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IMMANUEL KANT textos seletos . Enigho Bruincie Tradugdéo do original aleméo por: Raimundo Vier (oe rotor 8 Crea de Rsto Pon) Floriano de Sousa Fernandes (os sonote textos) Introducao de Emmanuel Carneiro Leao 2 Edicao VOzES Petrépolis 1985 INTRODUGAO Ideologia, Filosofia e Pensamento Sworn, do siguma manera, pertece_a toda eltneia mfintica, Aquém de qualquer semfntica, a filosofia nao 6 ciéncia. ensamento, Vivemos hoje 0 dominio da citneia. Por ‘90 considera a filosofia uma ideologia. Nesta consideracio se revela © predominio da semintien no dominio da eiéncia. A ciéncia #6 conheeé ‘a mancira somfn‘iea de encarar. A ideologia 6 a cara com que tica mascara de ciéncia a filosofia. 0 predominio seméintico medida em depender tudo da cifncia, a arte ¢ a religifio, a filosofia e a cifneia, o real e o ideal, o principio eo fim de todas as coisas. # a voga da epistemologia, em cuja tempestade o pensamento vaga num vigor intempestivo. O pensamento desmascara na ideologia da filosofia ‘a miscara da ciéncia, Sem méscara, a. © vigor de _pensamento. Neste vigor uma época_histéri figura mais profamdamente do que na praxis de uma ago ou na fan- ionalidade de qualquer ciéncis. Assim nos encontramot hoje numa con-juntura singular: em sua polémica com a filosofia, a epistemologia néo se di conta de que, no fundo, questiona a prépria ciéncia mas- carada de filosofia. Ha duzentos ¢ cinglienta anos nascia em Koenigsberg Immanuel Kant. Para recordé-lo, a presente publicagio reGne 0 Prefécio da Gri- tiea da Razdo Pura, do 1781 © de 1787, e alguns opisculos menos conhecidos: Sobrs um suposto Direito de Mentir por Amor @ Huma- nidade, O Fim de todas as Coisas, Resposta @ Pergunta: que 6 Esela- recimento!, Que significa orientar-ce no Peneamonto? ©, Sobre a Die- cordincia entre « Moral ¢ a Politica a propésito da Paz Perpétua, Des tinando-se para estudo, a edigio 6 bilingle e a traducio portuguesa de Floriano de Sousa Fernandes se ateve © mais possivel ao sentido lite- ral do texto. Com a Iiteralidade, a tradugio pretende apenas facilitar ‘um primeiro acesso ao original, mesmo com o risco de saerifiear mui- tas vezes as caracteristicas do estilo portuguée. Reeord-ar vem do latim, cor, cord-is, 0 coragio. Recordar 6 vol- tarse para o que se centra e, assim centrado, conserva e se conserva no eoragio. Quando se trata de recordar um’ pensador, este voltar-se se dirige para o corago do pensamento, donde parte qualquer movi- ‘mento de pensar, Todo recordar inclui, de alguma maneira, concordar fem acordar 0 pensamento. Recordar Kant é pensar, em tudo que disse, (© que © corago de sua filosofia quis dizer. & o exemplo do proprio ¥ Kant, No que outioe pensndores disseram, 6 se, interessava_ pelo que Mateant dizer, 0 ave’ Kant. noo db, & 0 tema de sen pensamente, & quldersim fllmntin transcendental, O que, com este tema, nos quer, der, Ghamats Wvorasho para: pensar. Pois 0 tema no constital o corse, & 4 Prevents, Alnda no é 0. que posal de mais fntimo exntral seu, Demme; am resultado. ‘Resultado esforgo, de tematisagio, ar. woe a ntonga deso erforgo ae retral a qualquer diner. E 6 retraindo: quanto orsdion que atral a possiilidade de dizer. Assim nos encon- 0 como ne ie" sina provecasto. de longo aleance: pensar na present tram fia, transzendental 0” vigor do pensamento, em eva préprit sustncin. elt atécio da Critica da Rasio Purs, «presente publicagio, oft. eee ee do-inétodo transcendental, ciaborado pelo préprio, Kant eae conclalda » Criten, Método transcendental no ¢ nav, Se depoie de conc teabetho que vai ser ou fo] usada na construgio, Gt eran proprio sistema da_obra_enguanto-abitude semAntice- MGo%9 So eee a filoofin,enquanto filosofie, isto 