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Visita de estudo à Mina de Salgema-Loulé

Docente: Prof. António Carlos Galhano


Discente: Jurema Domingos
Nº59694
01/2022
Índice

Introdução ........................................................................................................................................................ 2

Enquadramento geológico.......................................................................................................................... 2

Tectónica do sal ......................................................................................................................................... 2

Geometria ..................................................................................................................................................... 3

Intrusões ....................................................................................................................................................... 3

Sal-Gema ............................................................................................................................................................ 4

A mina de sal-gema ....................................................................................................................................... 4

Extração e processamento do sal-gema ................................................................................................ 6

Aplicações do Sal-gema................................................................................................................................ 8

Considerações finais ..................................................................................................................................... 8

Referências ....................................................................................................................................................... 8

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Introdução
No passado dia 5 de novembro de 2021, foi realizado a visita de estudo a mina de sal-
gema de Loulé no Algarve. A respetiva visita teve o propósito de apresentar aos alunos os
aspetos principais envolventes da exploração da Sal-gema desde a sua extração,
processamento, transporte, armazenamento e aplicação. Portanto, o presente relatório
detalha as observações feitas durante a visita.

Enquadramento geológico
A mina de sal-gema localiza-se na Bacia Algarvia no Sul de Portugal, a sudoeste da
Península Ibérica. De acordo com a estratigrafia, a Bacia Algarvia assenta em discordância
sobre rochas do tipo flysch do Carbónico. Estas formações são caracterizadas por
intercalações de xistos e grauvaques que são produtos da deformação e metamorfização
de baixo grau durante a orogenia varisca. As mesmas formações ocasionalmente
apresentam alternações de conglomerados (Manuppella, 1998; oliveira 1990).

Atualmente, o diápiro de Loulé é classificado litoestrigraficamente pela Formação


Dagorda. Esta unidade representa as formações diapíricas na região e corresponde ao
Complexo Pelítico Carbonatado e Evaporítico De Silves, ou Complexo Margo-Carbonatado
de Silves datado do Hetangiano (Jurássico Inferior) e do Triássico Superior.

Tectónica do sal
O diápiro de Loulé é resultante de uma incursão marinha acerca de 200 milhões de anos,
podendo a sua formação ser interpretada com base na tectónica do sal. Por definição, a
tectónica do sal estuda os processos associados a presença de evaporitos como a sal-
gema, no interior das unidades geológicas (Teixeira, 2017). A massa salina foi depositada
no Hetangiano e ascendeu durante o jurássico medio por ação dos movimentos tectónicos
causado pelo aumento de pressão dos sedimentos sobrepostos.

Figura 1 evolução da massa salina

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Como resultado, formaram-se estruturas profundas designadas como cordilheiras de sal-
gema. As cordilheiras posteriormente cresceram de tal forma a originar estruturas de
grandes dimensões como domos de sal, como é o caso do diápiro de Loulé.

Geometria
Geometricamente, o diápiro aparenta ter uma forma mais ou menos elipsoidal tendo o
seu eixo maior de orientação WNW-ESE pelo menos 5 km ao nível do solo. Lateralmente
é limitado por uma falha de cavalgamento com tendência E-W ao longo da margem norte
e por um deslizamento oblíquo de tendência NE-SW da Falha de Carcavai ao longo da
margem SE. A margem norte do diápiro tem uma inclinação de 30° para N e a sua margem
sul inclina 60° para S, indicando que as paredes inclinam “para fora” ao nível da mina. O
seu topo está situado ao longo de uma dobra anticlinal regional (Teixeira, 2017).

As principais estruturas internas de deformação que ocorrem no diápiro de Loulé são


dobras recumbentes (sub-horizontais), zonas de cavalgamento, dobras em bainha
sinformes com planos axiais muito inclinados e zonas de cisalhamentos no sal-gema.

Intrusões
No final do cretácico, o diápiro de Loulé sofreu várias intrusões de diques. Estas intrusões
são de carater lamprófiros ultrabásicos e estão associadas com a ocorrência de um evento
ígneo generalizado que produziu também os maciços de Monchique e Sintra (Teixeira,
2017). A maior espessura registada num dique dentro da mina tem 3,5 metro.

Figura 2 Dique com fracturações preenchidas por sal-gema

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Sal-Gema
A denominação dada a rocha de sal chama-se sal-gema e é o material que compõe o
diapiro. O principal componente do sal-gema do diapiro de Loulé é a halite (NaCl). Em
termos percentuais a halite perfaz cerca de 93% do sal-gema, mas este valor pode variar
entre 92,6% a 95% dependendo do local. O restante é constituído por outros sais e alguns
materiais argilosos cerca de 2.8% e 2,3 de materiais siliciosos. A única exceção são alguns
filões de sal branco que são compostos por 99,9% de halite pura. Dependendo da
percentagem de impurezas a cor do sal-gema apresenta diferentes tonalidades
nomeadamente branco, rosa, castanho avermelhado e cinzento.

