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SISTEMAS HIDRÁULICOS E

PNEUMÁTICOS
AULA 1

Prof. Emerson Seixas


CONVERSA INICIAL

Conhecendo os comandos hidráulicos e pneumáticos

Com o avanço tecnológico, a automação de dispositivos e circuitos


passou a se tornar peça chave na expansão e no desenvolvimento econômico
das indústrias mundiais. Alguns princípios da ciência foram aplicados em
componentes que passaram a fazer parte não só do processo de fabricação,
mas em itens primordiais utilizados nos sistemas internos dos automóveis.
Alguns são considerados itens de série e outros, itens opcionais.
Nesta aula, estudaremos os principais conceitos que envolvem os
fluidos, mas será dada maior ênfase à pneumática, pois inúmeros princípios
são os mesmos aplicados aos circuitos hidráulicos.
Muitos mecanismos utilizados para exercer um processo, seja em
máquinas industriais, máquinas hospitalares, máquinas profissionais ou em
veículos (de passeio ou utilitários), necessitam de um fluido para desenvolver
uma força.
Para compreender melhor os fundamentos e princípios da hidráulica e
da pneumática, que frequentemente são denominados energia fluida,
convidamos você a estudar esse tema e nos acompanhar nesta aula.

TEMA 1 – CONCEITOS

Os conceitos básicos necessários para se entender os comandos


hidráulicos e pneumáticos têm por natureza os princípios da mecânica dos
fluidos aplicados à automação. Desta forma, Stewart (1981), Fialho (2019) e
Bonacorso (2013) citam alguns termos necessários para entender melhor sobre
esta ciência, que são:

• Fluido: substância contínua e amorfa (gases e líquidos) cujas moléculas


se movimentam livremente, podendo assumir a forma do recipiente que
a contém.
• Hidráulica: derivação de duas palavras de origem grega, hydra (água)
+ aulos (condução, aula, tubo). Sendo assim, é a ciência que estuda os
fluidos em escoamento e sob pressão.
• Pneumática: derivação de duas palavras de origem grega, pneuma (ar,
fôlego, respiração, vento, sopro) + matic (automático, movimento).

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Na prática, são utilizados dois fluidos: óleo e ar comprimido. Quando o
fluido utilizado em um sistema for óleo, denominamos sistema hidráulico.
Quando o fluido utilizado em um sistema for o ar, denominamos sistema
pneumático.

1.1 Pneumática

O grego Ktesíbios de Alexandria, que viveu por volta do ano 250 a.C., foi
considerado o primeiro engenheiro da história e chamado de "pai da
pneumática", utilizando ar comprimido como meio auxiliar de trabalho em
alguns de seus inventos. Sua aplicação tornou-se comum em meados do
século XIX na mineração, construção civil e na indústria ferroviária (freios a ar
comprimido). A introdução da pneumática na produção industrial começou após
o ano de 1950.
Define-se pneumática como a ciência que estuda as propriedades físicas
do ar e de outros gases, bem como seu comportamento, seus movimentos e
fenômenos. Sendo assim, pode-se dizer que a pneumática comprime o ar
usando-o como principal elemento de trabalho (Stewart, 1981; Bonacorso,
2013).

1.2 Ar atmosférico e ar comprimido

Segundo Dorneles (2008), o ar atmosférico é uma substância etérea,


semelhante ao éter, ou seja, volátil, invisível e que pode ser percebida por meio
dos sentidos.
O ar atmosférico é composto por 78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e
1% de outros gases ou substâncias, como hidrogênio, vapores de água,
monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), gases nobres e
partículas sólidas em suspensão.
O monóxido de carbono (CO) é um gás inodoro, muito tóxico e perigoso.
Esse gás é produzido pela queima de produtos derivados de petróleo expelidos
pelos motores dos veículos, bem como pela queima de materiais ricos em
carbono. O CO em grande quantidade na atmosfera pode afetar a camada de
ozônio, a qual é responsável pela filtragem dos raios solares. Os raios solares,
ao incidirem sobre a Terra, fazem a temperatura se elevar, causando o
chamado efeito estufa.

