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A MEDUSA:
TRANSGRESSÕES
E PERMANÊNCIA
DA MITOLOGIA
REVISORES
Léa Evangelista Persicano
Elisandra Beatriz de Faria
Francisco de Assis Ferreira Melo
Katiusce Aparecida Silva Santos
Kênia Maria de Almeida Pereira
Elisandra Beatriz de Faria
Francisco de A. Ferreira Melo
Katiusce Aparecida Silva Santos
Léa Evangelista Persicano
(organizadores)
DE MEDEIA
A MEDUSA:
TRANSGRESSÕES
E PERMANÊNCIA
DA MITOLOGIA
Uberlândia – MG
2022
Copyright © 2020
Kênia Maria de Almeida Pereira
Elisandra Beatriz de Faria
Francisco de A. Ferreira Melo
Katiusce Aparecida Silva Santos
Léa Evangelista Persicano
Todos os direitos reservados.
DE MEDEIA A MEDUSA: TRANSGRESSÕES E PERMANÊNCIA DA MITOLOGIA
1ª Edição - JUNHO 2022
Projeto Gráfico: Wellington Donizetti
Arte da Capa: Alexandre Manoel Fonseca
CORPO EDITORIAL
Kenia Maria de Almeida Pereira (Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Fernanda Aquino Sylvestre ( Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Nelson Luís Ramos ( UNESP/ São José do Rio Preto)
Paulo Cesar Peres de Andrade ( Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Claudia Fernanda de Campos Mauro (UNESP/Araraquara)
Josilene Pinheiro-Mariz ( Universidade Federal de Campina Grande( UFCG)
Flávia Andrea Rodrigues Benfatti (Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Elisabeth Gonzaga de Lima _ Universidade Estadual da Bahia ( Uneb)
P436d
PEREIRA, Kênia Maria Almeida; FARIA, Elisandra Beatriz; MELO,
Francisco de A. Ferreira; SANTOS, Katiusce Aparecida Silva Santos;
PERSICANO, Léa Evangelista; Organizadores
DE MEDEIA A MEDUSA: TRANSGRESSÕES E PERMANÊNCIA DA
MITOLOGIA 1ª ed / Uberlândia–MG: Editora Pojetium, 2022.
228p.; il.; 1952kb
ISBN: 978-65-998201-0-6
1. Mitologia 2. Medeia 3. Medusa
I. PEREIRA, Kênia Maria Almeida; II. FARIA, Elisandra Beatriz; III.
MELO, Fancisco de A. Ferreira; IV. SANTOS, Katiusce Aparecida Silva
Santos; V. PERSICANO, Léa Evangelista; VI. Título
CDD 800
PREFÁCIO..................................................................................................9
Kenia Maria de Almeida Pereira
Referências ......................................................................................... 13
MEDEIA: ALEGORIAS DA RESISTÊNCIA EM PIER PAOLO
PASOLINI .................................................................................................15
Lucas Gilnei Pereira de Melo
Pasolini: o artista e o seu tempo ...................................................... 15
O fascismo e o pós-fascismo italiano: uma breve reflexão ............ 19
Medeia e as alegorias da resistência .............................................. 23
Considerações Finais ......................................................................... 28
Referências ......................................................................................... 29
MEDEIA NOS TRÓPICOS: UMA REFLEXÃO SOBRE A MULHER
MARGINALIZADA EM GOTA D’ÁGUA ..............................................31
Marihá Mickaela Neves Rodrigues Lopes
Referências ......................................................................................... 42
A FORÇA DIASPÓRICA NA PEÇA ALÉM DO RIO: MEDEA, DE
AGOSTINHO OLAVO .............................................................................45
Olbia Cristina Ribeiro
Referências ......................................................................................... 61
DA MEDEIA, DE EURÍPIDES À DES-MEDÉIA, DE DENISE STOKLOS:
A VINGANÇA DES-CONSTRUÍDA ......................................................65
Léa Evangelista Persicano
A criadora do teatro essencial e o contexto de Des-Medéia ..... 66
Atualização do mito e o des-atar de nós da tradição vingativa .70
Considerações finais? ........................................................................ 77
Referências ......................................................................................... 79
AS LENDAS DE LORELEY E IARA: DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE
HEINRICH HEINE E GONÇALVES DIAS ............................................83
Elisandra Beatriz de Faria
Referências ......................................................................................... 97
O MITO MAGNA MATER NO POEMA “ORAÇÃO A CIBELE”, DE
OLAVO BILAC: SEDUÇÃO E RELIGIOSIDADE ................................99
Marco Antonio de Santana
Introdução ......................................................................................... 99
A deusa Cibele .................................................................................. 101
