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MADU AMARAL

CONVERSA

SEM
FIM
Carlos Massa Ratinho Junior
Governador do Estado do Paraná

João Evaristo Debiasi


Secretário da Comunicação Social e da Cultura

Luciana Casagrande Pereira


Superintendente-geral da Cultura

Luiz Felipe Leprevost


Diretor da Biblioteca Pública do Paraná

Coordenador do Prêmio Biblioteca Digital


Omar Godoy

Equipe do Selo Biblioteca Paraná


Hiago Rizzi, Isabella Serena e Luiz Felipe Cunha

Jurados
Cristiane Mateus e Tatjane Garcia Albach

Revisão e preparação editorial João Lucas Dusi


Projeto gráfico e diagramação Thapcom.com
Ilustrações e capas Ctrl S Comunicação

Dados internacionais de catalogação na publicação


Bibliotecário responsável: Bruno José Leonardi – CRB/9 - 1617

Amaral, Madu
Conversa sem fim [livro eletrônico]/ Madu Amaral ; ilustração
de Fabiano Vianna. - Curitiba, PR : Biblioteca Pública do Paraná,
2021.
36 p. : il. - (Biblioteca Paraná)

“Vencedor do Prêmio Biblioteca Digital – Categoria infantil”


ISBN 978-65-89223-16-0 (e-book)
PDF

1. Literatura intantojuvenil. I. Biblioteca Pública do Paraná.


II. Vianna, Fabiano. III. Título.

CDD ( 22ª ed.)


028.5
MADU AMARAL
CONVERSA

SEM
FIM
MADU AMARAL
há muito, muito tempo atrás
numa memória já irreconhecível
todas as coisas desse mundo
de um pequeno grão de areia
a uma casca de árvore

– 4–
das pétalas de uma flor
às ínfimas gotas de chuva,
todas essas minúsculas coisas
eram criaturinhas que conversavam entre si.

– 5–
cada microparte disso
que chamamos mundo
possuía uma pequena boca
para se comunicar e explicar
sua razão de viver.

– 6–
elas falavam e falavam sem parar,
mas aquilo não era suficiente
elas precisavam achar uma outra forma
mais significativa para conversar.

– 7–
foi quando algumas moléculas de água
dessas que não conseguimos ver a olho nu
decidiram se reunir para conversar
num diálogo que durou centenas
de milhares de anos.

– 8–
elas queriam muito chegar num consenso
Para explorar novos lugares,
conhecer novos seres.

até que concordaram que a melhor coisa a fazer


era se unir, pois assim poderiam se transformar
numa boca maior, que poderia falar
mais alto ainda.

– 9–
foi nesse dia que os rios começaram a conversar
com as nuvens e as nuvens com as árvores
e as árvores com as montanhas.

– 10 –
toda aquela conversa
que antes era entre minúsculos
seres invisíveis começou a ecoar
mais alto em um diálogo
comprido e sem fim.

– 11 –
milhões e milhões de anos se passaram
e todos os seres falantes daquele mundo
conseguiram chegar em um outro acordo.

– 12 –
eles queriam se unir novamente,
era uma nova tentativa de conversa
uma nova forma de existir.

– 13 –
e assim, como num passe de mágica,
uma gigantesca boca surgiu no corpo
da nossa pequena Terra.

– 14 –
a Terra, muito curiosa que era,
viu ao seu redor alguns seres parecidos
e começou a conversar sem parar.

– 15 –
conheceu então Mercúrio,
meio ranzinza e inquieto.

depois foi a vez de Vênus


que possuía um brilho acinzentado incrível
e ficava chamando a Terra de pequena irmã.

Marte chegou gritando enfurecido,


querendo saber quem era a novata,
o que ela queria.

– 16 –
foi Júpiter, o ancião,
muito maior que todo mundo,
que chegou para conciliar tudo,
deu boas-vindas à Terra
e apresentou Urano,
Netuno e Saturno.

tinha também um tal de Plutão,


mas não falavam muito dele,
alguma coisa sobre suas pequenas partes
não conseguirem desenvolver uma boca
pra conversar direito.