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Para Dorneles (2008), o ar comprimido usado na transmissão de energia
é resultante da mistura de gases e substâncias que compõem o ar atmosférico,
a uma pressão superior à da atmosfera normal. A essa pressão, o usuário
precisa observar certas preocupações para evitar acidentes, que podem ser
fatais. Embora pareça inofensivo, o ar comprimido deve ser tratado com
cautela, pois, se por um lado facilita o trabalho, por outro, pode causar sérios
danos, pois as substâncias contidas no ar podem provocar infecções se em
contato com ferimentos expostos ou até mesmo a morte por infecção
generalizada quando inalado.
Nos mais diversos ramos industriais, o ar comprimido tornou-se
indispensável. Suas principais vantagens são:

• Quantidade: o ar a ser comprimido encontra-se em quantidade ilimitada,


praticamente em todos os lugares.
• Transporte: o ar comprimido é facilmente transportável por tubulações,
mesmo a grandes distâncias.
• Armazenagem: após o processo de compressão, o ar pode ser
armazenado em um reservatório. Posteriormente, pode ser retirado e
utilizado conforme as necessidades.
• Temperatura: o trabalho realizado com ar comprimido é insensível a
oscilações de temperatura. Consegue-se um funcionamento seguro em
situações térmicas extremas.
• Segurança: não há perigo de explosão ou incêndio.
• Segurança contra sobrecarga: os elementos de trabalho são
carregáveis até a parada final, sem prejuízo para o equipamento.
• Construção: os elementos de trabalho são de construção simples.
• Velocidade: permite alcançar altas velocidades de trabalho.
• Regulagem: as velocidades e forças são reguláveis sem escala.
• Limpeza: o ar que escapa pelas tubulações não é tóxico ou poluente,
mas necessita de cuidados e manutenção.

No entanto, possui também algumas desvantagens:

• Condensação: a umidade arrastada pelo ar, contida no interior da


tubulação, condensa e forma um coalho. Este coalho provoca acúmulo
de organismos vivos, que em contato com a pele machucada ou ao ser

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inalado ocasiona graves riscos à saúde. Portanto, essa umidade deve
ser removida e descartada em esgotos seguros.
• Preparação: impurezas e umidades devem ser evitadas, pois provocam
desgastes nos elementos pneumáticos.
• Compressibilidade: não é possível manter constantes as velocidades
de elementos de trabalho.
• Potência: o ar é econômico até determinada força, sendo o limite de
3.000 Kgf.
• Escape de ar: o escape é ruidoso.
• Custos: a produção do ar comprimido é onerosa, pois depende de outra
forma de energia. O custo do ar comprimido torna-se elevado se na rede
de distribuição e nos equipamentos existirem vazamentos consideráveis.

TEMA 2 – SISTEMAS DE MEDIDAS

Os sistemas utilizados para os comandos hidráulicos e pneumáticos são


o sistema internacional (SI) e o sistema técnico para unidades derivadas.

Quadro 1 – Sistemas de medidas para os comandos hidráulicos e pneumáticos

Sistema Internacional (SI)


Grandeza Unidade Símbolo
Massa quilograma kg
Corrente elétrica ampère A
Tempo segundo s
Temperatura kelvin K
Comprimento metro M
Quantidade de matéria mol mol
Intensidade luminosa candela cd

Grandezas derivadas do SI
Grandeza Unidade
Força (F) Newton (N) 1 N = 1 kg.m.s-2
Pressão (p) Pascal (Pa) 1 Pa = 1 N/m2
bar 1 bar ≅ 1 N/cm2

Energia, trabalho e quant. calor (𝜏𝜏 ) Joule (J) 1 J = 1N.m

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Potência (P) watt (W) 1 W = 1 N.m.s-1

2.1 Força

Segundo Halliday (2012), força é toda causa capaz de modificar o


estado de repouso ou movimento de um corpo. Para exprimi-la, existem várias
unidades de medida.
As unidades de medida mais usadas são:

• Unidade métrica: kgf (quilograma-força), kp, kg.


• Unidade inglesa: lbf (libra-força), lb.

O fator de conversão pode ser relacionado da seguinte forma:


1 lbf = 0,454 kgf

2.2 Pressão

Para Stewart (1981), pressão é a principal fonte de energia hidráulica e


pneumática. É definida como a relação entre a componente normal de uma
força e a área onde está sendo aplicada. As unidades de pressão são a
unidade métrica e a unidade inglesa.

Unidade métrica:
• kgf/cm2 (quilograma-força por centímetro quadrado);
• atm (atmosfera – a pressão atmosférica exercida sobre a superfície da
Terra);
• bar (do grego barys, que significa pesado).

