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DE SANTA CATARINA
KAKO ARANSEGUI
Trabalho de pesquisa e exploração realizado por Waldomiro Aransegui Filho
(Kako Aransegui), em parceria com o pessoal do grupo WAF Trilhas e Aventuras.
Todas as fotografias constantes neste trabalho foram capturadas pelo autor ou
membros da equipe e não por profissionais especializados. Não existe caráter
técnico ou científico nesta obra — embora sua elaboração tenha exigido muito
trabalho e dedicação. Ela visa apenas estimular o amor pela natureza, levando ao
conhecimento das pessoas apaixonadas por aventura uma opção diferenciada
nas trilhas da Ilha da Magia. Talvez possua alguma utilidade para pessoas inte-
ressadas em desenvolver o turismo de aventura.
PREFÁCIO....................................................................................................................7
AGRADECIMENTOS..................................................................................................9
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................11
O QUE É CAVERNA?................................................................................................17
OS MISTÉRIOS, OS MEGÁLITOS
E AS CAVERNAS DA REGIÃO NORTE..................................................................45
CAVERNAS DO CENTRO/NORTE -
REGIÃO SACO GRANDE / MORRO DA VIRGÍNIA.............................................68
PREFÁCIO
Finalizo dizendo que, mesmo que alguns não percebam a importância do tra-
balho apresentado pelo Kako Aransegui nesta obra, tenho certeza de que ele tem
muita relevância para a pesquisa espeleológica e mesmo paleográfica da ilha, já
que Kako também visitou os sítios de inscrições rupestres em suas andanças.
Aproveitem a viagem através das fotografias e dos relatos desse aventureiro
gaúcho em terras manezinhas.
Paulo Stekel
(Escritor, jornalista, youtuber, pesquisador de Mente, Consciência, paleolinguista
de formação livre e especialista em decifração de escritas antigas e estudante
das inscrições rupestres de Florianópolis e SC – youtube.com/paulostekel)
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AGRADECIMENTOS
Dedico esta singela escritura aos meus amigos aventureiros, aqueles que
fazem parte do grupo “WAF Trilhas e Aventuras”. Especialmente, Soraia Araújo,
Marino Casagrande, Fabrício Boff, Gerlândia Trajano, Claudia Cristina Souza,
Ismael Silveira, Marcia Eufrásio, Vera Rocha, aventureiros féis ao meu propó-
sito, companheiros que se revezaram na busca de cavernas pelos confins da
ilha de Santa Catarina. De certa forma, esse grupo tem sido minha família nos
últimos anos.
Tenho tanto para agradecer que o espaço dedicado à gratidão quase se tor-
na um livro em si. Não posso deixar de registrar neste pequeno espaço algumas
pessoas que foram importantes demais para a realização desta obra: o antro-
pólogo Adnir Ramos, fundador do IMMA, pesquisador dedicado a desvendar
mistérios ocultos nas antigas ciências, esparramados por esta maravilhosa Ilha
da Magia. Por meio dele, tomei conhecimento da Arqueoastronomia, sendo ele
grande incentivador das minhas ideias e do projeto desta obra. Agradeço ao
Rodrigo Dalmolin dos Santos e ao Hélio Carvalho Filho, espeleólogos dedicados
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Por fim, mas não menos importante, agradeço ao casal Ângela e Esperidião
Amin, ilustres representantes do Congresso Nacional, pelo interesse e colabora-
ção para que esta obra pudesse ser impressa.
Kako Aransegui
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APRESENTAÇÃO
Por tudo que aqui foi descrito, sinto imensa alegria; e até certo orgulho, por
ter propiciado às pessoas acesso a esses locais e, de alguma forma, ter expan-
dido conhecimento e conscientização sobre o meio ambiente. Nada é perfeito
e nada é simples! O ser humano é complicado; sempre há riscos envolvidos,
acidentes, depredação, desentendimentos, inveja. É preciso continuar evoluin-
do e educando até que exista harmonia de pensamentos. Sem querer bancar o
politicamente correto: acredito piamente que o ser humano só se conscienti-
zará do cuidado que deve ter com o planeta a partir do conhecimento prático
que adquire sobre o assunto. Não serão as imposições governamentais, nem
multas ou prisões que modificarão o predador humano. Na medida em que o
conhecimento aumentar, a consciência ecológica tomará corpo.
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O QUE É CAVERNA?
Toca – Toda e qualquer caverna, com exceção daquelas formadas por abra-
são marinha, que possuir, no mínimo cinco e no máximo 20 metros de pro-
longamento linear, prevalentemente horizontal.
Furna – Cavidade formada por abrasão marinha, localizada nos costões, in-
dependentemente da altura, largura ou comprimento. Também é considera-
da como “furna” a cavidade rochosa que se formou por erosão causada pela
água de um córrego ou lava.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
CASA CIVIL
SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS
DECRETO Nº 6.640, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2008.
Dá nova redação aos arts. 1o, 2o, 3o, 4o e 5o e acrescenta os arts. 5-A e 5-B
ao Decreto no 99.556, de 1o de outubro de 19, que dispõe sobre a proteção
das cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional.
DECRETA:
Art. 1o Os arts. 1o, 2o, 3o, 4o e 5o do Decreto no 99.556, de 1o de outubro de
1990, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2o A cavidade natural subterrânea será classificada de acordo com seu
grau de relevância em máximo, alto, médio ou baixo, determinado pela análise
de atributos ecológicos, biológicos, geológicos, hidrológicos, paleontológicos,
cênicos, histórico-culturais e socioeconômicos, avaliados sob enfoque regional
e local.
§ 2o Para efeito deste Decreto, entende-se por enfoque local a unidade espacial
que engloba a cavidade e sua área de influência e, por enfoque regional, a unidade
espacial que engloba no mínimo um grupo ou formação geológica e suas relações
com o ambiente no qual se insere.
