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Submissão: 31/07/2017
Aprovação: 26/11/2017
RESUMO
Este trabalho objetivou investigar as percepções que pessoas com deficiência que trabalham
numa universidade pública federal têm a respeito de suas experiências de inclusão nos seus
grupos de trabalho. Foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e descritiva, utilizando-
se entrevistas semiestruturadas. Para tratamento e análise dos dados, optou-se pela análise de
conteúdo. O referencial teórico foi desenvolvido a partir do construto “experiência de
inclusão” abordado por Ferdman et al. (2009). Destaca-se que a experiência de inclusão
percebida ainda apresenta barreiras e lacunas, como problemas de acessibilidade, falta de
conhecimento e limitações de ordem burocrática. Os achados sugerem a necessidade de ações
de comportamento inclusivo por parte das PcDs, seus grupos de trabalho e da organização.
Como contribuições, destaca-se que o trabalho investigativo junto a esse público traz à tona e
dá voz a diferenças, muitas vezes, reprimidas, abafadas, ou simplesmente veladas no mundo
social e do trabalho.
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ABSTRACT
This paper aimed to investigate the perception that people with disabilities that working in a
federal public university have about their experiences of inclusion in their work groups. A
qualitative and exploratory research was done, using semi-structured interviews. For data
analysis and treatment, was used the content analysis. The theoretical framework was
developed from the "experience of inclusion", construct addressed by Ferdman et al. (2009).
It should be noted that a perceived inclusion experience still presents barriers and gaps, such
as problems of accessibility, lack of knowledge and bureaucratic limitations. The findings
suggest the need for actions of inclusive behavior by the PwD, their work groups and the
organization. As contributions, it stands out that the research work with this public brings up
and gives voice to, often, repressed, muffled, or simply veiled in the social and work world.
1 INTRODUÇÃO
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inclusivo, sob a perspectiva do grupo de trabalho; e a experiência de inclusão, sob a
perspectiva do indivíduo. Dessa forma, a experiência de inclusão em um grupo de trabalho é
tida como a percepção dos indivíduos acerca de cinco elementos: sensação de envolvimento e
engajamento no grupo; poder de influência no processo de tomada de decisão; sentimento de
que é valorizado pelo grupo; sensação de conforto para ser autêntico com o grupo; e
sentimento de que a diversidade é reconhecida e valorizada pelo grupo.
Portanto, esse estudo justifica-se em virtude das muitas falhas que ainda existem nos
processos de pós-inserção de PcDs no mercado de trabalho, principalmente aquelas
relacionadas a subjetividade das relações estabelecidas com os seus grupos de trabalho, que
têm impacto direto sobre a experiência de inclusão. Dada essa problematização, surge a
seguinte questão de pesquisa: quais são as percepções das pessoas com deficiência a respeito
da experiência de inclusão nos seus grupos de trabalho?
Acrescentando-se a esse questionamento a incipiência de estudos sobre o tema no
âmbito do setor público e as demais falhas próprias deste setor (MATOS; DOMINGOS, 2016;
HOFFMANN; TRAVERSO; ZANINI, 2014), este artigo buscou investigar quais são as
percepções que as pessoas com deficiência, que trabalham numa universidade pública federal,
têm a respeito de suas experiências de inclusão nos seus grupos de trabalho.
Para cumprir esse objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram traçados: i)
identificar os aspectos relacionados ao engajamento das PcDs no grupo de trabalho; ii)
investigar como ocorrem e como se dá a participação dos PcDs nos processos de tomada de
decisão do grupo de trabalho; iii) identificar os aspectos relacionados ao sentimento de
valorização dos PcDs no grupo de trabalho; iv) investigar como os PcDs se sentem em relação
à expressão de suas ideias e sentimentos no grupo de trabalho; v) identificar as percepções das
PcDs a respeito de como ocorre o convívio com a diversidade no grupo de trabalho.
O artigo está dividido de acordo com as seguintes seções: introdução; referencial
teórico; metodologia; análise e discussão dos resultados; considerações finais; e referências.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
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A diversidade da força de trabalho, por sua vez, trata sobre o pertencimento a grupos
que são diferentes de qualquer outro grupo que seja considerado o padrão principal numa
sociedade. Em essência, esse tema aborda questões sobre estar suscetível à discriminação e a
consequências negativas no emprego, como resultado de associações (ou de não associações)
com determinados grupos de identidade social (MOR BARAK; CHERIN, 1998; MOR
BARAK, 2015). Apesar da crescente representatividade de grupos diversos nas organizações,
a exclusão desses públicos dos círculos de influência os impede de contribuir e fornecer
benefícios com seus envolvimentos nos locais de trabalho (MOR BARAK, 2015).
As diferenças de identidade individuais, sejam físicas ou culturais, interagem com uma
variada gama de fatores individuais, grupais e organizacionais (o clima da diversidade) de
modo a determinar o impacto da diversidade nos resultados individuais (satisfação,
identificação organizacional, envolvimento no trabalho e variáveis de desempenho) e
organizacionais (qualidade de atendimento, turnover, lucro e qualidade do trabalho) (COX,
1994). É nesse contexto que surge a necessidade de gerir tal diversidade de forma que se
possa atingir, reduzir suas desvantagens e maximizar suas vantagens para indivíduos, grupos,
empresas e sociedade (COX, 1994; FLEURY, 2000; MOR BARAK, 2016).
