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Documento Assinado Digitalmente por: MARIA TERESA CAMINHA DUERE
ESTADO DE PERNAMBUCO
TRIBUNAL DE CONTAS
Gabinete da Cons. Teresa Duere

MEDIDA CAUTELAR

IDENTIFICAÇÃO DO PROCESSO

Número: 22100248-0
Órgão: Prefeitura Municipal de Águas Belas
Modalidade: Medida Cautelar
Tipo: Medida Cautelar
Exercício: 2022
Relator(a): Cons. Teresa Duere
Interessado(s): Fábio Félix Cabral (Secretário de
Planejamento)
Olegário Avelino Pereira Neto (Pregoeiro)
Futura Comércio de Materiais Educacionais
(empresa representante)
Ciriaco Pereira Freire Junior (representante
legal da empresa representante)
Advogado(s): Sem advogado

RELATÓRIO

Trata-se de Processo de Medida Cautelar formalizado nos


termos do art. 5, § 2º, da Resolução TC n.º 155/2021, a
partir de demanda protocolada (doc. 01), em 27/05/2022, pela
Empresa Futura Comércio de Materiais Educacionais Ltda., em
face do Pregão Eletrônico 007/2022 – Processo Administrativo
Nº 0047/2022, promovido pela Prefeitura Municipal de Águas
Belas, que tem por objeto a (doc. 04 – pág. 02):

“AQUISIÇÃO DE KITS ESCOLARES PARA OS ALUNOS ESCOLAS


DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, conforme condições,
quantidades e exigências estabelecidas neste Edital
e seus anexos.”

O valor máximo admitido pela administração é de R$


1.251.420,95 (doc. 04 – fl. 02).

Ainda de acordo com o Edital, a abertura das propostas


estava prevista para 01/06/2022 (doc. 04 – fl. 01).

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A Empresa Representante argumenta inicialmente que


“embora haja determinação legal para que o agente público
descreva o objeto licitado de acordo com especificações
padrões de mercado, em análise ao edital, nota-se a conduta
contrataria do órgão, conforme se passa a demonstrar”. Nesse
sentido, aponta supostas irregularidades no Edital, que
podemos distribuídas em 05 (cinco) grupos, quais sejam:

1 - DA EXIGÊNCIA DE COMPOSIÇÃO DE OXIBIODEGRADÁVEL NO


ESTOJO ESCOLAR E DE PET RECICLADO NA RÉGUA DE 30 CM E NA
SQUEEZE

Acusa que a exigência do oxibiodegradável para o estojo


escolar e de PET Reciclado para a régua de 30cm “tem como
finalidade DIRECIONAR o certame (para a marca ECOPLACA), não
configura “como usual de mercado”. restringindo a
competitividade, “posto que demais licitantes que ofertam
seus produtos com plástico diverso, tais como polipropileno
ou poliestireno que atingem a finalidade almejada, encontram-
se impossibilitados de participarem do certame”.

Nessa linha, aponta que a exigência de Pet Ecológico


para o Squeeze seria indevida, pois “a composição comum de
mercado corresponde ao poliestireno ou polietileno”.

2 - DA EXIGÊNCIA DE MINA 2B PARA O LÁPIS DE COR

A Representante sustenta que a exigência é incoerente,


pois a “mina” se aplica aos lápis grafites, não ao lápis de
cor.

3 - CRITÉRIO DE JULGAMENTO - MENOR PREÇO GLOBAL POR LOTE

A Representante ataca a formação de lote único com


produtos de natureza distinta (kit escolar e mochila),
composto de itens com “natureza/finalidade/produção
distinta”, em afronta à Súmula TCU 247, que tem a seguinte
prescrição:

É obrigatória a admissão da adjudicação por item e


não por preço global, nos editais das licitações
(...), desde que não haja prejuízo para o conjunto
ou complexo ou perda de economia de escala, tendo
em vista o objetivo de propiciar a ampla
participação de licitantes que, embora não dispondo
de capacidade para a execução, fornecimento ou
aquisição da totalidade do objeto, possam fazê-lo

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com relação a itens ou unidades autônomas, devendo


as exigências de habilitação adequar-se a essa
divisibilidade.

