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Mesters, Carlos
Deus, onde estás? : uma introdução prática à Bíblia /
Carlos Mesters. 17. ed. - Petrópolls;Rj :.Vozes, 2014.
Bibliografia o
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ISBN 978-85-326-19181 .......-+e
-
:.. ra 1e raão não corresponde ao objetivo Por isso, é difícil saber o que aconteceu exatamente, pois nisto a Bíblia
que o autor tinha em vista.
não está interessada. O interesse está em poder apresentar ao povo do seu
tempo a figura de Abraão, de tal maneira, que os seus contemporâneos pos-
30 31
sam nela encontrar o modo com? devem descobrir a Deus e como devem
encaminhar sua vida com Deus. E preciso caminhar. Conclusão que se tira: então Abraão não era em nada diferente dos ou-
Mas isso não é falsificação da história? - Posso tirar uma fotografia de tros? Nada o distinguia, nem mesmo a sua fé? Era um dos muitos que se
alguém e um raio-X. Nos dois casos, a chapa revela coisas completamente di- perdiam na massa anônima? Assim parece a quem olha os fatos de fora.
ferentes. Livros de história tiram fotografias dos fatos. A Bíblia tira raio-X dos Que entendia aquela gente da Antiguidade, quando falava em "Deus"?
mesmos. Nos dois casos, os resultados, embora diferentes, são verdadeiros. Que tipo de Deus era este: o Deus da Bíblia ou um outro? Aquela religião
Além disso, um fato quando acontece, dele não se percebem toda a impor- comum a todos os povos que viviam no deserto, em parte, nasceu da seguinte
tância e alcance. Só a longa distância se tornam estes perceptíveis. Quem en- maneira: 1) Verifica-se que a vida depende de uma harmonia da natureza e
tra numa curva muito larga, no momento em que o faz quase não o percebe. do universo: chuva no tempo da primavera, renovação do rebanho no tempo
Mas vendo a estrada de longe, pode-se indicar nitidamente o início da curva. do cio, volta das estações do ano, inundação dos rios que irrigam a terra, 0 sol
Quando Abraão entrou na "curva que modificou a sua vida, ele mesmo, que se levanta toda manhã, sucessão de dia e de noite, de meses e de anos etc.
provavelmente, pouco percebia. Mas vendo o fato a longa distância, o povo Enquanto esta harmonia perdurar, a vida está assegurada, pois a terra poderá
diz: "A nossa vida com Deus começou lá, com Abraão". A Bíblia descreve o produzir e o homem terá de que viver. 2) Nota-se que a vida é constante-
fato, não como Abraão o viveu, mas como o povo o via à distância de anos, mente ameaçada por forças imprevisíveis: terremoto, tempestade, doenças,
através do prisma dos problemas das diversas épocas de sua história. inundações violentas demais etc. 3) Sente-se a impossibilidade de exercer
qualquer influência sobre as forças da harmonia e da desordem. São maiores
III do que a gente e nem se sabe como explicá-las. 4) Acha-se que são forças
extraterrenas, ou divinas. Para que a vida continue, é necessário que tais for-
Como foi a vida de Abraão
ças sejam benéficas ao homem. 5) Por isso, começa-se a cultuá-las, e surge a
Diante do que foi dito, desperta-se a curiosidade: então como foi a vida religião. E assim cada povo e grupo cria o "seu" Deus protetor (padroeiro).
de Abraão? Como foi aquela entrada histórica de Deus na vida dos homens? 6) Portanto, naquele tempo, para uma pessoa viver bem como HOMEM,
l Qual foi o fato concreto no qual eles viram o começo da ação de Deus? garantir e preservar a sua vida, devia honrar os deuses. Infeliz daquele que
Conhecer isto poderá ajudar-nos a colocar um raio-X sobre a nossa vida e não o fizesse. Comprometeria a sua vida e a dos outros, pois o deus poderia
descobrir, lá dentro, os sinais da entrada e da presença de Deus. irritar-se e não mais cuidar da manutenção das forças da ordem.
Abraão viveu nos séculos XIX-XVIII antes de Cristo. Saiu, p d Aqueles "deuses" não eram Deus de fato. Eram expressões das aspirações
d D d U d • , ar ar em
e eus, te Jr dos Caldeus (no atual Iraque, perto do Golfo Pr-·5), bi e do medo do homem, do seu desejo de viver. O culto prestado aos deuses
As ei' :z.: , o uC ers1coj, sub1u
para a ssíria (atual Síria) até a cidade de Haran. De lá desceu até a Pales- era expressão da vontade do homem de acertar na vida. Neste sentido, Abraão
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"""%"J" Fgio e voltou ara a Palestina, onde morreu na cidade de
u o e feno por ordem de Deus, em contínuo contara
era um homem sincero do seu tempo, procurava acertar na vida, adorando
o deus que herdara do seu pai (cf. Jt 5,7).
