmente di- no mundo social de ações governadas por
ferente. O organismo e as suas ações implica- linguagem.
das (quer seja auto ou estrutural) saiu de cena Da sua formulação teórica, Skinner
como uma força originária. O significado re- deixa para os outros para fornecerem seus
sidia nas variáveis controladoras em torno do testes rigorosos. Alguns já foram feitos. Os
que era dito. O que eram estas variáveis, e tão esforços à princípio eram lentos. Agora eles
importantes quanto as dinâmicas de como aceleraram. Em uma resenha da história da
elas interagiam, era providenciado por uma pesquisa sobre o comportamento verbal, Esh-
análise experimental do comportamento. O leman (1991) coloca bem,
seu eixo era o operante. O controle posterior Não deveremos esperar que análises operantes
partam de pesquisadores de linguagem tradi-
do operante eliminou a necessidade de uma
cionais.... Até onde eles lidam com o comporta-
ação iniciadora. (Na biologia o mecanismo de mento, se o fazem é a partir de um paradigma
seleção descarta a necessidade de uma ação outro do que o de seleção por conseqüências
iniciadora no surgimento das formas e fun- de Skinner. (pp. 73-74)
ções dos organismos, e assim também o me- ... esperar que pesquisadores de linguagem
“tradicionais” conduzam pesquisas a partir do
canismo de seleção na ciência comportamen- Comportamento Verbal é como esperar que filó-
tal elimina a necessidade de uma ação inicia- sofos naturais orientados teologicamente ajam
dora no surgimento das formas e funções da como Darwinianos e estudem biologia a par-
linguagem.) O operante fornece a estrutura tir do paradigma da seleção natural. A análise
de Skinner acerca do comportamento verbal
para o mando, onde as conseqüências ditam
representa uma mudança de paradigma, e de-
a forma e a ocorrência daquele tipo de com- veríamos esperar que algum atraso de tempo
portamento verbal. Claro que há outras va- ocorresse.
riáveis envolvidas. Assim como na evolução Se realmente esboçarmos uma planilha de fre-
onde o isolamento geográfico tem um papel quência e aceleração da pesquisa do comporta-
mento verbal... nós encontraremos uma sólida
na formação de espécies, a seleção natural é a tendência de aceleração para cima. (p. 77)
força motora. Na evolução, a seleção natural
inicia a complexidade de fatores que intera- Estes esforços e testes acontecem de
gem no processo variacional. Similarmente três maneiras.
no comportamento verbal outras variáveis, Primeiramente, a formulação teórica
tal como a comunal, estão sempre à mão, mas básica pode ser conceitualmente ampliada.

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Ernst A. Vargas

Pode uma maior utilidade da formulação de zer lápis ao vê-lo, parece ser “senso comum”
Skinner assim como uma maior clareza le- que quando um lápis é desejado é isto o que
vando em conta questões da linguagem, sim- é dito. Parece que não é este o caso. Uma “pa-
plesmente através de raciocínio, ser alcança- lavra” aprendida sob as condições controla-
da? Aumentando o escopo dos conceitos de- doras do tato tende a não ser emitida sob as
lineados em Comportamento Verbal facilita um condições controladoras do mando; (“ten-
entendimento daqueles conceitos e de ativi- de” – variáveis como o ouvinte ou processos
dades de lugar-comum não obtidas de outra como a indução também fazem a sua parte.)
maneira, por exemplo em, J. S. Vargas (1978, O segundo exemplo: Skinner se dedica a uma
1991), E. A. Vargas (1986, 1988, 1991, 1998). análise importante de expressões verbais sob
Comparações entre a formulação teórica de um controle múltiplo (importante em parte
Skinner e aquelas de lingüistas tradicionais porque ela forma a base do que ele mais tarde
esclarece as diferenças e ilumina as ques- explora no comportamento autoclítico, e im-
tões, por exemplo, Knapp (1990, 1992), Ma- portante, em boa parte, por causa dos múlti-
bry (1993, 1994-1995), Schonenberger (2005). plos controles no cenário social). Lowenkron
Qualquer leitura casual cuidadosa desta lite- (1991) examinou e ampliou esta análise sob
ratura encontra uma extensão da análise de o rótulo de controle conjunto. (Ele faz, contu-
contingência acentuada em Comportamento do, uma distinção entre controle conjunto e
Verbal. múltiplas causas; e.g., a nota de rodapé na
Em segundo lugar, Comportamento página 2 em Lowenkron e Colvin [1992]). Eu
Verbal providencia a sua formulação teórica discordo com a distinção: Controle conjunto é
de uma maneira hipotética-dedutiva na sur- um tipo de causa múltipla; a expressão verbal
dina. Proposições são declaradas e conclusões é controlada multiplamente e desta maneira
tiradas delas. O caso para estas proposições a probabilidade da verbalização é alterada.
é feito através de exemplo e ilustração. (Está Pode ser que tenhamos aqui a velha questão
implicado na sua aceitação se a pessoa aceita de como desejamos rotular os eventos.) O
a teoria de Skinner de seleção comportamen- trabalho de Lowenkron tem sido muito bem
tal e o seu histórico experimental.) Mas, mais seguido por outros como Joyce Tu. Tu (2006)
do que exemplo se torna necessário para pro- concluiu,
var uma proposição declarada em um projeto
O controle conjunto é um evento que é inde-
científico. Será que um teste experimental a
pendente de qualquer estímulo em especial
validaria? Pouco a pouco, de teste em teste, mas é específico quanto a relação [itálico adicio-
várias hipóteses vêm sendo examinadas ex- nado] entre estímulos... Além disso, o controle
perimentalmente. Os resultados destes ex- conjunto não requer quaisquer princípios no-
perimentos continuam a confirmar as decla- vos ou explicações para o comportamento do
ouvinte. Ele simplesmente reafirma e demons-
rações, dando crédito não apenas às propo- tra uma característica crítica do comportamen-
sições testadas, mas para o todo da análise. to verbal: a causa múltipla. (p. 931)
Duas investigações serão mencionadas por
alto. Um primeiro exemplo: Uma proposição Mais confirmações experimentais e
declarava que uma expressão verbal emitida ajustes das proposições teóricas de Skinner
sob um conjunto de circunstâncias embora seguirão a medida que os pesquisadores in-
apropriada para outra, poderia não ser neces- ventarem métodos novos e precisos através
sariamente emitida. Para colocar de maneira dos quais eles podem examiná-las experi-
mais familiar e solta, simplesmente porque mentalmente.
uma palavra era conhecida não significava O terceiro tipo de confirmação era de
que ela estaria sempre disponível para o uso. uma preocupação maior para Skinner (1957):
A proposição parece antiintuitiva. Uma vez
que um lápis é mostrado e é ensinado a se di- Na medida em que entendemos o compor-
tamento verbal em uma análise ‘causal’ este