Assim, conclui que:

A adoção de critério de adjudicação pelo menor


preço global por lote em registro de preços é, em
regra, incompatível com a aquisição futura por
itens, tendo em vista que alguns itens podem ser
ofertados pelo vencedor do lote a preços superiores
aos propostos por outros competidores. (Acórdão
2695/2013-Plenário)

4 - DO PRAZO EXÍGUO PARA ENTREGA DAS AMOSTRAS

A Representante menciona o item 14.1 do edital - que se


refere ao prazo de até 03 (três) dias úteis, para apresentar
as amostras acompanhadas dos respectivos laudos técnicos –
para acusar se tratar de prazo demasiadamente exíguo, pois
“não se trata de produto pronto”, “há a necessidade de
confecção das mochilas de acordo com as exigências contidas
em edital”, ou seja, são personalizadas e “envolve desde a
compra dos fios, para obter a composição têxtil solicitada,
misturar esses fios através de um processo específico de
tecelagem, posteriormente tingir nas cores (pantones), para
posteriormente realizar a confecção e por fim personalizá-las
de acordo com o edital”. E mais, “ainda é necessário
apresentar junto com as amostras os laudos, cujo quais é de
notório conhecimento que demoram em média 12 dias úteis para
sua emissão”.

5 - DA EXIGÊNCIA DE MONTAGEM DOS KITS NO PRÉDIO DA


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ÁGUAS BELAS-PE

A Empresa argumenta que, “sem que haja qualquer


fundamento técnico que justifique, restou consignado em
edital a obrigatoriedade da montagem dos kits escolares serem
realizados no prédio da Secretaria Municipal de Educação de
Águas Belas/PE, conforme item 6.2”, o que seria, no seu
entender, uma “exigência ABSURDA” que “visa beneficiar
empresas locais ou situadas nas proximidades da Cidade”.

Ao final, a Empresa Representante requer ao TCE-PE a


suspensão liminar do certame, para, no mérito, dar provimento
à representação, para:

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a) Retirar a composição de oxibiodegradável no estojo


escolar;
b) Retirar a composição do pet reciclado para régua 30
cm;
c) Alterar a composição da squeeze para poliestireno e
polietileno;
d) Retirar a exigência da mina 2B para o lápis de cor
e) Alterar o critério de julgamento para menor preço por
item – em especial separando os kits escolares das
mochilas, haja vista que o menor preço por lote
impede a seleção da proposta mais vantajosa, pois
determinado licitante que poderia atender um ou mais
itens, porém não todos encontra-se impossibilitado de
participar do certame. Conduta, essa que afronta os
princípios elencados no art. 3º da Lei 8.666/93.
f) Fixar prazo razoável para entrega das amostras, não
sendo inferior a 20 dias devido a necessidade de
emissão dos laudos
g) Retirar a exigência de montagem dos kits no prédio da
Secretaria Municipal de Educação de Águas Belas/PE,
conforme item 6.2.
h) Republicar o edital com as devidas alterações

Submetida à apreciação da auditoria (Gerência de


Auditoria de Procedimentos Licitatórios – GLIC), o corpo
técnico apresentou Parecer Técnico (doc. 13). A análise
verificou que o mesmo documento encaminhado ao TCE-PE pela
Empresa Representante também fora enviado à Prefeitura de
Águas Belas (doc. 06), como impugnação ao edital. Assim, a
auditoria já considerou a resposta da Prefeitura ao teor da
impugnação (doc. 07/08).

Após análise, a auditoria narrou o que segue:

1 - DA EXIGÊNCIA DE COMPOSIÇÃO DE OXIBIODEGRADÁVEL NO


ESTOJO ESCOLAR E DE PET RECICLADO NA RÉGUA DE 30 CM E NA
SQUEEZE

A Prefeitura alegou que é possível sim fazer uma


licitação sustentável, e que esse teria sido, segundo ela, a
orientação da prestigiada Escola de Contas do TCE-PE, quando
da capacitação realizada em 2018 (Escola de Contas lança
Curso “A Agenda 2030 e a Gestão Municipal”). Ademais, citou o
art. 3º da Lei de Licitações, que estabelece que a licitação,
dentre outros, destina-se a garantir a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável.

