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ENVOLVIDOS
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Psicóloga, Mestre em Psicologia, Doutoranda em Psicologia pela PUCRS, Professora do Curso de
Psicologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões. E-mail: leticia.rsp@
terra.com.br
² Psicóloga, Organizacional, formada em Psicologia pela Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões – Câmpus de Erechim. E-mail: rochele.psico@hotmail.com
ABSTRACT: The aim of this study was to analyze the challenges of in-
cluding people with disabilities into the labor market, from the perception
of a disabled person and the organization’s management. It was a qualitative
research with an exploratory descriptive character. Six subjects of both gen-
ders, from the same company, participated in the study, among them, three
people with disabilities and three managers, with ages ranging from nineteen
to thirty-eight years old. A semi-structured interview was used, which was
recorded and transcribed. The content analysis technique was used to examine
the data, which resulted in the insurgency of eleven categories, indicating that
people with disabilities have been gradually gaining space in the labor market,
however, there is a great deal of discrimination against this population in the
institutions. The lack of information about the real capacities of these people
with disabilities leads them to carry out duties that are incompatible with their
profile, creating dissatisfaction and feelings of incapacity. On the other hand,
important contributions to the disabled person related to his insertion into
the work environment were found, regarding the sense of ability and skills,
interpersonal relationship, opportunity for development and independence.
Keywords: Disabled People. Managers. Inclusion. Labor Market.
a aceitação desta pode remeter a uma situação e para os gestores o requisito foi ter pessoas
de inferioridade. com deficiência na equipe de trabalho.
Desse modo, a literatura científica brasi- O projeto foi submetido e aprovado pelo
leira que visa conhecer o trabalho da pessoa Comitê de Ética e Pesquisa sob protocolo
com deficiência sobre a ótica dos emprega- número 142/TCH/10. O instrumento utili-
dores e dos próprios deficientes ainda é bas- zado foi uma entrevista semiestruturada, que
tante escassa (OMOTE, 1994; CARREIRA, seguiu um modelo diferenciado para gestor e
1996; MASINI et al., 1997; CORRER, 2003; pessoa com deficiência, sendo que a mesma
TANAKA; MANZINI, 2005; SHIMONO, foi gravada e transcrita para fins de análise.
2008). Destarte, o estudo justificou-se pela As questões norteadoras envolveram aspec-
possibilidade de contribuir para uma melhor tos relacionados à inserção no mercado de
compreensão dos sentimentos das pessoas trabalho, expectativas e significados do traba-
com deficiência frente ao contexto de tra- lho, cotidiano laboral (dificuldades e desafios
balho, bem como conhecer a percepção dos da inclusão), clima organizacional, cotas,
gestores sobre o trabalho destes indivíduos. aspectos positivos da inclusão no mercado
Assim, tornar-se-á possível traçar quais os de trabalho e estratégias de enfrentamento. A
desafios presentes neste cenário e o que pode análise dos dados obtidos foi feita por meio
ser feito para melhorá-lo. do procedimento de análise de conteúdo.
(BARDIN, 1977).
Pretendeu-se, também, com este trabalho
evitar uma perspectiva unilateral para chegar
à compreensão da inclusão social, mas refletir
Resultados e Discussão
sobre as condições de acolhimento e integra-
ção da pessoa com deficiência na sociedade,
A partir da análise, foram formadas 11
partindo do papel da empresa para reforçar
categorias com suas respectivas subcatego-
o sentimento de inclusão.
rias, conforme estão apresentadas no quadro
I considerando os objetivos do estudo.
Material e Métodos
Inserção no Mercado de Trabalho
A pesquisa teve caráter qualitativo e
cunho exploratório-descritivo. Richardson A pesquisa demonstrou que as organiza-
(1999) elucida que os estudos de natureza ções ainda têm receio em contratar e aceitar
descritiva propõem-se a investigar o “que pessoas com deficiência para fazer parte do
é”, ou seja, a descobrir as características de seu quadro de funcionários. Carreira (1996)
um fenômeno como tal. Participaram deste identificou que a falta de conhecimento do
estudo 6 sujeitos, sendo 3 pessoas com defi- potencial das pessoas com deficiência, con-
ciência e 3 gestores de uma mesma empresa, siste num dos grandes motivos que impedem
de grande porte, situada na região norte do ou dificultam a contratação dessa população
Rio Grande do Sul. Os critérios de inclusão pelas empresas. Além disso, é possível inferir
para os participantes do estudo foram: pes- que a reduzida participação destes indivíduos
soas com deficiência física, visual ou audi- no mercado de trabalho acabou também
tiva em grau leve, que permitisse escrever e sendo reforçada pelas inúmeras barreiras
compreender o termo de consentimento livre de ordem social, arquitetônica e funcional
e esclarecido e ter mais de 18 anos de idade (TANAKA e MANZINI, 2005).
