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Corpo, Deficiência e

Trabalho
Elisabeth C. Santos
Corponormatividade
• Assim como existe a heterossexualidade
compulsória, existe também a aptidão
compulsória (compulsory able-
bodiedness). Desse modo, a
corponormatividade se assemelha à
heteronormatividade (MELLO, 2016);

• Categoria binária capacidade/deficiência;


• “[...] devido à promoção da beleza
harmônica que herdamos dos gregos até
nossos dias, a manifestação da deficiência
lesiona o conceito e a idealização de
corporeidade grega que eugenicamente
temos tão enraizados dentro de nós”
(MELLO; NUERNBERG, 2012, p. 644).

“O discóbolo” (Míron)
Deficiência

“O modelo social da deficiência, em oposição ao


paradigma biomédico, não se foca nas limitações
funcionais oriundas de deficiência, nem propõe a
ideia tão comumente aceita da necessidade de
reparação/reabilitação do corpo deficiente, mas sim a
concebe como o resultado das interações pessoais,
ambientais e sociais da pessoa com seu entorno.
Nesse sentido, as experiências de opressão
vivenciadas pelas pessoas com deficiência não estão
na lesão corporal, mas na estrutura social incapaz de
responder à diversidade, à variação corporal
humana” (MELLO; NUERNBERG, 2012, p. 638).
A partir do modelo social
da deficiência, entende-se
que ela engloba diferentes
sentidos ou modos de
defini-la, percebê-la,
vivenciá-la, tratá-la
(MELLO; NUERNBERG,
2012).

@vireiadulto (Matheus)
@leandrinhadu
@nathaliasantos
@kitanadreams
Capacitismo (ableism)

• Atitudes preconceituosas que hierarquizam


sujeitos em função da adequação de seus
corpos a um ideal de beleza e capacidade
funcional (a corponormatividade);
• Forma como pessoas com deficiência são
tratadas como incapazes (de produzir
trabalhar, aprender, amar, cuidar, sentir
desejo e ser desejada etc.);
• É uma rede de crenças, processos e
práticas que produzem um tipo particular
de corpo (o padrão corporal) que é
projetado como perfeito, espécie típica e
desse modo, essencial e completamente
humano. Deficiência é vista como um
estado diminuído de ser humano.

(MELLO, 2016)
Capacitismo (ableism)

• Aproxima as demandas dos movimentos de


pessoas com deficiência a outras discriminações
sociais como o racismo, o sexismo e a homofobia;

• Essa postura advém de um julgamento moral que


associa a capacidade unicamente à funcionalidade
de estruturas corporais e se mobiliza para avaliar
o que as pessoas com deficiência são capazes de
ser e fazer para serem consideradas plenamente
humanas.

• A Convenção Internacional sobre os Direitos da


Pessoa com Deficiência se refere à “discriminação
por motivo de deficiência” (Instrumento
internacional de direitos humanos das Nações
Unidas, aprovado pela Assembléia Geral das
Nações Unidas em 13 de dezembro de 2006 e
promulgado pelo Brasil em 25 de agosto de 2009,
através do Decreto n. 6.949/2009)
(MELLO, 2016)
Teoria Crip •
“Uma pessoa com deficiência, de acordo com o tipo e grau ou
severidade da deficiência, pode não realizar, sozinha,
Autonomia determinadas atividades, dependendo de assistentes pessoais
e/ou de cuidadoras. Mas o poder de tomar decisões, isto é, a
Poder de Agência capacidade de agência para decidir sobre essas atividades deve
ser creditada a elas, respeitando suas opiniões e desejos”
(MELLO, 2016, p. 3273).
• Vulnerabilidade é “um indicador da desigualdade
Incapacidade social que se expressa nos processos de exclusão de
grupos sociais que têm sua capacidade de ação e
Vulnerabilidade reação reduzida em função da discriminação e
opressão a que são submetidos” (MELLO, 2016, p.
3274).
• Mulheres com deficiência vivenciam “dupla
desvantagem” em relação à participação social, direitos
sexuais e reprodutivos, educação, trabalho e renda;
• Negação da sexualidade da pessoa com deficiência;
Interseção • Maior vulnerabilidade das pessoas com deficiência ao HIV
entre gênero, pela pouca consideração das políticas públicas às
especificidades desse público social;
sexualidade e • Maior vulnerabilidade de mulheres com impedimentos
corporais ao abuso sexual;
deficiência • Mulheres vítimas de violência doméstica adquirem
deficiências;
• Inexpressivo número de mulheres brasileiras com
deficiência nas universidades.

