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CEFOMTA – Centro de Formação Missiológica e Técnicas Associadas

PROMIFE – Projeto Missões de Férias

CAPÍTULO 19: ÉTICA MINISTERIAL


Pr. Magno de Jesus Santos Serra

1 INTRODUÇÃO
Diariamente, tomamos dezenas de decisões, fazemos escolhas, optamos, resolvemos e determinamos aquilo que
tem a ver com nossa vida individual e coletiva. Ninguém faz isso no vácuo. Antigamente, pensava-se que era possível
pronunciar-se sobre um determinado assunto de forma inteiramente objetiva, isto é, isenta de quaisquer preconcepções
ou pré-convicções. Hoje, sabe-se que nem mesmo na área das chamadas ciências exatas é possível fazer pesquisa sem
sermos influenciados pelo que somos, cremos, desejamos, objetivamos e vivemos. As decisões que tomamos são
invariavelmente influenciadas pelo horizonte do nosso próprio mundo individual e social. Ao elegermos uma
determinada solução em detrimento de outra, o fazemos baseados num padrão, num conjunto de valores do que
acreditamos ser certo ou errado. É isso que chamamos de ética.

2 ORIGEM DA PALAVRA
A palavra ética vem do grego ethos, que significa um hábito, costume, uso, disposição. Com o tempo, passou a
designar qualquer conjunto de princípios ideais da conduta humana, as normas a que devem se ajustar as relações entre
os diversos membros de uma sociedade. Portanto, ética é a ciência dos deveres do homem; uma ciência que ensina como
proceder na sociedade. É a disposição ou vontade de seguir bons costumes ou hábitos. Trata-se de um conjunto de
princípios morais que regem a conduta, considerando as ações dos homens em referência à sua justiça ou injustiça. Na
prática é a conduta ideal e reta esperada de cada indivíduo. É o conjunto de valores ou padrão pelo qual uma pessoa
entende o que seja certo ou errado e toma decisões.

3 ÉTICA MINISTERIAL: o que é?


É o conjunto de regras de conduta que devem nortear a vida ministerial, moral e social do obreiro, fundamentada
nas Sagradas Escrituras. Para nós, crentes em Jesus Cristo, o certo e o errado devem ter como base a Bíblia, a nossa regra
áurea de fé e prática. Nesse estudo, abordaremos a Ética Ministerial como parte da Ética Cristã, em alguns dos seus
aspectos, não tendo a intenção de esgotar o assunto, que é amplo e complexo.

4 A VOCAÇÃO PARA O MINISTÉRIO MISSIONÁRIO


Vocação é a convocação divina para o exercício do ministério. É sem dúvida, fundamental para o exercício do
ministério missionário (cf. Mc 1.17; 6.12-16). Sem ela, nenhum edifício ministerial pode ser erguido. É o segredo da
sobrevivência e permanência no ministério (cf. At 18.5-10). A convicção do chamado e a certeza da vocação não
ocorrem quando vemos todas as demais portas se fechando e apenas a porta do ministério aberta. Vocação é quando
você tem todas as portas abertas, mas só consegue enxergar a porta do ministério. Deus chama quem Ele quer e quando
Ele quer (cf. Mc 3.13). Os destinatários desse chamado precisam ter a certeza que Deus assim os escolhe. A
concretização desse fato repousa sobre quatro critérios:
1) A confirmação desse chamado por outras pessoas e por Deus;
2) Posse das habilidades necessárias ao serviço em posição de liderança;
3) Um profundo desejo de servir no ministério;
4) Um estilo de vida caracterizado por integridade moral.
Uma pessoa que preencha esses quatros requisitos pode descansar na certeza que Deus o chamou para a liderança
vocacionada. O ministro do Evangelho deve entender que Deus o chamou para a sua obra, mas inicialmente para estar
com Ele. O primeiro passo não é com a obra de Deus, mas com o Deus da obra. Relacionamento com Deus precede
trabalho para Deus. O primeiro chamado do obreiro de missões é para andar com Deus e, como resultado dessa
caminhada, ele deve fazer a obra de Deus. É necessário ao vocacionado que tenha disposição de servir, caso contrário lhe
sobrevirá um sentimento oposto à sua própria ocupação e, no momento em que julgar oportuno, levantar-se-á contra o
seu Senhor, lançando de si o jugo da servidão, deixando de cumprir com os seus deveres e de ser útil à causa do Mestre.