A deusa Cibele como artefato cultural nas mãos do escritor Olavo
Bilac .................................................................................................. 104
Referências ....................................................................................... 109
“UM BROTO DE ANETO, JOGADO NA ÁGUA PURA, COM FOLHAS
DE LOUREIRO”: FEITICEIRAS E SUAS PRÁTICAS MÁGICAS EM O
ASNO DE OURO, DE LÚCIO APULEIO..............................................111
Alexandre Manoel Fonseca
Referências ....................................................................................... 125
LILITH OU O DEMÔNIO FANTÁSTICO EM O LIVRO DOS SERES
IMAGINÁRIOS, DE JORGE LUIS BORGES E MARGARITA
GUERRERO ...........................................................................................127
Edson Sousa Soares
Referências ....................................................................................... 137
O INSÓLITO NAS LÂMIAS MUTANTES: O MITO DAS MULHERES
DEVORADORAS ..................................................................................139
Amanda Letícia Falcão Tonetto
Referências ....................................................................................... 154
O MITO DE DALILA E SANSÃO NA BÍBLIA E EM CASTRO
ALVES ....................................................................................................157
Celina Ribeiro Neta
Considerações iniciais ..................................................................... 157
O mito bíblico de Dalila e Sansão ................................................. 158
“Dalila” de Castro Alves ................................................................ 169
Considerações finais ....................................................................... 175
Referências ....................................................................................... 176
AS AMAZONAS BRASILEIRAS: AS GUERREIRAS DA FLORESTA,
DE AFFONSO ARINOS ........................................................................179
Francisco de Assis Ferreira Melo
Mulheres guerreiras ....................................................................... 179
Arinos e as Amazonas ...................................................................... 183
Dos viajantes às estradas de águas ............................................... 184
Mulheres Amazonas ........................................................................ 185
Das comprovações ............................................................................ 188
E ao final .......................................................................................... 190
Referências ....................................................................................... 191
CLEÓPATRA EM MACHADO DE ASSIS ...........................................193
Katiusce Aparecida Silva Santos
Referências ....................................................................................... 207
“A CABEÇA E AS BELAS FACES DE MEDUSA”: DE CARAVAGGIO
A LUCIANO GARBATI ........................................................................211
Vitor Hugo Luís Geraldo
No princípio era o Mythos ............................................................. 211
E o Mythos se fez carne (logos) ................................................... 216
Não se nasce Medusa, torna-se ...................................................... 219
Através das imagens: reivindicação contemporânea .................. 221
Conclusão ........................................................................................ 228
Referências ....................................................................................... 230
“A CABEÇA E AS BELAS
FACES DE MEDUSA”: DE
CARAVAGGIO A
LUCIANO GARBATI
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que a significação do mito fosse razoável e, para isso, era imprescindível que
ele fosse se afastando do fabulativo e se aproximando do mundo das ideias, da
luz lancinante da razão. Conjecturar uma representação meduseica de traços
monstruosos, mãos de bronze, asas, escamas de dragão e dentes de javali, não
se coadunava com a logos e, em decorrência dessa significativa distância do
pensamento lógico, ancorado nas coisas do mundo visível, sua representação
fora mudando, a fim de aproximar-se do mundo lógico das ideias.
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fundiu junto ao mito daquela que antes era monstruosa, depondo da Medusa
suas faces, repletas de características monstruosas e animalescas, e impingindo-
lhe rosto e corpo de mulher.
