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SEMENTES

DE
VIDA ETERNA

Divaldo Pereira Franco


&
Espíritos Diversos
ÍNDICE

SEMENTES DE VIDA ETERNA 1


1. ANTE ALLAN KARDEC 3
2. COMBATE INGLORIO 4
3. JUSTIFICATIVAS FALSAS 6
4. DIAGNOSE E TRATAMENTO 8
5. INCREDULIDADE 10
6. A NOITE DESCE 11
7. URGÊNCIA PARA VOCE 13
8. DOENÇA E TERAPEUTICA 14
9. DISTURBIOS EMOCIONAIS 15
10. NEUROSES 17
11. O PROBLEMA DAS PSICOSES 19
12. PERSONALIDADES MÓRBIDAS 21
13. ORAÇÃO NO TEMPLO DA CARIDADE 22
14. CONVITE 23
15. UNIFICAÇÃO E UNIÃO 24
16. ORAÇÃO DA RENUNCIA 25
17. DOENTES 26
18. CARIDADE EM VOCE 27
19. JESUS ESTÁ NAS RUAS... 28
20. JUNTO AOS QUE SOFREM 29
21. EMERGENCIA PARA A CRIANÇA 31
22. SEU CORPO DADIVA DE DEUS 33
23. BEM E MAL 34
24. BEM E MAL VIVER 35
25. PENSAR PARA AGIR 36
26. QUEM SABE... 37
27. PARADOXOS HUMANOS 38
28. CRISES E VOCE 39
29. GRANDEZA DO ESPIRITISMO 40
30. CONSIDERANDO A OBSESSÃO 42
31. INDUÇÃO OBSESSIVA 44
32. POEMA DAS MÃOS 45
33. CRIANÇAS NINGUÉM 46
34. ORFÃOS 47
35. RAIO DE SOL 48
36. EXORAÇÃO 49
37. MELODIA 50
38. FERMENTO DE PAIXÕES 51
39. PREPARANDO O NOVO MUNDO 53
40. APROVEITAMENTO DE TEMPO 54
41. OS ESPÍRITOS E NÓS 55
42. COMUNHÃO 56
43. CONFORME A VIDA, A MORTE 57
44. TRIUNFO A QUALQUER PREÇO 58
45. ANÁTEMAS INJUSTOS 59
46. AMOR PARA COM ELES 61
47. LEIS DE AFINIDADES 62
48. COM AMOR 63
49. RECORDANDO E ORANDO 64
50. TORMENTOS DA OBSESSÃO 66
51. KiaNgola, kutuluka kua muxima (Paze)! 68
52. DOUTRINA DE EDUCAÇÃO 70
53. DEFINIÇÃO ESPÍRITA 72
54. ANTE IMPEDIMENTOS 74
55. ANTE A MOCIDADE 75
56. NÃO HA MORTE 77
57. PÁGINA À MULHER ESPÍRITA 79
58. AFLIÇÕES E LIVRE-ARBITRIO 80
59. CONSERVA A PAZ 81
60. PAZ NO NATAL 82
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SEMENTES DE VIDA ETERNA

Não obstante transcorridos quase vinte séculos, as lições incomparáveis do Cristo prosseguem com
atualidade comovedora.
A história do pensamento experimentou várias tentativas nos diversos campos do conhecimento, ora
adicionando ou não experiências, à medida que desprezava conceitos que se esvaziavam de conteúdo,
superava escolas de realizações sem estrutura legítima, caldeando informações e elaborando princípios
válidos por uns tempos, noutros desconsiderados, enquanto a palavra-roteiro do Messias Divino continua
hoje imperiosa e oportuna quanto o fora no momento em que enunciada.
As variadas transformações culturais, sociais e tecnológicas não lograram encontrar meio para invalidar
o contingente moral e espiritual do Evangelho, inobstante o escoar de dois mil anos de modificações em
que gerações se sucederam quais camadas de areia que se sobrepõem ao sopro dos ventos... Esse valioso
conteúdo permanece inalterado, diretriz e medicamento para as angústias do coração e as incertezas,
intranqüilidades da mente...
Os pesquisadores da ciência e os filósofos negadores embora tentando substitutivos para o
Espiritualismo, alegando a imperiosa urgência em destruir a esperança da imortalidade da alma,
esbarram, por mais cépticos, nas claridades meridianas e consoladoras do Além-Túmulo, bem como da
sempre nova mensagem cristã, insuperável, oportuna.
Ainda repontam, mesmo hoje, nos arraiais dos honestos investigadores da sobrevivência do Espírito
certa ojeriza pelo ensino evangélico, asseverando, indóceis e invigilantes, que é desnecessária a vivência
do Evangelho para a felicidade do homem. Porque os seus conceitos remanesçam fixados às informações
das religiões ortodoxas, não se tendo permitido maior estudo e reflexão nos ensinos morais profundos
da Boa Nova sob a angulação luminescente do Espiritismo, afirmam que o comportamento evangélico
é pieguista, dando origem a personalidades fracas, dúbias...
Muito fácil, no entanto, a posição agressiva, reacionária, acrimoniosa... A resistência pacífica e branda,
a perseverança nos ideais superiores sem alarde nem explosões de estoicismo exterior é muito mais
exigente, impondo maior dose de coragem e de abnegação moral do que pode parecer.
A Doutrina Espírita, por isso mesmo, pode ser considerada como a Renascença do Cristianismo
primitivo, trazendo de volta a emulação corajosa dos "homens do Caminho", a estesia sacrificial que
caracterizou os lídimos servidores das horas primeiras, produzindo-lhes nas almas uma imediata
transformação para melhor.
O Espiritismo reacende nas almas a empatia da fé, fortalecendo, realmente, o homem para enfrentar as
vicissitudes, em decorrência do seu ensino vivo da imortalidade, resultando o comportamento moral e a
experiência filosófica da criatura então, interiormente, iluminada.
Nunca, quanto ocorrem nestes dias, a vivência da mensagem evangélica se fez tão necessária. A dor, que
sobrenada nas caudais da miséria como nas fartas expressões da abundância econômica, tem sido um
desafio ainda não devidamente enfrentado, para o vigoroso combate ao comando do amor, da fé e da
razão. Ao Espiritismo está reservado esse notável cometimento que já se inicia, desafiador.
Diversos Amigos Espirituais nos reunimos para a elaboração das páginas que se vão ler, trazendo
opiniões e pensamentos, estudos e experiências sobre várias e importantes questões, que ventilamos sob
as claridades do Evangelho e da Codificação Kardequiana, objetivando auxiliar, no esforço conjugado
de ambos os planos da vida, a concretização do bem de todos.
Certamente que não acrescentarão informações novas, que já não sejam conhecidas, embora a roupagem
de que cada um reveste suas idéias.
Surgem hoje, neste livro, após terem aparecido algumas como publicações esparsas, na Imprensa Espírita
como na leiga, ora refundidas, reexaminadas pelos seus Autores, que as enfeixamos nesta Obra.
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São sementes de vida eterna as preciosas palavras do Senhor depositadas no solo dos corações,
aguardando oportuna fecundação.
Estão presentes essas sementes de vida eterna em cada capítulo, em cada página do presente trabalho,
aguardando que o sol do amor as faça germinar nas almas que as lerem.
Orando ao Senhor para que o esforço dos que prosseguimos além das fronteiras do corpo físico, possa
ser útil aos que se detiverem por um pouco a penetrar o sentido de cada mensagem, rogamos-Lhe que a
todos nos abençoe com a iluminação da consciência e a paz do coração.

Joanna de Angelis
Salvador, 02-01-1978
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1. ANTE ALLAN KARDEC

Todas as religiões estabeleceram os seus postulados em dogmas de fé inamovíveis.


Allan Kardec, porém, traduzindo o pensamento do Cristo, fundamentou a Religião Espírita nos códigos
da razão, insculpidos na consciência individual do homem.
Todos os pensadores se preocuparam em solucionar a problemática do homem, criando escolas de
conhecimento e engendrando sistemas que objetivam combater-se uns aos outros.
Allan Kardec, todavia, refundiu os conceitos idealistas de Sócrates e Platão, erguendo um monumento
granítico em linhas morais, apoiado nos alicerces dos fatos.
Todos os pesquisadores da Ciência partiram da premissa, na busca infatigável da demonstração. Allan
Kardec, sem embargo, mergulhou no oceano infinito dos fatos, deles extraindo a grandiosa constelação
de luzes e experimentações que constitui a Ciência Espírita.
Todos os religiosos sempre afirmaram a imortalidade da alma, sem terem como prová-la.
Allan Kardec, entretanto, partindo da observação, comprovou a imortalidade pelos métodos vigen
tes da demonstração, elucidando as leis que regem o intercâmbio entre o mundo fisico e o mundo
espiritual. A reencarnação sempre esteve presente nas experiências e informações extra-fisicas dos
séculos como chave da incógnita dos sofrimentos humanos.
Allan Kardec, contudo, conseguiu, às expensas do Mundo Espiritual que o assistia, extrair os
fundamentos éticos relevantes para a felicidade do homem, nos conceitos reencarnacionistas, estribando,
no Evangelho, a rota de segurança, única, aliás, propiciatória para colimar-se as metas evolutivas.
Todos os tratados de Filosofia têm sido apresentados em linguagem complexa, somente compreensível
pelos especialistas e estudiosos...
Allan Kardec, porém, conseguiu debater e estudar os pontos capitais do pensamento universal em
linguagem simples, compatível com a mente do povo, sem esquecer as inteligências brilhantes, a todos
franqueando devassar os umbrais da Imortalidade à luz da Codificação Espírita.
Todos os militantes das religiões e das filosofias procuraram definir Deus ou negá-lo. Allan Kardec, a
exemplo de Jesus, apresentou Criador, na Criação, e a Divindade manifesta nos seus atributos de
grandeza e magnitude, sem insistir em definir o Indefinível.
É por esta razão que, ante Allan Kardec, reverenciamos a sabedoria dos séculos, a ciência do amor e a
razão especial de que todos os seres necessitamos para a consolidação do Consolador no âmago da vida,
e no cérebro de todas as vidas.
Nesta hora tumultuosa de inquietações, dúvidas e incertezas busquemos em Allan Kardec a resposta para
os magnos problemas do cotidiano, e, seguindo suas linhas de raciocínios e ações, esqueçamos trevas e
dores, desdenhando promoções e remoques, para nos preocuparmos com o auto-burilamento, na
incessante faina de ascender e amar, porquanto no amor que é a verdadeira ciência da vida todas as
finalidades se encerram e todas as aspirações se concretizam, buscando a direção do Infinito Amor.
Respeitando Allan Kardec, o Embaixador do Céu para a Era Nova, digamos, jubilosos, como os cristãos
primitivos antes do holocausto: Glória a ti, mestre! Os que estamos procurando construir o Mundo Novo
te saudamos e agradecemos!

Vianna de Carvalho
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2. COMBATE INGLORIO

Inveterados, renitentes adversários do Espiritualismo sempre se levantaram contra as Doutrinas


religiosas, asseverando ausência de fatos com que se pudessem comprovar as suas estruturas filosóficas.
Todavia, diante do Espiritismo que se fixa à linguagem da experiência objetiva, de fácil comprovação,
recuam, zombeteiros e displicentes, engendrando hipóteses com que supõem poder destruir as
afirmações cujo conteúdo, afinal, jamais examinaram.
No passado, firmavam-se nas hipóteses metapsíquistas, concebendo explicações ingênuas umas e
fantásticas outras para combaterem a "hipótese espírita", sendo vencidos, posteriormente, pela evidência
dos mesmos fatos que escapavam à arquitetura negativista ressurgindo em roupagens novas difíceis de
encaixados nas concepções vigentes.
Posteriormente, arrimaram-se na Parapsicologia, esperando encontrar na moderna técnica de pesquisa
parafísica os argumentos destinados à manutenção da atitude comodista da negação. Hoje, em razão da
complexidade das pesquisas psicobiofísicas, se refugiam em estudos psicotrônicos, derrapando em
nomenclatura recentemente cunhada com que esperam explicar todas as ocorrências, negando a causa
espiritual preexistente e sobrevivente ao corpo.
***
Quando jovem, fascinado pelas conquistas intelectuais Alberto Einstein elucidava que "O Universo se
explica a si mesmo e qualquer hipótese de explicar-se a matéria fora dela não passa de um absurdo
científico". No entanto, consciente das próprias responsabilidades e prosseguindo nas pesquisas,
percebeu que a Termodinâmica, com as suas leis, estabelece que "tudo no Universo marcha para o caos,
a destruição..." Apesar deste conceito, percebia, no entanto, a constatação óbvia de que algo escapava a
tal enunciado na segunda lei da Termodinâmica: a vida!
Reflexionava: "Num Universo em que o envelhecimento e o desgaste são naturais", como compreender-
se a organização da vida no vegetal, no animal e no homem, sem a aceitação de um finalismo de ordem
transcendental?!...
Fecundado o óvulo, este traz em si a síntese de uma organização que, ao invés de destruir-se, se agranda,
agigantando-se, fazendo-se complexo até realizar um ciclo cuja energia existe nele mesmo... Meditando
na teoria dos quanta de Max Planck, observando os saltos quânticos da natureza e outros fenômenos,
reconsiderou a atitude inicial, elucidando que não se pode admitir "um Universo sem um poder pensante
nem um poder operante fora dele", fazendo, desse modo, a sua viagem de volta a Deus, ao
Espiritualismo.
Não obstante, aferrados às conceituações dialéticas, escudam-se os negadores na informação de que a
fenomenologia espírita retratada na mediunidade nada atesta quanto à sobrevivência do Espírito nem à
sua preexistência corporal.
No pretérito era a tese do subconsciente que lhes constituía o apoio, ao qual concediam dons divinatórios,
imensuráveis... Posteriormente recorreram ao inconsciente coletivo, aos arquétipos de Carlos Jung, para
depois usarem a hiperestesia indireta do inconsciente. Agora, diante das fulgurantes comprovações da
reencarnação, se agarraram à hipótese da memória genética, que seria capaz de todos os malabarismos
imagináveis ou não.
Psicofonia e psicografia resultariam da telepatia direta ou indireta; todos os fenômenos intelectuais se
deveriam subalternizar às teorias hiperistésicas; os de ordem física seriam explicados pela possibilidade
psicocinética em que a mente é possuidora de inconcebíveis truques e recursos que ocorrem a bel-prazer;
e, por fim, os que se referem à reencarnação não passariam da memória genética dotada de tão
expressivos poderes que se exterioriza corretamente em línguas vivas e mortas, dialetos complexos com
toda a técnica gramatical e prosódica...
O mais curioso, em toda essa trama do inconsciente e da memória coletiva, é o disfarce a que se deixam
dominar os fatores causais, asseverando sempre e sem cessar que se trata de Espíritos, de almas que
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viveram na Terra, desnorteando os que por atavismo recalcitrante e ateu desejam obrigá-los a reconhecer-
se como excrescências de personalidades transatas ou fenômenos meramente psico-biofísicos...
Lamentável, porém, é que entre tais negadores por sistema repontem espiritualistas religiosos que, por
vineulação dogmática absoluta reagem contra o Espiritismo, embora correndo o perigo de porem em
cheque as próprias confissões de fé a que se dizem vinculados.
***
O Espiritismo é o maior repositório de fatos probantes da imortalidade e da comunicabilidade dos
Espíritos. Nele o Espiritualismo encontra o seu mais seguro alicerce, porque traz o fato, que constitui a
prova documental para todas as religiões, tornandose o mais vigoroso oponente do materialismo, do
cepticismo.
Embora a persistente estupidez da negação, os fatos se sucedem surpreendentes uns, discretos outros,
em incessante convite ao homem para que medite e reconsidere as atitudes extravagantes do cotidiano,
voltando-se para os elevados compromissos para com a vida.
Administrando o Orbe, o Senhor, apesar de desconsiderado pelas mentes encharcadas de soberba e
prosápia vãs, continua ministrando sabedoria e ajuda às criaturas no trânsito carnal, a fim de que mais
facilmente se elevem com ou sem a dor educativa, a todos facultando ascensão e felicidade.
Não a impõe, não exige coisa alguma. Isto porque sabe que o negador ferrenho, céptico e ardiloso de
hoje, que se escuda na dialética e no niilismo para viver a utopia do prazer, desencarnará, constatando
de visu a realidade que o surpreenderá, infelizmente para ele, tarde demais...
Enquanto isso, o combate inglório prosseguirá como ferrete aos lidadores do bem, impulsionando-os ao
avanço e ao prosseguimento da campanha de recristianização do mundo com vistas ao futuro melhor.

Vianna de Carvalho
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3. JUSTIFICATIVAS FALSAS

Pessoas imediatistas que aguardavam benefícios celestes em decorrência das atitudes terrestres, quando
no exercício do bem para elas mesmas, dizem-se decepcionadas por constatarem que, na grei espiritista,
encontraram criaturas com problemas equivalentes aos seus e portadoras das mesmas deficiências
morais que aquelas que as caracterizam.
Esperavam defrontar um grupo de anjos revestidos pela matéria transitória, jornadeando na Terra em
regime especial, credenciados a dispensar favores e benefícios, a troco de bajulação vulgar ou de
aparente devotamento religioso.
Por outro lado, acrescentam, os novos cristãos os espiritistas experimentam problemas comezinhos e
parecem mesmo relegados a plano secundário pelos Benfeitores Desencarnados, porquanto sofrem,
choram, extremunham-se e debandam...
Não obstante a observação seja infeliz, destituída de legitimidade, merece considerações. De forma
alguma a confissão religiosa, seja ela qual for, isenta o crente das vicissitudes a que todos os homens
estão sujeitos. Se fora diferente, a religião poderia ser considerada como um salário injusto e ignóbil,
concedido aos espertalhões que negociassem felicidade mediante o culto externo, sem qualquer lastro
de convicção interna e renovação espiritual.
Apesar da clareza doutrinária do Espiritismo, que elucida quanto às finalidades da fé, no contexto da
transformação do "homem velho" em "homem novo", teimam os pseudos candidatos às hostes espíritas
em transformá-lo numa arca generosa de surpresas agradáveis a benefício dos que lhe busquem a ajuda.
Acreditam ou fingem acreditar que a adesão exterior pura e simples, demonstrada através de uma
freqüência formal a qualquer Sociedade espiritista, dá-lhes méritos para que nada mais de desagradável
lhes aconteça, tornando-os agraciados, em detrimento dos demais, embora mantendo a mesma posição
egoísta e perniciosa perante a vida.
Aderem, não ao estudo, ao programa iluminativo, mas aos benefícios da terapêutica espiritual na
desobsessão, no passe, na água fluída, e abdicam, inclusive, ao régio benefício da prece, passando a
transferir para os médiuns e doutrinadores a tarefa da oração, rogando-lhes que a façam por eles...
Arranjam problemas e os multiplicam pela rebeldia, pela inobservância das leis divinas e, como se fazem
amigos dos médiuns, acreditam que serão socorridos e poupados à dor, apesar da falta de merecimento
e da ausência de salutar propósito de renovação moral, supondo que os Espíritos Superiores, a passe de
mágica, lhes modificarão o destino, renovando os óbices que eles mesmos criaram.
Quando a realidade é diversa da ilusão que anelam e sustentam, astutos ou ingênuos, fogem da
convivência espiritualista, justificando-se com as defecções alheias, acusando os companheiros e
alegandose ludibriados.
Preferem aceitar as informações deturpadas sobre o Espiritismo, à clareza meridiana dos ensinos
Kardequianos, que não deixam margem a dúvida de espécie alguma, particularmente quanto aos favores
que os projetariam no mundo dos negócios e nas dúbias posições de relevo social... Não satisfeitos com
a própria injunção de fracasso íntimo, informam que os dedicados ao bem sofrem em demasia...
Aliás, o conceito vige e se transmite com celeridade entre muitos dos adeptos sinceros da Doutrina
Consoladora.
"Por que sofrem as pessoas dedicadas ao bem generosas, afeiçoadas ao programa da caridade geral?"
Indagam preocupados, receosos.
"Por que os médius não são isentados da agonia, dos padecimentos?"
A própria Doutrina, porém, responde. O estudo sistemático e tranquilo da Codificação fornece
exuberante material de esclarecimento para qualquer dificuldade dessa monta ou mesmo de outra
natureza.
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Ocorre que os médiuns, os espiritistas em geral, não são pessoas especiais, excepcionais. Pelo contrário:
conscientemente sabem que são espíritos muito endividados, auferindo excelente ensejo de recuperar-se
em definitivo, a fim de alçar-se à paz e à perfeita integração nos deveres libertadores...
As dores que lhes parecem adição de provas são, ao contrário, bênçãos. Porque se encontram melhor
armados pelo conhecimento espiritual para a vida, merecem ter as futuras provações antecipadas, e eles
próprios, quando parcialmente desprendidos do corpo, pelo sono fisiológico, em lucidez, rogam-lhes
seja-lhes facultado o resgate das dívidas, que estavam destinadas à liberação futura...
A consciência da responsabilidade amadurece o homem e o capacita para realizações hercúleas... Além
disso, o grau do sofrimento está em relação à quota e ao tipo de emoção que se lhe aplica na condição
de suporte e reação.
Sob o açodar do desespero e da revolta, as dores parecem superlativas, insuportáveis. De outro modo,
ao amparo da confiança em Deus e do otimismo, com o espírito lenido pela fé, a dor é estímulo nobre
para a ascensão, convidando o ser à libertação. Sob sua injunção, os fatores éticos adquirem
profundidade, propondo beleza, criando valores educativos e fixando a aprendizagem superior nos
centros profundos da sensibilidade espiritual.
Sabendo que a vida na terra tem objetivos específicos: adquirir experiências, exercitar fraternidade,
cultivar o amor, praticar a caridade, lapidar arestas morais e imperfeições, aqueles que têm conhecimento
da vida espiritual, sem qualquer quota de frustração ou complexo de fuga, transferem para o mundo
espírita, o verdadeiro, porque das causas, as esperanças de conforto e felicidade, aproveitando-se da
ensancha da reencarnação para ensementação do bem no solo do próprio ser...
Não têm, pois, razão os que debandam, apoiados a justificações injustificáveis, nem os que asseveram
que o exercício do bem atrai o sofrimento.
Jesus, que nenhuma dívida trazia a pagar, de forma insofismável, mesmo sofrendo, ensinou que o
processo da dor é o de lapidação e crescimento, até que o homem compreenda que, somente pelo amor,
a paz se lhe aninhará nos recessos do ser em definitivo.

Vianna de Carvalho
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4. DIAGNOSE E TRATAMENTO

A simples diagnose dos males sociais que afligem o homem tecnológico de forma alguma contribui para
a modificação das paisagens morais, vigentes no mundo hodierno.
Sem dúvida a identificação das causas matrizes dos problemas significa um passo algo valioso na
identificação consciente do sofrimento. Sem embargo, as discussões demoradas, para se aplicarem os
métodos sanadores das dificuldades, permitem que se agravem as ulcerações que se generalizam, em
avalanche epidêmica a fazer-se calamitosa.
Na solução de tais dramas têm falhado as técnicas mais diversas, na razão direta em que o homem social
se recusa entregar-se com afã à tarefa da solidariedade fraternal.
Nas suas bases e aplicações, o Cristianismo é a Doutrina social por excelência, porque toda estatuída nas
leis do amor a Deus e ao próximo, como condição precípua para a identificação do discípulo com as
lições do Mestre Insuperável.
Transformado pelos homens em arma de poder pessoal e de governança temporal, falhou na meta de
libertar a criatura das conjunturas da sordidez, porque os religiosos se olvidaram da iluminação legítima
do ser, em si mesmo candidato natural ao reino de Deus.
Preocupados com as massas que ficaram mantidas na ignorância dos nobres postulados do Cristo,
deixaram o homem marginalizado, engendrando, pelo desequilíbrio e rebeldia os fatores causais das
misérias de vário porte que ressurgiram à sua frente, como ocorreu, em função depuradora...
A aquisição tecnológica fez do homem uma máquina de utilização imediata, dominado pela ciclópica
aventura de poder e de gozo em que ora se estertora, desiludido, perturbado...
As conquistas externas auxiliaram no entendimento do mundo exterior, no entanto, de forma alguma
conseguiram clarificá-lo na decifração dos enigmas íntimos, alçaram-no, é certo, à grandeza transitória,
mas sem as seguras bases das realizações interiores.
Afeiçoando-se à Ciência, num desforço consciente ou não contra a Fé, de que no passado padeceu a
conjuntura afligente, desconsiderou a necessidade de uma filosofia comportamental em estatuto de ética
relevante, derrapando no utilitarismo epicurista do passado em formulações novas...
A Ciência, porém, é descobridora de leis; detecta-as e interpreta-lhes o mecanismo, extraindo da sua
complexidade estrutural o que pode ser convertido em prazer e comodidade.
É respeitável esse contributo, apesar de não ser o mais importante, que não consiga tornar a criatura que
identifica a gama dessas mesmas leis mais humilde, mais humana. Antes, a percepção objetiva se
encarregava de traduzir o em que se se devia acreditar. No entanto, a própria Ciência armou os débeis e
parcos sentidos humanos com instrumentos de precisão a fim de que o homem pudesse penetrar com
maior eficiência no micro e no macrocosmo, preparando-o pelas matemáticas concepcionistas, a
Astronomia, a Biologia e a Física Nuclear a aventurarse em mais audaciosos vôos.
Certamente que reconhece a sua pequenez diante da majestade da vida, porém, desatento, ensoberbece-
se com a mente fascinada pelas grandezas, enquanto tem os pés agrilhoados ao paul pestilento das dores
em que jaz ao lado dos irmãos ali fossilizantes…
***
Indispensável uma Filosofia de estrutura espiritualista, já que as conceituações negativistas e dialéticas
do século passado e da primeira metade deste traíram aqueles que nelas se apoiavam.
Lentamente se esboça uma reação da inteligência, em face da constatação da falência da matéria e graças
ao conhecimento mais profundo da energia em relação às construções do mundo, em que ondas e mentes,
idéias e raios constituem as legítimas realidades que, no entanto, passam despercebidas dos menos
aquinhoados pela cultura e pela lucidez intelectual.
No passado, Lavoisier foi levado à guilhotina pela intolerância da política arbitrária e apaixonada;
Bernardo Palissy foi encarcerado até a morte pela intolerância da Religião e recentemente, no entanto,
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Botsmann, pai da Mecânica Estatística, foi levado ao suicídio em face do repúdio sofrido pela
decorrência da vaidade dos seus colegas de pesquisa... Receando que nada resultara dos seus incessantes
esforços como contribuição à Ciência, incompreendido e malsinado, fracassou, preferindo a covarde
solução autocida... Possuía ciência mas não dispunha de uma filosofia existencial que pudesse resistir
aos fracassos aparentes...
Posteriormente, Lavoisier foi reabilitado, Palissy reconsiderado e na estátua de Botsmann, como
homenagem ao seu gênio, foi colocada a fórmula que abriu horizontes novos à Ciência atômica, à própria
Física Nuclear…
***
O Cristianismo em sua estrutura atual ressuscitado pelo Espiritismo em feição de ciência, filosofia e
religião é a terapêutica eficaz para os males sordidos que anatematizam o homem, conclamando todos a
uma tomada de posição urgente e a uma ação eficiente em prol da Humanidade, iniciando-se o
movimento de urgência com o próximo que se encontre mais próximo.
Não amanhã a tarefa ou mais tarde, e sim, hoje, agora, imediatamente.
Se os recursos morais não facultam o tentame, não há como alguém se escusar, porque a transformação
do mundo tem início no eu de quem se candidata a tal empresa.
Cuidar de apaziguar-se, minimizando as dificuldades e esforçando-se honestamente pela vivência dos
códigos do amor, já é uma atitude comportamental renovadora que estimulará outros menos corajosos e
formará uma corrente de identificação com o bem que jaz em germe em todas as criaturas, emulando
cada um a experiência junto a outrem.
Qualquer esforço nesse sentido sob a meridiana luz do Cristo é de salutar e excelente resultado.
Enquanto muitos enumeram as aflições, estudam suas causas, discutem a metodologia do combate, o
cristão autêntico age em nome do amor, diminuindo os efeitos maus e dando início às causas favoráveis,
de que resultarão mais ditosos os dias de amanhã.
Não somente a diagnose dos males sócio-econônico-morais da Humanidade, mas ação útil, imediaca em
si mesma, em favor do homem-irmão que se movimenta ao lado.
Essa campanha de otimismo e ação operante é a que está faltando em favor do mundo feliz do porvir.