5 AS PRIORIDADES PRINCIPAIS NA VIDA DO MINISTRO DE MISSÕES


Manter as prioridades em sua devida ordem é um dos maiores desafios que o ministro de missões enfrenta. As
prioridades do ministro de missões devem estar nesta ordem:
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5.1 SEU RELACIONAMENTO COM O SENHOR


A Igreja precisa de obreiros de fibra inquebrável que não cedam diante da avassaladora onda de mundanismo,
materialismo e tantos outros laços. Duas coisas indicam a solidez do obreiro de missões no seu relacionamento com o
Senhor: a retenção firme da Palavra, que é conforme a sã doutrina (cf. Tt 1.9); e sua vida devocional, que é
extremamente decisiva. O salmista Davi disse: “Pela manhã ouvirá a minha voz, ó Senhor; pela manhã me apresentarei a
ti, e vigiarei” (cf. Sl 5.3). A primeira tentativa de desvirtuar os apóstolos de suas reais prioridades deu-se nos primeiros
dias da Igreja (cf. At 6.4). Essa disciplina será fundamental em tudo o que você fizer e intentar realizar.

5.2 SEU RELACIONAMENTO COM A FAMÍLIA


Se alguém não sabe cuidar da sua própria casa, como cuidará da Igreja de Deus? (cf. I Tm 3.5). Quem não cuida
de sua própria casa, ou não se sujeita às autoridades de sua própria casa, não está apto para exercer o ofício do ministério
do Evangelho (cf. Ef 6.1-9; Cl 3.18-25).

5.3 SEU EXERCÍCIO NO MINISTÉRIO


O ministro do Evangelho deve trabalhar com afinco, tendo sempre em vista a chamada de Deus e o ofício sob o
poder do Espírito Santo (cf. At 16.10; 2 Tm 4.5). Todos os que desejam trabalhar na execução da obra de Deus
precisam da capacitação do Espírito Santo. Na Bíblia vemos Sua atuação nos profetas, em Jesus e nos escritos bíblicos.
Sem a supervisão e orientação do Espírito Santo não há eficácia verdadeira.

6 AS QUALIFICAÇÕES DO MINISTRO DE MISSÕES


O ministro de missões tem por dever espiritual e moral só fazer as coisas certas, diante de Deus, da igreja e dos
homens. O seu testemunho é fundamental para o êxito da obra que lhe é confiada pelo Senhor. Atualmente, o nome de
muitos tem sido grandemente desgastado com escândalos, por falta de zelo ministerial à missão de ministro do
evangelho de Cristo. É indispensável adotar princípios éticos, emanados da Palavra de Deus, para que o ministério seja
preservado. Portanto, quanto às qualificações, o ministro de missões deve:

6.1 SER IRREPREENSÍVEL


Esse é o padrão de Deus para o caráter de todos os trabalhadores de missões, sendo a primeira consideração para
o preparo ao exercício do ministério missionário. Irrepreensível, literalmente, quer dizer: “que não se pode atingi-lo”.
Isso tem a ver com a conduta manifesta e aprovada, inculpável, desde sua conversão, na vida sexo-conjugal, social e
trabalhista. Ninguém deve ser cogitado para o ministério se houver contra ele acusações procedentes de imoralidade ou
transgressões graves. Pelo contrário, as pessoas indicadas para o ministério devem ser de boa reputação, tendo o bom
testemunho tanto da membresia da igreja, como também dos de fora (cf. At 6.3; I Tm 3.7).

6.2 TER CARÁTER


Caráter é a marca pessoal de um indivíduo. O conjunto das qualidades boas ou más de uma pessoa que determina
sua conduta em relação a Deus, a si mesmo e ao próximo. Em suma, é o conjunto das qualidades de Cristo que
determina a nossa conduta ou comportamento cristão. O caráter de uma pessoa é demonstrado socialmente por meio do
seu comportamento, que por sua vez são atitudes e ações do indivíduo no meio social onde vive. A vida diária do
obreiro de missões está relacionada intimamente com o seu trabalho. E, por essa razão, ao considerarmos as
qualificações necessárias para o serviço do ministério, precisamos levar em conta questões como disposição e conduta. A
fim de estar preparado para o serviço espiritual, o homem deve ter não apenas um determinado lastro de experiência
espiritual, mas igualmente deve ter o tipo de caráter exigido por Deus. O caráter do obreiro deve condizer com o caráter
da obra, e o desenvolvimento do caráter de uma pessoa não ocorre em um dia. Se um obreiro tiver de possuir aquelas
qualidades necessárias para que seja útil ao Senhor, então é mister serem consideradas muitas questões práticas atinentes
à sua vida diária. Terá ele de desfazer-se de hábitos antigos e de formar novos costumes, mediante a disciplina, e sua vida
terá de ajustar-se fundamentalmente à obra, para que se harmonize com ela.