Quando se aborda a inclusão no mercado de trabalho, deve-se considerar a sua
diferença em relação a simples inserção, pois enquanto a última requer apenas práticas de
recrutamento e seleção, aquela demanda um programa que envolva todos os processos de
gestão de pessoas, com alinhamento estratégico horizontal entre eles e vertical com os macro
objetivos organizacionais. Dessa forma, para o sucesso desse programa, a área de Recursos
Humanos não pode ser a única envolvida, sendo necessário também o apoio da alta liderança
e de outras áreas funcionais da empresa (CAMPOS; VASCONCELOS; KRUGLIANSKAS,
2013).
A inclusão emergiu como um conceito nuclear na relação com a diversidade, sendo
considerada como uma abordagem-chave em benefício da diversidade (SHORE et al., 2011).
A concepção inclusão-exclusão no local de trabalho se refere à sensação individual de ser
parte de um sistema organizacional tanto no aspecto formal – através do acesso à informação
e aos canais de tomada de decisões – como no informal – onde as informações são extraídas, e
as decisões tomam lugar informalmente (MOR BARAK, 2016).
Para se sentir incluído num grupo de trabalho, um indivíduo precisa ter duas
necessidades complementares satisfeitas: pertencimento e singularidade (SHORE et al.,
2011). Promover um senso de pertencimento é essencial, mas se o indivíduo tiver que abrir
mão de suas características singulares, não irá experimentar a verdadeira inclusão (MOR
BARAK, 2015). Aumentar a representação da diversidade e alcançar a inclusão da força de
trabalho é um processo que ocorre em dois estágios, em que cada um afeta o outro de maneira
circular. O primeiro estágio é reativo – as organizações recrutam e empregam uma força de
trabalho mais diversa; o segundo é proativo – as organizações investem esforços na gestão da
diversidade para promover inclusão e eficácia organizacional (MOR BARAK; TRAVIS,
2009).
Ferdman et al. (2009) afirmam que o construto da inclusão pode ser explorado a partir
de dois componentes: o comportamento inclusivo e a experiência de inclusão. O primeiro diz
respeito às condutas manifestadas por uma pessoa e pelo seu grupo de trabalho, junto com as
políticas organizacionais e os procedimentos, que proporcionam um clima inclusivo. O
segundo é o estado psicológico por parte de um indivíduo que o faz se sentir incluído. Os
autores apresentam os principais elementos do segundo componente e suas respectivas
definições:
i) envolvimento/engajamento no grupo de trabalho: inclui o quanto os indivíduos
participam de seus grupos de trabalho, assim como os sentimentos de pertencimento e de ter
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acesso suficiente à informação e aos recursos necessários para cumprir com suas obrigações
de trabalho;
ii) influência no processo de tomada de decisão: percepção que os empregados têm de
que podem afetar os processos de decisão no grupo de trabalho, tendo voz, sendo escutados e
sentindo como se tivessem efeito também nos componentes da experiência de inclusão;
iii) sentir-se valorizado: focaliza a sensação de que uns se importam com os outros
dentro de um grupo, enquanto indivíduos e membros representantes de um grupo de
identidade social específico;
iv) autenticidade: diz respeito a capacidade de ser você mesmo no trabalho, incluindo
o sentimento de que é possível ser genuíno e honesto nas conversas com os outros membros
do trabalho, que não requerem que se esconda involuntariamente partes relevantes de você
mesmo ou de como os outros o percebem;
v) reconhecendo, atendendo e honrando a diversidade: através do reconhecimento,
atendimento e valorização de sua diversidade, o grupo pode criar processos mais fluidos de
comunicação e integração.
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Embora alguns estudos mostrem que os problemas relacionados à empregabilidade das
pessoas com deficiência estão ligados a estereótipos e estigmas, outras pesquisas têm
comprovado que as PcDs têm talentos e técnicas que podem agregar significativo valor ao
trabalho. Dessa forma, a inclusão de pessoas com deficiência nas organizações envolve a
criação de condições nas quais o indivíduo possa se sentir seguro, valorizado e
completamente engajado (MOREIRA; CAPPELLE; CARVALHO-FREITAS, 2015).
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coexistência de múltiplas concepções de deficiência e indicaram que as empresas priorizavam
as modificações nas condições de trabalho mais do que as ações de sensibilização e práticas
de Recursos Humanos que asseguravam a inserção. Eles reforçaram a importância das ações
de gestão para promover a inclusão das PcDs nos ambientes de trabalho. Evidenciaram
também que, mesmo em empresas ditas responsáveis, ainda há lacunas nas práticas de
diversidade e de inclusão, o que foi também reforçado pelos estudos de Bahia e Schommer
(2010).