“Art. 3o A cavidade natural subterrânea com grau de relevância máximo e sua
área de influência não podem ser objeto de impactos negativos irreversíveis, sendo
que sua utilização deve fazer-se somente dentro de condições que assegurem sua
integridade física e a manutenção do seu equilíbrio ecológico.” (NR)
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“Art. 4o A cavidade natural subterrânea classificada com grau de relevância alto,
médio ou baixo poderá ser objeto de impactos negativos irreversíveis, mediante
licenciamento ambiental.
Art. 2o Fica acrescido os arts. 5-A e 5-B ao Decreto no 99.556, de 1990, com a
seguinte redação:
Para facilitar a localização, dividi a ilha em quatro partes: Norte, Saco Grande,
Centro e Sul. Isso não significa que haja uma coincidência com a divisão geográ-
fica oficial do município. A ilha de Santa Catarina possui largura relativamente
pequena (Leste/Oeste) em relação ao comprimento (Norte/Sul). Essa divisão
leva em consideração apenas o posicionamento das cavernas; valorizando o eixo
Sul/Norte. Assim sendo, foram consideradas cavernas do norte da ilha, todas as
que estão localizadas ao norte do paralelo 27° 30’ 00”. As cavernas consideradas
como “Saco Grande” (ou Centro/Norte) ficam entre os paralelos 27° 30’ 01” e
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27° 33’ 00”. As cavernas da região Central se localizam entre os paralelos 27° 33’
01” e 27° 39’ 00”. A partir do paralelo 27° 39’ 01” até o extremo sul da Ilha, ponta
dos Naufragados, considera-se região Sul.
Disponibilizo aqui uma tabela contendo todas as cavernas até então regis-
tradas e as plotagens no Google Earth, a fim de facilitar a localização. Constam
nela o número de registro no CNC, o nome popular, as coordenadas geográficas
e o tipo. As primeiras linhas da lista, em marrom, referem-se às cavernas não
cadastradas com as quais me deparei, utilizei as iniciais NC para identificá-las;
nas demais, constam os códigos utilizados pelo CNC (Cadastro Nacional de
Cavernas), mantido pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). As linhas
em vermelho-vivo se referem às cavernas onde há coincidência nas coordenadas
geográficas. Utilizei o destaque para que eu possa averiguar a eventual possi-
bilidade de haver dois registros de uma mesma caverna, corrigir a precisão das
coordenadas ou, ainda, modificar informações, caso se descubra alguma interli-
gação entre elas. Todas as informações aqui disponibilizadas estão sob a ótica
da aventura, nada além.
7 SC-21 Gruta do Peri B Lat 27° 45’ 00.0” S : Lng 48° 32’ 22.0” W S 27.75000 - W 048.53944
8 SC-22 Furna do Lui A Lat 27° 45’ 16.0” S : Lng 48° 29’ 58.0” W S 27.75444 - W 048.49944
9 SC-23 Complexo Muro de Pedras B Lat 27° 44’ 47.0” S : Lng 48° 31’ 21.0” W S 27.74639 - W 048.52250
Gruta da trilha do
10 SC-24 A Lat 27° 48’ 8.0” S : Lng 48° 32’ 15.0” W S 27.80222 - W 048.53750
Saquinho I
Gruta da trilha do
11 SC-25 A Lat 27° 48’ 7.0” S : Lng 48° 32’ 15.0” W S 27.80194 - W 048.53750
Saquinho II
12 SC-26 Complexo Pedras Grandes B Lat 27° 32’ 19.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53861 - W 048.49889
13 SC-27 Feiticeiras (Bruxa) B Lat 27° 25’ 02.0” S : Lng 48° 24’ 23.0” W S 27.41722 - W 048.40639
14 SC-28 Pinturas B Lat 27° 35’ 54.0” S : Lng 48° 25’ 58.0” W S 27.59833 - W 048.43278
15 SC-29 Caieira da Barra Sul Lat 27° 47’ 53.0” S : Lng 48° 33’ 28.0” W S 27.79806 - W 048.55778
16 SC-30 Pântano do Sul I A Lat 27° 47’ 40.6” S : Lng 48° 29’ 56.1” W S 27.79472 - W 048.49889
17 SC-31 Toca da Baleia A Lat 27° 46’ 06.1” S : Lng 48° 28’ 37.5” W S 27.76833 - W 048.47694
18 SC-32 Pântano do Sul II A Lat 27° 47’ 37.8” S : Lng 48° 29’ 57.7” W S 27.79361 - W 048.49917
19 SC-33 Andorinhas A Lat 27° 47’ 40.6” S : Lng 48° 29’ 48.4” W S 27.79444 - W 048.49667
20 SC-34 Urubu A Lat 27° 47’ 41.1” S : Lng 48° 29’ 53.2” W S 27.79472 - W 048.49805
21 SC-35 Arco A Lat 27° 47’ 32.9” S : Lng 48° 30’ 17.3” W S 27.79250 - W 048.50472
22 SC-36 Ponta do Marisco A Lat 27° 47’ 33.7” S : Lng 48° 30’ 16.1” W S 27.51178 - W 048.42096
23 SC-37 Fenda A Lat 27° 47’ 25.8” S : Lng 48° 29’ 25.4” W S 27.79056 - W 048.49028
24 SC-38 Flores A Lat 27° 47’ 33.8” S : Lng 48° 30’ 16.5” W S 27.79250 - W 048.50472
25 SC-39 Poço A Lat 27° 47’ 38.8” S : Lng 48° 29’ 38.0” W S 27.79417 - W 048.49389
26 SC-40 Ponta do Fuzil A Lat 27° 47’ 27.9” S : Lng 48° 29’ 29.1” W S 27.79111 - W 048.49139