(MELLO; NUERNBERG, 2012)


Pessoas com Deficiência (PCD) no Brasil (IBGE, 2013)
• No país, 6,2% dos 200 milhões residentes, possuía uma das quatro deficiências (intelectual, física,
auditiva ou visual);
• Em todas as quatro deficiências apontadas, há maior participação da população constituída por
homens, acima dos 60 anos ou mais, com nível de escolaridade até o ensino fundamental
incompleto;
• Em geral, as doenças e os acidentes são a maior causa das deficiências no país, sendo menor o
percentual de pessoas nascidas com deficiência, exceto pessoas com deficiência intelectual;
• À exceção das deficiências visual e auditiva, que acometem percentual maior da população
residente na região Sul, a Nordeste tem participação um pouco acima nas demais deficiências, ao
considerarmos o total no Brasil, com aumento importante na deficiência visual severa;
• A frequência da população com deficiência aos serviços de reabilitação à saúde é baixa. Os
resultados apontam 30,4%, 18,4%, 8,4% e 4,8% entre as PCDs intelectual/cognitiva, física, auditiva
ou visual, respectivamente.
Mercado de trabalho

Proporção de PCD no total da população na força de trabalho (%) Ano: 2013

Tipo de
deficiência ● Média nacional dos vínculos formais
representou 0,7% do total;
Brasil (Total) Ocupada Desocupada Fora da força de ● 35,3 mil dos 5,2 milhões de vínculos
trabalho
empregatícios formais (0,7% do
total) eram ocupados por PCD em
Intelectual 0,8 0,1 0,6 2,0 São Paulo;
● A taxa de desocupação da
Física 1,5 0,8 0,5 2,8 população com deficiência severa
situava-se em 8,7%,
Auditiva 1,3 0,6 0,4 2,6
correspondendo a 19,5 mil PCD à
procura por trabalho;
● A participação muito inexpressiva de
Visual 4,3 3,1 1,7 6,4
PCD, na estrutura do emprego
formal brasileira, expressa um traço
estrutural do mercado de trabalho
Fonte: Autoria própria com base nos dados do IBGE/SIDRA (2020)
nacional (OIT, 2020).
● “Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, em 2016, a
participação de Pessoas com Deficiência (PCD) em cargos executivos representa apenas
2% dos colaboradores” (VAIPE, 2019. p. 39).

● “Mais da metade dos indivíduos interessados em ingressar no mercado de trabalho


possuem ensino superior. Logo, a justificativa de que os candidatos PCDs não sejam
qualificados não é cábivel” (p. 44)

● Muitas empresas usam como desculpa para não selecionar colaboradores as


necessidades de adaptação no ambiente, nos processos e sistemas.

● “Segundo pesquisa i.Social 78% dos respondentes declararam não necessitarem de


acessibilidade no ambiente de trabalho e outros 92% não precisam de ajudas técnicas
como softwares de leitura de tela, impressora braile, intérprete de libras etc.” (VAIPE,
2019, p. 44).
(DAMASCENA, 2017)
É importante rejeitarmos qualquer categorização que parta de
conceitos universais, porque eles impõem padrões e valorações
arbitrárias. Ao invés disso, precisamos reconhecer a
singularidade de cada ser humano (MELLO, 2016).
Trabalho decente e a inclusão de
Pessoas com Deficiência

https://youtu.be/ibu5bj47lqY

Lei nº 8.213/91 e o Projeto de Lei nº 2973/11, que aumenta a


cota de portadores de deficiência nas empresas privadas
Referências
• DAMASCENA, E. O. O gerenciamento de impressões e a vulnerabilidade do
consumidor: Um estudo acerca da interação entre a pessoa com deficiência e o ambiente
de varejo. (Tese de doutorado). Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, 2017.
• IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Ciclos de vida: Brasil e grandes regiões. Rio de
Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico, 2015. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94522.pdf. Acesso em: 12 nov. 2020.
• IBGE/SIDRA. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Sistema IBGE de Recuperação
Automática. Disponível em: https://sidra.ibge.gov.br/acervo#/A/60/S/XN/T/Q. Acesso em: 12
nov. 2020
• MELLO, A. G. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a
preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Ciência e
Saúde Coletiva, v. 21, n 10, p. 3265-3276, 2016.
• MELLO, A. G.; A. H. NUENBERG. Gênero e deficiência: interseções e perspectivas.
Estudos Feministas, v. 20, n. 3, p. 384, 2012.
• OIT. Boletim Trabalho decente: dados municipais. Disponível em:
https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/---ilo-
brasilia/documents/genericdocument/wcms_336112.pdf. Acesso em: 12 nov. 2020.
• VAIPE. Guia da Diversidade. 2019. Disponível em: https://vaipe.com.br/blog/guia-sobre-
diversidade/

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