Em alguns estudos nacionais mais recentes que investigaram o processo de inclusão de
PcDs em indústrias e empresas de grandes portes ficou constatado que a maioria das empresas
analisadas realizam parcialmente as práticas de inclusão, apresentando como argumentações
para tal: a forte pressão por redução de custos da indústria (CAMPOS; VASCONCELOS;
KRUGLIANSKAS, 2013); a dificuldade de se compreender a importância dessa inclusão por
parte dos gestores; a falha na formação dos profissionais PcDs; e a ausência de acessibilidade
no local de trabalho (MIRANDA; CARVALHO, 2016; PERLIN et al., 2016).
Algumas pesquisas internacionais abordam também as relações entre as PcDs e seus
processos de inserção e inclusão no mundo do trabalho. Nelissen et al. (2016) discutem sobre
os obstáculos enfrentados pelas PcDs, focalizando os frequentes estereótipos e as atitudes
negativas de empregadores e empregados. Os autores procuraram responder como e quando
os estereótipos de empregados em torno de PcDs estão relacionados a comportamentos
inclusivos no trabalho. Dentre os achados da pesquisa, obtiveram que a relação entre
estereótipos (avaliados pelos empregados) e o comportamento inclusivo (avaliados pelos
colegas) é mediado pelas atitudes em relação ao emprego de pessoas com deficiências (alvos).
Além disso, os autores apresentaram que a pressão do trabalho funciona como uma condição
limitante que molda a relação entre estereótipos e comportamento inclusivo, de tal maneira
que o relacionamento é mais forte quando a pressão de trabalho é baixa.
Villanueva-Flores, Valle-Cabrera e Ramón-Jerónimo (2015) realizaram uma pesquisa
que se propôs a testar um modelo explicativo da insatisfação no trabalho de deficientes físicos
como resultado de uma percepção geral de que eles são tratados de forma desigual pelo
empregador e da percepção específica de que eles sofrem discriminação a partir de ações
compensatórias pelos seus gestores. A partir de uma análise quantitativa de dados coletados
numa Confederação de pessoas com deficiência na Espanha, os resultados comprovaram o
modelo. Apesar de o estudo não utilizar a variável inclusão, os componentes relacionados
com a discriminação percebida através de atitudes compensatórias comprometem elementos
da experiência de inclusão (FERDMAN et al., 2009). Os autores apresentam ainda que, do
ponto de vista da gestão de recursos humanos, há que se buscar a eliminação da discriminação
percebida através da implementação de políticas de combate à discriminação e de políticas de
gerenciamento da diversidade.
Em outra pesquisa realizada na Espanha, Pérez-Conesa, Romeo e Yepes-Baldó (2017)
objetivaram responder quais elementos, ligados à gestão de RH, facilitam a inclusão laboral
de pessoas com deficiência. Foram analisadas políticas em diferentes organizações e a
interação entre essas políticas e a adaptação dos sistemas de gerenciamento de recursos
humanos para atingir efetiva inclusão laboral. Os resultados indicaram que a existência de um
plano estratégico para a normalização da deficiência no ambiente de trabalho conduz
efetivamente a altos níveis de inclusão. Para o estudo, tais achados são especialmente
relevantes para as organizações que não adaptaram os sistemas de treinamento,
desenvolvimento profissional e comunicação interna para pessoas com deficiência.
Schur et al (2017) buscaram apresentar novas evidências a respeito das barreiras de
emprego e disparidades dos locais de trabalho enfrentadas por empregados com deficiências,
relacionando as disparidades às atitudes dos empregados. Comparando-se a empregados sem
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deficiências, aqueles com deficiência reportaram: menores salários, menos segurança no
emprego e menos flexibilidade; maior tratamento negativo por parte de gestores; menor
satisfação no trabalho, mas similar comprometimento organizacional e intenção de
rotatividade. Isso sugere o quanto as companhias devem realizar esforços no sentido de
reduzir as barreiras e aumentar as oportunidades para pessoas com deficiência.
Em pesquisa qualitativa realizada numa universidade pública e em duas
administrações municipais na Áustria e na Alemanha, Dobusch (2017) apresenta que, apesar
de as organizações públicas serem espaços com uma longa tradição de várias políticas de
igualdade de oportunidades e serem caracterizadas por uma estrutura internamente
diferenciada nesse sentido, o caminho da diversidade nesses espaços ainda se apresenta
atrelado a discriminações e desigualdades sociais. Mesmo com discursos de diversidade
presentes e sendo caracterizadas por um espaço heterogêneo, as organizações pesquisadas
apresentaram discriminações de grupos de pessoas marcadas como relevantes para a
diversidade como: mulheres, pessoas com deficiência e pessoas com antecedências de
migração. Como consequência, o autor considera que a entrada do discurso da diversidade em
organizações públicas não deve ser imaginada como um processo unilateral de cima para
baixo, mas como o estabelecimento de uma rede amplamente ramificada que é
constantemente (re)produzida e alterada por poderosos discursos dos seus diversos atores.
No contexto nacional, alguns estudos apontam, todavia, avanços e experiências
positivas nos processos de inclusão de PcDs nas organizações, revelando que há uma
percepção boa por parte de trabalhadores com deficiência em relação a oportunidades e
valorização de seus trabalhos (PERLIN et al., 2016). Dentro dessa ótica de avanços, há
empresas que se encontram em transição, saindo da exclusão rumo à inclusão das PcDs e
demonstrando que esse processo ocorre tanto nas empresas como na sociedade brasileira.