– 17 –
a pequena Terra foi conhecendo todo mundo,
ganhando a confiança aos poucos
ela era muito convincente, com suas cores exuberantes,

quando tinha uma oportunidade.

– 18 –
sempre que tinha uma oportunidade
começava a explicar que todo mundo
precisava que se unir para formar uma boca maior
que pudesse ampliar a voz e desbravar
mais ainda o desconhecido.

– 19 –
aos poucos, todos os astros da Via Láctea
começaram a se conhecer,
a pequena Terra descobriu seus nomes,
cores favoritas, cheiro e temperatura
mas como eram trilhões de planetas
e estrelas conversando ao mesmo tempo
decidiram se dividir em setores.

– 20 –
a nossa pequena Terra acabou ficando no setor
que foi chamado de braço de Órion,
que era como uma gigante nação em espiral
com milhões de estados que se esticavam
por um mar negro de infinitas luzes.

– 21 –
vários outros setores foram surgindo com o passar do tempo,
o braço de Perseus, o braço de Sagitário,
cada um com uma característica própria
e uma gigantesca boca central
que era usada para se comunicar
com os outros setores ao redor.

– 22 –
por bilhões e bilhões de anos
eles gravitaram pelo cosmos
buscando em plebiscitos um entendimento,
todos queriam se unir
num pensamento universal e único
para poder conversar com outras galáxias,

– 23 –
e foi assim, como num flash de anos-luz
que uma colossal boca surgiu no centro
da Via Láctea e começou a tagarelar
com as outras galáxias
que já conversavam entre si
há centenas de éons.

– 24 –
a voz da nossa pequena Terra
era como um sopro de areia
na boca colossal da Via Láctea,
mas ela ecoava o mesmo desejo
de todos os outros astros
que gravitavam ao redor,

– 25 –
todos queriam se unir para encontrar
outros semelhantes, outros com os quais
poderiam contar suas histórias
descobrir seus segredos
suas palavras desconhecidas
e sentimentos ocultos.

– 26 –
bilhões de éons se passaram
e todas as galáxias do cosmos
já se conheciam.
durante esse tempo
uma palavra surgiu entre elas
uma palavra estranha e sem sentido
que elas cantavam e ressoavam
em uníssono.

era como um som familiar


que produzia uma vibração única e diversa.

– 27 –
um dia todos aqueles seres
com suas pequenas e gigantescas bocas
começaram a estremecer
num abalo desconhecido

de um instante para outro,


como num susto,
uma esfera negra surgiu
e produziu um silêncio
em tudo.

– 28 –
a pequena Terra sentiu seu corpo esticando
como um elástico em direção ao centro
daquele mar eterno de luzes,

– 29 –
viu todos os planetas e estrelas
que conheceu girando em espiral
numa velocidade nunca sentida antes.

aos poucos todas as galáxias


foram se aproximando umas das outras,
nesse momento elas até pensaram
que uma nova gigantesca boca
iria surgir para continuar o diálogo,

– 30 –
mas o corpo que foi se formando
com aquela união não se parecia com uma boca,
a massa de todas as galáxias foi pesando
para baixo e formando um
pequeno rabinho
que se esticou
com a gravidade
e arrebentou
num estalo
ensurdecedor
que fez todo
o universo
começar
a cair
em
queda
livre

– 31 –
numa escuridão sem fim
a pequena Terra podia sentir
a vertigem de um abismo
a puxando para baixo,

– 32 –
quanto
mais ela caía
mais ela lembrava
de todas as conversas
e amigos que fez
para chegar até ali

– 33 –
então a pequena Terra viu ao seu redor um azul-celeste
e mais abaixo um verde de folhas e o marrom de uma pedra
que se chocou contra sua face e estourou
todo cosmos numa partícula
que se esparramou
numa poça
pelo chão.

– 34 –
depois desse dia, todos aqueles minúsculos seres
com suas pequenas e gigantescas bocas
esqueceram de suas antigas conversas
e um novo diálogo
começou.

– 35 –
Prêmio
Biblioteca
DIGITAL

Vencedor
na categoria
INFANTIL

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