Vianna de Carvalho
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5. INCREDULIDADE

O problema da incredulidade do homem a respeito da vida espiritual resulta de muitos fatores que têm
caráter imediatista. Primeiro, do engodo propiciado por algumas crenças religiosas que, pretendendo
explicar a Divindade, lhe atribuíram natureza humana com humanas paixões. Segundo, porque,
despertando após a morte do corpo, no mundo da consciência, os discípulos e fiéis de ditas crenças não
encontraram o proclamado paraíso, derrapando em funda amargura ao constatarem a continuação da
vida nos moldes em que fora plasmada no organismo físico, sem o acumpliciamento de milagres
transformadores das paisagens íntimas, a golpes de subornos emocionais. Ainda, também, em razão do
atavismo animal, pela fixação nas manifestações sensoriais de que, somente através de esforços
contínuos no sentido da elevação pessoal, se conseguirá libertar. Em suma, por injunção dos homens
preconceituosos, que, se dizendo amantes da Ciência, mesmo quando animados de propósitos nobres,
pesquisam e indagam, resolvendo-se, porém, por uma atitude sempre cética, mesmo após defrontarem
as aneladas constatações que procuram, apressadamente, dar outro conteúdo explicativo, fugindo à
realidade da sobrevivência do ser a destruição da tecelagem material.
Tão normal e exclusivo parece o mundo sensorial ao homem que, defrontado pela manifestação da
realidade parafísica, se deixa fascinar pelo anelo de impor-lhe regras caprichosas e metodologia especial,
malgrado reconheça viver numa expressão orgânica que é efeito de outra, mesmo não lhe sabendo
explicar a causalidade.
Quando defrontado pelo fenômeno mediúnico ou anímico, paranormal em qualquer expressão, propõe
especificidade de manifestação, armando-se de ardis e suspeitas que chegam, não raro, ao absurdo, senão
ao ridículo. Acautelam-se e propõem fórmulas, desconsiderando a possibilidade de que os agentes desses
fenômenos sejam portadores de uma natureza espiritual, homens, portanto, apesar da ausência corporal,
caprichosos uns, arrogantes outros, como os próprios examinadores... Todavia, quando constatam a
legitimidade de uma informação mediúnica de ordem intelectual apelam ora para a telepatia, ora para a
hiperestesia, asseverando que tal informe não é válido porque já conhecido por alguém. E se não o podem
comprovar, ei-lo negado por ausência de sustentação probante da sua validade. No que tange aos
fenômenos de natureza objetiva, recorrem aos poderes psicocinéticos da mente, atribuindo-lhe caráter
quase divino e força criadora absoluta, capazes de acionar, mediante mecanismos complexos e
inexplicáveis, os corpos sólidos, interpenetrá-los, materializá-los e desconectá-los...
Se defrontam uma forma espiritual materializada, recorrem desde à alucinação aos misteriosos ardis do
subconsciente, sempre negando a causa. Quando registrados por aparelhagem sensível da eletrônica,
filmados e medidos, reagem de início à possibilidade do princípio imortalista, recorrendo a sofismas
bem armados e à presunção de que os fatos já observados, discutidos e catalogados não bastam.
Nunca, porém, conseguem uma forma de examinar o fenômeno, senão afirmando sempre tratar-se de
uma burla da mente que, apesar disso, se obstina em confirmar a procedência espírita, embora a
sistemática negação dos que o promovem ou dele se fazem instrumento. Os fatos, porém, são severos, e
estes, a pouco e pouco, vão rompendo a vaidosa casca em que se refugiam os incrédulos que, espicaçados
pela dor ou pela curiosidade, vencidos pela sofreguidão das complexas engrenagens da alma em
aturdimento ou da pesquisa honesta, vão cedendo campo e reconhecendo a própria pequenez em que
labutam diante da grandiosidade da Vida na qual estão, inapelavelmente, engajados.
Criticados os mais audaciosos que se resolvem pela honestidade das afirmações resultantes de laboriosos
anos de investigação e estudos, fazem-se, todavia, pioneiros fáceis de serem imitados pelos que os
sucedem.
Médicos, genetas, biólogos, psiquiatras, psicólogos, neurólogos, patologistas, parapsicólogos e tantos
outros estudiosos das ciências da vida relatam suas experiências, dão-se as mãos e superam as chulas
zombarias da empáfia como da acomodação, as vãs e ridículas agressões de periodistas mal informados,
que vivem a soldo do escândalo e da aventura, somando e documentando fenômenos que se transformam
em inamovíveis bases das suas afirmações. Cautelosos, vêm a público, a princípio em monografias, em
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conferências entre seus pares como a discreta madrugada sobre a noite dominante, e, por fim, superando
barreiras, em livros, reportagens, congressos e conferências públicas.
E a vitória do homem sobre si mesmo que o faz valoroso, cheio de coragem e fé nas altas e nobres
expressões da Humanidade.
Por fim, a morte soberana e fatalista, dominadora das funções transitórias do corpo somático, se
aproxima e consome a todos, facultando aos calcetas e renitentes a constatação, embora a longo prazo,
da causalidade e sobrevivência, não raro, a pesado tributo de amargura, arrependimento tardio e
sombra... Mesmo nesse caso, porque vigem o amor e a misericórdia de Deus, o futuro se abre promissor
a todos, facultando-lhes recomeço para a ascensão e reinício de lutas para a liberdade, a fim de lograr as
altas metas do existir.

Vianna de Carvalho

6. A NOITE DESCE

Mais do que nunca o homem hodierno necessita de Jesus. A atual falência dos valores, em que se
apoiavam as velhas Instituições ora decadentes, atesta a transitoriedade das conquistas humanas.
A alucinada correria que muitos se permitem, na busca das soluções esdrúxulas ante os problemas em
complexidade cada vez mais grave, não resolve as questões fundamentais da paz e da felicidade, porque
estas não possuem, sequer, as infra-estruturas morais para sustentar as avalanches humanas, sucessivas,
em desassossego...
Utopias que valeram por momentos de vãs conceituações filosóficas esboroam-se, e o tecnicismo, que
se candidatava a equacionar a problemática das múltiplas necessidades, não foi além do conforto para
alguns em detrimento das incontáveis multidões em agonia moral e social. Debalde se vêm levantando
opiniões, e pessoas que se apressam a liderar o pensamento e conduzir as massas, no entanto, aviltadas
em si mesmas, são logo substituídas por outros líderes mais ambiciosos, que se convertem em títeres,
assombrando pela tenacidade das idéias infelizes em que apoiam suas plataformas de impacto e
destruição. Ideologias absurdas assanham as mentes jovens, irrequietas, e não obstante afirmem a
pretensão de reformular as bases da sociedade, não passam de calabouços sem fundo onde se arrojam os
precipitados e incautos.
Não se pode negar a vigência da supremacia da força em belicosas, investidas, as conjunturas da astúcia
e da desonestidade em triunfo, o descalabro de homens e governos iludidos e o padecimento de povos
que estremecem, inermes, e se exaurem nas garras da miséria, da guerra, da enfermidade, da fome, ao
estrugir dos fogos-fáctuos das vitórias de um minuto, logo transformadas em orgias macabras,
mutiladoras, vergonhosas...
A Família, essa pequena e nobre República, onde se forjam as Civilizações e se edificam as Sociedades,
perde a sua estrutura e se converte em lôbrego sítio de dissipações, vencida pela anarquia e pela
permissividade moral.
O aturdimento invade as mentes e tumultua os corações. Organizações e grupos criminosos não sentem
pejo em se denunciarem a autoria de sórdidos assassinatos de inocentes, como de destruições, seqüestros,
em terrorismo nefasto...
Uma grande noite desce sobre a Terra. Há, indubitavelmente, clareiras abertas onde domina a luz e
existem exceções em homens e Nações pacíficos, amantes da vida e forjadores do progresso em clima
de ordem, de fraternidade, de honra. Isto, porque, embora o caos que resulta da insensatez que avassala,
Cristo vela pelo mundo e governa as criaturas, acima e além das suas percepções e entendimento.
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Como conseqüência imediata, mais do que nunca, a mensagem cristã traz um regime de urgência. A
limpidez e singeleza do ensino evangélico impõe-se como a solução imediata, no báratro dos
desregramentos defluentes das revoluções apaixonadas que o egoísmo dirige e estimula até ao estiolar
da esperança, da beleza, da sabedoria e do amor.
Ontem, a Revolução Francesa preconizando os ideais da fraternidade, ensejando a "Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão", não tergiversou, na alucinação dos ódios infelizes, em decepar a
cabeça de André Chenier, de Lavoisier como as de inumeráveis nobres florações da inteligência, do
patriotismo e do amor à igualdade de todos e à liberdade geral.
Antes, mil outros heróis da verdade se fizeram mártires, a fim de que os seus ideais de enobrecimento
levantassem o homem dos chavascais onde fossilava e o impulsionassem no rumo das estrelas... Hoje,
também, há de ser assim.
Os lidadores legítimos da fé e do bem, todavia, deverão ser condecorados pela renúncia, conduzindo a
luz da esperança e do otimismo ao coração, enquanto ruge a tempestade destruidora entre a violência e
o fausto.
As arenas espetaculares dos sacrifícios antigos, em que os mártires da fé se imolaram, alteraram-se,
ampliando as suas balizas, colocando-as em distâncias imensuráveis, nas quais os tormentos individuais
e coletivos se transformam em feras, que avançam, sanguissedentas, arrostando conseqüências e
tomando sobre si as responsabilidades...
Confraternização, porém, com os estoicos lutadores anônimos que porfiam fiéis a Jesus Cristo neste
momento rude, os "Espíritos do Senhor" se aliam na batalha sublime da verdade contra o erro, da honra
contra a indignidade e à imposição do bem contra o mal, empunhando as armas do amor, da paciência,
do perdão, da perseverança e da ensementação do bem em toda parte.
Nesse sentido, a contribuição do Espiritismo, no seu aspecto tríplice, é indispensável em face de lhe estar
destinada a missão de "Consolador", conforme a ênfase com que o Mestre Excelso lhe anunciou o
advento.
Ao espírita, portanto, cabe o dever inderrogável de viver em conformidade com os postulados abraçados,
vacinado contra a contaminação epidemiológica do egoísmo, da concupiscência, da ambição argentária,
dos descalabros de qualquer ordem, que campeiam irrefreáveis.
Narra Lucas, o evangelista sábio, no Capítulo vinte e quatro, versículo vinte e nove, que naquele
momento de dificuldades e inquietações, como o Mestre devesse seguir adiante, os discípulos, na rota
de Emaús, lhe rogaram: "Fica conosco, Senhor, porque é tarde, o dia declina", a noite desce, conseguindo
por mais tempo a Sua companhia...
E o caso de, unindo vozes e ansiedades num só anelo, repetirmos a solicitação dos discípulos confiantes,
ao Amigo Divino, Incorruptível: A noite desce, fica conosco, Senhor, e dá-nos Tua companhia.

Vianna de Carvalho
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7. URGÊNCIA PARA VOCE

Ontem você estava irritado.


Hoje você despertou insatisfeito.
Agora você se encontra cansado.
Na multidão você se perturba.
Na solidão você sente melancolia.
No silêncio você experimenta tédio.
Na algazarra você fica atordoado.
Se alguém o busca para uma palestra você se enfada.
Se ninguém o procura você se frustra.
No trabalho você constata que está com os nervos "à flor da pele".
No repouso você experimenta inquietação.
Não sabe o que deseja.
As coisas boas enfastiam-no, as más infelicitam-no.
Você passa facilmente do sorriso à melancolia, da ansiedade ao desencanto.
Urgência para você, meu amigo!
Pare, no torvelinho das atividades, para um meticuloso exame do que lhe vem ocorrendo.
Não é o mundo que está pior nem a vida que se apresenta má.
Não são as pessoas que ficaram diferentes as circunstâncias que deixaram de ser propiciatórias.
O problema está em você. Cansaço ou enfermidade, saturação ou desequilíbrio, a questão é sua.
Cuidado!
Use de urgência para você.
Refaça a sua programação.
Revise as suas atitudes.
Reestude seus objetivos.
Restabeleça seus contatos com as fontes emuladoras dos ideais que esposa.
Recomece com calma e fraternidade.
Renove os clichês e paisagens mentais.
Recomponha-se primeiro, intimamente, através do otimismo.
Refugie-se na prece e refrigere-se na meditação. Cansaço após o trabalho é como fruto depois da flor, desde
que se transforme em satisfação de serviço, como pródromo para novas realizações após o repouso.
Enfado contumaz, pessimismo constante, irritação contínua, tédio persistente, impaciência demorada, desejo
de "não ver ninguém", exaustão prolongada decorrem de erros graves no mecanismo dos seus serviços e da
sua vida. Sinais de urgência para você hoje, que devem ser considerados, atendidos, retificados, sanados, a
fim de que amanhã, quando você necessitar de emergência, não seja tarde demais, com reais prejuízos para
você, em face da feliz oportunidade que haverá perdido.

Carneiro de Campos
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8. DOENÇA E TERAPEUTICA

Como decorrência da correria desenfreada destes dias de agitação, mergulha o homem na usança
exagerada de sedativos e calmantes ou, quando desejoso de viajar nos rios enganosos da fantasia,
encharca-se nos barbitúricos e alucinógenos, retornando à pauta das realidades objetivas mais estressado,
na primeira hipótese, mais deprimido e exausto na segunda. O corpo, as sensações constituem-lhe meio
e meta, motivo e razão das torvas ambições, das mesquinhas aspirações.
Vinculado a ferrenho materialismo, embora alguns se liguem às excentricidades religiosas que dizem
desposar, preserva a conduta doentia, sem se permitir as emoções superiores, asfixiado nas vibrações
perniciosas em que se compraz, sem ascender às cumeadas da paz ou à assimilação de atmosfera mais
pura...
Mesmo quando convidado a uma mudança de atitude, rebela-se, exigindo resultados imediatos, sem que
se faculte recursos de renovação, negandose peremptoriamente, consciente ou não, a fruir os resultados
auspiciosos de que resultaria um veemente desejo de conseguir manter esse ignoto clima de harmonia.
Quando se lhe falam do recurso da oração anestésico sublime para a dor, porque lhe desconhece a
fórmula salutar, reage; e quando convidado à meditação -estimulante de efeito enérgico e relevante
porque se aclimatou à ociosidade mental em termos de reflexão e disciplina, desconsidera-lhe o
conteúdo...
Ao se lhe apresentarem uma leitura substanciosa verdadeira psicoterapia otimista reivindica as páginas
chocantes da licenciosidade, por achar ingênuas aqueloutras, de significação ultrapassada.
Se chamado à beneficência mediante a ação pessoal praxiterapia liberativa apresenta escusa, por se
acreditar sem condições. Convidado ao exercício da caridade fraternal em morros e favelas, palafitas e
alagados ginástica e ioga para corpo, mente e espírito prefere as fugas espetaculares através do
desculpismo insensato, taxando de pieguistas essas realizações e atirando a responsabilidade desse
mister a governos e organizações de Serviço Social…
***
No entanto, o amor é melhor para quem ama e a ação dignificante eleva e pacifica aquele que a executa.
Sem dúvida, a quimioterapia, a farmacopéia em geral dispõem de elevados contributos para o homem,
minimizando-lhe enfermidades, erradicando velhas e calamitosas epidemias, ampliando as
possibilidades da vida na Terra. Sem embargo, a terapia espiritual vasada no Evangelho e nos recursos
do Espiritismo é o maior antídoto ao desgaste, à excitação, ao cansaço, à violência, à criminosidade e à
miséria social dos momentos cruciais que estrugem na Terra...
Penetrando nos fatores causais o Espírito, seu pretérito, seu futuro a fluidoterapia e o esclarecimento
espírita conscientizam, elucidam, emulam e seguram o homem da queda abissal nos charcos da sensação
abastardante e tóxica donde somente a penates de dor poderá, mais tarde, emergir... E o contributo para
a ascensão é sempre agravado pela aflição, mediante a carga das conseqüências que se adicionam à
própria queda.
Face a isso, mais do que nunca o homem moderno necessita de Jesus-Cristo e Jesus-Cristo necessita do
homem valoroso para a tarefa de auxiliar, amparar e erguer o mundo novo de amanhã.

Carneiro de Campos
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9. DISTURBIOS EMOCIONAIS

Cada mente emite como recebe mensagens de vário teor vibratório, mantendo intercâmbio contínuo
direto ou indireto com outras que a cercam, do que decorrem processos liberativos ou escravizantes de
grave complexidade.
Fluidos deletéricos e energias sutis são emitidos como ingeridos incessantemente, produzindo a
psicosfera pessoal que padroniza o estado evolutivo dos que lhes padecem a interferência...
Normalmente, pela própria posição a que se relega, na Escola terrena, a grande maioria das criaturas
sintoniza com as ondas mentais perniciosas que absorve teimosamente, intoxicando-se de forma
lamentável e perturbando-se consideravelmente, tornando-se essa a gênese de diversas enfermidades
orgânicas, psíquicas e de um sem número de distúrbios emocionais.
Uns se comprazem, por viciação mental, nos procedimentos infelizes de auto-envenenamento, graças
aos vapores que exalam e absorvem em círculo constritor de que dificilmente se conseguem libertar.
Pequenos incidentes, perfeitamente normais, assumem neles proporções desconcertantes, incorporando-
se-lhes ao patrimônio de desgostos que se disputam acumular.
Ocorrências comuns, que constituem testes de resistência e lições de auto-burilamento, convertemnas
em desgraças que lamentam, sem qualquer esforço de renovação, afligindo-se a golpes de insensata
rebeldia ou de autopiedade injustificável com que mais se atribulam.
Consomem-se envoltos pelos miasmas do ciúme doentio; desequilibram-se pelas emanações morbíficas
do ódio selvagem; perturbam-se em face dos gases, das nuvens das queixas, do despeito, da cobiça
irrefreada; envilecem-se ante as absorções dos vapores das sensações bastardas, que vitalizam com o
pensamento desatrelado das rédeas das disciplinas morais e enobrecedoras...
É óbvio que distúrbios emocionais multiformes sejam as conseqüências naturais de tal comportamento
cotidiano.
Cada ser respira o clima mental em que se compraz, assimilando as exteriorizações que vitaliza e que
volta a eliminar em processo incessante até a distonia completa...
Ocorre que os fluidos perniciosos desarranjam as delicadas engrenagens do sistema neurovegetativo,
produzindo as disritmias que se manifestam como doenças de etiologia difícil.
Sem dúvida, Espíritos enfermos, em si mesmos distônicos, pelo processo de reencarnação, geram
distúrbios nas delicadas aparelhagens do organismo fisiológico, como necessários estágios de reparação
moral e recuperação dos valores anteriormente malbaratados a que são impostos..
Grande parcela, porém, de tais pacientes, resulta da indolência, da insensatez, das irrisões e da ausência
de esforço pessoal para a aquisição e preservação da saúde espiritual, através da ação concreta no bem
ao próximo e a si mesmo.
Terapêutica eficiente para tais pacientes deflui da vivência evangélica em forma de otimismo, atividade
fraternal edificante, olvido das ofensas expresso em forma de solidariedade para com o ofensor, oração
que é fixação mental nos sublimes ideais da vida, e vigilância, que é disciplina correta imposta aos
pensamentos e atos, com que se plasmam programas de santificação e liberdade. O homem é o
depositário, o legatário das próprias atividades.
Os latinos, mediante o conceito "veneratio vitae", concitavam o homem à autovalorização por meio de
esforço acendrado em prol da dignificação de si mesmo.
Respeito à vida deve ser linha de comportamento íntimo, não se permitindo agasalhar idéias deprimentes
ou beligerantes, raciocínios de astúcia de desprezo, arremessando dardos mentais destrutivos em direção
ao próximo, a si mesmo, ou agasalhando, por processo de sintonia perfeita, os que são emitidos por
aqueles que sincronizam com as mesmas faixas em que se fixam...
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A leitura nobre, a conversação salutar, a meditação, a par das outras terapêuticas funcionam como
lubrificante perfeito nas peças descontroladas da organização fisiológica, reparando-as, acondicionando-
as, equilibrando-as.
Recurso precioso para a saúde sob qualquer aspecto considerado é o esforço otimista e cristão de que
ninguém se pode escusar.
Distonias emocionais, pois, são desarranjos nos centros vitais do eu, qué, reeducando-se e exercitando-
se, se equilibra, se renova, adquire saúde, dependendo do esforço de cada um.

Carneiro de Campos
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10. NEUROSES

Os expressivos, alarmantes índices da neurose na Terra funcionam como um veemente apelo ao nosso
discernimento, ao exame das causas e suas conseqüências, com maior vigor do que até o momento tem
merecido de cada um de nós.
Relegada aos gabinetes especializados e a homens, tecnicamente armados pelo sacerdócio da Medicina,
a neurose vem colhendo, nas malhas da sua rede infeliz, surpreendente número de vítimas, ora
avassalando o mundo civilizado e ameaçando a estabilidade da razão.
Sociólogos conjeturam; psicólogos interrogam; teólogos meditam; psiquiatras, psicanalistas tentam
penetrar-lhe as causas, e, não obstante a metodologia de que se servem para a segura diagnose e o eficaz
tratamento, a onda neurótica, vencendo incautos e avisados cada vez mais se apresenta referta,
avassalante e dominadora.
Isto porque, no problema da neurose em suas raízes profundas, se há que considerar, de imediato, o
neurótico em si mesmo, não apenas, no aspeto de réprobo, antes como ser vital no concerto da
comunidade em que se movimenta.
Com etiologia complexa e profunda, essa enfermidade apiréptica vem merecendo cuidadosos estudos e
debates, a fim de se localizarem os fatores que produzem as perturbações do sistema nervoso, em
considerando-se a falta de lesões anatômicas mais graves.
Não obstante as divergências acadêmicas, Freud classificou-as em: verdadeiras, em que há desequilíbrios
fisiológicos ao lado de perturbações meramente psicológicas, apesar de transitórias, e psiconeuroses,
que são determinadas pelas "fixações da infância" em regressões inconscientes. No primeiro grupo estão
situadas as neuroses de ansiedade, a neurastenia, a hipocondria e as de ascendência traumática... Na
segunda classe aparecem as de ordem histérica ansiosa, conversiva, os perturbantes estados obsessivos
e convulsivos.
Em tal complexidade, surgem as neuroses mistas com mais grave quadro de manifestação. Influenciando
os fenômenos somáticos, expressam-se, não raro, com sintomatologia estranha que desvia a atenção do
médico e do paciente, graças à força das síndromes que, para o último, assumem um caráter real, por
serem as "dores neuróticas" semelhantes às de ordem física. Surgem medos, paralisias, movimentos
desconexos, distúrbios múltiplos..
Alguns estudiosos da questão reportam-se, também, taxativos, aos fatores genéticos predisponentes;
outros se apoiam nos impositivos da sociedade, com as suas altas cargas de tensão; alguns advertem
sobre o tecnicismo desesperador; fala-se do resultado das poluições de vária ordem, todavia, a quase
totalidade se esquece da problemática espiritual do alienado pela neurose.
O neurótico é, antes, um espírito calceta, em inaável processo purificador. Reecarnado para ressarr ou
recambiado à reencarnação por necessidade remente de esquecer delitos e logo repará-los.
A sua psicosfera impõe, nos implementos orgâicos, distonias e desarmonias que se refletirão mais arde
em forma de alienação, como decorrência do eu estado interior, como espírito desajustado. É óbvio que
o comportamento social, as frustrações infantis, as inseguranças da personalidade, as injunções de tempo
e de lugar, os fatores familiares e de habitat, as constrições de ordem moral e econômica engendram,
evidentemente, as desarticulações neuróticas, porque conseguem limitar as aspirações do espírito fraco,
que não se consegue sobrepor a essas conjunturas, para os cometimentos normais. Ainda, nesse capítulo,
se deve considerar que a neurose é um campo amplo e variado, tendo-se em vista a consciência do
problema pelo paciente e a sua falta de forças para a superação.
A par desses fatores ocorrem outros na esfera psicológica, quais os denominados "parasitose espiritual",
que se transformando em calamitoso processo obsessivo de longo curso, em face de a vítima do passado
converter-se em cobrador do presente, como conseqüência dos delitos perpetrados pelo delinqüente, não
são regularizados ante as soberanas Leis da Vida.
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Não se exteriorizam as síndromes da neurose no caso em tela, de início, senão quando ocorre a
dominação obsessiva do hospedeiro sobre sua vítima.
Indispensável que o olhar vigilante dos religiosos se volte para aqueles que padecem os primeiros sinais
de distonia, norteando-os ao cultivo das disciplinas austeras e das virtudes cristãs, com que se armarão
para uma libertação eficiente e real, terapêutica de resultado auspicioso para o reajustamen to do espírito
na vida orgânica e sua conseqüente experiência psíquica, diante do processo de auto-re paração dos
impositivos cármicos.
As técnicas da análise, a terapia medicamentosa conseguem, não raro, enquanto favorecem o equilí brio
por um lado, danificar os tecidos mais sutis da organização psicológica, produzindo distonias de outra
natureza que se irão manifestar de forma desastrosa no futuro, caso esses processos não recebam a
contribuição espiritualista relevante.
Por este motivo, faz-se mister que uma religião capaz de adentrar-se no âmago do ser, como ocorre com
o Espiritismo, apresente recursos preventivos para a grande massa humana aturdida destes dias.
Entretanto, esses conceitos, verdadeiro compêndio de Higiene Mental, já foram lecionados por Jesus e
estão exarados no "Sermão da Montanha", ora ratificados pelos textos que Lhe recordam a existência
entre nós, de que dão notícia os sobreviventes do túmulo e falam sobre a vida estuante do além...
O neurótico é alguém rebelado contra si mesmo, insatisfeito no inconsciente e contra os outros
revoltado.
Instável faz-se agressivo; desajustado, permitese sucumbir; atônito entrega-se ao desalinho psíquico;
excitado, deixa-se desvairar pela violência.
Disciplinado, porém, pela moral cristã, adquire recursos para o auto-controle que irá funcionar no seu
aparelho nervoso com recursos que bloqueiam as reações do inconsciente, remanescentes das vidas
passadas, impedindo que aquelas reações desorganizem as funções conscientes que arrojam no
resvaladouro da reurose. Respeito ao dever, culto ao trabalho, edificação pelo pensamento, exercício de
ações nobilitantes produzem no homem salutar metodologia de vida, que o impedem tombar, que o
levantam da queda, que o sustentam na caminhada.
***
Missão relevante está reservada ao Espiritismo: promover superior revolução social na Terra,
modificando os conceitos ora vigentes sobre o homem espírito eterno em viagem evolutiva -, fazendo
ver que, no fundo de toda problemática que afeta a criatura, suas raízes estão no pretérito espiritual do
próprio ser que volve ao ministério de reeducação, de ascensão, de dignidade pelo esforço pessoal que
o credencia à paz, à plenitude.
Conscientizar, responsabilizar, iluminar a mente humana, eis como apresentar-se eficiente método para
estancar a avassaladora onda da neurose atual, que, encontrando vazia de reservas morais a criatura
humana, cada vez se torna pior, transformando a vida moderna em pandemônio e o homem,
conseqüentemente, em servo do desequilíbrio dominador, desditoso.

