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UNIOESTE – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ.

DISCIPLINA: ESTUDOS LINGUÍSTICOS II


ACADÊMICA: LARISSA ARCANJO DA SILVA.

SÉRIOT, Patrick. Voloshinov e a filosofia da linguagem. Tradução Marcos Bagno – 1 ed. – São
Paulo: Parábola Editorial, 2015.

“As traduções envelhecem, é preciso atualizá-las regularmente, enquanto o original não se altera.
Mas sua interpretação, sua recepção se modificam em função do tempo e do espaço”. (p. 23)
“Em se tratando de textos de ciências humanas e sociais provenientes da Rússia, é preciso estar
particularmente atento aos problemas de interpretação, às distorções de sentido, aos usos e
apropriações múltiplas que eles permitem”. (p.24)
O autor aborda a necessidade de ler o texto dentro do seu contexto. Voloshinov “deve ser lido e
ressituado em seu tempo, em sua problemática própria, que pouco tem a ver com a conjuntura
intelectual da Europa ocidental dos anos 1970”. (p.25)
“[…] palavras como ‘marxismo’, ‘meio’, ‘grupo social’ ou sobretudo ‘ideologia’ não têm um
sentido em si mesmas, mas dependem do contexto particular em que são empregadas. Não se
deve reagir a tais palavras como um ‘sinal’, como diria o próprio Voloshinov, mas estudar
minuciosamente seu contexto de produção”. (p. 26. Grifo meu).
O “Círculo de Bakhtin” nunca existiu
“A expressão ‘Círculo de Bakhtin’ é uma invenção tardia e apócrifa. Jamais foi empregada por
quem quer que seja na época do tal ‘Círculo’. […] Em 1967 é que foi mencionado pela primeira
vez o ‘Círculo de Bakhtin’ pelo psicololinguista A. A. Leontiev […] Se, de fato, houve um
‘círculo’, não é de forma alguma necessário chamá-lo ‘de Bakhtin’.” (p. 28, 29, 30).
O autor descreve a intensa atividade cultural e artística desenvolvida nesse período.
“Em Vitebsk, Bakhtin e Voloshinov coabitaram durante algum tempo: cada um alugava um
quarto na casa de um médico, no n. 16 da rua Smolenskaia […] Uma ouvinte dos cursos de
Bakhtin dessa época, R. Mirkina, relata em suas memórias que numa das paredes do quarto de
Bakhtin estavam escritos alguns versos de Voloshinov (Mirkina, 1993: 93):
Aqui viveram um poeta e um filósofo
Durante os rudes dias de inverno
E numerosas questões malditas
Foram por eles discutidas.” (p. 37).