Figura 3 imagem ilustra duas tonalidades de sal-gema,


branco e cinzento

A mina de sal-gema
Os primeiros trabalhos na mina começaram pela abertura de dois poços verticais,
existentes atualmente, até aos 280 m de profundidade e em seguida pela escavação da
galeria principal que faz a ligação entre eles, a uma profundidade de 230 m, com 280 m
de comprimento. A galeria principal e algumas câmaras adjacentes, são considerados
zona permanente de rolagem e são os únicos locais na mina com iluminação permanente
durante o horário de expediente, no resto da mina a iluminação vem da lanterna dos
capacetes e/ou dos veículos.

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Figura 4 Elevador usado para o transporte de pessoas

O poço 1, P1, é o poço principal e é nele que se faz o transporte das pessoas entre a
superfície e o primeiro nível da mina. Está equipado com um guincho e duas jaulas que
no conjunto são o equipamento de elevação e têm a capacidade de transportar até 8
pessoas de uma vez (Fig.4). Durante a visita não foi possível observar o poço 2, mas foi
instruído que é através do poço 2 que a sal-gema é transportado para a superfície. Para
aceder aos pisos da mina é obrigatório o uso dos equipamentos de proteção individual
nomeadamente capacetes com lanternas, botas com biqueiras de aço, colete fluorescente.

O método de exploração aplicado na mina é de câmaras e pilares com um alinhamento


das câmaras segundo a direção N-S e galerias que as intersectam de forma perpendicular
segundo a direção E-W, criando-se assim uma rede de galerias com a forma de uma malha
retangular.

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Figura 5 As duas imagens mostram as galerias principais

Extração e processamento do sal-gema


O processo de extração do sal é realizado através de uma roçadora. O sal-gema extraído
é recolhido na frente da roçadeira e é encaminhado para a parte de trás da roçadora
acumulando assim o sal-gema. Em seguida o sal gema é transportado para a zona de
tratamento onde depois passa por um processo de scalping para remover materiais de
granulometria inferior a 12 mm. O sal-gema é movimentado por telas transportadoras, e
passa por crivos que o separaram por granulometria e por um moinho de martelos onde
é moído até atingir a granulometria correta. No final o material é armazenado em lotes
de acordo com as suas respetivas granulometrias onde aguardam para o transporte à
superfície. A mina tem uma produção diária de 7 mil toneladas de sal-gema

Figura 6 Imagem à esquerda ilustra a tela transportadora usada no processamento do Sal-gema. Imagem na direita
ilustra lotes de sal-gema de diferentes granulometrias.

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Figura 7 Crivos de 4 granulometrias diferentes

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Aplicações do Sal-gema
Atualmente, o sal possui uma ampla aplicação em vários processos químicos e industriais.
O sal produzido na mina de Loulé é utilizado na produção de rações de animais e na
segurança rodoviária, particularmente na dissolução de gelo nas estradas.

Além disso, o sal-gema também pode ser utilizado na indústria como matéria-prima para
a obtenção do cloro, acido clorídrico, soda cáustica e bicarbonato de sódio (Lopes, Matos
e Luís, 2006). Adicionalmente, o mesmo produto também pode ser utilizado no também
pode ser usado no tratamento de águas de carácter duro (ibid). Desta forma o sal-gema
tem o potencial de se relacionar com várias indústrias como a têxtil, a química, a da
celulose, a do alumínio, a dos detergentes e sabões, a do tratamento de águas e metais e
a alimentar, onde os produtos químicos produzidos podem ser utilizados em diversas
cadeias de processo.

Considerações finais
Para resumir, a visita de estudo a mina de sal-gema de Loulé forneceu um entendimento
sobre as técnicas principais comumente aplicadas na exploração subterrânea do sal. Além
disso, foi possível obter conhecimento sobre a importância da granulometria no emprego
do sal-gema em diferentes indústrias. Por último, é crucial que as diretrizes de saúde e
segurança sejam sempre seguidas durante a realização de qualquer atividade dentro da
mina.

Referências
Lopes, A., Matos, S. e Luís, T., 2006. Prospeto da mina campina de cima-Loulé. Agência
Nacional para Cultura Científica e Tecnologia.
Manuppella, G., (1988). Litoestratigrafia e Tectónica da Bacia Algarvia. In Geonovas (Lx)
vol. 10:67-71, 1988.
Teixeira, P., 2017. O Diapiro de Loulé, Estudo Geofísico do Sal-gema da Mina Campina de
Cima. Universidade do Porto, Faculdade de Ciências, Dissertação de Mestrado.

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