Carneiro de Campos
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11. O PROBLEMA DAS PSICOSES

Exigindo uma anamnese mais cuidadosa, severa, o mapeamento das causas psicóticas conduz o
pesquisador a estudos mais profundos do que no caso das neuroses, porquanto aquelas dizem respeito a
problemáticas menos graves que se repetem nos painéis do organismo físico e mental em formas
transitórias...
Não obstante a demorada discussão em torno de as psicopatias manifestarem-se no corpo ou na mente,
já não resta dúvidas quanto aos seus fatores causais, classificados como endógenos e enógenos, que
facultam a eclosão do terrível mal, responsável por torpes alienações.
Essas doenças mentais, genericamente classificadas como psicoses, impõem, às vezes, desvios
qualitativos, mesmo nos casos de aparente e puro desvio quantitativo, nos valores de caráter do homem.
Em face de complexidade, multiplicidade de tais desvios, uma classificação exata dos fenômenos
psicóticos é sempre difícil.
Há, sem dúvida, além dos fatores psicológicos, uma vasta gama de incidentes sociais que conduzem a
psicoses múltiplas, num emaranhado causal relevante.
Nos fatores enógenos, há causas externas (tóxicos, infecções) e corpóreas (doenças de outros órgãos,
distúrbios do metabolismo, amências, estados crepusculares, delírios confusionais a se expressarem não
especificamente como derivados de várias etiologias, mal de Basedow, do diabete, uremia), como,
também, nos de ordem endógena (a esquizofrenia, as perturbações mentais da epilepsia, a psicose
maníaco-depressiva), em que as psicoses se expressam como um processo de auto-punição que o espírito
se impõe pelos malogros e os crimes cometidos em outras vidas, que não foram alcançados pela
legislação humana.
O psicótico maníaco-depressivo, por exemplo, traz gravados nas paisagens do inconsciente os hediondos
desvios morais pregressos que escaparam à justiça estabelecida nos códigos da humana legislação e que
ora expungem, como tendência à fuga ao dever e à responsabilidade, pelo suicídio.
O esquizofrênico, na sua múltipla classificação, é igualmente um espírito revel, enredado nas malhas
dos abusos que praticou noutra vida e que, sem embargo, passaram desconsiderados quanto ignorados
pelos compares da existência anterior. Não nos desejando fixar, apenas nessas, constatamos que, mesmo
as psicoses de climatério, cujas causas são óbvias, fazem-se escoadouro purificador, recurso de que se
utilizam as Leis Divinas para alcançar os infratores e relapsos que pretenderam ludibriar o código de
ética universal, inviolável. Em todo problema de psicoses, seja ele de natureza neurótica ou
psiconeurótica, tenha o gravame da psicopatia ou não, o ser espiritual é sempre o responsável pela
conjuntura que padece.
Aqui se podem incluir as psicoses de guerra como instrumento da vida a fim de justiçar arbitrários
campeões do crime.
No espírito, encontram-se latentes os valiosos recursos que o podem incitar à liberação do carma pela
importância da terapêutica tradicional, quando o paciente resolve ajudar-se; pela técnica fluidoterápica
da Ciência Espírita, quando o alienado deseja cooperar; mediante os recursos valiosos da psicoterapia
através da auto, da hetero-sugestão do otimismo, da oração, da edificação em si mesmo, quando o
enfermo deseja submeter-se espontaneamente.
Em qualquer problema de ordem mental como psicológica, o terreno em que se desbordam as
enfermidades e distonias é o mesmo que agasalha os sêmens de vida e saúde, aguardando que a
primavera da boa vontade do espírito, colhido pela impertérrita justiça de Deus, lhe faculte o surgimento
em forma de paz.
Nesse sentido, a caridade fraternal junto aos psicóticos, a solidariedade gentil diante deles, a paciência
irrefragável para com eles, a intercessão generosa a benefício deles são contribuições inestimáveis que
o espírita a todos tem o dever de oferecer, particularmente em se tratando dos irmãos tombados no
aturdimento interior.
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Simultaneamente, a evangelização do enfermo, a disciplina que a si se deve impor, a diretriz de


reabilitação por meio de um roteiro de trabalho renovador e produtivo são indispensáveis recursos
utilizados para que o ser espiritual abandone as províncias de sombra em que se acha enjaulado,
interiormente, e possa recompor os painéis mentais desarticulados de que se utiliza para a andadura
material na Terra.
Entretanto, no caso das ulcerações dos tecidos orgânicos, das intoxicações que deixam rastro de várias
degenerescências, havendo já insculpida, seja na paisagem mental, seja no organismo físico, a presença
do desequilíbrio, esta se revela como distoria perturbante.
A crença de que o "cérebro não pode adoecer" tem cedido lugar ao conceito griesingeriano, após
demoradas investigações fisiológicas como psicológicas.
Mesmo nas paralisias gerais, nas doenças encefálicas complexas, decorrentes de causas sifilíticas, com
alteração da personalidade que padece demência, delírios, em clima de psicose perfeita, o espírito se
reajusta à ordem universal, resgatando gravames...
Não há porque se desesperarem os que se atribuem o dever da enfermagem fraternal. Máquina em
desequilíbrio condutor. dificuldade para o Condução irresponsável maquinaria em desarticulação.
Sempre se pode ajudar, mesmo não se esperan"do uma reabilitação imediata, ao menos uma liberação
do compromisso negativo, tendo em vista que a vida não se circunscreve ao breve período da
reencarnação, dilatando-se além do desequilíbrio orgânico e da degeneração celular, na direção da
imortalidade.
E como o procedimento orgânico e o moral, não raro, acompanham o viandante da eternidade, ajudar
alguém a desembaraçar-se de psicoses com vistas a melhores dias espirituais, é também terapia
preventiva ou assistência curadora, que não pode ser relegada a plano secundário.
A saúde é um estado interior que nasce no espírito, mas a felicidade deve ser a meta que todos almejam
para agora, amanhã ou mais tarde, devendo ser trabalhada desde hoje, mediante os atos de enobrecimento
e elevação que cada um se pode e deve impor, imediatamente.

Carneiro de Campos
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12. PERSONALIDADES MÓRBIDAS

Na gênese das personalidades múltiplas repousam fatores causais, que passam despercebidos aos
estudiosos da psicanálise, pois estão mais preocupados com as asseverações freudianas não se
concedendo abertura mental para outros conceitos.
Sem negarmos os fundamentos traumáticos, de grave significação no problema em pauta, que precedem
à infância e se instalam, particularmente, durante esse período, gerando processos inconscientes de
fugas, ensejando as causas profundas para as neuroses e as psicoses centralizadas em transtornos de
natureza histérica, que mereceram de Charcot e dos seus contemporâneos estudos acurados, razões
outras antecedem à fecundação do ser, encontrandose ínsitas no Espírito em viagem evolutiva pelo
processo reencarnatório, de que se utilizam os sábios desígnios para a evolução individual.
Sem dúvida, processos de dissociação profunda, no insconsciente do ser, dão vazão a personalidades
neuróticas, que se instalam dominadoras como mecanismos de defesa, conseguindo ascendência sobre
o "eu" consciente do hospedeiro, que pode ser levado a estados de insconsciência total, fugindo à
realidade dos problemas esmagadores de que se não consegue libertar nem superar.
Outras vezes, em razão de conflitos que transitam pelo conduto genético incidindo no sistema nervoso,
de que se iniciam as dissociações, assomam reações inconscientes que passam a governar o paciente,
levando-o, não raro, a estados mórbidos, conflitantes, fatores, a seu turno, de lamentáveis incursões às
fugas mediante suicídios inditosos…
***
Todavia, o homem não é apenas a maquinaria orgânica em que transita, mas, sim, uma realidade
constituída pelo soma, pelo psicossoma e pelo espírito.
Enquanto o último o espírito é a causa preponderante, indestrutível, programado para a evolução
inexorável, num fatalismo de que ninguém se furta, visando ao processo de fixação de experiências e a
aquisição de sabedoria, manifesta-se no mundo das formas mediante o psicossoma ou perispírito, que
lhe registra as conquistas positivas ou não, a plasmarem as expressões orgânicas com que se
movimentará no mundo físico.
O soma resulta, portanto, das pretéritas injunções que o ser inteligente realiza, produzindo, mediante seu
perispírito, as necessidades evolutivas que se lhe fazem imperiosas para progredir.
Nesse capítulo, inscrevem-se os condimentos histeropatas, os impositivos genéticos predisponentes para
a disfunção psíquica e emocional, como para a dissociação da personalidade, com a adição das
parasitoses armazenadas pelo medo, pelas ansiedades e frustrações resultantes da complexidade da vida
mental e emocional.
Sem embargo, as próprias experiências em cada jornada existencial, no corpo, produzem animosidades,
gerando ódios e rancores que a morte não apaga em muitas individualidades, que volvem a partilhar da
convivência de cada criatura.
Sobrevivendo à disjunção cadavérica, o Espírito que desperta aturdido além do túmulo busca, por natural
processo de afinidade psíquica, aqueles que se lhe demoram adversários, na maioria das vezes sem a
consciência disso, produzindo parasitose de natureza espiritual, em que se manifestam tormentosos e
longos processos de obsessão profunda, em que predominam os fluidos e os sentimentos do
desencarnado atuando sobre o encarnado que lhe padece a interferência, a princípio na esfera psíquica,
e, posteriormente, psico-física, aparentando um processo de "personalidades dissociadas" que, em
verdade, são individualidades distintas, em ferrenho combate ou em vampirização dolorosa ou, ainda,
em predomínio de ação, na sôfrega busca de prazeres que já não podem fruir, por se encontrarem no
Mundo Espiritual, utilizando-se, desse modo, de outro homem, no seu corpo físico, como instrumento
para o gozo e para a alucinação...
Fazem-se valiosos os contributos da psicanálise, em processos que tais, no entanto em qualquer
manifestação de personificações dissociadas, a palavra de alento, a catarse moral, a assistência fraterna,
22

a doutrinação nos moldes lecionados pela Doutrina Espírita e o firme propósito de o paciente enfrentar
as debilidades do caráter, utilizando-se da prece, que uma terapêutica superior, contribuirão para a liberé
tação do estado patológico, seja de fundo meramente psicológico e ou principalmente obsessivo, como
na vasta maioria dos casos.
Em todo processo de descontrole da mente e da emoção, o enfermo é sempre o Espírito endividado,
carente de crescimento moral e renovação interior, rumando para o bem e para a vida, com otimismo e
coragem, levando de vencida as imperfeições que lhe tisnam o ser, a fim de integrar-se no perfeito
equilíbrio do programa de evolução em que todos nos engajamos.

Carneiro de Campos

13. ORAÇÃO NO TEMPLO DA CARIDADE

Senhor!
No templo que nos concedeste para a sustentação dos nossos ideais de fé, permite que Te possamos
corresponder aos objetivos sagrados, dedicandonos com fervor e abnegação. Honrados pelo Teu convite a
engrossar as fileiras dos que trabalham contigo, multiplica em nossas mãos as sementes luminosas da
caridade, a fim de que os nossos celeiros não permaneçam vazios de claridade.
Colocados na Terra que merecemos, diante dos obstáculos a transpor e das dificuldades a vencer, faculta-nos
a resistência contra as paixões que vivem dentro de nós, de modo a podermos transferir das baixadas em que
nos encontramos as aspirações maiores, içando-as ao planalto que anelamos atingir.
Não é esta, Jesus, a primeira vez que Te juramos fidelidade, para logo depois negarmos o compromisso
assumido...
Antes, prometemos-Te abnegação total e a apostasia fez-nos recuar da tarefa encetada, que deixamos
entregue ao escalracho da incompreensão, ao abandono... Hoje, por compreendermos melhor a destinação
que nos é reservada, com a alma túmida de emoções superiores, aprestamo-nos ao labor com que nos honras,
não obstante os liames com os compromissos negativos que mantemos com a retaguarda...
Ensina-nos outra vez a servir e a amar, ampliando-nos o horizonte do atendimento, a fim de que a estreiteza
da nossa visão não se aperte nos antolhos da nossa mesquinhez egoística.
Benfeitor de todos nós, sustenta-nos na fragilidade sistemática e renova-nos na noite em que nos debatemos,
pontilhando-a com essa luz meridiana que flui do Alto através da Consoladora Doutrina dos Imortais, em
que nos engajamos agora, desencarnados e encarnados, constituindo o rebanho de que Te fazes o Bom Pastor!
Ante a nossa impossibilidade de servir-Te, mais e melhor, deixa-nos doar-Te a nossa inutilidade por ser tudo
quanto temos.
Suplicamos-Te, também, que, enquanto aljofrem lágrimas na Terra, não nos seja lícito auferir o prêmio de
ser feliz, que não merecemos.
Oxalá que as nossas mãos se ergam a serviço do alimento das criancinhas em carência, do irmão em agrura,
do próximo em enfermidade, do ser enregelado, da criatura desnuda, concedendo a cada um a baga de amor,
que é uma estrela nascente, na noite sombria e dominadora que a todos atemoriza...
Jesus, apiada-Te de nós, no templo que nos facultas para reacender e manter a chama da fé viva! Torna-nos
dignos de aqui estar, louvando-Te e amando-Te através do amor aos nossos irmãos da retaguarda.

Bezerra de Menezes
14. CONVITE

Amigos e irmãos:
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Ainda ontem ouvimos a voz de Jesus, e, tocados pelo Seu verbo eloqüente, oferecemos-Lhe fidelidade e
amor, demo-nos em testemunho a Ele. Logo depois, fascinados pelos ouropéis, abandonamos a trilha da Boa
Nova e fizemos parte das milícias criminosas que espalharam o horror na Terra...
Nos dias do pretérito, dizendo servi-Lo, desfraldamos a bandeira da supremacia e esmagamos
desapiedadamente.
Nos primeiros dias, ouvindo a Sua meiga voz no ádito do coração, assumimos o compromisso de amar e de
aplicar as nossas forças no ministério do bem. No entanto, formamos organizações dominadoras, dissentimos
e fizemos que as nossas pegadas ficassem assinaladas no sangue das vítimas inocentes, assim como deixamos
as cidades vencidas cobertas pelo pó das destruições...
Ainda agora, escutamos a palavra dos imortais e nos deslumbramos com o Evangelho Restaurado, mas a
nossa posição mental é a mesma dos dias idos.
Continuamos amando a Deus e servindo a César. Buscamos o Reino dos Céus, mas não abandonamos as
paisagens da Terra. Desejamos união e impomos o preço das nossas paixões.
Rogamos fraternidade, mas desejamos o comando com as rédeas da força em nossas mãos...
Jesus, no entanto, é o mesmo, falando-nos docemente sobre as necessidades da nossa renovação íntima,
intransferível, atual, inadiável, porque ela é o fator preponderante da nossa felicidade. Não mais trevas, não
mais lutas, não mais pesares... Cristo, meus amigos, dirigindo nossos passos para que atinjamos o planalto
da sublimação das nossas vidas.
Muitos companheiros desavisados dirão que não é possível viver os dias apostólicos na atualidade
tecnológica. Asseverarão que é impossível amar nesta hora de sexualidade desvairada.
Informarão que, aqueles que se tornarem servidores, serão explorados, mas a verdade é que, hoje mais do
que ontem, mais do sempre, faz-se necessário viver como aqueles companheiros integérrimos da Boa Nova
do Cristo Galileu...
Mais do que nunca há sede de bondade na Terra. O homem, super confortado, tem o coração transformado
em cárcere do sentimento. Os homens poderosos que dirigem Nações parecem ter no peito pedras em lugar
de coração. A nós, a vós, irmãos queridos, a todos nós compete a tarefa de espalhar as fronteiras do bem
vindouro para que o Evangelho Restaurado viva em todas as consciências, a fim de que a Mensgem de Amor
saia da letra para falar em nossa boca, traduzindo as nossas aspirações e cantando as nossas emoções.
A Terra de hoje é diferente daquela em cujos dias viveu Jesus. Há totalitarismo do poder, há escravidão, há
esmagamento de consciências... Jesus, porém, é o Grande Libertador, e a Doutrina Espírita, conforme nô-la
desvelou o ínclito Allan Kardec, é a senda luminosa que nos leva a Ele.
Avancemos, companheiros do coração, guardando a certeza de que ontem, hoje e sempre, Jesus é o amigo de
todos nós, pedindo-nos o atestado indiscutível da nossa renúncia, do nosso exemplo, da nossa abnegação.
Quando as dores se fizerem mais rudes, quando a soledade parecer mais terrível, na hora em que a agonia se
fizer mais ultriz, façamos silêncio interior para conversar com o Divino Amigo das nossas vidas, e, abrindo-
Lhe a alma, dizermos baixinho: "Senhor! apiada-te de nós e vem conosco. Faze de nós cartas vivas do teu
Evangelho, embora não mereçamos sequer seguir-Te as pegadas. Vem por piedade extrema ao charco da
nossa miséria."
E Ele, que é o Amor não amado, que é o Sol sublime da Terra, virá ter conosco e nos aquecerá respondendo-
nos, docemente: "Bom ânimo! Eu aqui estou!"

Bezerra de Menezes
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15. UNIFICAÇÃO E UNIÃO

Espíritas, meus irmãos!


Quando as clarinadas de um novo dia em luz nos anunciam os chegados tempos do Senhor; quando uma
era de paz prepara a nova humanidade neste momento dominada pela angústia e batida pela
desesperação, façamos a viagem de volta para dentro de nós.
No instante em que os valores externos perdem a sua significação, impulsionando-nos a buscar Deus no
coração e através de nossos irmãos, somos convidados à responsabilidade maior de amar, de servir e de
passar...
Jesus, meus amigos, é mais do que um símbolo. É uma realidade em nossa existência. Não é apenas um
ser que transitou da manjedoura à Cruz, mas o exemplo, cuja vida se transformou num evangelho de
realizações, chamando por nós.
Necessário, em razão disso, aprofundar o pensamento na Obra de Allan Kardec para poder viver Jesus
em toda a plenitude.
Estamos convidados ao banquete da era melhor, do Evangelho imortal e ninguém se pode escusar, a
pretexto algum.
Dias houve em que poderíamos dizer que não es távamos informados a respeito da verdade. Hoje, porém,
sabemos... Agora que a conhecemos por experiência pessoal, vivamos o Cristo de Deus em nossas
atitudes, a fim de que o sol espírita não apresente a mensagem de luz dificultada pelas nuvens densas
que caracterizam o egoísmo humano, o ressentimento, a vaidade...
Unificação sim. União também. Imprescindível que nos unifiquemos no ideal Espírita, mas que, acima
de tudo, nos unamos como irmãos.
Os nossos postulados devem ser desdobrados e vividos dentro de uma linha austera de dignidade e
nobreza. Sem embargo, que os nossos sentimentos vibrem em uníssono, refletindo as emoções de amigos
que se desejam ajudar e de irmãos que não se permitem avançar, deixando a retaguarda juncada de
cadáveres ou assinalada pelos que não tiveram força para prosseguir...
A tarefa da unificação é paulatina; a tarefa da união é imediata, enquanto a tarefa do trabalho é incessante,
porque jamais terminaremos o serviço, já que somos servos imperfeitos e fazemos apenas a parte que
nos está confiada.
***
Amar, no entanto, é o impositivo que o Senhor nos concedeu e que a Doutrina nos ensina.
Unamo-nos, amemo-nos, realmente, e dirimamos as nossas dúvidas, retificando as nossas opiniões, as
nossas dificuldades e os nossos ponto de vista, diante da mensagem clara e sublime da Doutrina com
que Allan Kardec enriquece a nova era, compreendendo que lhe somos simples discípulos. Como
discípulos não podemos ultrapassar o Mestre.
Demo-nos as mãos e ajudemo-nos; esqueçamos as opiniões contraditórias para nos recordarmos dos
conceitos de identificação, confiando no tempo, que é o grande enxugador de lágrimas e a tudo corrige.
Não vos conclamamos à inércia, ao parasitismo, à aceitação tácita, sem a discussão ou o exame das
informações.
Convidamo-vos à dinâmica do amor, mesmo divergindo, porque assim se expressa o vosso ideal, não,
porém, dissentindo, porque tal seria romper as bases da vossa unidade.
Recordemos, na palavra de Jesus, que "a casa dividida rui", todavia ninguém pode arrebentar um feixe
de varas que se agregam numa união de forças. É por isto, Espíritas, meus irmãos, que a Unificação deve
prosseguir, mas a União deve vigir em nossos corações.
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Somos semeadores do tempo melhor. Somos os pomicultores da era nova. A colheita que faremos em
nome de Jesus caracterizar-nos-á o trabalho. Adiante, meus irmãos, na busca da aurora dos novos
tempos! Jesus é o Mestre por excelência e Allan Kardec é o discípulo fiel.
Sejamos, nós, os continuadores honrados e nobres da Sua obra de amor e da sua lição de sabedoria...
E quando as sombras da desencarnação descerem sobre vós, nós outros, os já desencarnados, nos
acercaremos de vós para receber-vos, e, então, podereis dizer:
Aqui estamos, Senhor, servos deficientes que reconhecemos ser, porque apenas fizemos o que nos foi
determinado. Ele, porém, magnânimo, justo e bom, dir-vos-á: "Vinde a mim, filhos de meu Pai, entrai
no gozo da paz."

Bezerra de Menezes

16. ORAÇÃO DA RENUNCIA

Deposito ao teus pés, Senhor, todas as minhas alegrias.


Todas as ansiedades do meu coração...
Transformo em luta os sonhos e persevero nos caminhos, arrebentando cardos, enflorescendo espinhos...
Ofereço as expectativas sombrias da alma, que adorno de esperanças e derramo luz nas sombras,
convertendo desesperos em bonanças...
Acalentei a glória terrena, transmudei desejos... Quando jovem persegui ilusões... A dor, porém, cobriu-
me de claridades inesperadas, quando todas as ambições já transformadas Voltavam-se para outros
rumos, para os cimos...
Aprendo contigo, na estrada áspera de prova e dor de luta e amor que só renunciando o homem progride,
entesourando, a paz, a fé, a dita.
Toma dos meus braços e faze alavancas, guia minh'alma, meu destino nas rudes lutas ao seio divino do
Celeste Pai donde provimos...
Ajoelhado ante o trono da vida, em sublime renúncia, em nossa lida de fé e caridade para a excelsa glória
da nossa Imortalidade.

José Dácio
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17. DOENTES

Doentes, sim, os há da mais vária espécie, que portam enfermidades pelo prazer de as carregar.
Senão, vejamos:
• o invejoso é doente contumaz do coração;
• o maledicente é doente pertinaz da língua;
• o caluniador é doente do espírito;
• o despeitado é doente do sentimento;
• o malicioso é doente da virtude;
• o negligente é doente do dever;
• o avaro é doente da bondade;
• o déspota é doente da afeição;
• o mentiroso é doente do equilíbrio.
Existem, igualmente, os doentes cujos achaques estão sempre ao alcance a qualquer hora.
• Há o achaque do estômago, ante a mesa farta;
• há o achaque do coração ante recursos de médicos vários;
• há o achaque dos rins, ante trabalhos a executar;
• há o achaque das vias respiratórias, ante conforto e casa de campo;
• há o achaque da insônia, sobre colchões de suave espuma;
• há o achaque das carnes flácidas ante cosméticos e massagens;
• há o achaque do fígado ante ociosidade e repouso;
• há o achaque da cabeça ante despreocupação e comodidade;
• há o achaque das alegrias, ante exames e testes, tratamentos e orientações médicas;
• há o achaque do cansaço ante serviçais e comandados...
Muitos carregam doenças por prazer de serem infelizes e outros são infelizes porque se não querem
libertar das doenças.
Alguns possuem achaques e dores, porque dispõem de horas vazias e possibilidades mal aplicadas, e
todos, reunidos, constituem a grande legião que bate à porta do Evangelho a pedir, mas não abrem a
porta do coração para o Evangelho entrar.
Aquele que em Jesus encontrou a porta, penetra-a; quem O encontrou, guarde-O e siga-O, e "nenhum
mal lhe acontecerá".

Scheilla
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18. CARIDADE EM VOCE

Muitos falam de amor; seja, porém, você quem ama.


Diversos disputam as posições de relevo; todavia, prefira a honra de quem renuncia em favor do bem.
Comenta-se demasiadamente sobre a fé; no entanto, torne-se aquele que crê sem exigências, nem
relutância.
Expõe-se em toda parte o problema da paz entre a inflamação íntima e o verbalismo; sem embargo,
enquanto outros entretecem apenas comentários, mantenha uma atitude de calma, perante a vida.
Exigem-se programas de solidariedade humana em todo lugar; a você compete ajudar sem
discriminação, nem reprimenda. Compõem-se hinos de exaltação ao trabalho, nos diversos campos da
vida; a você cabe executar as tarefas do bem sem nome, independente de pessoa, ocasião ou
circunstância.
Estudam-se técnicas de serviço social e debatemse diretrizes, objetivando criação e dinamização das
organizações sociais, enquanto a dor campeia desastradamente. A você está reservado o ministério de
servir com otimismo e galhardia.
Estardeiam-se em comentários ardentes as vantagens da filantropia sem limite; enquanto isso você deve
insculpir na alma para exteriorizar nos atos a sagrada mensagem da caridade com Jesus.
Sorria com benignidade aqui, ofereça uma palavra gentil ali, distenda uma oportunidade edificante além,
enseje elevação mais adiante.
Tudo é caridade no amor, quando o sol da solidariedade cristã aquece a alma. Não se detenha.
Não faça exigência, não proponha a reforma dos outros. Reforme-se e torne-se útil.
A caridade em você será a presença de Jesus abençoando suas horas e sustentando-as na luta com que
você construirá o mundo melhor que todos anelamos.

Scheilla
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19. JESUS ESTÁ NAS RUAS...

Revivendo a pureza primitiva da Boa Nova, o Espiritismo traz Jesus de volta às praças e ruas
movimentadas do mundo, a fim de conviver com os padecimentos ultrizes que vergastam as multidões
atônitas da atualidade.
Sem quaisquer atavios, Sua presença comove e conquista os que anelam por paz e aguardam a mensagem
de esperança.
Após as sucessivas desilusões pelas variadas províncias da fé e da intelectualidade, o homem jaz vencido
pela prepotência dos artefatos bélicos, filhos inditosos do avanço tecnológico que, não obstante a
contribuição valiosa que vem oferecendo ao progresso da civilização, não conseguiu lograr a meta de
produzir a felicidade humana.
No báratro dos aturdimentos e do cepticismo vigentes, uma fé racional, sem qualquer dogma e alicerçada
na força dos fatos experimentalmente comprovados, irrompe, conquistando mentes, corações e
coletividades, enquanto coloca nas vielas da alma e nas avenidas do mundo o Pulcro Amigo em atitude
de serviço ativo, edificante, consolador.
Jesus volveu, sim, às ruas do mundo, sem abandonar os lares onde se agasalham as aflições...
Sua voz penetrante dispensa os condicionamentos externos da indução psicológica inconsciente do
passado, transformando-se em mecânica de auxílio urgente àqueles para quem viera anteriormente.
Repetindo as realizações das horas messiânicas, recebe e alberga no Seu sentimento afável e enérgico
todos os que transitam sem rumo e os que já resvalaram pelas rampas da irresponsabilidade e do erro...
Ele espera que a acústica das almas, embora viciada pelos ruídos desconexos do momento, registreLhe
a mensagem, deixando-a penetrar no imo dos teus sentimentos.
Não mais, exclusivamente, se encontra nos templos de fé, antes se apresenta em toda parte onde se faz
necessitado, em que é esperado.
Bahn Se já travaste conhecimento com Jesus, mediante a Revelação Espírita, não te detenhas na inanição,
nos receios injustificados, no rol das queixas, na urdidura de planos intermináveis. Leva-O às ruas da
Terra, aos homens, nossos irmãos.
Retribui em sacrifício e abnegação, em alegria no trabalho e proficua ação, a honra de O conheceres.
Não postergues o ministério a pretexto algum, nem te escuses à tarefa sob justificativas desculpistas.
Urge que O apresentes aos outros e te apresses na construção do mundo melhor que já podes pressentir.
Se, todavia, ainda não te resolveste encontrá-Lo, aquieta-te, produzindo silêncio interior, onde quer que
estejas, e O ouvirás, defrontando-O próximo de ti e ansioso por estabelecer contato contigo.
Renovando-te, modificarás a psicosfera ambiental e auxiliarás o próximo que se localize mais próximo
de ti.
Jesus está nas ruas, procurando auxiliar a criatura humana.. Já pensaste em que posição te encontras em
relação a Ele?
Seja qual for, porém, a tua situação, não olvides que este é o teu momento de estar com Ele e não tens o
direito de malbaratar o ensejo ou perder a oportunidade, porquanto, nas ruas da Terra atual, Ele seguirá
adiante, contigo ou sem ti, mesmo que seja a sós...

