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CAVERNAS DA ILHA

DE SANTA CATARINA
KAKO ARANSEGUI
Trabalho de pesquisa e exploração realizado por Waldomiro Aransegui Filho
(Kako Aransegui), em parceria com o pessoal do grupo WAF Trilhas e Aventuras.
Todas as fotografias constantes neste trabalho foram capturadas pelo autor ou
membros da equipe e não por profissionais especializados. Não existe caráter
técnico ou científico nesta obra — embora sua elaboração tenha exigido muito
trabalho e dedicação. Ela visa apenas estimular o amor pela natureza, levando ao
conhecimento das pessoas apaixonadas por aventura uma opção diferenciada
nas trilhas da Ilha da Magia. Talvez possua alguma utilidade para pessoas inte-
ressadas em desenvolver o turismo de aventura.

Não é permitido qualquer tipo de comercialização deste material. Fica ex-


pressamente proibida a reprodução impressa, total ou parcial desta obra, por
qualquer meio ou técnica, para fins comerciais ou não, sem a devida autoriza-
ção, por escrito, do autor.
CONTEÚDO

PREFÁCIO....................................................................................................................7

AGRADECIMENTOS..................................................................................................9

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................11

O QUE É CAVERNA?................................................................................................17

TIPOS DE CAVERNAS EXISTENTES NA ILHA


E ONDE SE LOCALIZAM........................................................................................25

CNC - CAVERNAS DA ILHA DE SANTA CATARINA.........................................26

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO NORTE...................................................34

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO


SACO GRANDE (CENTRO/NORTE)..................................................................38

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO CENTRAL...............................................40

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO SUL..........................................................42

OS MISTÉRIOS, OS MEGÁLITOS
E AS CAVERNAS DA REGIÃO NORTE..................................................................45

CAVERNAS DO CENTRO/NORTE -
REGIÃO SACO GRANDE / MORRO DA VIRGÍNIA.............................................68

AS CAVERNAS DA REGIÃO CENTRAL DA ILHA...............................................76

AS INCRÍVEIS CAVERNAS DO SUL DA ILHA......................................................82


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PREFÁCIO

Eu conheci o Kako pouco tempo após ter me mudado para Florianópolis.


Um dos motivos de minha mudança foi a natureza do lugar, mas as inscrições
rupestres, as grutas e as cavernas existentes me chamaram bastante a atenção.
Isso me levou a uma aproximação com as aventuras do Kako, um especialista em
rapel, trilheiro sempre disposto e apaixonado pela natureza.

O Kako sempre demonstrou uma coerência e uma consciência social ímpar,


algo muito importante nos dias atuais. Tem uma ética daquelas de se colocar a mão
no fogo, o tipo de amigo que desejaremos ter por perto em todos os momentos.

Fora isso, ele se tornou um apaixonado pelas cavernas da ilha de Santa


Catarina. Fizemos diversas trilhas juntos, aventurando-nos pelos costões, rape-
lando e analisando tanto as belezas naturais quanto as inscrições deixadas pelos
humanos antigos. Não pude acompanhá-lo em todas as buscas pelas cavernas
da ilha, mas mantive contato, sempre maravilhado com as fotos tiradas por ele e
com os relatos criativos e bem-humorados desse homem simples, porém visivel-
mente culto.

O livro que vocês têm em mãos é o cúmulo de um trabalho de anos catalo-


gando e visitando cada uma das grutas e cavernas da ilha de Santa Catarina,
onde fica a parte insular de Florianópolis, a capital de Santa Catarina. Muitas
delas são de dificílimo acesso, o que não foi problema para nosso aventureiro do
Urubucaru, região missioneira do Rio Grande do Sul, o local mítico dos “causos”
que ele sempre nos conta e que rendem muitas gargalhadas.

Sinto que, de alguma forma, o trabalho de catalogação e registro feito pelo


Kako para este livro complementa o meu, que é de registro e interpretação das
diversas inscrições rupestres encontradas em toda a ilha de Santa Catarina e no
litoral catarinense. As cavernas, as grutas e as inscrições estão muito próximas
entre si. Talvez os seres humanos que fizeram as inscrições tenham se abrigado
por vezes em tais cavernas num passado distante.
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Finalizo dizendo que, mesmo que alguns não percebam a importância do tra-
balho apresentado pelo Kako Aransegui nesta obra, tenho certeza de que ele tem
muita relevância para a pesquisa espeleológica e mesmo paleográfica da ilha, já
que Kako também visitou os sítios de inscrições rupestres em suas andanças.
Aproveitem a viagem através das fotografias e dos relatos desse aventureiro
gaúcho em terras manezinhas.

Paulo Stekel
(Escritor, jornalista, youtuber, pesquisador de Mente, Consciência, paleolinguista
de formação livre e especialista em decifração de escritas antigas e estudante
das inscrições rupestres de Florianópolis e SC – youtube.com/paulostekel)
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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao patrão celestial por ter me possibilitado essa convivência com


a mãe natureza, ao mesmo tempo que me acercou de amigos com a mesma ener-
gia vibracional. Todos imbuídos dos mesmos propósitos, afastados das cotidia-
nas disputas e competições inerentes ao ser humano.

Quero que as aventuras aqui descritas sirvam de inspiração para outros


aventureiros, que ainda não tiveram a oportunidade de iniciar a saga. A estes
quero destacar a importância que a natureza exerce sobre nossa vida e o quanto
pode ser bom para a saúde física e mental o ato contínuo de se aventurar.

Dedico esta singela escritura aos meus amigos aventureiros, aqueles que
fazem parte do grupo “WAF Trilhas e Aventuras”. Especialmente, Soraia Araújo,
Marino Casagrande, Fabrício Boff, Gerlândia Trajano, Claudia Cristina Souza,
Ismael Silveira, Marcia Eufrásio, Vera Rocha, aventureiros féis ao meu propó-
sito, companheiros que se revezaram na busca de cavernas pelos confins da
ilha de Santa Catarina. De certa forma, esse grupo tem sido minha família nos
últimos anos.

Gratidão também à minha família, principalmente minhas filhas, Francine e


Andressa, minha neta Eduarda, por terem compreendido e apoiado, ainda que
distantes, esse espírito que me movimenta. O amor que nos une é superior a
qualquer força deste mundo.

Tenho tanto para agradecer que o espaço dedicado à gratidão quase se tor-
na um livro em si. Não posso deixar de registrar neste pequeno espaço algumas
pessoas que foram importantes demais para a realização desta obra: o antro-
pólogo Adnir Ramos, fundador do IMMA, pesquisador dedicado a desvendar
mistérios ocultos nas antigas ciências, esparramados por esta maravilhosa Ilha
da Magia. Por meio dele, tomei conhecimento da Arqueoastronomia, sendo ele
grande incentivador das minhas ideias e do projeto desta obra. Agradeço ao
Rodrigo Dalmolin dos Santos e ao Hélio Carvalho Filho, espeleólogos dedicados
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ao trabalho de descobrimento, cadastramento e preservação das cavernas; eles


muito me auxiliaram com informações técnicas. Ao Paulo Stekel, agradeço pela
solicitude, prontificando-se a prefaciar esta humilde obra.

Por fim, mas não menos importante, agradeço ao casal Ângela e Esperidião
Amin, ilustres representantes do Congresso Nacional, pelo interesse e colabora-
ção para que esta obra pudesse ser impressa.

Kako Aransegui
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APRESENTAÇÃO

Em 2016, quando eu trilhava solitariamente pelos recantos insulares de


Florianópolis, frequentemente me deparava com cavernas que muito me chama-
vam atenção. Pela curiosidade, comecei então a fazer pesquisas sobre Geologia,
Espeleologia e Arqueologia, com foco na ilha de Santa Catarina, particularmente
sobre aquelas cavidades que eu encontrava. Em meados de 2017, já havia reunido
muito material interessante, que engrandeceu demais meu conhecimento, desper-
tando certa paixão pelo assunto. Durante minhas pesquisas, tomei conhecimento
do CNC (Cadastro Nacional de Cavernas), descobri que existiam 81 cavernas ca-
dastradas no estado de Santa Catarina, sendo que 51 delas estavam no município
de Florianópolis, dentro da ilha de Santa Catarina (primeiros dados coletados do
CNC). Meu espírito aventureiro ficou aguçado. Comecei então a desbravar esses
morros e costões em busca dessas cavidades. Inicialmente, organizei uma planilha
com os dados fundamentais, tais como descrição do tipo de caverna, o código de
cadastro do CNC e as coordenadas geográficas, as quais plotei no Google Earth a
fim de ilustrar melhor este despretensioso trabalho. Com o objetivo de levar ao co-
nhecimento das pessoas e ampliar o meu próprio, iniciei as minhas aventuras “Em
busca de cavernas”. Meu propósito era explorar todas as cavernas registradas
(51 na época) em dois anos e transformar em livro as minhas aventuras. O conhe-
cimento é coisa muito engraçada; parece que, quanto mais aprendemos, menos
sabemos sobre o assunto. O primeiro conflito surgiu com a nomenclatura da nova
atividade que eu praticava. Pelas pesquisas que efetuei, julguei estar praticando
espeleologia, pois a definição mais comum em diversos dicionários é a seguinte:
“Espeleologia (do grego Spelaion = Cavernas e Logos = Estudos) é a ciência ou
esporte que se preocupa com o estudo e a exploração das cavidades naturais
subterrâneas. Pode-se dizer, portando, que o espeleólogo é aquele que explora,
documenta, estuda e interessa-se pela conservação e preservação das cavernas”.
A partir dessa definição, considerei-me um espeleólogo — amador, é verdade —
dando o primeiro passo rumo ao conhecimento. É uma atividade muito dinâmica
e requer constante atualização. Logo comecei a me deparar com outros questio-
namentos, principalmente originados de pessoas que possuíam conhecimento su-
perior ao meu. Numa conversa amistosa com dois “espeleólogos”, fui informado
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de que eu não praticava espeleologia e sim “espeleonismo”. Confesso que fiquei


um pouco decepcionado com essa nova classificação da minha tão querida ativi-
dade. Entretanto, como espeleonista, continuei minhas pesquisas em busca de
aventuras. Porém, outra surpresa! Descobri que as palavras “espeleonismo” e “es-
peleonista” não constam em nenhum dicionário da língua portuguesa, o Google
também não encontrou uma definição para os termos. O mais próximo que cheguei
de uma definição foi “espeleologista”, definida pelo Aurélio como “Pessoa versada
em espeleologia; espeleólogo”. Portanto, sou um pesquisador não acadêmico en-
frentando um confronto de definições. Como não quero criar nenhum tipo de atrito
com os acadêmicos, recolho-me ao simplismo do espeleonismo, na esperança de
que algum dia o verbete possa ser incluído em algum dicionário. Afinal, a vida tem
que continuar e o processo de aprendizado é dinâmico demais!

Nos dados atualizados do CNC em 31 de dezembro de 2020, constava que no


Brasil existem 8.093 cavernas registradas; no estado de Santa Catarina são 198.
Em Florianópolis, somente na ilha, existem 168 cavernas. Este último número pos-
sivelmente aumentará; brevemente serão 200 registros aqui no município. Esse
fato mais uma vez me surpreendeu, pois nunca imaginei que pudessem existir tan-
tas cavidades por aqui. Devido ao grande aumento desses registros, meus planos
e minhas anotações precisaram de atualização constante. Virou uma espécie de
bola de neve crescendo junto com meus questionamentos; na mesma proporção
que aumentava o número de cavernas cadastradas. Florianópolis possui maravi-
lhosos sítios arqueológicos e incríveis monumentos megalíticos. Na busca que me
dediquei com afinco, comecei a me deparar com essas impressionantes formações
rochosas, que antes não despertavam tanto minha atenção. Encontrei intrigan-
tes inscrições rupestres e locais que pareciam mágicos. Agora, esses megálitos e
desenhos pré-históricos se misturaram com as cavernas em meus pensamentos;
expandindo a visão. A consequência maior dessa expansão foi a necessidade de
aprimorar a ideia inicial do trabalho que pretendia fazer. Todos sabem que, na prá-
tica, a teoria é outra. Ocorreu que todos os questionamentos surgidos durante as
atividades práticas aumentaram tanto que a bola de neve se tornou gigantesca.
Também surgiu a necessidade de me equipar melhor, motivar e treinar parceiros
de aventuras, a fim de continuar as buscas. Tudo vai se aperfeiçoando gradativa-
mente; o que me faz pensar que jamais este trabalho estará realmente concluído.
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Meus conceitos sobre cavernas e o desbravamento delas também passa-


ram por algumas transformações importantes. Tornou-se necessário priorizar
as explorações. Algumas dessas cavernas são majestosas, incríveis e de difícil
acesso; outras possuem pouco interesse, não passando de pequenas grutas
ou tocas onde se poderia no máximo construir um capitel. Muitas dessas for-
mações são parecidas, como se fossem repetições, em locais diferentes, de um
tema comum. Existia ainda uma questão, não muito bem definida, para que
eu pudesse classificar o que é ou não caverna. Dois amigos especialistas no
assunto muito me ajudaram nessa viagem de descobertas. Um deles, Rodrigo
Dalmolin dos Santos, é filiado à Sociedade Brasileira de Espeleologia. Ele é um
dos membros fundadores do Espeleo Grupo Teju Jagua e está focado nas ativi-
dades de prospecção e registro de cavernas, bem como na conservação do pa-
trimônio espeleológico. Rodrigo é formado em Filosofia pela UFSC e é Técnico
em Agrimensura pelo IFSC; ele atua no manejo de trilhas e caminhos aqui em
Florianópolis. O outro amigo é o Hélio Carvalho Filho, economista e espeleó-
logo afiliado à Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) desde 2002. As pri-
meiras atividades dele na espeleologia foram realizadas em 1997 na cidade de
Grenoble (França), onde residiu entre os anos de 1996 e 2000. Hélio é o cofun-
dador do Espeleo Grupo Teju Jagua, que possui sede na capital catarinense, e
tem se dedicado, entre outras atividades, à exploração e valorização de caver-
nas em Santa Catarina, mais notadamente no município de Florianópolis, local
onde reside. São eles minha fonte direta de referência e também companheiros
de algumas atividades de campo.

As singelas descrições feitas aqui não têm preocupação alguma com


termos técnicos, até porque, sendo eu leigo no assunto, não domino tais
terminologias. Este trabalho não é dedicado aos espeleólogos; com eles,
logicamente, terei muito o que aprender. Escrevo aos que possuem espírito
aventureiro. Meu relato tem, antes de mais nada, o compromisso de mo-
vimentar o aspecto emocional. Procuro disseminar, com isso, a alegria in-
contida que toma conta daqueles que participam das expedições; depois
de haverem passado determinadas agruras frente às durezas impostas pela
mãe natureza. Algumas das cavernas exploradas ofereceram altos graus de
dificuldade, tanto para o deslocamento quanto para a exploração de seus
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interiores. Abrir picadas em meio à vegetação de espinhos, utilizar técnicas


e equipamentos de rapel e escalada... Todos esses caminhos foram percor-
ridos acompanhados sempre pelo senso de preservação da fauna e da flora;
além, é claro, do cuidado com a minha segurança e dos amigos participan-
tes. Assim sendo, estabeleci critérios do que poderia ou não ser aparado
pelo facão e quem poderia me acompanhar no desbravamento. Observações
atentas em todas as trilhas para evitar danos aos ninhos e esconderijos de
animais, recolhendo lixo, principalmente plástico e alumínio, encontrados
em abundância, por mais remoto que seja o caminho, limitando o número
de participantes; medindo, embora de forma empírica, as consequências
dos nossos atos; foram as atitudes ecológicas adotadas. Nas vezes em que
foi necessário o acesso por corda, em momento algum fixamos um grampo
sequer; nenhuma rocha foi perfurada ou enfeitada com aqueles deprimen-
tes dispositivos de ancoragem. Nem no mais gigantesco bloco de granito.
Também não cortamos um único galho de árvore. Tentei me aproximar ao
máximo do conceito “Leave no trace”, ou seja, não deixar rastros! Tudo isso
para não agredir a natureza. Nas cavernas formadas por blocos de granito,
muitas vezes, é preciso percorrer túneis estreitos, nos quais mal passa o
corpo; nas furnas de abrasão marinha, por estarem localizadas em costões,
o maior entrave para a exploração são os penhascos e o oceano, que criam
extremas e perigosas dificuldades de acesso.