Quadro I - Descrição das Categorias e Subcategorias de A falta de qualificação aparece como sen-
Análise
do outro aspecto dificultador do processo de
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS inserção no mercado de trabalho. Os estudos
Falta de oportunidade de Tanaka e Manzini (2005) destacam que,
Inserção no mercado
Busca própria além de fatores individuais, econômicos e
Falta de qualificação
de trabalho
Escolaridade
sociais, há falha no processo de formação
Proteção Social e qualificação profissional por parte das
Maior facilidade de pessoas com deficiência e isso pode com-
Expectativas em inserção prometer sua inserção na organização de
relação ao trabalho Maior reconhecimento trabalho. Por outro lado, os achados de Ana-
da empresa
che (1994) mostram que, mesmo preparadas
Oportunidade de
Significados do
crescimento em relação à escolaridade, para ocupar um
trabalho
Independência espaço no mercado de trabalho, as pessoas
Sentimento de com deficiência encontram mais dificul-
Autopercepção no
capacidade dades do que as outras para conseguirem
Iguais aos outros emprego. Destaca-se que a escolarização
trabalho
Reconhecer seus limites
Vergonha pela limitação acaba gerando expectativas que a realidade
não satisfaz, assim verifica-se certo descré-
Adaptação
Estrutura física
dito em relação ao ensino superior, uma vez
Dificuldades Preconceito que tinham a concepção de que cursar uma
relacionadas ao Insatisfação com a tarefa faculdade seria sinônimo de ter trabalho
trabalho Imposições
Insatisfação com o (PINHEIRO, 2008).
salário Na ótica dos gestores, a proteção social
Motivação para o amparada pela Constituição Federal para as
Desafios da inclusão
no Mercado de
trabalho pessoas com deficiência que recebem um
Conhecer o perfil da
Trabalho
pessoa com deficiência
salário mínimo como auxílio também se
torna um dos problemas encontrados para
Relacionamento Colegas a inserção destas pessoas no mercado de
Interpessoal Chefia
trabalho. Em relação a isso, Shimono (2008)
Fragilidade salienta que em muitas situações observa-se
Sentimento de pesar
Percepção dos outros
Curiosidade que as pessoas com deficiência preferem não
em relação à pessoa
com deficiência
Capazes de produzir arriscar-se no mercado formal de trabalho
Sentimento de para não perder o benefício, o que também
inferioridade
justificaria a dificuldade das empresas em
Facilidade na inserção contratar pessoas com deficiência para cum-
Esforço pessoal
Sistema de cotas para Reforça a diferença prir o que é estabelecido na Lei de Cotas.
deficiente Obrigação
Visão negativa das
pessoas em geral Falta de Oportunidade
Relacionamento
Benefícios a partir do Interpessoal “[...] eu tentei procurar emprego, assim,
Trabalho Sentimento de em fábrica, [...] quando completei 18
capacidade/ utilidade anos, mas ninguém fez nada, um monte
Estratégias Aprendizagem
deenfrentamento Demonstrar capacidade
em relação às pessoas com deficiência. Nesse se pega num pé atora. Bá, daí peguei o
sentido, Tanaka e Manzini (2005) enfatizam telefone e liguei disse “ó J volta pra cá
que ainda falta qualificação profissional e que aqui não dá. (P2)
preparo social para que a pessoa com defi-
ciência possa ocupar um cargo cujo perfil seja Em relação a estrutura da empresa eu
compatível com as suas habilidades e com as tinha um pouco de dificuldade no começo
quando eu entrei porque a escada lá não
reais necessidades da empresa.