Francisco Spinelli
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20. JUNTO AOS QUE SOFREM

O expositor da Doutrina Espírita, em geral, e o médium consciente dos próprios deveres, em particular,
no exercício do mandato superior da caridade com Jesus, fazem-se instrumento de graves
responsabilidades, em considerando as aflições do próximo, que neles espera encontrar apoio espiritual
e consolo moral, a fim de ter diminuídas as provações em que se estertora, em face das excelentes
diretrizes que dimanam do Consolador.
Enfermidades do corpo e da mente, desequilíbrios da emoção, dramas do sentimento e da consciência,
ansiedades injustificáveis ou não e frustrações amesquinhantes são uma constante à volta deles, em
rosários de desesperos, rogando-lhes orientação, socorro, solução, ajuda providencial...
O desconhecimento do Espiritismo, por parte dos que choram e anelam por encontrar respostas simples
e equações rápidas para as suas necessidades, mais agrava o relacionamento entre aqueles e o
companheiro portador de precárias expressões de equilíbrio, como, também, enseja uma idéia falsíssima
da função que estes exercem em relação à vida.
Porque lidam e se identificam com relativa facilidade com o Mundo Espiritual, quando não são vistos
na condição de charlatães ou inescrupulosos, passam por criaturas sobrenaturais ou especiais, dotadas
de poderes de exceção, com que podem a bel-prazer modificar destinos e corrigir erros, a golpes de
interferência caprichosa.
Não desejando a maioria dos consulentes submeter-se a um programa de reeducação, quando
desorganizados interiormente, ou de educação diante das imposições superiores que regem a vida, nas
quais a dor surge como cadinho purificador, supõem que, através do artifício das lágrimas de momento
ou dos compromissos de futuros labores beneficentes com vistas ao próximo, conseguirão modificar as
paisagens íntimas sombrias e carrear merecimentos instantâneos com os quais se transformarão os
quadros dos valores vigentes.
Arrimados aos pieguismos religiosos com que no passado esperavam subornar e submeter a Divina
Consciência, transferem-se de crença com a leviandade de quem muda de traje, iludindo-se com as
perspectivas de amealhar maior soma de favores espirituais sem a correspondente doação de sacrifício
pessoal.
***
Não se lhes negando solidariedade nem concurso fraterno, faz-se, porém, imperioso, aclará-los quanto
às próprias responsabilidades, bem assim, quanto ao significado dos sofrimentos que os sobrecarregam,
tendo-se em vista a legitimidade das leis que regem os destinos, a fim de que compreendam o impositivo
da meditação e da oração, superando dificuldades mediante renúncia e paciência em perfeita sintonia
com as Entidades Superiores que lhes supervisionam a existência.
Auxiliá-los com a palavra amiga, inspirada no Evangelho de Jesus, sim, porém, não conivir com as suas
defecções e erros, dando margem a conceitos inexatos sobre o ministério da mediunidade e da
doutrinação.
Atendê-los com o passe restaurador de forças, todavia, impulsioná-los à mudança de atitude perante a
vida, para melhor, com que poderão marchar em confiança e paz.
Socorrê-los na desobsessão, esclarecendo os seus inimigos desencarnados, ao mesmo tempo elucidando-
os quanto ao esforço pela transformação interior com que se lhes modificarão os clichês mentais,
predispondo-os para novos e superiores tentames.
Em qualquer momento e em toda situação manter a atitude de honesta humildade, não deixando que se
exteriorizem as próprias imperfeições, as quais, disfarçadas, procuram angariar projeção nas mentes
aturdidas, passando como expressões de falsas posições de privilégio de que gozariam na economia
moral terrestre, em que todos nos encontramos na condição de espíritos necessitados de elevação,
portanto, ainda cheios de mazelas e problemas... Quando as proposituras dos aflitos parecerem mais
difíceis de orientar, evitar-se respostas dúbias, desculpistas ou indiferentes, confessando-se as limitações
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em que se encontram, e, orando por eles com sincero interesse, conseguirão haurir força e inspiração
para prosseguir fiéis a si mesmos e a Jesus, que é, afinal, o Excelso Amigo e Benfeitor, que nunca se
escusava a compreender, a amar e a servir a todos quantos O buscavam batidos pelas aflições redentoras.

Benedita Fernandes
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21. EMERGENCIA PARA A CRIANÇA

Esse problema de emergência - o menor abandonado - deve ser atendido por todas as pessoas criteriosas,
visando-se a solucioná-lo com urgência.
Enquanto não se empreenda uma campanha clarificada pelas luzes do Evangelho, com os altos objetivos
de erradicar-se a indiferença da Sociedade em relação à orfandade infantil, aqui incluídos os que são de
"pais vivos", a bem pouco ficam reduzidas as expressões de ventura que a maioria pretende usufruir.
A questão decorre do inditoso hábito do egoísmo que aprisiona o homem, lavrando desordenado em
torno de si mesmo, a detrimento dos demais.
Buscam-se valores para garantia da família, equilíbrio da ordem e prosperidade comunal, todavia, se a
criança não passar a meta urgente, os esforços relevantes que se empreendem redundarão inoperantes.
Assustadoramente se multiplicam as escolas do crime e da corrupção nos guetos da sordidez e nas vielas
do vício, escorregando para as avenidas largas do conforto em multiforme agressão com que se
desforçam os apaniguados do abandono, que se nutriram, a distância, com o alimento do ódio e da inveja,
recolhido nos depósitos de lixo do desperdício social.
Intoxicados pelos vapores do desespero a que foram de cedo relegados, arregimentaram os recursos da
insânia para sobreviver, guindando-se às posições de desregramento em que sobrenadam, aguardando
oportunidade de desforço..
Inútil apontar-se o drama trágico em que vegetam, sem que se responsabilizem todos pela transformação
das causas que os geram, atendendo-os liminarmente em emergência e a longo prazo educando-os.
Qualquer técnica assistencial retardada resultará em perigo multiplicado. A princípio, a sós, depois, em
grupos, transformam-se em cobradores inescrupulosos, vítimas que têm sido largamente do cativeiro da
miséria a que se encontram atirados.
Têm demonstrado as "máquinas administrativas" de alto porte a ineficiência dos seus métodos, quando
os reunindo em depósitos com boas ou más instalações faltam os preciosos dons do amor e da paciência
humana.
Ninguém educa, senão mediante as emoções idealistas. Podem-se transmitir conhecimentos, técnicas de
higiene e de alimentação, recursos profissionais e disciplina, no entanto, se tais lavores não se fizerem
acompanhar dos santos óleos, da compreensão fraternal e da bondade cristã à semelhança de vernizes
externos, não suportam a canícula das paixões, a umidade da solidão, a ferrugem da inquietude íntima.
Casais sem filhos, rebelados pela impossibilidade da procriação, em regime punitivo, em face dos
passados ultrajes praticados, não se resolvem adotar outra carne que abençoaria suas existências,
mantendo os cônjuges em clima de edificante e mútua realização.
Pessoas solitárias, aquinhoadas com fartas moedas, escravizadas a "animais de estimação" em que
aplicam somas elevadas e negam-se à contribuição por uma vida infantil em estiolamento, que poderia
transformar-se no farol para iluminar-lhes a pesada noite da velhice que os colherá, amarguradas.
Ociosos de todos os matizes que se autoaniquilam, cultivando enfermidades imaginárias ou em viagens
extravagantes quão inóquas para preencher-lhes o vazio da vida fútil, desdenham a oportunidade de
recebê-los na condição de afetos espontâneos, para serem por eles defrontados na condição de
salteadores ousados.
Aos educadores com "horas vazias", caberia preenchê-las através de uma contribuição pedagógica, em
campos de depósitos ou exiguas salas convertidas em santuário escolar, assegurando auto-confiança,
amizade, segurança íntima.
O conflito existente desaparecerá quando o dominador liberte o escravo da ignorância, a estroinice
produza pães e a soberba se faça solidariedade.
Dando-se a mão a um petiz, sem dúvida pode-se alçá-lo à idade adulta a fim de fazê-lo progredir em
marchar firme.
32

Todo investimento e ninguém pode se eximir do dever de ajudar aplicado no rumo do menor em
abandono é de alta valorização, porquanto os seus juros demandam a eternidade.
Quando se atende a um órfão, assegura-se um lugar para um homem no futuro. Mas quando se permite
que ele rasteje nos lôbregos sítios em que sobrevive, por culpa de todos, arma-se um bandido para a
intranquilidade geral.
Negativos os métodos policiais coercitivos, infelizes os ajuntamentos em reformatórios e as punições
exorbitantes pela pancadaria desenfreada e o sadismo contumaz. Tais produzem esquizoides violentos,
alienados em degeneração apressada, animais em fúria contida, aguardando ensejo...
O amor, porém, aliado aos recursos educativos por todos os meios hábeis, cuidará desses sêmens da
humanidade e fará que se enfloresçam, na Terra, os jardins de paz com abençoados frutos de felicidade
a que todos almejamos.

Benedita Fernandes
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22. SEU CORPO DADIVA DE DEUS

A recomendação evangélica preceitua "o amor ao próximo como a si mesmo". E o "amor a si mesmo"
se expressa quando se:
• lubrifica a mente com pensamentos e idéias nobilitantes;
• educa a vontade mediante corportamento austero diante da vida;
• corrige a visão para descobrir o lado melhor das ocorrências, das pessoas e das coisas;
• honra a boca através de verbetes e frases que edificam o bem, proporcionam a esperança e cantam
a solidariedade;
• respeita a maquinaria orgânica, alimentando-a para viver e não vivendo para alimentar-se;
• dignifica a audição, aprendendo a selecionar as mensagens que devem ou não ser arquivadas na
memória;
• transforma as mãos em alavancas do trabalho e asas de carinhosa ternura;
• equilibram os sentimentos, utilizando-se a razão, a fim de que as investidas da paixão não
produzam loucura e rebeldia;
• aplicam os pés na marcha da fraternidade, através das jornadas humanitárias;
• higieniza o corpo a fim de preservá-lo, ao invés de viver para o excesso de cuidados, ou sob a
justificativa de humildade, relegando-o à imundície;
• exercita a alma no colóquio da oração e no salutar esforço da reflexão honesta;
• vive para progredir em espírito e sabedoria sob a meridiana luz do amor de Nosso Pai.
Seu corpo é instrumento da sua ascensão.
A Terra é o Educandário imenso onde se aprendem experiências, se educam hábitos e se corrigem
imperfeições.
O corpo, a seu turno, é pequena escola por meio da qual o espírito cresce e desenvolve aptidões face às
possibilidades de próxima libertação. Seu corpo, seu amigo ou seu adversário, porém, é dádiva de Deus.
Conforme o utilize e o conduza, tornar-se-á santuário ou cárcere para você mesmo.
O que você pense e conforme aja plasmará nele necessidades, alienações, limitações ou mecanismos
dóceis que o liberarão para os altos vôos da ventura.
Você está fadado à glória estelar. Aprenda a crescer e a desdobrar os recursos que se encontram diante
da vida.
O seu corpo de hoje foi programado e construído pelo seu comportamento de ontem. Amanhã vocè
renascerá com órgãos que elabora hoje.
Ame a máquina divina, dignificando-a pela abstinência contra o mal: a conduta permissiva, venal, tóxica
que agrada por um momento e devora logo depois.
Quem não se ama com elevação e respeito, dificilmente amará o seu próximo.
Lembre-se de que o próximo mais próximo de você, é você mesmo.
Comece, então, renovando suas paisagens e enobrecendo-se.
Ame-se e ame, para gozar desde agora felicidade e paz.

Marco Prisco
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23. BEM E MAL

O bem propõe. O mal impõe.


O bem é luz. O mal é treva.
O bem é saúde. O mal é enfermidade.
O bem é esperança. O mal é punição.
O bem produz. O mal destrói.
O bem ama. O mal odeia.
O bem facilita. O mal dificulta.
O bem inspira. O mal conspira.
O bem ampara. O mal expulsa.
O bem vive. O mal passa.
O bem é vida e a vida permanece.
O mal é morte e, assim sendo, passa, porquanto o mal resulta da ausência do bem, que ainda não logrou
domar o instinto nem santificar a razão. O mal, portanto, maior, é sempre para quem o faz, por torná-lo
mau. O bem, que é de Deus, também é sempre melhor para quem o faz, porquanto liberta e alça quem o
pratica à vida sem fim, sem limite.

Marco Prisco
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24. BEM E MAL VIVER

Porque campeiam o utilitarismo e as disputas existenciais, não descreia do amor nem da solidariedade.
Porque você haja sido vítima da astúcia e da ingratidão de alguns, não se faça amargo nem pessimista
para com todos.
Porque demore de chegar a colheita dos resultados dos seus labores, não deixe de semear a es
perança e o bem em todo lugar.
Porque a precipitação e a loucura avassalem os homens, não lamente os esforços que envida em prol da
harmonia e da saúde geral.
Porque a vitória aparente da desonestidade coroe algumas criaturas, não desanime no dever nem na
hombridade moral.
Porque o clima de confiança entre os amigos se faça difícil, não domine os seus impulsos de lealdade e
afeição em relação ao próximo. Porque caminhem abraçadas a utopia e a insensatez, não se recuse o
exercício da parcimônia e da ordem.
Porque as criaturas se digam em crise, diante de um mundo que afirmam estar em desagregação, não
ofereça forças à balbúrdia e à agressividade.
Porque o apego às coisas e à vida orgânica o impilam a lutar pelos bens terrenos, não se esqueça de
preparar-se para a morte, quando se verá constrangido a tudo deixar, exceto os valores morais e
espirituais acumulados nos cofres da existência eterna…
***
O bem não receia o mal, que é transitório. O otimismo não se abate ante a agressão do desânimo, que é
passageiro.
A saúde não se acobarda face à doença, que grassa em derredor, por momentos. A luz não sucumbe ante
a treva, que facilmente se dilui...
De forma alguma vitalize o lado negativo das coisas, das questões, das pessoas, da vida...
Você pode modificar as próprias paisagens morais e as do seu próximo, abraçado à certeza da mensagem
do Cristo em triunfo, hoje lhe abrasando a vida.

Marco Prisco
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25. PENSAR PARA AGIR

A irreflexão é responsável por danos e problemas que engendram aflições inecessárias. Examinemos
algumas atitudes dela decorrentes:
• a precipitação, que arroja os incautos a posições e comportamentos lamentáveis;
• a agressividade, que induz ao primitivismo, desconectando os centros da razão e do equilíbrio;
• a ira, que ateia incêndios morais devastadores por coisa alguma;
• o vício de qualquer denominação, em cujo despenhadeiro mais se destroça aquele que derrapa;
• o julgamento infeliz, decorrente da observação malsã ou inconseqüente, que estiola esperanças;
• o aturdimento, que fomenta distonias no corpo, na mente e na alma, por deficiência de exame
correto sobre os fatos;
• a calúnia, que nasce de uma frase mal colocada ou proposta com azedume, devastando vidas
nobres;
• o deslumbramento transitório, que arrebata e compromete, como mecanismo de fuga da
personalidade que não se contenta com o que detém, e busca, avidamente, experiências novas;
• os caprichos infantis atribuídos a decisões seguras, mal disfarçando a imaturidade moral;
• o arrependimento tardio, que se insinua na mente e nos sentimentos, quando a colheita dos frutos
da agitação concita o refazimento do caminho percorrido...
A reflexão deve constituir para você uma posição mental equilibrada perante a vida.
Não se agaste com os acontecimentos naturais da existência, nem tenha pressa por encontrar soluções
imediatas quanto incoerentes, em face dos problemas que lhe testam a paciência e desenvolvem a sua
capacidade de crescimento espiritual.
Pense sempre antes de agir, seja em qual circunstância for.

Marco Prisco
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26. QUEM SABE...

Não se atribua a posse exclusiva da verdade. Quem sabe discernir descobre fragmentos e expressões da
sua legitimidade em toda parte.
Faça-se sincero aprendiz onde esteja, ante quem se encontre disposto a ensinar-lhe algo. Quem sabe
ouvir para compreender, aprimora os conhecimentos e dilata a percepção em torno das pessoas, das
coisas e das ocorrências.
Poupe-se parecer mais do que é. Quem sabe conhecer-se, também está informado de que há pessoas mais
e menos dotadas, portanto, melhores e piores do que ele próprio.
Nunca se suponha indispensável. Quem sabe servir, não ignora que está produzindo sempre a beneficio
de si mesmo.
Aceite a cooperação de outrem. Quem sabe ser individualista, possui visão moral defeituosa a respeito
da sua tarefa na Terra.
Elabore seus programas com antecipação. Quem sabe ser prudente está preparado para o êxito como
para o insucesso, mantendo-se tranqüilo em qualquer circunstância.
Não se faculte perder uma oportunidade de pro veito superior. Quem sabe utilizar o momento, adquire
vasto patrimônio de tempo, que não se repete.
Não ocorrendo suceder o seu trabalho, conforme esperava, conserve a serenidade. Quem sabe manter-
se calmo ante o imprevisto, supera o problema e domina a situação.
Ante alguém que acusa outrem que lhe é antipático, não adicione os resíduos da sua mágoa. Quem sabe
silenciar falhas alheias, poupa-se a muitos arrependimentos.
Controle suas emoções antes que elas o desgovernem. Quem sabe conduzir-se com equilíbrio, raramente
repete com aflição as experiências.
***
Você abraça uma filosofia existencial que lhe fala da sobrevivência à morte, portanto, de que o homem,
na Terra, se está preparando para prosseguir, embora noutro estado vibratório, uma vida que não cessa,
não se interrompe.
Quem sabe disso deve estar preparado a todo o momento, porquanto, vivendo hoje, com elevação,
amanhã prosseguirá com felicidade.

Marco Prisco
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27. PARADOXOS HUMANOS

Diz-se pacifista; no entanto, temperamental, é um problema no lar.


Afirma-se mestre consumado, hábil expositor da cultura; todavia, irritadiço, detesta conviver com as
demais pessoas.
Assevera amar as boas regras de comportamento; no entanto, é partidário do anedotário chulo e
irreverente.
Informa ser artista consumado, exigente na preservação da beleza, nos mínimos detalhes; sem embargo,
compraz-se nas experiências anestesiantes e ingratas da perversão moral.
Esclarece que vive para a fé religiosa; apesar disso, não se aparta dos "vícios sociais".
Expõe a eloqüente necessidade de uma vida parcimoniosa; entrementes, intoxica-se nos excessos,
alegando carência de forças.
Propõe normas de elevação espiritual; no entanto, se permite deslizes de comportamento.
Ensina a fraternidade universal como solução para muitos problemas, embora mantenha antipatias
pessoais, sem qualquer esforço por superá-las.
Aplica-se às técnicas da comunicação, e, porque sofrido, fecha-se em mutismo lamentável, após cada
lição.
Anela por vencer; apesar disso, recusa-se a lutar pelo objetivo que abraça.
***
São paradoxos humanos ou homens paradoxais.
Propõem, mas não vivem. Ensinam, porém não crêem. Esclarecem, todavia encontram-se confundidos.
Guiam, apesar de estarem perdidos. Solucionam problemas alheios, emaranhados nas dificuldades que
engendram. Apontam rumos, que não seguem.
Não os tome por medida, nem modelo, nem estímulo.
A conquista da inteligência é valiosa. Sem embargo, a aplicação em si mesmo dos predicados morais
carece de urgência.
Não transfira seu esforço para amanhã. A vitória da vida começa agora, se você pretende vencer-se a si
mesmo.

Marco Prisco
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28. CRISES E VOCE

Detestai o mal, apegai-vos ao bem" (Paulo Romanos 12:9)

Justificando as suas problemáticas aflitivas, você relaciona as crises que enxameiam o mundo,
sobrecarregando as criaturas de angústias. E anota:
• crise entre as nações, que se entregam a lutas encarniçadas;
• crise nas finanças, que sustentam a balança das trocas internacionais;
• crise nos negócios, que padecem ágios superlativos;
• crise na saúde dos homens, que se decompõe sob a inspiração de estupefacientes, agressões e
permissividades;
• crise de trabalho, em que multidões de cidadãos cruzam os braços, ora superados pela tecnologia, ora
vitimados pelas contingências sócio-econômicas vigentes nos diversos países;
• crise na compreensão dos direitos e deveres humanos, nos quais os Organismos Mundiais se debatem,
sem encontrar solução satisfatória;
• crise de alimentos, ante a diminuição da fertilidade nos solos;
• crise ambiental, que a poluição de variada nomenclatura ameaça de extinção a Natureza,
conseguintemente, o homem;
• crise de natalidade humana, em que as opiniões se dividem e se disputam predominância;
• crise de confiança, uma vez que a civilização não logrou uma ética de fraternidade entre os homens;
• crise de amor, porque as explosões da sensualidade enxovalham as elevadas expressões da beleza e
da alegria...
***
Há muita crise, no entanto, você pode modificar a paisagem que lhe parece anárquica, em marcha para a
desagregação.
Não acuse o caído, levante-o.
Não exorbite dos seus direitos, cumpra com os seus deveres.
Não exprobe o errado, vença o erro.
Não afíra valores por meio de medidas exteriores, conceda a todos a oportunidade de crescer.
Não dissemine o pessimismo, faça claridade onde você esteja.
Não disperse o tempo na inutilidade, produza alguma coisa de positivo.
Cultive a compaixão pelos irmãos combalidos e conceda-lhes um pouco de você.
***
Terapêutica eficiente para a crise moral que você constata na Terra: exercício do amor, em que o Cristo viveu.
Quanto às demais crises, as generalizadas, não se preocupe com elas demasiadamente. Realize sua parte.
Saia da crise interior em que você se debate sem rumo, iniciando, agora, um programa dignificante em favor
de você mesmo, e perceberá que o mundo está miniaturizado em você, sendo você, em razão disso, uma
célula importante do organismo universal que deverá permanecer sadia a benefício geral.
E, conforme asseverou Paulo, "deteste o mal e apegue-se ao bem", sempre e invariavelmente.

Marco Prisco
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29. GRANDEZA DO ESPIRITISMO

O Espiritismo tem por escopo imediato e essencial a transformação moral do homem para melhor,
porquanto lhe faculta uma identificação perfeita com os objetivos reais da vida, que se estendem além
dos frágeis limites orgânicos.
Demonstrando, mediante processo de clara lógica, fundamentados na pesquisa experimental, a
indestrutibilidade do Espírito, bem como a sua fácil comunicabilidade com os que ficaram na retaguarda
fisiológica, produz uma integral conscientização que promove o ser a um estado de libertação legítima
com que, então, se felicita.
Informado e convicto de que a vida, na Terra, constitui uma experiência evolutiva, por cujo meio
aprimora os sentimentos, o homem lapida as arestas morais, ressarce os gravames decorrentes da invigi
lância, candidatando-se a futuros renascimentos abençoados, através da realização benéfica de um
comportamento salutar e correto.
A dor, em qualquer das expressões em que se lhe apresente, transforma-se em cadinho purificador e, ao
invés de fazê-lo rebelar-se contra a injunção, ajuda-o a submeter-se-lhe e superá-la, ensejando-lhe, na
motivação do próprio sofrimento, íntima alegria, qual experimenta o galé quando se aproxima a data da
libertação. E, nesse sentido, o padecimento representa processo liberativo, uma vez que o seu sinete
atesta a dívida sobrevivente, em natural movimento de quitação.
Não sendo a dor mais do que uma necessidade de recomposição com as leis da ordem e do equilíbrio
que regem o Universo, em nome do Supremo Pai, merece ser recebida com um digno investimento de
alegria, sem os reclamos que protestam por méritos inexistentes e inocência enganosa.
Apesar da limpidez dos seus postulados, todos fundamentados eticamente no Evangelho de Jesus, com
bases profundas no Amor e na Caridade, aqueles que os não professam ou neles não se aprofundaram
engendram a lamentável conceituação de que são uma singular caixa de Pandora, donde se reti ram
sortilégios, profetismo de ocasião, soluções prontas, revelações assombrosas, benefícios imerecidos que
supõem poder utilizá-los, a fim de burlar a Divina Consciência, conforme ludibriam a própria,
granjeando favores externos sem qualquer contributo de esforço para a modificação estrutural dos
hábitos torpes e dos pensamentos viciosos.
Argüem médiuns, formulam consultas absurdas, propõem questões inescrupulosas, sustentam desejos
arbitrários e aguardam vantagens que sabem não merecer, com a mesma naturalidade com que sorvem
um vaso de água fresca.
Transferem-se das velhas crenças, dizem, "com malas e bagagens", procurando alojamento nos con
fortáveis sítios da fé que supõem, agora, abraçar, e aguardam somente fruir bons resultados, disputar
direitos, granjear favores. Mudam na forma, não, porém, na essência.
Deus prossegue como seu servidor. Os Espíritos da Luz devem substituir os santos da sua antiga devoção
e os médiuns, seus atuais confessores investidos de poderes, servem não ape nas para perdoar pecados,
mas, para modificar as dificuldades e interceder poderosamente, no sentido de favorecê-los com
felicidade exclusiva.
Algumas outras pessoas fazem-se mais hábeis e pretendem permanecer nas anteriores convicções,
adicionando às novas idéias as que acalentavam, numa ginásitca mental muito grande e inútil,
asseverando nada ver que desabone tal comportamento. Vã cegueira das criaturas!
Mesmo diante das conquistas do Espírito imor tal, utilizam-se dos métodos escusos das atividades
humanas em que se rebolcam. De fato, o importante não se afigura o como se crê, mas o em que, de tal
forma que se promova uma reformulação de propósitos e atos capacitando-se o crente às investiduras da
própria existência.
Nesse particular, embora o respeito por todas as doutrinas religiosas, nobres e edificantes nas suas bases
essenciais, o Espiritismo contribui eficazmente para a consolidação da fé, não, apenas, pelo seu conteúdo
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filosófico, mas, também, pela sua feição experimental, incontestável, donde se retiram certezas
inamovíveis.
Não se trata, aqui, de proselitismo ou fanatismo religioso, e, sim, de exame sensato e profundo em torno
do comportamento espiritual de cada um perante a vida.
***
A finalidade, portanto, precípua do Espiritismo junto ao homem é de natureza moral e não material,
como teimam inúmeras criaturas por asseverar. Sem dúvida produz incomparáveis resultados de euforia
e saúde física como mental, porque, ensejando o intercâmbio com os Espíritos da Luz, realiza uma
terapêutica de otimismo, penetra nas profundezas das causas das enfermidades, por cujo recurso as
erradica, fortalecendo o ser para as incessantes vicissitudes da vida.
Não tem, porém, a meta exclusiva de cuidar da saúde física, em lamentável desvio dos enfermos aos
recursos médicos, nem transforma os Espíritos amo rosos em prosaicos solucionadores de casos
sentimentais.
Ajuda a que se invistam todos os valores na e volução e desde que se aprimora e restaura por dentro, o
homem recupera-se dos males que procedem do passado porque, ama, conforme ensinou Jesus, com
esse "amor que cobre a multidão das faltas" cometidas..
É específico para a alienação por obsessão, não obstante a multiface em que se apresenta o problema,
inclusive junto aos fascinados por si mesmos, novos Narcisos que se recuperam da feia expressão da
vaidade que antes cultivavam.
Os auto-obsidiados que se olvidam das diretri zes da fraternidade, vencidos pelo egoísmo e pela ambição,
nele entesouram as fortunas do amor, a través das quais se encontram consigo mesmos.
O seu valioso auxílio rompe os elos da telementalização provocada pelos Espíritos perturbadores e
vingativos, constituindo o mais vigoroso antídoto contra as interferências do consórcio mediúnico ne
gativo.
Estudá-lo com seriedade e vivê-lo sem viciações nem desaires e, pois, medida imperiosa e imediata para
o atual momento terrestre, bem como para o atônito homem moderno.