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Especificamente em relação ao conteúdo apresentando pela


Empresa Representante, revela ser uma “acusação criminosa de
direcionamento”, uma vez que o estojo com as características
previstas no edital “é facilmente encontrado na internet”,
citando outras empresas que vendem o produto, além da
ECOPLACA, ao contrário do que afirma a Representação.

Quanto à argumentação de que é errado a


especificação do PET reciclado para a injeção da
régua de 30 cm e garrafa squeeze trata-se mais uma
vez de inverdades e distorções, cômodas ao
denunciante. Esta municipalidade na elaboração
deste termo de referência realizou ampla pesquisa
em editais de todo Brasil, para compra de kits
escolares.

A auditoria, por sua vez, destaca o fato de que, ao


examinar os itens descritos no Termo de Referência do Edital
em tela, verificou-se 05 (cinco) itens com composição de
resina oxibiodegradável, pet reciclado e/ou pet ecológico
(esquadro, transferidor, régua, estojo escolar e garrafa de
plástico do tipo Squeeze), e não apenas os 03 listados pela
Empresa Representante (os últimos citados a pouco). Anota,
ainda, ter feito uma pesquisa e encontrado diversos
fabricantes dos itens mencionados, nos termos do edital,
embora, por outro lado, reconheça que “há uma predominância
dos itens que não utilizam os materiais” sustentáveis
exigidos pelo edital.

Embora a pesquisa afaste o direcionamento acusado pela


Empresa Representante, a auditoria, ao analisar o disposto
contido no art. 3º da Lei de Licitações (Lei 8.666/93),
entende que, ao passo que o caput assegure a promoção do
desenvolvimento nacional sustentável, o inc. I, do § 1º, do
mesmo artigo, prevê que é vedado aos agentes públicos admitir
condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o caráter
competitivo do certam.

No entender da auditoria, haveria um conflito entre a


promoção do desenvolvimento nacional sustentável e o
Princípio da Competitividade do certame, levando-a a entender
“que seria razoável permitir a participação dos fornecedores
que ofereçam os itens com o material de resina
oxibiodegradável, pet reciclado e/ou pet ecológico com
material diverso. E, no caso, de empate de preço entre os
citados materiais, seria dada preferência aos itens com o

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material de resina oxibiodegradável, pet reciclado e/ou pet


ecológico”.

2 - DA EXIGÊNCIA DE MINA 2B PARA O LÁPIS DE COR

A Prefeitura “que ocorreu foi um erro de digitação e que


(...) será removida a nomenclatura da especificação acerca da
“carga/mina 2b””. A auditoria, a partir desse reconhecimento,
dá por sanado o ponto em questão.

3 - CRITÉRIO DE JULGAMENTO - MENOR PREÇO GLOBAL POR LOTE

Ao passo que a Prefeitura defende a manutenção do


formato estabelecido no edital, qual seja, o julgamento por
menor preço global por lote (que é único), a auditoria, por
lado, aborda o conteúdo do edital mais a fundo e entende que
o formato adotado pela Prefeitura contraria a Lei de
Licitações (Lei 8.666/93, art. 23, § 1º), que prescreve que
as “compras efetuadas pela Administração serão divididas em
tantas parcelas quantas se comprovarem técnica e
economicamente viáveis, procedendo-se à licitação com vistas
ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado
e à ampliação da competitividade sem perda da economia de
escala”. Assim, conclui que o parcelamento é a regra e o
agrupamento, exceção.

A manifestação do representado não demonstrou


adequadamente a concentração do referido objeto em
lote único (exceção), quando o mais adequado seria
a divisão do objeto em dois lotes (regra), quais
sejam: um lote com os itens 1 a 24 que corresponde
ao kit escolar propriamente dito, enquanto, outro
lote com os itens 25 e 26 que correspondem à
mochila.

Do exposto, entende que “a divisão do objeto em dois


lotes corresponde à solução mais adequada ao prescrito no §1º
do art. 23 da Lei Federal nº 8.666/1993”.