tinha corrimão, mas depois eles coloca-
As imposições feitas pela chefia frente ram e fico tranqüilo. (P1)
às pessoas com deficiência surgem também
como uma dificuldade vivenciada no cotidia-
no laboral. No caso dos entrevistados, ficou Preconceito
claro que, por mais que as pessoas da empresa
pensem em facilitar, disponibilizando recur- [...] Imagina, preconceito, as pessoas
sos humanos ou, até mesmo materiais, isso não aceitam a comunicação, por exem-
plo, você não imagina, só porque tem que
pode despertar sentimentos de incapacidade,
participar de reunião, porque eu não vou
na medida em que a própria pessoa deficiente entender. (P3)
quer ter a possibilidade de decidir sem para
isso depender de outras pessoas. [...]elas já chegam com um espécie de re-
A insatisfação com o salário é outra difi- ceio, elas já chegam com uma espécie de
culdade trazida pelos participantes. Anache pré-conceito contra elas mesmas. (G1)
(1994) menciona que o trabalhador com
deficiência, dentre outros, se constitui em [...] ela às vezes se sentia excluída, ela
mão-de-obra barata que faz parte do exército mesma se exclui, ela se auto exclui no
de reserva, oferecendo recursos ao sistema processo. (G3)
capitalista para baratear os salários. Do mes-
mo modo, Amaral (1994) atenta para o fato Insatisfação com a tarefa
que o “privilégio” de ter um emprego leva,
muitas vezes, o trabalhador a submeter-se a [...] lá onde eu entrei, era ficar puxando
caixinha, uma coisa que qualquer um,
condições menos favoráveis de trabalho, quer
uma criança fazia. Eu pensei, mas eu
em termos de remuneração, de carga horária,
vou ficar aqui, vou ser um inútil para
de características do local de atividade. a empresa, vou ao invés de ajudar vou
atrapalhar [...]. (P2)
Adaptação
Eu tava muito chateada, essa profissão
[...] logo que eu entrei, tudo o que eu ia auxiliava, carregava coisa pesada,
fazer tinha alguém em cima, preocupado, guardava arquivos, todo o dia [...] (P3)
será que ele consegue, será que não con-
segue, será que não é perigoso[...] (P2)
Imposições
Estrutura física Eu gosto que conversem comigo e não
simplesmente ó tu vai ter um acompa-
Daí teve um dia que ele me mandou lá na nhante. [...] acho que não é legal, porque
pintura pó, pendurar uns banco, e é alto, a pessoa se sente, não é como é que se
e eu enganchei um gancho mal, aquele diz, não é nem incapaz, mas é dependen-
banco caiu, não sei como que caiu, mas te demais [...] (P1)
O medo de ser substituído do posto de tra- percepção dos colegas de trabalho e da chefia
balho aflora sentimentos de insegurança por em relação a si mesmo. Para Anache (1994),
parte das pessoas com deficiência, potencia- a deficiência faz emergir no outro diferentes
lizando também o ambiente de desconfiança atitudes, entre elas, compaixão, curiosidade,
no setor. medo, superproteção, etc. Desse modo, é
Toda pessoa nova que chega lá ela acha importante conhecer a visão que as pessoas
que é pra substituir ela, então, é bem tem do deficiente pois isso irá interferir na
assim, não é fácil [...]. (G3) forma como ele será tratado na organização
de trabalho e, também, por que, de acordo
Chefia com Omote (1996), são as reações das outras
pessoas que definem alguém como deficiente
Eu acho que o meu supervisor, como ou não.
amigo, como pessoa, como profissional, Observou-se que as pessoas com defici-
não tenho queixa. (P2)
ência teêm a percepção de serem vistas como
Eu acho que tinha um pouco de proteção sujeitos que precisam de ajuda tendo em
de mais, e sabe, que nem uma vez ele me vista as suas limitações. Por isso, precisam
disse que eu ia ter um acompanhante se ser auxiliadas e protegidas no contexto de
acaso eu caísse ou acontecesse alguma trabalho. Essa concepção parece impor uma
coisa. Eu acho que todo mundo cai, condição de incapacidade para as mesmas.
porque se ela se machucasse não seria Segundo Crochík (1995), “o preconceito leva
diferente de mim. (P1)
à exclusão do mais frágil, por aqueles que não
podem viver a sua fragilidade numa cultura
O clima positivo foi destacado pelos ges-
que privilegia a força”.