6.3 DEFEITOS QUE PRODUZEM A DESAPROVAÇÃO DO MINISTRO


É importante destacar alguns defeitos de caráter que são inaceitáveis nos obreiros de missões. Vejamos:
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6.3.1 Soberba
O termo usado no grego para soberba é particularmente forte e significa uma arrogância cheia de amor próprio,
de ser consumido por si mesmo, de buscar o próprio caminho, a satisfação e a gratificação a ponto de desconsiderar os
outros. Trata-se de sentimento de satisfação com suas próprias características ou ações pessoais. Admiração de suas
habilidades pessoais. A soberba é considerada o primeiro inimigo fundamental dos obreiros de missões. A soberba
insinua-se tão sutilmente que persuadimos a nós mesmos que Deus nos deu uma posição de destaque porque somos
melhores do que os outros. Quem carrega em si esse defeito não tem consideração pelo poder nem pela autoridade de
ninguém.
Ecoa no coração de muitos a oração de autossatisfação do fariseu, que se achava merecedor de reconhecimento da
parte de Deus e dos homens. Ficando cego ao olhar para si mesmo (cf. Lc 18.11,12). Para fins educativos, faremos dois
alertas, visto que o soberbo é antipático ao caráter íntegro por duas razões:
1) acha-se incapaz de cair, e não toma providências necessárias para fugir das tentações;
2) cria um desprezo para com os outros, tapando efetivamente os seus ouvidos contra as advertências que
poderiam levantar uma cerca eficaz contra o leão feroz (Pe 5.8; Dn 4.37).
“Da soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (cf. Pv 16.18). A soberba nunca desce de
onde sobe, mas cai sempre de onde subiu.

6.3.2 Má administração da sexualidade


A má administração dessa importante área da vida, tanto do homem, quanto da mulher, dá vasão a ações sinistras
que violentam a alma (cf. Pv 6.32; 9.17,18; I Co 6.18). O pecado sexual não derruba repentinamente, mas surge de uma
atitude relaxada em relação aos maus pensamentos do coração, apetites desordenados e sensualidade. É do interior do
coração dos homens, e das mulheres também, que saem os maus pensamentos, adultérios, prostituições etc. (cf. Mc
7.20-23; I Co 7.2,28; Gl 5.16).
O adultério e a prostituição são errados por duas razões básicas:
1) são tentativas para levar a efeitos muitos relacionamentos intimíssimos ao mesmo tempo. Em cada caso a
pessoa está enganando a pessoa a quem realmente ama e, provavelmente, mentindo a quem não ama;
2) porque a fornicação visa ser apenas uma união temporária, ao passo que Deus deseja que a união sexual seja
duradoura e permanente (cf. Mt 19.6).
A muito que vem se concentrando na batalha pela pureza doutrinária e devemos fazê-la, mas estamos perdendo a
batalha pela pureza moral. Temos pessoas com a teologia certa, vivendo de modo impuro (cf. Rm 2.1,2). Para ser um
obreiro de missões bem sucedido é necessário viver em constante renúncia (cf. Mt 16.24). Certo Pensador afirmou:
“quanto mais um homem renuncia a si mesmo, mais se aproxima de Deus”.
Cinco princípios para manter discrição sexual devem ser observados:
1) estabeleça uma linha demarcada para controlar seus relacionamentos (cf. I Ts 5.22);
2) os casados devem cultivar um forte relacionamento de amor com seu cônjuge (cf. Ef 5.22; I Co 7.3);
3) os solteiros devem fazer todo o esforço possível para seguir os princípios da Palavra de Deus e chegar ao altar
do casamento com a consciência pura (cf. Hb 13.4);
4) não permita que as imaginações e fantasias quebrem sua comunhão com Deus (cf. Tg 4.8, 9);
5) não confie em si mesmo, confie em Deus e siga as instruções dEle esboçadas nas Sagradas Escrituras (cf. Jr
17.7-9; Mt 26.41).