27 SC-41 Furna do Santinho A Lat 27° 26’ 39.7” S : Lng 48° 21’ 39.0” W S 27.44444 - W 048.36083
28 SC-42 Pedra Preta A Lat 27° 47’ 39.0” S : Lng 48° 29’ 45.5” W S 27.79417 - W 048.49583
29 SC-43 Morcegos A Lat 27° 47’ 18.7” S : Lng 48° 30’ 27.7” W S 27.78861 - W 048.50778
30 SC-44 Nega A Lat 27° 47’ 22” S : Lng 48° 30’ 27” W S 27.78944 - W 048.50750
31 SC-45 Grota do Riacho I B Lat 27° 32’ 28.0” S : Lng 48° 29’ 33.0” W S 27.54111 - W 048.49250
32 SC-46 Grota do Riacho II B Lat 27° 32’ 29.0” S : Lng 48° 29’ 35.0” W S 27.54139 - W 048.49305
33 SC-47 Pastinho A Lat 27° 49’ 57.0” S : Lng 48° 33’ 01.0” W S 27.83250 - W 048.55028
34 SC-48 Trilha do Saquinho III A Lat 27° 48’ 32.8” S : Lng 48° 32’ 11.9” W S 27.80917 - W 048.53667
35 SC-49 Ponta do Quebra-Remo A Lat 27° 45’ 22.9” S : Lng 48° 29’ 14.9” W S 27.75611 - W 048.48722
36 SC-50 Lagoinha do Leste B Lat 27° 46’ 11.2” S : Lng 48° 28’ 44.7” W S 27.76972 - W 048.47917
37 SC-51 Encantada C Lat 27° 26’ 49.0” S : Lng 48° 21’ 39.9” W S 27.44694 - W 048.36111
38 SC-53 Medo A Lat 27° 47’ 40.8” S : Lng 48° 29’ 50.3” W S 27.79472 - W 048.49722
39 SC-54 Rapa B Lat 27° 23’ 01.0” S : Lng 48° 24’ 59.0” W S 27.38361 - W 048.41639
40 SC-55 Larvas B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 41.0” W S 27.53917 - W 048.49472
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41 SC-59 Felicidade A Lat 27° 47’ 08.1” S : Lng 48° 29’ 06.5” W S 27.78556 - W 048.48528
42 SC-61 Sistema Monte Verde B Lat 27° 33’ 43.0” S : Lng 48° 29’ 06.0” W S 27.56194 - W 048.48500
43 SC-62 Rio Valdik B Lat 27° 33’ 41.0” S : Lng 48° 29’ 09.0” W S 27.56139 - W 048.48583
44 SC-63 Matadeiro A Lat 27° 45’ 11.8” S : Lng 48° 30’ 02.0” W S 27.75333 -W 048.50056
45 SC-64 Preta A Lat 27° 45’ 26.5” S : Lng 48° 29’ 14.5” W S 27.75750 - W 048.48750
46 SC-65 Ingleses A Lat 27° 26’ 10.9” S : Lng 48° 21’ 46.0” W S 27.43639 - W 048.36278
47 SC-66 Ponta do Frade A Lat 27° 50’ 17.0” S : Lng 48° 33’ 33.0” W S 27.83806 - W 048.55917
48 SC-67 Cabras A Lat 27° 26’ 51.0” S : Lng 48° 21’ 41.0” W S 27.44750 - W 048.36139
49 SC-68 Oiteiro B Lat 27° 38’ 23.0” S : Lng 48° 28’ 47.0” W S 27.63972 - W 048.47972
50 SC-69 Central Park B Lat 27° 32’ 39.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.54417 - W 048.49417
51 SC-75 Gravatá A Lat 27° 45’ 45.1” S : Lng 48° 28’ 48.5” W S 27.76250 - W 048.48000
52 SC-76 Jararaca B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 49.0” W S 27.53528 - W 048.49694
53 SC-77 Caminho da Gurita Lat 27° 44’ 56.0” S : Lng 48° 31’ 49.0” W S 27.74889 - W 048.53028
54 SC-78 Lajão B Lat 27° 32’ 02.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53389 - W 048.49889
55 SC-79 Ponta do Bota-Fora B Lat 27° 23’ 14.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.38722 - W 048.41417
Sistema Riacho
56 SC-80 B Lat 27° 31’ 52.0” S : Lng 48° 30’ 33.0” W S 27.53111 - W 048.50917
Subterrâneo
57 SC-81 Gruta do Inferno A Lat 27° 48’ 28.9” S : Lng 48° 32’ 10.2” W S 27.80806 - W 048.53611
58 SC-82 Água Escorrida B Lat 27° 45’ 57.9” S : Lng 48° 28’ 39.5” W S 27.81611 - W 048.47778
59 SC-85 Casa de Pedra B Lat 27° 32’ 14.5” S : Lng 48° 29’ 44.3” W S 27.53722 - W 048.49556
60 SC-86 Ramais B Lat 27° 32’ 11.0” S : Lng 48° 29’ 44.0” W S 27.53639 - W 048.49556
61 SC-87 Escondida B Lat 27° 32’ 13.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.53694 - W 048.49528
62 SC-88 Morro da Pedra Listra B Lat 27° 32’ 18.0” S : Lng 48° 29’ 08.0” W S 27.53833 - W 048.48556
63 SC-91 Murmúrio B Lat 27° 32’ 11.0” S : Lng 48° 29’ 28.0” W S 27.53778 - W 048.49649
64 SC-92 Borbulhos B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 23.0” W S 27.53528 - W 048.48972
65 SC-93 Maciço da Costeira B Lat 27° 38’ 16.0” S : Lgn 48° 29’ 35.0” W S 27.63778 - W 048.49305
66 SC-94 Figueira B Lat 27° 38’ 14.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.63722 - W 048.49361
67 SC-95 Palmitos B Lat 27° 38’ 14.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.63722 - W 048.49361
68 SC-96 Morro da Represa B Lat 27° 38’ 13.0” S : Lgn 48° 29’ 35.0” W S 27.63694 - W 048.49305
69 SC-99 Rio do Mel B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53278 - W 048.49889
70 SC-101 Rio Tavares B Lat 27° 38’ 03.0” S : Lng 48° 29’ 27.0” W S 27.63417 - W 048.49083
71 SC-102 Bromélias B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.53528 - W 048.49361
72 SC-103 Paredão B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 39.0’ W S 27.53528 - W 048.49417