tores, isso se deve ao fato das pessoas com
deficiência viverem enfrentando dificuldades, As pessoas, no geral, também expressam
então elas acabam criando um clima agradá- um sentimento de pesar pela condição da
vel que contagia o grupo de trabalho. pessoa com deficiência, bem como uma
dificuldade em lidar com as diferenças indi-
[...] elas [pessoas com deficiência] tem viduais. Nesse sentido, o preconceito aparece
um humor, um clima muito positivo,
como uma forma de excluir o outro, levan-
porque eles estão sempre enfrentando
dificuldade, então, quando eles conse- do ao não reconhecimento das diferenças
guem trabalhar, isso se dissemina pelo (CROCHÍK, 1995). O autor argumenta que
grupo. (G1) “ao excluir o outro estamos excluindo algo
de nos mesmos”. Além disso, as atitudes de
[...] essas pessoas tem uma energia compaixão contribuem ainda para o estigma
positiva que passa pra nós, e passa pra de falta de capacidade.
equipe [...]. (G2)
A curiosidade em relação à deficiência foi
apontada como uma das questões que envolve
a percepção dos outros em relação à pessoa
Percepção dos Outros em com deficiência. Essa atitude é vista por eles
Relação a Pessoa com de maneira positiva, pois expressa o desejo
Deficiência das outras pessoas em conhecer o sujeito com
deficiência, conhecer sua história de vida, e
Esta categoria pretendeu investigar, na isso faz com que eles se sintam reconhecidos
visão dos funcionários com deficiência, a em sua singularidade.
Nesse sentido, Anache (1994) afirma que a as pessoas com necessidade de uma cota
força de trabalho do trabalhador com defici- para entrar, (...) a pessoa ser menos
ência precisa ser conquistada através de seu capaz por isso ela necessita de uma
próprio empenho e concedida pela sociedade, cota. (G3)
porque ele é competente, e não porque a le-
gislação lhe reservou, de um modo caritativo,
um percentual de vagas que contribui para a
Obrigação
propagação do estigma. [...] e se não tiver essa cota vou te dizer,
Outro aspecto importante á a visão nega- eram poucas empresas que integram.
tiva de algumas pessoas da sociedade com (G2)
relação a lei de cotas, o que acaba por influen-
ciar na maneira como a pessoa compreende a [...] eu acho que isso não deveria neces-
sua própria inserção no mercado de trabalho. sitar de uma cota pra uma empresa abrir
uma vaga para deficiente. Deveria ser
algo automático, natural, das empresas
Facilidade na inserção abrirem essas vagas sem necessitarem
essa pressão externa [...]. (G1)
Acho que é um facilitador para a pessoa
se inserir num meio que ela não conhece
ou que ela não gostaria de conhecer por
vergonha quem sabe. (P1) Visão negativa das pessoas
Porque até as outras pessoas às vezes
Eu acho bom porque os deficientes estão falam: a tu tá tirando o lugar de alguém
precisando de emprego, a empresa pre- [...] (P1)
cisa contratar deficientes.(G3)
Pra nós deficientes que temos limitações
Esforço pessoal é bom, mas pra quem tá de fora talvez
não seja tanto. (P1)
Assim, é bom, é bom, mas tem que se
colocar também no lugar da empresa né,
porque assim ó, eu vejo assim, no meu
caso se eu fosse uma pessoa que não se
interessasse, ia ser apenas uma pessoa... Benefícios a partir do Trabalho
Porque a empresa tem obrigação de
contratar, não ia produzir e a empresa Um dos benefícios adquiridos a partir
ia pagar o meu salário[...] (P2) da inclusão no mercado de trabalho diz
respeito ao relacionamento interpessoal. As
Mas acho que de modo geral, se tu quer pessoas com deficiência melhoram quando
entrar tu vai entrar entendeu? Indiferen- têm contato com outras pessoas e a empresa
temente de cotas ou não. Vai do esforço também, pois os seus integrantes passam a
teu [...]. (P1)
tomar para si outros valores, de valorização
da vida, respeito às diferenças individuais,
incorporando-os à equipe de trabalho. Nesse
Reforça a diferença
sentido, Wagner (2006) destaca que a inser-
Eu acho que eles [chefia] deveriam dar ção da pessoa com deficiência permite às
uma melhorada porque fica meio como pessoas não deficientes novas posturas nas
se tu fosse diferente assim sabe? (P1) relações sociais, profissionais, e isso se dá na
convivência com a diferença e com a possi- internos ou defensivos utilizados pelo sujei-
bilidade de superação que a deficiência pode to ao deparar-ser com uma crise. Gabbard
ensinar. Além disso, na concepção da autora, (2006) refere que as defesas tem em comum
esse contato possibilita ainda a construção da a proteção do ego do sujeito.
