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MAHURA E O ESPELHO

Conta-se que no princípio havia uma única


verdade no mundo. Entre o Orun [o céu ou
mundo espiritual] e o Aiyê [mundo
material] havia um espelho. Daí é que tudo
que se mostrava no Orun materializava-se
no Aiyê. Ou seja, tudo que estava no
mundo espiritual refletia exatamente no
mundo material. Ninguém tinha a menor
dúvida sobre os acontecimentos como
verdades absolutas. Todo cuidado era
pouco para não quebrar o espelho da
verdade. O espelho ficava bem perto do
Orun e bem perto do Aiyê.

Naquele tempo, vivia no Aiyê uma jovem muito trabalhadora que se chamava
Mahura. A jovem trabalhava dia e noite ajudando sua mãe a pilar inhames.
Um dia, inadvertidamente, perdendo o controle do movimento ritmado da
mão do pilão, tocou forte no espelho que se espatifou pelo mundo. Assustada,
Mahura saiu desesperada para se desculpar com Olorum.
Qual não foi a sua surpresa quando o
encontrou tranquilamente deitado a sombra
do Iroko. Depois de ouvir suas desculpas com
toda a atenção, declarou que dado aquele
acontecimento, daquele dia em diante não
existiria mais uma única verdade e concluiu:

− “De hoje em diante, quem encontrar um


pedacinho de espelho em qualquer parte do
mundo, estará encontrando apenas uma
parte da verdade porque o espelho reproduz
apenas a imagem do lugar onde ele se
encontra”

Vanda Machado. Pele da cor da noite, 2003: p. 53/54.


https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/16783/1/pele-da-cor-da-noite.pdf
MITOS DA CRIAÇÃO
No começo não havia separação entre o Orum, o Céu dos orixás, e o Aiyê, a Terra dos humanos.
Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras. Conta-se que,
quando o Orum fazia limite com o Aiyê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas. O céu
imaculado do Orixá fora conspurcado. O branco imaculado de Obatalá se perdera. Oxalá foi
reclamar a Olorum. Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a
displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da
Terra.

Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum


homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida. E os
orixás também não poderiam vir à Terra com seus
corpos. Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás,
separados. Isoladas dos humanos habitantes do Aiyê, as
divindades entristeceram. Os orixás tinham saudade de suas
peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumaré, que acabou consentindo
que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra. Para
isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus
devotos. Foi a condição imposta por Olodumaré.

http://omidewa.com.br/public_html/arquivos/649
GALDINO , Luiz. Mitologia indígena. São Paulo: Nova Alexandria, 2006. p.09
Parte 01:

GALDINO , Luiz. Mitologia indígena. São Paulo: Nova Alexandria, 2006. p. 17


Parte 02:

GALDINO , Luiz. Mitologia indígena. São Paulo: Nova Alexandria, 2006. p. 17


Parte 03:

GALDINO , Luiz. Mitologia indígena. São Paulo: Nova Alexandria, 2006. p. 17

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