73 SC-104 Gruta da Raiz B lat 27° 31’ 49.0” S : lng 48° 29’ 33.6” W S 27.53028 - W 48.49267
74 SC-105 Gruta Casa Velha B lat 27° 31’ 48.0” S : Lnt 48° 29’ 34.0” W S 27.53000 - W 048.49278
75 SC-106 Espinheiro B lat 27° 31’ 59.0” S : Lng 48° 29’ 51.0” W S 27.53305 - W 048.49750
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109 SC-140 Morro do Rapa 3 B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
110 SC-141 Morro do Rapa 4 B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
111 SC-142 Morro do Rapa 5 B Lat 27° 23’ 31.0” S : Lng 48° 24’ 48.0” W S 27.39194 - W 048.41333
112 SC-143 Morro do Rapa 6 B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38833 - W 048.41222
113 SC-144 Cima Costão da Brava B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38833 - W 048.41250
114 SC-145 Baixo Costão da Brava B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38833 - W 048.41222
115 SC-146 Morro da Virgínia 5 B Lat 27° 32’ 02.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53389 - W 048.49889
116 SC-147 Taquaral B Lat 27° 23’ 29.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.39139 - W 048.41417
117 SC-148 Raízes da Figueira B Lat 27° 31’ 45.0” S : Lng 48° 29’ 47.0” W S 27.52917 - W 048.49639
118 SC-149 Represa B Lat 27° 31’ 46.0” S : Lng 48° 29’ 49.0” W S 27.52944 - W 048.49694
119 SC-150 Trilha Subterrânea B Lat 27° 31’ 50.0” S : Lng 48° 29’ 51.0” W S 27.53056 - W 048.49750
120 SC-151 Ocos B Lat 27° 31’ 44.0” S : Lng 48° 30’ 29.0” W S 27.52889 - W 048.50806
121 SC-152 Duas Pedras B Lat 27° 23’ 30.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.39167 - W 048.41417
122 SC-153 Gargalo B Lat 27° 23’ 20.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.38859 - W 048.41278
123 SC-154 Cima B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 47.0” W S 27.38917 - W 048.41306
124 SC-155 Costão da Brava B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
125 SC-156 Pescadores B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
126 SC-157 Emaranhado B Lat 27° 31’ 49.0” S : Lng 48° 30’ 27.0” W S 27.53028 - W 048.50750
127 SC-158 Platô B Lat 27° 31’ 24.0” S : Lng 48° 30’ 15.0” W S 27.52333 - W 048.50417
128 SC-159 Canhada B Lat 27° 31’ 01.0” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.51694 - W 048.49805
129 SC-160 Areião B Lat 27° 31’ 31.0” S : Lng 48° 30’ 20.0” W S 27.52528 - W 048.50555
130 SC-161 Chuá B Lat 27° 23’ 31.0” S : Lng 48° 24’ 48.0” W S 27.39194 - W 048.41333
131 SC-162 Trilha do Lajeado B Lat 27° 23’ 26.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.39056 - W 048.41250
132 SC-163 Boa Vista B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
133 SC-164 Teto Baixo B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
134 SC-165 Trevos B Lat 27° 23’ 15.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38750 - W 048.41222
135 SC-166 Arvoreta B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
136 SC-167 Refúgio B Lat 27° 32’ 06.0” S : Lng 48° 29’ 55.0” W S 27.53500 - W 048.49861
137 SC-168 Desassossego B Lat 27° 23’ 29.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.39139 - W 048.41278
138 SC-169 Passagens B Lat 27° 23’ 27.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.39083 - W 048.41278
139 SC-170 Morro do Rapa 7 B Lat 27° 23’ 28.0” S : Lng 48° 24’ 47.0” W S 27.39111 - W 048.41306
140 SC-171 Morro do Rapa 8 B Lat 27° 23’ 15.0” S : Lng 48° 24’ 43.0” W S 27.38750 - W 048.41495
141 SC-172 Morro do Rapa 9 B Lat 27° 23’ 10.0” S : Lng 48° 24’ 42.0” W S 27.38611 - W 048.41167
142 SC-173 Morro do Rapa 10 B Lat 27° 23’ 17.0” S : Lng 48° 24’ 56.0” W S 27.38806 - W 04841556
143 SC-174 Gruta dos Ovos B Lat 27° 24’ 49.0” S : Lng 48° 24’ 14.0” W S 27.41361 - W 048.40389
31
144 SC-175 Gruta das Gaivotas B Lat 27° 24’ 49.0” S : Lng 48° 24’ 13.0” W S 27.41361 - W 048.40361
145 SC-176 Morro das Feiticeiras 2 B Lat 27° 24’ 34.0” S : Lng 48° 24’ 12.0” W S 27.40944 - W 048.40333
146 SC-177 Morro das Feiticeiras 1 B Lat 27° 24’ 26.0” S : Lng 48° 24’ 18.0” W S 27.40722 - W 048.40500
147 SC-178 Gruta Comprida B Lat 27° 23’ 19.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.38861 - W 048.41278
148 SC-179 Morro do Rapa 11 B Lat 27° 23’ 18.9” S : Lng 48° 24’ 45.9” W S 27.38858 - W 048.41275
149 SC-180 Cogumelos B Lat 27° 31’ 30.0” S : Lng 48° 30’ 19.0” W S 27.52500 - W 048.50528