Manoel Philomeno de Miranda


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30. CONSIDERANDO A OBSESSÃO

Com etiologia mui complexa, a alienação por obsessão continua sendo um dos mais terríveis flagícios
para a Humanidade.
Não significando a morte o fim da vida, antes o início de nova expressão de comportamento, em que o
ser eterno retorna ao Mundo Espiritual donde veio, a desencarnação liberta a consciência que jazia
agrilhoada aos liames carnais, ora desarticulando, ora ampliando as percepções que melhor se fixaram
nos painéis da mente, fazendo que o ser, agora livre do corpo físico, se revincule ou não aos sítios,
pessoas ou aspirações que sustentou durante a vilegiatura carnal.
O amor, por constituir alta aspiração do Espírito, mantém-no em comunhão com os objetivos superiores
que lhe representam sustento e estímulo na marcha em direção ao progresso. Assim também, o ódio e
todo o seu séquito de paixões decorrentes do egoísmo e do orgulho reata os que romperam os grilhões
da carne àqueles que foram motivo direto ou não das suas aflições e angústias, especialmente se se
permitiram guardar as idéias e reações negativas equivalentes
Sutilmente, a principio, em delicado processo de hipnose, a idéia obsidente penetra a mente do futuro
hóspede que, desguardado das reservas morais necessárias à manutenção de superior padrão vibratório,
começa a dar guarida ao pensamento infeliz, incorporando-o às próprias concepções e traumas que vêm
do passado, através de cujo comportamento cede lugar à manifestação ingrata e dominadora da alienação
obsessiva.
Vezes outras, através do processo da agressividade violenta, com que a indução obsessiva desorganiza
os registos mentais da alma encarnada, produzse o doloroso e lamentável domínio que se transforma em
subjugação de longo curso.
Noutras oportunidades, inspirando sentimentos nefastos, latentes ou não no paciente desavisado, os
desencarnados em desdita nele instalam o seu baixo teor vibratório, logrando produzir variadas distonias
psíquicas e emocionais, que o atormentam e o desgovernam, face à inditosa dependência em que passa
a exaurir-se, a expensas da vontade escravizante do hóspede que o encarcera e aflige...
Pululam por toda parte os vinculados gravemente às Entidades perturbadoras do Mundo Espiritual
inferior.
Obsidiados, desse modo, sim, somos quase todos nós, em longo trânsito pelas faixas das fixações
tormentosas do passado donde vimos para as sintonias superiores que buscamos.
Muito maior, portanto, do que se supõe, é o número dos que padecem de obsessões, na Terra.
Lamentavelmente, esse grande flagelo espirituque se abate sobre os homens e não apenas sobre eles, já
que existem problemas obsessivos em várias expressões, como os de um encarnado sobre outro, de um
desencarnado sobre outro, de um encarnado sobre um desencarnado e, genericamente, deste sobre
aquele, não tem merecido dos cientistas nem dos religiosos do passado como do presente o cuidado, o
estudo, o tratamento que merece.
Antes, vinculados aos preconceitos injustificáveis, ditos cientistas e religiosos se entregavam à
indiferença, quando não à perseguição sistemática aos portadores de obsessões, acreditando que, ao
destruírem as vítimas de tão grave enfermidade, ou não lhes oferecendo qualquer importância,
aniquilavam a ignorada causa do problema.
Ainda hoje, todavia, a atitude mais ou menos geral é idêntica, variando, apenas, na forma de encarar a
questão.
Mesmo as modernas Ciências que se dizem preocupadas em conhecer profundamente a psique humana,
colocam, a priori, os problemas obsessivos à margem, situando-os em ridículas posições mui simplistas,
já que os seus pesquisadores se encontram atados aos mecanismos atávicos herdados dos fisiologistas e
psicólogos do século passado, que se diziam livres de qualquer vinculação com a alma...
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Repontam, é verdade, aqui e ali, esforços individuais, tentando apresentar respostas claras e objetivas às
tormentosas interrogações da afligente quão severa problemática, logrando admitir a possibilidade da
interferência da mente desencarnada sobre o deambulante do escafandro orgânico.
***
Terapêutica, porém, salutar, para a magna questão, é a Doutrina Espírita. Não apenas como caráter
profilático, sobretudo, como terapêutica eficiente, por assentar as suas lições e postulados nos sublimes
ensinamentos de Jesus Cristo, com toda a justiça cognominado "o Senhor dos Espíritos", graças à sua
ascendência demonstrada várias vezes ante as Entidades ignorantes, perturbadoras e obsessoras.
A Allan Kardec, o inclito Codificador do Espiritismo, coube a tarefa de aprofundar sondas e bisturis no
organismo e na etiologia das alienações por obsessão, projetando luz meridiana sobre a intrincada
enfermidade da alma. Kardec não somente estudou a problemática obsessiva, como também ofereceu
medidas profiláticas e terapêutica salutar, firmado na informação dos Espíritos Superiores, na vivência
com os obsidiados, bem como na observação profunda e meticulosa com que elaborou verdadeiros
tratados de Higiene Mental, que são as Obras do Pentateuco Espírita, esse incomparável monólito de
luz, que inaugurou era nova para a Ciência, para a Filosofia, tornando-se o Espiritismo a Religião do
homem integral, da criatura ansiosa por religação com o seu Criador.
Diante de qualquer expressão em que se apresentem as alienações por obsessão ou em que se manifestem
suas seqüelas, mergulhemos a mente e o coração no organismo da Doutrina Espírita, e, procurando
auxiliar o paciente encarnado a desfazer-se do jugo constrangedor, não olvidemos o paciente
desencarnado, igualmente infeliz, momentaneamente transformado em perseguidor ignorante, embora
se dizendo consciente, mas, sofrendo, de alguma forma, pungentes dores morais.
Concitemos o encarnado à reformulação de idéias e hábitos, à oração e ao serviço, porquanto, através
do exercício da caridade, conseguirá sensibilizar o temporário algoz, que o libertará ou granjeará títulos
de enobrecimento, armando-se de amor e equilíbrio para prosseguir em paz, jornada a fora.
E, em qualquer circunstância, procuremos em Jesus, Mestre e Guia de todos nós, o amparo e a proteção,
entregando-nos a Ele através da prece e da ação edificante, porque somente por meio do amor o homem
será salvo, já que o amor é a alma da caridade.
Obsessões e obsidiados são as grandes chagas morais dos tumultuados dias da atualidade. Todavia, a
Doutrina Espírita, trazendo de volta a mensagem do Senhor, em espírito e verdade, é o portal de luz por
onde todos transitaremos no rumo da felicidade real que nos aguarda, quando desejemos alcançá-la.

Manoel Philomeno de Miranda


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31. INDUÇÃO OBSESSIVA

O perseguidor empedernido e constante talvez não seja inimigo de outrem, senão vítima de si mesmo,
em face da possibilidade de ser teleconduzido por obsessores que dele se utilizam.
O viciado que desce ao acumpliciamento cada vez mais grave com o erro, possivelmente não é um pária
social, antes será alguém caído em hábil trama urdida por desencarnados impiedosos que dele se utilizam
em hospedagem lamentável.
O esquizoide em hórrida situação de demência, agressivo ou catatônico que passa, extremunhado, no
labirinto da torpe alienação, quiçá se haja tornado escravo de mentes poderosas que se lhe vinculam por
impositivo de sintonia com os seus gravames passados em processo escuso de obsessão dominadora.
O egoísta, o avaro desnaturado, encarcerado na concha da desdita e antipatizado, possivelmente se
envileceu porque não lutou contra a hipnose sutil a princípio e violenta depois, de que se fez paciente
em conúbios infelizes com habitantes da erraticidade inferior, que facilmente localizam os de vontade
fraca que com eles se aliciam em comércio nefando.
O caluniador inveterado, o mentiroso habitual, o déspota pertinaz, o sexólatra incontrolável, o acusador
sistemático, o pessimista constante, o delinqüente malsinado são, possivelmente, Espíritos vencidos por
outros Espíritos, em demorados tentames de perseguição psíquica, em que suas vítimas de ontem, em
estado de libertação hoje, se desforçam, humilhando-os, afligindo-os, tornando-os detestáveis,
martirizando-os em longos mecanismos de vampirização, porque não se resolveram abraçar os deveres
elevados, as renúncias e sacrifícios, a oração luarizante, pacificadora...
Sofrem de alienação espiritual, dormindo na consciência anestesiada para o bem, em marcha para a auto-
destruição, complicada pelo ônus dos males que engendram, realizam e estimulam.
Muito grande, em larga faixa, a alienação obsessiva, na Terra. Sendo um mundo de efeitos, os seus
habitantes, quase sempre comprometidos com a Consciência Universal, reencarnam com as matrizes das
dívidas insculpidas na consciência pessoal, sintonizando por processo natural de débito-crédito, dívida-
cobrança com os a quem feriu, desrespeitou, prejudicou e não se resolveram perdoar, por também serem
primitivos, ora volvendo à liça por desforço e animosidade...
A imensa mole de criaturas humanas transita fortemente vinculada à vasta população espiritual das zonas
mais grosseiras e próximas do Orbe terreno, entre as quais, também, te encontras.
Ausculta a alma e raciocina com clareza, analisando teus propósitos e realizações numa anamnese moral
e espiritual, a fim de te situares bem na ordem da evolução que buscas. Não reajas pela ira ou
desesperação, ensejando vinculações com esses irmãos doentes, que ignoram A enfermidade, e, de certo
modo, preferem assim continuar.
A distância ou perto, quando solicitado, auxiliaos com as boas e elevadas palavras do esclarecimento e
do amor, da esperança e da caridade. Fala-lhes do amanhã promissor, do futuro abençoado que os
aguarda.
De tua parte resguarda-te na prece, no trabalho pelo bem geral, na reflexão e na leitura nobre, porquanto,
na Terra, quase todos somos Espíritos em provações, expiações e lutas ásperas contra as paixões
arraigadas sob o perigo de indução obsessiva por parte dos irmãos inditosos da retaguarda evolutiva.

Manoel Philomeno de Miranda


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32. POEMA DAS MÃOS

Esqueça as próprias dores e deixe que as mãos de Jesus lhe penetrem a alma no sacerdócio do socorrer.
Enxugue o pranto dos olhos anônimos e pense as feridas dos estranhos nos caminhos por onde seguem
os infelizes.
Distenda a parcela de pão, levando aos lábios alheios a porção de alimento mensageiro da vida. Ofereça
o remédio calmante, conduzindo o bálsamo portador da saúde.
Recorra ao passe salutar, renovando a água pura com a aplicação de energias superiores para a
recuperação dos aflitos.
Não se faça desatento nem demore indiferente ante o espetáculo afligente que se dilata ante os seus
olhos.
Jesus necessita das suas mãos para o ministério da vida abundante. Deixe-se penetrar por Ele,
esquecendo-se dos problemas que o escravizam ao poste da inutilidade.
De pouca valia serão as suas lágrimas se apenas expressam um abandono que não existe mas no qual
você acredita. Sem significação redundam os seus sofrimentos, se eles somente refletem a solidão onde
você se refugia, deixando-se arrastar por injustificável pessimismo.
Para quem foi agraciado pela excelência da fé imortalista, não há como deter-se na contabilidade das
dores pessoais, longe da renovação que surge em cada instante como porta aberta à glória do bem. Suas
mãos no trabalho, médiuns das mãos de Jesus, são um poema de invencível amor. Ofereça assim, os
recursos da própria pequenez e permita que as divinas mãos do Cristo operem pelas suas.
Doe as horas excedentes dos seus dias à jornada abençoada com que o Mestre honra a sua vida, desde
que foi iluminada pela mensagem da Doutrina Espírita, que desdobra para o seu entendimento a epopéia
da Cruz como lição viva de libertação dos penates da carne.
Emoldure sua existência com as bênçãos resultantes das suas mãos compondo o poema da fraternidade
em derredor dos sofredores da Terra. Suas mãos podem ser as alavancas do amor construindo o mundo
novo.

Amélia Rodrigues
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33. CRIANÇAS NINGUÉM

Descerre a porta da sua gaiola de ouro, onde você guarda a fortuna da família, e busque a triste alameda
em que se encontram essas avezitas implumes, que, batidas pela orfandade, são conhecidas como
crianças de ninguém.
Contemple os olhos dessas rolinhas assustadiças ou a triste expressão de mochos preocupados e reparta
a alegria que superabunda no seu lar com a aflição que lhes estiola a alma. Ninguém lhe pede as moedas
tilintantes do cofre.
O onzenário, escravo das cédulas, às vezes deixa escapulir alguns grãos amoedados para matarlhes a
fome, atendendo, assim, à miséria física desses pequeninos sem lar. Mas, o egoísta, que elegeu a própria
família como altar para o seu gozo, não deixa escorrer a moeda-carinho para esses molequinhos, que a
piedade cristã agasalha em ninhos coletivos e estão marcados desde o berço pela necessária dor do
recomeço sob o estigma das lágrimas... No entanto, a moeda de amor é mais valiosa do que a cédula
bancária. Embora um estômago vazio não se alimente com ósculos de carinho, a dor consolada faz
alguém mais feliz do que ter o corpo nutrido e afetivamente abandonado…
***
Detenha o passo, acarinhe o cabelo desses meninos, sem receio de ferir as mãos. Outros cabelos, sedosos
e perfumados, que lhe recebem a ternura, lá fora, prendem-se a cordas angustiantes no seu coração
estraçalhado, e você se deixa arrastar, enquanto eles, não...
Tome essas pequeninas mãos e injete um pouco do seu vigor afetivo. Aprenda a desdobrar os próprios
sentimentos, olhando-os, como você fita os seus filhos.
Por que brilham os seus olhos quando contemplam as "carnes das suas carnes" e despem chamas terríveis
de revolta contra os meninos da rua?
Por que você derrama gelo sobre a humilde alegria dos albergados desses tetos cristãos que recolhem
criancinhas?
Talvez amanhã surpreenda os seus filhos numa Casa Coletiva se a desencarnação lhe advier hoje. Poderá
você prever o imprevisível futuro?
Como você contemplaria, do mundo da consciência libertada, aqueles que parassem os movimentos no
caminho da ansiedade, a fim de beijarem as mãos do seu filhinho tenro?
Antegozando a expectativa da ternura que você ofertaria a esse doador espontâneo, doe-se enquanto está
no caminho da carne com os pequeninos de hoje que não têm pai desde ontem..."
O Lar Coletivo é quase sempre Instituição malsinada, porque somente raros corações ali vão levar o
carinho do lar, àquele Lar necessitado de carinho.
Fala-se da administração pública, clama-se contra a imundície, apregoa-se contra a promiscuidade, mas
que fazem os acusadores para minorar todos esses males danosos? Qual a sua doação nesse sentido, além
da acusação? Qual a contribuição ofertada após a indiferença e revolta? Curar-se-ão feridas deixando-as
à mingua? Poder-se-á salvar uma represa permitindo o sangradouro arrebentar-lhe a base?
Ofereça a sua contribuição, saindo da gaiola de outro ostensiva e fulgurante da sua família feliz e
conduza ao reduto estreito onde estão essas aves sem plumagem, crianças-ninguém mas filhas de Deus,
o carinho que um dia possivelmente deles receberá no mundo, se você voltar aos seus braços pela Lei
inelutável e vigorosa das reencarnações sucessivas.

Amélia Rodrigues
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34. ORFÃOS

Débeis flores de agora são os frutos do amanhã. Gemas espalhadas na ganga carnal pelas generosas mãos
do renascimento são as jóias que fulgirão ao sol do futuro.
Raios de luz emboscados em névoa, ao se espraiarem, espalharão claridade na noite do porvir. Sutis
aromas detidos em toscos vasilhames esperam amplidão para perfumar mais tarde.
Canoras vozes do céu caladas em instrumentos sem vibração aguardam regentes amorosos a fim de
formarem o coral de exaltação à vida depois.
Companheiro: aguce os ouvidos para registrar-lhes os débeis gorjeios de hoje e acure a vista para
descobri-los no pó da terra!
Órfãos de carinho como órfãos de pais, não são, porém, órfãos do amor de Nosso Pai, que vela por todos
nós.
Escondidos nas pilhas da miséria humana, de roupas orgânicas despedaçadas e sem os tesouros da
alegria, são olhos miúdos e ansiosos que espionam sua casa cheia de vida e festa, esperando por você..
Sob tetos de injúria e a braços com a criminalidade que os sitia em todo lugar, são o que deles você tem
feito, a seguirem-no de perto...
Você se diz sem recursos, alega cansaço, crê ser inútil fazer algo por eles e harmoniza a consciência com
a voz do egoísmo e da indiferença, seguindo tranqüilo... Eles, porém, vêm atrás de você. Faça algo com
a moeda-bondade em favor deles.
Se não lhe podem retribuir hoje, aguarde um pouco mais.
Quem veja a sequóia pequenina e frágil não acreditará que ela pode vencer tranqüilamente três milênios,
imperturbável.
Tome essas gemas sem engaste e lapide-as pela educação e pela evangelização, tornando-as um
fulgurante diadema para adornar a humanidade pelos caminhos sem fim do tempo.
E considere, conforme preceitua o Evangelho Segundo o Espiritismo, "que muitas vezes a criança que
você socorre lhe foi cara noutra encarnação, caso em que, se pudesse lembrar-se, já não estaria praticando
a caridade, mas cumprindo um dever".

Amélia Rodrigues
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35. RAIO DE SOL

Esse menino que acaba de passar por aqui é um raio de sol. Tome-o nas mãos e absorva-lhe a juventude
que lhe vitalizará a alma, nela plasmando o fulgor da vida. Mensagem de Deus, espraia-se pela Terra, no
entanto, muitas vezes se perde como um beijo de luz sobre a lama do pântano.
Não se situe longe dele, como se portasse consigo o fogo que tosta ou a ardência que fustiga.
Acolha esse raio de sol e ele lhe falará das fulgurações das estrelas, quando o céu se salpica de
constelações de prata.
Como árvore velha, você ostenta o seu filho, qual parasita em flor aberta sem finalidade nem perfume a
roubar-lhe a seiva da esperança, matando-o, dia a dia, e, mesmo assim, você se diz feliz.
No entanto, essa discreta violeta de carne, constituída de raios de sol, rogando compaixão e carinho, não
recebe dos seus olhos sequer o lampejo da ternura nem o rocio das suas mãos, demorando-se perdida na
gramínea dos homens, a perfumar prudentemente.
Desça do pedestal fantasioso da inutilidade e abra o coração a esse raio de sol que acaba de passar pelo
seu caminho.
Fitando os seus filhinhos felizes, no conforto do lar, rostos rosados e bocas rubras, adornadas de
dentinhos alvinitentes, lembre-se dos raios de sol a se apagarem na orfandade, dominados pelas noites
do mundo e pela indiferença de muitas criaturas.
Recolha nas suas horas de conforto excessivo essa esperança que brilha e encaminhe-a a Jesus Cristo, o
Sol Sublime, para que o seu amanhã, na Terra, seja alcandorado pelas belezas do céu vestido pelos mil
raios de sol que passaram pelo seu caminho...

Amélia Rodrigues
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36. EXORAÇÃO

Vem-me à mente a transparência da luminosidade dos seus olhos e recordo que me pareciam duas estrelas
engastadas na nobreza do céu da sua face. Toda ela, emoldurada de angelitude, me ressuma dos depósitos da
memória e eu volto a balbuciar, emocionada, o seu doce nome: Mamãe!
Entre todos os seres existentes na Terra, ela foi-me a lição imperecível da grandeza como da humildade, e na
fragilidade dos seus recursos sempre floresceram os tesouros da segurança e as forças da santificação.
Quando sorria, inundava de júbilos as paredes humildes do nosso lar, como se engastasse gemas
luminescentes entre os tijolos argamassados com o suor dos seus sacrifícios.
Se falava, a melodia da sua voz cantava ternura, mesmo quando, enérgica, induzindo à reflexão e à
obediência, conseguia guardar o sereno valor da sua elevada condição de rainha da família.
Ao chorar, cada lágrima se transformava em pérola, que sabia ocultar no relicário da paciência, sem
acrimônia, sem revolta.
No silêncio das horas de cansaço noturno, sabia-se dobrar, humilde, e, convocando os filhos, al çava-os à
glória divina, recitando, como uma canção, a sublime oração dominical...
... E quando partiu, fez o legado excelente do seu valor, como roteiro eficaz de que nos poderíamos utilizar
para a aquisição da paz e a manutenção da saúde espiritual...
Nunca, porém, se apartou de nós. Venceu a distância entre os que ficaram na carne e o país da morte para
onde foi, mediante a colocação da ponte do seu infinito devotamento, com que sempre nos sustentou,
transitando sempre viva.
***
No tumulto destes dias agitados, quando se transferem as responsabilidades do lar e os deveres da família
para educadores e sociólogos, psicólogos e psicanalistas, recordo-me da maternidade desconsiderada e
subalterna a mil paixões, como responsável pela decadência, em grande parte, dos valores éticos e espirituais
da Humanidade sofredora.
Conturbado o lar, eis destroçada a comunidade.
Desconsiderada a família, encontram-se esboroadas as edificações sociais.
Quando a mãe se deixa intoxicar pelos vapores das licenciosidades que grassam, soberanas, o homem
estertora e a sociedade periclita.
Nada porém, que se lhe equipare, nem força alguma que a vença, quando sabe e quer ser mãe. Os seus braços,
quais traves de uma cruz santificante, possuem as resistências para sustentar os que claudicam e reerguer os
que já tombaram. Suas renúncias logram edificar realizações insuperáveis, suas vigílias conseguem acender
os astros da esperança e do reconforto nos corações, mesmo quando anestesiados pelo medo e nas mentes
hebetadas, ante os males de que padecem. Ela é única: genitora e mestra, benfeitora e amiga.
Sempre vigilante é farol aceso, apontando recifes e dificuldades.
***
Recordando-me dos seus olhos, e ante as sombras densas que se agregam nas paisagens sofridas do mundo
moderno, neles reencontro as luzes que me clarificam as trilhas escuras, animando-me a exorar-lhe, mamãe,
que você interceda à Mãe Santíssima piedade para nós, esparzindo sobre a Terra agoniada destes dias e a
maternidade ultrajada destas horas suas santas mercês, a fim de que as crianças do amanhã possam, como no
passado, amar, sorrir, oscular as flores, acompanhar os regatos cantantes, contemplar os céus, contar as
estrelas, afagar os animaizinhos, acreditar nas criaturas e repetir outra vez com inocência e fé: "Mamãe, nós
precisamos de você!"

Amélia Rodrigues
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37. MELODIA

Escute a melodia da vida, afagando a Natureza.


Mensageira de Deus, é o murmúrio luminífero das estrelas, nos céus, embelezando a noite com
harmoniosos solfejos de ninar.
Na água do regato refrescante que atende o solo, canta na vibração de milhares de gotículas quais
diamantes liquefeitos, num impulso de tudo acariciar.
Penteando os cabelos de ouro do trigo maduro, no coração da seara, conduz-se nos braços do vento como
alegria cantante em ritmo de felicidade.
Voluteando, com o perfume das flores que as correntes aéreas carregam, saúda, canora, a face dourada
do sol que lhe oferece palco luminoso, enquanto sua música embevece os ouvidos do arvore do
exuberante que aplaude com um vibrante farfalhar de folhas.
Tomando as vozes do mar, desfeito em rendas de brancas espumas, na areia, evoluciona, ligeira, e abraça
a praia orlada de verde relva qual tapete de esperança.
Evite, assim que a sua aflição se transforme em tristeza e a amargura desfaça a vibração da melodia
divina no seu coração.
Mesmo que tudo pareça conspirar contra a esperança que você acalenta, escute a ridente melodia da vida
que o cerca e mantenha a alegria como indício de felicidade.
Vibre, feliz, mesmo que o coração esteja dilacerado e o rosto se encontre banhado de lágrimas...
A tempestade que beneficia, muitas vezes causa danos, para que a madrugada, bondosa, depois que a
tormenta cesse, renove todas as coisas com a melodia da paz, num renascimento de esperança sobre a
terra vergastada onde as aves, felizes, construirão novos ninhos, entoando a sublime melodia da vida
vitoriosa.

Amélia Rodrigues
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38. FERMENTO DE PAIXÕES

Embora a palavra do Senhor se espalhasse como uma alvorada de bênçãos, arrancando da ignorância e
do primitivismo a alma simples do povo, a terra dos corações a joeirar apresentava-se áspera, difícil. A
cada instante surgiam dificuldades, que se manifestavam à sabedoria e misericórdia do Rabi para
soluções felizes.
Tricas e ciúmes se multiplicavam, incessantemente, entre as paixões exacerbadas de uns e a descrença
de outros. Os companheiros do apostolado, porque desfrutassem da Sua presença, disputavam-se
primazias e privilégios fúteis, não obstante as austeras admoestações e as severas recomendações do
Amigo.
Opiniões disparatadas, sem qualquer fundamento, eram repetidas com leviandade, e a imaginação
ardente de muitos ouvintes do Seu verbo alterava o significado das lições, adaptando-o ao imediatismo
vulgar e anestesiante.
Onde quer que se encontrasse o Mestre, as dores O buscavam em melopéias de aflição.
Ele viera para ensinar a viver, libertar do opróbrio mediante a reta conduta. Não obstante, os esfaimados
e os enfermos acorriam a Seu encalço, d'Ele recebendo socorro. Seu ministério, entretanto, era o de
desvelar a verdade, traçar rotas para a felicidade, libertar das pesadas algemas do vício, do erro, das
paixões aniquilantes...
Os amigos, embora O amassem, não O compreendiam, realmente, e Ele o sabia.
Pensavam em ajudar-Lhe o ministério, sem embargo, medrosos, uns, apressados, outros, estorvavam,
gerando complicações.
Humilde e sábio, no entanto, Ele prosseguia ensinando, porfiando na batalha pacifista de construir em
cada alma o templo do amor, e, no mundo, estabelecer as bases do reino de Deus.
Os incidentes desagradáveis, porém de pequena monta, eram ignorados pela Sua ternura e tolerância.
Quando o aturdimento engendrava gravames, Ele verberava com energia corrigindo e educando.
Os homens, com as suas atitudes paradoxais, seus sonhos de grandeza e ações de misérias, constituíam-
Lhe a razão do trabalho, exigindo-Lhe até à consunção, bondade e misericórdia. Afinal, para estes viera,
com eles convivia, constituindo-lhes o material no qual deveria plasmar a nova humanidade do futuro.
Aqueles dias de divulgação do Evangelho também os eram de controvérsias, de complicações. Numa
das jornadas, quando aguardava os colaboradores, percebeu-os, ao chegarem, eufóricos, loquazes,
entremostrando-se excitados...
"Que vos sucedeu pelo caminho?", inquiriu Jesus, com especial tonalidade de voz. E certo que
pretendiam dizer-Lhe, pois que se encontravam portadores de esfuziante alegria.
Descobertos, porém, pela transparência daquele dúlcido olhar, desconsertaram-se, e Pedro,
representando o grupo exaltado, respondeu:
"Rabi, encontramos um homem que expulsava Espíritos infelizes em Teu nome, libertando obsessos.
Como sabíamos não ser um dos nossos e não nos recordávamos de que o tivesses recebido em particular
ou com especial deferência, encolerizamo-nos com o seu atrevimento, e, zelando pelo Teu ministério
santo e pela Tua grandeza sem jaça, proibimo-lo de continuar a fazer."
Os companheiros se entreolharam, orgulhosos, assentindo com emocionado gesto de cabeça.
"Que sucedia voltou a interrogar o Benfeitor com os sofredores desencarnados? Respeitavam-no,
apartando-se daqueles aos quais obsidiavam, restituindo-lhes o equilíbrio?"
"Sim, é claro" -, concordaram.
"Tal homem dizia ser meu amigo?"
"Não, não o ouvimos enunciar".
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"Explorava a credulidade pública, beneficiando-se de alguma forma?"