Unidade inglesa:
• lbf/pol2 ou psi (pounds per square inch, que significa libra-força por
polegada quadrada);

O fator de conversão pode ser relacionado da seguinte forma:

1 bar = 14,7 psi


1 kgf/cm2 = 14,7 lbf/pol2

Isso é expresso pela seguinte fórmula:


𝐹𝐹
𝑃𝑃 =
𝐴𝐴

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Em que:
• P = pressão em kgf/cm2, atm ou bar;
• F = força em kgf;
• A = área em cm2.

Figura 1 – Geração de pressão

Crédito: Flávio Oliveira.

Exemplo: aplicando uma força de 10 kgf sobre a tampa de um recipiente


cheio de ar e sabendo que a área dessa tampa é de 10 cm2, a pressão gerada
será:

𝐹𝐹 10 kgf
𝑃𝑃 = = = 1 kgf/cm2 ≅ 1 atm ≅ 1 bar
𝐴𝐴 10 cm2

Com isso, a pressão gerada no recipiente é igual a 1 kgf/cm2 ≅ 1 atm ≅


1 bar.

2.3 Temperatura

De acordo com Halliday (2012), temperatura é a quantidade de energia


calorífica em trânsito. A temperatura indica a intensidade de calor.

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As unidades de medida mais usadas são:

• Unidade métrica: K (Kelvin);


• Outras unidades: °C (grau Celsius ou centígrado); °F (grau Farenheit);
°R (grau Reamur).

Essas unidades podem ser relacionadas da seguinte forma:

𝐶𝐶 𝑅𝑅 𝐹𝐹− 32
0 °C = 273K e = =
5 4 9

2.4 Torque

Segundo Halliday (2012), torque é a força aplicada em um objeto de tal


forma que lhe causa movimento giratório (força de torção).

Unidades de medida:
• Kgm (quilograma-metro ou kilogrâmetro);
o 1 kgm = 9,81 Nm;
o 1 Nm = 0,1019 kgm.

Sendo assim, podemos notar que, se aplicarmos uma força de 30 kgf em


um parafuso, com uma chave de cabo de 1 metro, produzimos nele um torque
de 30 kgm.

2.5 Vazão

De acordo com Halliday (2012), vazão é a quantidade de matéria que


passa por certo espaço em determinado período de tempo. Essa matéria pode
estar em três estados físicos: sólido, líquido e gasoso.

• Sólido: carros que passam na praça de pedágio em uma rodovia


(carros/hora).
• Líquido: litros que uma torneira jorra (litros por minuto – l/min).
• Gasoso: pés cúbicos por minuto (pcm) que um compressor desloca.

Unidades de medida:

• 1 l/min = 0,035 pcm;


• 1 pcm = 28,3 l/min.

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TEMA 3 – PROPRIEDADES DOS GASES

Como qualquer substância, os gases têm certas propriedades


específicas. Essas propriedades são a compressibilidade, a elasticidade, a
expansibilidade e a difusibilidade.

• Compressibilidade: é a propriedade que o gás tem de permitir a


redução do seu volume sob a ação de uma força exterior.
• Elasticidade: é a propriedade que permite ao gás retornar a seu volume
primitivo uma vez cessada a força exterior que o havia comprimido.
• Expansibilidade: é a propriedade que o gás tem de ocupar sempre o
espaço ou volume total dos recipientes. A expansibilidade é o inverso da
compressibilidade.
• Difusibilidade: é a propriedade pela qual um gás ou vapor, em contato
com o ar, se mistura intimamente com ele.
• Peso do ar: o ar tem peso, sendo assim, em um litro de ar a 0 °C e ao
nível do mar, pesa 1,293 x 10-3 Kgf. Com isso, o ar aquecido é mais leve
(menos denso) que o ar frio.

3.1 Lei dos gases perfeitos

Do estudo das propriedades dos gases resultam algumas leis: Lei de


Boyle-Mariotte, Lei de Charles e Lei de Gay-Lussac.

3.1.1 Lei de Boyle-Mariotte

Estudando as propriedades dos gases, o irlandês Robert Boyle e a


francesa Edna Mariotte chegaram à conclusão de que, a uma temperatura
constante, um gás ocupa um volume inversamente proporcional à pressão
exercida sobre ele. Ao reduzir o volume de um gás, a pressão aumenta
proporcionalmente, conforme demonstrado no exemplo a seguir.
Se o volume do recipiente for reduzido pela metade, a pressão no seu
interior aumenta o dobro (Figura 2).