imagem de competência do deficiente. Notou-se que a pessoa com deficiência
Percebeu-se que o trabalho permite a deseja mostrar-se capaz e de bem consigo
aprendizagem e o desenvolvimento da pes- mesma, escondendo suas fragilidades, pois
soa com deficiência com vistas a adquirir parece, que dessa maneira, elas são aceitas
uma qualificação profissional. A partir disso, e reconhecidas pelos demais. Isso implica
é possível compreender que é através do diretamente na forma como os outros irão
trabalho que a pessoa com deficiência pode lhe tratar, por isso precisam evitar de mostrar
demonstrar suas potencialidades, e compe- o sofrimento. Anache (1994) ressalta que a
tências e construir uma vida mais indepen- inserção é sempre mais difícil para os defi-
dente e autônoma (WAGNER, 2006). cientes do que para o não deficiente, e, por
isso, eles procuram assegurar seu espaço a
qualquer preço. Desse modo, observa-se o
Relacionamento Interpessoal
indivíduo com deficiência tentando mostrar
eu era mais fechada, mais tímida, não serviço, como forma de provar sua capaci-
falava muito, mas eu acho que é bom dade, mesmo que isso lhe cause insatisfação
porque tu acaba tendo o relacionamento pessoal.
com mais pessoas, acaba tendo que fa-
zer coisas que tu não tava acostumado
[...] (P1) Aprendizagem
reflexão a respeito dos desafios da inclusão acabará colaborando para criar o estigma de
de pessoas com deficiência no mercado de que ela não possui competência para disputar
trabalho. Evidenciou-se que, aos poucos o mercado competitivo.
e com muita dificuldade, as pessoas com A proteção social em algumas situações
deficiência vêm conquistando um espaço no acaba dificultando a inserção das pessoas
mercado de trabalho. Nesse sentido, a Lei com deficiência no mercado de trabalho, pois
de Cotas, como bem apontada pelos partici- muitos preferem não se arriscar, e, conforme
pantes da pesquisa, é um passo importante apontado na pesquisa, é necessário repensar
para a inclusão destas pessoas no contexto a questão salarial do trabalhador com defi-
de trabalho. Entretanto, sabe-se que ela por ciência, pois é compreensível que o mesmo
si só não irá resolver os problemas que essa opte por ficar em casa a ter que se submeter a
população terá que enfrentar para conquistar um salário mínimo oferecido pelas empresas.
um lugar no mercado de trabalho e também Com base nisso, é possível pensar no real
não é uma garantia de inclusão, pois incluir desejo das pessoas com deficiência em se
não é apenas conceder uma vaga a uma pes- inserirem no mercado de trabalho, na medi-
soa com deficiência, mas sim, oportunizar da em que precisam ultrapassar, também, a
o seu crescimento e desenvolvimento na barreira da dependência econômica oriunda
instituição. Cabe ressaltar que para isso acon- dos benefícios.
tecer, é necessário trabalhar o preconceito Para os profissionais ligados à área de
das pessoas. Esse parece ser um dos grandes gestão de pessoas, fica o desafio de pensar
desafios quando se fala em incluir pessoas estratégias e instrumentos que contemplem
com deficiência nas organizações de trabalho. a avaliação íntegra das pessoas com defi
Nesse sentido, percebe-se que a simples ciência a partir de suas competências para
prescrição de leis para assegurar os direitos que, assim, possam, de fato, sentirem-se in-
da pessoa com deficiência de ter um trabalho cluídas na organização. O acompanhamento
não irá mudar a sua realidade se os fatores se faz necessário com o intuito de facilitar o
que dificultam a sua inserção no meio social processo de adaptação ao posto de trabalho,
não forem detectados, discutidos e mini- a cultura e valores da organização, além de
mizados por meio de uma ação conjunta oferecer um espaço de escuta à pessoa com
entre o indivíduo, a família, a sociedade e deficiência, auxiliando em suas dificuldades.
o governo (TANAKA e MANZINI, 2005). Cabe ressaltar a necessidade de mais estudos
De acordo com os resultados, constata-se sobre a temática, sobretudo, pelos profissio-
que contratar a pessoa com deficiência ape- nais em questão, na medida em, que cada vez
nas para cumprir uma lei, sem remover os mais, terão que estar preparados para atuar
obstáculos existentes no caminho que ela sobre os processos de inclusão de pessoas
terá que percorrer para buscar um trabalho, com deficiência no mercado de trabalho.
REFERÊNCIAS