"Não, não o percebemos".
"Por que, então, o proibistes?"
"Ora, porque não estava conosco".
"Nisso vos enganais fez-se conclusivo - porque quem não é contra nós por nós é".
E penetrando no futuro dos tempos, prosseguiu com acento de tristeza:
"Muitos que estão comigo, afastar-se-ão, atraídos por engodos e equívocos, traindo-me, negando-me,
abandonando-me... Eu, todavia, os esperarei, além dos tempos, depois das amargas experiências.
"Não vos aflijais em zelar por mim, antes cuidaivos de vós mesmos. Vigiai interiormente, porquanto os
inimigos do homem vivem nele próprio, minando-lhe as resistências morais e o seu valor espiritual.
Quando alguém se faz juiz alheio, dizendo-se defender a causa que abraça e acusa, persegue, infama,
maltrata, em verdade, desvela-se, transferindo para o acusado seus problemas e receios, suas
idiossincrasias e mazelas. Não se encorajando a vencer-se, procura vencer o próximo em disputa infeliz.
"Quem ultraja a verdade, antes se perverte. Merece misericórdia e não revide".
"Meu Pai tem pressa que o homem ascenda e para tanto trabalha, como eu também trabalho, todavia
permite que o Sol cubra bons e maus, honrados e desonestos, sem negar a ninguém a oportunidade de
redimir-se e ascender, arrepender-se e recomeçar sob a claridade do dia.
"Quem faz o bem merece nosso respeito e consideração, não importando em que nome o faça, porque o
bem é manifestação do Todo-Poderoso, onde quer que se expresse.
"Estejamos atentos, porquanto, quem não é inimigo, embora não nos conheça, é amigo".
Silenciando, pousou os olhos enternecidos nos semblantes ruborizados dos amigos precipitados e
invigilantes, e, desejando encerrar o ensinamento com uma mensagem de otimismo, sorriu, e os
conclamou:
"Partamos. O tempo urge. Quem encontrou o motivo essencial da vida não se pode deter no fermento
das paixões, mas seguir semeando esperança e fortalecendo a paz."

Amélia Rodrigues
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39. PREPARANDO O NOVO MUNDO

Desata-se o pensamento do homem tentando abranger a imensa família universal, num elo de plenitude
fraternista. Não obstante, na intimidade do lar os problemas urgem, convidando o cristão decidido a uma
atitude de paciência e de confiança em que forja a têmpera para vôos mais altos.
A alta solidariedade estruge no coração, ante a agressividade e o crime desordenados que pululam na via
pública, ameaçando a estabilidade social. Todavia,o ideal de auto-aprimoramento jaz, invariavelmente, sob
injunções de receios e tentativas frustradas, sem que o cristão resoluto se decida transformar-se em definitivo
para melhor.
Os planos em favor de uma sociedade mais ditosa transitam pelos gabinetes de competentes sociólogos e
pedagogos, de psiquistas e psicólogos, tentando padronizar a nova mentalidade com vistas ao futuro. Apesar
disso, na estrutura do eu cambaleiam os impositivos relevantes da honorabilidade, em que se devem fundar
as bases das conquistas superiores da vida.
Planeja-se uma humanidade espiritual mais cristã, e, no entanto, deixa-se que a ira malsine, que o ódio
intoxique e que a revolta sistemática se fixe nas telas sensíveis da mente, desfigurando o discernimento,
embrutecendo a sensibilidade, perturbando a realização do bem operante, após considerações breves em
torno do problema do homem diante do seu próximo e da coletividade diante do homem.
Consideremos nosso o dever de remontar às causas, a fim de obstar a decorrência natural dos seus reflexos e
das suas conseqüências. No espírito está o germe donde se desbordam as expressões otimistas, de angustia e
de morte.
No espírito, portanto, devemos colocar as nossas melhores disposições e recursos, objetivando dinamizá-lo,
como, utilizando-se da semente boa, situála em clima propício, em terra preparada a fim de que colime o
mister vegetativo, para o qual a natureza a dotou.
É por esta razão que o nosso labor de socorro às mentes aturdidas do Mundo Espiritual tem um relevante
significado.
Da mesma forma que o homem em trânsito pela indumentária carnal ruma para a Espiritualidade, o Espírito,
agora desatrelado do corpo, candidata-se ao mergulho no escafandro da matéria para jornada nova no futuro.
Prepararmo-nos para diminuir-lhe a treva interior que o aturde, predispô-lo e estimulá-lo com o otimismo em
relação ao futuro, clarificá-lo, desobstruindo as espessas idéias negativistas em que se desespera, constitui
ministério de alto coturno, porquanto, o aprendiz de hoje que se volta para o bem, mais tarde, na escola
terrestre, transforma-se em discípulo vigilante, em aluno devotado.
Não apenas conseguiremos diminuir a psicosfera tóxica que envolve o planeta dos homens, mas, também,
faremos que as mentes em desalinho no Mundo Espiritual resplandeçam ante o lucilar das estrelas que
confirmam a misericórdia divina em diretrizes e postulados para o futuro.
Assim, o serviço desobsessivo não apenas luariza o homem devedor jugulado ante o seu cobrador, mas,
também, libera a mente ultriz, ignorante e viciosa, perspicaz e vingadora, que conspira contra a era da
liberdade, anunciada pelo Senhor Jesus.
Estabeleçamos, então, na célula humilde e aparentemente apagada da nossa comunhão com a vida, o primado
do espírito, no pródromo de uma família de homens e de Espíritos em intercâmbio perfeito em prol de um
Mundo Melhor, e os nossos planos pela sociedade feliz, pela comunidade ditosa, pelos ideais de
solidariedade, pelos prognósticos de um porvir mais tranquilo, se concretizarão, porque, atuando no fulcro
do problema, que é o espírito, estaremos renovando as paisagens da Terra, na organização do mundo material
porvindouro.

João Cleófas
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40. APROVEITAMENTO DE TEMPO

É medida de sabedoria o aproveitamento consciente das horas.


Normalmente se repete o fenômeno horário, nunca, porém, nas mesmas condições, no mesmo lugar. O
ponteiro do relógio volve ao sinal limite de tempo. Sem embargo, noutras circunstâncias, sob a injunção
de ocorrências variadas.
Assim considerando, o tempo é valioso patrimônio da vida de que nos podemos enriquecer pela sua
necessária e útil aplicação.
Dividindo esses espaços-tempo do cotidiano, poderemos armazenar cultura, lapidar sentimentos, corrigir
inclinações, burilar a inteligência, porém, sobretudo, crescer na direção de Deus, mediante as preciosas
lições-convites que até hoje nos chegam através da linguagem viva e apoteótica da Natureza, ou por
meio das experiências vividas pelo Carpinteiro Galileu.
Da imortalidade em triunfo alcançam os ouvidos da Terra, os menestreis que retornam do túmulo,
concitando ao aproveitamento da hora e à renovação interior, mas, também, os Espíritos em aturdimento
relatando as impressões truanescas e infelizes, que ainda lhes demoram impregnadas, quando não, a
revivência das parcas fiandeiras da dor, da sombra, que parecem entretecer as amarguras, que aguardam
amanhã a vida do homem distraído de hoje.
Com Jesus, o portentoso exemplo da imortalidade em triunfo, o homem aprende a valorização do tempo,
para a aquisição da paz, mediante a aplicação superior das horas na conquista da felicidade e na
conjugação do verbo amar em plenitude de vida.
Assim também, alongando-nos como uma ponte de misericórdia além do corpo físico, escutemos os
gemidos, as dores, as angústias que nos chegam das regiões de sombra, nas quais a leviandade, a
insensatez, arrojaram os incautos como os soberbos e petulantes, os déspotas como os avaros, os
impiedosos como os cínicos, porquanto, não obstante a posição em que se situaram, antes foram e
continuaram sendo nossos irmãos necessitados de amor.
Aplicando neles o tesouro da hora como oportunidade abençoada, estaremos de certo modo galgando os
simbólicos degraus da "escada de Jacó" na direção da nossa própria ascensão, ganhando o tempo.

João Cleófas
55

41. OS ESPÍRITOS E NÓS

Entre os adeptos pouco avisados do Movimento Espírita, grassa e se avoluma comportamento ingênuo,
que merece exame cuidadoso para sua necessária correção.
Acreditando na imortalidade do Espírito e na sua comunicabilidade, ditos crentes transferem,
inconscientemente, as suas responsabilidades e deveres para os Benfeitores Espirituais, e àqueles que,
na Terra, lhes foram almas queridas.
Diante de um problema, estugam o passo e bradam: "Onde a ajuda dos Espíritos devotados, que não
conseguem minimizar as minhas aflições deste momento?"
Programando uma realização de qualquer natureza, exclamam: "Conto com eles, os Espíritos generosos,
certo de que realizarão por mim, o que me não seja possível fazer."
Defrontados pela surpresa de uma ocorrência não esperada, deblateram: "Por que não me avisaram os
Espíritos superiores, permitindo, assim que eu fosse colhido por um drama de tal porte?"
Quando o desespero alcança as raias mais expressivas, então proclamam: "Estou desolado, tudo é
mentira. Por que eu que tanto amo e creio, no instante da necessidade, não recebo do Mundo Espiritual
a ajuda jndispensável à manutenção da minha fé?"
E derrapam em exclamações e objurgatórias pedidos absurdos e rogativas inecessárias.
Adentraram-se pelo conhecimento das informações espíritas, mas não se preocupam com a regência das
leis que vigem no mundo físico ou corporal, quanto no mundo do espírito ou erraticidade.
***
A morte não desenovela o Espírito do corpo, transferindo-o, pura e simplesmente, para o paraíso da
aposentadoria compulsória e vã.
Cada ser respira no Mundo Espiritual o clima que haja elaborado desde a vida física. A morte é,
exclusivamente, a interrupção dos contatos sensórios entre o Espírito e a matéria de que se utiliza no
caminho evolutivo.
Mesmo quando os Espíritos Superiores, pelo Senhor encarregados do programa da evolução e do
progresso da Terra, podem modificar situações e circunstâncias, não o fazem porque a evolução é
patrimônio que cada um deve conquistar. Os Benfeitores desencarnados não são mais do que mestres
abençoados e orientadores seguros, que ministram lições, contando com o aproveitamento do aluno.
Transferir para os Espíritos as nossas responsabilidades e as tarefas, seria uma forma de
autoludibriamento e menoscaso às leis soberanas da vida que, dessa forma, passariam a funcionar dentro
do clima da astúcia e da habilidade mental de cada criatura.
Beneficiar uns que se afervoram a esta ou àquela crença, em detrimento doutros, que embora
trabalhadores atuantes, porque desconhecem as revelações imortalistas, seriam relegados a plano
secundário, constituiria grave injustiça.
Necessário compreendermos que nos encontramos na Terra, em problemática de ajustamento e de
reeducação. O nosso programa é de auto-burilamento, em que as instruções veiculadas das fontes
geratrizes da vida nos apresentam os roteiros a percorrer com as suas dificuldades e com as suas
claridades soberanas.
A marcha, porém, é nossa, impostergável no tempo, porque deve ser começada aqui, hoje e agora;
intransferível de pessoa, porque cada espírito é o que de si próprio faz.
Conveniente envolvermos a memória dos seres queridos em nosso tributo de respeito e de carinho,
compreendendo que, mesmo que desejassem modificar as condiçõs da nossa vida, não o poderiam fazer,
porquanto seria como desafiar e tentar derrocar as leis que estruturam a harmonia universal. Se os
amamos, esforcemo-nos por imitá-los, conforme foram na Terra, consoante as lições que nos
ministraram.
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Se desejamos ajuda, sintonizemos com eles no exercício do bem operante e da caridade renovadora. Se
desejamos merecer-lhes a assistência, ascendamos até eles sem esse estado parasitário de tentar obrigá-
los a descer até nós.
Assim considerando, o nosso trabalho silencioso e discreto de intercâmbio espiritual objetivando
dialogar, conviver, sentir e permutar impressões, entre nós e os irmãos mais aflitos do além-túmulo tem
um realce, uma relevância de muita significação, já que representa oferecer-lhes o nosso contributo de
conhecimento e de experiência, enquanto eles nos dão a sua dádiva de vivência desastrosa ou feliz graças
ao que passam e ao que sofrem.
Simultaneamente, oferecendo-lhes nossa aparelhagem fisiológica para que eles dela se utilizem,
proporcionar-lhes-emos melhor tirocínio da própria situação em que se encontram, ao tempo em que se
beneficiarão nesses interregnos entre a dor que experimentavam e as bênçãos que fruirão, momentos de
paz com Jesus e o Seu Evangelho libertador.
Perseveremos, então, em nossa conscientização doutrinária, estudando as bases que se referem às leis
do Cosmo, da Justiça Divina, "de causa e efeito", a fim de ajudarmos mais e não incidirmos nos erros
tradicionais do parasitismo religioso do passado que pretende transferir para os Espíritos, ou os Santos,
ou os Anjos ou Deus, as tarefas que nos cabem desenvolver.

João Cleófas

42. COMUNHÃO

A Ceia Pascal de Jesus é o símbolo da mais perfeita fraternidade.


Diante da mesa, o repasto generoso constitui uma eucaristia de amor e a sua recomendação de que se
fizesse aquele mesmo gesto em sua memória merece reflexões no seu relevante significado.
As várias religiões procuraram oferecer uma fórmula própria ao momento em que Jesus iniciava as
despedidas.
O Mundo Espiritual, no entanto, vê no símbolo da última ceia a necessidade da cooperação entre os
diversos membros da Humanidade, a fim de se manter o equilíbrio na família espiritual.
Neste momento, fazemos a nossa refeição com o Cristo e ela não poderá ser completa, se não
distendermos a códea de pão aos que têm fome de paz e se debatem na angústia na Erraticidade...
Por isto, que, simbolicamente, o trabalho do intercâmbio mediúnico com os que sofrem no AlémTúmulo
é uma forma de evocação da despedida do Cristo, convocando os companheiros ao entendimento e à paz
em Sua memória.
Utilizemo-nos desta oportunidade fazendo, também, a nossa comunhão pascal com os irmãos da agonia,
oferecendo-lhes o pão de luz e a luz da vida, a fim de que, à nossa semelhança, possam manter um
momento de renovação interior em memória daquele que é a Vida.

João Cleófas
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43. CONFORME A VIDA, A MORTE

Cada desencarnação se dá conforme a atividade do Espírito enquanto na indumentária fisiológica. O


despertar, conseqüentemente, será consentâneo às atividades encetadas e aos ideais abraçados.
Quem cultivou o pessimismo demorado, arraigando-se nas trevas da negação, abraçado às expressões
nadaístas, desperta em estado de amnésia total, vagueando como autômato ou se demora hibernado em
si mesmo, sem se dar conta do transpasse que o conduziu ao Mundo Espiritual.
O Espírito que se vinculou, no entanto, às expressões dignificantes e idealistas, transita pelo portal do
túmulo na condição de alguém que abandonou as algemas da ingratidão em que jazia sem direito à
liberdade, no rumo, agora, de horizontes de insuperável beleza e ventura.
O cultivador do ódio, intoxicado pelos venenos letais da ira, permanece com os centros da memória
bloqueados pelos vapores que o tornaram inditoso e de que somente a longo prazo consegue
desencharcar-se.
Sensualistas e gozadores, apaniguados do crime ou da insensatez, permanecem estreitamente vinculados
às reminicências pretéritas, sem se darem conta da realidade legítima da região nova por onde transitam.
Simultaneamente, os que acalentaram a certeza da sobrevivência e se predispuseram ao vôo às regiões
da luz, despojam-se da indumentária carnal com a gratidão pelo fardo que os facultou ascender no rumo
da liberdade.
A consciência é sempre a mesma, seja no mergulho da névoa carnal ou se encontre desatrelada dos
implementos orgânicos. Tal hábito, qual vida.
Perfeitamente comprensível o estado amnésico apresentado por um sem número de habitantes da Esfera
Espiritual, que jazem atados à ignorância do seu próprio estado, transitando entre amolentados e
dormintes, inermes e atoleimados...
Alguns, em face do desabrochar das lembranças, se confundirão pela dificuldade de manipularem os
depósitos e arquivos da memória. Outros se perturbarão quanto a detalhes, datas, nomes, mesmo os
nossos doentes queridos à semelhança de toxicâmanos ou viciados que, não obstante consigam formar
um plano de raciocínio, não encontram as palavras próprias para vestirem as idéias.
A morte de maneira nenhuma produz magia. E uma cirurgia cujo mister arranca as vísceras físicas, mas
não extirpa as sensações que aquelas impõem ao perispírito e, este, a seu turno, ao Espírito que viveu
exclusiva e unicamente para os gozos da sensação.
Assim considerando, é imperioso que cada um se predisponha e se prepare, mediante o exercício natural,
diário e freqüente, para o vôo da desencarnação.
Da mesma forma que, em buscando o leito, à hora própria do repouso físico, cada um, conforme as suas
aptidões, inclinações e valores, adormece, assim despertará no dia seguinte com aqueles títulos com os
quais repousou, do que decorrerá encontrar-se, então, feliz, desventurado ou exaurido, consoante as
disposições mentais que lhe são habituais.
Dormir é pré-morrer. Morrer, porém, é voar através de um sono especial para o despertar no Mundo da
Verdade conforme se adormeceu...

João Cleófas
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44. TRIUNFO A QUALQUER PREÇO

Momento grave o que se defronta após o compromisso assumido a respeito do intercâmbio espiritual, o
de realizar o mister.
Ali desfilam os que se permitiram estigmatizar pela leviandade, sofrendo as conseqüências da atitude
arbitrária ao equilíbrio na vida orgânica....
Mutilados da alma, apresentam, agora, as deficiências que os levaram a combalir, quando tombaram,
irremissivelmente, no corpo...
Acercam-se os que supunham enganar através do pitoresco da frivolidade, todavia, foram colhidos pela
consciência em despertamento, e, tardiamente, perceberam a ilusão.
Os antigos sátrapas e exploradores pedem a proteção que não dispensaram, porque na posição de mando
se utilizaram da força e da impiedade, para se tornarem temidos, olvidando que a pujança da força
repousa no amor e jamais o direito de usar da força pode dar amor a alguém...
Esperam a compreensão que não quiseram dispensar àqueles que buscaram uma palavra de
entendimento, um gesto fraterno, um momento de compreensão para se justificarem do equívoco
cometido.
A aflição e a amargura em que agora se encarceram decorrem da atitude de arrependimento que assumem
no país da consciência ferida…
A grande legião dos desencarnados em agonia é uma lição que merece consideração, porquanto, eles, ao
transitarem pelo corpo carnal, se permitiram asseverar de que necessitavam ver para crer, como outros
ora o fazem. Não obstante, hoje, que vêem e crêem, já não dispõem do ensejo de produzir com segurança,
porque estão nas malhas das conseqüências lamentáveis.
A vida são os sucessos que acontecem num como noutro plano em que se manifesta.
A tarefa do verdadeiro cristão é a do vigilante no posto do dever, no corpo ou fora dele, pois que sabe
ser a caminhada evolutiva uma estrada assinalada por etapas, em que o berço e o túmulo funcionam
como pontos de repouso e de atividade, impulsionando para um quanto para outro estado de consciência
na busca da meta.
***
Se te encontras lanhado pelo sofrimento e com a alma despedaçada pela agonia, não te detenhas; busca
chegar ao termo do caminho de lutas a qualquer preço.
Não importa como chegues, se nas asas sublimes da elevação pelo direto vôo do espírito perfeito ou se
de joelhos desconjuntados, o coração dorido e a alma em frangalhos, porém, herói das lutas vencidas.
Enquanto não te suceda a conclusão da prova, olha para trás e distende a mão em atitude de socorro aos
que necessitam de ajuda, da mesma forma que para o Alto alongas as tuas, na certeza de que outros te
distendam as mãos da caridade.

João Cleofas
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45. ANÁTEMAS INJUSTOS

"É um obsessor!" Exclama a insensatez, através da leviandade dos descuidados observadores da


paisagem moral em que se afligem muitos Espíritos a se debaterem em superlativas agonias além da
morte física.
Extraviaram-se do caminho, é certo, e trazem insculpidas no mundo íntimo as matrizes da revolta,
procurando, na sanha de injustificável desforço, corrigir o que supõem injusto, retificar o que consideram
foi-lhes imposto imerecidamente.
Convém, todavia, examinar o problema em profundidade.
Assim estão, porque foram empurrados ao fosso da revolta, por alguém que se atribui, hoje, o direito de
os anatematizar.
Indubitavelmente caíram, porque eram fracos e mantêm animosidade, porque se enganaram.
Sem embargo, são nossos irmãos que se detêm nas furnas do rancor, necessitados de compreensão e
ajuda.
-"É um demônio!" Profetizam as pessoas irreverentes, diante do Espírito revoltado que se faculta o direito
de competir com a legião dos que representam a Misericórdia Divina.
Nem sempre, no entanto, ele foi assim. Confiou e amou, ofereceu seus sentimentos de nobreza e
possivelmente foi traído.
Não armado para a conjuntura, desertou pelo caminho da rebeldia, e envenenou-se, tragando contínua e
incessantemente, o licor azedo da própria desesperação.
Perdeu a consciência de si mesmo, entenebreceu-se. No desarranjo mental de que padece, atribui-se
qualidades inditosas, que realmente não possui, pretendendo competir com a Divina Justiça.
Todavia, é um irmão enfermo, carente de piedade, anelando por uma oportunidade de lenir a profunda
ferida que o macera interiormente, tornando-o macerador...
"É um réprobo!" Contra-argumentam aqueles que se deixaram imbuir de falsa pureza.
O Estatuto Divino estabelece que onde quer que se encontre a dívida, estará aí presente a necessidade
da reparação.
O endividamento arrasta consigo o problema, como o corpo carrega a própria sombra que lhe define os
contornos.
Com certeza esse companheiro arriado nas malhas da infelicidade, que arrasta as pesadas algemas de
ignorância no mundo espiritual, é um réprobo. Apesar disso recorda que anelou alcançar as estrelas,
galgando a montanha da esperança com pés ligeiros, e porque sonhou demasiado, não possuindo a
fortaleza de ânimo necessário para o investimento de força, ludibriado e levado ao ridículo se
transformou no verdugo que aciona a chibata da cobrança, lanhando a própria alma, enquanto supõe
despedaçar o adversário.
Oxalá, compreendido e amado, sente-se estimulado a recomeçar, aprimorando-se pela dor reparadora,
que, no entanto, ainda procura inflingir.
"É um desalmado!" proclamam os que se atribuem o direito de vítima, como se o olhar compassivo da
Divindade não se dirigisse tanto para o perseguidor como para o perseguido. Pretenderiam que a
paternidade de Deus se dividisse em generosos dons e austeros castigos, auxiliando uns e punindo outros,
os que se lhe tornaram desafetos.
Possivelmente, o companheiro hoje, em atribulada loucura na Erraticidade, transformou as entranhas em
poço fumegante de ódio, em que ácidos e venenos se misturam, numa cultura que o aniquila com vigor.
Houve época em que desejou um lar, onde pudesse sustentar nos braços um filho dileto, osculasse a
ternura de uma esposa devotada, e, sem embargo, vitimado pela ingratidão ou açodado pelo desprezo,
viu-se comburir na chama da revolta. Não dispondo de valores morais para o perdão, deixouse desfalecer
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na rampa cruel que conduz ao ódio infernal, perturbando os melhores sentimentos e apresentando-se
sem alma, na sanha da perseguição implacável a que se arrojou.
O "reino dos Céus" se destina aos pecadores, àqueles que sofrem e choram. Para estes veio Jesus. Todos
eles, os nossos irmãos endividados e provocadores de dívidas, quanto nós próprios, se encontram
enleados com os amigos do plano terreno, porque estes lhes são devedores insensíveis, mal pagantes que
transitam entre a soberba e a malquerença, desejando liberdade, sem a própria transformação real, de
dentro para fora, através da qual arrebentem as grades simbólicas do presídio em que jazem amolentados
nos rancores, nas enxaquecas morais, nas comodidades e na indiferença em relação ao seu próximo.
Tarefa relevante e nobre está reservada ao amor, particularmente quando colocado a serviço do
ministério mediúnico de consolação e de caridade, que objetiva desalgemar os enganados dos seus
enganadores, a todos propiciando redenção.
***
Se você traz na economia moral da alma a presença aparentemente nefasta do a quem chamas obsessor
ou demônio, réprobo ou desalmado, faça uma análise profunda dos seus feitos e mude de atitude mental
em relação a eles, em relação à vida.
A função da luz é anular a treva e a tarefa da é unir os litigantes em clima de concórdia.
Nesses cometimentos do amor não há vencedor paz nem vencido, herói nem caído, mas, sim, irmãos
que se reencontram para o conúbio da solidariedade.
Saia, então, da fortaleza a que se acolhe, seja ela a descrença, a rebeldia, a suspeita, o ciúme, o egoísmo,
a perturbação consciente e marche na direção do Cristo, o claro e eterno Sol de todas as almas, a fim de
que se penetre de claridade perene, podendo viver em paz com todos os seus irmãos.

João Cleófas
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46. AMOR PARA COM ELES

Porque se encontram encharcados pela amargura, impregnam outros, que desvairam entre tormentos e
inquietações.
Porque se apresentam em tresvarios e morbosidades, inspiram depressão aos que com eles sintonizam
pelo natural processo da afinidade psíquica, fazendo-os descambar em longas e aniquilantes fugas ao
dever.
Porque se crêem defraudados, agridem, vencidos por indomável força que os galvaniza no mal que
padecem, atingindo as faixas dos que jornadeiam invigilantes pelos rumos da insensatez.
Porque sentem a carência da afetividade em que malograram, voltam-se contra aqueles que supõem
felizes, e, não obstante, os aceitam nos painéis da mente, em convívio demorado com que se
desorganizam, a caminho de irremediável alienação.
Porque se acreditam dilapidados pela morte que os surpreendeu inesperadamente, envenenam-se e
intoxicam as aspirações humanas de quantos não se deram conta da necessidade de elevação moral e se
facultam arrastar aos despenhadeiros donde dificilmente se retorna...
São conhecidos como obsessores, caracterizam-se como almas demoníacas, passaram à posteridade
como forças diabólicas contrárias ao progresso do homem.
Deixados sem o carinho da caridade, entorpecem-se cada vez, descendo mais às furnas de uma egolatria
desesperada, que os perverte e consome.
***
Se você já encontrou Jesus e reconhece a angústia do limite da alma sequiosa de luz e dela padece as
conjunturas, não acuse.
Levante-se da queda onde jaz e alce-se ao planalto da renovação interior, compreendendo que toda
circunstância aflitiva que o surpreenda pelo caminho do bem procede das faixas inferiores da vida, donde
você veio ou à qual se encontra vinculado por difícil processo de libertação.
Se sofre a conjuntura daquelas mentes empedernidas, que lhe esfacelam as aspirações do bom, do belo
e da verdade, não se volte contra a alucinação delas, nem se volva contra você mesmo.
Refugie-se na prece, esse doce oásis da renovação e do equilíbrio, e assim fazendo alçar-se-á, dos limites
baixos por onde transita, erguendo esses Espíritos sedentos de verdade embora a ignorem.
Se, todavia, você não se dispôs ao trabalho de libertação total e definitiva, permanecerá com eles e se
transformará a seu turno, em mente atormentada-atormentadora, infeliz-infelicitadora, angustiando os
que partilham com você do banquete da Era Nova...
Por isso, você, que encontrou Jesus, apiade-se dos irmãos do Mundo Espiritual inferior, tornando-se o
médium da esperança para eles, mesmo que sofra a aflição do estágio espiritual infeliz em que se
encontram, transitoriamente no caminho das lágri mas e das dores por onde todos recomeçamos a tarefa
de buscar a felicidade.
Abra-se ao bem, mesmo que suas mãos estejam cravadas de espinhos, seus lábios recebendo os ressaibos
da amargura e os seus pés impossibilitados de avançar por cima das armadilhas da treva.
Unja-se de amor, vá adiante, mesmo rastejando e arraste com você esses irmãos do seu pretérito, para os
quais veio Jesus, tanto quanto Ele o fez por nós.

João Cleófas
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47. LEIS DE AFINIDADES

Há quem estranhe as informações espíritas a respeito das colônias de sofredores na Erraticidade.