Por tudo que aqui foi descrito, sinto imensa alegria; e até certo orgulho, por
ter propiciado às pessoas acesso a esses locais e, de alguma forma, ter expan-
dido conhecimento e conscientização sobre o meio ambiente. Nada é perfeito
e nada é simples! O ser humano é complicado; sempre há riscos envolvidos,
acidentes, depredação, desentendimentos, inveja. É preciso continuar evoluin-
do e educando até que exista harmonia de pensamentos. Sem querer bancar o
politicamente correto: acredito piamente que o ser humano só se conscienti-
zará do cuidado que deve ter com o planeta a partir do conhecimento prático
que adquire sobre o assunto. Não serão as imposições governamentais, nem
multas ou prisões que modificarão o predador humano. Na medida em que o
conhecimento aumentar, a consciência ecológica tomará corpo.
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Algumas cavernas não poderão ser exploradas por limitação de recursos e


técnicas. É o caso da furna do Santinho 2, que não consta no registro do CNC
porque não pode ser explorada. Observamos que é uma caverna subaquática e
que só pode ser acessada através de mergulho. Embora tenhamos feito várias
investidas no local a fim de observar as condições do mar, em nenhum momento
houve a possibilidade de adentrar na cavidade. Outras há que oferecem risco
muito grande; não oferecem segurança mesmo com a utilização de equipamen-
tos adequados, principalmente por questões de desmoronamentos em ação con-
junta com as forças do oceano. É o caso das furnas Inferno, Pedra Preta, Medo,
Toca da Baleia, entre outras. Recomendo aos aventureiros de plantão, que se-
guirão seu próprio rumo em busca de cavernas, que redobrem os cuidados, não
dispensando jamais o uso de EPIs. Esse é um fator extremamente importante no
mundo da aventura, principalmente para quem pretende trabalhar como condu-
tor ambiental. Tenho observado, em quase dez anos de atividade trilhando pela
ilha, o descaso de muitas pessoas com a segurança. Muito pior; se arriscassem
apenas a segurança pessoal, tudo bem... Cada um é responsável por si mesmo
e deve conhecer a plenitude de suas limitações. Ocorre, porém, que o interesse
comercial na atividade leva certos indivíduos a formar grupos de trilhas; alguns
gigantescos, com mais de uma centena de pessoas, sem a devida preocupação
com a segurança, sem treinamentos de resgate, sem equipamentos de orienta-
ção, nem mesmo vestuários e calçados adequados são utilizados. Considero essa
uma prática perniciosa e deseducativa. A natureza sempre se manifesta de forma
rude. Animais peçonhentos, insetos agressivos; sem contar que a maioria das
pessoas desconhecem as condições reais do local que estão trilhando. Imagine
um grupo de 50 pessoas em uma trilha: quantas auxiliares são necessárias para
manter a comunicação e harmonia no grupo? Os grupos possuem pessoal trei-
nado para situações adversas? Como eles deverão agir em caso de um ataque
de abelhas? O que fazer se um dos participantes sofrer um acidente em local de
difícil acesso? Atravessar costões por íngremes penhascos sem utilizar nenhum
equipamento de segurança pode ser uma coisa legal, superar um desafio; promo-
ver um acréscimo de adrenalina no sangue é emocionante! Mas será que todos
os membros de um grande grupo estão treinados e preparados para isso? De
alguma forma, toda atividade de aventura precisará ser regulamentada, a fim de
que se evitem tragédias.
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Foto 01 – Interior da caverna Jararaca

Foto 02 – Aspecto do acesso à caverna Casa de Pedra


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O QUE É CAVERNA?

Para o público em geral, existe certa confusão com relação a nomenclatu-


ras e à classificação de cavernas. Muita gente me pergunta: qual a diferença
entre furna e caverna (ou entre gruta e caverna)? Na realidade, os termos “gru-
ta”, “toca”, “furna” e “dolina” expressam diferentes tipos de cavidades e podem
existir maneiras diferentes de os classificar. É importante salientar que só serão
consideradas como cavernas as formações naturais, excluídas qualquer tipo de
construção por intervenção humana; mesmo que se pareça como tal. Nesta obra,
as referências serão as seguintes:

Toca – Toda e qualquer caverna, com exceção daquelas formadas por abra-
são marinha, que possuir, no mínimo cinco e no máximo 20 metros de pro-
longamento linear, prevalentemente horizontal.

Gruta – Cavidade que possui mais de 20 metros de prolongamento linear,


prevalentemente horizontal.

Abismo ou fenda – Constitui-se nas cavernas formadas por aberturas acen-


tuadas em rochas e de grande projeção vertical.

Furna – Cavidade formada por abrasão marinha, localizada nos costões, in-
dependentemente da altura, largura ou comprimento. Também é considera-
da como “furna” a cavidade rochosa que se formou por erosão causada pela
água de um córrego ou lava.

Dolina ou poço – É aquela formada por afundamento do solo. Algumas


dessas cavernas são interligadas por túneis e acabam fazendo parte de um
sistema único, onde temos cavidades de projeção vertical interligadas por
outras de projeção horizontal.
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Foto 03 – Acesso típico à caverna de blocos de granito

Foto 04 – Furna do Santinho (abrasão marinha)


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Disponibilizo aqui o decreto N° 6.640 de 7 de novembro de 2008 que, além


de dar uma definição exata do que deve ser considerado caverna, também dis-
põe sobre a proteção das cavidades naturais subterrâneas.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
CASA CIVIL
SUBCHEFIA PARA ASSUNTOS JURÍDICOS
DECRETO Nº 6.640, DE 7 DE NOVEMBRO DE 2008.

Dá nova redação aos arts. 1o, 2o, 3o, 4o e 5o e acrescenta os arts. 5-A e 5-B
ao Decreto no 99.556, de 1o de outubro de 19, que dispõe sobre a proteção
das cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,


inciso IV, e tendo em vista o disposto nos arts. 20, inciso X, e 216, inciso V, da
Constituição, e na Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981,

DECRETA:
Art. 1o Os arts. 1o, 2o, 3o, 4o e 5o do Decreto no 99.556, de 1o de outubro de
1990, passam a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1o  As cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional


deverão ser protegidas, de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem
técnico-científica, bem como atividades de cunho espeleológico, étnico-cultural,
turístico, recreativo e educativo.

Parágrafo único.  Entende-se por cavidade natural subterrânea todo e


qualquer espaço subterrâneo acessível pelo ser humano, com ou sem abertura
identificada, popularmente conhecido como caverna, gruta, lapa, toca, abismo,
furna ou buraco, incluindo seu ambiente, conteúdo mineral e hídrico, a fauna
e a flora ali encontrados e o corpo rochoso onde os mesmos se inserem, desde
que tenham sido formados por processos naturais, independentemente de suas
dimensões ou tipo de rocha encaixante.” (NR)
20

“Art. 2o  A cavidade natural subterrânea será classificada de acordo com seu
grau de relevância em máximo, alto, médio ou baixo, determinado pela análise
de atributos ecológicos, biológicos, geológicos, hidrológicos, paleontológicos,
cênicos, histórico-culturais e socioeconômicos, avaliados sob enfoque regional
e local.

§ 1o A análise dos atributos geológicos, para a determinação do grau de relevância,


deverá ser realizada comparando cavidades da mesma litologia.

§ 2o Para efeito deste Decreto, entende-se por enfoque local a unidade espacial
que engloba a cavidade e sua área de influência e, por enfoque regional, a unidade
espacial que engloba no mínimo um grupo ou formação geológica e suas relações
com o ambiente no qual se insere.

§ 3o Os atributos das cavidades naturais subterrâneas listados no caput serão


classificados, em termos de sua importância, em acentuados, significativos ou
baixos.

§ 4o Entende-se por cavidade natural subterrânea com grau de relevância máximo


aquela que possui pelo menos um dos atributos listados abaixo:

I - gênese única ou rara;


II - morfologia única;
III - dimensões notáveis em extensão, área ou volume;
IV - espeleotemas únicos;
V - isolamento geográfico;
VI - abrigo essencial para a preservação de populações geneticamente
viáveis de espécies animais em risco de extinção, constantes de listas oficiais;
VII - hábitat essencial para preservação de populações geneticamente
viáveis de espécies de troglóbios endêmicos ou relíctos;
VIII - hábitat de troglóbio raro;
IX - interações ecológicas únicas;
X - cavidade testemunho; ou
XI - destacada relevância histórico-cultural ou religiosa.
21

§ 5o Para efeitos do § 4o, o atributo a que se refere seu inciso V só será


considerado no caso de cavidades com grau de relevância alto e médio.

§ 6o Entende-se por cavidade natural subterrânea com grau de relevância alto


aquela cuja importância de seus atributos seja considerada, nos termos do ato
normativo de que trata o art. 5o:

I - acentuada sob enfoque local e regional; ou


II - acentuada sob enfoque local e significativa sob enfoque regional.

§ 7o Entende-se por cavidade natural subterrânea com grau de relevância médio


aquela cuja importância de seus atributos seja considerada, nos termos do ato
normativo de que trata o art. 5o:

I - acentuada sob enfoque local e baixa sob enfoque regional; ou


II - significativa sob enfoque local e regional.

§ 8o Entende-se por cavidade natural subterrânea com grau de relevância baixo


aquela cuja importância de seus atributos seja considerada, nos termos do ato
normativo de que trata o art. 5o:

I - significativa sob enfoque local e baixa sob enfoque regional; ou


II - baixa sob enfoque local e regional.

§ 9o Diante de fatos novos, comprovados por estudos técnico-científicos, o


Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico
Mendes poderá rever a classificação do grau de relevância de cavidade natural
subterrânea, tanto para nível superior quanto inferior.” (NR)  

“Art. 3o  A cavidade natural subterrânea com grau de relevância máximo e sua
área de influência não podem ser objeto de impactos negativos irreversíveis, sendo
que sua utilização deve fazer-se somente dentro de condições que assegurem sua
integridade física e a manutenção do seu equilíbrio ecológico.” (NR)
22

“Art. 4o  A cavidade natural subterrânea classificada com grau de relevância alto,
médio ou baixo poderá ser objeto de impactos negativos irreversíveis, mediante
licenciamento ambiental.

§ 1o No caso de empreendimento que ocasione impacto negativo irreversível


em cavidade natural subterrânea com grau de relevância alto, o empreendedor
deverá adotar, como condição para o licenciamento ambiental, medidas e ações
para assegurar a preservação, em caráter permanente, de duas cavidades naturais
subterrâneas, com o mesmo grau de relevância, de mesma litologia e com atributos
similares à que sofreu o impacto, que serão consideradas cavidades testemunho.

§ 2o A preservação das cavidades naturais subterrâneas, de que trata o § 1o,


deverá, sempre que possível, ser efetivada em área contínua e no mesmo grupo
geológico da cavidade que sofreu o impacto.

§ 3o Não havendo, na área do empreendimento, outras cavidades representativas


que possam ser preservadas sob a forma de cavidades testemunho, o Instituto
Chico Mendes poderá definir, de comum acordo com o empreendedor, outras
formas de compensação.

§ 4o No caso de empreendimento que ocasione impacto negativo irreversível em


cavidade natural subterrânea com grau de relevância médio, o empreendedor
deverá adotar medidas e financiar ações, nos termos definidos pelo órgão
ambiental competente, que contribuam para a conservação e o uso adequado
do patrimônio espeleológico brasileiro, especialmente das cavidades naturais
subterrâneas com grau de relevância máximo e alto.

§ 5o No caso de empreendimento que ocasione impacto negativo irreversível


em cavidade natural subterrânea com grau de relevância baixo, o empreendedor
não estará obrigado a adotar medidas e ações para assegurar a preservação de
outras cavidades naturais subterrâneas.” (NR)

“Art. 5o  A metodologia para a classificação do grau de relevância das cavidades


naturais subterrâneas, considerando o disposto no art. 2o, será estabelecida
23

em ato normativo do Ministro de Estado do Meio Ambiente, ouvidos o Instituto


Chico Mendes, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA e demais setores governamentais afetos ao tema, no prazo
de sessenta dias, contados da data de publicação deste Decreto.” (NR)

Art. 2o Fica acrescido os arts. 5-A e 5-B ao Decreto no 99.556, de 1990, com a
seguinte redação:

“Art. 5o-A.  A localização, construção, instalação, ampliação, modificação


e operação de empreendimentos e atividades, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores ou degradadores de cavidades naturais subterrâneas,
bem como de sua área de influência, dependerão de prévio licenciamento pelo
órgão ambiental competente.

§ 1o O órgão ambiental competente, no âmbito do processo de licenciamento


ambiental, deverá classificar o grau de relevância da cavidade natural subterrânea,
observando os critérios estabelecidos pelo Ministério do Meio Ambiente.

§ 2o Os estudos para definição do grau de relevância das cavidades naturais


subterrâneas impactadas deverão ocorrer a expensas do responsável pelo
empreendimento ou atividade.

§ 3o Os empreendimentos ou atividades já instalados ou iniciados terão prazo


de noventa dias, após a publicação do ato normativo de que trata o art. 5o, para
protocolar junto ao órgão ambiental competente solicitação de adequação aos
termos deste Decreto.

§ 4o Em havendo impactos negativos irreversíveis em cavidades naturais


subterrâneas pelo empreendimento, a compensação ambiental de que trata o
art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, deverá ser prioritariamente
destinada à criação e implementação de unidade de conservação em
área de interesse espeleológico, sempre que possível na região do
empreendimento.” (NR)
24

“Art. 5-B.  Cabe à União, por intermédio do IBAMA e do Instituto Chico Mendes,


aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, no exercício da competência
comum a que se refere o art. 23 da Constituição, preservar, conservar, fiscalizar
e controlar o uso do patrimônio espeleológico brasileiro, bem como fomentar
levantamentos, estudos e pesquisas que possibilitem ampliar o conhecimento
sobre as cavidades naturais subterrâneas existentes no território nacional.

Parágrafo único.  Os órgãos ambientais podem efetivar, na forma da lei, acor-


dos, convênios, ajustes e contratos com entidades públicas ou privadas, nacio-
nais, internacionais ou estrangeiras, para auxiliá-los nas ações de preservação e
conservação, bem como de fomento aos levantamentos, estudos e pesquisas que
possibilitem ampliar o conhecimento sobre as cavidades naturais subterrâneas
existentes no território nacional.” (NR)

Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 7 de novembro de 2008; 187º da Independência e 120º da República.

Luiz Inácio Lula da Silva


25

TIPOS DE CAVERNAS EXISTENTES


NA ILHA E ONDE SE LOCALIZAM

Há dois tipos predominantes de cavernas aqui na ilha: as furnas de abrasão


marinha (tipo A) e as formadas por blocos de granito (tipo B). Em alguns casos,
existe uma coincidência, parecendo uma mistura de blocos e erosão marinha.
Além disso, existem algumas dolinas na região do Monte Verde e no sul da ilha,
no Morro da Solidão. Com relação às formações do Morro da Solidão, ainda não
há reconhecimento das cavidades nem registro na SBE; alguns nativos deno-
minam o local como “Buraco dos Bugres”, outros mais ligados à Espeleologia o
denominam de “Dolinas da Isaura”.