4 - DO PRAZO EXÍGUO PARA ENTREGA DAS AMOSTRAS

A prefeitura - ao analisar a queixa em relação ao prazo


de até 03 (três) dias úteis, para apresentar as amostras
acompanhadas dos respectivos laudos técnicos – informa que
irá reavaliar o edital, e seguirá outros editais, a exemplo
da Secretaria de Educação do Estado, que prevê o prazo de 10
(dez) dias úteis.

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Em relação ao prazo de 10 (dez) dias úteis, a auditoria


entende como razoável e dá o item como sanado.

5 - DA EXIGÊNCIA DE MONTAGEM DOS KITS NO PRÉDIO DA


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ÁGUAS BELAS-PE

A prefeitura argumento “não tem interesse em beneficiar


quaisquer empresas, do contrário, as medidas cabíveis na
elaboração do Termo de Referência vigente, visam tão somente
uma entrega transparente, que traga no seu bojo o zelo por
todos os princípios inerentes a administração pública, tais
quais: Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e
dentro da execução contratual a Eficácia dos atos e a lisura
na execução contratual, atentamos que essas citações pelo
impugnante é um afronto a administração pública, pois o
impugnante faz transparecer que: (i) desconhece da natureza
do objeto oferecido, ou (ii) não possui ramo de atividade
seja compatível com o objeto desta licitação. Acusa a Empresa
de atuar com “caráter meramente protelatório”.

A auditoria entende que não é razoável a exigência da


montagem dos kits escolares serem realizados no prédio da
Secretaria Municipal de Educação de Águas Belas/PE.

A montagem dos kits escolares nas dependências da


Secretaria Municipal de Águas Belas acarretará um
custo adicional e desnecessário aos potenciais
licitantes porque haverá o deslocamento de pessoas
e equipamentos para montagem dos citados kits,
enquanto, que se tal montagem fosse realizada na
sede da empresa da licitante vencedora os custos.

Além do mais, a fiscalização dos kits escolares não


será prejudicada porque os mesmos poderão ser
devolvidos, caso apresentem defeitos e/ou
discordância com as especificações editalícias.

(...)

Os subitens 6.2 e 6.2.1 do Termo de Referência do


Edital em tela apresenta caráter restritivo,
previsto no art. 3º, § 1º, inciso I da Lei Federal
Nº 8.666/1993, porque não foi demonstrado
adequadamente no citado edital (doc. 4) nem na
manifestação da representada (doc. 8) a necessidade
de tal exigência.

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Em síntese, a auditoria conclui pela procedência em


parte das alegações trazidas pela Empresa Futura Comércio de
Materiais Educacionais Ltda, destacando que o certame se
encontra suspenso desde o dia 01 de junho de 2022.

Ao final, como proposta de encaminhamento, sugere o


envio de Alerta de Responsabilização ao Pregoeiro e ao
Secretário de Planejamento do Município de Águas Belas, em
face dos fatos narrados, no sentido de que tome ciência das
falhas detectadas e registradas pela auditoria, e assim que
for publicada a nova versão editalícia com a correção
proposta neste Parecer Técnico, enviar uma cópia do referido
edital ao TCE, pelo canal disposto no Parecer Técnico (doc.
12, pág. 20).

É o relatório.

DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

Antes de tudo, é importante esclarecer e consignar que a


jurisprudência do TCE-PE, na linha do Tribunal de Contas da
União (TCU), tem assentado o entendimento no sentido de que o
Tribunal de Contas não se presta a funcionar como instância
recursal em que o licitante vem defender seus interesses
contra a administração, após ter a negativa de provimento de
determinado pleito (Acórdão nº 2.182/2016 – TCU – 2ª Câmara),
ou prolatar provimentos em substituição às tutelas
jurisdicionais reclamadas por particulares para a salvaguarda
de seus direitos e interesses subjetivos (Acórdão nº 322/2016
– TCU – Plenário), sendo, a atuação do TCE-PE, orientada pela
defesa do patrimônio público (Processo TCE-PE n.º 1854690-0 –
julgado em 05/06/2018; Processo TC n.º 1859069-0 – julgado em
11/09/2018; Processo TC n.º 1859131-0 – julgado em
22/01/2019).