Enfim, há a necessidade de constantes investimentos, reflexão e informações sobre as
deficiências para que se diminua o preconceito e a exclusão social (ASSIS; CARVALHO-
FREITAS, 2014; SCHUR et al., 2017).
3 MÉTODO
Esse estudo tem interesse no mundo social, isto é, em aspectos que são singulares,
individuais ou qualitativos. Dessa forma, fundamenta-se no paradigma de pesquisa
interpretativista e é de natureza qualitativa, pois busca entender fenômenos dentro de seus
próprios contextos específicos. De acordo com Corbin e Strauss (1990), os estudos
qualitativos podem ser usados em circunstâncias em que se conheça relativamente pouco
sobre o fenômeno ou para obter novas perspectivas sobre questões das quais se sabe muito.
Quanto aos fins, esta pesquisa classifica-se como sendo do tipo descritiva, cujo
objetivo é desenhar o quadro de uma situação, pessoa ou evento, no intuito de dizer como se
manifesta o fenômeno estudado (GRAY, 2012; SAMPIERE; COLLADO; LUCIO, 2013).
Além disso, optou-se por realizar um estudo qualitativo interpretativo básico ou genérico,
entendido como a propriedade do método de pesquisa cujo foco não é a cultura, como na
pesquisa etnográfica, nem a análise de uma unidade em particular, como propõe o estudo de
caso (CAELLI; RAY; MILL, 2003); assim, no que se refere aos meios, trata-se de uma
pesquisa bibliográfica e de campo, com o uso de entrevistas.
O método de coleta de dados escolhido foi a entrevista semiestruturada, cujo roteiro
foi elaborado a partir do trabalho de Ferdman et al. (2009) sobre experiência de inclusão e
seus componentes, resultando num instrumento de coleta com 10 itens abertos, distribuídos
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para contemplar os cinco objetivos específicos do estudo. As entrevistas duraram em média
40 minutos e foram realizadas no 2º semestre de 2016.
Para se chegar aos entrevistados, foi utilizada a técnica metodológica da bola de neve,
constituindo-se em dois momentos: identificação de sementes e indicação de novos contatos.
De acordo com Vinuto (2014, p.203), “para o pontapé inicial, lança-se mão de documentos
e/ou informantes-chaves, nomeados como sementes, a fim de localizar algumas pessoas com
o perfil necessário para a pesquisa”. Neste primeiro momento, os pesquisadores entraram em
contato com o setor da Universidade que é o responsável pelas políticas de inclusão e obteve
acesso a documentos que continham dados não sigilosos dos funcionários com deficiência.
Além deste setor, também foram identificados informantes-chave no setor de gestão de
pessoas. Através dessas sementes, portanto, chegou-se a alguns funcionários que possuíam o
perfil necessário para a pesquisa. Após a localização desses primeiros entrevistados, então,
procedeu-se o segundo momento da prática, no qual “solicita-se que as pessoas indicadas
pelas sementes indiquem novos contatos com as características desejadas, a partir de sua
própria rede pessoal” (VINUTO, 2014, p.203). Dessa forma, atingiu-se o total de sete
entrevistados.
Por fim, a análise dos dados foi realizada mediante o método de análise de conteúdo,
que busca classificar o material coletado em temas ou categorias que auxiliam na
compreensão do que está por trás dos discursos (SILVA; FOSSÁ, 2013). Assim, os cinco
elementos utilizados por Ferdman et al. (2009) para definir o construto experiência de
inclusão, de acordo com o referencial teórico apresentado, fundamentaram os cinco objetivos
específicos desta pesquisa. Cada objetivo específico, portanto, corresponde a uma categoria
de análise e, para cada categoria de análise, foram estabelecidas subcategorias decorrentes do
entendimento teórico da descrição dos elementos (Quadro 1).
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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Nesta seção, inicia-se a análise e discussão dos resultados, tomando como base as
categorias de análise definidas no Quadro 1. Dessa forma, cada subseção que se segue será
dedicada a uma categoria de análise, que também corresponde a cada um dos cinco objetivos
específicos propostos, totalizando igual número de subseções. Os sujeitos entrevistados na
pesquisa serão tratados, ao longo da análise, pelos códigos E1, E2, E3, E4, E5, E6 e E7. O
Quadro 2 sistematiza as características demográficas que compõem o perfil dos entrevistados.
A partir dos dados do Quadro 2, nota-se que os sujeitos da pesquisa são, na sua
maioria, do sexo masculino. É possível observar também que apenas um deles tem mais de 8
anos de tempo de serviço e que a maioria se encontra na faixa etária até 30 anos. Embora não
seja possível fazer generalizações a partir desses dados, percebe-se que a maior inserção de
funcionários com deficiência na instituição é uma prática que pode ser considerada recente.
Ressalta-se também que as deficiências intelectuais não foram contempladas na pesquisa,
visto que não foi identificado nenhum sujeito com esse tipo de deficiência.
