Você está na página 1de 3

O PARADOXO DO PUXA-SACO E O

PARADIGMA DO ELOGIADO
P OR T IAGO CRUZ S OARES *

Elogiar nunca foi algo fácil, sua prática é complexa e está comprometida
por uma cultura adversarial, cética e desconfiada. Convivemos com uma geração
que não sabe receber elogios, uma geração muito mais propensa a fazer e
receber críticas, diminuindo o valor do outro, do que reconhecendo uma
qualidade. Esta tendência pode ser explicada pelo fato de que o elogio (falso) é
frequentemente usado como ferramenta para conquistar a simpatia do outro e
assim obter algo em troca, normalmente acontece após aquele falso elogio.

Na verdade, a maioria não sabe diferenciar um elogio de um ato de


“puxar-o-saco” e isso ocorre porque quem o recebe, lida com dificuldades em
reconhecer seus méritos ou qualidades daquela coisa elogiada, ou mesmo sequer
acredita que determinada coisa tenha o valor recebido por aquele elogio.

Um elogio é uma expressão de admiração ou aprovação por alguém ou


alguma coisa. Pode ser uma observação positiva sobre uma pessoa, como suas
habilidades, aparência ou personalidade, ou sobre alguma coisa, como um objeto
bonito, um serviço bem-feito, uma obra de arte ou mesmo uma organização.

Elogios são maneiras amigáveis de reconhecer qualidades positivas, ou


melhor, são uma forma de reconhecimento que pode melhorar a autoestima de
quem os recebe, construindo relacionamentos saudáveis, positivos, promovendo
motivações, elevando a confiança, melhorando o bem-estar e a satisfação.

Por outro lado, "Puxar-o-saco" é uma expressão pejorativa que sugere


que alguém está fazendo um elogio falso e fingido, geralmente com a intenção
de agradar para obter algum benefício. O paradigma do puxa-saco destaca a
1 2

hipocrisia e a insinceridade dos elogios que são dados com o intuito de manipular
de

ou enganar outra pessoa. Esse termo é usado para descrever a situação em que
Página

uma pessoa faz elogios falsos com o objetivo de se aproximar ou ganhar


vantagem sobre alguém. Portanto todo puxa-saco busca obter alguma vantagem
se valendo do artificio do elogio. Porém se não há segundas intenções, ou
vantagens a serem trilhadas, é provável que aquele elogio seja mesmo sincero e
busque apenas preservar a integridade e a confiança nas relações humanas.

Acredito que nem sempre será possível identificar se um elogio é


verdadeiro ou falso, não por erro do emissor, mas pelo nosso como receptor da
mensagem, que somadas a nossas experiencias, crenças, inseguranças e cultura
interpretamos os outros com base em nós mesmos.

Já a crítica é uma observação, uma avaliação negativa sobre alguém ou


algo. A crítica ostenta uma certa arrogância de superioridade, ela julga e avalia
aquela coisa, atitude ou pessoa. Comumente vem transvestida de “boas
intenções”, é vomitada como uma “observação construtiva” com o “objetivo de
ajudar a melhorar ou corrigir alguma coisa”. Enfim, tudo e todos na vida estão
sob julgamento crítico e tudo pode ser melhorado, mas poucos reconhecem as
coisas boas e isso que precisa ser entendido.

Voltando ao ponto inicial, as pessoas estão mais propensas a desconfiar


do elogio e acreditar na crítica por várias razões, entre elas porque a crítica é
mais objetiva do que o elogio, fornecendo informações claras sobre o que precisa
ser corrigido e melhorado.

A crítica também ocorre sobre pretexto de que com os erros apontados,


é possível corrigi-los, e assim se torna uma ferramenta para o aprendizado e
crescimento. Também é comumente usada como instrumento de controle e
ameaça, podendo o criticado perder o emprego, a organização ser fechada ou o
acordo encerrado caso o problema apontado pela crítica não seja resolvido e
lidado adequadamente

Nossa cultura e normas sociais teorizam que a crítica é uma forma de


mostrar preocupação ou de ajudar a corrigir e melhorar a vida. Na prática ela
2 2
de

normalmente desmoraliza, desmotiva e muitas vezes pode ser entendido como


ofensa, independente disso, sua constância gera um impacto negativo na
Página

autoestima e no bem-estar emocional de todos. É provavelmente por isso, pelo


excesso de críticas, que muitas pessoas não sabem lidar, receber e transmitir um
elogio, seja por falta de confiança em si mesmas, medo, insegurança ou mesmo
por não acreditarem que aquilo seria digno de tal admiração.

Muitas gente aprendeu a não confiar no elogio por estarem


acostumadas a críticas seja recebendo ou fazendo. Independentemente das
razões que levam uma pessoas a desconfiar de um elogio e aceitar uma crítica,
é crucial entender o valor positivo que este elogio traz como reconhecimento,
independente dele ser verdadeiro ou falso.

Mais importante ainda é que todo elogio seja recebido com gratidão e
reconhecimento e jamais deve ser motivo de chacota entre seus pares, devendo
ser tratado com respeito, evitando ser compartilhado de forma desacreditada
com base em seu julgamento, já que como dito antes, você pode estar com sua
percepção contaminada por suas experiencias negativas e, pior, poderá
prejudicar a credibilidade da fonte, causar danos a terceiros e impedir que
floresça outros bons motivos.

Por fim, o segredo aqui entendo ser a busca incessante por quebrar
paradigmas e enfrentar paradoxos, não deixando aquele seu ambiente toxico,
cheio de descrédito e desconfiança interferir. Passe a enfrentar sua insegurança
e aprenda a dar e receber elogios, independente da intenção alheia, pois somente
assim poderá contribuir na construção de ambientes saudáveis, positivos e ricos
em incentivo.

*
Tiago Cruz Soares é advogado, especialista em Negociação de Conflitos (Harvard), Pós-graduado em Gestão (MBA-FGV),
Mestrando em Dinâmicas Regionais e Desenvolvimento (PGDREDES-UFRGS), Bel. Administração de Empresas (ESPM) e Bel.
Direito (UNISC). Mediador Judicial de Conflitos (TJRS), certificado e inscrito no quadro nacional de mediadores do CNJ. Diretor
3

no IBDFAM/RS, Núcleo Litoral Norte e Presidente da Comissão Especial de Direito Empresarial e Tributário da OAB-RS
Subseção Capão da Canoa. E-mail: contato@tiagocruzsoares.com.br
de
3
Página

Você também pode gostar