150 SC-181 Nascente B Lat 27° 32’ 31.0” S : Lng 48° 28’ 34.0” W S 27.54194 - W 048.47611
151 SC-182 Morro da Virgínia 6 B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 45.0” W S 27.53278 - W 048.49583
152 SC-183 Rio Ratones B Lat 27° 32’ 33.0” S : Lng 48° 28’ 37.0” W S 27.54250 - W 048.47694
153 SC-184 Pedreira B Lat 27° 32’ 03.0” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.53417 - W 048.49805
154 SC-185 Cedro B Lat 27° 31’ 57.0” S : Lng 48° 29’ 41.0” W S 27.53250 - W 048.49472
155 SC-186 Jacatirão B Lat 27° 32’ 49.0” S : Lng 48° 29’ 20.0” W S 27.54694 - W 048.48889
156 SC-187 Muquém B Lat 27° 30’ 55.0” S : Lng 48° 29’ 18.0” W S 27.51528 - W 048.48833
157 SC-188 Remanso B Lat 27° 31’ 35.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.52639 - W 048.49361
158 SC-189 Anuros B Lat 27° 32’ 37.0” S : Lng 48° 29’ 31.0” W S 27.54361 - W 048.49194
159 SC-190 Ticum B Lat 27° 32’ 42.0” S : Lng 48° 29’ 29.0” W S 27.54500 - W 048.49139
160 SC-191 Rabeira B Lat 27° 32’ 32.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.54222 - W 048.49417
161 SC-192 Gruta do Passadiço B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53917 - W 048.49445
162 SC-193 Ribeiro B Lat 27° 32’ 19.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53861 - W 048.49445
163 SC-194 Valeiro B Lat 27° 32’ 16.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.53778 - W 048.49417
164 SC-195 Jardim B Lat 27° 32’ 10.0” S : Lng 48° 29’ 16.0” W S 27.53611 - W 048.48778
165 SC-196 Descenso B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53917 - W 048.49445
166 SC-197 Morro da Virgínia 7 B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 39,0” W S 27.53917 - W 048.49417
167 SC-198 Charco B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 38.0” W S 27.53917 - W 048.49389
168 SC-199 Cachopas B Lat 27° 32’ 41,0” S : Lng 48° 29’ 28,0” W S 27.54472 - W 048.49111
Tipos de cavernas
A Furnas de abrasão marinha Referências bibliográficas
B Formadas por blocos Tomazzoli, et al. Espeleologia na ilha de Santa Catarina
Observação: a letra “E” foi acrescentada por mim para classificar as cavernas de blocos que compõem um sistema. Isso foi feito para evitar que
algumas cavernas fossem cadastradas como se fossem isoladas. A letra “F” foi acrescentada para identificar cavernas cuja entrada fica submersa.
32
Figura 13 – Região Central da ilha (inclui Monte Verde, Morro da Queimada, Costa da Lagoa e Rio Tavares)
41
As figuras aqui apresentadas são plotagens das coordenadas no Google Earth. A finalidade dessas plotagens é dar uma
noção da localização de cada caverna, esclarecendo assim alguma dúvida do leitor mais atento. Alguns locais possuem
grande concentração de cavernas, dificultando a visualização; neste caso, recomendo que o leitor faça a própria plota-
gem, utilizando a planilha do Excel constante neste trabalho.
45
OS MISTÉRIOS, OS MEGÁLITOS
E AS CAVERNAS DA REGIÃO NORTE
Trilhar pela Ilha da Magia é muito mais que aventura. É encantamento! Difícil
acreditar que tão próximo de um centro urbano possa existir natureza tão exu-
berante e selvagem. Desde que comecei a percorrer os caminhos encantados
da ilha, não parei de acrescentar, ao meu estilo de vida, surpresas e admiração.
Torna-se difícil falar sobre minhas próprias experiências, pois as palavras se tor-
nam insuficientes para expressar tudo o que a alma sente!
água e do vento, num trabalho lento e contínuo, impossível de ser observado pela
visão humana, pois leva milhares ou milhões de anos, modificando-se sempre, sem
jamais ser concluído. Outro tipo de caverna é formado por blocos de granito, na
maioria das vezes gigantescos, que as mesmas forças titânicas empilharam, talvez
durante éons. Aí o mistério se manifesta! Enquanto a visão clareia, a mente se con-
funde... Por mais questionamentos e intrigas causadas ao espírito, a razão sempre
busca explicar os fenômenos através de forças inteligentes. São tantos alinhamen-
tos, tantas formas esculturais, tanta precisão que, em certos momentos, torna-se
difícil acreditar em simples coincidências. Não são poucas as formações interes-
santes encontradas por aqui. Existem alguns alinhamentos complexos, com pontos
específicos localizados em outros morros, da ilha ou do continente, e até mesmo
com algumas estrelas. O Morro dos Ingleses foi o primeiro a ser explorado por mim
logo que cheguei a Florianópolis. A elevação ficava muito perto da minha casa.