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que, com o passar do tempo ou com a troca de setor, as relações melhoraram. Os principais
fatores apontados como limitadores desse momento foram os problemas de acessibilidade, a
falta de conhecimento sobre a deficiência e, em alguns casos, até a falta de empatia para lidar
com as limitações e necessidades da pessoa com deficiência. Sobre este último aspecto, a
entrevistada E7 declarou que o primeiro grupo de trabalho do qual participou e, em especial, a
chefia, não sabiam lidar com sua deficiência:
A equipe não sabia como lidar com isso, eu passei por alguns desentendimentos com
minha chefia anterior. Não foi legal esse período. Por exemplo, eu preciso fazer a
leitura labial para entender o que as pessoas falam, então, no caso, a minha chefe
não sabia lidar com isso. Não sei se não sabia ou não queria, né? [...] Eu falava
alguma coisa aí ela respondia virada pra mim, no sentido de me provocar. Foi
horrível essa experiência. [...] E essa situação chegou na pró-reitora que é a diretora
geral, né? E o que ela decidiu fazer foi me tirar dessa equipe de empenho, né? E me
colocar em outra sala. [...] Como se eu fosse assim por opção, não é isso, né? Enfim,
foi um desgaste muito ruim. Aí eu saí do setor de empenho e fui para o setor
financeiro, né? Mas foi bem constrangedor o que eu passei.
Neste mesmo sentido, a entrevistada E6 relatou uma anedota que o primeiro chefe
costumava contar sobre sua chegada no setor e a deficiência. Segundo ela, embora o chefe
tivesse a intenção de fazer uma “brincadeira”, a servidora considera “uma brincadeira meio
chata”. Este tipo de tratamento por parte de gestores está de acordo com os achados de Schur
et al. (2017), que traz esse elemento com uma barreira para inclusão de PcDs.
O entrevistado E3 acredita que a falta de conhecimento foi um fator limitador deste
momento, ao afirmar que “elas não lidavam (com as minhas limitações) porque elas não
tinham ainda a noção do que era né? [...] as pessoas elas não têm uma noção do que é
realmente a dificuldade que a gente sente”. Neste mesmo sentido, o entrevistado E2 relatou
que, no início, foi colocado em um posto de trabalho que o obrigava a pedir que um outro
colega se deslocasse, sempre que precisava sair. De acordo com ele, “eu ia tá tendo uma
lembrança de uma limitação direto, né? Pedir pra ele sair [...] era um pouco constrangedor”.
Tais aspectos demandam que, tanto os gestores como os colegas de trabalho, busquem
conhecer melhor e estudar sobre as deficiências de seus subordinados e pares, favorecendo o
clima inclusivo no ambiente de trabalho (BRUNSTEIN; SERRANO, 2008).
Quanto ao momento atual da relação com o grupo de trabalho, em geral, as percepções
são positivas. A entrevistada E6 afirmou que, depois de ter sido transferida de setor, sente-se
mais envolvida com o grupo e atribui essa mudança ao fato de que os novos membros são
pessoas mais jovens e, portanto, mais adaptáveis e dispostas a lidar com as diferenças. Por
outro lado, dois entrevistados demonstraram existir algum tipo de divergência no grupo,
todavia, esses descontentamentos dizem respeito mais a problemas de ordem interpessoal e
burocrática, como problemas relacionados a conflitos de atribuição no setor de trabalho.
Por fim, em relação à subcategoria acesso às informações e recursos, a maioria das
percepções foi igualmente positiva. Todavia, o fator limitador acessibilidade foi novamente
mencionado por todos os entrevistados cadeirantes, como barreira ao acesso. Outro fator que
também retornou neste ponto, por meio da fala do entrevistado E5, foram os problemas de
ordem burocrática. Já a formação superior foi mencionada por alguns entrevistados como
fator facilitador do acesso às informações e aos recursos, neste sentido, o entrevistado E2
afirmou que “por ser do direito, eu entendo muito disso e tenho um pouco mais de facilidade
que meus outros colegas de conseguir essas informações na legislação”.
Dessa forma, conclui-se, de um lado, que fatores limitadores como problemas de
acessibilidade, falta de conhecimento e de empatia frente às condições das PcDs e problemas
de ordem burocrática precisam ser trabalhados dentro da organização. De outro lado,
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percebeu-se que a inclusão educacional, através da formação superior, é um fator que
favorece o sentimento de inclusão, estando de acordo com os estudos de Miranda e Carvalho
(2016) e Perlin et al. (2016), que apresentam as falhas das formações profissionais dos PcDs
como barreiras para a sua inclusão efetiva.
No geral, portanto, observou-se que, apesar de relatos negativos sobre as experiências
nos primeiros grupos de trabalho, a maioria dos entrevistados, atualmente, sente-se engajada e
envolvida em seu grupo. Pode-se atribuir essa mudança aos avanços mais recentes nos
debates acerca do respeito às diferenças nos meios de comunicação e nas legislações que
garantem os direitos de grupos historicamente excluídos socialmente, o que explica também o
porquê de os servidores mais jovens serem mais dispostos a lidar com as diferenças. Tais
achados relacionados a diferenças geracionais talvez ajudem a explicar o motivo de
organizações públicas ainda conviverem com práticas discriminatórias, mesmo quando
apresentam discursos que favoreçam a diversidade (DOBUSCH, 2017).