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deve ser acessado a partir da proporção em rios de auto-edição e auto-gerenciamento para


que podemos prever a ocorrência de instâncias uma escrita funcionalmente efetiva, e (d) en-
específicas e, eventualmente, à medida em que sinar repertórios complexos de resolução de
pudermos produzir ou controlar tal comporta- problemas para profissionais tais que o trata-
mento através da alteração das condições sob mento mais forte e efeitos educacionais davam
as quais ele ocorre. (p. 3) resultado para uma variedade de aprendizes.
(p. 141)
Resumindo, a análise de Skinner acer-
ca do comportamento verbal leva a uma ação Como Skinner era um humanista ex-
prática efetiva? Certamente o ensino da lín- tremamente dedicado e preocupado com o
gua àquelas crianças onde se pensava que bem-estar dos outros, tal ensino bem sucedi-
não fosse possível demonstra que tal teste do teria o agradado imensamente.
passou com louvor. Entre os muitos que têm
executado este esforço educacional, dois se- Atributos de Definição
rão mencionados pela extensão, qualidade, e
impacto dos seus feitos: R. Douglas e Mark As pessoas têm focado na definição
L. Sundberg. O trabalho de Greer e Sundberg de Skinner acerca do comportamento verbal
(e outros) consiste em desenvolver ambientes como um comportamento mediado por ou-
de contingência em que a linguagem amadu- tros. É compreensível. Skinner declara que
rece e se desenvolve. O esforço deles é uma o comportamento verbal requer um trata-
mudança para um processo variacional e um mento separado devido a sua característica
distanciamento da posição essencialista do- de mediação. Tal posição é realista, pois se-
minante da formulação lingüista tradicional. não como poderia o comportamento verbal,
São as contingências que provocam o desen- ou mais amplamente a linguagem, acontecer
volvimento da linguagem e não a pessoa. (A exceto através dos meios do grupo humano?
respeito da análise do processo variacional Mesmo que fosse transmitida apenas geneti-
vez Lewontin [1982], especialmente o capítu- camente, a linguagem humana teria a neces-
lo 9 para um resumo rápido e claro. Para mais sidade de progenitores humanos. Embora a
detalhes e discussão mais aprofundada, veja seleção natural possa operar em um grupo
Mayr [1991]). Qualquer uma das publicações para desenvolver os mecanismos substratos
de Sundberg seria uma boa introdução para o através dos quais a linguagem opera, ne-
seu trabalho de engenharia comportamental, nhum mecanismo de seleção natural poderia
mas um que seria de interesse especial para produzir um repertório de linguagem em um
estudantes e outros interessados em condu- indivíduo na ausência de um grupo que dei-
zir uma pesquisa acerca do comportamento xa em herança as suas crenças acumuladas e
verbal seria o seu artigo sobre tópicos de pes- habilidades devido aos seus encontros com
quisas em potencial, Sundberg (1991). Assim um mundo imediato e passado. Os efeitos
como com Sundberg, qualquer um dos artigos das histórias de vida de indivíduos e grupos
de Greer seria um bom ponto de partida, mas se mostram nas mudanças e práticas da ativi-
dois escritos com colegas dão uma excelente dade lingüística (Veja por exemplo o retrato
visão geral da história e da direção do seu es- de Guy Deutscher [2005] de como a mudan-
forço de engenharia comportamental: Greer e ça de linguagem se representa socialmente.)
Ross (2004) e Greer e Keohane (2006). Neste Uma linguagem - inclusive qualquer codifica-
último artigo citado, eles resumem seus es- ção genética necessária - não é o seu substrato
forços declarando que eles identificaram pro- facilitador. A linguagem é as práticas de um
cedimentos de ensino para, grupo. O repertório de um indivíduo é mol-
(a) induzir a fala e funções comunicativas para dado em relação a estas práticas. Para poder
pessoas com autismo e deficiências de desen- adquirir este repertório, um indivíduo entra
volvimento, (b) substituindo o discurso falho
em contato com o repertório de outros e ele
por comunicação efetiva, (c) ensinar repertó-

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Ernst A. Vargas

é contingencialmente reforçado para as suas significado comportamental. Comida e sali-


formas específicas em relação a eventos que vação são eventos biológicos significantes em
tornam o repertório do indivíduo efetivo. nutrição. A comida é chamada de estímulo
Apesar disso, há mais para definir o incondicional quando correlacionada com sa-
comportamento verbal do que o seu aspecto livação e aquela comida se torna a ocasião em
mediacional. Como declara Skinner (1957), a que a salivação ocorre. A ação da salivação
definição “precisa, como veremos, de refina- é chamada de resposta incondicional quando
mentos” (p. 2) Os “refinamentos” não estão ela se apresenta logo em seguida à apresenta-
evidentes como o atributo da mediação. Eles ção da comida. Cada evento, comida e saliva-
subsistem implicitamente ao longo de toda a ção, obtém significado na sua relação natural
análise. Embora talvez a palavra implícito não com o outro. Uma ação é um operante apenas
capte bem a força dos outros requisitos de quando está em uma relação natural com um
definição. Já estando lá como parte da decla- evento posterior que lhe afeta e quando este
ração inicial de definição, uma característica efeito define o evento como uma função de
necessária é que ele é comunal, ou seja, media- estímulo em especial. Comida, por exemplo,
do através de outras pessoas. Uma caracterís- é um reforçador quando ela se segue a uma
tica tão necessária é parte da análise ao lon- classe de ação e aumenta a sua probabilidade
go da discussão de todas as relações verbais, de ocorrer. Quando em tal situação, a classe
e é expressiva em especial no que concerne de ação se torna um operante. O significado
o público. Outra parte da definição é o seu de ação e evento é dado pela sua relação na-
requisito estipulacional. Assim como as suas tural. Como Skinner diz em O Comportamento
propriedades dinâmicas distintas, o compor- dos Organismos (1938, p. 9), “uma modificação
tamento verbal também tem propriedades em parte das forças que afetam o organismo...
topográficas distintas, formas para as quais o é tradicionalmente chamada de estímulo e a
ouvinte responde e a partir do qual contro- parte correlacionada do comportamento de
les sobre o falante são inferidos. E por toda resposta. Nenhum dos termos pode ser defi-
parte, todas as relações verbais são definidas nido quanto as suas propriedades essenciais
através do trabalho experimental responsável sem o outro.” As funções contingenciais en-
pelos “processos básicos e relações que dão
ao comportamento verbal suas características
especiais...” (Skinner, 1957, p. 3). Eu denoto
este tributo de definição do comportamento
verbal sob o rótulo de relacional, e com ele co-
meço a descrição dos atributos de definição.
Relacional: O requisito relacional do
comportamento verbal advém dos funda-
mentos teóricos compreensivos de Skinner.
Toda a teoria comportamental gira em torno
do fato de que ela analisa as relações contin-
genciais entre ações e outros eventos, come-
çando pela relação posterior do operante.
O significado de cada está na relação em si.
Ações são simplesmente isto, com um tipo
de topografia em especial definidas pelo seu
status físico e biológico. Eventos são simples-
mente isto, com o seu status definido física
ou biologicamente. A relação de contingência
entre a ação e o evento fornece para cada um