Já nas primeiras trilhas, começaram as descobertas. Talvez as mais significativas
sejam os sítios arqueológicos, lugares que apresentam antigos sinais da presença
humana em toda parte. Desde a pré-história. No sul da praia dos Ingleses, logo
de cara, é possível encontrar marcas deixadas por antigos povos. Ali existe uma
interessante oficina lítica, do tempo da Pedra Polida. Vários indícios que o local foi
muito utilizado para fabricar e polir ferramentas e ornamentos. As marcas estão
por toda a parte. O Morro dos Ingleses também conta um pouco da história mais
recente da ilha. A mata Atlântica original foi praticamente devastada a partir do
século XVIII, devido ao plantio da cana-de-açúcar. A oficina lítica que citei fica no
flanco oeste do morro, onde uma linda enseada, sempre bordada por pequenas
embarcações coloridas, ancoradas naquela calmaria, dá um especial destaque para
a praia dos Ingleses. A partir desse ponto, podemos seguir várias trilhas, tanto no
sentido sul, pelas dunas, rumo à praia do Santinho, ou pelo costão, rumo à pon-
ta norte do morro. Contudo, existem opções que cruzam pelo pico do morro. A
Ponta do Barcelos é o ponto extremo oriental, do morro e da ilha. Logo depois de
atravessar o deque, sempre movimentado, paralela ao costão existe a trilha que
foi batizada de “Caminho do Engenho”. É uma espécie de leque com muitas bifur-
cações expandindo as opções para explorar a região. Se continuarmos pela trilha
citada, além do local onde ficava o tal engenho, com certa dificuldade, chegaremos
à ponta Norte, onde começaremos a nos deparar com as estruturas mais incríveis
que a mente pode imaginar. Ao se aventurar por ali, é preciso estar sempre aten-
48
to, pois a cada momento podemos encontrar coisas bonitas. No caminho pode-
mos ver, por exemplo, as marcas deixadas por tropas de mulas que ao longo dos
anos transportaram no lombo pesadas cargas. Marcaram o solo, deixando cicatri-
zes profundas, perpetuamente gravadas na geografia do morro. Ao chegarmos à
ponta norte é quando realmente começam os desafios. Os íngremes e recortados
costões guardam incríveis surpresas em cada palmo de terreno. Recentemente,
localizamos ali uma caverna, dica de um mergulhador e pescador. Na história con-
tada pelo homem, os piratas esconderam tesouros ou pelo menos teriam ocultado
algum segredo nos vãos daquelas pedras. Não creio nessa história porque é uma
caverna muito pequena e de difícil acesso, estreita demais e fustigada constante-
mente pelo mar nas duas aberturas que possui no nível d’água. Dá a impressão de
que a caverna se formou pela fratura de um gigantesco bloco de granito, gerando
uma fenda profunda. Tentei acessá-la por uma espécie de chaminé, chegando até
uma plataforma formada por uma pedra que entalou mais ou menos na metade da
parede, a uns cinco metros de profundidade, a partir do topo do bloco de granito.
Utilizando rapel, fui até ali, e foi o máximo que consegui, pois a força das ondas
comprimia violentamente a água naquele vão de pedras, fazendo subir o nível de
forma explosiva, como se fosse um gêiser. Talvez a caverna não possua nenhum
interesse histórico ou científico, mas, para aventura, foi um prato cheio.
Bem em frente à Caverna dos Piratas (talvez Fenda dos Piratas seja uma des-
crição mais razoável), encontra-se a Pedra do Gambá. Localizada em um plano alto
e inclinado, o terreno oferece um pouco de dificuldade para chegar a ela. É um lindo
monumento megalítico. Nesse lugar, confrontando aquela formação, começa uma
viagem mental. Quando nos aprofundamos na pesquisa, surge a constatação de al-
gumas curiosidades. Há certa precisão de alinhamento, por exemplo, entre a posição
do Sol, no amanhecer do solstício de verão; a Pedra do Gambá; a Pedra do Equilíbrio,
localizada no Morro das Feiticeiras, e a Pedra do Amendoim, em Governador Celso
Ramos. São muitos questionamentos que vêm à mente. Existem sítios arqueológi-
cos com muitas inscrições rupestres, localizados na Ilha do Arvoredo, no Morro dos
Ingleses e em Governador Celso Ramos. Segundo o professor Admir Ramos, que
estuda os enigmas das inscrições rupestres e dos megálitos desde os anos 80, é pos-
sível que haja alguma relação desses pontos com a Arqueoastronomia, ciência a qual
ele tem se dedicado intensamente a estudar, mas que ainda tem pouca divulgação
49
no Brasil. Difícil acreditar que o equilíbrio dos blocos em um plano tão inclinado seja
apenas obra do acaso.
depois, afunila-se de tal forma que no fundo não dá para permanecer em pé. É
uma formação exuberante, granitos amarelados (outros cinzentos) de um lado e
basalto negro de outro. Um rio de lava separou o granito. É de se sentir pequeno
ante a visão daquelas monumentais paredes que se erguem quase em linha reta.
Para sair da furna, ascendemos pelas cordas que haviam sido utilizadas para o
rapel. Um rapel bem complicado, aliás, por conta das arestas afiadíssimas exis-
tentes na parede de basalto. Cortavam como o fio de um bisturi! Aquelas pare-
des não oferecem muita segurança, para o rapel ou escalada. Foi uma empolgan-
te aventura explorar essa caverna, muitas surpresas agradáveis. Descobrimos
que ela não está sozinha. No lado esquerdo, existe outra furna, maior e de mais
difícil acesso, que batizamos de “Furna do Santinho 2”, e do lado direito existe
uma fenda estreita que possivelmente seja uma terceira furna; entretanto, não
foi possível explorar ainda, devido às condições desfavoráveis do mar.
Foto 34 – Portal
63
CAVERNAS DO CENTRO/NORTE –
REGIÃO SACO GRANDE/ MORRO DA VIRGÍNIA
Foto 46 – Interior
70
Essa caverna reserva muitas surpresas ainda, além de ser a mais extensa que
exploramos. Visitamos 15 salões; um deles, que consideramos o principal, por
conta do tamanho e dos efeitos de iluminação, apresenta características muito
peculiares. Nós nos arrastamos por passagens muito estreitas, pois a caverna
possui várias claraboias, túneis, condutos de água e passagens suficientes para
que uma pessoa se perca em seu interior. Jamais deverá ser visitada sozinho;
caso a exploração seja feita por uma dupla, convém que permaneçam juntos.