As furnas de abrasão marinha são encontradas, de forma dispersa, pelos


costões do lado leste da ilha. Já as tocas ou grutas formadas de blocos de gra-
nito, que compõem a grande maioria das cavidades, distribuem-se pelos morros
que formam os diversos maciços recorrentes do norte ao sul da ilha. A geologia
de Florianópolis é digna de estudo à parte. A paisagem é preponderantemente
composta por granito e basalto, propiciando incríveis formações em todos os
cantos da ilha, decoradas por vegetação exuberante e lindas praias de areias
brancas e águas esmeraldinas ou turquesas.

A região do Saco Grande possui a maior concentração de cavernas da ilha; ao


todo, são mais de 60 cavernas registradas por ali até o momento, situadas princi-
palmente no Morro da Virgínia e entorno. Todas essas cavernas são do tipo B.

Para facilitar a localização, dividi a ilha em quatro partes: Norte, Saco Grande,
Centro e Sul. Isso não significa que haja uma coincidência com a divisão geográ-
fica oficial do município. A ilha de Santa Catarina possui largura relativamente
pequena (Leste/Oeste) em relação ao comprimento (Norte/Sul). Essa divisão
leva em consideração apenas o posicionamento das cavernas; valorizando o eixo
Sul/Norte. Assim sendo, foram consideradas cavernas do norte da ilha, todas as
que estão localizadas ao norte do paralelo 27° 30’ 00”. As cavernas consideradas
como “Saco Grande” (ou Centro/Norte) ficam entre os paralelos 27° 30’ 01” e
26

27° 33’ 00”. As cavernas da região Central se localizam entre os paralelos 27° 33’
01” e 27° 39’ 00”. A partir do paralelo 27° 39’ 01” até o extremo sul da Ilha, ponta
dos Naufragados, considera-se região Sul.

Disponibilizo aqui uma tabela contendo todas as cavernas até então regis-
tradas e as plotagens no Google Earth, a fim de facilitar a localização. Constam
nela o número de registro no CNC, o nome popular, as coordenadas geográficas
e o tipo. As primeiras linhas da lista, em marrom, referem-se às cavernas não
cadastradas com as quais me deparei, utilizei as iniciais NC para identificá-las;
nas demais, constam os códigos utilizados pelo CNC (Cadastro Nacional de
Cavernas), mantido pela Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). As linhas
em vermelho-vivo se referem às cavernas onde há coincidência nas coordenadas
geográficas. Utilizei o destaque para que eu possa averiguar a eventual possi-
bilidade de haver dois registros de uma mesma caverna, corrigir a precisão das
coordenadas ou, ainda, modificar informações, caso se descubra alguma interli-
gação entre elas. Todas as informações aqui disponibilizadas estão sob a ótica
da aventura, nada além.

CNC - CAVERNAS DA ILHA DE SANTA CATARINA


Ref CNC Nome Tipo Coordenadas Coord. WGS 84
-1 NC 01 Santinho 2 F Lat 27° 26’ 41.5” S: Lng 48° 21’ 39.4” W S 27.44472 - W 048.36083
-2 NC 02 Toca do Santinho A Lat 27° 26’ 59.0” S : Lng 48° 22’ 14.0” W S 27.44972 - W 048.37056
-3 NC 03 Grutinha do Rapa 1 B Lat 27° 22’ 57.0” S : Lng 48° 24’ 57.0” W S 27.38250 - W 048.41583
-4 NC 04 Grutinha do Rapa 2 B Lat 27° 22’ 57.3” S : Lng 48° 24’ 57.7” W S 27.38258 - W 048.41603
-5 NC 05 Buraco Escondido B Lat 27° 26’ 35.0” S : Lng 48° 22’ 07.0” W S 27.44305 - W 048.36861
-6 NC 06 Gruta do Sambaqui B Lat 27° 30’ 07.4” S : Lng 48° 31’ 23.9” W S 27.50206 - W 048.52331
-7 NC 07 Fenda dos Piratas B Lat 27° 25’ 58.3” S : Lng 48° 21’ 53.3” W S 27.43286 - W 048.36480
1 SC-10 Brava B Lat 27° 23’ 31.9” S : Lng 48° 24’ 52.2” W S 27.39219 - W 048.41450
2 SC-11 Rei B Lat 27° 23’ 24.0” S : Lng 48° 24’ 48.0” W S 27.39000 - W 048.41333
3 SC-17 Sistema da Água Corrente B Lat 27° 32’ 10.0” S : Lng 48° 29’ 52.0” W S 27.53611 - W 048.49778
4 SC-18 Laje B Lat 27° 32’ 13.1” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.53694 - W 048.49805
5 SC-19 Gruta do Saco Grande B Lat 27° 32’ 12.0” S : Lng 48° 29’ 49.0” W S 27.53667 - W 048.49694
6 SC-20 Gruta dos Buracos B Lat 27° 32’ 13.0” S : Lng 48° 29’ 46.0” W S 27.53694 - W 048.49611
27

7 SC-21 Gruta do Peri B Lat 27° 45’ 00.0” S : Lng 48° 32’ 22.0” W S 27.75000 - W 048.53944
8 SC-22 Furna do Lui A Lat 27° 45’ 16.0” S : Lng 48° 29’ 58.0” W S 27.75444 - W 048.49944
9 SC-23 Complexo Muro de Pedras B Lat 27° 44’ 47.0” S : Lng 48° 31’ 21.0” W S 27.74639 - W 048.52250
Gruta da trilha do
10 SC-24 A Lat 27° 48’ 8.0” S : Lng 48° 32’ 15.0” W S 27.80222 - W 048.53750
Saquinho I
Gruta da trilha do
11 SC-25 A Lat 27° 48’ 7.0” S : Lng 48° 32’ 15.0” W S 27.80194 - W 048.53750
Saquinho II
12 SC-26 Complexo Pedras Grandes B Lat 27° 32’ 19.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53861 - W 048.49889
13 SC-27 Feiticeiras (Bruxa) B Lat 27° 25’ 02.0” S : Lng 48° 24’ 23.0” W S 27.41722 - W 048.40639
14 SC-28 Pinturas B Lat 27° 35’ 54.0” S : Lng 48° 25’ 58.0” W S 27.59833 - W 048.43278
15 SC-29 Caieira da Barra Sul Lat 27° 47’ 53.0” S : Lng 48° 33’ 28.0” W S 27.79806 - W 048.55778
16 SC-30 Pântano do Sul I A Lat 27° 47’ 40.6” S : Lng 48° 29’ 56.1” W S 27.79472 - W 048.49889
17 SC-31 Toca da Baleia A Lat 27° 46’ 06.1” S : Lng 48° 28’ 37.5” W S 27.76833 - W 048.47694
18 SC-32 Pântano do Sul II A Lat 27° 47’ 37.8” S : Lng 48° 29’ 57.7” W S 27.79361 - W 048.49917
19 SC-33 Andorinhas A Lat 27° 47’ 40.6” S : Lng 48° 29’ 48.4” W S 27.79444 - W 048.49667
20 SC-34 Urubu A Lat 27° 47’ 41.1” S : Lng 48° 29’ 53.2” W S 27.79472 - W 048.49805
21 SC-35 Arco A Lat 27° 47’ 32.9” S : Lng 48° 30’ 17.3” W S 27.79250 - W 048.50472
22 SC-36 Ponta do Marisco A Lat 27° 47’ 33.7” S : Lng 48° 30’ 16.1” W S 27.51178 - W 048.42096
23 SC-37 Fenda A Lat 27° 47’ 25.8” S : Lng 48° 29’ 25.4” W S 27.79056 - W 048.49028
24 SC-38 Flores A Lat 27° 47’ 33.8” S : Lng 48° 30’ 16.5” W S 27.79250 - W 048.50472
25 SC-39 Poço A Lat 27° 47’ 38.8” S : Lng 48° 29’ 38.0” W S 27.79417 - W 048.49389
26 SC-40 Ponta do Fuzil A Lat 27° 47’ 27.9” S : Lng 48° 29’ 29.1” W S 27.79111 - W 048.49139
27 SC-41 Furna do Santinho A Lat 27° 26’ 39.7” S : Lng 48° 21’ 39.0” W S 27.44444 - W 048.36083
28 SC-42 Pedra Preta A Lat 27° 47’ 39.0” S : Lng 48° 29’ 45.5” W S 27.79417 - W 048.49583
29 SC-43 Morcegos A Lat 27° 47’ 18.7” S : Lng 48° 30’ 27.7” W S 27.78861 - W 048.50778
30 SC-44 Nega A Lat 27° 47’ 22” S : Lng 48° 30’ 27” W S 27.78944 - W 048.50750
31 SC-45 Grota do Riacho I B Lat 27° 32’ 28.0” S : Lng 48° 29’ 33.0” W S 27.54111 - W 048.49250
32 SC-46 Grota do Riacho II B Lat 27° 32’ 29.0” S : Lng 48° 29’ 35.0” W S 27.54139 - W 048.49305
33 SC-47 Pastinho A Lat 27° 49’ 57.0” S : Lng 48° 33’ 01.0” W S 27.83250 - W 048.55028
34 SC-48 Trilha do Saquinho III A Lat 27° 48’ 32.8” S : Lng 48° 32’ 11.9” W S 27.80917 - W 048.53667
35 SC-49 Ponta do Quebra-Remo A Lat 27° 45’ 22.9” S : Lng 48° 29’ 14.9” W S 27.75611 - W 048.48722
36 SC-50 Lagoinha do Leste B Lat 27° 46’ 11.2” S : Lng 48° 28’ 44.7” W S 27.76972 - W 048.47917
37 SC-51 Encantada C Lat 27° 26’ 49.0” S : Lng 48° 21’ 39.9” W S 27.44694 - W 048.36111
38 SC-53 Medo A Lat 27° 47’ 40.8” S : Lng 48° 29’ 50.3” W S 27.79472 - W 048.49722
39 SC-54 Rapa B Lat 27° 23’ 01.0” S : Lng 48° 24’ 59.0” W S 27.38361 - W 048.41639
40 SC-55 Larvas B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 41.0” W S 27.53917 - W 048.49472
28

41 SC-59 Felicidade A Lat 27° 47’ 08.1” S : Lng 48° 29’ 06.5” W S 27.78556 - W 048.48528
42 SC-61 Sistema Monte Verde B Lat 27° 33’ 43.0” S : Lng 48° 29’ 06.0” W S 27.56194 - W 048.48500
43 SC-62 Rio Valdik B Lat 27° 33’ 41.0” S : Lng 48° 29’ 09.0” W S 27.56139 - W 048.48583
44 SC-63 Matadeiro A Lat 27° 45’ 11.8” S : Lng 48° 30’ 02.0” W S 27.75333 -W 048.50056
45 SC-64 Preta A Lat 27° 45’ 26.5” S : Lng 48° 29’ 14.5” W S 27.75750 - W 048.48750
46 SC-65 Ingleses A Lat 27° 26’ 10.9” S : Lng 48° 21’ 46.0” W S 27.43639 - W 048.36278
47 SC-66 Ponta do Frade A Lat 27° 50’ 17.0” S : Lng 48° 33’ 33.0” W S 27.83806 - W 048.55917
48 SC-67 Cabras A Lat 27° 26’ 51.0” S : Lng 48° 21’ 41.0” W S 27.44750 - W 048.36139
49 SC-68 Oiteiro B Lat 27° 38’ 23.0” S : Lng 48° 28’ 47.0” W S 27.63972 - W 048.47972
50 SC-69 Central Park B Lat 27° 32’ 39.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.54417 - W 048.49417
51 SC-75 Gravatá A Lat 27° 45’ 45.1” S : Lng 48° 28’ 48.5” W S 27.76250 - W 048.48000
52 SC-76 Jararaca B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 49.0” W S 27.53528 - W 048.49694
53 SC-77 Caminho da Gurita Lat 27° 44’ 56.0” S : Lng 48° 31’ 49.0” W S 27.74889 - W 048.53028
54 SC-78 Lajão B Lat 27° 32’ 02.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53389 - W 048.49889
55 SC-79 Ponta do Bota-Fora B Lat 27° 23’ 14.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.38722 - W 048.41417
Sistema Riacho
56 SC-80 B Lat 27° 31’ 52.0” S : Lng 48° 30’ 33.0” W S 27.53111 - W 048.50917
Subterrâneo
57 SC-81 Gruta do Inferno A Lat 27° 48’ 28.9” S : Lng 48° 32’ 10.2” W S 27.80806 - W 048.53611
58 SC-82 Água Escorrida B Lat 27° 45’ 57.9” S : Lng 48° 28’ 39.5” W S 27.81611 - W 048.47778
59 SC-85 Casa de Pedra B Lat 27° 32’ 14.5” S : Lng 48° 29’ 44.3” W S 27.53722 - W 048.49556
60 SC-86 Ramais B Lat 27° 32’ 11.0” S : Lng 48° 29’ 44.0” W S 27.53639 - W 048.49556
61 SC-87 Escondida B Lat 27° 32’ 13.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.53694 - W 048.49528
62 SC-88 Morro da Pedra Listra B Lat 27° 32’ 18.0” S : Lng 48° 29’ 08.0” W S 27.53833 - W 048.48556
63 SC-91 Murmúrio B Lat 27° 32’ 11.0” S : Lng 48° 29’ 28.0” W S 27.53778 - W 048.49649
64 SC-92 Borbulhos B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 23.0” W S 27.53528 - W 048.48972
65 SC-93 Maciço da Costeira B Lat 27° 38’ 16.0” S : Lgn 48° 29’ 35.0” W S 27.63778 - W 048.49305
66 SC-94 Figueira B Lat 27° 38’ 14.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.63722 - W 048.49361
67 SC-95 Palmitos B Lat 27° 38’ 14.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.63722 - W 048.49361
68 SC-96 Morro da Represa B Lat 27° 38’ 13.0” S : Lgn 48° 29’ 35.0” W S 27.63694 - W 048.49305
69 SC-99 Rio do Mel B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53278 - W 048.49889
70 SC-101 Rio Tavares B Lat 27° 38’ 03.0” S : Lng 48° 29’ 27.0” W S 27.63417 - W 048.49083
71 SC-102 Bromélias B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.53528 - W 048.49361
72 SC-103 Paredão B Lat 27° 32’ 07.0” S : Lng 48° 29’ 39.0’ W S 27.53528 - W 048.49417
73 SC-104 Gruta da Raiz B lat 27° 31’ 49.0” S : lng 48° 29’ 33.6” W S 27.53028 - W 48.49267
74 SC-105 Gruta Casa Velha B lat 27° 31’ 48.0” S : Lnt 48° 29’ 34.0” W S 27.53000 - W 048.49278
75 SC-106 Espinheiro B lat 27° 31’ 59.0” S : Lng 48° 29’ 51.0” W S 27.53305 - W 048.49750
29