Assim, “tutelas jurisdicionais reclamadas por


particulares para salvaguarda de seus direitos e interesses
subjetivos”, não se inserem nas competências dos Tribunais de
Contas, “salvo se, de forma reflexa, afetarem o patrimônio
público ou causarem prejuízo ao erário” (Acórdão 332/2016-TCU
– Plenário). No mesmo sentido, assentou o Supremo Tribunal
Federal (STF), ao se referir ao Tribunal de Conta da União
(TCU), que “não compete ao Tribunal cuidar de interesses
privados, mas examinar a legalidade e a regularidade dos
procedimentos e dos fundamentos adotados por essa estatal”,

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“não cabe ao TCU substituir o Poder Judiciário” (Medida


Cautelar em Mandando de Segurança 36099 – Distrito Federal).

Dito isto, é pertinente que façamos o registro de que,


no caso prático, as questões trazidas pela Empresa
Representante não estão circunscritas aos seus interesses
subjetivos. O interesse público está presente, o debate é
importante e alcança, de forma abstrata, disposições do
edital de uma licitação que, de fato, exigem correções.

De forma objetiva, a auditoria conclui pela procedência


em parte das alegações trazidas pela Empresa Futura Comércio
de Materiais Educacionais Ltda., nos seguintes termos:

1 - DA EXIGÊNCIA DE COMPOSIÇÃO DE OXIBIODEGRADÁVEL NO


ESTOJO ESCOLAR E DE PET RECICLADO NA RÉGUA DE 30 CM E NA
SQUEEZE

Entende que seria razoável permitir a participação dos


fornecedores que ofereçam os itens com o material de resina
oxibiodegradável, pet reciclado e/ou pet ecológico ou com
material diverso. E, no caso, de empate de preço entre os
citados materiais, seria dada preferência aos itens com o
material de resina oxibiodegradável, pet reciclado e/ou pet
ecológico.

- Nossa análise:

Divergimos da auditoria nesse ponto, por entendermos que


as licitações de cunho sustentável é sim uma possibilidade.
Ademais, a auditoria registra que não há direcionamento,
conforme alegou a Empresa Representante, sendo encontrado
vários fornecedores no mercado. O fato de haver “uma
predominância dos itens que não utilizam os materiais”
sustentáveis não é fato impeditivo para sua realização.

2 - DA EXIGÊNCIA DE MINA 2B PARA O LÁPIS DE COR

A representada reconheceu a referida falha e que fará a


correção necessária, considerando-se como sanado este ponto
da representação.

- Nossa análise:

Item superado.

3 - CRITÉRIO DE JULGAMENTO - MENOR PREÇO GLOBAL POR LOTE

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A divisão do objeto em dois lotes corresponde à solução


mais adequada ao prescrito no §1º do art. 23 da Lei Federal
nº 8.666/1993.

- Nossa análise:

Corroboramos com a conclusão da auditoria, no sentido de


haver segregação em dois lotes o objeto da licitação (Lote
01: kit escola e lote 02: mochila).

4 - DO PRAZO EXÍGUO PARA ENTREGA DAS AMOSTRAS

Entende como razoável e adequada a correção anunciada


pela Prefeitura, qual seja, de alterar de 03 (três) dias
úteis para 10 (dez) dias úteis para entrega das referidas
amostras com os respectivos laudos técnicos, tornando este
ponto da auditoria como sanado.

- Nossa análise:

Item superado.

5 - DA EXIGÊNCIA DE MONTAGEM DOS KITS NO PRÉDIO DA


SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE ÁGUAS BELAS-PE

Tal exigência, prevista nos subitens 6.2 e 6.2.1 do


Termo de Referência do Edital em tela, apresenta caráter
restritivo, previsto no art. 3º, § 1º, inciso I da Lei
Federal nº 8.666/1993, porque não foi demonstrado
adequadamente no citado edital, nem na manifestação da
representada a necessidade de tal exigência.

Nossa análise:

Corroboramos com a conclusão da auditoria, de que não


restou comprovado o fundamento para que se exigisse a
montagem dos kits no prédio da Secretaria, exigência que deve
ser eliminada.