6, enquanto deo. (ramen "campreender ao meno tempo, como o mundo. se_manferi ‘em. objetividade, ¢ como o homem o ‘apreende em termos de semantic bitividads to transcendental ¢ uma prixisde_pensamento, Um oo eine ona, numa dada con-juntara Histérica, da atitude, In tomada de Peta pelo vigor do. pensamento. Por forga deste vigor mana viviticat ihergir sem sfoger-se na situagio concreta de uma cane ptia ao imergic, emerge Dara » Historcidade de todas ax Specs: % que significa aqui transcendental? Cate eign nos ‘responde: “Chamo_transcendental_ todo_conheci- nen ag ae occpa néo tanto com os objetos mas com nossa maneirs mento a ee fotos, enguanto um tal conhecimento tenhs de_rer ‘possivel priori” ‘Em seu proprio principio, pois, 0 método transcendental se des- aa eu prente, dos objetos assim como os encontramos j& labo: Yin deliberadfrngies de_procesaamento (formas da sensiblidade ¢ cite, rados Pals Npentimento) da realidade em objetividade.. Naturalmente, sso néo exclui mas até inclui que, no curso ‘da investigacdo, se faca into nie. “fofertncia aos cbjetos. No obstante, 0 “flo condutor”-do me eerste provém dos. objetos. © que visa a andlise, nfo 60 hic & {00 Ae erp que o-homem encontra em sua vide; nfo sia as Tea mune 0" etabelece com o mundo od af leis que presidem & estas mit Bee er ihlidade do proprio mundo e suas leis. 0 problema do 50m, ae entental se formula nos seguintes termos: como ¢ possi: mntode sjatividade.enquanto sistema de experiéncia, ruscctivel_ de. Inventigagio cientifica, isto 6, ‘enquanto semantica de ‘conhecimento? ‘2 método transcendental, para se aprotnder'o.vigir, de. pensamento que o vivifca, ‘Trate-se_de ums srtim da experiineia em nome de uma semintica de_universalidade ‘o necomsidade, Trata-se de uma empresa que ‘reconduz 0 homem obje- tivo A poasibilidade de uma revolugio no modo Tree Berna ama verdadeira metancia que desloca, © centro, de. #78; de, Donat Teton parm 0 fazer don fatos, Dennciando que todo fio é Yidade don plugha, Kantiana questiona objeividade dos objetos Emmanver Cannemo Lio PREFACIO A PRIMEIRA EDICAO DA Critica da RazGo Pura ran, Avit+ En cerro género de seus conhecimentos, a raziio humana tem um destino singular: sente-se importu- ada por questées a que niio pode esquivar-se, pois elas Ihe siio propostas pela propria _natureza da razio; _mas_tam- bém nfo pode resolvé-las, pois ultrapassam toda a capa cidade da razio humana. © sem culpa sua que ela cai neste impasse. Comeca com principios cujo uso é inevitével no curso da experitn- cia c, a0 mesmo tempo, suficientemente comprovado por esta. Com esses principios ela vai-se clevando gradativa mente (como aliis é de sua natureza) a condigées sempre mais remotas. Mas percebendo que desta for- AVI — ta o sew labor deve sempre permanecer in- completo, porque as questées nunca tém fim, vé-se obrigada a lancar mao de principios que transcen- dem todo uso possivel da experiéncia, embora parecam {io insuspeitos que inclusive a comum razio humana concorda com les, E assim envolve-se em trevas ¢ incide em con- tradigdes; e isso Ihe permite inferir que algures, e subja- cente a tudo, deve haver erros latentes; mas é incapaz de descobri-los, porque os principios que emprega ja nao re- conhecem a pedra de toque da experiénela, por transce derem o limite de toda experiéncia. A arena destas dis- cussdes sem fim chama-se Metafisica. Houve um tempo em que Ihe chamavam de rainha de todas as ciéncias, ¢, se tomarmos o intento pelo feito, ela certamente ia jus a esse titulo honorifico, por causa da “Dadam Impordncin do pretisio A 19 © A 2 edigfo de Critica a Rasto Furs, raptors ain pil hat cn a "Ello ‘de? 1001. Now. demain wextor eta colelinen ‘rig por eerem de Tmportiaela. di excepelonal importincia do seu objeto. Atualmente, & do ‘eatilo da época o votar-the 0 mais completo despre: matrona, rejeitada e abandonada, lamenta-se como Hécuba: modo maxima rerum, ‘Tot generis natisque potens... am Nune teabor eral, inope.