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Figura 2 – Esquema da lei de Boyle-Mariotte

Crédito: Flávio Oliveira.

Se P . V é constante, então, P1 . V1 = P2 . V2

3.1.2 Lei de Charles

O francês Jacques Alexandre Charles estudou as propriedades dos


gases e chegou à seguinte conclusão: mantendo um gás a uma pressão
constante dentro de um recipiente, ao aquecê-lo ou resfriá-lo, o volume é
diretamente proporcional à temperatura absoluta (K). Ao aumentar a
temperatura do gás, o seu volume cresce proporcionalmente conforme
exemplo demonstrado a seguir.
Se o ar do recipiente for aquecido ao dobro da temperatura inicial, o
volume se expande ao dobro (Figura 3).

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Figura 3 – Esquema da lei de Charles

Crédito: Flávio Oliveira.

𝑉𝑉 𝑉𝑉1 𝑉𝑉2
Se é constante, então, =
𝑇𝑇 𝑇𝑇1 𝑇𝑇2

3.1.3 Lei de Gay-Lussac

Com base em determinado volume de gás isolado em um reservatório, o


francês Joseph Louis Gay-Lussac concluiu que a pressão exercida pelo gás é
diretamente proporcional à temperatura absoluta (K). Ele notou que, como o
volume do gás não pode ser alterado porque o reservatório é fechado, ao
aumentar a temperatura desse gás, sua pressão cresce proporcionalmente,
conforme demostrado no exemplo a seguir.
Se o ar do recipiente fechado for aquecido ao dobro da temperatura, sua
pressão aumenta ao dobro (Figura 4).

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Figura 4 – Esquema da lei de Gay-Lussac

Crédito: Flávio Oliveira.

𝑃𝑃 𝑃𝑃1 𝑃𝑃2
Se é constante, então, =
𝑇𝑇 𝑇𝑇1 𝑇𝑇2

Combinando as leis de Boyle-Mariotte, de Charles e de Gay-Lussac,


obtemos a Lei Geral dos Gases Perfeitos.

Quadro 2 – Lei Geral dos Gases Perfeitos

P . V = constante 𝑉𝑉 𝑃𝑃
= constante = constante
𝑇𝑇 𝑇𝑇
Boyle-Mariotte, Charles Gay-Lussac

𝑃𝑃 𝑉𝑉 𝑃𝑃 . 𝑉𝑉
Log, . é constante, então,
𝑇𝑇 𝑇𝑇 𝑇𝑇
𝑃𝑃1 . 𝑉𝑉1 𝑃𝑃2 . 𝑉𝑉2
Portanto, =
𝑇𝑇1 𝑇𝑇2
Em que:
• P = pressão em bar;
• V = volume em m3;
• T = temperatura em K.

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Exemplo 1: um reservatório contém 12 m3 de ar comprimido a uma pressão de
3 bar. Reduzindo o volume para 9m3, determine a pressão final.

V1 = 12 m3
P1 = 3 bar
V2 = 9 m3
P2 = ?

P1 . V1 = P2 . V2
3 . 12 = P2 . 9
36 = P2 . 9
36
P2 =
9
P2 = 4 bar

Exemplo 2: um tanque contém 10 m3 de ar comprimido a uma temperatura de


300 K. Aumentando a temperatura para 420 K, determine o volume final.

V1 = 10 m3
T1 = 300 K
T2 = 420 K
V2 = ?

𝑉𝑉1 𝑉𝑉2
=
𝑇𝑇1 𝑇𝑇2
10 𝑉𝑉2
=
300 420
420 .10
V2 =
300
4200
V2 =
300
V2 = 14 m3

Exemplo 3: um reservatório contendo ar comprimido a uma pressão de 7 bar


está a uma temperatura de 21 °C. Aumentando a pressão para 9 bar,
determine a temperatura final em graus Celsius.

P1 = 7 bar
T1 = 21 °C
P2 = 9 bar

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T2 = ?

𝑃𝑃1 𝑃𝑃2
=
𝑇𝑇1 𝑇𝑇2
7 9
=
21 𝑇𝑇2
7T2 = 21 . 9
189
T2 =
7
T2 = 27 °C

Exemplo 4: um tanque contém 16 m3 de ar comprimido a uma pressão de 4


bar e a uma temperatura de 320 K. Reduzindo o volume para 15 m3, a
temperatura subiu para 450 K. Determine o volume final.

