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Mais de uma hora depois, David ainda se encontrava sentado no sofá da sala.
Todas as luzes do apartamento estavam acesas. Ele estava terrivelmente
cansado, porém, assustado e confuso demais para poder dormir.
A marca na palma de sua mão sumira, mas o desaparecimento da moeda
abalou-o profundamente. Será que seus dedos teriam se, aberto sem que ele
percebesse? David queria desesperadamente acreditar que o sestércio tinha
meramente escorregado pelo vão de seus dedos.
Então, olhou, primeiramente, atrás das almofadas do sofá. Chegou a levantar
o tapete persa que cobria o chão da sala, para certificar-se de que a moeda não
tinha deslizado para baixo dele. Quando viu que não achava mesmo, foi até a
cozinha e serviu-se de um scotch para acalmar os nervos. Impressionante! Tudo
aquilo parecia simplesmente inacreditável.
Então, ficou vagando pela biblioteca, na esperança de que alguns daqueles
livros pudessem ajudá-lo a entender tudo aquilo. Porém, a maioria dós livros de
David era estritamente a respeito do mundo real: mobílias, decoração e história
francesa. Não tinha nenhum livro sobre religião ou fenômenos paranormais.
David serviu-se de um outro copo de scotch e sentou-se no sofá da sala por
mais meia hora, pensando. Quando o relógio sobre a lareira assinalou uma e
meia da manhã, ainda não tinha resolvido nenhuma das questões que pairavam
em sua mente. Mas dois copos de scotch num estômago vazio fizeram com que
ele perdesse o medo e, naturalmente, ficasse ligeiramente tonto. Quando se deu
conta de seu enorme cansaço, colocou o pijama e foi para a cama.
David ainda ficou acordado por mais uns dez minutos, ouvindo o barulho do
tráfego da West Side Highway. A noite parecia calma agora. De algum modo,
era quase certo que o terrível sestércio de bronze já não estava mais ali para
incomodá-lo. E, antes que percebesse isso, estava sonhando.
Dez minutos mais tarde a tempestade tinha passado. A luz do abajur parou de
piscar, dando a entender que eles não ficariam sem eletricidade, como tinham
ficado sem telefone. Mas Jennifer sempre guardava uma lanterna e algumas
velas, perto da cama, para casos de emergência. De qualquer forma, seria dia
em menos de duas horas.
Keith apagou a luz do quarto e deu mais uma olhada na casa do outro lado da
vala. Não havia ninguém em pé lá na varanda. Nada de luz vermelha e nem
mesmo qualquer sinal de fogo em seu interior.
Jennifer logo voltou a dormir. Keith, contudo, não conseguia pregar os olhos,
tentando imaginar como alguém, de noite, no meio de uma tremenda
tempestade, teria retirado aquele ancinho de sua garagem trancada! Mas o que
realmente o intrigava era que o cabo do ancinho estava molhado.
Aquela água significava que a ferramenta fora retirada da garagem depois
que começara a chover. Entretanto, quem quer que tivesse atravessado a frente
da casa, toda alagada, no mínimo teria deixado visíveis pegadas nos degraus da
varanda. Porém, a não ser alguns poucos pingos que caíram do ancinho, a
plataforma da varanda estava completamente seca!
Um pouco antes das dez horas Keith terminou de serrar o tronco que estava caído
na frente de sua varanda; ele e Jennifer sentaram-se para tomar o café da
manhã.
Geralmente, aos sábados de manhã, Keith saía de casa ali pelas nove horas,
para fazer orçamentos. Quase todo mundo queria que ele aparecesse quando o
dono da casa estivesse presente, para maiores esclarecimentos. Normalmente,
nessa época do ano, havia tanto serviço que Keith tinha que fazer uma
programação com três semanas ou até um mês de antecedência. Mas, durante os
dez dias em que ele e Jennifer estiveram de férias, a secretária eletrônica no
escritório de Chappaqua não registrara nenhuma chamada. E,
consequentemente, naquele sábado de manhã Keith não tinha nenhum
compromisso.
Era estranho, pensou. Ele, Marc e Jason faziam um excelente trabalho. Seus
preços eram razoáveis. Mas o fato é que não estava aparecendo nenhum trabalho
mesmo.
— A propósito — murmurou Keith, mordendo sua torrada. — David
Carmichael não ligou para você, ligou?
— Não, desde a última vez em que esteve aqui — respondeu Jennifer,
olhando para ele, cautelosamente. Tanto a noite passada como esta manhã Keith
parecia um pouco rude e preocupada. — Por quê?
— Você se lembra daquela moeda de bronze que ele levou? Eu estava
pensando se ele conseguiu descobrir que imperador era aquele.
— Não sei — disse Jennifer. — Perguntarei a ele, ao encontrá-lo no leilão
desta tarde.
Keith colocou sua xícara na mesa e olhou para a esposa. — Que leilão?