Morro Costa da Lagoa


76 SC-107 B Lat 27° 34’ 24.0” S : Lng 48° 27’ 44.0” W S 27.57333 - W 048.46222
(Vinte Salas)
77 SC-108 Pica-pau B Lat 27° 31’ 59.0” S : Lng 48° 29’ 55.0” W S 27.53305 - W 048.49861
Gruta Caminho da Costa
78 SC-109 B Lat 27° 34’ 32.0” S : Lng 48° 27’ 32.0” W S 27.57556 - W 048.45669
da Lagoa
79 SC-110 Gruta dos Cactos B Lat 27° 34’ 25.0” S : Lng 48° 27’ 41.0” W S 27.57361 - W048.46139
80 SC-111 Ribanceira B Lat 27° 31’ 49.0” S : Lng 48° 29’ 45.0” W S 27.53028 - W 048.49583
81 SC-112 Gruta do Descanso B Lat 27° 31’ 42.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.52833 - W 048.49417
82 SC-113 Gruta dos Musgos B Lat 27° 32’ 13.0” S : Lng 48° 29’ 25.0” W S 27.53694 - W 048.49028
83 SC-114 Gruta do Regato B Lat 27° 32’ 09.0” S : Lng 48° 29’ 24.0” W S 27.53583 - W 048.49000
84 SC-115 Vozes B Lat 27° 43’ 28.0” S : Lng 48° 31’ 40.0” W S 27.72444 - W 048.49333
85 SC-116 Gruta das Águas B Lat 27° 31’ 41.0” S : Lng 48° 29’ 41.0” W S 27.52806 - W 048.49472
86 SC-117 Gruta do Veio D’Água B Lat 27° 31’ 24.0” S : Lng 48° 29’ 36.0” W S 27.52333 - W 048.49.333
87 SC-118 Virada B Lat 27° 31’ 56.0” S : Lng 48° 29’ 52.0” W S 27.53222 - W 048.49778
88 SC-119 Alagado B Lat 27° 31’ 47.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.52972 - W 048.49528
89 SC-120 Cipozeiro B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 50.0” W S 27.53278 - W 048.49722
90 SC-121 Morro da Virgínia 1 B Lat 27° 32’ 08.0” S : Lng 48° 29’ 48.0” W S 27.53556 - W 048.49667
91 SC-122 Morro da Virgínia 2 B Lat 27° 32’ 09.0” S : Lng 48° 29’ 48.0” W S 27.53583 - W 048.49667
92 SC-123 Morro da Queimada 1 B Lat 27° 36’ 30.0” S : Lng 48° 32’ 27.0” W S 27.60833 - W 048.54083
93 SC-124 Morro da Queimada 2 B Lat 27° 36’ 30.0” S : Lng 48° 32’ 27.0” W S 27.90833 - W 048.54083
94 SC-125 Morro da Virgínia 4 B Lat 27° 32’ 20.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.53889 - W 048.49528
Cam. Saco Grande e
95 SC-126 B Lat 27° 32’ 16.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.53778 - W 048.49528
Ratones
96 SC-127 Quebrada B Lat 27° 31’ 46.0” S : Lng 48° 29’ 43.0” W S 27.52944 - W 048.49528
97 SC-128 Morro da Virgínia 3 B Lat 27° 31’ 48.0” S : Lng 48° 29’ 44.0” W S 27.53000 - W 048.49556
98 SC-129 Encaixe B Lat 27° 31’ 47.0” S : Lng 48° 29’ 44.0” W S 27.52972 - W 048.49556
99 SC-130 Folhagens B Lat 27° 31’ 50.0” S : Lng 48° 29’ 48.0” W S 27.59056 - W 048.49667
100 SC-131 Paredão B Lat 27° 31’ 50.0” S : Lng 48° 29’ 52.0” W S 27.53056 - W 048.49778
101 SC-132 Partes B Lat 27° 31’ 42.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.52833 - W 048.49417
102 SC-133 Raizeira B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 50.0” W S 27.53278 - W 048.49722
103 SC-134 Guarapuvu B Lat 27° 31’ 36.0 S : Lng 48° 29’ 33.0” W S 27.52667 - W 048.49250
Morro da Pedra do Olho
104 SC-135 B Lat 27° 31’ 51.0” S : Lng 48° 29’ 54.0” W S 27.53083 - W 048.49833
Branco 1
Morro da Pedra do Olho
105 SC-136 B Lat 27° 31’ 52.0” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.53111 - W 048.49805
Branco 2
106 SC-137 Rastejo B Lat 27° 32’ 03.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53417 - W 048.49889
107 SC-138 Morro do Rapa 1 B Lat 27° 23’ 25.0” S : Lng 48° 24’ 49.0” W S 27.39028 - W 048.41361
108 SC-139 Morro do Rapa 2 B Lat 27° 23’ 27.0” S : Lng 48° 24’ 50.0” W S 27.39083 - W 048.41389
30

109 SC-140 Morro do Rapa 3 B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
110 SC-141 Morro do Rapa 4 B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
111 SC-142 Morro do Rapa 5 B Lat 27° 23’ 31.0” S : Lng 48° 24’ 48.0” W S 27.39194 - W 048.41333
112 SC-143 Morro do Rapa 6 B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38833 - W 048.41222
113 SC-144 Cima Costão da Brava B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38833 - W 048.41250
114 SC-145 Baixo Costão da Brava B Lat 27° 23’ 18.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38833 - W 048.41222
115 SC-146 Morro da Virgínia 5 B Lat 27° 32’ 02.0” S : Lng 48° 29’ 56.0” W S 27.53389 - W 048.49889
116 SC-147 Taquaral B Lat 27° 23’ 29.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.39139 - W 048.41417
117 SC-148 Raízes da Figueira B Lat 27° 31’ 45.0” S : Lng 48° 29’ 47.0” W S 27.52917 - W 048.49639
118 SC-149 Represa B Lat 27° 31’ 46.0” S : Lng 48° 29’ 49.0” W S 27.52944 - W 048.49694
119 SC-150 Trilha Subterrânea B Lat 27° 31’ 50.0” S : Lng 48° 29’ 51.0” W S 27.53056 - W 048.49750
120 SC-151 Ocos B Lat 27° 31’ 44.0” S : Lng 48° 30’ 29.0” W S 27.52889 - W 048.50806
121 SC-152 Duas Pedras B Lat 27° 23’ 30.0” S : Lng 48° 24’ 51.0” W S 27.39167 - W 048.41417
122 SC-153 Gargalo B Lat 27° 23’ 20.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.38859 - W 048.41278
123 SC-154 Cima B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 47.0” W S 27.38917 - W 048.41306
124 SC-155 Costão da Brava B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
125 SC-156 Pescadores B Lat 27° 23’ 21.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.38917 - W 048.41250
126 SC-157 Emaranhado B Lat 27° 31’ 49.0” S : Lng 48° 30’ 27.0” W S 27.53028 - W 048.50750
127 SC-158 Platô B Lat 27° 31’ 24.0” S : Lng 48° 30’ 15.0” W S 27.52333 - W 048.50417
128 SC-159 Canhada B Lat 27° 31’ 01.0” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.51694 - W 048.49805
129 SC-160 Areião B Lat 27° 31’ 31.0” S : Lng 48° 30’ 20.0” W S 27.52528 - W 048.50555
130 SC-161 Chuá B Lat 27° 23’ 31.0” S : Lng 48° 24’ 48.0” W S 27.39194 - W 048.41333
131 SC-162 Trilha do Lajeado B Lat 27° 23’ 26.0” S : Lng 48° 24’ 45.0” W S 27.39056 - W 048.41250
132 SC-163 Boa Vista B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
133 SC-164 Teto Baixo B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
134 SC-165 Trevos B Lat 27° 23’ 15.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38750 - W 048.41222
135 SC-166 Arvoreta B Lat 27° 23’ 16.0” S : Lng 48° 24’ 44.0” W S 27.38778 - W 048.41222
136 SC-167 Refúgio B Lat 27° 32’ 06.0” S : Lng 48° 29’ 55.0” W S 27.53500 - W 048.49861
137 SC-168 Desassossego B Lat 27° 23’ 29.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.39139 - W 048.41278
138 SC-169 Passagens B Lat 27° 23’ 27.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.39083 - W 048.41278
139 SC-170 Morro do Rapa 7 B Lat 27° 23’ 28.0” S : Lng 48° 24’ 47.0” W S 27.39111 - W 048.41306
140 SC-171 Morro do Rapa 8 B Lat 27° 23’ 15.0” S : Lng 48° 24’ 43.0” W S 27.38750 - W 048.41495
141 SC-172 Morro do Rapa 9 B Lat 27° 23’ 10.0” S : Lng 48° 24’ 42.0” W S 27.38611 - W 048.41167
142 SC-173 Morro do Rapa 10 B Lat 27° 23’ 17.0” S : Lng 48° 24’ 56.0” W S 27.38806 - W 04841556
143 SC-174 Gruta dos Ovos B Lat 27° 24’ 49.0” S : Lng 48° 24’ 14.0” W S 27.41361 - W 048.40389
31

144 SC-175 Gruta das Gaivotas B Lat 27° 24’ 49.0” S : Lng 48° 24’ 13.0” W S 27.41361 - W 048.40361
145 SC-176 Morro das Feiticeiras 2 B Lat 27° 24’ 34.0” S : Lng 48° 24’ 12.0” W S 27.40944 - W 048.40333
146 SC-177 Morro das Feiticeiras 1 B Lat 27° 24’ 26.0” S : Lng 48° 24’ 18.0” W S 27.40722 - W 048.40500
147 SC-178 Gruta Comprida B Lat 27° 23’ 19.0” S : Lng 48° 24’ 46.0” W S 27.38861 - W 048.41278
148 SC-179 Morro do Rapa 11 B Lat 27° 23’ 18.9” S : Lng 48° 24’ 45.9” W S 27.38858 - W 048.41275
149 SC-180 Cogumelos B Lat 27° 31’ 30.0” S : Lng 48° 30’ 19.0” W S 27.52500 - W 048.50528
150 SC-181 Nascente B Lat 27° 32’ 31.0” S : Lng 48° 28’ 34.0” W S 27.54194 - W 048.47611
151 SC-182 Morro da Virgínia 6 B Lat 27° 31’ 58.0” S : Lng 48° 29’ 45.0” W S 27.53278 - W 048.49583
152 SC-183 Rio Ratones B Lat 27° 32’ 33.0” S : Lng 48° 28’ 37.0” W S 27.54250 - W 048.47694
153 SC-184 Pedreira B Lat 27° 32’ 03.0” S : Lng 48° 29’ 53.0” W S 27.53417 - W 048.49805
154 SC-185 Cedro B Lat 27° 31’ 57.0” S : Lng 48° 29’ 41.0” W S 27.53250 - W 048.49472
155 SC-186 Jacatirão B Lat 27° 32’ 49.0” S : Lng 48° 29’ 20.0” W S 27.54694 - W 048.48889
156 SC-187 Muquém B Lat 27° 30’ 55.0” S : Lng 48° 29’ 18.0” W S 27.51528 - W 048.48833
157 SC-188 Remanso B Lat 27° 31’ 35.0” S : Lng 48° 29’ 37.0” W S 27.52639 - W 048.49361
158 SC-189 Anuros B Lat 27° 32’ 37.0” S : Lng 48° 29’ 31.0” W S 27.54361 - W 048.49194
159 SC-190 Ticum B Lat 27° 32’ 42.0” S : Lng 48° 29’ 29.0” W S 27.54500 - W 048.49139
160 SC-191 Rabeira B Lat 27° 32’ 32.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.54222 - W 048.49417
161 SC-192 Gruta do Passadiço B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53917 - W 048.49445
162 SC-193 Ribeiro B Lat 27° 32’ 19.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53861 - W 048.49445
163 SC-194 Valeiro B Lat 27° 32’ 16.0” S : Lng 48° 29’ 39.0” W S 27.53778 - W 048.49417
164 SC-195 Jardim B Lat 27° 32’ 10.0” S : Lng 48° 29’ 16.0” W S 27.53611 - W 048.48778
165 SC-196 Descenso B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 40.0” W S 27.53917 - W 048.49445
166 SC-197 Morro da Virgínia 7 B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 39,0” W S 27.53917 - W 048.49417
167 SC-198 Charco B Lat 27° 32’ 21.0” S : Lng 48° 29’ 38.0” W S 27.53917 - W 048.49389
168 SC-199 Cachopas B Lat 27° 32’ 41,0” S : Lng 48° 29’ 28,0” W S 27.54472 - W 048.49111

Tipos de cavernas
A Furnas de abrasão marinha Referências bibliográficas
B Formadas por blocos Tomazzoli, et al. Espeleologia na ilha de Santa Catarina

C Abismos ou fendas https://www.cavernas.org.br/wp-content/uploads/2021/07/31cbe_131-139.pdf


Condicionantes geológicas na geomorfologia da ilha de Santa Catarina - Diogo Barnetche
D Dolinas interligadas por condutos
http://www.cavernas.org.br/cnc/
E Sistemas de blocos interligados
Espeleogênese de Cavernas Colúvio-Marinhas da Ilha de Santa Catarina - SILVA, M.;
F Cavernas subaquáticas Horn Filho, N. O.; BASTOS, T. V.
*CNC - Cadastro Nacional de Cavernas

Observação: a letra “E” foi acrescentada por mim para classificar as cavernas de blocos que compõem um sistema. Isso foi feito para evitar que
algumas cavernas fossem cadastradas como se fossem isoladas. A letra “F” foi acrescentada para identificar cavernas cuja entrada fica submersa.
32

Figura 01 – Exemplo de percurso de trilha buscando cavernas


33

Figura 02 – Localização aproximada das cavernas na Ilha


34

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO NORTE

Figura 03 – Cavernas localizadas na região Norte da Ilha


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Figura 04 – Cavernas Extremo Norte / Morro do Rapa 1

Figura 05 – Cavernas Extremo Norte / Morro do Rapa 2


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Figura 06 – Cavernas Extremo Norte / Morro das Feiticeiras

Figura 07 – Cavernas Extremo Norte / Morro dos Ingleses 1


37

Figura 08 – Cavernas Extremo Norte / Morro dos Ingleses 2

Figura 09 – Cavernas Extremo Norte / Morro dos Ingleses 3


38

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO SACO GRANDE


(CENTRO/NORTE)

Figura 10 – Cavernas região Saco Grande (Centro/Norte) – Grande concentração de cavernas


39

Figura 11 – Cavernas região Saco Grande 2

Figura 12 – Cavernas região Saco Grande 3


40

LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO CENTRAL

Figura 13 – Região Central da ilha (inclui Monte Verde, Morro da Queimada, Costa da Lagoa e Rio Tavares)
41

Figura 14 – Cavernas região Central – Detalhe 1

Figura 15 – Cavernas região Central – Detalhe 2


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LOCALIZAÇÃO CAVERNAS REGIÃO SUL

Figura 16 – Localização cavernas da região Sul


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Figura 17 – Cavernas Sul da Ilha (Matadeiro – Lagoinha do Leste)

Figura 18 – Cavernas Sul da Ilha (Morro do Pântano)


44

Figura 19 – Cavernas Sul da Ilha (Lagoa do Peri)

Figura 20 - Cavernas Sul da Ilha (Saquinho – Naufragados)

As figuras aqui apresentadas são plotagens das coordenadas no Google Earth. A finalidade dessas plotagens é dar uma
noção da localização de cada caverna, esclarecendo assim alguma dúvida do leitor mais atento. Alguns locais possuem
grande concentração de cavernas, dificultando a visualização; neste caso, recomendo que o leitor faça a própria plota-
gem, utilizando a planilha do Excel constante neste trabalho.
45

OS MISTÉRIOS, OS MEGÁLITOS
E AS CAVERNAS DA REGIÃO NORTE

Trilhar pela Ilha da Magia é muito mais que aventura. É encantamento! Difícil
acreditar que tão próximo de um centro urbano possa existir natureza tão exu-
berante e selvagem. Desde que comecei a percorrer os caminhos encantados
da ilha, não parei de acrescentar, ao meu estilo de vida, surpresas e admiração.
Torna-se difícil falar sobre minhas próprias experiências, pois as palavras se tor-
nam insuficientes para expressar tudo o que a alma sente!

É impossível trilhar os caminhos da ilha sem que encontremos três coisas


maravilhosas: cavernas, megálitos e mistérios. A natureza providenciou, aqui
neste “pedacinho de terra no meio do mar”, uma perfeita combinação de energia
e matéria. São instigantes demais as cenas que os olhos podem vislumbrar! A
princípio, a mente, incrédula, não distingue muito bem as coisas. As rochas se
confundem com o mar e algum verde-oliva completa os tons, azulados quando o
céu é transparente e cinzentos quando as nuvens prevalecem. O viajante preo-
cupado apenas com a performance física e desapegado das emoções certamente
passará pelos lugares lembrando apenas as dificuldades oferecidas pelo cami-
nho. Costões com imponentes paredões quase verticais, o imenso oceano es-
meraldino, turquesa ou cinzento, imitando sempre a cobertura celeste; às vezes
calmo, outras furioso como se Netuno viesse à superfície expor sua ira contra os
mortais indiferentes às titânicas forças!