V1 = 16 m3
P1 = 4 bar
T1 = 320 K
V2 = 15 m3
T2 = 450 K
P2 = ?

𝑃𝑃1 . 𝑉𝑉1 𝑃𝑃2 . 𝑉𝑉2


=
𝑇𝑇1 𝑇𝑇2
4 . 16 𝑃𝑃2 . 15
=
320 450
64 𝑃𝑃2 . 15
=
320 450
64 . 450 = P2 . 15 . 320
28800
P2 =
4800
P2 = 6 bar

TEMA 4 – PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE AR COMPRIMIDO

Para a produção de ar comprimido, são necessários compressores, os


quais comprimem o ar para a pressão de trabalho desejada em uma estação
central de distribuição de ar comprimido. Na maioria dos casos, os gases

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succionados pelo compressor contêm contaminantes, e estes possuem água,
óleo e poeira, que produzem bactérias no interior das tubulações. A
compressão do ar aumenta a temperatura, porém, quando o ar é resfriado a
pressão constante, a temperatura tende a cair. O vapor será igual à pressão de
saturação no ponto de orvalho.
Segundo Dorneles (2008), o ponto de orvalho é o estado termodinâmico
que corresponde ao início da condensação do vapor de água. Quando o ar
úmido é resfriado e a pressão parcial do vapor é constante, tal condensação
produzida na mistura de água e óleo lubrificante provoca defeitos nos
equipamentos pneumáticos, como:

• Oxidação da tubulação: impede o perfeito funcionamento dos


componentes e aparelhos pneumáticos.
• Desgaste prematuro: o arraste de partículas sólidas desgasta os
componentes internos das válvulas, cilindros, entre outros, provocando
baixo rendimento e aumento do índice de manutenção.
• Condenação da rede de ar: impossibilidade de utilização de
equipamentos específicos, como pulverizadores, inaladores, bombas de
vácuo, entre outros.

Por isso, a pureza do ar auxilia muito. O ar limpo garante uma longa vida
útil aos equipamentos e à instalação. Desta forma, ao projetar uma rede de ar
comprimido, deve-se prever a ampliação e a aquisição de novos equipamentos
pneumáticos, que devem ser identificados pela cor azul (Figura 5).

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Figura 5 – Rede de distribuição de ar comprimido

Crédito: Jefferson Schinaider.

No quadro a seguir, temos a indicação das redes de distribuição de ar


comprimido da Figura 5.

Quadro 3 – Rede de distribuição de ar comprimido

1. Compressor a parafuso 7. Secador


2. Resfriador posterior ar/ar 8. Purgador automático eletrônico
3. Separador de condensados 9. Pré-filtro coalescente grau x
4. Reservatório 10. Pré-filtro coalescente grau y
5. Purgador automático 11. Pré-filtro coalescente grau z
6. Pré-filtro coalescente 12. Separador de água e óleo

4.1 Instalação

Segundo Dorneles (2008), a rede de distribuição possui como


característica básica comunicar os equipamentos produtores de ar comprimido
aos equipamentos consumidores deste ar, além de ser um reservatório de
consumo local dos equipamentos. Com isso, o dimensionamento da rede deve

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estar de acordo com a capacidade do compressor, para que consiga suprir a
demanda dos equipamentos consumidores. Dessa forma, o dimensionamento
do compressor também deverá atender ao comprimento da rede, sem
comprometer a vazão e a pressão necessária para acionar os equipamentos
Há dois tipos de redes, que devem ser previstos em projeto: a primeira é
do tipo circuito fechado (anel) (figura 6) e a outra é do tipo circuito aberto (figura
7). O circuito fechado mantém a pressão constante na linha, auxilia nas
ramificações para diferentes pontos de equipamentos consumidores e
proporciona uma distribuição uniforme de ar comprimido.

