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Um dos desgastes mais estressantes da liderança eclesiástica que um pastor pode sofrer é a rejeição por parte de seus

membros. Situação esta que pode ser consequência do tempo pastoral que já tenha ultrapassado os limites de uma possível
sucessão ministerial ou, ainda, pode ser o custo da liderança pelo qual o ministro naturalmente passa na administração da
igreja local. É preciso que saibamos distinguir a rejeição gerada pelo tempo saturado na igreja daquela gerada pela prova da
liderança que vivenciamos. Caso seja a primeira, não adianta relutarmos em ficar na igreja, se não estamos nos dando bem
e vemos a igreja sofrer não é sensato permanecer, caso contrário será um desastre. É imprescindível que o pastor saiba
distinguir estas duas situações de rejeição, evitando ainda outra rejeição maior no ministério – a de Deus! Identificar ambas
o quanto antes é imprescindível para a tomada de uma decisão assertiva.
Lários (2016) lista alguns tipos de rejeição que estão relacionados mais com os custos da liderança do que com a
permanência do pastor na igreja: 1) REJEIÇÃO À PALAVRA DO PREGADOR: Essa é uma das rejeições mais comuns e
todo pregador sente isso em algum momento. 2) REJEIÇÃO À PESSOA DO OBREIRO: Existem obreiros carismáticos e
outros nem tanto. NÃO DÁ PARA AGRADAR A TODOS O TEMPO TODO. Jesus veio com um objetivo de Deus para o seu
Ministério, que era pregar e ensinar sobre o Reino de Deus, Ele obedeceu a sua meta e fez isso até o fim, se foi Deus quem
nos levantou para a sua obra, não deveríamos ficar preocupados se estão nos aceitando ou não.
Outra situação que pode confundir nossa decisão pessoal quanto a permanência na igreja local é o surgimento de
crises. Quando a igreja está passando por um período sem crises, no qual há crescimento material e desenvolvimento
espiritual, muitos veem isso como um sinalizador de que o ideal é que continuem na gestão da atual igreja. No entanto,
quando surgem as crises achamos que é “a sirene de incêndio alarmando que há fogo”, advertindo-nos para uma iminente
saída, porém nem sempre é assim.
A imprevisibilidade das tempestades transitórias no ministério, a falta de discernimento do tempo divino e a
impotência de resolver problemas e mediar conflitos às vezes são os motivos pelos quais somos levados a tomar decisões
emergenciais como, por exemplo, a transição pastoral. Ou, ao contrário disso, pode acontecer de permanecermos inertes
por algum tempo na igreja sem mudança, a qual talvez já tenha chegado. Assim, enganar a nós mesmos, dizendo que o
tempo ministerial na igreja que estamos acabou ou que ainda devemos permanecer nela, gera consequências calamitosas
para ambas as partes, ministro e igreja. Não é fácil liderar em um ambiente hostil desgastado pelas crises ou mesmo pelo
tempo de permanência, porém em nenhuma hipótese essas situações devem ser tomadas como um referencial divino para
que o ministro determine sua partida ou sua continuidade nela.
Mas quais os parâmetros ideais que fundamentam a permanência ou não do pastor na igreja local? É importante que o
líder tenha em mente essa pergunta e, além disso, busque orientação divina, avalie seu ministério e saiba quais fatores serão
decisivos para a sua continuação ou não na igreja local. Se a sucessão ministerial parece próxima, então é preciso que o
líder se utilize de mecanismos espirituais e intelectuais para corroborá-la. Um erro nas decisões poderá resultar em
prejuízos irreparáveis, tanto para si como para a instituição. Decisões essas que são intrínsecas ao livre-arbítrio do homem e
nelas Deus não interfere, por isso que é preciso agir dessa maneira. Mas, enfim, como saber que a luz amarela da
advertência acendeu e é hora de planejar a transição para passar a igreja a outrem?
Ron McManus (1999), consultor de liderança eclesiástica e ministro da Primeira Assembleia de Deus na Carolina do
Norte-EUA por 16 anos, lista algumas perguntas que ele julga serem importantes e necessárias para ajudar o ministro a
ponderar acerca de sua decisão de sair da igreja quando as crises, rejeições e vontade de mudar surgirem – ou, então,
insistir em permanecer, quando a partida era o ideal.
1ª) Eu cumpri a visão que Deus pôs em meu coração quando aqui cheguei? 2ª) Estou permitindo que minhas emoções
ditem minha decisão em partir? 3ª) O Senhor quer estender meu pastorado onde estou hoje? 4ª) Estou permitindo que
algumas pessoas me façam perder a perspectiva? 5ª) Estou fugindo de algum problema que o Senhor me chamou para
resolver? 6ª) Como minha família será afetada se eu sair agora? Se a resposta para a 1ª pergunta for SIM, para a 2ª, 3ª, 4ª,
5ª for, respectivamente, NÃO e para a 6ª for POSITIVAMENTE, na verdade é hora de partir; mas se as respostas forem o
contrário, ao menos uma, deve-se rever a decisão.
E quando essa mudança acontecer? Qual será o procedimento a ser adotado pelo ministro? Quais atitudes éticas,
procedimentais e legais deverão ser adotadas na transição? Reverendo Ron McManus (1999, p. 558) lista cinco diretrizes e
procedimentos que são importantes adotá-los: 1) O antigo pastor deve cortar todos os vínculos com a igreja que está
deixando (administração de redes sociais, dependência contábil, documentos nominais, influências no ministério, contas em
seu nome, etc.) e com seus membros (conselhos ou sugestões); 2) Só deve contatar ou visitar algum membro depois de
prévio aviso ao pastor atual; 3) Só deve visitar a igreja se houver convite do pastor atual ou se avisar previamente, e isso
depois de um bom espaço de tempo após sua saída; 4) Não deve tirar vantagens de antigos membros (financeiras e/ou
estadia); 5) Deve deixar balancete em dias, contas pagas, relatórios financeiros transparentes, etc.
Outra questão a considerar sobre o assunto recai na figura do predecessor. Aquele que o pastor irá substituir na nova
igreja. Paulo deixa claro para os coríntios (1Co 3.6) que a edificação da igreja é um trabalho colaborativo fundamentado em
Cristo. Quando o pastor, tanto o que sai como o que fica, tem em mente esta verdade fundamental, a transição será feita
com sucesso e livre de problemas futuros. A relação do pastor com seu predecessor deverá ser de dar continuidade ao
trabalho que foi feito, com cortesia e respeito, não agir com insegurança ou com ciúmes, elogiar sempre que possível, não
tomar partido com membros que o odiavam (Rymond, 1999), assim como não sair mudando tudo logo de início – defino
isto como efeito CG (Choque de Gestão) – estabelecendo novas ordens que desfaçam o trabalho do colega que o precedeu.
Conclui-se que a transição pastoral não se resume ao simples fato de atender a um sentimento pessoal ou comodidade
ministerial, vai além disso. Todas essas questões abordadas devem ser levadas em conta para a glória de Deus, benefício da
igreja e benção do ministro. Portanto, tenhamos uma visão ministerial à frente do nosso tempo, vislumbrando os frontes
eclesiásticos futuros com a mesma capacidade de discernimento espiritual nas tomadas de decisões que tiveram os “filhos
de Issacar, destros na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer” antes de sair para a peleja (1Cr 12.32).

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