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importante pelos membros do grupo, e que suas decisões são ouvidas e levadas em
consideração, o que está em sintonia com alguns avanços assinalados por Perlin et al. (2016).
Neste sentido, o entrevistado E1 afirmou que se sente valorizado apenas em parte pelo
grupo de trabalho. Já a fala do entrevistado E5 foi a mais negativa dentre as cinco. De acordo
com ele, há pouca compreensão em relação às suas necessidades pessoais no grupo de
trabalho e o seu sentimento em relação à Universidade é de “total exclusão”. Nesse caso,
percebeu-se que o sentimento de exclusão em relação à organização está relacionado a outros
fatores de inclusão não tratados nesta pesquisa, como o sentimento de justiça e de igualdade
de oportunidade (FERDMAN et al., 2009), aspectos abordados nos estudos de Villanueva-
Flores, Valle-Cabrera e Ramón-Jerónimo (2015) e Schur et al. (2017).
No que diz respeito a sentir-se valorizado enquanto membro de vários grupos de
identidade social, os resultados foram menos positivos. Aqui, também, o entrevistado E1
afirmou sentir-se valorizado apenas em parte. O entrevistado E5 disse que se sente muito
pouco valorizado neste sentido e que, tanto no grupo de trabalho, quanto na Universidade
como um todo, não há comunicação entre a vida pessoal e o ambiente de trabalho. O
entrevistado E2 também acredita que essa valorização social acontece de forma limitada,
segundo ele: “Tem alguns colegas que chegam sim junto e abraçam a causa ali de maneira
superficial [...] algumas vezes o abraçar da causa deles é me trazer informações de que
algumas coisas estão sendo negadas [...] vejo a colaboração deles, mas de encampar a causa
mesmo, não”. Assim, em geral, os entrevistados sentem-se valorizados, especialmente em sua
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dimensão individual, mas a valorização enquanto membro de vários grupos de identidade
social mostrou-se um pouco menor, reforçando aspectos encontrados por Dobusch (2017) em
pesquisa no setor público.
4.4 Autenticidade
Outra categoria de análise investigada nas falas das pessoas com deficiência é a
autenticidade. Ser autêntico, na ótica de Ferdman et al. (2009), significa ser capaz de ser você
mesmo no trabalho, incluindo o sentimento de que é possível ser genuíno e honesto nas
conversas com os outros membros do grupo. Nesse caso, não há a necessidade ou obrigação
de esconder qualquer aspecto sobre si mesmo ou sua visão sobre as coisas. O respeito à
liberdade de se desviar de normas grupais e o pensar fora da caixa são exemplos desse
componente. Para investigar essa categoria, as subcategorias analisadas foram: abertura ao
diálogo e barreiras e constrangimentos.
Quanto à primeira subcategoria, percebeu-se que, apesar de haver um sentimento geral
de se sentirem à vontade para tocar em assuntos referentes ao trabalho, as questões pessoais e
mais íntimas acabam sendo ocultadas muitas vezes, como se identifica na seguinte fala do
entrevistado E1: “[...] qualquer assunto do trabalho, quando é alguma coisa que eu tenha que
fazer [...] sinto essa liberdade [...] mas quando não é, eu fico na minha mesmo fazendo o que
tem que fazer e pronto”.
Os entrevistados E2 e E6 compartilham percepções semelhantes, como evidenciado no
seguinte trecho: Eu assumo uma posição de às vezes pra não entrar em atrito, em
determinados assuntos mais polêmicos, de não falar nada, não emitir minha opinião. [...]
Quanto aos assuntos pessoais, alguns temas sim, outros não. Com algumas pessoas eu não
sinto à vontade (E6). Dois dos entrevistados apresentaram que se sentiam à vontade para falar
de aspectos pessoais, do trabalho e também sobre a sua deficiência: “Eu me sinto à vontade
em falar sobre qualquer tema no meu grupo de trabalho [...] eu me sinto à vontade para falar
sobre qualquer coisa. Há uma confiança nos colegas de trabalho” (E3).
Identificou-se também, em algumas das entrevistas, que falar sobre certos assuntos,
principalmente de ordem pessoal, é considerado algo “não estratégico”, ou alguma coisa que
pode acabar sendo usado contra eles próprios. Destaca-se entre as falas: “Eu tenho uma
personalidade reservada, eu falo sobre família, sobre questões pessoais, mas, no ambiente de
trabalho, eu acredito que você tem que ter cuidado com o que fala. Mas não é que as pessoas
me censuram, é uma censura própria” (E4). Outro entrevistado reforça esse aspecto:
Não me sinto à vontade, não tenho essa confiança, nem na chefia nem nos colegas.
Eu não vejo essa preocupação com o servidor, de ele pode chegar e falar da sua vida.
Na verdade, se ele compartilha um problema, isso é mais usado contra ele, para uma
possível exclusão dele do setor. Se você demonstra uma fragilidade isso é usado
como fato de exclusão contra você, você vai ser tratado como alguém que está
sobrando, isso eu já vi acontecer com outros colegas e comigo. É mais seguro ficar
calado do que se expor (E5).