6.3.3 Má administração financeira


O caráter das pessoas se revela na maneira como elas manejam o dinheiro. A sociedade capitalista incentiva
contratação de dívidas que a Palavra de Deus proíbe (cf. Rm 13.8). A marca do caráter cristão aprovado é o
contentamento com o que Deus dá (cf. I Tm 6.6) e a prestação fiel de contas das mordomias a nós confiadas (Dn 6.4).
Não foi apenas Judas que se aproveitou da tesouraria dos discípulos para satisfazer sua avareza. Na Igreja em Corinto,
apareceram alguns para tirar vantagens financeiras dos irmãos (cf. 2 Co 2.17).
Todo autêntico servo de Deus deve ser homem completamente livre da servidão ao dinheiro. “Ninguém pode
servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e às riquezas” (cf. Mt 6.24). Isso de buscar a orientação de Deus
quando, de fato, nos deixamos guiar pelas vantagens materiais, é uma indignidade. Se o Deus a quem servimos é o Deus
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vivo, não podemos seguir com confiança para onde Ele nos determinar? E se Ele não é o Deus vivo, por que não
desistimos de todas as tentativas de servi-Lo? Oh, que infelicidade é a situação de qualquer crente que, sob a capa de
estar servindo a Cristo, na realidade serve aos seus próprios interesses!

6.3.4 Não admitir as falhas pessoais


Desde o princípio, após a queda nota-se essa falha, como consequência do pecado na vida das pessoas (cf. Gn
3.12,13). Essa, sem dúvida, é uma falha virulenta de tentar evitar a dor da culpa e não passar o constrangimento de
confessar publicamente a infração cometida. Responsabilizar outros pela culpa cometida e mentir num momento de
aperto são artifícios comumente usados pelos pecadores. Somente um caráter recriado pelo Espírito Santo tem coragem
para confessar (cf. Sl 51.4; Pv 28.13).

6.4 QUALIDADES QUE CONDUZEM O MINISTRO À APROVAÇÃO


Antes de fazermos qualquer coisa para Deus, precisamos de um encontro com estas realidades indispensáveis a
um ministro de missões. Portanto, o ministro de missões precisa ser e viver em:

6.4.1 Santidade
A palavra santidade junto com seus cognatos hebraicos e gregos tem o sentido de ser separado e consagrado para
uso exclusivo de Deus. Separar das coisas profanas e purificar para Deus. Entende-se que é a separação daquilo que é
pecaminoso, e a consagração, ou dedicação àquilo que é justo e que está de acordo com a vontade de Deus (cf. Jo
17.17). A primeira qualidade exigida a um obreiro de missões é santidade. Ele precisa ser dedicado a Deus, assim como
ser sensível ao pecado que outros teriam como legal (cf. I Ts 4.7,8).

6.4.2 Sabedoria
Sabedoria tem a ver com a capacidade de julgar corretamente e agir prudentemente. Sabedoria significa mais que
mera inteligência. É uma capacidade divina operando no homem que com Deus se relaciona. Tiago denomina-a de
Sabedoria do Alto, e diz que é pura e livre de contaminação facciosa; diz mais, é produtora de paz e é gentil, ou seja,
preocupada com os sentimentos dos outros; é razoável, disposta a ceder e negociar. A sabedoria celestial é cheia de
misericórdia, ou seja, mostra amor aos outros; é cheia de bons frutos. Portanto, sabedoria significa ainda prontidão e
perseverança, além da ausência de hipocrisia (cf. Tg 3.13-18).

6.4.3 Fé
Segundo o que está escrito em 1 Co 12.9, fé é um dos dons do Espírito Santo; isto, porém, não significa que
quem não é usado pelo Espírito com essa preciosa dádiva não pode evangelizar. Contudo, os que almejam uma colheita
abundante precisam buscar esse dom tão necessário à obra missionária, pois sabemos que o adversário tem estabelecido
nesse mundo suas fortalezas, e há “... homens maus e perversos...” (cf. 2 Ts 3.2). Quando se trata da excelente missão de
ganhar almas, nem sempre as circunstâncias são favoráveis, motivo pelo qual, em determinados casos precisamos ver o
que poucos veem e, de maneira equilibrada, crer no impossível. A pregação do Evangelho tem sofrido constante
oposição, ora por parte da impiedade humana, ora por parte da ação satânica. Satanás está agindo para impedir o
trabalho, e tristonhamente admitimos que ele tem conseguido impedir muitos a fazer Missões (cf. I Ts 2.18; At 5.3,29).
No entanto, a Igreja que faz Missões pode contar com o Deus Todo Poderoso, que se “manifesta para destruir as obras
do diabo” (cf. I Jo 3.8).

