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Aula 5 – Reforço

Gabriela Esteves Lopes1


Mariliz Vasconcellos2
Pedro Bordini Faleiros3
Vera Lúcia Varanda Lombard-Platet4

As alterações produzidas pelo responder de um organismo são


denominadas consequências, chamamos de consequências quaisquer eventos produzidos pelas
respostas de um organismo. As consequências produzidas pelo responder podem alterar o
próprio responder e quando alteram o responder podem fortalecer ou enfraquecer a resposta que
as produziu. Quando estas alterações, produzidas pela resposta de um sujeito, retroagem,
fortalecendo estas respostas (aumentando sua probabilidade de voltar a ocorrer) são chamadas
de reforçador (ou estímulo reforçador) (Sério, Micheletto, Andery, Micheletto, Benvenuti, &
Gioia, 2009).

Reforço Positivo

Inicialmente, devemos lembrar a definição de reforçador positivo, que é “evento que,


quando apresentado imediatamente após um comportamento, resulta no aumento da frequência

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Mestre em Psicologia pela Universidade Federal de São Carlos
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Doutora em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos
3
Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo
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Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo
desse comportamento”. Reforço positivo, grosso modo, tem sido usado como sinônimo de
recompensa. Aliado ao conceito de reforçador positivo, o princípio chamado reforço positivo
estabelece que, se alguém em uma dada situação faz algo que é seguido imediatamente por um
reforçador positivo, então essa pessoa é mais propensa a fazer a mesma coisa na próxima vez
que estiver em uma situação semelhante.

Os comportamentos operantes que são seguidos de reforçadores positivos


são intensificados, enquanto os comportamentos operantes seguidos de punidores
são minimizados.

Reforço Positivo e Reforço Negativo

Quando falamos em reforçadores positivos, pensamos em eventos que intensificam uma


resposta ao serem introduzidos ou adicionados em seguida à resposta. Porém, a remoção de um
evento após uma resposta também pode aumentá-la, porém aqui não é possível falar em reforço
positivo. Reforço negativo (também conhecido como condicionamento de fuga) é definido pela
remoção de certos estímulos imediatamente após a ocorrência de uma resposta aumentará a
probabilidade desta resposta.
Existe similaridade e diferença entre reforço positivo e negativo:
Similaridade: reforço positivo e reforço negativo INTENSIFICAM as respostas
Diferença: reforço positivo INTENSIFICA uma resposta em consequência
da APRESENTAÇÃO de um estímulo positivo, enquanto o reforço negativo INTENSIFICA
uma resposta em consequência da REMOÇÃO OU AFASTAMENTO de um
estímulo negativo ou aversivo. É fundamental, ainda, não confundir reforço negativo com
punição. O reforço negativo INTENSIFICA o comportamento, enquanto a punição
MINIMIZA o comportamento.

Fatores que influenciam a efetividade do reforço positivo

Alguns fatores influenciam significativamente a efetividade do reforço positivo. Dentre


eles, podemos citar a seleção do comportamento a ser reforçado. Pode parecer algo simples,
muitas vezes até banal, porém, sem uma seleção cuidadosa, podemos reforçar categorias, e não
comportamentos que compõe a mesma. Se você quer reforçar a categoria de comportamentos
de ser sociável, deve inicialmente começar a reforçar comportamentos específicos, como sorrir,
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contato visual com interlocutor e linguagem corporal apropriada. Conseguindo especificar o
comportamento a ser reforçado, conseguimos: ajudar a garantir a confiabilidade da detecção
das situações do comportamento e alterações em sua frequência e, ainda, aumentamos a
probabilidade de o programa de reforço ser aplicado constantemente.

Alguns estímulos são considerados reforçadores para quase todo mundo. Porém, isso
não é uma regra, e a escolha dos reforçadores é essencial para o sucesso do reforço. A maioria
dos reforçadores positivos é agrupada em um dos seguintes grupos: alimentar, atividade,
manipulável, posse e social. Se o indivíduo que terá o comportamento reforçado sabe ler, uma
alternativa é o questionário ou menu de reforçadores,

Ainda em relação a escolha dos reforçadores, devemos nos atentar ao Princípio de


Premack: se a oportunidade de se envolver em um comportamento de alta probabilidade
de ocorrência for condicionada a um comportamento de baixa probabilidade, então este
último terá propensão de ocorrer. Para ilustrar, vamos observar o seguinte exemplo: os pais
de Helena notam que ela passa uma grande parte do tempo no celular, e que nunca se dispõe a
lavar a louça das refeições. Se os pais de Helena passarem a controlar seu celular e
especificarem que “a cada louça lavada das refeições, Helena irá ganhar 2 horas de acesso ao
celular”, provavelmente o comportamento de lavar louça de Helena aumentaria (por ser pareado
com um comportamento de alta probabilidade, como uso de celular).