Alega-se que a Divindade, na sua expressão magnânima, não permitiria que se adensassem os sítios de
dor punitiva e de sofrimento reparador conforme a realidade o demonstra.
No entanto, basta um pouco de siso, para que se chegue a uma conclusão bem diversa.
São simpáticas entre si as pessoas viciadas, que, através de um processo de sintonia de gostos, se
aglutinam conforme as características do próprio desequilíbrio, formando na Terra grupos e colônias de
afins.
Nenhum governo democrático, mesmo o que se estabelece sobre bases da mais alta compreensão
humana, e, por isso mesmo, se opõe à livre escolha dos que preferem o estado desafortunado de
desequilíbrio interior, no qual busca fruir ao máximo o que atribui ser de melhor para a sua felicidade,
desde que não afete os direitos alheios nem atente contra as regras da comunidade em que vive.
No momento atual, multiplicam-se na Terra as colônias e agremiações de portadores de feridas morais
muito graves, que se proclamam o direito de prosseguir no cultivo das aberrações e dos vexames próprios
em nome do direito de viver conforme lhes apraz...
Natural, portanto, que em desencarnando esses seres atormentados, por um processo decorrente do peso
específico das suas elaborações psíquicas, voltem a constituir as mesmas organizações em sítios onde
possam dar vazão às aptidões negativas, continuando o comércio vil das sensações grosseiras decorrentes
da animalidade em que se locupletavam...
Compreensivelmente, a misericórdia divina, preservando para o espírito o direito de livre escolha, que é
um dos atributos base da individualidade espiritual, propicia que o tempo seja o abençoado mestre de
quantos assim preferem viver, até que, exauridos nas suas forças e sedentos de harmonia, anelem por
libertação e felicidade.
Sucede, sem embargo, que em processos de tal monta, vampirizações recíprocas pelos cômpares dos
jogos do prazer se fixam em matrizes profundas na individualidade espiritual, produzindo alienações de
longo porte, que nem mesmo a reencarnação e uma nova desencarnação, conseguem extinguir.
Para que o homem se candidate às regiões da plenitude espiritual, é imprescindível que aprenda a
abandonar os baixos padrões vibratórios em que situa pensamentos e desejos, emergindo na busca do
ideal de santificação, de modo que, ao ser surpreen dido pelo decesso celular, possa plainar acima das
vicissitudes è dos limites escravocratas a que se vinculava.
Nesse sentido, a tarefa de desobsessão é um ministério de alto porte, que deve ser encarada com
propriedade e conduzida com muita consideração, porquanto, o de que o homem não se consiga libertar,
no mundo terrestre, levará consigo, sendo indispensável retornar ao carreiro da aflição em que se
comprometeu a fim de saldar com a consciência a dívida perpetrada.
Justos e necessários, portanto, os núcleos de aflição coletiva e corretora, as agremiações e os sítios de
padecimentos gerais em que os trânsfugas do dever e os levianos se aglutinam, para darem
prosseguimento à problemática da infelicidade a que se afervoram...
Envolvamos os que assim procedem, os que ainda se mantêm em tal comportamento, em nossas
melhores vibrações e rogativas ao Senhor, na certeza de que o Senhor os atenderá, atendendo-nos
também a nós, necessitados que reconhecemos ser.

João Cleófas
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48. COM AMOR

Com o amor renova-se a face da Terra ante os imperativos da esperança.


O amor, "alma da vida", tônico vital a derramar-se do Céu em direção à Terra, é o apelo de Deus, o Criador,
dirigido à criatura, na romagem evolutiva.
Ante a mensagem do amor, todas as coisas se colorem e se vestem de luz, alargando a percepção de quem se
detém a examinar, sentir e viver essa manifestação santificante da vida estuante.
Fascinada pelo amor, a alma se renova e a paisagem por onde deambula toda se compõe de convites que
engrandecem a existência, enriquecendo-a de tranquilidade e ventura.
O ar se torna mais leve e acariciado por suaves odores espraia-se, abençoado, enchendo a vastidão...
O arvoredo se veste de vergônteas novas, se o machado o decepa, e outras bandeiras de folhagem como santo
vergel ensaiam o recomeço, ensejando mais vida, mais florescência, mais frutificação...
A estrada se adorna, convidativa, cobrindo-se de mil nadas que traduzem mil mensagens à observação...
A fonte singela canta, e a harmonia a alongar-se em derredor, musical, conclama o sedento ao repouso e ao
refazimento, oferecendo-lhe a linfa pura na taça da natureza em festa...
Com o amor tudo é vida.
Coloquemos as lentes do amor nos olhos da alma e tudo será, então, visto por prismas novos e fascinantes...
A noite escura salpica-se de estrelas em nome do amor celeste... O espinheiro se aformoseia com flores
perfumadas, manifestando o amor de Deus... O charco silencia o veneno letal e árvores medram na lama,
sugerindo diferente paisagem com o amor divino...
Cantando o amor em todas as suas realizações, o homem que crê já não sofre, nem chora, nem se amargura,
nem se desencanta.
Se o mal reponta, ama;
se a dor grita, ama;
se o desespero ronda, ama;
se a dificuldade chega, ama;
se a aflição sitia, ama;
se a injúria afronta, ama;
se a calúnia persegue, ama;
se a mentira triunfa, ama;
se a verdade tarda, ama;
se o medo ameaça ama.
Amor em tudo. Amor sempre...
***
O amor é lâmpada acesa na intimidade do coração, que nenhuma força externa consegue apagar.
Liguemo-nos, pois, desse modo, ao amor, em qualquer situação, em qualquer clima, em qualquer realidade.
O amor é a própria vida animando tudo, tudo conduzindo, porquanto se Deus é o Amor e o Amor é a "alma
de Deus", amemos em todas as coisas a oportunidade de amarmos Aquele que tem sido a vida de nossa vida
e o amor de nossos amores...

Aura Celeste
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49. RECORDANDO E ORANDO

Senhor Jesus!
Onde se encontram aqueles dominadores que Te levaram à cruz? Onde repousam os que formaram
aquela estranha comitiva armada de varapaus, carregada de sarcasmo e zombaria? Em que lugar estão
os mancomunados com o poder temporal que Te mandaram encarcerar e apedrejar?
Que foi feito do sólio de Tibério, da opulência e da astúcia do antigo Sinédrio e do reizete Pilatos? Onde
podemos encontrar os triunfadores da tarde fatídica em que se consumou o hediondo crime da tua
crucificação?
Recordamos a História e ficamos atônitos ao considerar o implacável perpassar do tempo...
O templo de Salomão, imponente em suas colunas grandiosas, desapareceu logo mais sob as hostes de
Tito, o filho terrível de Vespasiano.
A grandeza e a fortuna de Tibério foram varridas da Terra e os triunfos de Roma cederam lugar à miséria,
ao desencanto e à dor. Caligula deixou-se assessorar por Incitato, mas deles não ficaram vestígios, senão
os atentados que ambos cometeram contra a civilização. Já não existem reminiscências da opulenta
Domus Aurea, que Nero mandou erguer para desfrutar até o cansaço os gozos ultrajantes a que entregava
o corpo viciado e a consciência torpe.
O Circo Máximo, levantado para os espetáculos de arena, para a exibição das glórias conseguidas pelos
triunfadores que dominaram sobre as cinzas e as ilusões transformadas em pó nas cidades vencidas, jaz
transformado em ruínas tristes que o tempo calcinou, atestando a loucura da ilusão.
Onde estão, Senhor Jesus, as grandezas de um dia, que o vento demolidor dos séculos se encarregou de
transformar em recordações de iniqüidade e olvido?
Repassando os triunfos de ontem, identificamo-nos, muitos de nós, entre os enganados do poder, agora
renascido sob o látego de enfermidades ultrizes e de inquietações sem nome.
É verdade que, seguindo as pegadas de Alexandre, de Aníbal e de César levantaram-se outros verdugos
de povos e da Civilização e a Terra, freqüentemente, se banhou de sangue, quando Atila se fez o terrível
"flagelo de Deus" e Alarico, o visigodo, desejou seguir-lhe a trilha nos campos de terror, dominado pela
volúpia do ódio. Depois deles, levantaram-se as tribos bárbaras ao comando de Gêngis Cão, de Tamerlão
vencendo cidades, transformando o mundo em catre de amarga miséria. E no encalço deles, os
dominadores-vencidos, as enfermidades e o desespero da fome, o vergastar dos sofrimentos morais
abalaram os alicerces dos povos ensinando o pouco valor e a transitoriedade da vida física, nas suas
raízes mais profundas.
Onde estão, Jesus, os que zombam da palavra divina, os que tripudiam sobre os fracos? Oh! Senhor!
Enquanto, na atualidade, a Cibernética alunissa engenhos no satélite da Terra e lança em volta deste
planeta e de outros as suas máquinas delicadas, sonhando com outros céus e outras terras, voltamos do
além-túmulo para despertar as consciências que dormem, repetindo a velha balada: "Oh! Jerusalém,
Jerusalém, que matas os profetas e tripudias sobre os que vêm em nome da Verdade!"
Contemplando os engenhos bélicos da atualidade, o tormento da conquista técnica dos homens, as
ambições desvairadas do poder, ante a loucura que domina todos os impérios do sentimento, da emoção,
da inteligência e da vida organizada, inquirimos: Que será desses que de Ti duvidam e da Tua palavra
escarnecem, tão enganados quanto aqueles escarnecedores do passado?! Estes dizem possuir o mundo,
esquecidos de que contas com a eternidade dos tempos.
***
Espíritos que voltamos de além-da-morte, somos os vanguardeiros do porvir; honra-nos com a
oportunidade de semear a luz enquanto a hidra de Lerna renasce em nova Mitologia, que se torna
realidade através da fauce hiante da guerra, para com os seus estertores estarrecer o mundo. Permite-nos
cantar nas sombras da nossa pequenez a melodia tocante da fraternidade e da esperança.
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E enquanto, no banquete da ilusão, muitos cristãos que pregam a severidade da mensagem se entregam
aos festins que os enlouquecem, permite-nos a glória de joeirar o espírito no trabalho renovador que nos
enseja hoje o Espiritismo, valorizando as pequenas tarefas do socorro ao semelhante, através da códea
de pão, da gota dágua, do penso balsâmico, do trapo que veste o corpo, do olhar de bondade, da atitude
de silêncio, da mão que afaga, do gesto que acolhe, do hino de amor capazes todos de vencer o nosso
egoísmo e desmedida ambição.
Aqui estamos de pé, os desencarnados, em atitude de serviço para enxugar o suor álgico das aflições e
deter as lágrimas abundantes do desencanto, que escorrem dos corações feridos e das mentes acicatadas
pelo desespero e pelo horror, para Ti perguntarmos outra vez: Jesus, onde estão aqueles que desdenharam
da grandeza da verdade?; onde se guardam, nos seus mausoléus quebrados e de colunas caídas, de lápides
arrebentadas com evidentes sinais da destruição, aqueles que um dia se supuseram poderosos?
Aqui estamos Senhor, renascidos na Terra muitos daqueles déspotas dos dias idos, ressarcindo, em
dolorosas recuperações e no exiguo eito das próprias necessidades, o patrimônio atirado fora, voltados,
na dor, a exaltar-Te o nome, chorando em nossa jornada nova o tempo perdido, as horas atiradas no
deserto da nossa desolação...
Alonga os Teus ouvidos, amplia os Teus braços, aumenta a Tua voz e empurra-nos, Senhor, com o Teu
sublime socorro, para a frente, a fim de que possamos reter-Te no ádito do coração, ora fiel, tornando-
nos as colunas do Evangelho de vida, na hora dos testemunhos terríveis que levantamos para nós
mesmos.
Enquanto a Humanidade chora, sofre e caminha pelos corredores estreitos da loucura, praza a Ti que os
verdugos e os déspotas dantanho nos levantemos para dizer: Louvado sejas, Senhor, aqui estão aqueles
que Te abandonaram, que atiraram na Tua face o ácido do descrédito, os que levantaram para Te
esbordoar, os que tripudiaram sobre os fracos, nas vestes rasgadas da reencarnação sob o império da dor,
em nome da Tua misericórdia excelsa, a única triunfadora sobre os tempos...
Aqui está, Jesus, o testemunho da História, dizendo outra vez: "Bem-aventurados os fracos e os
oprimidos porque de tais é o Reino dos Céus."
Louvado sejas, pois, Senhor, nesta hora ciclópica de transformações da Terra angustiada, nesta ante-
manhã da Era Melhor que nos destinas desde o começo!

Aura Celeste
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50. TORMENTOS DA OBSESSÃO

Epidemia virulenta que grassa ininterruptamente a obsessão prolifera na atualidade com vigoroso
impacto que faz recordar as calamidades pestilenciais de épocas transatas.
Apresenta-se sob disfarce de variada configuração, concitando psicólogos e teólogos, filósofos e
sociólogos interessados nos magnos assuntos do homem e da coletividade ao estudo das suas causas,
com o objetivo de combatê-la com a eficiência necessária para estancar, em definitivo, a onda de
sofrimentos que produz, erradicando-a terminantemente...
Remontando-se, porém, às mais antigas Civilizações, nelas encontramos sempre presente a manifestação
obsessiva zurzindo látego impiedoso, dilacerando, implacável, os corações e desalinhando, zombeteira,
as mentes.
Nos diversos fastos da História, os vultos mais representativos, sejam os expoentes da arte, da cultura,
do pensamento, da administração sofreram-lhe o estilete cortante em forma de presença coercitiva...
Fenômenos dolorosos de possessão foram experimentados por Nabucodonosor, Alexandre, César,
Domício Nero, aparecendo e irrompendo, freqüente, em forma de justiça enlouquecida ao alcance de
mãos alienadas do Mundo Espiritual inferior. Assim, lamentáveis expressões esquizofrênicas, fizeram-
se tormento de longo curso em Franz Liszt, Nijinski, Van Gogh, Schumann...
Através do Evangelho, entretanto, encontramos o antídoto eficiente contra a sua proliferação: o amor!
que, aplicado em qualquer das manifestações sob que se apresente, consegue o milagre da tranqüilidade,
porquanto obsessores e obsessos sempre estiveram presentes nas exposições e atos de Jesus, quando da
Sua jornada entre nós.
Ei-la presente em toda parte: aqui na feição de sexolatria desvairada; ali em absurdas manifestações
onzenárias, que se fazem fatores preponderantes da miséria de muitos, jazendo em poucas mãos; mais
adiante, na expressão voluptuosa dos entorpecentes e barbitúricos, fomentando a hecatombe social e a
loucura das mentes moças; mais além, na exteriorização das renhidas disputas do poder transitório, e,
mais longe, ainda, eclodindo nas questiúnculas dissolventes do egoísmo do egoísmo, todas essas facetas,
pois que, pela porta dilatada do egoísmo penetram os miasmas fétidos, pestilenciais, que causam as
alucinações obsessivas.
***
Considerando a energia mental no atual momento da ciência em complexos estudos, comparemos a
mente que vibra a um ciclotrão torpedeando com partículas beta a intimidade do átomo, com o objetivo
de encontrar-lhe o núcleo; configuremos a organização perispiritual como sendo o centro que
objetivamos atingir e teremos a vibração mental transformada em partícula torpedeante que, em processo
contínuo, termina por alcançar os núcleos das moléculas que a constituem, harmonizando-as ou
desarranjando-as conforme a qualidade de onda que enviamos e teremos a obsessão ou o auxílio
socorrista a expressar-se em linguagem simples.
Instalando-se, mente a mente, por tal processo, a obsessão se assenhoreia dos centros de comunicação
do Espírito com o corpo, através do perispírito, instalando a alienação dolorosa. A princípio, em forma
de transmissão de idéias-padrões estereotipadas que terminam por fixar-se, transformadas em
monoidéias tormentosas, dilatando-se como fascinação desta ou daquela natureza, colimando na
subjugação portentosa que atira nos resvaladouros escuros da anarquia interior o ser que lhe cai inerme
nas malhas traiçoeiras.
Entretanto, a Doutrina que estuda as obsessões, as suas causas preponderantes e predisponentes o
Espiritismo, possui os recursos excepcionais capazes de vencer essa epidemia cruel que, generalizada,
invade hoje a Terra em todos os seus pontos.
São eles: o conhecimento das leis da reencarnação hauridos no Evangelho de Jesus Cristo e nas
revelações espirituais, a oração e a humildade, a paciência e a resignação, mediante os quais elabora pela
iluminação interior a prática da caridade em todas as expressões meios enobrecedores capazes de poupar
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o homem às sortidas do seu pretérito culposo, no qual se encontram as causas da sua atual aflição, retidas
nas mãos infelizes dos Espíritos desassisados e perversos que pululam nas regiões inferiores da
Erraticidade.
Desde que já conheces a lição do Cordeiro de Deus, corporificada no largo período da Manjedoura ao
Golgota, impregna-te dessa mensagem libertadora, permeando mente e coração no exercício da caridade
edificante. Nem o pavor pernicioso nem o desaviso perigoso, mas sintonia com Jesus, em perfeita
identificação com Ele através da oração, como metodologia e terapêutica eficientes para a preservação
da própria paz.
Aquele que encontrou Jesus já começou o processo de libertação interior e de desobsessão natural.
Conquanto emparedado no casulo carnal, tornase espírito livre que pode flutuar além e acima das
vicissitudes, em perfeita alegria ante a primavera eterna do Mundo Espiritual, de que já participa, na
busca do Sol do amor que é o Supremo Governador da Terra, nosso modelo e guia: Jesus!

Eurípedes Barsanulfo
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51. KiaNgola, kutuluka kua muxima (Paze)!

Kiambutu espiritual do teu soba Ngola abro o meu muxima às tuas Kuuaba, ukemba, e uonene, ao lado
dos teus matumbu, para dizer-te nesta alvorada em festa: uazeká!
Este é um doloroso e necessário kusalavala: o da kubula, por tal razão, decorrendo em sofrimento.
Revejo Diogo Cão marcando tuas praias e baías, no passado, ao descer do Zaire, desde as Ilhas das
Cabras até o Cabo do Lobo, guiado pelas mãos, de Ngombo, travando os primeiros contatos contigo, a
fim de ensejar-te o que chamavam Kilonga. Ele sonhava com a amplidão das tuas terras, com as quais
desejava homenagear o seu rei. Por isso supunha descobrir-te para o mundo, tu que já possuías elevados
nganda e um natural ukumbu do que eras...
Ingênuo, ele foi traído pelo senhor, que após a segunda viagem te mandou Bartolomeu Dias.
Conheceram-te ambos, mas ignoraram tua força nativa!
Apresentada na tua nudez simples, os brancos vieram conhecer-te ávidos pelas tuas inexploradas
fortunas, tornando-te selevente ia selevente das suas paixões.
Fascinados pelas tuas lendárias minas de paláta, do Cambambe, ao norte, fugiram, depois, a buscar o
kóbiri do sul, sem amor por ti, putu de heróis.
Fizeram-te mubika abeta ku-mu-zola sob o disfarce de ngundu com que te exauriram as forças,
despovoavam tuas kisasamba, fingindo-se portadores de um henda para contigo, que, em verdade, não
possuíam.
Felizmente, enquanto te venciam pela astúcia, trouxeram-te nobres mukungi, que te ensinaram a orar e
a perdoar os crimes que impunemente praticavam contra ti.
Lukuxi enganaram os teus ana-a-mala?! Raros desses colonizadores fizeram-se teus makangu.
Tuas terras, desde então, sempre estiveram encharcadas pelo manhinga dos teus ana-a-mala, todavia,
tão kianguim e puro, quanto o deles, os teus novos akua'xi.
Tudo isto, porém, é o teu maza, são os dias dos massacres de Cassange, de Teixeira de Souza...
Nos teus maúlu fulgura, agora, o hongolo da kudielela.
Podes voltar a repetir tuas lindas jisonbi nos muxitu, ngiji e ndúndu sem fim das tuas terras coloridas...
No momento procura uma forma de kutula. Não te inquietem outros homens maus!
Os que antes te afligiram, hoje se encontram quase buikisa, porque o mal é um perseguidor implacável
dos que se fazem maus.
Neste instante não penses em tornar-te sequiosa de desforços em ninguém.
Os ventos da tempestade amainaram. Necessário cuidado, a fim de que não volvam em forma de tufão,
calamidade e desgraça. Reúne na tua kubata os filhos do teu solo e os outros, esquecendo diferenças,
somente pensando nas identificações que unem os povos e as raças humanas.
Demonstra ao mundo, bata de Ngola, que estás a crescer, a amadurecer, tomando parte no concerto das
gloriosas e pacíficas Mbutu da Terra.
Mbeju a putu nova, uno as mãos escuras das tuas mona uisu para rezala a Ngombo, rogando incessante
kutuluka kua muxima para ti, amada KiaNgola.

Mons. Manuel Alves da Cunha

(*) Palavras no idioma kimbundo:

KiaNgola, kutuluka kua muxima (Paze)! - Angola, paz!


Kiambutu - descendente.
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soba Ngola - Chefe (indígena) Ngola.


muxima - coração.
kuuaba - bondade.
ukembu - beleza.
uonene - grandeza.
matumbu - gentios (ou gentes).
uazeká! - bom dia!
kusalavala - parto.
kubulula - liberdade.
Ngombo - O Deus dos deuses.
kilonga - civilização.
Nganda - costumes bons.
ukumbu - orgulho.
selevente ia selevente - serva das servas.
paláta - prata.
kobiri - cobre.
putu - pátria.
mubika abeta ku-mu-zola - escrava predileta.
ngundu - colônia.
kisasamba - palhota.
henda - altruísmo.
mukungi - missionários.
lukuxi? - quantas vezes?
ana-a-mala - filhos.
makangu - amigos (em idioma kikongo).
manhinga - sangue.
kianguim - vermelho.
akua'xi - senhores das terras em que se está.
maza - ontem.
maúlu - céus.
hongolo - arco-íris.
kudielela - esperança.
jisonhi - cerimônias.
muxitu - sertões.
ngiji - rios.
ndúndu - praias.
kutula - sossego.
buikisa - aniquilar (aniquilados).
kubata - casa.
bata - povo.
Mbutu - Nação (plural).
mbiju - beijo (verbo beijar).
mona uisu - criancinhas.
rezala - orar.
kutuluka - sair

Nota do Autor espiritual.


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52. DOUTRINA DE EDUCAÇÃO

O Espiritismo é, essencialmente, uma Doutrina de educação.


Pautando os seus ensinos nas linhas básicas do Evangelho de Jesus, que preconiza a felicidade integral,
tem por meta o Espírito, penetrando-lhe as origens, o destino, quem é, donde vem e para onde ruma.
Muito justas, portanto, as preocupações dos amigos, em torno da programática a ser desenvolvida em
nosso Instituto.
Essa tarefa, porém, é gigantesca e complexa. Constitui-nos um desafio à capacidade de entender e amar
o próximo, como ao suprimento de forças para o ato de a realizar. Nesse sentido, o labor que abraçamos
é de relevante significado, conseqüentemente de grave desenvolvimento e prolongada execução.
Nela não comportam o improviso nem a precipitação, exigindo-nos, antes, acuradas reflexões. Também
deveremos ter em vista que nos imporá um largo período experimental, sem que os frutos possam, de
imediato, ser colhidos e os resultados estatistificados para uma perfeita avaliação de resultados.
Estamos sendo convocados a um investimento de amor, de largo porte, para o qual é bem possível que
não nos encontremos convenientemente preparados, o que, de forma alguma, deve constituir empecilho
para o tentame.
Nas suas estruturas iniciais, nosso Educandário registava como meta primeira a preparação espiritual do
educando para que pudesse enfrentar as conjunturas sócio-econômicas dos dias atuais e futuros... E
educação espírita deve ser encarada como um trabalho de alta complexidade, sem o simplismo dos
entusiastas nem a ingenuidade dos precipitados na qual o ideal se coloca acima dos registos contábeis e
de outras conjunturas afligentes que tanto inquietam...
O verdadeiro educandário, erguido sobre os princípios espíritas ou neles programado, exige enfoques
especiais, que se não restringem à transmissão pura e simples dos conhecimentos que se tabulam e se
testam com agilidade, na sôfrega consecução dos resultados oficiais, longe da convivência afetuosa,
tolerante e cheia de perseverança com o educando, seus genitores e mestres, num intercâmbio em que se
conjuguem todos os interesses em prol da formação moral e espiritual do futuro homem novo...
Sabemos que não é fácil um cometimento de tal porte no atual momento histórico da Humanidade...
Vivemos as horas graves de transição moral e espiritual do Planeta, nas quais os valores que deviam
constituir matrizes e significar pontos de equilíbrio sofrem violentas e constantes alterações...
Os jovens passaram da rebeldia doméstica à agressividade contra a Sociedade...
Os padrões morais desmoronam e os postulados da fé ortodoxa se decompõem...
Não obstante, nesse clima Jesus prossegue o Protótipo do Homem Integral, o Mestre Insuperável e Suas
lições, graças à singeleza de que se revestem, são ainda e prosseguirão atuais, segurança e água viva
para a sede dos Espíritos em ardência de paixões...
Assim considerando, nossas responsabilidades como espíritas são muito grandes. Nosso ministério passa
a ser o da educação, que se torna objetivo essencial embora as linhas abençoadas da consolação a que
nos fixamos...
Não ignoramos que numa encarnação as conquistas morais se adquirem lentamente, exceção feita aos
Missionários do amor, da beleza, da ciência e da verdade.
Não se podem modificar de improviso painéis mentais, que guardam séculos de sombras, nem se deve
esperar que os milênios de primitivismo sejam diluídos num só golpe de luz, ou através de um lance
experiência educacional... Todavia, não podemos exonerar-nos das responsabilidades que nos induzem
a dar início à Obra, porque se nos apresente mais expressiva e complexa do que supúnhamos.
De Rousseau e Pestalozzi a Jean Piaget, passando por William James, Dewey, Kilpatrick, Eduardo
Claparède, Binet e muitos outros sucederam-se experiências educacionais e psicológicas valiosas de que
nos podemos utilizar, clarificadas pela Revelação Espírita. A todos esses nobres estudiosos e
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pesquisadores da alma infantil, que se entregaram às profundas engrenagens da psique do educando


faltou a chave que possuímos para a decifração dos grandes enigmas da personalidade: a reencarnação!
Penetrando a gênese da vida, Jean Piaget, embora abeberando-se da fonte inexaurível das origens, não
conseguiu avançar além das injunções genéticas... Baldwin, através da sua "lógica genética",
considerava nela a resposta para a elaboração das estruturas cognitivas do indivíduo…
***
Nós conhecemos que o Espírito é o ser e nele devemos investir todos os nossos esforços iluminativos,
contínuos e amorosos. Os resultados pertencerão ao Pai de Misericórdia... Nesse sentido, todo esforço
de educação é valioso.
Meditem os amigos e irmãos em clima de calma e amadurecimento da idéia, não esquecendo do material
humano imprescindível ao cometimento lento, cuidadoso.
O nosso Educandário tem sido um Laboratório de almas cujos resultados experimentais não vêm sendo
os melhores, embora o valioso esforço de todos.
De nossa parte prosseguimos devotado com o carinho de sempre ao lado dos amigos e irmãos que se
encontram empenhados na tarefa da luz contra a treva, da verdade contra a impostura, do conhecimento
contra a ignorância.
Colocando o Cristo acima de todos os nossos desejos e confiando n'Ele, entreguemo-nos a Ele,
devotados.

Lins de Vasconcellos
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53. DEFINIÇÃO ESPÍRITA

Dilatam-se-nos as oportunidades de serviço que nos não compete adiar.