Do exposto, faz-se necessário, portanto, que a


Prefeitura, nos termos acima comentados: a) promova a divisão
do objeto em lotes; e b) retire a exigência editalícia de
montagem dos kits no prédio da Secretaria Municipal de
Educação. Além, é claro, dos ajustes já anunciados, no
tocante à ampliação do prazo de entrega das amostras e da
correção relativa ao lápis de cor.

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Quanto ao encaminhamento sugerido pela auditoria, qual


seja, de Alerta de Responsabilização, considerando que o
certame está suspenso, temos algumas considerações a fazer.

Primeiro, é importante e necessário consignar que o fato


de o certame estar suspenso, por si só, não afasta a
intervenção cautelar do TCE.

Quando há uma suspensão específica em razão da atuação


do TCE, devidamente formalizada nesses termos, a rigor, é o
caso de não haver necessidade de um comando cautelar, e sim a
anotação de determinações para as devidas correções. Esse
foi, por exemplo, o caso do Processo TC 2054934-9, em que
houve a suspensão do certame pela Prefeitura, “tendo em vista
a necessidade de revisão do edital”, o que levou o TCE a não
expedir medida cautelar, pois havia uma decisão
administrativa formal e publicada no sentido de que o edital
seria revisado, conforme orientações da Corte de Contas.

No caso, o certame se encontra suspenso por força de uma


impugnação da Empresa Futura Comércio de Materiais
Educacionais, realizada à Prefeitura. Consta da publicação
que a Prefeitura acolheu parcialmente a impugnação, que irá
reavaliar o edital e republicar os prazos iniciais, o que
pode ser feito a qualquer momento. A rigor, nada impede que a
administração levante a suspensão e dê seguimento ao certame.
Por outro lado, entendo como razoável a avaliação da
auditoria de que não haveria necessidade de intervenção
cautelar (pelo fato de o edital estar suspenso), sobretudo em
razão da baixa complexidade das questões tratadas e o fato de
o edital estar em revisão.

O que queria destacar é que, a depender do teor da


decisão administrativa (formal) e do caso em análise, a
suspensão do certame pode ou não afastar a intervenção
cautelar do TCE, ainda que a decisão do Tribunal seja a de
dar estabilidade / segurança à suspensão.

Embora a Prefeitura tenha acolhido parcialmente a


impugnação apresentada pela Futura Comércio de Materiais
Educacionais (afirmando rever o prazo de entrega das amostras
e corrigir a descrição relativa ao lápis de cor), há outros
pontos não acolhidos e que o TCE vê a necessidade de revisão
(divisão do objeto em lotes e exclusão da exigência
editalícia de montagem dos kits no prédio da Secretaria
Municipal de Educação).

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Segundo, é sobre a natureza não mandamental do Alerta de


Responsabilização (abordada pelo art. 22, § 1º, da mencionada
Resolução TC 151/2022). O Alerta adverte, levanta questões
que podem trazer problemas ao gestor e aponta, no mínimo,
para a necessidade de uma maior atenção ou uma releitura /
revisão do ato administrativo a que ele se refere.

A proposta de encaminhamento apresentada pela auditoria,


qual seja, de um Alerta de Responsabilização no sentido de
que tome ciência (o pregoeiro e o Secretário de Planejamento)
das falhas detectadas e registradas pela auditoria, e assim
que for publicada a nova versão editalícia com a correção
proposta neste Parecer Técnico, enviar uma cópia do referido
edital ao TCE, traz um comando impróprio, não compatível com
a figura do Alerta de Responsabilização, por se tratar de uma
ordem mandamental que, na prática, não difere em nada de uma
ordem cautelar. A sugestão de que se envie a nova versão do
edital, pressupõe, antes, uma anulação.

O que quero dizer é que, embora concorde com necessidade


de correção do edital e da publicação de uma nova versão, o
veículo para determinar esse caminho não é o Alerta de
Responsabilização, por não ter natureza mandamental. O fim
buscado pela auditoria deve ser encartado como
“determinação”, já que estamos debatendo questões no âmbito
de um processo devidamente formalizado (e não em
Procedimentos Internos, ou qualquer outro), e não na roupagem
de Alerta (cuja natureza não tem ordem mandamental, tampouco
cautelar, e aqui fica a nossa crítica ao disposto no art. 22,
§ 2º, da Resolução TC 155/2021).