Figura 6 – Circuito fechado (anel)

Figura 7 – Circuito aberto

As tubulações devem ser de baixa corrosão, bem como de fácil


instalação. Os materiais mais utilizados nas tubulações são cobre, latão, ferro
fundido e aço galvanizado. As conexões podem ser roscadas, soldadas,
flangeadas ou de acoplamento rápido, e perfeitamente vedadas. O maior
cuidado a ser tomado ao montar as tubulações e conexões é com os

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vazamentos, pois estes fazem com que haja perdas de pressão entre o
compressor e os equipamentos consumidores.
A rede deve ser instalada com uma inclinação que varia entre 0,5 e 2%
do comprimento. Isso fará com que não haja arraste do líquido (água e óleo)
que não foi expelido pelos drenos, transportado para o final da rede. As
descidas para as máquinas devem ser montadas com conexões do tipo T
voltadas para cima e, em seguida, com uma curva para baixo, semelhante ao
cabo de guarda-chuva, o que recebe o nome de pescoço de cisne ou bengala.
Essas curvaturas impedem o arraste de impurezas e umidade. É necessária a
instalação de purgadores (drenos) na linha para remoção de umidade. Esses
purgadores podem ser manuais ou automáticos, distanciados entre 20 e 30 m
um do outro (Figura 8).

Figura 8 – Inclinação e curvatura das descidas

O raio de curvatura do circuito deve ser longo, para que não haja
turbulência e/ou cavitação na linha. No final de linha ou em locais estratégicos,
é necessário instalar válvulas de fechamento, pois isso permite a divisão por
seções, bem como facilita inspeção, modificações e manutenções isoladas.

TEMA 5 – COMPRESSORES

Os compressores são máquinas utilizadas para captar, aprisionar e


elevar a pressão de determinado volume de ar. Conforme as necessidades
fabris, serão empregados compressores de diversos tipos de construção. Para

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a compressão a pressões mais elevadas, são necessários compressores de
vários estágios.

Figura 9 – Simbologia do compressor

Há vários modelos de compressores como demonstrado no


organograma a seguir:

Figura 10 – Modelos de compressores

Mas ainda é necessário compreender outras partes que compõem o


compressor, como o cabeçote e o pistão (êmbolo).

5.1 Cabeçote e pistão

O cabeçote é uma peça construída em ferro fundido, aço ou inox.


Normalmente, possui aletas nas laterais, denominadas nervuras, que servem
para dissipar o calor emitido quando está em funcionamento.

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Figura 11 – Cabeçote

Crédito: A_V_D/Shutterstock.

A parte interna apresenta boa resistência ao desgaste, além de possuir


canais (galerias) em que percorre óleo para lubrificação do pistão. Em alguns
casos há galerias em que percorre água para refrigeração do cabeçote.
Existem cabeçotes produzidos em liga de alumínio e plástico, porém,
estes necessitam de um tubo (alma) de aço interno, denominado cilindro ou
camisa, por onde o pistão irá deslizar.
O pistão (êmbolo) é uma peça fabricada em ferro fundido ou liga de
alumínio, a qual normalmente possui formato cilíndrico, justamente para
percorrer a camisa do cabeçote. Pode ser fabricado com a haste móvel ou fixa.
Se a haste for móvel (biela), é então fixada por um pino no pistão e a biela é
presa ao virabrequim. Na figura a seguir podemos identificar o pistão, a biela e,
atrás, a camisa onde o pistão desliza.

Figura 12 – Pistão, biela e camisa

Crédito: Withgod/Shutterstock.

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Nesta figura, podemos observar o conjunto do pistão, biela e
virabrequim.

Figura 12 – Conjunto do pistão, biela e virabrequim

Crédito: Bernardo Guerriera/Shutterstock.

Para o pistão com haste este é fixado a um eixo do tipo came, figura 9.

Figura 13 – Pistão com haste fixa

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5.2 Compressor de simples efeito ou compressor tipo tronco

Esse modelo de compressor possui uma câmara de compressão em que


apenas a face superior do pistão (êmbolo) aspira e comprime o ar. O pistão é
preso a uma biela que, por sua vez, está presa a um virabrequim. Esse
compressor também é conhecido como compressor alternativo, devido à
movimentação alternada, ora aspirando, ora comprimindo (Figura 14).

Figura 14 – Câmara de compressão e compressor tipo tronco.

Fonte: Elaborado com base em Dorneles, 2008, p. 12.


Crédito: Studio Harmony/Shutterstock.

5.3 Compressor de duplo efeito ou compressor tipo cruzeta

Esse modelo de compressor possui duas câmaras de compressão, em


que ambas as faces superiores do pistão (êmbolo) aspiram e comprimem o ar.
O pistão é preso a uma biela que, por sua vez, está presa a uma cruzeta no
virabrequim.

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Figura 15 – Compressor de duplo efeito ou compressor tipo cruzeta

Crédito: Olegsam/Shutterstock.