Reforçadores intrínsecos e extrínsecos

Para falar de reforçadores intrínsecos e extrínsecos, podemos usar um


fragmento extraído de Catania (1999, p. 98):
Os reforçadores também têm sido distinguidos com base em sua relação com as
respostas. Um reforçador intrínseco (também chamado de reforçador automático) é o
que tem uma relação natural com as respostas que o produzem (por exemplo, quando
um músico toca pela música que produz). Um reforçador extrínseco (também chamado
de reforçador arbitrário) tem uma relação arbitrária com as respostas que o produzem
(por exemplo, quando um músico toca por dinheiro). O termo extrínseco também tem
sido aplicado a estímulos que supostamente funcionam como reforçadores, porque sua
função foi ensinada (por exemplo quando se ensina a uma criança que é importante tirar
boas notas na escola). A despeito de seu rótulo, tais estímulos frequentemente são
ineficazes como reforçadores.

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Um outro exemplo que podemos observar para diferenciar reforçador intrínseco
e extrínseco é: o conhecimento é um reforçador intrínseco para o comportamento de estudar,
enquanto o elogio do professor é um reforçador extrínseco.

Reforçador contingente e reforçador não contingente

Dizemos que um reforçador é contingente quando um comportamento específico deve


ocorrer antes da apresentação do reforçador. Dizemos que um reforçador é não contingente se
for apresentado em um determinado momento, independentemente do comportamento
precedente (Martin & Pear, 2018, p. 117).

Em um programa de reforço, para maximizar sua efetividade é necessário que os


reforçadores sejam apresentados sempre de forma contingente aos
comportamentos específicos que desejamos melhorar. A apresentação de um reforço não
contingente pode não só não intensificar um comportamento desejado, como também
intensificar um comportamento indesejado. Tal situação pode ser ilustrada no seguinte
exemplo: “Pedro estava sentado na sala de aula, utilizando o celular sem que a professora visse.
Perto da hora da saída, a professora diz: Vamos formar a fila para sair da sala! Pedro, você vai
ser o primeiro porque se manteve sentado e sem conversar durante toda a aula!”. Essa situação
pode aumentar a chance de Pedro utilizar seu celular durante as aulas. Ou seja, o
comportamento que é acidentalmente seguido por um reforçador pode ser intensificado mesmo
que o comportamento não tenha produzido o reforçador. Isto é chamado de reforço acidental,
e o comportamento intensificado desse modo recebe o nome de comportamento supersticioso
(Skinner, 1972).

Ciladas do reforço positivo

Dentre os problemas que o reforço positivo pode causar quando utilizado de forma
incorreta, podemos citar a aplicação acidental. O exemplo acima, do menino Pedro, mostra
claramente o reforço positivo sendo aplicado de forma a reforçar um comportamento
indesejado (no caso, o uso do celular em sala de aula). A atenção é também um reforçador
positivo que, quando utilizado diante de comportamentos indesejados, como birra, pode
aumentar a frequência do mesmo.

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A aplicação que ocorre sem conhecimento de toda cadeia de comportamentos ou de
forma falha, na qual o profissional ou até mesmo o pai/mãe não compreende todas as etapas do
processo pode ser prejudicial.

Por fim, a explicação imprecisa do comportamento a ser reforçado também pode causar
problemas. Explicações simplificadas para uma mudança de comportamento deixam margem
para interpretações incorretas. Ao tentar explicar o fortalecimento de um comportamento por
reforço positivo, devemos sempre procurar uma consequência imediata desse comportamento.
A tentativa de “explicação” de comportamento por meio da atribuição de rótulos também é
comum e incorreta. Essa explicação pode ser vista com o exemplo de Antônio, que tem 14 anos,
não arruma seu quarto, não auxilia os pais nas tarefas domésticas e passa muito tempo em redes
sociais. Os pais justificam tais comportamentos dizendo que fazem parte da adolescência.

Reforçadores condicionados e incondicionados

Ao longo do nosso processo de seleção natural, herdamos a capacidade de sermos


reforçados por alguns estímulos sem nenhum aprendizado anterior. Esses estímulos ou eventos
possuem um grande valor para a sobrevivência da nossa espécie e para nosso funcionamento
biológico. Chamamos de reforçadores incondicionados/ reforçadores primários/
reforçadores não aprendidos os estímulos que promovem reforço na ausência de
condicionamento ou aprendizado prévio. Dentre esses reforçadores, podemos citar a água para
um atleta ou a comida para uma pessoa que passou um longo período sem se alimentar.

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Referências

Catania, A. C. (1999). Aprendizagem: Linguagem, comportamento e cognição. Porto Alegre:


Artmed.

Martin, G., & Pear, J. (2018). Modificação de Comportamento: o que é e como fazer. São
Paulo: Rocca.

Sério, T. M., Micheletto, N., Andery, M. A., Micheletto, N., Benvenuti, M., & Gioia, P. S.
(2009). comportamento e causalidade. Laboratório de psicologia experimental programa
de estudos pós-graduados em psicologia experimental: Análise do Comportamento. São
Paulo/PUC.

Skinner, B. F. (1972). “Superstition” in the pigeon. Em: B. F. Skinner Cumulative Record (3rd
ed.) (pp. 524-528). New York: AppletonCentury-Crofts. Publicado originalmente em 1948.

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