6.4.4 Amor
O amor é a maior virtude do cristianismo, ele é o vínculo da perfeição (cf. Cl 3.14). O amor cristão tem Deus
por seu objeto primário e se expressa, em primeiro lugar, em obediência aos seus mandamentos (cf. Jo 14.15-23; 15.10;
I Jo 2.5; 5.3; 2 Jo v. 6). O amor cristão, quer exercido para com os irmãos, quer para com os homens em geral, nunca
flui com as inclinações naturais, nem se gasta somente naqueles por quem se descobre ter um pouco de afinidade. O
amor busca o bem-estar de todos, e não faz mal a ninguém (cf. Rm 13.8-10). O amor busca a oportunidade de fazer
bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé (cf. Gl 6.10). Hoje em dia, “o fazer algo de forma correta,
tomou o lugar do fazer o bem”. Essa é a nova prioridade do tempo do fim, colocando o amor em segundo plano. O
controle de qualidade se tornou mais importante do que o sacrifício em favor de outras pessoas. “Um ministério sem
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amor é como um corpo sem coração”. É vivendo em amor que seremos reconhecidos como discípulos de Cristo (cf. Jo
13.34,35).

6.4.5 Humildade
Humildade é uma admirável virtude imprescindível aos servos do Senhor. No grego, refere-se a uma atitude
mental, oposta ao orgulho. É a graça específica desenvolvida no cristão pelo Espírito de Deus, em que ele sinceramente
reconhece que tudo o que tem e é, deve-se ao Deus Triuno, que opera de forma dinâmica a seu favor. Ele, então, se
submete voluntariamente à mão de Deus (cf. Tg 4.6-10). Humildade é uma virtude que nos faz considerar os outros
superiores a nós mesmos (cf. Fp 2.3). Quatro marcas da humildade de Paulo são identificadas em I Coríntios 4.
Em primeiro lugar ele estava contente como servo: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e
despenseiros dos mistérios de Deus” (v.1). A palavra que ele usou para despenseiros é huperetes, que, literalmente,
refere-se a um remador inferior, aquele que remava na fileira inferior de uma embarcação de guerra. Tais remadores não
tinham nome, nem reconhecimento, nem honra.
A segunda marca da humildade de Paulo foi sua disposição de ser julgado por Deus. Em I Co 4.4, ele escreveu:
“Quem me julga é o Senhor”. Paulo não buscava a aprovação dos homens, buscava a aprovação de Deus (cf. Rm 14.18).
Também não se importava com que os homens pensavam dele. Deus era a plateia diante de quem ele executava o seu
ministério e a pessoa a quem ele procurava agradar a todo custo (cf. Cl 3.23,24).
Em terceiro lugar Paulo contentava-se em ser igual aos outros servos de Cristo.
Na marca de número quatro, Paulo estava disposto a sofrer (cf. I Co 4. 12, 13). Ele sofreu pela causa de Cristo
como poucos sofreram na história, cumprindo assim a predição do Senhor no momento de sua conversão (cf. At 9.16).
O verdadeiro exercício no ministério sempre impõe uma carga pesada sobre o homem, e quanto mais eficiente for no
ministério, mais alto o preço a pagar.
Spurgeon apresentava um motivo pelo qual os obreiros de missões podem contar com os sofrimentos: “É preciso
que às vezes enfrentemos durezas. Aos homens de bem foram prometidas tribulações neste mundo, e os ministros
podem esperar maior parte do que outros, para aprenderem a simpatizar com o sofredor povo do Senhor, e assim
possam ser aptos ministros de um rebanho enfermo”. A descrição que Walter Cradock faz de um homem humilde se
harmoniza perfeitamente com Paulo: 1) Quando olha para um pecador, considera-se que já foi pior do ele. 2) Um
coração humilde considera-se ainda pior. 3) Foi Deus quem o fez, e nada fez por si mesmo. 4) Considera que o mais vil
dos pecadores pode ser, no devido tempo de Deus, melhor que ele.

6.4.6 Ser cheio do Espírito Santo


“Cheio do Espírito” foi um dos traços de caráter que os apóstolos exigiram da Igreja no processo de escolha de
homens que serviriam as mesas na comunidade cristã (cf. At 6.3). Entendemos que ser “cheio do Espírito Santo”
sinaliza algumas obras na vida da pessoa:
1) Sua regeneração (cf. Jo 3.8; 20.22);
2) Poder para testemunhar (cf. At 1.8);
3) Capacitação para servir (cf. At 1.8; Ef 6.5-7).
Assim, toda pessoa cheia do Espírito é regenerada, é um servo por excelência e uma testemunha eficaz do
Evangelho de Cristo (cf. At 4.31; I Pe 4.10).

6.4.7 Ser manso


A palavra mansidão e seus cognatos tem o significado geral de benignidade, doçura, meiguice, atencioso. É aquele
que não irrita, preocupa ou atormenta. É a qualidade que se opões ao orgulho, à belicosidade. Índole ou procedimento
pacífico (cf. Cl 3.12).