O Morro dos Ingleses é um desses lugares perfeitos para divagações da men-


te. Observar os imponentes guardiões pétreos que vão se demonstrando aqui e
ali é um exercício mental incrível. Impossível olhar para eles sem questionar: como
foram parar em determinados lugares? A natureza, quando manifesta suas forças,
não o faz com sutilezas. Ao contrário, são manifestações ruidosas e imponentes,
que não permitiriam determinados estados de equilíbrio. Ao observar as cavernas,
podemos ter a noção do poderio dessas forças. Aqui na ilha, as cavidades são,
basicamente, de dois tipos: as furnas de abrasão marinha, formadas pela ação da
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Foto 05 - Pedra Redonda Foto 06 – Pedra do Cubo

Foto 07 – Pedra do Gambá (aspecto do costão)


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água e do vento, num trabalho lento e contínuo, impossível de ser observado pela
visão humana, pois leva milhares ou milhões de anos, modificando-se sempre, sem
jamais ser concluído. Outro tipo de caverna é formado por blocos de granito, na
maioria das vezes gigantescos, que as mesmas forças titânicas empilharam, talvez
durante éons. Aí o mistério se manifesta! Enquanto a visão clareia, a mente se con-
funde... Por mais questionamentos e intrigas causadas ao espírito, a razão sempre
busca explicar os fenômenos através de forças inteligentes. São tantos alinhamen-
tos, tantas formas esculturais, tanta precisão que, em certos momentos, torna-se
difícil acreditar em simples coincidências. Não são poucas as formações interes-
santes encontradas por aqui. Existem alguns alinhamentos complexos, com pontos
específicos localizados em outros morros, da ilha ou do continente, e até mesmo
com algumas estrelas. O Morro dos Ingleses foi o primeiro a ser explorado por mim
logo que cheguei a Florianópolis. A elevação ficava muito perto da minha casa.
Já nas primeiras trilhas, começaram as descobertas. Talvez as mais significativas
sejam os sítios arqueológicos, lugares que apresentam antigos sinais da presença
humana em toda parte. Desde a pré-história. No sul da praia dos Ingleses, logo
de cara, é possível encontrar marcas deixadas por antigos povos. Ali existe uma
interessante oficina lítica, do tempo da Pedra Polida. Vários indícios que o local foi
muito utilizado para fabricar e polir ferramentas e ornamentos. As marcas estão
por toda a parte. O Morro dos Ingleses também conta um pouco da história mais
recente da ilha. A mata Atlântica original foi praticamente devastada a partir do
século XVIII, devido ao plantio da cana-de-açúcar. A oficina lítica que citei fica no
flanco oeste do morro, onde uma linda enseada, sempre bordada por pequenas
embarcações coloridas, ancoradas naquela calmaria, dá um especial destaque para
a praia dos Ingleses. A partir desse ponto, podemos seguir várias trilhas, tanto no
sentido sul, pelas dunas, rumo à praia do Santinho, ou pelo costão, rumo à pon-
ta norte do morro. Contudo, existem opções que cruzam pelo pico do morro. A
Ponta do Barcelos é o ponto extremo oriental, do morro e da ilha. Logo depois de
atravessar o deque, sempre movimentado, paralela ao costão existe a trilha que
foi batizada de “Caminho do Engenho”. É uma espécie de leque com muitas bifur-
cações expandindo as opções para explorar a região. Se continuarmos pela trilha
citada, além do local onde ficava o tal engenho, com certa dificuldade, chegaremos
à ponta Norte, onde começaremos a nos deparar com as estruturas mais incríveis
que a mente pode imaginar. Ao se aventurar por ali, é preciso estar sempre aten-
48

to, pois a cada momento podemos encontrar coisas bonitas. No caminho pode-
mos ver, por exemplo, as marcas deixadas por tropas de mulas que ao longo dos
anos transportaram no lombo pesadas cargas. Marcaram o solo, deixando cicatri-
zes profundas, perpetuamente gravadas na geografia do morro. Ao chegarmos à
ponta norte é quando realmente começam os desafios. Os íngremes e recortados
costões guardam incríveis surpresas em cada palmo de terreno. Recentemente,
localizamos ali uma caverna, dica de um mergulhador e pescador. Na história con-
tada pelo homem, os piratas esconderam tesouros ou pelo menos teriam ocultado
algum segredo nos vãos daquelas pedras. Não creio nessa história porque é uma
caverna muito pequena e de difícil acesso, estreita demais e fustigada constante-
mente pelo mar nas duas aberturas que possui no nível d’água. Dá a impressão de
que a caverna se formou pela fratura de um gigantesco bloco de granito, gerando
uma fenda profunda. Tentei acessá-la por uma espécie de chaminé, chegando até
uma plataforma formada por uma pedra que entalou mais ou menos na metade da
parede, a uns cinco metros de profundidade, a partir do topo do bloco de granito.
Utilizando rapel, fui até ali, e foi o máximo que consegui, pois a força das ondas
comprimia violentamente a água naquele vão de pedras, fazendo subir o nível de
forma explosiva, como se fosse um gêiser. Talvez a caverna não possua nenhum
interesse histórico ou científico, mas, para aventura, foi um prato cheio.

Bem em frente à Caverna dos Piratas (talvez Fenda dos Piratas seja uma des-
crição mais razoável), encontra-se a Pedra do Gambá. Localizada em um plano alto
e inclinado, o terreno oferece um pouco de dificuldade para chegar a ela. É um lindo
monumento megalítico. Nesse lugar, confrontando aquela formação, começa uma
viagem mental. Quando nos aprofundamos na pesquisa, surge a constatação de al-
gumas curiosidades. Há certa precisão de alinhamento, por exemplo, entre a posição
do Sol, no amanhecer do solstício de verão; a Pedra do Gambá; a Pedra do Equilíbrio,
localizada no Morro das Feiticeiras, e a Pedra do Amendoim, em Governador Celso
Ramos. São muitos questionamentos que vêm à mente. Existem sítios arqueológi-
cos com muitas inscrições rupestres, localizados na Ilha do Arvoredo, no Morro dos
Ingleses e em Governador Celso Ramos. Segundo o professor Admir Ramos, que
estuda os enigmas das inscrições rupestres e dos megálitos desde os anos 80, é pos-
sível que haja alguma relação desses pontos com a Arqueoastronomia, ciência a qual
ele tem se dedicado intensamente a estudar, mas que ainda tem pouca divulgação
49

Foto 08 – Fenda dos Piratas (Chaminé)

Foto 09 – Fenda dos Piratas, pequena, de difícil acesso


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no Brasil. Difícil acreditar que o equilíbrio dos blocos em um plano tão inclinado seja
apenas obra do acaso.

Mas não terminam aí as intrigantes curiosidades do Morro dos Ingleses.


Localiza-se nele o extremo Leste da ilha, local denominado “Ponta do Barcelos”,
onde há um colossal megálito, muito maior e mais imponente que a Pedra do
Gambá, conhecido por “Pedra da Guarita” ou da “Gurita”, como dizem alguns.
Essa impressionante escultura ergue-se sobre os rochedos como se tivesse
sido colocada ali para sinalizar alguma coisa. Olhando atentamente, parece
que o imenso bloco foi nivelado sobre uma plataforma, pois está apoiado sobre
três pequenos blocos de granito. Difícil até de imaginar por que esses peque-
nos blocos não viraram poeira, esmagados pelo peso da gigantesca pedra. É um
lugar de incríveis energias; onde o mar, sempre agitado, vive açoitando o cos-
tão. Em dias de tempestade, a força das ondas atinge quase o topo daqueles
rochedos, a mais de 20 metros de altura em relação ao nível normal. Digo isso
sem exageros, porque já tive a oportunidade de constatar e aprender uma im-
portante lição. Fui atingido por uma onda, lá em cima. Só não foi uma tragédia
por conta de uma fresta entre os rochedos, que me permitiu a proteção, evi-
tando assim que eu fosse levado pela força da enorme massa de água. Banho
tomado, celular e máquina fotográfica destruídos, mas saímos sãos e salvos, eu
e o GPS, apesar de encharcados. Lição aprendida na prática. Nunca subestime
o perigo em trilhas de costão!

Entre a Pedra da Guarita (extremo Leste da ilha) e a ponta Norte do Morro


dos Ingleses, naquele curto trecho de costão, existe uma infinidade de atrativos
para quem gosta de se aventurar. Blocos de granito para escalar, rapel, observa-
ção de animais, desbravamentos, fotografia e orientação geográfica são algumas
das opções disponíveis. Tudo isso com diferentes níveis de dificuldade, que vão
de simples trilhas até atividades complexas com alto grau de dificuldade. Existem
três pontos marcantes nesse trecho: a caverna Ingleses, uma furna de abrasão
marinha de difícil acesso, a Pedra Redonda e o Templo das Esculturas, este último
foi assim batizado por conta das esculturas naturais formadas por ação do vento
e da água. Quem trilhar por ali desatento certamente não perceberá as maravi-
lhas que estão escondidas em um pequeno espaço de rochas esbranquiçadas.
51

Foto 10 - Pedra da Guarita açoitada pelas ondas

Foto 11 – Visão geral da Pedra da Guarita


52

Foto 12 – Entrada caverna Ingleses (nem sempre acessível)

Foto 13 – Aspecto do Templo das Esculturas


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Além das cavernas Ingleses e Piratas, citadas anteriormente, continuando os


desbravamentos rumo ao sul do morro poderemos encontrar mais cinco cavernas
(duas delas não cadastradas, uma porque não pode ser explorada e a outra eu
desconheço o motivo). Destaca-se a SC-51 – Encantada, cavidade que faz jus
ao nome que tem. Considerada por alguns como sendo do tipo abismo em fen-
das, embora não seja tão profunda para ser considerada um abismo; é uma linda
caverna com paredes verdes, que parece misturar estilos de cavidades. Há partes
formadas por erosão e outras pelo empilhamento de blocos de granito, fendas e
dolinas. A entrada principal é semelhante a um poço. Está localizada no costão
leste do Morro dos Ingleses, tendo acesso por uma trilha relativamente fácil.
Entretanto, a caverna pode passar despercebida para algum trilheiro desatento.
Optamos pelo acesso através de corda, utilizando rapel, pois assim não se fez
necessário remover vegetação ao redor da boca de entrada e também ofereceu
maior segurança para as pessoas. No verão, devido ao posicionamento do Sol
mais ao sul, a caverna é melhor iluminada. De maneira geral, é bastante úmida,
com musgo cobrindo as paredes, daí a cor verde, e existem muitos pontos de in-
filtração, onde podemos visualizar alguns espeleotemas. Internamente, ela pos-
sui túneis relativamente profundos, quase verticais. Logo na entrada, existem
dois deles no lado sul. Esses túneis dão acesso ao costão do morro, bem próximo
ao nível do mar. No fundo, lado oeste, existe infiltração de água que transporta
algum mineral, talvez calcário (ou salitre), pela coloração branca. Ali estão se
formando, muito lentamente, algumas estalactites. São muito pequenas e delica-
das e é preciso tomar bastante cuidado para não quebrá-las. Não é recomendado
colocar muitas pessoas lá dentro, no máximo cinco, além de um guia que conhe-
ça bem a caverna, a fim de orientar o pessoal. Gosto de meditar no interior dela.
É preciso muito cuidado com pedras soltas, pois é difícil um local plano. Algumas
pedras de tamanho razoável podem rolar com facilidade e causar algum tipo de
acidente grave. Para sair da caverna, é preciso escalar uma parede de uns oito
metros de altura, é recomendável usar uma corda de segurança e um trava-que-
das para não colocar em risco a integridade física dos visitantes. Outra opção é
descer por um dos túneis que levam até o costão. Nesse caso, deve-se redobrar
os cuidados, pois é um túnel muito estreito, bem vertical e muito escorregadio.
Costumo sempre usar cordas de segurança. É obrigatório o uso de capacete e
lanterna pois, em determinado ponto, nenhuma luz penetra nesse túnel. Mais
54

abaixo, próximo ao nível do mar, podem ser encontrados vários compartimentos,


alguns deles são efeito da erosão marinha, outros formados pelo empilhamento
de blocos de granito relativamente grandes, que rolaram costão abaixo em algum
momento, formando lindos salões. Várias espécies de fungos, opiliões e algumas
plantas podem ser apreciadas no salão principal da caverna. Estive na Encantada
muitas vezes, mas na última visita que fiz, fiquei triste pela falta de consideração
que alguns indivíduos têm pelas belezas naturais. Algum visitante sem consci-
ência pichou as paredes da caverna imitando desenhos rupestres encontrados
na região. Como se não bastasse, destruíram muitas estalactites que estavam se
formando, tinham entre cinco e dez centímetros. A natureza deve ter levado um
bom tempo para construí-los. Infelizmente, nem todos os trilheiros são amigos
da natureza; entretanto, não devemos impedir o acesso dessas pessoas nesses
locais, é preciso ensiná-los, dar exemplos para que possam formar uma opinião
sobre a necessidade de preservar esses ambientes. Existe um conflito com o
nome registrado, alguns conhecem essa caverna pelo nome de “Toca da Onça”.
Vale a pena ressaltar a beleza da paisagem nos arredores. Costões íngremes e
perigosos onde, frequentemente, podem ser observadas algumas cabras que se
criaram por ali, formando pequeno rebanho selvagem.

Foto 14 – Acesso por rapel Foto 15 – Interior da caverna


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Foto 16 – Túnel interno

Um pouco ao norte da Encantada, sempre açoitada pelo mar, está a SC-41 -


Furna do Santinho. Das cavernas aqui do norte da ilha, essa, a meu ver, merece
destaque especial. Primeiro, pela beleza selvagem do lugar, com imensos pare-
dões de granito e basalto, entrecortado aqui e ali por alguma vegetação; segun-
do, pela dificuldade de acesso. Foram seis investidas. Localizei a caverna (embo-
ra com certa dúvida) na primeira visita ao local, depois foram quatro tentativas
frustradas, sempre esbarrando em algum obstáculo que poderia comprometer a
segurança — e sempre acompanhado pelo Marino Casagrande, meu fiel escudei-
ro. Por fim, depois de muitos erros de percurso, acessamos a caverna por rapel.
Difícil descrever a emoção de chegar lá dentro, foi como pisar em solo sagrado!
Trata-se de uma furna de abrasão marinha, não é muito profunda, uns 40 me-
tros até onde se pode ir sem dificuldade de locomoção. Ali no local considerado
como fundo da caverna, um túnel muito estreito se propaga não sei por quantos
metros. Não tem como acessar essa estreita passagem que está atulhada de
rochas, raízes de plantas (principalmente gravatá) e muito plástico, tudo trazi-
do pelo mar, pois não existem plantas dentro da caverna e dificilmente alguém
adentraria essa furna de difícil acesso, deixando lá algum tipo de lixo. Imensos
paredões rochosos formam incríveis silhuetas. A abertura de entrada da caverna
tem cerca de 20 metros de altura e aproximadamente oito metros de largura;
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depois, afunila-se de tal forma que no fundo não dá para permanecer em pé. É
uma formação exuberante, granitos amarelados (outros cinzentos) de um lado e
basalto negro de outro. Um rio de lava separou o granito. É de se sentir pequeno
ante a visão daquelas monumentais paredes que se erguem quase em linha reta.
Para sair da furna, ascendemos pelas cordas que haviam sido utilizadas para o
rapel. Um rapel bem complicado, aliás, por conta das arestas afiadíssimas exis-
tentes na parede de basalto. Cortavam como o fio de um bisturi! Aquelas pare-
des não oferecem muita segurança, para o rapel ou escalada. Foi uma empolgan-
te aventura explorar essa caverna, muitas surpresas agradáveis. Descobrimos
que ela não está sozinha. No lado esquerdo, existe outra furna, maior e de mais
difícil acesso, que batizamos de “Furna do Santinho 2”, e do lado direito existe
uma fenda estreita que possivelmente seja uma terceira furna; entretanto, não
foi possível explorar ainda, devido às condições desfavoráveis do mar.