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução

tre ações e outros eventos definem controles vra “liberdade” ou a palavra “Deus”, quais
relacionais. A forma de uma ação tira o seu são os controles sob os quais ela é emitida?
significado a partir dos controles relacionais Estes definem o significado do termo. Para
sobre ela, e portanto estes controles fornecem o ouvinte sofisticado que infere os controles
a sua interpretação. corretos do termo (independentemente de si-
nônimos de dicionário), estes controles forne-
Função Contingencial Relacional cem o significado do termo. Eles relacionam
a funcionalidade contingente da expressão (a
As funções de contingência fornecem variável dependente) e as suas variáveis con-
a estrutura de referência através da qual todas troladas (independente). Quando mediado,
as ações, inclusive a verbal, são interpretadas. o controle, e desta maneira o significado de
A interpretação não depende de “intenciona- uma expressão verbal, é moldado socialmen-
lidade” ou qualquer outro estado hipotético te.
de uma ação presumida. A interpretação não Mediacional: O Comportamento Verbal
depende de uma ação que integre as suas ex- começa com a frase, “A humanidade age so-
periências com eventos no ambiente, nem de- bre o mundo, e o modifica, e é mudada por
pende de um falante que providencie os prin- sua vez, pelas conseqüências de suas ações”
cípios e regras para a sintaxe. Em resumo, (p.1). Skinner alude, claro, ao comportamento
ela não depende de um falante como agente, governado pelo seu contato direto com o seu
como uma causa que origine o discurso. O ambiente, tanto dentro quanto fora do corpo.
falante é tanto um agente para as suas ações Ele muda rapidamente para outra classe de
quanto o sol quando os astrônomos dizem ações, ações estas moldadas pelos seus con-
“o sol nasceu”. O termo falante (assim como tatos com ações de outros indivíduos e que,
o termo ouvinte) simplesmente providenciam portanto, entram em contato com o mundo
uma forma abreviada conveniente para o ló- apenas através da interposição de tal contato
cus em que os fatores contingenciais exercem mediado. Tal contato mediado não significa
os seus efeitos. Estes fatores de contingência que a ação mediada formada de tal manei-
podem decorrer de dentro do corpo assim ra, o comportamento verbal, não contata ou
como do ambiente que o circunda. Eles refle- contatará o mundo diretamente. Isto sim-
tem a história ecológica, cultural, e genética plesmente quer dizer que naquele contato ele
das contingências que interagem concomitan- sempre carregará o efeito da sua formação so-
te na situação atual. Estas relações contingen- cial. As reações contrárias de grupos diferen-
ciais, inclusive a interdependência funcional tes a um mesmo evento, ou aos mesmos fatos
da ação e do estímulo, estruturam a interação com que concordam, ilustram isto. Ossos de
dinâmica do episódio verbal. dinossauro para o paleontologista represen-
Ao longo da análise do comportamen- tam reminiscências de um mundo de milhões
to verbal, as variáveis das quais ele é uma de anos atrás, e para os criacionistas estes os-
função fornecem o significado de qualquer sos representam a libertação de uma criatura
expressão verbal. Os processos de reforço, da arca após uma grande enchente não mais
punição, indução, e discriminação exercem antiga do que 4004 a.C. Ambas as classes de
os seus controles nos modos especiais que de- ações - direta e mediada - operam através
finem as expressões verbais de mando, tato, dos mesmos processos dinâmicos de seleção
intraverbal, e autoclítica. Abordando as rela- por conseqüências. A formação do comporta-
ções funcionais entre estes processos e formas mento através de contingências sociais segue
verbais desembaraça os diferentes significa- o mesmo caminho quanto a da formação por
dos de uma expressão idêntica feita em mo- contingências naturais.
mentos diferentes, por locutores diferentes, e Após aludir na página 1 de Comporta-
para grupos diferentes. Se alguém diz a pala- mento Verbal aos fundamentos experimentais

Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn., Belo Horizonte-MG, 2007, Vol. IX, nº 2, 153-174 163
Ernst A. Vargas

da sua interpretação do comportamento ver-


bal, Skinner muda rapidamente para a sua
análise. Já na página seguinte, ele descreve
o comportamento verbal como um compor-
tamento efetivo apenas através de compor-
tamento mediado especificamente moldado
para tal efeito por uma comunidade verbal.
Com este atributo ele enfatiza os controles so-
ciais da linguagem. Devido aos seus controles
sociais, nós podemos classificar estas ações
como governadas pela língua. (Não é um termo
do Skinner, mas meu; ele amplia os termos
que descrevem a sua posição, especialmente
para enfatizar que é uma atividade mediado-
ra.) Ações governadas pela língua entram em
contato com os mesmos ambientes internos
e externos do que as ações governadas por
eventos, mas o fazem por meio das suas ori-
gens sociais.