6.4.8 Ser paciente


A palavra paciência engloba várias virtudes e designa uma pessoa capaz de suportar sofrimento moral ou físico
com resignação, esperança e perseverança tranquila. A palavra grega para paciência é hupomone, que junto com seus
cognatos tem o sentido de permanência em baixo de; permanecer quieto; aguentar; resistir sem aderir ao pecado (cf. 2
Co 1.6,7; 6.4-9; 2 Tm 2.24-26). Portanto, o ministro de missões deve ser:
1) Paciente como o lavrador (cf. Tg 5.7);
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2) Paciente como os profetas (cf. Tg 5.10);


3) Paciente como o Patriarca Jó (cf. Tg 5.11);
4) Paciente como Abraão (cf. Hb 6.15);
5) Paciente como Jesus, o nosso Mestre (cf. Fp 2.4-11; Hb 12.2, 3).

6.4.9 Ser prudente


A palavra prudência no grego é phronesis, que junto com seus cognatos sugere rapidez na apreensão, a
consideração penetrante que precede a ação. É a qualidade de quem age com comedimento, buscando evitar tudo o que
acredita ser fonte de erro ou danos. Tem a ver com a prática da sabedoria e decisões inteligentes. Portanto, prudência é a
capacidade de evitar os perigos e as inconveniências.
1) Prudente no falar (cf. Tt 2.8);
2) Prudente no convívio familiar (cf. Tt 2.4);
3) Prudente no convívio social (cf. Ef 5.3-17; I Jo 2.17);
4) Prudente na comercialização monetária (cf. Rm 13.7);
5) Prudente nos estudos (cf. I Ts 5.21; Gl 1.8,9);
6) Prudente no convívio cristão (cf. 2 Co 11.26; Ts 5.22; Rm 16.17-19; Tt 3.10);
7) Prudente no exercício do ministério (cf. Tt 2.7);
8) Prudente na administração das suas emoções (cf. Lc 9. 54-56; Ef 4.26,27).

6.4.10 Ter linguagem sã


Linguagem sã denota um coração saudável. Linguagem doentia denota um coração doentio e malévolo (cf. Mt
12.33,35). Existem práticas que estamos tão acostumados com elas que temos dificuldades de reconhecê-las como
pecado, porém a nossa referência para identificar e definir os pecados é a Bíblia Sagrada. As nossas palavras refletem o
nosso coração, portanto temos que tratar para que o nosso interior seja transformado e possamos refletir pelas palavras
o conteúdo da vida de Deus residente em nós. Muitos cristãos estão insensíveis aos problemas da fala destrutiva, muitos
se desculpam racionalizando as coisas, dizendo que estão falando a verdade e por isso podem falar de qualquer forma;
outros espiritualizam, e até como pretexto de motivo de oração fazem fofoca, dizendo: vou te contar isso, mas é para
você orar sobre o assunto.
Parece existir no senso comum evangélico uma classificação de pecados, e o pecado relacionado à fala tem sido
categorizado como um pecadinho que vem sendo motivo de brincadeiras, não recebendo a devida atenção; quando na
verdade, ele traz consequências graves à Igreja, tanto entre a liderança quanto em todos os outros âmbitos de
relacionamento (família, escola, vizinhança etc.). Transformar a forma de falar é o nosso desafio para que a nossa fala
promova edificação e glorifique a Deus (cf. Tt 2.7,8; Ef 4.29). Certo pensador cristão afirmou: “Tenha cuidado com a
tua língua para que ela não corte a tua cabeça” (cf. Mt 12.37).

7 O MINISTRO DE MISSÕES E A PRÁTICA DO ACONSELHAMENTO CRISTÃO


Luis Longuini Neto e Orlando Costa discorrem que aconselhamento ministerial “é toda aquela ação que busca
correlacionar evangelho, ou a fé cristã, com as situações concretas do viver diário, servindo de ponte para a experiência
da fé na vida cotidiana”.
O aconselhamento ministerial é uma abordagem de terapia antiga. O condutor do povo judeu, Moisés, dava
aconselhamento ministerial para as pessoas que iam até ele, para serem orientadas a respeito dos mandamentos e leis de
Deus. Moisés disse para Jetro, que quando duas pessoas tinham uma questão para ser resolvida o procuravam, para que
ele julgasse a questão (cf. Ex 18.13-17). A seguir estudaremos alguns princípios de aconselhamento ministerial:

a) Santidade e saúde mental são sinônimas. Quanto mais estáveis as pessoas se tornam como cristãs e quanto mais
entendem como aplicar os princípios da Palavra de Deus em suas vidas, melhor será a saúde mental que terão. Viver da
maneira que Deus planejou, simplesmente, dá certo. Os princípios da Bíblia Sagrada ajudam as pessoas, não as
prejudicam. Davi interrogou: “Como purificará o jovem o seu caminho? E obteve a resposta: “Observando segundo a
tua Palavra... Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, e luz para o meu caminho” (cf. Sl 119.9,105). Quando os
obreiros de missões, por meio da Bíblia, dão os conselhos de Deus, eles oferecem algo que ajuda não somente
espiritualmente, mas emocional e mentalmente (cf. I Ts 4.18).
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b) O aconselhamento não deve apenas atender as necessidades pessoais, mas também ajudá-las a ter um
relacionamento com Deus. As adversidades ou disciplinas na vida da pessoa pode ser a maneira de Deus levá-la a ter um
relacionamento correto com Ele. Um ato de amor da parte de Deus. Os conselheiros ministeriais não podem tirar as
aflições da vida das pessoas. Mas podem levá-las a tirar lições dos sofrimentos que passam. Ao entenderem a necessidade
de serem sensíveis e compassivos, os ministros de missões devem procurar meios de ajudar as pessoas a crescerem por
meio das experiências negativas da vida. Em toda experiência dolorosa da vida, valiosas lições podem ser aprendidas (cf.
Hb 12.7-11).

c) Deve-se orientar as pessoas de que elas só terão satisfação na vida se tiverem um relacionamento correto com
Cristo. Somente um relacionamento com Deus, por meio de seu filho Jesus Cristo, pode dar plena satisfação. Billy
Grahan fala do vazio que todo coração humano tem e esse vazio só pode ser preenchido por Cristo, não há substituto.
Por mais que tentem as pessoas, as pessoas só se sentem verdadeiramente satisfeitas na vida quando tem um
relacionamento correto o Senhor (cf. Jo 15.5).

d) As Escrituras Sagradas sempre estão certas. Não importa o que os sentimentos ou emoções indiquem, nunca se
deve dar conselhos contrários à Palavra de Deus. Muitas pessoas pensam que podem sair de uma relação extraconjugal
sem qualquer ferimento, mas a Bíblia diz o contrário (cf. Pv 6.27-32; 9.13-18). Alguns julgam que a Palavra permite o
divórcio por qualquer razão, quando na verdade não o permite (cf. Mt 19.9). O ministro de missões deve sempre
obedecer as Escrituras ao fazer aconselhamento (cf. Mt 28.20; I Pe 4.11).

e) O aconselhado sempre é responsável em fazer o certo. É da responsabilidade do ministro dizer a verdade


bíblica, mas é da responsabilidade do indivíduo agir e fazer a coisa certa. Se o aconselhado resolve não seguir o conselho
bíblico, o ministro não está em posição de ajudar muito além do que já aconselhou. Cada um de nós é responsável pelo
próprio comportamento; cada um de nós decide fazer o que é certo ou o que é errado, a obedecer ou desobedecer. Há
ocasiões em que as pessoas não sabem mesmo o que fazer, mas assim que entendem o que a Bíblia exige, elas precisam
fazer a escolha bíblica. O ministro de missões não deve se considerar culpado quando a pessoa aconselhada não aceitar o
conselho. As pessoas não podem ser colocadas em um quarto até que façam a escolha certa (isto é, a menos que sejam
criminosas, então a sociedade pode colocá-las na prisão). Os ministros podem e devem continuar amando e orando pela
pessoa, na expectativa de que lhes conceda arrependimento (cf. 2 Tm 2.24-26). Em última instância, entretanto, é a
pessoa a responsável pelos próprios procedimentos.

f) Todo indivíduo, independentemente de qual seja seu problema pessoal, é uma pessoa de valor, feita à imagem
de Deus. Pessoas são preciosas, sejam elas culpadas de assassinato, roubo, furto, molestamento de crianças ou terrorismo
psicológico e emocional. Elas têm valor aos olhos de Deus seja qual for seu pecado ou problema (cf. Rm 5.8). Deus as
ama e criou-as para sua glória. O Senhor Jesus deseja mudar o seres humanos, independentemente de qual estilo de vida
hajam mantido ou mantenham (cf. Mt 9.13). Ele pode resolver todo tipo de problemas que as pessoas enfrentam. Há
esperança para todos (cf. Mc 16.15,16; I Jo 2.1,2). Não podemos deter-nos a examinar os comportamentos das pessoas,
devemos ver o quanto o Senhor quer ajudar cada indivíduo, e ensinar-lhes o Evangelho, para que sejam transformadas
(cf. At 20.18-21; Rm 1.16, 17).