Hoje como ontem chegam-nos os alvitres do Mundo Espiritual, conclamando-nos à inteireza e
integridade no labor edificante, através da nossa atuação total e permanente ao lado do Senhor Jesus,
que nos rege os destinos.
Não há muito pelejávamos, esgrimindo as armas da razão contra o dogmatismo absconso que dominava
em todas as latitudes, impedindo o progresso e o crescimento da verdade na Terra. Em dias primevos,
lutávamos ardorosamente pela semeação espírita, investindo contra os códigos arbitrários das leis
desonestas e parciais, tentando apresentar a Doutrina como sendo a resposta dos Céus aos veementes
apelos da Terra. Nas primeiras horas improvisamos, na praça pública, a tribuna do entusiasmo e reptamos
com ardor os adversários gratuitos do Cristo Jesus, oferecendo ensejo para clarificação do mundo através
dos postulados que nos foram legados por Allan Kardec. Foi necessário investir contra as paredes da
intolerância e abrir brechas nas cidadelas do preconceito para que o Ideal Espiritista pudesse fulgurar
glorioso e nobre, iluminando todos os recantos da paisagem humana. Não poucas vezes recebemos a
bofetada da zombaria, do escárnio, e a chocarrice dos tíbios cregou até a porta da nossa honra, tentando
dilapidar o patrimônio do nosso comportamento e dilacerar, até às entranhas, os painéis sublimes da
nossa vida íntima, apresentando-nos, na praça pública dos conceitos, na condição de "miseráveis
psicológicos" e de "perturbados da emoção". Noutras ocasiões tivemos os pés feridos pela urze da
impiedade e as mãos foram sangradas pela lixa grosseira da intemperança, arregimentadas todas as
dificuldades para nos impossibilitarem o avanço, como se diminuindo a força impávida dos idealistas,
se pudesse calar a boca do ideal encarregada de disseminar a verdade imortalista.
Em muitas circunstâncias o verbo estrugia em nossos lábios não encontrando acústica nos corações para
continuar impoluto, oferecendo a visão longínqua e bela da esplendorosa madrugada da imortali
dade. Mas, em momento algum, o desânimo nos tolheu o entusiasmo, o medo nos diminuiu a coragem
ou o interesse pessoal nos arrefeceu o espírito de serviço.
Nunca as questões do Cristo ficaram no velador, apagadas, ou sob a nossa comodidade de interesse
imediatista para arregimentar paixões que nos levassem à jactância ou que nos conduzissem ao cenário
das glórias ilusórias e das emoções de mentira.
Graças a isso, os pioneiros da hora do primeiro século do Espiritismo, que revive o Cristo vivo,
conseguiram plasmar em nós, através de nós e para todos nós, no século que se iniciaria logo mais com
realizações edificantes, o novo conceito espírita impoluto e granítico, capaz de enfrentar os voos da
Ciência e consolar os oceanos das lágrimas dos corações em superlativa aflição.
Chegados ao primeiro século findo de Doutrina Espírita, saímos do gabinete da experimentação
mediúnica para o labor da assistência social amplo e largo, fazendo que o Consolador colocasse no seu
seio as gerações famélicas, os corpos torturados, as vidas estioladas, as organizações fisiológicas
enfermiças, os tombados dos caminhos, Samaritano sublime que se fez, para levar ao albergue da
esperança os que caíram entre Jericó e a Jerusalém libertada da Era Nova.
Agora, porém, que se nos alargam as possibilidades de divulgar o espírito do Espiritismo em linguagem
condicente com a mentalidade contemporânea, não meçamos esforços para que a unidade doutrinária
lobrigue seus fins e para que a obra gigantesca da educação realize o seu profundo desiderato. Jesus foi
o mestre por excelência e Kardec o pedagogo por eleição!
***
A Doutrina Espírita é, portanto, a Pedagogia nova para todos nós, desencarnados e encarnados, que
saímos das sombras da animalidade para as luzes da inteligência, na direção sublime da intuição
libertadora e poderosa da nossa glorificação espiritual.
Pregar pela palavra articulada, pregar pelo exemplo, pregar pela oração silenciosa, pregar pela
mensagem escrita são impositivos impostergáveis,. intransferíveis, que não podemos adiar, no momento
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em que o Espiritismo encontra campo preparado para a sua realização histórica, a sua finalidade
espiritual.
Transformemos as nossas Casas em Educandários de amor, que sempre devem ter sido, os nossos
corações em santuário de misericórdia e porfiemos intimoratos, abrindo os braços à Caridade que desce
dos Céus à Terra, e à fraternidade que sai do coração aos corações, num intercâmbio convidativo e
consolador, capaz de nos tornar verdadeiramente espíritas, verdadeiramente irmãos.
Este instante é o de fazer luz, o da nossa definição espírita, o da nossa realização clara e firme, que deixe
na história dos tempos o sulco profundo da nossa integração nas hostes da Doutrina apresentada por
Allan Kardec, como sinal inapagável da nossa vitória sobre a morte, sobre o engodo, sobre a
inferioridade, sobre nós mesmos, antecipando a nossa ressurreição que já começa, para a nossa
penetração na vida estuante que nos espera.

Lins de Vasconcellos
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54. ANTE IMPEDIMENTOS

No labor espírita a que nos vinculamos, meditemos em torno dos impositivos que o trabalho nos exige,
examinando as possibilidades ao nosso alcance e tenhamos tento contra os impedimentos sutis que se
chamam: hora vazia, negligência, presunção, arrogância, inquietação, avareza.
Considerando a necessidade de agir com o indispensável equilíbrio para manutenção do programa do
Senhor, envidemos esforços no sentido de catalizar os recursos inatos, utilizando as forças inexauríveis
do amor para a edificação da Obra do Senhor.
Para colimar esse desiderato, vigiemos as nascentes do espírito, donde promanam problemas e bênçãos,
considerando que a desencarnação a cada um surpreende no momento próprio e que as realidades não
concluídas ressurgirão no além-túmulo sem solução de continuidade, chamando o obreiro leviano e
irresponsável à prestação de contas do mandato que lhe foi confiado.
Nunca faltam impedimentos que estão em nós mesmos e se exteriorizam como fantasmas da nossa paz.
Nesse particular, o além-túmulo, que tudo regista, ressuscita a memória, após a desencarnação do
negligente, fazendo que cada um desperte na paisagem preferida. Aqui, os labores se dilatam, os ódios
se mesclam de irascibilidade, a negligência padece atribulação e os recursos malbaratados ressumbram
em forma de remorso tardio, arrependimento insensato, e a consciência passa a verter gotas de ácido,
queimando e requeimando o interior que se converte, então, em fornalha viva da desesperação.
Assim, os que faliram na realização superior dementam-se; os que sucumbiram pelo desequilíbrio
anestesiam-se; os que fracassaram pela presunção hibernam-se; aqueles que o letargo da idiossincrasia
sistemática adormece acordam em estágio primitivo, transformando os centros da razão em fulcros de
terríveis estados alucinatórios, nos quais se fixam como animais batidos pela fúria deles mesmos...
Por esta razão, o Senhor nos concede dilatação dos recursos e possibilidades de auxílio aos
desencarnados e a nós mesmos, facultando-nos discernir para aplicar no quotidiano as lições vivas, de
modo a não rentearmos pelos mesmos caminhos infelizes, mergulhando no abismo em que ora padecem
os que antes se enganaram.
São eles os nossos irmãos desencarnados, em estágio de dor na retaguarda, lição viva para nós, estejam
irmanados no ódio injustificável, permaneçam no desespero cruel, demorem-se em hibernação
lamentável...
Aprendamos com eles disciplina e correção, harmonia e dever, de modo a trabalharmos a consciência
com o buril da resignação e o escopro da benemerência, enriquecendo-a com os tesouros inalienáveis do
amor de Nosso Pai que estão ao alcance do nosso esforço.
Reflexionando e evitando quaisquer impedimentos ao serviço do bem, ajudemos e ajudemo-nos, certos
de que o Senhor não cessa de nos ajudar.

Lins de Vasconcellos
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55. ANTE A MOCIDADE

Meu filho: Jesus nos guarde na Sua paz.


Mocidade é força. Se esta não recebe direção, converte-se em agressividade e desastre.
Mocidade é vida. Se não vai conduzida com sabedoria, transforma-se em destruição e morte.
Mocidade é oportunidade. Se, no entanto, escasseia experiência, ei-la perdida.
Mocidade é esperança. Mal aplicada, constitui alucinação e queda.
Mocidade é promessa. Quando não aproveitada, convenientemente, faz-se desengano e remorso.
Mocidade é encantamento. Utilizada em exagero se esvai, dando lugar a pesadelos e amarguras.
Mocidade é sede de conhecer, tentar, sentir. Graças à pressa injustificável produz decepção, ruína,
intoxicação do corpo e exaustão antecipada da alma.
Mocidade é festa. O prazer, sem embargo, satura sem saciar, perverte sem acalmar.
Mocidade é vigor. No entanto, só a sabedoria pode conduzir a vitalidade sem o perigo iminente do
descoroçoamento e da fraqueza.
Mocidade é um estado de espírito, não apenas um transitório período orgânico. A juventude do corpo é
preparação para os labores da "idade da razão".
Há jovens envelhecidos pelos insucessos da paixão e do desassisamento. Existem idosos ricos de
juventude e vigor.
Na infância o homem aprende. Na juventude apreende. Na madureza das forças e da inteligência
compreende... Nem todos, porém...
Por esse motivo, o adulto orienta, graças à compreensão que tem da vida e à apreensão amadurecida dos
fatos vividos, que lhe servem de divisor equilibrado, selecionador racional dos legítimos para os
inautênticos valores éticos.
O jovem ouve e entende; todavia, porque as atrações do inusitado o conduzem à rebelião e à experiência
pessoal, reage e impõe, violenta a razão que ainda não assimilou e parte em busca da vivência pessoal.
A vida, no entanto, para ser alcançada em plenitude, impõe o contributo da reflexão. Num período a
aprendizagem; noutro a vivência.
Permutar a ordem dos valores é perturbar o equilíbrio. Fruir antes de dispor dos requisitos significa
exaurir os depósitos de forças ainda não realizadas, nem organizadas.
Inútil, portanto, afadigar-se pela sofreguidão na busca de "coisa nenhuma". Cada realização a seu turno;
cada conquista à hora própria.
Conhecer Jesus em plena juventude, é honra, meu filho, bênção de inapreciável significação, preparando
demorada realização em prol de ininterrupto porvir.
O que damos, possuímos; o que temos, devemos.
O gozo precipitado é débito; o prazer não fruído representa conquista. Não tenhas pressa!
O amanhã é longo e formoso para quem sabe dilatar o hoje da edificação nobilitante.
***
Aplica a tua mocidade na realização da paz interior, ao invés de arrojar-te na intoxicação do desvario.
Há sempre tempo para quem não deve, enquanto são curtos os dias para quem se debate nas aflições dos
resgates que se aproximam e não possui reservas para libertação dos compromissos...
Jesus é porta, é caminho, é pão. Chama e espera; convida e prossegue; nutre, porém, conclama o
candidato à própria iluminação.
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O mundo é escola. Cada qual se movimenta nas suas classes conforme aspira para si mesmo: felicidade
ou ruína.
Reencarnar num lar cristão-espírita constitui acréscimo da misericórdia do Senhor, que, impede, por
antecipação, as escusas e justificativas do candidato, se este elege o fracasso ou o atraso na marcha.
Não te enganes, nem te permitas anestesiar os centros felizes da consciência ainda não atormentada por
atividades ou atitudes infelizes...
O bem é sempre melhor para quem o pratica e a paz é sempre mais tranqüilizante para quem pode fitar
o passado sem empalidecer de constrangimento ou corar de remorso e dor...
Firma-te, meu filho, nos postulados da Doutrina Libertadora e nada receies.
A felicidade real é trabalhada e custa um preço que todos devemos pagar a sacrifícios e renúncias.
Tudo são lutas, que o cristão transforma em conquistas superiores. Ninguém se pode omitir ao esforço
da sobrevivência. Viver exige o tributo do esforço e quando na organização física engendra o desgaste
da própria máquina.
Amadurece no estudo, traçando as metas do futuro.
Equilibra-te na oração, harmonizando as emoções.
Preserva-te no trabalho fraternal da caridade e gasta-te nos deveres sociais para a aquisição do pão e
promoção da carreira que pretendes abraçar.
Os dias passam, sucedem-se de qualquer forma. Melhor que transcorram em produção de felicidade e
em realização de harmonia.
Não te faltarão socorros nem a proteção de abnegados Benfeitores Espirituais que zelam por ti e se
fizeram fiadores da tua atual experiência evolutiva.
Supera os impulsos juvenis e condicionamentos do passado espiritual, atraído pelo tropismo sublime do
Cristo-Jesus.
Ontem são trevas; amanhã é claridade.
Sigamos, meu filho, no rumo do Meio-Dia feliz ao anunciar-se o amanhecer da oportunidade nova.

Joanna de Angelis
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56. NÃO HA MORTE

Depois que partiram do círculo carnal, aqueles a quem amas, tens a impressão de que a vida perdeu a
sua finalidade.
As horas ficaram vazias, enquanto uma angústia que te dilacera e uma surda desesperação que te mina
as energias se fazem a constante dos teus momentos de demorada agonia.
Estiveram ao teu lado como bênção de Deus, clareando o teu mundo de venturas com o lume da sua
presença e não pensaste, não te permitiste acreditar na possibilidade de que eles te pudessem preceder
na viagem de retorno.
Cessados os primeiros instantes do impacto que a realidade te impôs, recapitulas as horas de júbilo
enquanto o pranto verte incessante, sem confortarte, como se as lágrimas carregassem ácido que te
requeima desde a fonte do sentimento à comporta dos olhos, não diminuindo a ardência da saudade...
Ante essa situação, o futuro se te desdobra sombrio, ameaçador, e interrogas como será possível
prosseguir sem eles.
O teu coração pulsa destroçado e a tua dor moral se transforma em punhalada física, a revolver a lâmina
que te macera em largo prazo.
Temes não suportar tão cruel sofrimento. Conseguirás, porém, superá-lo.
Muito justas, sim, tuas saudades e sofrimentos. Não, porém, a ponto de levar-te ao desequilíbrio, à morte
da esperança, à revolta....
Os seres a quem amas e que morreram, não se consumiram na voragem do aniquilamento. Eles
sobreviveram.
A vida seria um engodo, se se destruísse ante o sopro desagregador da morte que passa.
A vida se manifesta, se desenvolve em infinitos matizes e incontáveis expressões. A forma se modifica
e se estrutura, se agrega e se decompõe passando de uma para outra expressão vibratória sem que a
energia que a vitaliza dependa das circunstâncias transitórias em que se exterioriza.
Não estão, portanto, mortos, no sentido de destruídos, os que transitaram ao teu lado e se transferiram
de domicílio.
Prosseguem vivendo aqueles a quem amas. Aguarda um pouco, enquanto, orando, a prece te luarize a
alma e os envolvas no rumo por onde seguem.
Não te imponhas mentalmente com altas doses de mágoas, com interrogações pressionantes, arrojando
na direção deles os petardos vigorosos da tua incontida aflição.
Esforça-te por encontrar a resignação. O amor vence, quando verdadeiro, qualquer distância e é ponte
entre abismos, encurtando caminhos.
Da mesma forma que anelas por volver a sentilos, a falar-lhes, a ouvir-lhes, eles também o desejam.
Necessitam, porém, evoluir, quanto tu próprio.
Se te prendes a eles demoradamente ou os encarceras no egoísmo, desejando continuar uma etapa que
ora se encerrou, não os fruirás, porque estarão na retaguarda. Libertando-os, eles prosseguirão contigo,
preparar-te-ão o reencontro, aguardar-te-ão...
Faze-te, a teu turno, digno deles, da sua confiança, e unge-te de amor com que enriqueças outras vidas
em memória deles, por afeição a eles.
Não penseis mais em termos de "adeus", e sim, em expressões de "até logo mais".
Todos os homens na Terra são chamados a esse testemunho, o da temporária despedida. Considera,
portanto, a imperiosa necessidade de pensar nessa injunção e deixa que a reflexão sobre a morte faça
parte do teu programa de assuntos mentais, com que te armarás, desde já, para o retorno, ou para
enfrentar em paz a partida dos teus amores...
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Quanto àqueles que viste partir, de quem sofres saudades infinitas e impreenchíveis vazios no
sentimento, entrega-os a Deus, confiando-os e confiando-te ao Pai, na certeza de que, se souberes abrir
a alma à esperança e à fé, conseguirás senti-los, ouvi-los, deles haurindo a confortadora energia com que
te fortalecerás até ao instante da união sem dor, sem sombra, sem separação pelos caminhos do tempo
sem fim, no amanhã ditoso.

Joanna de Angelis
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57. PÁGINA À MULHER ESPÍRITA

No momento em que os valores humanos padecem injunções lamentáveis e os postulados éticos em que
se devem estruturar os ideais de engrandecimento da criatura malogram no báratro das paixões, o
Evangelho, como ocorreu no passado, constitui a única bússola, a segura rota mediante a qual a hodierna
civilização poderá encontrar a solução para os múltiplos problemas e os graves compromissos que pesam
negativamente na economia da felicidade geral.
As Religiões, na sua feição de Instituições Organizadas, disputando as primazias e mais preocupadas
com a dominação e promoção transitórias do que com o "reino de Deus" que é "tomado de assalto" e se
estabelece nas paisagens ignotas da alma, fracassaram lamentavelmente, no tentame de consolar e
conduzir a Jesus.
Os seus triunfos aparentes se fixam no terreno falso dos destaques mundanos, faltando-lhes as estruturas
morais legítimas e os comportamentos espirituais relevantes com que seja possível pôr cobro à anarquia
social e ao desequilíbrio moral que grassam, voluptuosamente, tudo conduzindo de roldão... Isto, porque,
os padrões em que ainda se firmam asfixiam o espírito do Cristo que deveria vigir nas suas expressões
e serviços.
Sem dúvida em todas elas, como em qualquer lugar, a presença do Amor e a manifestação da Divina
Misericórdia constituem sinal de esperança. Sem embargo, a necessidade da vivência evangélica se
impõe urgente, impostergável.
Em decorrência de tal malogro, aos cristãos novos, os adeptos da Revelação Espírita, está reservado
significativo ministério, relevante apostolado: viver o Cristo e representá-Lo em atos ao aturdido
viandante destes dias.
Não assume esta uma tarefa de absurda possibilidade, exceto se o candidato se recusar integração com
fidelidade real ao programa de recristianização da Terra.
Nesse sentido, à mulher espírita se reserva preponderante atividade, ou seja a de transformar-se, médium
da vida que é, em mensageira da dignificação moral, da santificação da sexualidade, da redenção
espiritual...
Arrostando diatribes e espezinhamentos chulos, deverá volver às bases nobres do amor com a
conseqüente valorização da maternidade, reconstituindo a família e elevando os sentimentos.
Programada pelo Pai para o sagrado compromisso de co-criadora, a sua libertação, ao invés do
nivelamento nos fossos das sordidas paixões dissolventes, se deve caracterizar pela própria grandeza,
que a alça à condição de modelo e paradigma da Humanidade, que se inicia no lar, onde deve reinar,
soberana e respeitada.
Organizada essencialmente para o amor, no seu mais nobre significado, dela muito dependem as novas
gerações, o homem do futuro.
Conclamá-la à abnegação e ao laboratório da caridade com elevação de propósitos, inspirando-a ao
incessante prosseguimento das realizações cristãs primitivas, eis um dever que a todos nos cabe
desempenhar.
Pouco importem os contributos de renúncia e de sacrifício. Nesta arrancada para os novos tempos do
amanhã, a mulher espírita desempenhará superior desiderato porque modelada, como todas para ser mãe,
mesmo que suas carnes não se enfloresçam com as expressões dos filhos, far-se-á o anjo tutelar dos
filhos sem mães, mãe pelo coração e pela dedicação a todas as criaturas.

Joanna de Angelis
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58. AFLIÇÕES E LIVRE-ARBITRIO

Ao simples prenúncio do sofrimento logo te insurgiste contra Deus, assumindo uma posição rebelde e
tomando uma atitude derrotista. Quando foste, então, colhido pelos problemas, comezinhos, aliás, e a todas
as criaturas comuns, blateraste: "Deus me esqueceu!"
Convidado a uma mudança de comportamento sob o impositivo da dor, exteriorizaste a irritação, gritando:
"Deus me abandonou!"
Instado ao crescimento espiritual e ao valor moral mediante a complexa engrenagem das provações
redentoras, estertoraste com violência: "Deus está de mal comigo!"
Açodado pelas injunções do pretérito espiritual e pela aflição impelido à meditação, estrugiste: "Estou de
mal com Deus!"
Surpreendido pela lei natural das condições humanas, que se estribam nas ações passadas de cada espírito
em crescimento, a expressar-se em dificuldade e luta contínua, arrazoaste, finalista: "Deus morreu para mim!"
As tuas são reações emocionais infantis, que denotam a necessidade premente que tens de mais dores e mais
aflições, a fim de organizares o mapa de crescimento e de burilamento interior.
Todas as criaturas ascendem ao bem mediante os contributos da experiência, na incessante luta a travar dentro
de si mesmas.
Ninguém que transite na Terra aquinhoado por um regime de exceção. A ganga, a impureza das gemas
preciosas é retirada a golpes de escopros rudes e resistentes. As arestas são sempre arrancadas através de
hábeis esforços e de técnicas apuradas.
Imprescindível preservar o interior, de modo a preencher a finalidade a que se destina.
As aflições têm suas causas atuais no mau uso do livre-arbítrio, por impositivo do egoísmo individual.
A escolha errônea de comportamento gera as conseqüências lamentáveis para a retificação.
Entre uma e outra atitude a tomar, a livre opção traçará o destino feliz ou desventurado de quem a elege.
As causas anteriores das aflições se fixam nas experiências malogradas, nas reencarnações anteriores,
decorrência, ainda, do livre-arbítrio utilizado erroneamente.
Em ti, portanto, os fatores causais das dores que te cumpre vencer a qualquer esforço.
Sem te deteres na rebeldia contumaz ou na dureza dos sentimentos apaixonados, aplica-te a produzir causas
novas impeditivas de aflições. Assim, à medida em que resgatares as passadas, encontrarás os abençoados
frutos da nova sementeira aguardando por ti, um pouco mais à frente.
Não procrastines os deveres nobres.
Um minuto de atenção a alguém angustiado poderá evitar-lhe o inditoso autocídio.
Uma observação gentil, quando convidado a opinar, certamente se fará valiosa junto aos que esperam ajuda.
Um gesto de simpatia, esquecendo o mal estar íntimo, criará solidariedade e interesse em tua volta.
Quantas coisas poderás fazer e de quantos recursos poderás dispor, se quiseres!
Muitas vezes tens dificuldade em discernir para acertar.
Não te olvides, porém, que as leis de Deus estão escritas na consciência de cada ser. Consulta-a,
honestamente, e esta te responderá com segurança.
Se perdurar a dificuldade para que logres a opção feliz, ergue-te pela oração ao Senhor, suplicando-Lhe
claridade mental. Ele te inspirará a gerares hoje as causas ditosas, a fim de não seres surpreendido por novas
e futuras aflições.

Joanna de Angelis
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59. CONSERVA A PAZ

A pretexto algum percas a paz. Tua paz tua vida.


Quando a provocação te chegue, utilizando os ardis e os petardos da violência, permanece em harmonia.
A tua paz é um tesouro de valor inestimável.
Quando a inveja te arroje calúnias e procure ferir os teus propósitos e atos de enobrecimento, não lhe
concedas atenção, perturbando-te. A tua paz é conquista que merece sacrifício a fim de ser preservada.
Quando os alcagüetes da irresponsabilidade semearem acusações indébitas contra ti, não desanimes nem
envenenes a tua serenidade. A tua paz é relevante, a fim de que colimes os objetivos a que te afeiçoas.
Quando a anarquia do despeito arremesse pedradas contundentes contra as tuas tarefas e malsine o teu
nome, mantém-te em clima de tranqüilidade.
A tua paz é o sinal-vitória da tua conduta feliz.
***
Ninguém transita, no mundo, isento da agressão ou da impiedade, da malquerença ou do achincalhe...
As enfermidade morais se nutrem nas paixões dos espíritos torpes ainda carentes de saúde mental.
Sempre estes constituíram os grupos de motejadores, de competidores pela perseguição gratuita. Mesmo
Jesus não esteve imune a eles e às suas tramas...
No entanto, passam com as infelizes artimanhas com que mais se estiolam e se infelicitam...
Não forneças, desse modo, material pelo revide ou pela sustentação da intriga aos adversários da tua
paz. O Senhor sempre tem soluções inesperadas para todos os problemas.
Tais companheiros, problemas em si mesmos, quando oportuno, serão convocados à reflexão mediante
as enfermidades, os dramas morais, as surpresas dos acidentes ou a desencarnação, qual terapêutica
valiosa e salvadora para eles mesmos, a fim de que não se comprometam demais.
Persevera nos teus compromissos nobres, e, servindo ao bem, conserva a tua paz em Jesus.

Joanna de Angelis
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60. PAZ NO NATAL

O Império Romano, que dominava sobranceiro o mundo conhecido, exigia o tributo dos povos
arbitrariamente submetidos.
O recenseamento estabelecido desde os dias de Sérvio Túlio se fazia impositivo natural, como ocorrera
com outros povos.
De certo modo as tubas guerreiras cessaram suas vozes aparvalhantes nos campos de batalhas
devastadoras na Africa, na Espanha, na Alemanha...
Em Roma, a literatura, a escultura e as demais musas se expressavam através dos seus embaixadores,
corporificados na condição de inspirados dos deuses.
O santuário de Jano tinha fechadas as portas. O Império se encontrava em paz e a deusa Vitória
repousava...
Na Palestina, homens e animais, haveres e valores deveriam ser anotados nas fontes de suas origens.
Aqueles eram dias de atividade, de desagrado, também de festa e bulício.
O burgo de Belém, nos cimos das montanhas de Nazaré, regurgitava.
Desde as vésperas haviam acorrido, precipites, os viajantes que se vinham submeter à convocação da
lei.
Nem todos, porém, encontrariam agasalho nas limitadas hospedarias.
Nessa atmosfera de expectativas e contradições Jesus nasceu. Não houve lugar para Ele, senão entre os
animais humildes, na manjedoura singela.
Sob o olhar das estrelas e ante o cicio da brisa ligeira, Ele veio ter com os homens, em plena noite do
solstício do inverno.
Desde então, não encontraria pousada nas paradoxais paisagens da alma humana.
Somente a dor e a necessidade iriam ao Seu encontro, às quais Ele distenderia mãos protetoras e atenção
socorrista.
Toda a Sua vida se desenrolaria entre auto-doações e renúncias.
Em momento algum reivindicaria apoio, consideração, ou destaque entre os que O cercavam.
Excelente Filho de Deus fez-se o menor de todos os que d'Ele se aproximavam, vivendo a lição do
serviço infatigável, sem qualquer reclamação. Não obstante dedicar-se totalmente ao amor, não conheceu
a gratidão, não fruiu a fidelidade sequer dos próprios amigos...
Traído e negado foi posto numa Cruz entre o sarcasmo dos que receberam benefícios das Suas mãos
generosas e a mordacidade da soldadesca leviana. A ninguém acusou, nem solicitou solidariedade de
quem quer que fosse.
Partiu, a sós, diante do coração despedaçado de Sua mãe, da ternura de um jovem, das lágrimas de uma
mulher arrependida das próprias loucuras, de alguns poucos Espíritos sensibilizados e a indiferença de
todo um povo... Estava, porém, com Deus.
***
Nunca te esqueças de Jesus.
O Natal é tua oportunidade de exercitar a fraternidade em nome d'Ele.
Pára e escuta a balada dos sofrimentos, a cantilena triste da orfandade, da viuvez, da enfermidade...
Sai do teu casulo de egoísmo e vai até aos que sofrem, em memória d'Ele.
Se estás a padecer, esquece-te da própria dor e distende a esperança, o pão e o auxílio entre os que estão
em maiores provas que as tuas, sem o lenitivo da fé que possuis.
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Se não tiveres o que ofertar, porque te escasseiam valores amoedados, ora, dá uma parcela dos
sentimentos nobres que vigem no teu íntimo e celebra, na noite evocativa da Natividade, uma diferente,
profunda e perfeita comunhão com Jesus, participando ativamente do abençoado programa de minorar
as dores dos teus irmãos.
Compreenderás, então, porque o cântico dos anjos glorifica o Pai nas alturas, exalta e promete a paz às
criaturas de boa vontade na Terra.

Joanna de Angelis

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