Governada(o) pela Língua


A atividade governada pela lingual é
uma atividade culturalmente induzida, e en-
tendida apenas se levarmos em conta as suas
origens sociais.
Embora haja uma origem social para
as ações governadas pela língua, elas são for-
madas pelos mesmos processos dinâmicos
que formam as ações governadas por ações.

Governada(o) pela Língua: processos dinâmicos

Estes processos derivaram da análise ex-


perimental de Skinner quanto ao comporta-
mento. Como ele (1957) coloca claramente no
capítulo introdutório, entitulado “Uma Análi- Uma vez que a análise está no nível
se Fundamental do Comportamento Verbal”: unitário do indivíduo, o comportamento me-
“A ênfase é sobre uma organização ordenada diado é aquele do locutor, ou o que poderia
de fatos conhecidos, de acordo com a formu- ser chamado mais geralmente de verbalizador
lação do comportamento derivada a partir de (meu termo já que o comportamento media-
uma análise experimental mais rigorosa” (p. do pode ser falado, escrito, ou gesticulado).
11). Rejeitar a análise do comportamento ver- Também seria possível estender a análise
bal de Skinner seria, de maneira geral, uma para outros comportamentos concomitantes
rejeição da ciência que a sustenta. Tal rejeição também mediados. Isto é, o comportamen-
também evitaria as implicações filosóficas da to concomitante de dois ou mais indivíduos
ciência, especialmente a ausência (o principal sendo formados através de mediação ao mes-
“bicho-papão” dos seus críticos cultos) de mo tempo. Se fosse estendida, então a análise
uma ação de livre arbítrio no indivíduo. seria em outro nível completamente, um que

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução

abordaria as macro contingências envolvidas


sobre as ações de dois ou mais indivíduos
concomitantemente. Como Skinner (1981, p.
501) colocou, “O comportamento verbal au-
mentou imensamente a importância de um
terceiro tipo de seleção por conseqüências, a
evolução dos ambientes sociais ou culturas.
O efeito sobre um grupo, e não as conseqüên-
cias reforçadas para os membros individuais,
é responsável pela evolução de uma cultu-
ra.” Este efeito só pode ser analisado exami-
nando-se as macro contingências que dizem
respeito às ações do grupo, isto é, as ações
conjuntas de dois ou mais indivíduos. (Veja
Ulman [2006] para a sua definição e discussão
de macro contingências.) Os mesmos processos
dinâmicos, contudo, atuam tanto no nível de
unidade do grupo quanto do indivíduo. No
nível das ações singulares do indivíduo em Comportamento Verbal: Uma relação de contin-
que a análise do comportamento verbal pros- gência de quatro termos
segue, há, claro, os meios pelos quais a socie-
dade afeta o indivíduo – a mediação do com- A figura é uma versão reduzida ao es-
portamento. Este papel recebe vários nomes sencial da interação das variáveis envolvidas.
tais como, ouvinte, leitor, ou espectador. O As linhas pontilhas enfatizam as duas clas-
termo mais inclusivo que abrange todos estes ses de ação relevantes e a adição da classe de
papéis variados de mediação (definido tipica- ação que media o contato com um ambiente
mente pela modalidade comunicativa) é o de imediato - portanto os quatro termos bási-
mediador (meu termo). cos. Cada um destes arranjos de contingência
O que esclarece mais profundamente envolvem uma série de aspectos interativos,
a conexão mediacional é vê-la em termos da assim como variáveis adicionais que fazem a
interação dinâmica das variáveis envolvidas e sua parte tal qual a variável da audiência. A
não em relação às localidades nomeadas onde ilustração esquemática, contudo, facilita a vi-
estas variáveis atuam. A organização contin- sualização clara da relação de quatro termos
gencial do comportamento verbal é construí- do comportamento verbal devido a um ter-
da a partir da organização de contingência de mo mediador formado por uma comunidade
dois termos, o operante. A característica críti- verbal.
ca é o controle de estímulo posterior de uma O comportamento de quem está sendo
classe de ações precedentes. Se um evento mediado define o verbalizador (ou falante ou
anterior precede esta relação de dois termos escritor ou gesticulador). Quem está fazendo
e a evoca, então ocorre uma relação de contin- a mediação define o mediador (ou ouvinte ou
gência de três termos. Os dois conjuntos de re- leitor ou espectador). A medida que os pro-
lações descrevem encontros comuns e diretos cessos de “ser formado” e “formar” mudam
com eventos internos e externos. Se uma ação entre os loci individuais, estes processos de-
ensinada socialmente media tais encontros, finem os seus papéis. Quem é definido como
então ocorre uma relação de contingência de verbalizador ou mediador se aplica ao lócus
quatro termos que descreve o comportamen- destes processos que mudam rapidamente.
to verbal. A figura seguinte ilustra a relação Para o verbalizador (“locutor” e.g.) e media-
de quatro termos do comportamento verbal. dor (“ouvinte” e.g.) ações diferentes são con-