Sériot descreve que um grupo informal, do qual Bakhtin e Voloshinov faziam parte, se reunia
para estudar filosofia. Nessa época eles tinham aproximadamente 24 anos. “O lema filosófico do
grupo era Mir de nan, a zadan, ‘O mundo não está dado, mas deve ser feito’ ou “ O mundo não é
um simples dado, mas um dado a elaborar”. (p. 38)
Mistificação
“Bakhtin é preso em 24 de dezembro de 1928 por ter participado das atividades do grupo
religioso Voskereen’e’, dirigido por Aleksandr Mejer, teórico do ‘anarquismo místico’, grupo que
sucedera à Sociedade de Filosofia Religiosa, dissolvida em 1917; esse grupo tinha por meta
operar uma síntese entre o cristianismo e o socialismo [...] Bakhtin é solto ao cabo de algumas
semanas e mantido em liberdade condicional à espera do julgamento. Em junho de 1929, é
condenado a cinco anos de trabalhos forçados no sinistro campo de concentração das ilhas
Solovki, no Mar Branco, pena comutada em seis anos de exílio [...] no Cazaquistão. [...] Bakhtin
vai trabalhar nessa cidade como contador numa fazenda coletiva até 1936.” (p. 42, 43)
“Em muitos aspectos, a vida de Bakhtin é um terreno de coisas obscuras e, por diversas razões,
ele contribuiu para tal situação [...] Não somente temos poucos elementos sobre sua infância e
adolescência, como também Bakhtin conscientemente semeou engodos, pistas falsas,
informações forjadas, datas falsificadas ou elementos colhidos da vida de seu irmão e, depois, da
de Kagan. Existem desde o início dos anos 1990 estudos minuciosos sobre as numerosas
manipulações de Bakhtin sobre sua própria biografia, em particular sobre sua vida universitária”.
(p.43, 44)
“Não existe nenhum vestígio de que ele tenha sequer concluído o ensino médio [...] o mesmo
vale para a universidade de Petrogrado. O nome de Bakhtin não figura em nenhuma lista de
estudantes nem de ouvintes. De fato, não se tem nenhum documento verificável sobre a vida de
M. Bakhtin antes de 1918’. (p. 45)
“Bakhtin afirma provir de uma família de antiquíssima nobreza [...] Contudo, os arquivos
paroquiais de Orel, conservados nos arquivos provinciais de Orel, afirmam que a família de
Bakhtin pertencia à ordem dos mercadores”. (p.45)
Investigação de paternidade: zonas de sombra de uma história turva
Houve uma obscuridade sobre a autoria dos textos e “instalou-se uma espécie de doxa, na União
Soviética e depois no mundo ocidental, inclusive na América Latina, em torno da ideia
consensual de que Bakhtin é o autor oculto mais incontestável [...] Indagado, Bakhtin só deu
respostas evasivas, contraditórias e desconcertantes” (p. 48).
“Bakhtin só falava com reticências sobre este tema, mas quando insistíamos reconhecia que os
três livros (O freudismo, O método formal nos estudos literários e Marxismo e filosofia da
linguagem), assim como o artigo de 1926, ‘A palavra na vida e a palavra na poesia’, tinham sido
escritos por ele, e mesmo ‘do início ao fim’, mas escrito para seus amigos, a quem cedera os
direitos autorais [...] Eram meus amigos, precisavam de livros, e eu não fazia mais que preparar
para escrever os meus (21 de nov. 1974).” (p. 50)
“Os pró-bakhtinianos não dispõem da menor prova material” (p.50) enquanto há relatos das
universidades da autoria do trabalho de Voloshinov: “ Sua obra essencial, o livro Marxismo e
filosofia da linguagem, publico em 1929 [...] caracteriza Voloshinov como um jovem
pesquisador que atingiu a plena maturidade, seguindo uma linha metodológica marxista correta,
possuindo um amplo horizonte de conhecimentos [...] e dando prova de uma técnica elaborada de
trabalho científico” (p. 53)
“O mais verossímil é que todas essas obras sejam o fruto de discussões multiformes, que a
influência possa ser multilateral e que cada um dos autores tenha elaborado à sua maneira temas
discutidos em numerosas ocasiões com interlocutores variados” (p. 59).
Da poesia à sociologia da literatura
Sériot descreve uma breve biografia de Voloshinov, incluindo sua vida acadêmica e atuação nas
literaturas, bem como suas dificuldades financeiras. Voloshinov é acometido por tuberculose e “
a partir de 1934, passa cada vez mais tempo nos hospitais e sanatórios. Morre aos 41 anos, em 13
de junho de 1936, deixando uma tese inacabada e uma tradução, também inacabada, do primeiro
tomo da Filosofia das formas simbólicas de Cassirer.” (p. 66)
Dos rosa-cruzes ao marxismo
“O início do século XX na Rússia, conhecido como a “era de Prata” da cultura russa, é um
período de florescimento das ciências e das artes em que a racionalidade moderna vai lado a lado
com a premonição de uma catástrofe iminente, o que favorece o interesse pelos mistérios
esotéricos, as seitas maçônicas e a arte das mesas giratórias” afirma Sériot, em relação ao
envolvimento de Voloshinov com o ocultismo.
“Mas até o momento ainda não foram esclarecidas as razões pelas quais Voloshinov passou, com
o entusiasmo de um neófito, do misticismo rosa-cruz à filosofia marxista da linguagem”. (p.68).

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