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O processo de criação de Unidades de Conservação (UCs) no Estado do Paraná não divergiu da

maioria dos estados da Federação. Embora as primeiras iniciativas para a criação de UCs datem
de 1876, quando o engenheiro André Rebouças propugnava pela instituição de parques
nacionais na Ilha do Bananal e em Sete Quedas, o primeiro parque brasileiro, Parque Nacional
de Itatiaia, foi criado somente em 1937. Da mesma forma, no Estado do Paraná, o Parque
Nacional do Iguaçu teve sua criação propugnada por Santos Dumont, em 1916, vindo a ser
instituído somente em 1939, por decreto do presidente da República Getulio Vargas. Em 1942,
outro atributo da natureza, de reconhecimento mundial, sensibilizou o governo paranaense,
levando-o a declarar de utilidade pública, para fins de desapropriação (Decreto Lei 86/42), os
imóveis Lagoa Dourada e Vila Velha, que abrigavam os monumentos Itacueretaba - A extinta
cidade de pedra -, antigo nome do que hoje conhecemos como Vila Velha. Decorridos onze
anos, somente no dia 12 de outubro de 1953, pela Lei Estadual n.º 1292, foi criado o Parque
Estadual de Vila Velha, formado pelos imóveis já mencionados, para a conservação da flora e
da fauna nativas, para o cultivo de espécimes preciosos e para o estímulo do turismo em suas
diferentes regiões.
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#( 18 Outro marco importante data do ano 1948, quando a Assembléia Legislativa do Estado do
Paraná decretou e sancionou a Lei n.º 33 que reservava, como patrimônio inalienável do
Estado, as áreas mínimas de 121 hectares de terras devolutas nas regiões onde estavam
situados os remanescentes das primitivas reduções jesuíticas de Vila Rica, São Tomé,
Arcangelo, Santo Antonio, Encarnação, São Miguel, Loreto, Santo Inácio, Jesus Maria e Guaíra.
Dessas áreas, remanesceu apenas a de Vila Rica do Espírito Santo, onde hoje existe o Parque
Estadual de Vila Rica do Espírito Santo, no município de Fênix. O processo da colonização do
Paraná deixou registros importantes no desenvolvimento das UCs, os quais poderiam ter sido
melhores se fossem atendidos os propósitos que se pretendiam à época. Dentre eles, destaca-
se o fato de que nos títulos de terras, expedidos para alienar ou legitimar imóveis devolutos,
constava que seus proprietários deveriam, de forma resolutiva, deixar 25% do imóvel como
reserva, sem exploração. Esse fato foi vencido e nunca cumprido, sendo novamente resgatado
com o advento da Lei de Terras 7005/78. Outro destaque foi que, em muitos dos processos de
demarcação das glebas destinadas à colonização, reservaram-se áreas com diferentes
finalidades. O que remanesceu delas originou algumas das atuais UCs paranaenses. Todo esse
patrimônio (UCs) esteve durante um interregno de tempo administrado por diversas
instituições que as usavam para diferentes finalidades, tais como: pesquisa agronômica, viveiro
de produção de mudas, horto florestal, ocupação por terceiros. Em 1977, foi criado o
Departamento de Parques e Reservas no Instituto de Terras e Cartografia, com a finalidade de
administrar os Parques e Reservas do Estado do Paraná. Esse fato representa um momento
importante, pois demarca o ato em que o estado iniciou seu intento de promover uma política
para seus Parques e Reservas, ou pelo menos de organizar o quadro que se afigurava, ou seja,
cada uma das situações citadas anteriormente encontrava-se ligada a uma instituição e tinham
as mais diversas finalidades, menos a de conservação da biodiversidade. Quando esse objetivo
ocorria era por mero acaso, normalmente vinculado ao interesse individual de pessoas que se
dedicavam a esse mister. A esse momento pode, também, ser atribuído um dos pontos de
mudança na política estadual de preservação da natureza relativamente às UCs, não porque
tenham ocorrido grandes incrementos de áreas, mas por ter sido o início da organização e do
direcionamento de bens +
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% / 19 até então somente tratados como Parques e Reservas do Estado. Esse momento teve
seu ponto culminante com a realização de um diagnóstico para indicar o “norte” para as UCs,
quanto à necessidade de categorizálas adequadamente bem como de analisar sua
expressividade. Esse diagnóstico foi elaborado com uma base técnico-científica bemsustentada
e já indicava a tentativa de idealizar um sistema de áreas protegidas, ainda que não houvesse
nenhum arcabouço legal para instituílo formalmente. Assim, o processo de escolha dos locais
para a criação de UCs no Paraná é tradicionalmente decorrente de critérios como áreas
remanescentes de processos de regularização fundiária e outras oportunidades legais,
integridade física e estado de conservação, beleza cênica, área sem interesse para atividades
agrícolas, áreas marginais ao processo de exploração econômica; enfim, áreas que “sobraram”
do processo de ocupação e expansão da fronteira agrícola do Estado. Como salientado por
Machado e colaboradores (2004), tais critérios podem até ser importantes quando se analisa
cada Unidade de Conservação isoladamente, mas a aplicação destes resulta num conjunto de
áreas protegidas e não um sistema de áreas protegidas. A diferença entre os dois termos é que
no primeiro as UCs surgem do acaso e no segundo elas surgem com o objetivo explícito de
formar uma estrutura organizada, complementar e integrada. De fato, a situação das Unidades
de Conservação no Paraná é esta: temos um conjunto de áreas protegidas e é necessário
desenvolver e implementar um sistema de áreas protegidas. Devido a sua localização e
características fisiográficas, no Estado do Paraná ocorre uma grande diversidade de ambientes
e ecossistemas. Com a colonização e a expansão das fronteiras agrícolas, esses ambientes e
ecossistemas foram gradativamente eliminados e substituídos, remanescendo poucas áreas
naturais (próximo de 8% de remanescentes naturais). Conforme já mencionado, a história de
criação de UCs no Estado do Paraná sempre esteve ligada a áreas remanescentes do processo
de colonização e ocupação do seu território, observando pouca sistematização para levar a
termo a proteção de seus diferentes ecossistemas. Esse fato resultou no quadro atual e
demonstra uma baixa +
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% / 20 representatividade das ecorregiões em termos de UCs de Proteção Integral (Tabela 1).

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