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Ernst A. Vargas

troladas por uma confluência diferente de va- O problema aqui é similar ao da controvérsia
riáveis. Para o mediador, por exemplo, ações acerca do “QI”. Embora um substrato biológi-
mediadas não estão em questão; apenas as co claramente sustenta o comportamento “in-
ações que ele media. Dar uma maçã é diferen- teligente”, o trabalho de Flynn (2007) mostra
te de pedi-la. Nenhuma maneira especifica de como níveis “médios” testados do “quociente
passá-la é formada por uma comunidade ver- de inteligência” mudam através das gerações
bal. A pessoa que dá a maçã o faz com ações à medida que as exigências de repertório mu-
formadas por seleção natural – alcançando, dam culturalmente. Mas não há necessaria-
pegando, e assim por diante. Claro que uma mente uma contradição entre os efeitos de
comunidade pode também moldar estas for- seleção dos dois tipos de comunidade. Como
mas. (Após uma conversa, a pessoa pode sair Grant (1986) observou na sua análise dos ten-
do recinto da maneira que quiser. Na presen- tilhões, “a canção é um traço transmitido cul-
ça da Rainha, ele só pode andar de costas com turalmente, aprendido geralmente a partir do
os olhos discretamente baixos. Mas então vol- pai em um tipo de processo de impressão” (p.
tamos para a distinção inicial entre verbaliza- xvi). Obviamente, uma comunidade genética
ção e mediação, entre formas de ação molda- assim como uma comunidade cultural estão
das culturalmente e não culturalmente.) Não envolvidas na transmissão do que pode ser
apenas o requisito estipulado da ação difere, amplamente chamado de comportamento co-
mas também os controles sobre as diferentes municativo. Para início de conversa, um subs-
ações. Em um mando por uma maçã, o ver- trato comunicativo necessário deve ser forne-
balizador está provavelmente com fome mas cido ao organismo em sua anatomia e fisiolo-
o mediador pode não estar. Ao ensinar um gia. Este substrato é tipicamente herdado da
tato, o mediador tipicamente conhece o nome comunidade genética, embora nos humanos
do objeto ensinado e o verbalizador não. Tal a comunidade cultural pode compensar par-
diferença nos controles muda o significado tes defeituosas ou ausentes com aparelhos
das ações envolvidas no episódio verbal. (O protéticos tal como aparelhos auditivos. E,
aspecto cambiante destes papéis é descrito como na fabricação de robôs, a comunidade
através de diagramas que Skinner fornece em cultural pode construir o substrato necessário
Comportamento Verbal.) Apesar de não ser o para a comunicação. O grau em que as for-
seu único atributo de definição, o aspecto me- mas comportamentais abstratas de comuni-
diacional do comportamento de linguagem cação são herdadas é onde os especialistas em
é o que o separa de outros comportamentos linguagem diferem (e.g. as relações de sinta-
que entram em contato com o mundo. Tal xe). Não há discordância, contudo, quanto a
contato mediacional evolui através de uma necessidade de uma comunidade verbal em
comunidade verbal. particular para uma língua específica e as suas
Comunal. Do começo ao fim do livro expressões aprovadas. Nas comunidades ver-
Comportamento Verbal, a questão da comuni- bais do inglês ou português, um verbalizador
dade verbal constitui uma parte inerente da fala inglês ou português para a compensação
análise do comportamento verbal. Um apên- mediadora dos outros membros daquelas co-
dice final em Comportamento Verbal intitulado munidades em questão. Quer seja influencia-
“A Comunidade Verbal” até se ocupa de ques- do por fatores genéticos ou culturais, não há
tões sutis tal como o surgimento da lingua- como negar que um atributo de definição do
gem em animais e humanos. Um componente comportamento verbal é que ele é comunal.
genético é reconhecido. Implicado na análise O comportamento verbal é comunal porque é
de Skinner é que o que importa é o grau de mediado por outros, os “outros” claro sendo
transmissão biológica de formas específicas de membros de uma cultura e portanto daquela
expressão moldadas e mantidas inicialmente faceta vital conhecida como comunidade ver-
através de seleção natural e depois cultural. bal.

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução

vante para a análise da propriedade distinta


do comportamento em questão. O padrão de
comportamento que decorre a partir de um
plano de reforço, tal como um índice-variá-
vel, pode ser manipulado (como o fazem bem
os cassinos de jogos e os laboratórios de ani-
mais) sem abordar o substrato neurológico
do organismo, quer sejam pombos ou pes-
soas. A ênfase em um conjunto específico de
variáveis não indica, ou necessita, a exclusão
conceitual das outras.
Comportamento comunicativo – como
comportamento mediado e portanto como
um subconjunto do comportamento comu-
nal – embarca as contribuições originais tanto
das comunidades culturais quanto das ge-
néticas. Onde algo se origina, contudo, pode
descrever mas não explica. Saber como um
ovo é produzido requer mais do que saber
que uma galinha o produziu. A explicação
reside nos processos dinâmicos responsáveis
por um dado resultado. A comunidade gené-
tica exerce o seu efeito através dos processos
As ações de uma comunidade verbal dinâmicos primários e secundários da seleção
fornecem parte das condições contingentes natural, seleção sexual, isolamento geográfi-
complexas que se relacionam com eventos co, desvio genético, e outros. A comunidade
verbais. Estas condições contingentes já esta-
vam colocadas e refletem as fontes – genéti-
cas, culturais, individuais, situacionais – das
relações funcionais que desenrolam as variá-
veis que fazem parte da ocorrência de qual-
quer ação verbal dada. A figura seguinte (veja
figura 8) representa estas fontes de forma in-
cisiva.

Fontes de Relações Funcionais

No que diz respeito a qualquer pro-


priedade comportamental, todas estas fontes
empregam contingências controladoras que
montam a estrutura de referência da sua in-
terpretação. Qualquer situação presente (o
que inclui a sua história) mostra o efeito de
qualquer variável que tenha importância.
Não abordar uma variável em particular em
relação a uma dada ação não indica a sua in-
significância. Simplesmente indica que den-
tro de um dado tipo de exame aquela variá-
vel em particular não era imediatamente rele-