4.5 Diversidade
Ferdman et al. (2009) afirmam que esse componente diz respeito ao reconhecimento,
ao atendimento e ao respeito à diversidade. Através do atendimento a esse aspecto, pode-se
criar um processo mais fluido de comunicação e integração dentro do grupo de trabalho. Além
disso, quanto mais os membros do grupo dão atenção às múltiplas perspectivas uns dos
outros, mais propensos eles são a acreditar que têm mais oportunidades de interagir
positivamente, honestamente e construtivamente uns com os outros – sem preconceito e sem
resultar em estereótipos – e que as suas especificidades, talentos e características são notadas
e enxergadas como algo benéfico ao grupo. Para investigar essa categoria, as subcategorias
analisadas foram: interação e comunicação, respeito e convivência com as diferenças e
comportamentos inclusivos.
Sobre os processos de comunicação e interação nos grupos de trabalho, observa-se que
há uma fluidez nos processos comunicativos do ambiente de trabalho com a maioria dos
entrevistados e, na maior parte dos casos, uma interação positiva com seus grupos de trabalho.
Neste sentido, a entrevistada E4 comentou: “Eu me sinto integrada, aqui tem uma parceria,
uma cumplicidade, nós conversamos muito e resolvemos as coisas com diálogo [...] há
diálogo entre todos, todo mundo fala e ouve. É um ambiente que me ajuda a desenvolver”.
Por outro lado, três entrevistados apontaram algumas dificuldades ou entraves nos processos
comunicativos, sendo alguns mais referentes aos processos e rotinas de trabalho ou aspectos
mais burocráticos. A entrevistada E6 levanta a questão da concentração de algumas
informações por parte de alguns servidores relacionada a falta de confiança.
Apenas um dos entrevistados apresenta que os processos comunicativos se restringem
somente às questões operacionais e de rotinas do trabalho: “Eu tenho mais contato com a
outra colega que também é servidora técnica administrativa e basicamente nós trocamos
experiências de trabalho” (E5). Já outros apresentam uma valorização desses processos
comunicativos também em momentos de informalidade no trabalho, o que faz com que se
sintam mais incluídos em seus ambientes laborais: “Existe uma interação mais informal, a
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gente conversa sobre tudo, assunto de fora que não é só a respeito de trabalho. Tem os
horários de descontração [...] tem uma interação legal, é bacana” (E4). Um aspecto também
evocado pelo entrevistado E4 diz respeito à necessidade de processos comunicativos prévios
quando ocorrem mudanças no ambiente de trabalho, principalmente quanto às questões de
acessibilidade.
Quanto à convivência com a diferença nos grupos de trabalho, alguns enfatizaram a
diferença no que diz respeito a como as pessoas lidam com as suas deficiências, e outros
trouxeram aspectos relacionados às diferenças de modo geral entre as pessoas, seus pontos de
vista, consensos e divergências. No primeiro grupo, destaca-se a fala: “Uma situação que
ainda me incomoda hoje em dia é em relação ao banheiro, porque ele tem uma porta que
atrapalha em abrir e fechar, então eu tenho que pedir ajuda” (E3). O que se percebe nessa e
em outras falas é que as dificuldades em relação à acessibilidade acabam enfatizando algumas
diferenças e necessidades que esses servidores apresentam, fazendo com que o respeito à
diversidade não seja plenamente atendido (MIRANDA; CARVALHO, 2016; PERLIN et al.,
2016), limitando uma experiência positiva de inclusão. Em relação ao respeito às diferentes
opiniões e pontos de vista no grupo de trabalho, alguns entrevistados trazem elementos
positivos: “No grupo, as diferenças são bem aceitas porque todo tipo de pessoa você convive
ali [...] quando você parte para o trabalho em si ou pra uma conversa mais informal,
descontraída, a participação é muito boa” (E3).
Já quanto às limitações, dificuldades, presença de preconceitos e estereótipos que de
alguma forma possam fazer com os indivíduos não percebam que a diversidade é honrada e
reconhecida no grupo de trabalho, os entrevistados E2 e E7 mencionaram alguns tipos de
preconceitos e estereótipos observados com outros grupos sociais, como homossexuais e
idosos. As falas dos entrevistados E4 e E5 demonstram que também há preconceito no que
não é dito: “Eu tenho dúvida por conta dos comportamentos, há comportamentos que parecem
ser verdadeiros, mas, no fundo, não é bem isso. [...] Só nós sabemos, na nossa alma, quem é
preconceituoso, quem não é” (E5). O entrevistado E3, apesar de não relatar situações de
preconceito, apresenta estratégias defensivas quanto à possibilidade de lidar com elas:
Eu não sinto situações de preconceito porque eu tenho uma coisa comigo de que eu
não permito. Eu sou bem-humorado, gosto de tratar as pessoas muito bem, então eu
não permito que isso aconteça, um olhar atravessado, ou achar que eu não consigo
fazer. Não permito que me atinja. Se precisar, eu reajo. Mas, na verdade, aqui eu
nunca passei por uma situação dessa, em nenhum ambiente aqui da universidade,
nunca senti nada em relação a isso não.
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estando de acordo com a pesquisa desenvolvida por Brunstein e Serrano (2008), que
apresentaram algumas implicações da inclusão para as PcDs, gestores e organizações.