Foto 17 – Interior da caverna Foto 18 – Portal de entrada


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Foto 19 – Entrando na caverna Foto 20 – Funil

Foto 21 – Detalhe na parede Foto 22 – Furna 2 (inacessível)


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Precisaria de um livro dedicado só ao Morro dos Ingleses para que fosse


possível descrever todas as belezas que existem por lá. Bem próximo da caverna
Encantada, um pouquinho mais para o sul, tem uma pequena furna, no alto de um
paredão, é a SC-67 – Cabras, tão pequena que mal serve de abrigo. Entretanto, a
paisagem vista de dentro dessa microcaverna é maravilhosa. Podemos observar
ali uma pequena ilha — alguns chamam o lugar de “Pedra da Fenda”; eu, particu-
larmente, dou essa denominação para outro local, próximo dali, ao qual o nome
é mais apropriado. A trilha para chegar até lá é bem desafiadora, com íngremes
paredões, onde um escorregão pode provocar um acidente relativamente grave.

Foto 23 – Vista de frente Foto 24 – Paisagem vista do interior

Foto 25 – Paisagem vista de frente


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Os desenhos daquele costão são atrativos à parte para os aventureiros


atentos, que gostam de apreciar as formas desenhadas pela mãe natureza. Não
há muito o que comentar sobre a SC-67, mas as fotos podem dar uma ideia
da beleza rara do lugar. Um pouco mais ao sul da Cabras, seguindo pelo cos-
tão, há um maravilhoso sítio arqueológico contendo dezenas de petróglifos.
Infelizmente, o local não está sendo preservado. Os desenhos estão quase que
totalmente destruídos pela ação do tempo. Muito em breve só existirão vestí-
gios difíceis de identificar.

Foto 26 – Seria uma escultura antiga? Foto 27 – Petróglifos

Foto 28 – Mais petróglifos


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Um pouco mais ao norte, ainda no bairro Ingleses do Rio Vermelho, localiza-se


o Morro das Feiticeiras. Ali, a praia recebeu o nome de “Gaivotas”. É um pequeno
morro tanto em elevação quanto em área. Existem cinco cavidades nesse morro, a
SC-27 – Feiticeiras (ou Bruxa) é a maior e de mais fácil acesso. Além de ter sido a
primeira explorada por mim, sem dúvida alguma ela foi a mais visitada até hoje. Isso
se deve ao fato de sua localização estar praticamente em uma área urbana. Embora
fique escondida pela mata, o acesso até ela é muito fácil. Trata-se de uma caverna
de blocos de granito, que formam uma espécie de saguão principal com cerca de
70 metros quadrados. Depois, numa parte alta do lado norte, por uma espécie de
galeria estreita, chega-se a bifurcações que levam até uns compartimentos meno-
res, onde não é possível ficar em pé. Rastejando em um desses braços, retornamos
ao salão principal, o outro conduz a uma saída (ou entrada) secundária; ali, num
pequeno salão, também é possível permanecer em pé. Existem algumas aberturas
entre os blocos encaixados que permitem sair da caverna por cima. Possui uma
beleza singela e um certo misticismo, mais em função do nome do que pela caverna
em si. Lá vivem algumas espécies de artrópodes e morcegos. Estes podem ser vis-
tos pendurados em fendas no teto ou revoando em tocas pelo interior da caverna;
aqueles transitando pelas paredes, principalmente os opiliões, muito comuns em
toda a ilha. Em dois pontos de entrada, existem figueiras que engoliram as pedras
e tendem a fechar a entrada com suas poderosas raízes. A gruta Gaivotas (SC-175,
foto 30), embora pequena, também merece certo destaque pela beleza do interior,
possuindo uma abertura para o mar, por onde adentram a luz e as ondas, estas
produzem um som grave que ecoa no interior da cavidade.
61

Foto 29 - Saguão de entrada da caverna da Bruxa Foto 30 – Interior da gruta Gaivotas

Foto 31 – Opilião, comum nas cavernas da ilha


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Mas nem só às cavernas se resumem os mistérios do Morro das Feiticeiras.


Trilhando pelo costão dessa pequena elevação, iremos nos deparar com incríveis
formações graníticas ou basálticas. Algumas parecem monumentos erguidos aos
deuses da natureza, outras parecem obras de arte de algum escultor misterioso.
Dentre os monumentos megalíticos, o que desperta maior curiosidade é a “Pedra
do Equilíbrio”; esse monumento megalítico mexe realmente com nossos neurô-
nios. Será que foi obra da inteligência humana equilibrar um bloco de granito
assim, com tamanha precisão? Num simples passeio, com o olhar atento, encon-
traremos muitos enigmas para desvendar!

Foto 32 – Cabeça da Tartaruga Foto 33 – Pedra do Equilíbrio

Foto 34 – Portal
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Um pouquinho mais ao norte, logo depois de atravessar a praia Brava, en-


contra-se o “Morro do Rapa”. Essa bela elevação também guarda seus encantos
e mistérios. Nela, encontra-se o ponto mais setentrional da ilha. Além disso, há
os aspectos históricos, incluindo uma invasão espanhola no século XVIII. A ilha
de Santa Catarina ficou por um ano e meio nas mãos da Espanha. Apesar das for-
tificações portuguesas existentes, em 23 de março de 1777, a armada espanhola
chegou com 117 navios e desembarcou em Canasvieiras. Na extremidade norte
do Morro do Rapa, próximo ao local hoje conhecido como “Ponta do Bota-Fora”,
foi erguida então uma atalaia, a fim de vigiar toda a movimentação daquele setor.
História à parte, os costões desse morro oferecem imagens magníficas para os
olhos do aventureiro. Lindas formações rochosas imitando o aspecto de animais,
tão perfeitas que parecem ter sido esculpidas por mãos de artistas. Trilhas diver-
sas, tanto pelo costão quanto pelo meio da vegetação, que ainda conserva um
pouco de mata Atlântica, nos levam a incríveis lugares; pontos para escalada e
rapel, mirantes para fotografia e muitas cavernas de blocos de granito. Existem
29 cavernas cadastradas no Morro do Rapa; encontramos duas que ainda não
foram catalogadas. É possível que haja alguma ainda por descobrir. A maioria
das cavidades são formadas por blocos de granito, pequenas tocas ou grutas.
Destaco, entre elas, a SC-11 – Gruta do Rei; o acesso a essa caverna se dá pela
trilha do Churão, localizada no extremo norte da praia Brava, subindo o Morro
do Rapa próximo ao costão.

Foto 35 – Salão principal da Gruta do Rei


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Foto 36 – Lona para registro de visitas

Foto 37 – Túnel principal


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Naquela região, existem muitas grutas pequenas formadas por blocos de


granito, tanto nos costões como ao largo da trilha. O diferente nessa caverna é
que tem alguém morando nela. Ainda não tive a oportunidade de encontrá-lo,
mas os vestígios de um morador estão presentes. A caverna foi inclusive inter-
ditada em determinado momento. Talvez para expulsar de lá outro morador ou o
mesmo que hoje habita a morada. A entrada havia sido bloqueada com chapas
de compensado naval, pedras e cimento. Esse material foi retirado e aproveitado
para fazer utensílios, tais como prateleiras, divisórias e um pequeno catre. O
morador colocou, bem na entrada, uma lona com um pincel atômico pendurado
por um barbante, para que os visitantes registrem a passagem. É uma caverna
bem interessante; além do salão principal que forma a entrada, existem alguns
túneis estreitos, que levam a outros compartimentos. Não chegamos a explorar
totalmente a caverna, mas existe muito próximo a ela outra cavidade que possi-
velmente seja interligada por algum túnel estreito. É um lugar um tanto sinistro,
lúgubre, porém encantador. Outra cavidade interessante é a SC-10 – Gruta da
Brava; formada por blocos de granito, que está localizada no extremo norte da
Praia Brava. Ainda não foi totalmente explorada, mas por informações obtidas,
ela se estende por pelo menos 300 metros.

Foto 38 – Vista geral do local da gruta SC-10


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Foto 39 – Uma das entradas da gruta Foto 40 – Detalhe da entrada

Outra caverna bem escondida em meio à vegetação é a SC-54 – Gruta do


Rapa. Fica bem próxima da trilha que vai da Brava até a Lagoinha do Norte, atra-
vessando o Morro do Rapa pelo topo, sendo o acesso a ela relativamente fácil. É
uma caverna de blocos de granito. As aberturas de entrada são bem estreitas, o
que torna um pouco difícil o acesso; além disso, pouquíssima luz incide dentro
da cavidade. Logo no início, há uma pequena câmara onde é possível observar
alguns opiliões, artrópodes que erroneamente são chamados de aranhas (aranha
bode, aranha fedorenta); a diferença básica é que o cefalotórax e o abdômen
deles constituem uma só estrutura; possuem quatro pares de longas pernas, sen-
do que o segundo par, mais alongado, tem função tátil, funcionando tal como
antenas. É um animal inofensivo, mas possui glândulas que exalam um cheiro
horrível. Nunca esmague um opilião se não quiser sentir o fedor! Em nossas jor-
nadas, esse é o animal mais frequentemente encontrado dentro de cavernas;
entretanto, essa espécie apareceu em abundância na caverna do Rapa, bem mais
que em outras. Logo depois dessa antecâmara, por uma estreita passagem, che-
gamos a uma câmara maior. O local é totalmente escuro, nem um mísero raio de
luz penetra o ambiente. Nessa escuridão, permanecendo em silêncio, é incrível a
percepção sonora. Flagramos um microcórrego de água cristalina, tão pequeno
e insignificante, que produzia um som tão delicado... parecia música! Foi mui-
to bom curtir aqueles sons tão fraquinhos destacando-se no silêncio abissal.
Pareciam sons guturais emanados da profundeza da caverna.
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Foto 41 – Entrada principal SC-54 Foto 42 – Um dos acessos ao interior

Foto 43 – Salão principal


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CAVERNAS DO CENTRO/NORTE –
REGIÃO SACO GRANDE/ MORRO DA VIRGÍNIA

Um dos mais incríveis e surpreendentes lugares para explorar cavernas é a


região do Saco Grande, principalmente no entorno do Morro da Virgínia. Existem
muitas cavidades naquela região (mais de 60), todas de blocos de granito (tipo
B). Muitas delas de difícil acesso e difícil exploração. Teremos atividades nessa
região por muito tempo ainda, até que todas as cavernas sejam devidamente ex-
ploradas. É nessa região que se encontra a mais extensa caverna da ilha de Santa
Catarina. Trata-se da SC-17 – Gruta da Água Corrente. Ela não é uma caverna
simplesmente, mas um complexo de salões com várias entradas, que se estende
por mais de mil metros. A trilha inicia onde está sendo construído um condomínio
horizontal, bem próximo da cidade do mel. Embora a caverna esteja bem escondi-
da na mata, a trilha para chegar até ela não oferece muitas dificuldades.

Foto 44 – Uma das entradas da SC-17


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Foto 45 – Aspecto de um dos salões

Foto 46 – Interior
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Essa caverna reserva muitas surpresas ainda, além de ser a mais extensa que
exploramos. Visitamos 15 salões; um deles, que consideramos o principal, por
conta do tamanho e dos efeitos de iluminação, apresenta características muito
peculiares. Nós nos arrastamos por passagens muito estreitas, pois a caverna
possui várias claraboias, túneis, condutos de água e passagens suficientes para
que uma pessoa se perca em seu interior. Jamais deverá ser visitada sozinho;
caso a exploração seja feita por uma dupla, convém que permaneçam juntos.
Em uma das visitas que fizemos, Marino e eu nos separamos em um determina-
do salão e não conseguimos mais nos encontrar. Saímos da caverna em locais
distintos, uns 600 metros de distância um do outro. Além disso, algumas saídas
levam a lugares muito árduos e difíceis de progredir, entre pedras, emaranhados
de cipós e espinhos. Um dos salões que visitamos, bem amplo por sinal, possuía
uma claraboia que, apesar de alta, propiciava um incrível efeito de luz. Também é
possível encontrar no interior da caverna imensas raízes que penetram vertical-
mente da superfície para o fundo da caverna, esgueirando-se por entre pedras,
atingindo 15 metros ou mais de comprimento e razoável diâmetro. São espetá-
culos à parte! Também é possível observar córregos de água cristalina e muitos
opiliões. Ela é objeto de estudos mais avançados pelos espeleólogos.

Fotos 47 e 48 - Poderosas raízes adentram


por alguns salões das cavernas, esgueiran-
do-se pelos vãos das pedras, até encontrar
solo fértil e úmido. Algumas dessas raízes
apresentam formas interessantes, parecem
obras de arte. A foto 47 é na gruta da Água
Corrente e a 48 na gruta Rio Valdik. Quase
todas as cavernas dessa região e adjacências
possuem riachos subterrâneos. São muito
semelhantes quanto ao aspecto e formadas
pelos mesmos princípios. Normalmente, lo-
calizam-se em talvegues íngremes, por onde
as águas escorrem com certa velocidade.
Quase sempre visitamos essas cavernas em
condições de pouca água, mas já tivemos a
oportunidade de nos depararmos com fortes
correntezas na SC-80 – Riacho Subterrâneo.
Alguns túneis dessas cavernas devem inun-
dar completamente com chuvas intensas.
Não convém explorar essas grutas nas épo-
cas de chuvarada.
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Muitas cavernas dessa região são dignas de respeito, de rara beleza, não pela
caverna em si, mas pelo entorno. Explorando atentamente a região, encontramos
vários complexos de formações contendo tocas, grutas e abrigos que talvez se in-
terliguem por condutos estreitos. Esses complexos salientam-se, em grande parte,
pelo tamanho gigantesco dos blocos de granito, que formam vários recantos, como
se fossem cenários de cinema. Algumas dessas formações possuem túneis profun-
dos e estreitos, difíceis de explorar. Os olhos parecem não conseguir captar todas as
nuances, pela imponência, o espírito se encanta com tanta beleza! Algumas dessas
cavidades parecem templos perdidos, como nas aventuras de Indiana Jones — ape-
sar de os locais serem muito próximos da civilização. São tantas formações em uma
área relativamente pequena, que torna-se quase impossível explorar tudo o que por
lá existe; pelo menos em um curto espaço de tempo. Além disso, é uma região com
grande potencial para novas descobertas. Sem dúvida alguma, teremos muito tra-
balho para desbravar totalmente o lugar. As cavernas por ali existentes, na grande
maioria, exigiriam mais do que uma simples visita de reconhecimento. Em algumas,
retornamos várias vezes e, a cada nova visita, houve também nova descoberta.

Nessa complexidade e em meio a tanta dificuldade, a região tornou-se bastan-


te especial em minhas pesquisas. Há inclusive evidências de que nos córregos da
região exista uma espécie de peixe que já havia sido considerada extinta. É preciso
ter muito cuidado com a especulação imobiliária, pois o lugar apresenta um deli-
cado equilíbrio e a ação humana está sendo perniciosa. A captação de água para
algumas propriedades e comunidades está ocorrendo de forma não planejada, al-
terando ou interrompendo muitas vezes o curso dos rios ou córregos.