g) Cuidado no trato com o sexo oposto. Reconhecemos que todo cuidado é pouco da parte do ministro de
missões no trato com o sexo oposto, porque desde os primórdios da criação, o sexo sempre foi uma atração natural ao
homem e em muitas oportunidades foi a sua desgraça. Nunca aconselhe alguém do sexo oposto sozinho ou com portas
fechadas. O serviço de visita, por exemplo, é uma tarefa muito importante, mas é uma parte do ministério cristão que
requer muita graça de Deus, em virtude do perigo a que se expõe. A recomendação é que as visitas sejam feitas com
muita devoção e temor, sempre pedindo ajuda ao Senhor para não cairmos nas teias do inimigo. Muitos filhos de Deus
têm perdido o seu santo ministério nas horas em que conversam intimamente com alguém do sexo oposto. A estratégia
de visita praticada pelo Senhor deve ser observada para que tenhamos plena segurança no exercício desse importante
trabalho (cf. Lc 10.1; Ec 4.9-12).

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CEFOMTA – Centro de Formação Missiológica e Técnicas Associadas
PROMIFE – Projeto Missões de Férias

8 O MINISTRO DE MISSÕES E OS HÁBITOS


Um hábito é uma prática, um padrão de comportamento, uma rotina, uma tendência, uma ação habitual, uma
maneira crônica de fazer as coisas. Hábitos podem ser bons ou ruins. É obrigação do ministro de missões cultivar
hábitos que realcem o ministério e o caráter. Vamos dar uma olhada nos seguintes conselhos sobre hábitos acumulados
de uma vida inteira de ministério e de muitas outras fontes.
1) Comece todos os dias com Deus: oração, leitura bíblica e meditação.
2) Faça um plano para cada dia. Estabeleça algumas metas diária imediatas, metas de médio alcance e planos de
longo alcance. Planeje seu trabalho e trabalhe no seu plano.
3) Desenvolva o hábito de ser pontual.
4) Seja um exemplo vivo daquilo que você prega.
5) Viva de acordo com os seus recursos. Procure pagar suas contas em dias, se não puder, informe o credor.
Reserve uma quantia por mês para os tempos de adversidades.
6) Reserve tempo para atender as necessidades da família. Cultive uma boa vida familiar.
7) Leia, leia e leia cada vez mais. Que tal ler um livro por semana!
8) Nunca fale mal publicamente de quem quer que seja.
9) Cumpra o que prometeu e não faça promessas tolas.
10) Seja dizimista e faça suas ofertas regulares; seja generoso com tudo o que você tem.
11) Seja leal à Igreja, ao ministério, à sua família, ao seu Deus. Se não consegue ser leal, saia; faça outra coisa.
12) Não seja plagiador. Se usar material de outra pessoa dê-lhe o crédito.
13) Se você tem protuberante barriga nunca use o cinto abaixo dela.
14) Seja bom vizinho, faça parte da comunidade em que você vive.
15) Trate todo mundo de modo semelhante dos executivos às criancinhas.
16) Viva cada dia com a eternidade à vista.

REFERÊNCIAS

BOYER, Orlando. Pequena enciclopédia bíblica. São Paulo: IBAD, 1996.


CARLSON, Raymond. Thomas Trask (et al). O pastor pentecostal. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
CEADEMA. Apostila da Convenção Estadual das Igrejas Assembleia de Deus no Maranhão. 2012.
COSTA, Samuel. Psicologia pastoral. Rio de Janeiro: Editora Silva Costa, 2005.
GEISLER, Normam L. Ética cristã. São Paulo: Vida Nova, 1984.
KESSLER, Nemuel. Ética pastoral. 8. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.
LOPES, Hernandes dias. De pastor a pastor. São Paulo: Hagnos, 2008.
MACARTHUR JR., Jhon. Redescobrindo o ministério pastoral. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
NEE, Watchman. O obreiro cristão normal. 8. ed. Fiel, 2001.
PFEIFFER, Charles F. (et al). Dicionário bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
REACHERS, Sammis. Sabedoria: breve manual do usuário. PDF.
STAMPS, Donald C. Bíblia de estudo pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
TOGNINI, Enéas. Bíblia de estudo de avivamento e renovação espiritual. São Paulo: SBB, 2009.
WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo do Novo Testamento. São Paulo. Geográfica Editora, 2001.

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