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FUNDAMENTAIS
DA LITERATURA
UNIVERSAL
ISBN 978-85-9502-172-3
CDU 82-7
Introdução
Imagine um jovem muito mau que encontra, em todos os lugares em
que vai, uma pessoa que é idêntica a si e que o repreende pelos seus
atos de maldade. Ou um irmão angustiado com o suposto enterro da sua
irmã enquanto a jovem ainda estava viva. Um inimigo que é emparedado
vivo em um ato de vingança. Duas mulheres brutalmente assassinadas e
um detetive para resolver o mistério que envolve esses crimes. Essas são
algumas das sombrias e misteriosas narrativas do escritor norte-americano
Edgar Allan Poe.
Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer um pouco
melhor a biografia e a obra desse grande autor romântico. Vai refletir
sobre como os seus textos podem apresentar características do Roman-
tismo, apesar de algumas particularidades. Aqui, você vai se assustar e se
maravilhar com os contos e poemas de Poe.
O eu lírico ama Annabel Lee e é correspondido pela moça. Ele diz que
os dois vivem “num reino” e que essa história se passou “há muitos e muitos
anos já”. Essa estrutura não lembra a dos contos de fada? Essas histórias cos-
tumam começar com “Era uma vez, em um reino distante, há muito tempo”
ou com frases semelhantes a essa. Os contos de fada também são histórias
que costumam ter finais felizes. Portanto, por conta desses elementos que
remetem aos contos de fada e, igualmente, pelo conteúdo narrado (a felicidade
entre os dois), o leitor imagina uma época de alegrias. Porém, esse início de
felicidade é despedaçado:
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Não sei dizer como — mas, ao primeiro relance do edifício, uma sensação
de insuportável desespero invadiu meu espírito. [...] Havia uma gelidez,
uma prostração, uma repulsa no coração - uma irremediável consternação
do pensamento que estímulo algum da imaginação podia instigar ao
que quer que fosse de sublime (POE, 2012, p. 221).
Uma das suas ideias dizia respeito ao tempo ideal de leitura de um conto,
que deveria ser uma hora. Um conto excessivamente grande ou excessiva-
mente curto, segundo Poe, não teria o impacto que os contos deveriam ter.
Um leitor pode terminar a leitura de um conto dessa extensão sem pausas,
o que contribuiria para levar a cabo a intenção do autor e a sensação que ele
deseja causar no seu leitor. Essa seria, portanto, uma vantagem do conto sobre
o romance: a leitura totalizadora, a unidade de efeito e de impressão. Essa
ideia estaria relacionada com uma nova forma de as pessoas se relacionarem
com a realidade e com um mundo pautado pela pressa e pela rapidez.
Sobre a sua teorização do conto, Baudelaire comenta as vantagens desse
gênero sobre todos os outros tipos de narrativas. O conto, por poder ser lido de
uma só vez, “[...] deixa no espírito uma marca muito mais poderosa que uma
leitura intermitente, muitas vezes interrompida por problemas de negócios e
preocupações com interesses mundanos” (POE apud BAUDELAIRE, 2012,
p. 17). Essa totalidade do efeito lhe dá uma vantagem muito especial.
A teoria de Poe foi tomada como parâmetro por vários escritores que vieram
depois dele. Dois importantes exemplos são o argentino Júlio Cortázar e o
brasileiro Machado de Assis. Se Machado de Assis faz uma referência ao autor
norte-americano no prefácio do seu livro Várias histórias, Cortázar publica
inúmeros artigos e ensaios nos quais procura compreender os ensinamentos
de Poe, levando-os muito adiante. Ele mesmo afirma que rastros dos textos de
Poe podem ser encontrados no seus próprios textos. Também sentencia que,
se não tivesse lido alguns dos contos fantásticos de Poe, ele próprio talvez
não tivesse enveredado por esse caminho.
Antes deles, outro grande escritor, o francês Charles Baudelaire, já havia
mostrado grande interesse pela obra de Poe, tendo traduzido inúmeros dos seus
textos. Além disso, tendo sido Poe o precursor do gênero policial, você pode
concluir que nenhuma narrativa policial da atualidade, seja ela em formato de
livro, filme, história em quadrinho, etc., existiria se não fosse pelo personagem
Dupin e as histórias por ele protagonizadas.
A lista dos escritores inspirados nas narrativas de Poe é imensa. Alguns
deles são os americanos Mark Twain e Herman Melville, os franceses Verlaine,
Rimbaud, Valéry e Mallarmé, o argentino Jorge Luis Borges e o russo Fiódor
Dostoiévski.
Mas o impacto das suas obras não é sentido apenas na literatura. Há estudos
mostrando como o estilo musical Heavy Metal se aproxima das narrativas de
Poe. Além disso, as adaptações das suas obras para o cinema já são contabi-
lizadas em mais de uma centena. Muitas histórias em quadrinhos e desenhos
também devem muito à sua obra. Há, inclusive, um museu dedicado à vida
e à obra do escritor: o Poe Museum. Localizado no estado de Virginia, nos
Estados Unidos, o museu conta com manuscritos, cartas, primeiras edições
e objetos pessoais de Poe.
Por fim, toda vez que você se deparar com uma história que possui uma
atmosfera lúgubre, com mortes misteriosas e inexplicáveis, crimes aparente-
mente insolúveis e detetives que o resolvem por meio da observação, acredite:
você provavelmente está lidando com algum dos muitos frutos da obra de
Edgar Allan Poe.
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Leitura recomendada
FREITAS, A. Romance policial: origens e experiências contemporâneas. [2017]. Disponível em:
<http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:MUnNG5sUim4J:www.
uff.br/revistacontracultura/Adriana%2520Freitas_artigo_romance_policial.
pdf+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 12 ago. 2017.