O Morro da Virgínia e seu entorno talvez seja um dos lugares que mais guar-
da mistérios. Incríveis formações rochosas, vegetação exuberante, muitas caver-
nas, caminhos antigos e muitas histórias. Foi no Morro da Virgínia que encontrei
conjuntos magnânimos de formações rochosas, lugares perigosos e difíceis de
explorar e muitas emoções. Mas é surpreendente observar a região que bati-
zamos por “Complexo das Pedras Grandes”. Ali podemos encontrar as grutas
Pedras Grandes, Bromélias, Casa de Pedra, Buracos, Ramais, Escondida, Paredão
e Saco Grande. Muitas outras existem ao longo do morro, mas a região dessas
cavernas é algo impressionante. Blocos gigantescos de granito, poços profundos
72

escondidos na vegetação, locais árduos de explorar, íngremes encostas e terreno


difícil de progredir. As cavernas encontradas por ali também não deixam por me-
nos; não facilitam em nada a vida dos eventuais exploradores de suas entranhas.
Algumas foram extremamente difíceis de encontrar.

Fotos 49 a 52 – Os imensos blocos formando paredões


e entradas escondidas como se fossem tocas de animais
diferenciam esse trecho do morro.
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Muito há para descobrir ainda sobre as cavernas e os caminhos da região


do Saco Grande. O Morro Ribeirão das Pedras (347 m), o Morro da Virgínia (321
m) e o Morro da Pedra de Listra (384 m) separam Ratones do Estreito e do Saco
Grande. Por ali, existem caminhos antigos, desbravados pelos primeiros explo-
radores e certamente muitos caminhos foram percorridos por índios carijós. Em
uma de nossas investidas pela região, conhecemos um senhor que nos contou
uma história sobre um local chamado “Pedra do Olho Branco”, que fica no Morro
Ribeirão das Pedras. Segundo ele, cerca de uns 70 anos atrás, uma tribo de ín-
dios carijós vivia naquela região de difícil acesso. Contou também que, quando
criança, fez visitas a esses nativos, acompanhado pelo seu avô, que com os ín-
dios mantinha relações amigáveis. Narrou inclusive as peripécias para chegar ao
local. Acredito que historiadores dedicados encontrarão por lá muitos motivos
para pesquisas, embora eu ache essa história pouco plausível. Os espeleólogos
Rodrigo Dalmolin e Hélio Carvalho estão empenhados na pesquisa do antigo ca-
minho, que vai de Ratones até o Saco Grande pelo vão dos Morros Virgínia e
Ribeirão das Pedras.

É uma região bem complexa, com morros para todos os lados e muitos tal-
vegues. Não é à toa que ali se encontra a maior concentração de cavernas de
toda a ilha. E muitas trilhas também, inclusive para a costa da lagoa. Tivemos a
oportunidade de conhecer alguns desses caminhos antigos e ficamos encanta-
dos com o que vimos.

Foto 53 – Formações incríveis e densa vegetação.


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Fotos 54 a 56 – As exuberantes paisagens do Morro da Virgínia, cavernas Borbulhos e Murmúrio.


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Uma formação interessante localizada no morro Pedra de Listra é a Pedra


do Balão, um imponente bloco de granito com mais de 10 metros de altura,
apoiado em uma plataforma também de granito, que parece ter sido aplainada
e preparada para apoiar o megálito. A localização estratégica da formação faz
a mente questionar sobre o rigoroso equilíbrio que se mantém sabe-se lá por
quantos séculos.

Foto 57 – Pedra do Balão


76

AS CAVERNAS DA REGIÃO CENTRAL DA ILHA

A região Central da ilha apresenta uma pequena concentração de cavernas,


apenas 13 cavidades cadastradas. É também a região que menos foi explorada
por mim. Não significa que por lá não existam belezas, tampouco que haja de-
sinteresse pela região. Muitas propriedades particulares e várias comunidades
estão localizadas nessa área, e alguns locais sob influência do tráfico de drogas.
Infelizmente, esse é um aspecto dos centros urbanos que não pode ser negligen-
ciado. Muitas vezes, precisamos de guias locais, um líder comunitário ou pessoa
de influência na comunidade, para que possamos nos deslocar com segurança.
Na falta de alguém conhecido, melhor não arriscar. Entretanto, há algumas for-
mações dignas de destaque.

Um dos mais surpreendentes encontros que tivemos com cavernas foi na


investida que fizemos no Monte Verde. Nossa expedição visava reencontrar a
“SC-62 – Gruta Rio Valdik” e a “SC-61 – Gruta Monte Verde”. A primeira já haví-
amos explorado parcialmente. Conferimos alguns detalhes e partimos em busca
da Monte Verde. Pelo GPS, ela deveria estar bem próxima, 120 metros em linha
reta. Ao nos deslocarmos aproximadamente uns 60 metros, deparamo-nos com
uma formação de blocos de granito onde se destacava uma “boca” de entrada
que parecia profunda. Ela chamou nossa atenção. A princípio, achamos que
era uma caverna não cadastrada, pois as coordenadas não batiam com as da
Monte Verde. Havia pelo menos uns 50 metros de diferença em relação à nossa
marcação no GPS. Adentramos por aquela passagem e nos deparamos com um
salão não muito alto, mas podíamos permanecer em pé com sobra de espaço.
Desse salão, escutávamos o murmúrio de um córrego; visualizamos brechas
pelas quais puderíamos entrar, eram túneis estreitos. Seguimos então os cami-
nhos que eram possíveis. Logo encontramos um segundo salão, por onde corria
um riacho subterrâneo. Inicialmente, apelidamos o local de “Caverna do Rio
Pequeno”. Continuamos rastejando por aqueles túneis estreitos. Alguns estrei-
tos demais; porém, a luz da lanterna permitia ver que havia salões no final da-
quelas passagens. Seguimos nosso desbravamento esgueirando nosso corpo
com certa dificuldade. A cada novo salão que encontrávamos, vislumbrávamos
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novos túneis ou passagens. Alguns conduziam para o exterior da caverna e


pela luz que entrava nas claraboias do teto é que percebíamos a profundida-
de em que estávamos. Rastejamos pelos túneis e encontramos 11 salões, nos
quais podíamos permanecer em pé e nos mover com facilidade. Acredito que
tenhamos atingido entre 10 e 15 metros de profundidade. Finalmente, seguimos
por um túnel que nos conduziu para fora. Na saída, encontramos outra gruta,
também formada por blocos de granito. Mal havíamos saído de um sistema,
entramos noutro. Em comum, tinham o riacho subterrâneo. Voltamos a rastejar
pelos estreitos túneis. Encontramos mais cinco salões antes de sairmos em uma
terceira grota, muito sinistra, com outros acessos, convidando-nos a entrar. Ao
sairmos nesse lugar, conferimos no GPS... O local coincidia, aproximadamente,
com a marcação da caverna Monte Verde. Percebemos então que tudo aquilo
poderia fazer parte de um sistema único. O riacho subterrâneo era o elo da-
quele sistema. Exploramos por onde foi possível adentrar nas grotas. Ao todo,
devemos ter percorrido mais de 100 metros de túneis e visitamos 26 salões
subterrâneos. Muito bom para um dia de aventura, um domingo em que o sol
brilhou com todo o seu esplendor, como se estivesse nos conduzindo, nos moti-
vando através daquela maravilhosa luz, para descobrir aquele exótico cenário!
Essa região tem muita coisa para ser explorada. Apesar de parecer surpreen-
dente nos depararmos com tantos salões subterrâneos, tenho absoluta certeza
de que muitos outros devem existir. Não temos certeza se todos os salões vi-
sitados pertencem ao mesmo sistema, precisaremos coletar mais informações
e realizar investidas para estudos mais detalhados. Fica um alerta para os ex-
ploradores incautos. Jamais tente explorar sozinho esse complexo; deixe pelo
menos um membro da equipe no lado de fora; utilize rádio comunicação; tenha
lanternas reserva; leve apenas o estritamente necessário; deixe a mochila no
lado de fora, preferencialmente em local visível; e observe as condições climáti-
cas, pois em caso de chuva forte, é certo que aqueles túneis ficarão inundados.
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Foto 58 – Aspectos da Monte Verde Foto 59 – Tocas que passam despercebidas

Fotos 60 e 61 – Túneis internos


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Na região da Costa da Lagoa, relativamente perto do P6, encontramos uma


caverna que, à época, não havia registro, então a batizamos de “20 Salas”. Parte
dessa caverna ainda não pode ser explorada. Caracteriza-se por um empilhamento
de salões, como se fosse um edifício. O nome de batismo se deu em função do
número de salões explorados. Paramos em um local que seria o 21º salão e não foi
possível continuar a progressão a partir dali. Era uma espécie de poço dentro da
caverna. Possui um desnível de poucos metros em relação ao 20° salão e, na época
da visita, estava totalmente inundado. Embora pudesse ser apenas uma fina lâ-
mina d’água, não nos foi possível avaliar a condição do lugar. Inclusive, o registro
fotográfico que fizemos não representa a realidade de caverna, mas a exploração
parcial dela e a localização foi bem difícil. Curiosidade maior nessa expedição foi
ter encontrado em seu interior uma mochila contendo documentos de um homem
colombiano e identidade emitida no Uruguai. No interior da mochila, havia um pe-
dômetro antigo, rolos de filme fotográfico 35 mm e algumas roupas, tudo deterio-
rado pela umidade. No início, até imaginamos que ali pudesse ter sido cometido
algum tipo de crime, embora não tenhamos encontrado vestígios. Pesquisamos na
internet sobre desparecidos utilizando o nome do homem e nada encontramos.
Entregamos a mochila para a Polícia Civil e descobrimos que se tratava de um
roubo em residência que estava registrado em ocorrência quase três anos antes
do nosso achado. Pelo fato de não ter nada de útil para o ladrão na mochila, ele
descartou seu volume dentro da caverna. Menos mal!

Foto 62 – Detalhe entrada das 20 Salas


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Foto 63 – Uma das entradas

Foto 64 – Um dos 20 salões


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A Caverna Pinturas no Morro da Galheta, próxima da Ponta do Meio, ali na


divisa das praias Mole e Galheta, é a única caverna pesquisada nas quais encon-
tram-se pinturas em seu interior. No início, acreditei que fossem pinturas rupes-
tres. Mais tarde, fiquei sabendo, de fonte segura, que não eram rupestres. Foi
constatado por pesquisadores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan) que são pinturas recentes. Atualmente, a caverna está dentro
de uma área particular que foi cercada, impedindo o acesso, pelo menos de for-
ma regular.

Foto 65 – Entrada da caverna Foto 66 – Pinturas não rupestres

Foto 67 – Interior da caverna


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AS INCRÍVEIS CAVERNAS DO SUL DA ILHA

O sul da ilha possui um incrível patrimônio natural. As cavernas mais bo-


nitas, ao meu ver, encontram-se nessa região. A maior parte das cavidades do
sul são “furnas de abrasão marinha” (tipo A). São difíceis de serem acessadas,
embora a localização delas seja relativamente fácil. Um dos motivos que mais
dificulta o acesso é a condição do mar, mas não é o único. Penhascos, desmoro-
namentos e ventos fortes são fatores que, associados com as ondas e as marés,
tornam algumas cavernas inacessíveis.

Começo esse relato pela “SC-44 – Nega”, conhecida popularmente como


“Toca da Nega”. Desconheço a origem desse nome, embora tenha feito várias
consultas com o pessoal nativo. Ela está localizada no Morro do Pântano, bem
próxima da praia de Armação do Pântano do Sul. É uma das primeiras furnas de
abrasão marinha localizada ao longo do costão daquele morro; o acesso a ela não
é tão fácil caso a maré esteja alta ou o mar muito agitado. Encontrar as cavernas
desse local é bem mais fácil se percorrermos de barco a região. Essa, ao meu
ver, é uma das furnas mais lindas e a que possui maior número de espeleotemas;
muitas peculiaridades em detrimento do tamanho. As paredes e o teto são deco-
rados por fungos, musgos e minúsculas estalactites. Parecem pinturas e escul-
turas que foram feitas pelas mãos de grandes artistas; talvez para homenagear
os deuses. Em nenhuma outra caverna até agora explorada encontrei tão variada
gama de espeleotemas — razão pela qual dou um destaque especial a ela.
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Foto 68 – Vista geral da Toca da Nega Foto 69 – Parecem pinturas rupestres

Foto 70 – Veios de ouro no teto


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Foto 71 – Seios de Pacha Mama Foto 72 – Toca da Nega vista por dentro

Foto 73 – Caverna Morcegos


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Desde o início do costão do Morro do Pântano, bem próximo à praia de


Armação do Pântano do Sul, até o outro extremo na confluência com os Morros
da Coroa e o Morro Pão de Açúcar, existem 16 furnas de abrasão marinha, todas
dignas de respeito, porém nem todas acessíveis. Foi nessa região que encon-
trei as maiores dificuldades na exploração de cavernas. A primeira delas é a
“SC-43 – Morcegos”, uma pequena, mas muito bonita furna que não pode ser
totalmente explorada, pois no fundo da caverna existe um túnel muito estreito,
difícil de imaginar a extensão. Não arrisquei entrar naquele apertado recinto
pois, na ocasião, eu estava sozinho e não poderia contar com nenhuma ajuda
em caso de dificuldade. Entretanto, um urubu penetrou por aquele túnel e de-
sapareceu. Talvez alguma fêmea com filhote, pois eu já havia encontrado, na
“SC-30 – Pântano do Sul 1”, um filhote dessa espécie de ave, ainda com a pe-
nugem totalmente branca. Mais tarde, em outra investida naquela furna, voltei
a encontrar outra ave; talvez aquele mesmo filhote que cresceu ali. Concluí,
depois de encontrar essas aves em outras cavernas da região, que elas utilizam
as cavidades para fazer ninhos, aproveitando os pequenos e reservados túneis
que se encontram no interior das furnas. Uma dessas, inclusive, foi batizada
de “Urubu”: é a “SC-34”, localizada um pouco mais a leste do mesmo costão.
A última cavidade encontrada nesse costão é a “SC-59”, ela fica na “Ponta da
Felicidade” e possui o mesmo nome.

O costão do Morro do Pântano é um local perfeito para os que gostam de


trilhas com altos graus de dificuldade. As belezas naturais, os enormes paredões,
as paisagens estonteantes, um azul-turquesa do imenso oceano que domina o
colorido da região, contrastando com algum verde da rude vegetação cobrindo o
solo rochoso de granitos e basaltos, que complementam as cores vibrantes com
seus tons que vão do cinza, passando pelo rosa até o negro brilhante dos casca-
lhos, e matacões polidos e molhados pela constante ação do mar... O aventureiro
disposto a passar por perrengues frente às agruras da mãe natureza encontrará
no Morro do Pântano emoções em dobro e certamente terá que redobrar, tam-
bém, os cuidados com a segurança.

Não muito distante da “Toca da Nega”, seguindo pelo costão no rumo leste,
encontramos mais três cavernas pequenas, a “SC-35 – Arco”, “SC-38 – Flores”
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e a “SC-36 – Ponta do Marisco”. Entre elas, dou destaque especial para a “SC-
35”, uma pequena caverna que se une, através de uma passagem em forma de
arco, com a SC-38. O destaque, nesse caso, não é a suntuosidade, nem os espe-
leotemas: é o som! O chão dessa furna é um tapete feito com cascalhos de várias
cores e tonalidades, prevalecendo o negro basáltico. As ondas do mar penetram
constantemente o interior da caverna; às vezes com violência, movimentando e
polindo aquelas pedrinhas, deixando-as lisas e brilhantes como o vidro. O piso é
inclinado e, depois que uma onda atinge o fundo da caverna, o repuxo das águas
movimenta esses cascalhos, provocando um som sibilante que ecoa e amplifica
no interior da cavidade, deixando o ambiente quase que permanentemente com
um rumor agradável, pois a frequência do som parece acalmar o espírito. É muito
prazeroso ficar no interior dessa caverna, parece que as energias do corpo e da
mente se renovam enquanto permanecemos envolvidos naqueles sons.