Diante do exposto,

CONSIDERANDO o teor da Representação apresentada pela


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face do Pregão Eletrônico 007/2022 – Processo Administrativo
Nº 0047/2022, promovido pela Prefeitura Municipal de Águas
Belas, que tem por objeto a “AQUISIÇÃO DE KITS ESCOLARES PARA
OS ALUNOS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, conforme
condições, quantidades e exigências estabelecidas neste
Edital e seus anexos” (valor máximo admitido pela
administração é de R$ 1.251.420,95);

CONSIDERANDO que a abertura das propostas estava


prevista para 01/06/2022, mas o certame fora suspenso em
razão da impugnação apresentada junto à Prefeitura pela

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Documento Assinado Digitalmente por: MARIA TERESA CAMINHA DUERE
ESTADO DE PERNAMBUCO
TRIBUNAL DE CONTAS
Gabinete da Cons. Teresa Duere

Empresa Futura Comércio de Materiais Educacionais Ltda. (de


conteúdo idêntico à Representação protocolada junto ao TCE);

CONSIDERANDO que, embora a Prefeitura tenha acolhido


parcialmente a impugnação apresentada pela Futura Comércio de
Materiais Educacionais (afirmando rever o prazo de entrega
das amostras e corrigir a descrição relativa ao lápis de
cor), e informando que iria reavaliar o edital e republicar
os prazos iniciais; há outros pontos não acolhidos que o TCE
vê a necessidade de revisão, por se mostrarem restritivos à
competividade (divisão do objeto em lotes e exclusão da
exigência editalícia de montagem dos kits no prédio da
Secretaria Municipal de Educação);

CONSIDERANDO o disposto no art. 71, inc. IX da


Constituição Federal de 1988 (c/c art. 75 do mesmo diploma) e
no artigo 2º, incisos X, que prescreve a competência de este
Tribunal “assinar prazo para que o órgão ou entidade adote
providências necessárias ao exato cumprimento da lei”.

INDEFIRO, ad referendum da Segunda Câmara, a Medida


Cautelar pleiteada, em razão de o edital já estar suspenso e
em processo de revisão pela Prefeitura, para posterior
republicação.

DETERMINO à Prefeitura Municipal de Águas Belas que: a)


Promova a divisão do objeto em lotes; e b) Exclua a exigência
editalícia de montagem dos kits no prédio da Secretaria
Municipal de Educação; além, é claro, dos ajustes já
anunciados pela própria prefeitura, no tocante à ampliação do
prazo de entrega das amostras para 10 (dez) dias e da
correção relativa às características do lápis de cor,
enviando ao TCE a nova versão do edital, assim que publicada.

À Secretaria deste Gabinete, proceda-se à:

a) Publicação da presente decisão interlocutória no


Diário Oficial Eletrônico deste Tribunal, conforme
estabelece o art. 6º, caput, da Resolução TC 16/2017;
e

b) Ciência, do inteiro teor desta deliberação, aos


Conselheiros votantes e ao membro do MPCO que atuará
na homologação, nos termos do art. 6º, § 2º, da
Resolução TC 16/2017.

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Documento Assinado Digitalmente por: MARIA TERESA CAMINHA DUERE
ESTADO DE PERNAMBUCO
TRIBUNAL DE CONTAS
Gabinete da Cons. Teresa Duere

Notifique-se a Prefeitura Municipal de Águas Belas,


para, querendo, no prazo de 05 (cinco) dias úteis, a partir
da comunicação, apresentar esclarecimentos e/ou eventuais
providências adotadas em relação a esta Medida Cautelar, nos
termos do art. 14 da Resolução TC n.º 155/2021.

Comunique-se a Empresa Futura Comércio de Materiais


Educacionais Ltda.

Recife, 16 de junho de 2022.

Maria Teresa Caminha Duere


Conselheira

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