® (Ovioro, Metamorfovee) Inicialmente, sob a administracdio dos dogmdticos, 0 seu dominio era despético. Todavia, como a sua legislagio re- tivesse os vestigios da antiga barbdrie, ela degenerou, aos poucos, em conseqiiéncia de guerras internas, na mais com- pleta anarquia, e 0s céticos, essa espécie de ndmades aves- Sos a todo cultivo estivel da terra, romperam de tempos em tempos 0 acordo civico. Mas como, por felicidade, fos- sem pouco numerosos, nfo puderam impedir que aqueles tentassem reconstrui-lo sempre de novo, embora sem ater- se a um plano tmiforme. & verdade que uma vez, em tem- pos mais recentes, teve-se a impressio de que todas estas desayencas iriam 'terminar e que se decidiria plenamente da legitimidade daquelas reivindicagées, mediante uma cer- ta fisiologia do entendimento humano (pelo célebre Locxe) ; mas achou-se que, embora a pretensa rainha tivesse nas- cido da plebe da experiéncia comum, o que deveria com razio tornar suspeita a sua pretensio, contudo, como na verdade essa genealogia Ihe fosse atribuida falsamente, ela persistiu na afirmacio das suas pretensdes; € assim, tudo recaiu no velho dogmatismo carcomido e, a se- AX guir, naquele descrédito do qual se tencionara arrancar a ciéncia, E agora, depois que se ten- taram todos os caminhos (como se quer fazer crer), € isso baldadamente, reina a apatia e um total indiferentismo, pai do caos ¢ da noite, nas ciéncias; ao mesmo tempo, porém, ele é 0 comeso ou pelo menos o prehidio de uma préxima transformacio e aclaraco das mesmas ciéncias, depois de se terem feito obscuras, confusas e imprestiveis, & forga de uma diligincia mal aplicada. Com efeito, em vio se pretende simular indiferenca por tais investigades, cujo objeto ndo pode ser indiferente 4 natureza humana. E mesmo os pretensos indiferentistas, 12 names da fama, poderna om parents flor. © score do wm estilo popular & linguagem de escola, na medida em que ate mages metafisicas, contra as quais alegavam hutrir tio grande desprezo, Todavia, essa indiferenga que ocorre incias, afe- tando justamente aquelas a cujos conhecimentos — se tais conhecimentos fossem viaveis — se renunciaria, dentre to- dos, em ultimo lugar, ¢ um fenémeno que me- AX rece a nossa atengdo e reflexio. Evidentemen- te, ela ¢ efeito, nao da leviandade, mas da for- ga de juizo* (Urteilskraft) da época, que ja nao deixa entreter-se com um saber aparente; ¢ 6 um apelo a razio para atacar de novo a mais dificultosa de todas as suas incumbéncias, isto é a do conhecimento de si_mesma, e para instituir um tribunal capaz de assegurar suas reivin- dicagées_justas, mas também de repelir_todas AXIL as pretensées infundadas, niio com decisées ar- bitrérias, mas de acordo com suas leis eternas © imutiyeis; e esse tribunal outro nfo é seniio a prépria Critica da Razdo Pura Nao entendo com isso uma critica dos livros ¢ dos sis- temas, ¢ sim, da faculdade da razio como tal, em relagio 8 todos 0s conhecimentos a que esta _possa_aspirar indepen- dentemente de toda experiéncia e, por conseguinte, a deci- so sobre a possibilidade ou impossibilidade de uma met fisica cm si, hem como a determinagio tanto das_fontes como dos limites da mesma; mas tudo isso a partir de prineipios, f este o caminho pelo qual enveredei, o tinico que res- tara, © lisonjeio-me de haver descoberto nele 0 meio de inar todas os equivocos que até agora haviam dividido De yer em qvando ouvemse queizas sobre superfciaidade do moto de pensar te sams “em e"isbee

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