Foto 74 – Caverna Arco, vista externa


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Foto 75 – Caverna Ponta do Marisco

Foto 76 – Caverna Flores


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A Caverna Flores está ligada à caverna Arco, são as mesmas coordenadas, com
uma pequena diferença no nível de altitude em relação ao mar. Portanto, a explora-
ção do lugar inclui as duas cavernas. Embora seja possível atingir o local sem equipa-
mento auxiliar, por segurança, recomendo a utilização de cordas e EPI. Bem próximo,
poucos metros adiante, há um lugar denominado “Ponta do Marisco”, que empresta
o nome para uma furna muito pequena e bela. A entrada dessa cavidade é uma fen-
da alta e muito estreita, fica difícil para os gordinhos adentrarem. Algumas furnas
são extremamente perigosas, exigindo cuidados redobrados por conta de desmoro-
namentos. É o caso da “SC-42 – Pedra Preta” e da “SC-53 – Medo”.

Continuando a jornada pelo costão do Morro do Pântano, seguindo no rumo


leste, deparamo-nos com um paredão muito íngreme, com cerca de 40 metros de
altura. Por segurança, costumo utilizar rapel para vencer esse obstáculo, embora
seja possível sem o auxílio de cordas. Nem sempre o grupo é homogêneo, frequen-
temente me acompanham pessoas com pouca experiência. Então, sempre adoto
critérios de segurança máxima na condução do pessoal. Vencendo o paredão, che-
gamos a uma prainha muito bonita, onde um pequeno córrego forma uma cascati-
nha. Batizamos o local de “Praia da Cascatinha”, por desconhecer seu nome oficial.
Logo adiante, encontram-se duas cavernas muito lindas e um tanto grandiosas
para os padrões de cavidades aqui da ilha. São elas a “SC-32 – Pântano do Sul 2”
e a “SC-30 – Pântano do Sul 1”. Ambas se destacam mais pela altura do que pela
profundidade, são muito parecidas, sendo que a SC-30 tem o acesso um pouco
mais facilitado que a outra em condições de maré alta ou mar muito agitado.

Foto 77 - SC-32, vista interior


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Foto 78 – SC-32 Pântano 2

Foto 79 – SC-30 Pântano 1 Foto 80 – SC-30


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Não muito longe dessas está a “SC-34 – Urubu”, que ainda não foi possível
explorar; depois, a “SC-53 – Medo”. Nessa iniciamos a exploração, mas fomos
vencidos pelas dificuldades. A entrada da caverna é constantemente fustigada
pelo mar. É muito difícil chegar ao portal de entrada a partir do alto, mesmo utili-
zando cordas. Descobrimos então uma chaminé por onde seria possível adentrar
na furna através de rapel; mas estava parcialmente obstruída por pedras. Assim,
tentamos limpar um pouco o caminho. Nessa tentativa, houve um grande des-
moronamento, verdadeira avalanche de pedras que rolaram ruidosamente para o
interior da caverna. Observando mais atentamente a situação, resolvemos abor-
tar a missão por falta de segurança. Afinal, poderíamos ser surpreendidos, es-
tando na chaminé, por um novo desmoronamento que, certamente, teria graves
consequências. Pertinho da SC-53, está a “SC-33 – Andorinhas”. Explorar essa
furna de abrasão marinha foi muito prazeroso, apesar do perrengue que enfren-
tamos por conta do calor insuportável do dia. Acho que foi o dia mais quente
que enfrentei em todas as minhas atividades. A emoção de explorar a caverna
ficou mais por conta do rapel do que pela caverna em si, uma furna estreita e não
muito profunda, porém localizada num lugar de rara beleza.

Foto 81 – SC-33 Andorinhas


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Foto 82 – Acesso por rapel Foto 83 – Portal de entrada

Para quem pensa que as emoções terminam nessa pequena caverna, ledo
engano! Essa região, repleta de furnas de abrasão marinha, guarda segredos e
emoções em cada palmo de terreno percorrido. Um pouquinho mais adiante da
Andorinhas, tem a “SC-42 – Pedra Preta”, uma caverna que tende a desapa-
recer com o tempo, por conta dos desmoronamentos constantes. Antigamente,
devia possuir um enorme portal que muito provavelmente iniciava no nível do
mar; uns 30 metros mais abaixo. O tempo foi atulhando pedras, interna e ex-
ternamente, ao ponto de reduzir significativamente a altura do pórtico de en-
trada. Dá a impressão de que a caverna fica num ponto elevado de um paredão
imenso, quando, na realidade, ela está atulhada. É desafiador explorá-la. Foram
várias tentativas; no final, acabei explorando sozinho e abortando a missão para
os companheiros do grupo. Não havia condições de segurança, justamente por
conta dos desmoronamentos. Além do mais, para sair do fundo dessa grota, foi
preciso ascender por corda, sendo que a maioria do pessoal não estava habili-
tado para isso. Meu autorresgate foi muito estressante e perigoso. Pelo ponto
de descida escolhido, durante o rapel, houve princípios de desmoronamentos.
Resolvi então mudar de lugar para subir. O pessoal de apoio modificou, dessa
maneira, a posição das cordas. Coordenamos tudo por meio de contato por rádio.
Escolhi um ponto de subida que julguei o menos arriscado, mas, quando estava
na metade do percurso, o movimento da corda deslocou uma pedra de tamanho
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razoável. Por sorte, ela não deslizou em queda livre; todavia, teve um impacto
forte no meu capacete. Poderia ter sido grave caso a pedra tivesse atingido o
meu ombro. O prejuízo maior ficou por conta da lanterna que estava instalada
no capacete.

Foto 84 – Desmoronando Foto 85 – Interior


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Foto 86 – Portal de entrada da SC-42 Foto 87 - Fortaleza


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Depois da Pedra Preta, existem ainda quatro cavernas até o final do costão
do Morro do Pântano, porém ainda não foi possível explorar essas cavidades. São
elas: “SC-39 – Poço”, “SC-40 – Ponta do Fuzil”, “SC-37 – Fenda” e “SC-59 –
Ponta da Felicidade”, essa última já na confluência com o Morro Pão de Açúcar.

Saindo do Morro do Pântano e iniciando a trilha do Saquinho, encontram-se duas


cavernas de blocos de granito. A “SC-24 – Trilha do Saquinho 1” e a “SC-25 – Trilha
do Saquinho 2”. Essas duas cavernas são bem difíceis de localizar, embora fiquem
muito próximas da trilha da praia do Saquinho. O terreno por ali é muito irregular
e íngreme, as cavernas ficam escondidas entre a densa vegetação. Com relação à
SC-24, principalmente, caso a pessoa que lidera o desbravamento não estiver muito
atenta, provavelmente passará ao largo da caverna; aliás, esse é um dos problemas
enfrentados com certa frequência devido à falta precisão do GPS. Dois metros, em
meio a uma densa vegetação, é uma distância capaz de encobrir a entrada de uma
pequena gruta. Além disso, uma grande fenda entre formações de blocos de granito
disfarça a entrada principal da caverna, o que torna ainda mais difícil encontrar o
túnel de acesso para o interior dela. No restante, essas duas grutas seguem uma
espécie de padrão para cavidades do tipo B (blocos de granito). Encontramos alguns
espeleotemas interessantes e muitos opiliões na SC-25. Há também vestígios da pre-
sença de morcegos, embora não tenhamos nos deparado com nenhum no dia da ex-
ploração. A SC-24 mais se parece com um poço profundo, embora não seja de pros-
pecção vertical. Adentramos o interior dela por um túnel estreito e muito íngreme.

Foto 88 – Entrada da SC-25


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Foto 89 – Interior da SC-25

Foto 90 – SC-24
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Um pouquinho mais ao sul, seguindo para a Ponta do Pastinho, existem


duas cavernas muito bonitas. A “SC-81 – Inferno” se destaca pela dificuldade
que há em explorá-la. Essa cavidade faz jus ao nome. Não conseguimos, em nos-
sas investidas, acessá-la pelo portal de entrada, pois o mar penetra dentro da
caverna com violência. Explorando a região, localizamos uma chaminé estreita,
com cerca de 15 metros de profundidade, por onde conseguimos acessar o inte-
rior, através de rapel, até a metade do paredão. Depois, por conta da força das
ondas do mar, não foi possível chegar até o chão para explorar melhor a caverna.

Foto 91 – Entrada da Inferno Foto 92 – Abordando a chaminé da Inferno

Foto 93 – Dentro da chaminé


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Possui um salão muito alto e estreito; quando a força das ondas comprime
a água no interior da caverna, provoca um jato que se propaga pela chaminé. É
um cenário assustador! Momentaneamente, a caverna fica totalmente escura,
esguichando água pela chaminé, ato acompanhado por um estrondo colossal. As
fotografias não podem dar uma ideia clara do evento. Nem mesmo um vídeo...
Somente quem está lá dentro, participando da ação, pode sentir toda emoção
e energia da mãe natureza. Então, pela estreita chaminé, sai uma névoa fina de
água, parece vapor, razão pela qual batizamos o lugar de “Chaminé do Inferno”.

Um pouco mais ao sul da Inferno tem a “SC-48 - Furna do Saquinho”, tam-


bém de difícil acesso, mas nada comparado a sua vizinha. É uma cavidade rela-
tivamente pequena; a beleza maior fica por conta dos arredores. Foi muito difícil
localizar essas duas cavernas seguindo por terra. Não existem trilhas abertas e
o desbravamento foi bem difícil. Paredões muito íngremes, vegetação bastante
rude escondendo um solo com inúmeras armadilhas. A chaminé da Inferno, por
exemplo, é um perigo iminente para trilheiros descuidados. Além disso, a rudeza
da vegetação esconde vespas e marimbondos que ali constroem suas cachopas;
também há cobras peçonhentas, sendo que a jararaca é a mais perigosa. De ma-
neira alguma, alguém deve se aventurar sozinho por esses confins, além de que
é muito importante o uso de EPI, roupas e calçados adequados. Sem um GPS, é
praticamente impossível localizar essas grotas. É possível que quem as cadas-
trou tenha visualizado a entrada das furnas a partir de uma embarcação.

Foto 94 – Acesso à furna


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Foto 95 – Interior Foto 96 – Local de acesso

Foto 97 – Entrada
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Nessa furna, encontramos muito guano, o solo chega a ser fofo e um odor
muito forte exala do interior dela. As paredes são cobertas de limo e algumas es-
pécies vegetais e fungos podem ser encontrados, mas não localizamos nenhuma
espécie de morcegos ou de andorinhões.

Seguindo rumo à Naufragados, ainda podemos encontrar duas cavidades:


“SC-47 – Pastinho” e “SC-66 – Ponta do Frade”. A primeira fica num local de
difícil acesso; achamos uma pequena furna, praticamente atulhada por desmo-
ronamentos; entretanto, devido à rudeza do lugar, não foi possível explorar ade-
quadamente, ficando seu desbravamento para uma próxima etapa.

Foram exploradas ainda duas cavernas existentes no Matadeiro: “SC-63


– Matadeiro” e “SC-22 – Furna do Lui”. Duas pequenas furnas, sendo que a
Matadeiro está comprometida pelo lixo. Foi construído no interior dela um pe-
queno santuário, onde são deixadas oferendas. Nem todos os frequentadores
têm cuidados com relação à limpeza e higiene. A Furna do Lui está em uma área
particular e não é muito fácil manter contato com o proprietário, a fim de obter
autorização.

Da região da Lagoinha do Leste até a praia do Matadeiro, existem seis fur-


nas de abrasão marinha localizadas no costão do Morro do Facão: “SC-50 –
Lagoinha do Leste”, “SC-31 – Toca da Baleia”, “SC-82 – Água Escorrida”, “SC-
75 – Gravatá”, “SC-64 – Preta” e “SC-49 – Ponta do Quebra-Remo”. Talvez
a mais desafiadora de todas as cavernas da ilha seja a “SC-31 – Toca da Baleia”,
que exigirá um planejamento estratégico adequado para a exploração, além de
treinamento específico para a equipe que for participar da expedição. Era meu
plano ter feito o desbravamento dessa furna em março de 2021, mas a pandemia
interrompeu drasticamente nossas atividades.
100

Figura 21 – Região da Lagoinha do Leste. O desafio de explorar a Toca da Baleia


101

Enquanto esta obra está sendo finalizada, pelo menos mais dez cavernas
foram registradas na SBE. Temos um longo percurso pela frente até que todas as
cavernas sejam desbravadas. Muito ainda precisa ser explorado. Acho que pre-
cisarei de várias encarnações para poder desbravar todos os caminhos desta ilha
linda e misteriosa. Muitas aventuras ainda restam — apenas buscando cavernas.
É impossível narrar todas essas experiências em um único livro. Embora incom-
pleta, esta obra cumpre seu objetivo, ou seja, motivar os espíritos aventureiros
para novas descobertas e experiências gratificantes. Relembrando sempre o cui-
dado que precisamos ter com a rude e, ao mesmo tempo, frágil natureza.

Este relato sem fundamentos técnicos é também um apelo para que as au-
toridades ambientais e de turismo disciplinem os métodos de exploração e des-
bravamento desses locais. Entretanto, é preciso lembrar a importância de não
proibir o acesso das pessoas, pois é direito de todos poder contemplá-los. O
ser humano precisa ser educado; mesmo correndo algum risco de depredação,
é preciso insistir no conceito de aperfeiçoamento cultural e estético de todos
nós, seres em evolução. Muitas vezes, mais por ignorância do que por maldade,
a natureza é agredida de forma violenta. Precisamos pensar que somos todos
terráqueos: humanos, bichos e vegetais devem compartilhar harmonicamente o
espaço onde temos que viver.

Infelizmente, a concentração de população em áreas urbanas frágeis, como


é o caso da ilha de Santa Catarina, provoca estragos irreversíveis, pois muitas
pessoas, ao mesmo tempo, querem curtir as belezas do local. Eis aí uma grande
preocupação, pois não são raros os grupos de trilhas com excesso de partici-
pantes. Muitas vezes, mais de 100 pessoas em um único grupo. Isso precisa ser
contido pelo enorme prejuízo que causa aos locais e à vida silvestre, sem contar
no lixo que inevitavelmente fica esparramado pelos caminhos. É preciso que te-
nhamos tanto respeito pela natureza quanto o temos por nossos entes queridos.

A ilha de Santa Catarina deveria ser considerada “Patrimônio Natural da


Humanidade”. Quem, assim como eu, percorreu tantos caminhos nesta ilha en-
cantada, certamente se tornará um eterno apaixonado por ela. Não sou nativo
deste lugar maravilhoso, mas é impossível passar por aqui sem exaltar tamanha
beleza. Aqui fixei morada e por aqui pretendo continuar peregrinando o resto de
meus dias. Esta ilha de mistérios e magia encantou meu espírito. Sou tão parte
dela quanto ela é parte de mim. Conviveremos em simbiose eterna!
Produzido por Editora Caseira
www.editoracaseira.com
contato@editoracaseira
Texto e fotografias: Kako Aransegui
Coordenação Editorial: Gustavo Reginato
Diagramação: Lila Bittencourt
Revisão ortográfica: Tamara B. G. Altenburg

Ficha catalográfica

A662c Aransegui, Kako

Cavernas da ilha de Santa Catarina / Kako Aransegui.


– Florianópolis: Editora Caseira, 2022.
102 p. ; il.; color ; Publicação digital

ISBN: 978-65-88489-46-8

1. Geografia. 2. Espeleologia. 3. Florianópolis.


I. Aransegui, Kako.

CDD 910
CDU 913(81)

Catalogação realizada pela Bibliotecária Ellen Mariana Zorzetto CRB 14/1611

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