O ar será comprimido pelo primeiro êmbolo (pistão), refrigerado


intermediariamente e novamente comprimido pelo próximo êmbolo. Na
compressão a altas pressões, faz-se necessária uma refrigeração
intermediária, pois cria-se alto aquecimento. Os compressores de êmbolo são
fabricados em execuções refrigeradas a água ou a ar (Figura 16).

Figura 16 – Compressores de dois estágios com refrigeração intermediária

Os compressores de êmbolo com movimento linear apresentam grande


vantagem:

• Até 4 bar: um estágio.


• Até 15 bar: dois estágios.
• Acima de 15 bar: três ou mais estágios.

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Figura 17 – Compressores de êmbolo com movimento linear

Crédito: Fouad A. Saad/Shutterstock.

Possível, mas nem sempre econômico:

• Até 12 bar: um estágio.


• Até 30 bar: dois estágios.
• Até 220 bar: três estágios.

5.4 Compressor de membrana (diafragma)

Esse modelo de compressor pertence ao grupo dos compressores de


êmbolo. Mediante uma membrana, o êmbolo fica separado da câmara de
sucção e compressão, ou seja, o ar não terá contato com as partes deslizantes
e, portanto, ficará sempre livre de resíduos de óleo. Estes compressores são os
preferidos e mais empregados na indústria alimentícia, farmacêutica e química
(Figura 18).

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Figura 18 – Compressores de membrana (diafragma)

Fonte: Elaborado com base em Dorneles, 2008, p. 14.


Crédito: Mykhbuh/Shutterstock.

5.5 Compressor Root

No modelo de compressor do tipo Root (raíz), o ar é transportado de um


lado para o outro, sem alteração de volume. A compressão (vedação) é
efetuada no lado da pressão pelos cantos dos lóbulos.

Figura 19 – Compressor Root

Crédito: Timof/Shutterstock.

Esse modelo é bastante comum nos carros com blower (soprador)


supercharger.

Figura 20 – Blower supercharger

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Crédito: Performance Portraits/Shutterstock.

5.6 Compressor a parafuso

O compressor a parafuso possui uma carcaça onde giram dois rotores


helicoidais em sentidos opostos, um com lóbulos convexos e o outro com
lóbulos côncavos, ou seja, rotores macho e fêmea. A compressão se processa
pela aceleração do ar aspirado de câmara para câmara, em direção à saída.

Figura 21 – Compressor a parafuso

Crédito: Fotogrin/Shutterstock.

O ar é impelido axialmente para as paredes da câmara e,


posteriormente, em direção ao eixo e, então, no sentido radial, para outra
câmara sucessivamente.
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Como é um compressor que aquece muito, é necessário que esteja em
local ventilado e que sua temperatura seja constantemente monitorada. A
manutenção preventiva é feita mediante ações simples, como verificação do
nível de óleo no cárter; ventilação externa, limpeza de válvulas e limpeza ou
substituição do filtro de ar.

FINALIZANDO

Nesta aula, procuramos demonstrar de forma clara os princípios dos


comandos hidráulicos e pneumáticos, bem como os conceitos envolvidos e os
princípios da mecânica dos fluidos.
Foi possível entender o que significam os termos fluido, hidráulica e
pneumática. Compreendemos os princípios físico-químicos do ar atmosférico e
do ar comprimido, observando suas vantagens e desvantagens. Além disso,
entendemos conceitos sobre força, pressão, temperatura, torque e vazão.
Vimos as propriedades dos gases, os sistemas de medidas utilizando o
Sistema Internacional SI e suas derivadas para compreender melhor as leis
dos gases perfeitos, e os experimentos que ali foram aplicados, para depois
abordarmos cálculos simples e rápidos.
Depois de termos entendido os conceitos dos gases, podemos ter uma
noção mais abrangente sobre a produção e distribuição de ar comprimido, bem
como compreender os equipamentos e características de cada um. Ainda
podemos interpretá-los por meio das leis que os regem para, enfim, sabermos
identificá-los e posicioná-los na rede de distribuição.

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REFERÊNCIAS

BONACORSO, N. G.; NOLL, V. Automação eletropneumática. 12 ed. São


Paulo: Érica, 2013.

FIALHO, A. B. Automação hidráulica – projeto, dimensionamento e análise


de circuitos. 7 ed. São Paulo: Érica, 2019.

HALLIDAY, D.; RESNICK, R; WALKER, J. Fundamentos de física, volume 1:


mecânica. 9 ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2012.

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