— Keith, eu lhe disse. Há um leilão hoje à tarde, às duas horas, na Christie’s
em Nova York. David disse que haverá liquidação de alguns móveis antigos. Ele
falou sobre isso quarta-feira à noite, e achei que seria interessante. Você disse
que não se importaria se eu fosse. Não se lembra?
— Mais ou menos — resmungou Keith. David e Jennifer tinham conversado
sobre leilões e antiguidades, e Keith realmente não prestara muita atenção.
— Você pode vir comigo, se quiser — acrescentou Jennifer.
— Não — retrucou Keith. — Tenho muita coisa para fazer por aqui, como
empilhar aquela lenha lá atrás, na garagem.
— Estarei de volta mais ou menos às seis horas — disse Jennifer. —
Poderemos jantar às sete. Ou até mais cedo, se você colocar a carne no forno às
cinco horas.
— Está bom — disse Keith, distraidamente. — Se David estiver com a
moeda, dá para você trazê-la? Tenho que devolvê-la a Coste.
— Você já lhe deu o orçamento da casa? — perguntou Jennifer.
— Ainda não. — Keith engoliu o resto do café. — É outra coisa que tenho que
fazer esta manhã.
Mas Keith tinha que enfrentar os fatos; ele estava com medo do que poderia
ver na vidraça do lado direito daquela janela da sacada. Se não era realmente
seu o rosto desenhado naquele hexágono de vidro, isso significava que ele estava
imaginando coisas. Mas, e se fosse mesmo realidade, em vez de imaginação?
Em ambos os casos seria uma péssima situação; Keith hesitava em descobrir.
Por outro lado, a Carpintaria Olson não estava em condições de desprezar o
serviço de Coste. Na segunda-feira de manhã, Keith, Marc e Jason terminariam
o trabalho em Peekskill. Depois disso, eles não teriam nada para fazer até maio,
quer dizer, a não ser que Coste aceitasse o orçamento de Keith e autorizasse o
serviço na Sunset Brook Lane, 666.
Impaciente consigo mesmo, Keith levantou-se e levou sua xícara para a pia.
Afinal de contas, o que o estava incomodando? Apenas algumas toneladas de
madeira velha, canos enferrujados e vidraças desenhadas! O que ele estava
esperando?
— Acho que vou até o outro lado da vala agora. — Então, correu até o quarto
para pegar uma jaqueta e sua prancheta.
Quando desceu, Jennifer ainda estava sentada, tomando café. — Coste vai se
encontrar com você lá? — perguntou ela.
— Não. Mas disse que a chave estará na varanda, e que não terei problemas
em encontrá-la. Quando você vai para Nova York?
Jennifer deu uma olhada no relógio acima do fogão. — Vou sair ali pelas
onze horas.
— Bem — Keith sorriu nervosamente. — Certamente estarei de volta antes!
Ele saiu pela porta da cozinha, fechando-a atrás de si. Bem adiante, a uns dez
metros, a casa amarela e branca de Coste estava banhada pelo sol matinal.
Sozinha, Jennifer olhou o relógio da cozinha mais uma vez. Eram exatamente
dez e trinta e nove da manhã. David lhe dissera que telefonaria às dez e meia em
ponto, para confirmar se poderiam encontrar-se antes do leilão, para almoçar.
Então, por que não telefonara? David sempre se orgulhara de ser pontual.
Keith poderia atrapalhar-se com seu trabalho e telefonar-lhe uma hora mais
tarde do que o combinado. Mas David, nunca! Não era costume dele deixar de
telefonar na hora combinada.
Ou será que o telefone estava mudo de novo? Jennifer tirou-o do gancho e
ouviu o sinal de discagem. Mas já eram dez e quarenta, e David ainda não tinha
ligado. Ela teria que se vestir agora ou perderia o trem das onze e dez que saía da
estação de Chappaqua. Será que David se esquecera? Ou algo saíra errado?
Jennifer imaginava que Keith ficaria na casa nova pelo menos por alguns
instantes. Ela não queria que ele entrasse na cozinha enquanto estivesse
conversando com David pelo telefone. Então, subiu até o quarto, pegou a
extensão e ligou para a galeria de David.
A srta. Rosewood atendeu: — David M. Carmichael, bom dia!
— Alô, aqui é Jennifer Olson. Posso falar com David, por favor?
A srta. Rosewood fez uma pausa. — Oh, sinto muito, sra. Olson. O sr.
Carmichael não veio trabalhar esta manha. Ele me telefonou dizendo para não
esperá-lo. Sei que irá a um leilão esta tarde.
— Eu sei disso! — falou Jennifer, — Nós deveríamos nos encontrar lá, mas
ele não telefonou confirmando. Deixou algum recado para mim?
A srta. Roosewood hesitou. O sr. Carmichael havia se queixado de ter
dormido pouco e queria descansar um pouco mais. Mas será que ele tinha
passado a noite com alguma jovem? Afinal de contas, era viúvo, e um viúvo