Por fim, o Quadro 3 apresenta um resumo com as falas mais e menos recorrentes
dentro de cada categoria de análise de modo a facilitar a compreensão e visualização dos
dados dessa seção.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo buscou investigar as percepções que as pessoas com deficiência que
trabalham numa universidade pública federal têm a respeito de suas experiências de inclusão
nos seus grupos de trabalho. Ficou constatado que as percepções por parte das PcDs, de suas
experiências psicológicas de inclusão, são bastante amplas, complexas e multifacetadas.
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Buscou-se delimitar as percepções mais comuns entre os sujeitos da pesquisa, sem esquecer
dos aspectos mais singulares e questões específicas trazidas pelos entrevistados (Quadro 3).
Os achados da pesquisa apresentam dados que estão de acordo com estudos anteriores
nacionais e internacionais a respeito da inclusão de PcDs no trabalho, incluindo a presença de
barreiras, tais como: problemas de acessibilidade, a falta de conhecimento sobre as
deficiências, a presença de preconceitos e atitudes compensatórias, e o não reconhecimento e
valorização plena de suas identidades sociais. Vale ressaltar que foram identificados também
aspectos visíveis de uma transição de um processo de exclusão-inclusão em todas as
dimensões analisadas, o que condiz com estudos nacionais mais recentes, que trazem a
convivência de ações inclusivas e discursos que valorizam a diversidade com ações
discriminatórias, preconceitos e atitudes que não valorizam a diferença no ambiente de
trabalho. O fato de algumas das barreiras encontradas serem mais facilmente identificadas no
processo de chegada dos servidores enseja uma pesquisa que aborde com maior profundidade
a socialização organizacional das PcDs na Universidade.
Com relação a contribuições e achados mais inovadores do estudo, algumas outras
barreiras para se gerar um maior clima inclusivo no ambiente do setor público foram
encontradas. Dentre elas, as questões de ordem burocrática e a maior centralização das
decisões. Tais dados enfatizam a necessidade de uma pesquisa que envolva uma análise mais
ampla, abordando o nível organizacional e outros atores da organização, como gestores e
servidores que não apresentam deficiência, buscando identificar se tais aspectos podem ser
enquadrados como inibidores de uma experiência de inclusão positiva por parte de todos os
trabalhadores.
Trazendo à tona as contribuições que focalizam aspectos mais positivos das
experiências de inclusão, a formação dos servidores com deficiência apresenta-se como um
aspecto que tem favorecido e que pode favorecer ainda mais os sentimentos de inclusão nos
grupos de trabalho, pois o saber apresenta-se como um elemento de grande valor nas
organizações, principalmente em instituições de ensino. Estudos futuros poderiam abordar tais
aspectos, procurando compreender se PcDs com maiores níveis de competências
(conhecimentos, habilidades e atitudes) apresentam também maiores níveis de inclusão em
seus ambientes de trabalho. Além disso, como contribuições para a Gestão de RH das
organizações, investimentos na formação e desenvolvimento de seus funcionários com
deficiência podem favorecer o processo de inclusão dos mesmos.
Como limitações da pesquisa, apresenta-se que as entrevistas se restringiram aos
membros do grupo de trabalho que são PcDs, o que fez que com que a abordagem se limitasse
ao nível individual, por mais que fossem trazidas percepções do nível organizacional e,
principalmente, grupal. Além disso, uma maior diversidade em relação aos tipos de
deficiência, tais como a deficiência visual e, principalmente, a intelectual poderiam enriquecer
os achados do estudo, o que já enseja outras pesquisas que busquem compreender as
experiências de inclusão dentro dos variados tipos de deficiência, ou aprofundando-se uma
especificidade.
Além das contribuições já assinaladas, assinala-se o aprofundamento teórico da
temática inclusão e diversidade nas organizações, trazendo vivências e situações
experimentadas por servidores públicos com diferenças visíveis por seus grupos de trabalho.
Além disso, o trabalho investigativo junto a esse público traz à tona e dá voz a essas
diferenças muitas vezes reprimidas, abafadas ou simplesmente veladas no mundo social e do
trabalho, fortalecendo a relevância da pesquisa quanto aos aspectos mais críticos que foram
evidenciados. Além das contribuições pragmáticas para as instituições públicas (e também
privadas) que podem a partir do estudo reconhecer caminhos para uma inclusão efetiva de
empregados com algum tipo de deficiência, contribuindo para uma gestão eficiente e positiva
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de Recursos Humanos, saindo do aspecto apenas reativo e adentrando na dimensão proativa
da gestão da diversidade.
Por fim, outras sugestões para trabalhos futuros podem ser incorporadas além das já
expostas na seção, tais como: investigar o clima de oportunidade (sentimento de justiça e de
igualdade de oportunidades) na organização; analisar de forma mais ampla os
comportamentos inclusivos das PcDs e também dos servidores sem deficiências (gestores ou
não); e realizar estudos quantitativos procurando estabelecer relação entre as variáveis
comportamento inclusivo e experiência de inclusão, correlacionando com outras variáveis
como o comprometimento organizacional, a satisfação no trabalho, a segurança psicológica e
os comportamentos de aprendizagem organizacional, dentre outros.
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