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Ernst A. Vargas

cultural produz seu efeito através dos pro- mente genético, o termo sinal o designa. Nós
cessos dinâmicos primários e secundários de então alcançamos o que Skinner implica: que
reforço, indução, efeitos do plano, e outros. ambas as comunidades genéticas e culturais
Estes processos dinâmicos explicam como as desenvolvem, transmitem, e sustentam a re-
comunidades genéticas e culturais moldam e lação entre o comportamento comunicacional
mantém o comportamento comunicativo, in- e mediacional, assim como estipula as formas
clusive o verbal. Efeitos da comunidade parti- apropriadas verbais e de sinais da ação.
cipam de toda transação comportamental do Estipulacional: No apêndice de Com-
tipo verbal, até mesmo dentro do indivíduo portamento Verbal (1957), Skinner sustenta
único. A compreensão de símbolo e signo, que, “em geral, o comportamento operante
analogia e metáfora, gramática e recorrência, surge de movimentos não diferenciados, an-
ocorrem apenas quando amarrados por um teriormente desorganizados, e sem direção”
contexto de comunidade. (p. 464). Uma vez que o comportamento ver-
bal seja um sub-conjunto de todo o compor-
Fontes de Relações Funcionais: Comunidades Ge- tamento operante, formas verbais específicas
néticas e Culturais também surgem de tal ambigüidade de ação.
Uma comunidade verbal desenvolve as for-
A Figura 9 ilustra a relevância de to- mas específicas de ação verbal que contro-
das as contingências controladoras, mas a im- lam a ação efetiva do mediador. Estas formas
portância maior das fontes culturais e genéti- verbais se tornam o estímulo discriminatório
cas no comportamento comunicativo. para o qual o mediador responde. Já que es-
Embora Skinner (1981) reconhecer a tas formas verbais controlam as ações do me-
importância de outras fontes de seleção por diador, elas definem o significado destas ações
conseqüências, na análise do comportamento (ou de maneira mais sutil, a relação entre as
verbal ele enfatiza aquele aspecto da comu- duas designa o significado). Em relação às
nidade cultural que ele chama de verbal. Mas expressões do locutor, estas ações do me-
a sua teoria se aplica a um campo de análise diador são efetivas apenas a medida que elas
maior. Não é apenas a espécie humana que se endossam o controle funcional sob o qual o
comunica mas muitas outras. Primatas como verbalizador emitiu o seu comportamento.
o bonobo, o chimpanzé comum, e o gorila se Como apontado anteriormente, o significado
comunicam. Outros mamíferos como os gol- do comportamento verbal do falantereside
finhos e baleias se comunicam. Os pássaros se naqueles controles funcionais. Quanto mais
comunicam. As formigas e abelhas também aproximadamente a forma verbal refletir es-
o fazem. Para englobar outros organismos, o tes controles sobre o verbalizador e quanto
sistema de referência por necessidade deve mais aproximadamente a ação do mediador
ser mais amplo. Para que, por exemplo, ele se encaixar no requisito implícito ou explicito
englobe ao mesmo tempo que distingue entre da forma verbal para as conseqüências apro-
o desenvolvimento do comportamento ver- priadas, quanto mais efetiva será a ação de
bal pela seleção natural e aquela por seleção ambas as partes. Vamos dizer, por exemplo,
cultural. Para ambos os tipos de seleção, o que um marido está na sala de jantar à mesa
termo mais amplo comunicação abrange o re- de jantar. A sua esposa está na cozinha. Em-
sultado final de um membro de uma espécie bora em recintos separados, eles conseguem
que contata o seu ambiente imediato através se ouvir claramente. Ele diz para ela, “Sabe
de ações de outro membro. (A etimologia da aquele molho para o curry que nós dois gos-
palavra comunicar revela um belo aspecto tamos muito? Não esqueça de trazê-lo.” Ela
dela - compartilhar.) Quando o contato contro- responde, “Molho?” O que você quer dizer?”
lado é principalmente cultural, o termo verbal Ele então tenta esclarecer, “Você sabe. Ele tem
o designa, e quando o controle é principal- um cheiro especial, tipo gengibre. Ah, lem-

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução

brei, o chutney.” Ela entende, “O chutney. É


claro.” A especificidade da forma verbal que Ao longo da análise do comportamen-
reflete os controles sobre o comportamento to verbal, repetidamente Skinner traz a tona a
verbal do marido agora assegura que a ação questão da forma. Alguns exemplos tirados
da esposa será efetiva. A comunidade verbal folheando aleatoriamente as páginas da sua
desenvolve formas verbais estipuladas para análise em Comportamento Verbal (1957) deve
uma ação efetiva e prática. bastar:
Desde o príncipio da sua análise acer-
ca do comportamento verbal, Skinner enfatiza “Em uma… comunidade verbal, apenas certas
formas de resposta são efetivas” (p. 173).
a necessidade destas formas. Ele as apresenta
Em uma dada comunidade verbal, contudo,
como parte da sua definição inicial do com- certas propriedades formais podem estar tão
portamento verbal: “Comportamento que é intimamente associadas como tipos específicos
efetivo apenas através da mediação de outros de variáveis que estas podem muitas vezes se-
indivíduos tem... propriedades dinâmicas rem inferidas com segurança” (p. 36)
“Quando todas as características do objeto des-
e topográficas distintas” (1957, p. 2). Como crito tiverem sido levadas em conta e quando a
abordado anteriormente no item Relacional audiência é especificada, a forma da resposta é
acima, as propriedades dinâmicas consistem determinada!” (p. 175).
de vários controles sobre o comportamento “A frequência relativa com que o ouvinte se
empenha em uma ação efetiva ao responder a
verbal que ditam os seus tipos - mando, tato,
um comportamento na forma do tato depen-
intraverbal, autoclítico, e seus sub-tipos. Mas derá da extensão e precisão do controle do es-
como pode ser notado na sua citação anterior tímulo no comportamento do locutor” (p. 88).
ele também menciona as propriedades topográ- “Fábula, mito, alegoria –resumindo, a literatu-
ficas distintas, e as definições e descrições dos ra em geral–cria os seus próprios vocabulários
através da ligação das formas verbais com des-
vários tipos verbais incluem a forma. crições de eventos ou ocasiões em particular a
O mando: “Um mando é caracterizado pela
partir dos quais eles podem então serem meta-
relação única entre a forma [itálico adicionado
foricamente extendidos” (p. 99).
por mim] da resposta e o reforço caracteristica-
“Contingências Determinando a Forma” (Ca-
mente recebido em uma comunidade verbal”
beçalho no Capítulo 8, páginas 209-212 que
(p. 36).
discutem principalmente como as formas ver-
O Tato: “O tato pode ser definido como um
bais mudam).
operante verbal em que uma resposta de uma
“[A] forma acaba sendo determinada pela co-
dada forma [itálico adicionado por mim] é evo-
munidade –isto é, ela se torna convencional”
cada ou ao menos fortalecida por um objeto ou
(p. 468)
evento em particular ou a propriedade de um
“[Os] bem estabelecidos processos de mudan-
objeto ou evento” (p. 82)
ça lingüística explicarão a multiplicação de
O intraverbal: Estes são “respostas sob o con-
formas verbais e a criação de novas relações
trole de estímulo verbal audível ou escrito
controladoras” (p. 469).
fornecido por outra pessoa ou pelo próprio
“Observamos que o falantepossui um repertó-
locutor. Uma distinção maior pode ser feita
rio verbal no sentido de que respostas de vá-
em termos da semelhança entre formas [itálico
rias formas aparecem em seu comportamento
adicionado por mim] de estímulos e resposta”
de tempos em tempos em relação a condições
(p. 55).
identificáveis” (p. 21).
O autoclítico: “Não é suficiente apontar a pre-
sença de formas [itálico adicionado por mim]
autoclíticas em uma língua” (p. 335). Como ele colocou quando falou em
 Para esta categoria, Skinner usa a sentença “Comportamento manter o comportamento do mediador, “Mas
verbal sob o controle de estímulos verbais”. Tal categoria nome nós temos que explicar não apenas as relações
– frase é difícil. Eu coloquei um novo rotulo nesta categoria entre padrões de resposta e reforços...” (p. 36).
de “intraverbal”, e os três primeiros subtipos de operações
controladoras de “código”, “duplicata”, e “seqüência”. Para O padrão de uma resposta é a sua forma.
maiores detalhes veja Vargas (1986). Mais tarde (Anotações, Foi sustentado anteriormente que a
1980, pagina 361) Skinner define “intraverbal” como “compor-
tamento verbal sob controle de outro comportamento verbal”;
mesma forma pode expressar um significado
exatamente o posicionamento adotado na minha alteração da diferente a partir do verbalizador, dependen-
categoria.