Em uma das visitas que fizemos, Marino e eu nos separamos em um determina-
do salão e não conseguimos mais nos encontrar. Saímos da caverna em locais
distintos, uns 600 metros de distância um do outro. Além disso, algumas saídas
levam a lugares muito árduos e difíceis de progredir, entre pedras, emaranhados
de cipós e espinhos. Um dos salões que visitamos, bem amplo por sinal, possuía
uma claraboia que, apesar de alta, propiciava um incrível efeito de luz. Também é
possível encontrar no interior da caverna imensas raízes que penetram vertical-
mente da superfície para o fundo da caverna, esgueirando-se por entre pedras,
atingindo 15 metros ou mais de comprimento e razoável diâmetro. São espetá-
culos à parte! Também é possível observar córregos de água cristalina e muitos
opiliões. Ela é objeto de estudos mais avançados pelos espeleólogos.
Muitas cavernas dessa região são dignas de respeito, de rara beleza, não pela
caverna em si, mas pelo entorno. Explorando atentamente a região, encontramos
vários complexos de formações contendo tocas, grutas e abrigos que talvez se in-
terliguem por condutos estreitos. Esses complexos salientam-se, em grande parte,
pelo tamanho gigantesco dos blocos de granito, que formam vários recantos, como
se fossem cenários de cinema. Algumas dessas formações possuem túneis profun-
dos e estreitos, difíceis de explorar. Os olhos parecem não conseguir captar todas as
nuances, pela imponência, o espírito se encanta com tanta beleza! Algumas dessas
cavidades parecem templos perdidos, como nas aventuras de Indiana Jones — ape-
sar de os locais serem muito próximos da civilização. São tantas formações em uma
área relativamente pequena, que torna-se quase impossível explorar tudo o que por
lá existe; pelo menos em um curto espaço de tempo. Além disso, é uma região com
grande potencial para novas descobertas. Sem dúvida alguma, teremos muito tra-
balho para desbravar totalmente o lugar. As cavernas por ali existentes, na grande
maioria, exigiriam mais do que uma simples visita de reconhecimento. Em algumas,
retornamos várias vezes e, a cada nova visita, houve também nova descoberta.
O Morro da Virgínia e seu entorno talvez seja um dos lugares que mais guar-
da mistérios. Incríveis formações rochosas, vegetação exuberante, muitas caver-
nas, caminhos antigos e muitas histórias. Foi no Morro da Virgínia que encontrei
conjuntos magnânimos de formações rochosas, lugares perigosos e difíceis de
explorar e muitas emoções. Mas é surpreendente observar a região que bati-
zamos por “Complexo das Pedras Grandes”. Ali podemos encontrar as grutas
Pedras Grandes, Bromélias, Casa de Pedra, Buracos, Ramais, Escondida, Paredão
e Saco Grande. Muitas outras existem ao longo do morro, mas a região dessas
cavernas é algo impressionante. Blocos gigantescos de granito, poços profundos
72
É uma região bem complexa, com morros para todos os lados e muitos tal-
vegues. Não é à toa que ali se encontra a maior concentração de cavernas de
toda a ilha. E muitas trilhas também, inclusive para a costa da lagoa. Tivemos a
oportunidade de conhecer alguns desses caminhos antigos e ficamos encanta-
dos com o que vimos.
Foto 71 – Seios de Pacha Mama Foto 72 – Toca da Nega vista por dentro
Não muito distante da “Toca da Nega”, seguindo pelo costão no rumo leste,
encontramos mais três cavernas pequenas, a “SC-35 – Arco”, “SC-38 – Flores”
86
e a “SC-36 – Ponta do Marisco”. Entre elas, dou destaque especial para a “SC-
35”, uma pequena caverna que se une, através de uma passagem em forma de
arco, com a SC-38. O destaque, nesse caso, não é a suntuosidade, nem os espe-
leotemas: é o som! O chão dessa furna é um tapete feito com cascalhos de várias
cores e tonalidades, prevalecendo o negro basáltico. As ondas do mar penetram
constantemente o interior da caverna; às vezes com violência, movimentando e
polindo aquelas pedrinhas, deixando-as lisas e brilhantes como o vidro. O piso é
inclinado e, depois que uma onda atinge o fundo da caverna, o repuxo das águas
movimenta esses cascalhos, provocando um som sibilante que ecoa e amplifica
no interior da cavidade, deixando o ambiente quase que permanentemente com
um rumor agradável, pois a frequência do som parece acalmar o espírito. É muito
prazeroso ficar no interior dessa caverna, parece que as energias do corpo e da
mente se renovam enquanto permanecemos envolvidos naqueles sons.
A Caverna Flores está ligada à caverna Arco, são as mesmas coordenadas, com
uma pequena diferença no nível de altitude em relação ao mar. Portanto, a explora-
ção do lugar inclui as duas cavernas. Embora seja possível atingir o local sem equipa-
mento auxiliar, por segurança, recomendo a utilização de cordas e EPI. Bem próximo,
poucos metros adiante, há um lugar denominado “Ponta do Marisco”, que empresta
o nome para uma furna muito pequena e bela. A entrada dessa cavidade é uma fen-
da alta e muito estreita, fica difícil para os gordinhos adentrarem. Algumas furnas
são extremamente perigosas, exigindo cuidados redobrados por conta de desmoro-
namentos. É o caso da “SC-42 – Pedra Preta” e da “SC-53 – Medo”.