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IMAGEM 9 – Medusa
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história foi silenciada por tantos anos. Não há vestígios do corpo de Perseu,
como há do corpo de Medusa na obra de Cellini. O corpo do herói lhe é
insignificante e ela segura sua cabeça abaixo da cintura, sem exibi-la como um
troféu. A única certeza que temos diante desta obra é a seriedade esboçada nas
faces da estátua.
Conclusão
Nesse percurso, observamos a depuração sofrida pelo mito da Górgona
Medusa ao longo dos tempos. Das faces monstruosas à representação feminina,
a Górgona passou por proeminentes transformações: os dentes de javali, as
mãos de bronze, as asas, as escamas de dragão, nada disso mais figurou nas
representações que não fossem arcaicas.
Essa depuração pode ter como fato gerador o momento no qual o homem
arcaico passa a se distanciar do mythos, dirigindo-se a logos, inaugurando uma
justaposição entre ambos. Para o homem arcaico, cujos pés se viam fincados
no mythos, os atributos conferidos à Medusa lhe soavam críveis; todavia, ao
passo que empreende uma busca apenas pelas sendas da razão, aquilo que
antes lhe parecia fruto da verdade já lhe afigura como meramente fabulativo.
Desse momento em diante, paulatinamente, o mito passa por releituras, suas
roupagens primeiras vão se modificando, ora pela subtração, ora pela adição,
no entanto, embora o mito sofra esse revestimento, sua significação central se
mantém.
À essa ressignificação do mito da única Górgona mortal, acrescemos
também o caráter histórico-discursivo do homem enquanto produtor e detentor
de histórias. À mulher não era conferida a oportunidade de narrar sua história
a fim de legá-la à posteridade; o homem era detentor das narrativas e do direito
– dito por legítimo – de subjugar a figura feminina. Enquanto a subjugasse, ela
não representaria a significativa ameaça que seu imaginário nutria diante do
feminino:
É, pois, através delas que se mantém e propaga a vida do clã; de seu
trabalho e de suas virtudes mágicas dependem os filhos, os rebanhos,
as colheitas, os utensílios, toda prosperidade do grupo de que são a
alma. Tanta força inspira aos homens um respeito misturado de terror
e que se reflete em seu culto. Nela é que se resume toda a Natureza
estranha. (BEAUVOIR, 2016, p. 104).
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Referências
ANTUNES, Leonardo B. Píndaro, Pítica XII. Neolympikai. 08 dez. 2014.
Disponível em: <http://neolympikai.blogspot.com/2014/12/pindaro-pitica-xii.
html>. Acesso em: 15 nov. 2021.
APOLODORO. Miscenas. A Era do Bronze. 26. mar. 2018. Disponivel em:
<https://micenas.net/leituras/biblioteca-de-apolodoro/>. Acesso em: 15 dez.
2021.
ELIADE, Mircea. Mito e Realidade. Tradução de Pola Civelli. São Paulo:
Perspectiva, 2016.
ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. Tradução de Rogério Fernandes.
São Paulo: Martins Fontes, 2018.
HESÍODO. Teogonia. Tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
HILGERT, Luiza Helena. O arcaico do contemporâneo: Medusa e o mito
da mulher. Lampião, Revista de Filosofia, São Carlos, v. 1, n. 1, p. 41-70,
2020. Disponível em: <http://200.17.114.107/index.php/lampiao/article/
view/11689>. Acesso em: 15 nov. 2021.
MORGENSTERN, Ada. Perseu, Medusa & Camille Claudel. São Paulo:
Ateliê Editorial, 2009.
OVÍDIO. Metamorfoses. Tradução de Domingos Lucas Dias. São Paulo:
Editora 34, 2017.
VERNANT, Jean-Pierre. A morte nos olhos. Tradução de Clóvis Marques.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e Pensamento entre os Gregos. Tradução de
Haiganuch Sarian. São Paulo: DIFEL/EDUSP, 2004.
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