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do dos controles sobre aquela forma de discur- resumo das relações envolvidas.) Em qual-
so. Então ao se comunicar com o verbalizador, quer um dos casos, diretamente ou por infe-
uma forma idêntica pode manter significados rência, o mediador lida com as contingências
diferentes para o mediador. Se o significado controladoras em torno da forma verbal do
para o mediador difere com a mesma forma, locutor, e embora a forma possa ser idêntica
como o controle discriminativo apropriado ou parecida a outra, o controle discriminativo
é exercido sobre o mediador? A resposta é a adicional clarifica e providencia o significado
usual do contexto – ou melhor colocado, uma apropriado. Além disso, o verbalizador pode
resposta de sistema de referência. Definir um auxiliar o mediador a ter uma resposta efeti-
sistema de referência significa entrar em con- va. Esta é a razão do autoclítico. Um conjunto
tato com as contingências funcionalmente re- de formas verbais modifica o efeito de outro,
levantes para uma ação, verbal e não-verbal. e o reforço é inerente para tornar o compor-
Uma forma verbal em particular na ausência tamento do mediador mais eficiente. No au-
de um controle de contingência maior pode toclítico descritivo, Skinner (1957) fornece o
não ser suficiente para uma ação efetiva por seguinte exemplo, “Se o falante está lendo um
parte do mediador. Um controle discrimina- jornal e comenta ‘Estou vendo que vai chover.’
tório adicional acontece se o mediador entra O Estou vendo informa ao ouvinte que que vai
em contato com as variáveis responsáveis chover é emitido como uma resposta textual”
pela forma verbal do locutor. Na presença (p. 315). Em todos os tipos de autoclítico, o
de uma lareira ou do corpo de bombeiros o verbalizador tenta “informar” ao mediador
ouvinte se comporta apropriadamente (“sabe os controles sob os quais a forma verbal é
o que o falante quis dizer”) quando o falante emitida. A contingência de reforço que man-
diz, fogo. Muitas vezes, porém, o ouvinte tem tém e promove formas autoclíticas adicionais
que inferir as contingências controladoras em se segue a partir da maior efetividade do me-
torno da forma verbal, mesmo na presença do diador em responder ao verbalizador. (Repa-
locutor. Uma história em particular com um re nas sutilezas do subjuntivo.)
verbalizador fornece este controle discrimi- Nas linguagens de todas as comuni-
natório. Uma criança que era freqüentemente dades, formas verbais adicionais são dadas
carregada para subir as escadas quando pe- para aguçar o controle de estímulo em torno
diu para ser carregada disse “Carrega você?” das respostas do mediador. Esta é a função da
ao pai. O pai respondeu corretamente porque
perguntou freqüentemente à criança “Você
quer que eu carregue você?” antes de pegar
a criança para subir as escadas. A forma pode
não ser a gramaticalmente correta “Me carre-
ga!”, mas os controles estão claros. A criança
claramente aprendeu a forma “Carrega você?”
para ser apanhada, e então a emitiu como um
mando. Pistas faciais, entonação vocal, todo
o conjunto da chamada linguagem corporal
do verbalizador fornece um estímulo condi-
cional adicional. A criança também esticou
os braços para ser apanhada. “O principio
se-então relevante na mudança de significa-
do de uma luz verde, por exemplo, em uma
experiência de laboratório sob controle de es-
tímulo condicional se torna pertinente aqui.
Veja o artigo de Sidman [1986] para um bom

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O Comportamento Verbal de B. F. Skinner: uma introdução