Não muito longe dessas está a “SC-34 – Urubu”, que ainda não foi possível
explorar; depois, a “SC-53 – Medo”. Nessa iniciamos a exploração, mas fomos
vencidos pelas dificuldades. A entrada da caverna é constantemente fustigada
pelo mar. É muito difícil chegar ao portal de entrada a partir do alto, mesmo utili-
zando cordas. Descobrimos então uma chaminé por onde seria possível adentrar
na furna através de rapel; mas estava parcialmente obstruída por pedras. Assim,
tentamos limpar um pouco o caminho. Nessa tentativa, houve um grande des-
moronamento, verdadeira avalanche de pedras que rolaram ruidosamente para o
interior da caverna. Observando mais atentamente a situação, resolvemos abor-
tar a missão por falta de segurança. Afinal, poderíamos ser surpreendidos, es-
tando na chaminé, por um novo desmoronamento que, certamente, teria graves
consequências. Pertinho da SC-53, está a “SC-33 – Andorinhas”. Explorar essa
furna de abrasão marinha foi muito prazeroso, apesar do perrengue que enfren-
tamos por conta do calor insuportável do dia. Acho que foi o dia mais quente
que enfrentei em todas as minhas atividades. A emoção de explorar a caverna
ficou mais por conta do rapel do que pela caverna em si, uma furna estreita e não
muito profunda, porém localizada num lugar de rara beleza.
Para quem pensa que as emoções terminam nessa pequena caverna, ledo
engano! Essa região, repleta de furnas de abrasão marinha, guarda segredos e
emoções em cada palmo de terreno percorrido. Um pouquinho mais adiante da
Andorinhas, tem a “SC-42 – Pedra Preta”, uma caverna que tende a desapa-
recer com o tempo, por conta dos desmoronamentos constantes. Antigamente,
devia possuir um enorme portal que muito provavelmente iniciava no nível do
mar; uns 30 metros mais abaixo. O tempo foi atulhando pedras, interna e ex-
ternamente, ao ponto de reduzir significativamente a altura do pórtico de en-
trada. Dá a impressão de que a caverna fica num ponto elevado de um paredão
imenso, quando, na realidade, ela está atulhada. É desafiador explorá-la. Foram
várias tentativas; no final, acabei explorando sozinho e abortando a missão para
os companheiros do grupo. Não havia condições de segurança, justamente por
conta dos desmoronamentos. Além do mais, para sair do fundo dessa grota, foi
preciso ascender por corda, sendo que a maioria do pessoal não estava habili-
tado para isso. Meu autorresgate foi muito estressante e perigoso. Pelo ponto
de descida escolhido, durante o rapel, houve princípios de desmoronamentos.
Resolvi então mudar de lugar para subir. O pessoal de apoio modificou, dessa
maneira, a posição das cordas. Coordenamos tudo por meio de contato por rádio.
Escolhi um ponto de subida que julguei o menos arriscado, mas, quando estava
na metade do percurso, o movimento da corda deslocou uma pedra de tamanho
92
razoável. Por sorte, ela não deslizou em queda livre; todavia, teve um impacto
forte no meu capacete. Poderia ter sido grave caso a pedra tivesse atingido o
meu ombro. O prejuízo maior ficou por conta da lanterna que estava instalada
no capacete.
Depois da Pedra Preta, existem ainda quatro cavernas até o final do costão
do Morro do Pântano, porém ainda não foi possível explorar essas cavidades. São
elas: “SC-39 – Poço”, “SC-40 – Ponta do Fuzil”, “SC-37 – Fenda” e “SC-59 –
Ponta da Felicidade”, essa última já na confluência com o Morro Pão de Açúcar.
Foto 90 – SC-24
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Possui um salão muito alto e estreito; quando a força das ondas comprime
a água no interior da caverna, provoca um jato que se propaga pela chaminé. É
um cenário assustador! Momentaneamente, a caverna fica totalmente escura,
esguichando água pela chaminé, ato acompanhado por um estrondo colossal. As
fotografias não podem dar uma ideia clara do evento. Nem mesmo um vídeo...
Somente quem está lá dentro, participando da ação, pode sentir toda emoção
e energia da mãe natureza. Então, pela estreita chaminé, sai uma névoa fina de
água, parece vapor, razão pela qual batizamos o lugar de “Chaminé do Inferno”.
Foto 97 – Entrada
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Nessa furna, encontramos muito guano, o solo chega a ser fofo e um odor
muito forte exala do interior dela. As paredes são cobertas de limo e algumas es-
pécies vegetais e fungos podem ser encontrados, mas não localizamos nenhuma
espécie de morcegos ou de andorinhões.
Enquanto esta obra está sendo finalizada, pelo menos mais dez cavernas
foram registradas na SBE. Temos um longo percurso pela frente até que todas as
cavernas sejam desbravadas. Muito ainda precisa ser explorado. Acho que pre-
cisarei de várias encarnações para poder desbravar todos os caminhos desta ilha
linda e misteriosa. Muitas aventuras ainda restam — apenas buscando cavernas.
É impossível narrar todas essas experiências em um único livro. Embora incom-
pleta, esta obra cumpre seu objetivo, ou seja, motivar os espíritos aventureiros
para novas descobertas e experiências gratificantes. Relembrando sempre o cui-
dado que precisamos ter com a rude e, ao mesmo tempo, frágil natureza.
Este relato sem fundamentos técnicos é também um apelo para que as au-
toridades ambientais e de turismo disciplinem os métodos de exploração e des-
bravamento desses locais. Entretanto, é preciso lembrar a importância de não
proibir o acesso das pessoas, pois é direito de todos poder contemplá-los. O
ser humano precisa ser educado; mesmo correndo algum risco de depredação,
é preciso insistir no conceito de aperfeiçoamento cultural e estético de todos
nós, seres em evolução. Muitas vezes, mais por ignorância do que por maldade,
a natureza é agredida de forma violenta. Precisamos pensar que somos todos
terráqueos: humanos, bichos e vegetais devem compartilhar harmonicamente o
espaço onde temos que viver.
Ficha catalográfica
ISBN: 978-65-88489-46-8
CDD 910
CDU 913(81)