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Bom dia!

Gostaria de cumprimentar o presidente da AL, (as autoridades presentes) aos


senhores e senhoras presentes.

Agradecer à Débora e Elenice e toda equipe do Memorial pelo convite.

Meu nome é Edilson Nabarro, sou graduado em História e atualmente mestrando pelo
Programa de Pós Graduação em História da UFRGS.

É um enorme prazer estar aqui hoje no lançamento dessa obra que significa muito não só para
a história institucional da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, como para a História
política do nosso Estado e também do Brasil, que trata sobre a Campanha da Legalidade.

Gostaria de fazer dois breves comentários sobre a “Vigília Democrática”, que foi como os
próprios deputados à época chamaram o período em que a Assembleia se manteve em sessão
permanente até a posse do presidente João Goulart. O primeiro é um registro pessoal sobre
como de se deu o processo de recuperação do documento e o segundo é do sentido histórico
do documento em si.

Em 2019 eu era estagiário aqui no Memorial. No início desse mesmo ano chegou uma série de
documentos que estavam em outros setores da Casa, e chamou a atenção da equipe que
trabalha aqui, um documento em especial que estava dentro de um cofre. Foi necessário
chamar até a equipe da manutenção para abri-lo. E quando foi constatado o conteúdo do
documento, pra surpresa de todos, se trava da transcrição completa dos 12 dias de Sessão
Permanente, e que até então só tínhamos os registros incompletos das discussões do período.

Os registros achados estavam divididos em três tomos, em folhas soltas (alguns foras de
ordem), com bastante marcas de tempo e bastante sujeira. Então se mostrava urgente a
higienização e conservação daquele importante documento. E aqui é importante registrar que
o Memorial possuía todos os materiais e instrumentos para que fosse realizada de maneira
correta e eficiente esse processo de recuperação.

Foram mais de 1200 folhas limpas uma a uma, digitalizadas, transcritas respeitando a grafia da
época, depois revisada com a ortografia atual e por último foram compiladas em um único
documento. Todo esse processo completo durou cerca de seis meses. Foi um processo
extremamente trabalhoso mas também extremamente prazeroso e gratificante. Tanto que
hoje a Sessão Permanente é objeto de análise da minha dissertação.

E isso me fez perceber a importância histórica desse documento. E faz eu acreditar que não
por acaso ele se encontrava “esquecido” dentro de um cofre.
Logo após o encerramento da Sessão Permanente, o deputado do Partido Social Democrático
e presidente da Assembleia Hélio Carlomagno autorizou a impressão, pela Imprensa Oficial do
Estado, de uma separata com os anais dos doze dias de sessão, intitulada “SESSÃO
PERMANENTE E VIGÍLIA DEMOCRÁTICA”, que nunca foram impressos. Então os registros que
estão felizmente sendo hoje lançados vêm com mais de 60 anos de atraso.

Ainda que não se saiba especificamente o motivo, essa não impressão da separata é
compreensível na medida em que menos de três anos após os acontecimentos da Campanha
da Legalidade, o Brasil já se via sob ditadura militar. E sobre o “esquecimento” da Legalidade
no período da ditadura militar, o historiador Luiz Roberto Lopez, tem três hipóteses das quais
eu compartilho;

A primeira e sobre um raro momento em que o Exército (nesse caso o III Exército) esteve
literalmente ao lado das massas populares. De maneira ativa e efetiva.

A segunda é que a Legalidade foi um movimento de ampla mobilização popular, o que não era,
evidentemente, interessante ressaltar num período de repressão militar

A terceira é que teve como protagonistas mais importantes nomes que seriam malditos na
fase pós-64. E aqui adiciono que essa hipótese se consolida à medida em que o próprio Hélio
Carlomagno teve seus direitos cassados em 64, quando era deputado federal pelo estado do
Rio de Janeiro. Mas não foi só ele: José Lamaison Porto, Moab Caldas, Sereno Chaise e
Siegfried Heuser, todos do PTB e que foram ativos na Sessão Permanente, tiveram seus
mandatos cassados por Atos Institucionais.

Peço licença agora para fazer um pequeno apanhado historiográfico sobre a Legalidade. Na
historiografia a Campanha da Legalidade também permaneceu obscurecida durante todo
período militar. Houve autores que produziram sobre os acontecimentos de agosto e
setembro de 1961. Para citar um exemplo (daria para citar outros), é o caso de Moniz Bandeira
que em 71 lançou a obra A RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS E A CRISE PRÉ-64, porém a
Legalidade é trata de maneira rápida. Mas foi somente em 86 que foi lançada a primeira obra
tratando especificamente sobre a Campanha da Legalidade. A obra LEGALIDADE: 25 ANOS A
RESSITÊNCIA POPULAR QUE LEVOU JANGO AO PODER, organizada pelos jornalistas Rafael
Guimaraens; Adauto Vasconcellos, Ricardo Stricher e Sergio Quintana trazia imagens,
documentos e depoimentos de personagens que viveram o dia a dia da Legalidade. Também
não posso deixar de mencionar o livro A LEGALIDADE: O ÚLTIMO LEVANTE GAÚCHO do
historiador Joaquim Felizardo. Essas duas obras foram de extrema importância para recolocar
a Campanha da Legalidade no debate público.
Mas esse debate permanecia ainda muito circunscrito à pesquisadoras e pesquisadores aqui
do Rio Grande do Sul. Contudo, em 97 o historiador Jorge Ferreira, professor da Universidade
Federal Fluminense publica artigo intitulado “A LEGALIDADE TRAÍDA – DIAS SOMBRIOS ENTRE
AGOSTO E SETEMBRO DE 1961”, e que, de certa forma, descentraliza esse debate tão
importante para a História Brasileira. De lá pra cá a produção sobre a Campanha da Legalidade,
ganhou fôlego com inúmeros trabalhos analisando-a sob diversas perspectivas.

E sem dúvidas a Assembleia Legislativa em conjunto com Memorial do Legislativo, o Instituto


Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e também pesquisadoras e pesquisadores, através
de suas recentes publicações fazem parte fundamental da renovação do debate sobre a
Legalidade.

Então, como havia dito, essa obra lançada hoje não vem apenas para cobrir uma importante
lacuna que foi deixada em branco a mais de 60 anos, mas também para fazer justiça com
aqueles e aquelas que se mantiveram firmes e intransigentes quando da ameaça ao regime
democrático. Além disso, essa obra deixa registrada a importantíssima participação dos
representantes do Legislativo Gaúcho, que não se mantiveram alheios em um momento crucial
e decisivo da História da República Brasileira.

E aqui, para finalizar, oportunamente parafraseio o deputado do Partido Libertador Paulo


Brossard que disse, no dia 25 de agosto de 1961, em nome de todos os 55 deputados, a frase
que está agora eternizada nessa publicação, que é a seguinte: COM A DEMOCRACIA E PELA
DEMOCRACIA, PORQUE FORA DA DEMOCRACIA NÃO HÁ SALVAÇÃO!

Muito obrigado!

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