gramática; em termos tradicionais é dito que sentido. (Como um sistema metafórico, em-
ela está lá para providenciar clareza e facili- bora os personagens principais falem inglês,
dade de entendimento. A forma gramatical é o filme inteiro é passado no Japão.) Os requi-
especialmente importante na escrita onde o sitos de uma comunidade verbal com o seu
leitor muitas vezes não observa, muito menos conjunto de formas convencionalizadas (Termo
contata, as contingências em torno das formas do Skinner) compartilhadas entre seus mem-
verbais do escritor. Na conversa, o mediador bros estabelecem a série de formas verbais es-
obtém pistas de expressões faciais, vocais, e tipuladas designadas como uma língua.
corporais assim como de eventos imediatos. No episódio verbal, a forma é uma
Os requisitos por uma forma verbal apropria- parte necessária do controle em torno do
da não são portanto tão rigorosos. comportamento do mediador. Ela não define
Os fundamentos da relação entre os o operante verbal. O operante verbal é de-
padrões verbais estipulados da ação podem finido pelos controles dinâmicos em torno
ser dados pela figura seguinte: do verbalizador envolvido na inter-relação
energética entre eventos estímulo e formas
Forma e o Episódio Verbal estipuladas. A forma estipulada se torna
um estímulo discriminatório para a ação do
Formas ou padrões de resposta consti- mediador. Um sistema de classificação que
tuem uma parte de toda troca verbal, e ao lon- lidasse apenas com o comportamento do me-
go de sua análise Skinner se preocupa, como diador seria baseado na relação entre aquele
ele coloca, em “ter que explicar... as relações estímulo discriminatório anterior e o compor-
entre padrões de resposta e reforços” (p. 36). tamento mediacional subseqüente. Portanto,
As várias categorias de relações verbais – o seria diferente do sistema de classificação das
autoclítico, o tato, e assim por diante – exem- relações verbais do locutor. Na verdade, seria
plificam estas explicações. Nestas relações, é a classificação de formas não verbais de com-
tão importante entender o papel de formas portamento.
estipuladas pela comunidade verbal quanto Um sistema de classificação baseado
é entender as suas propriedades dinâmicas. simplesmente em formas estipuladas seria
Formas estipuladas operam para controlar o mais elaborado. Seria uma descrição taxo-
comportamento mediacional na medida em nômica do comportamento topográfico do
que ele interage com o comportamento ver- verbalizador sem nenhuma ligação com os
bal que emprega estas formas. A comunidade controles funcionais (evocativo e conseqüen-
verbal desenvolve as formas de comporta- te) em torno daquele comportamento. Como
mento verbal sob os controles apropriados. tal o sistema teria que encontrar um signifi-
Ela estipula estas formas para um efeito práti- cado nas relações entre as unidades topográficas
co e eficiente das ações do mediador. O título (como definidas) das expressões. Sem trazer
do filme (traduzido no Brasil como Encontros
e Desencontros) Perdido na Tradução capta bem  Como uma extensão ao posicionamento de Skinner, a relação
entre forma estipulada e controles dinâmicos é um assunto e
os problemas que ocorrem quando padrões tanto em debate, se primatas além dos seres humanos possuem
de ação, culturais, e mais especificamente, linguagem - práticas de uma dada comunidade verbal. O debate tem
verbais, são mal-entendidos. Os personagens se concentrado muito na estrutura e na forma e seu significado
implícito, através de intenção e relação sintática do discurso
no filme não sabiam bem o que os outros ou conjunto de discursos examinados. Não têm sido exami-
queriam dizer com o seu discurso e conduta nados: as interações dinâmicas entre controles funcionais e o
modo das formas estipuladas, a ambigüidade dos controles
- em termos comuns o que eles queriam ou nas interações entre membros de duas espécies diferentes (e
intencionavam – e achavam difícil ter uma as implicações para comunidades verbais comuns) como ver-
ação efetiva em relação a si mesmos ou à ou- balizadores e mediadores. Assim como os níveis sucessivos
de estágio com os seus controles diversos, nos quais formas
tra pessoa. Eles precisavam de formas verbais verbais idênticas podem ser emitidas de modo que em um nível
compartilhadas que carregassem o mesmo (primário versus secundário) possa haver comportamento verbal, não
no outro...

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uma análise funcional para explicar estas re- uma condição de reforço que uma linguagem
lações, metapropriedades dessas formas esti- está sendo agora ensinada. Se uma ação está
puladas teriam que ser impostas, princípios em um controle relacional em relação a outra
e regras pelos quais elas são manipuladas e ação, somente isto não a torna verbal. Ações
então por necessidade uma manipuladora reforçadas (ou tendo conseqüência de qual-
destas regras. Talvez este esforço alternativo quer outra maneira) por seres humanos não
seja a razão de tantas pessoas procurarem o as tornam verbais. Reforçadores são dados
fantasma na gramática. para uma série de ações, humanas ou sub-
humanas. Recompensas não convertem estas
Conclusão atividades em uma linguagem ou em muitas
linguagens discretas. Um doce pode ser dado
Todos os atributos de definição devem em seguida a uma pirraça. Isto não faz da pir-
fazer parte do significado de comportamento raça um “mando”. Comida pode ser dada a
verbal, senão conclusões curiosas são o resul- um bebê de um ano que bate em uma mesa.
tado. Se a forma de uma ação é estipulada, so- Isto não torna a bateção um “mando”. Uma
mente isto não a faz ser verbal. O requisito de ação é um “mando” somente quando está em
uma forma apropriada para tornar uma ação uma forma estipulada assim como sob o con-
em particular efetiva, uma boa tacada de gol- trole apropriado e quando uma comunidade
fe por exemplo, não a torna verbal. Formas verbal moldou especificamente um media-
estipuladas que tenham sentido para uma dor para trazer esta forma para tal controle.
cultura são simplesmente sons e visões para Deve-se manter uma distinção entre os efei-
outra. O significado não está inerente nas ca- tos dos processos dinâmicos aplicáveis a todo
racterísticas estruturais de uma ação. Se uma comportamento, e aqueles efeitos relevantes
ação é mediada, somente isto não a torna verbal. apenas através de uma cultura para o sub-
Muitas ações são mediadas - tal como bicadas conjunto do comportamento que é lingüísti-
em um disco e pressão de alavancas e abdo- co. Conhecer estes processos, como Skinner
minais e tacadas de golfe. Mediar um bocado (1957) colocou, “não significa que o trabalho
de comida pela pressão de uma alavanca ou da análise lingüística possa ser evitado” (p.
elogiar por um abdominal não torna a pres- 44).
são da alavanca ou o abdominal verbal. Se o O comportamento verbal consiste em
único atributo de definição do comportamen- formas necessárias sob controles específicos
to verbal é que ele é mediacional, então toda mediados através de uma ação especifica-
troca mediada entre quaisquer dois animais, mente desenvolvida por uma comunidade
muito menos entre um humano e qualquer verbal. Em relação a este tipo de comporta-
outro animal, seria comportamento verbal. mento, ainda é difícil clarear nossa confusão
Uma troca mediacional então conotaria uma e acalmar nossa incerteza. Skinner abriu um
comunidade de linguagem, mesmo que só caminho através do supranumerário emara-
de dois. Mas pessoas se interpõe entre as nhado de atividade conhecido como lingua-
ações de um animal e as suas conseqüências gem. Nós temos milhas a percorrer antes de
para controlar e moldar milhões de ações em domarmos a vastidão da nossa perplexidade.
muitas espécies, desde formigas até zebras. Mas pelo menos estamos progredindo em
É um absurdo afirmar que porque tal com- uma direção prometedora.
portamento é agora mediado em relação a

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Recebido em: 12/11/2007


Primeira decisão editorial em: 21/11/2007
Versão final em: 26/11/2007
Aceito para publicação em: 22/04/2008

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