Basta ler os capítulos da Bíblia (Gn 12-25). com Ele.
Hoje, a ciência derrubou a visão antiga sobre a harmonia e a desordem
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que, da região do Golfo p.:
queie tempo, um movime t:
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2:
tento migratório
no universo. Não resultam de forças divinas. Por exemplo, o sol não se
levanta porque Deus o puxa. Tudo isso mudou, graças às descobertas da
to 'ersrco, passava pela S d, -: ciência. Mas o que não mudou, é a vontade eterna do homem de querer acer-
para o Egito. Abraão era d .
um tos muitos. Na
ªma e lescia, pela Palestina,
d; : . tar na vida, de querer ser fiel, de querer preservar a vida, de querer fazer o
Todas as tribos que iam sai d d • o se ustinguia dos outros. 2)
. n ° as suas terras em b d que a consciência lhe manda. No tempo de Abraão, os homens faziam isso,
unham deuses próprios Eram "d d usca e terras melhores adorando divindades e usando culto mágico. Hoje, muitos fazem o mesmo,
• os euses a f ']'1 " 1i d O
por ordem desses deuses. amt ª • u o que faziam era
procurando cada qual dar sentido e valor à sua vida.
32
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ideal d ida o valor absoluto, isto é, aquilo que é o as formas de viver. Começa a curva larga e definitiva, cujo alcance o povo
Abraão buscava o i e av , . idad H • .
al 1
' alt e que relatrvrza
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do o resto nessa rehg1osi a e. OJe, muna
' :: . vai perceber plenamente muito tempo depois. Naquela maneira de cultuar
valor mars: " ;4al da ·ida o valor absoluto nessa mesma religiosidade. as forças impessoais das divindades, delineiam-se, lentamente, os traços do
te procura o I e a v1 a e D
gen religiosidade, sem mesmo pensar em 'eus rosto de Deus verdadeiro. É como a flor que sai do botão, fazendo cair as
Outros o fazem, sem pensar na e 'l" fi d
1 no trabalho pela família, no es orço e folhas do botão.
ou divindade, mas, por exemp o, . fi -
tornar este mundo • • ais humano, mais fraterno, na . pro . ssao que
d maus justo, m A grande mensagem que se tira de tudo isso é uma resposta segura à per-
exerce, seja:. como me1co, édi advogado etc. Achamos que assim realizamos a gunta: "Onde está Deus? Onde posso encontrá-lo?" Deus se deixa encontrar
'"d h
nossa v1 .a umana e acertamos o passo na vida. A preocupação,
. no fundo, é e entra na vida, lá onde o homem procura ser fiel consigo mesmo e com os
a mesma, em b ora as fiormas concretas se3·am totalmente diferentes. Naquele outros, onde percebe e vive o valor absoluto. É lá que devemos procurar,
tempo, to d o S O r:cazi·am , em termos " verticais
. de,, "divindade", hoje, muitos o também hoje, os contornos do rosto deste ALGUÉM no qual acreditamos.
fazem em termos horizontais de humanidade (trabalhar pelos outros, dar Não é em primeiro lugar no culto. O nosso culto só tem valor enquanto é
minha contribuição para o bem de todos). expressão daquilo que vivemos na vida.
Abraão aceitou essa presença e deixou que influísse em sua vida. Olhan-
IV do de fora, aparentemente nada mudou, mas, por dentro, uma luz começou
Como Deus entrou na vida de Abraão, e como entra na nossa? a brilhar que, pouco a pouco, foi lançando os seus raios em redor, até as
extremidades do universo, e levou os homens à descoberta de que este AL-
Ora, a Bíblia, narrando como Deus entrou na vida de Abraão, coloca
GUÉM é o Deus, criador do céu e da terra. Por isso, a figura de Abraão era
um raio-X bem forte sobre a nossa existência e nos revela qual a brecha por
tão importante e tinha tanto sentido para os que vieram depois dele.
onde Deus entra na vida dos homens. Faz saber que Deus entra na vida e se
Mas, se tudo foi tão despercebido, como então se explica aquele diálogo
deixa encontrar pelo homem exatamente onde e quando o homem procura
constante entre Deus e Abraão, relatado na Bíblia? - Um diálogo é a comu-
/ ser HOMEM, isto é, realizar o ideal que se propôs. Por essa brecha Deus en-
nicação que se estabelece entre duas pessoas. Pode dar-se de mil maneiras.
trou na vida de Abraão.
Quando o marido viaja, mil e uma coisas que ele traz consigo fazem lembrar
É uma entrada quase imperceptível no início. Incógnito, Deus entra no a esposa. É um diálogo, uma presença da esposa na vida dele. Presença que
ônibus da humanidade, paga passagem, passa pela borboleta, entra na con- só ele entende, aprecia e descobre, porque ele vive a amizade e o amor com
versa do homem, senta-se ao lado de Abraão e quando este dá pela presença a sua esposa. A quem gosta de uma pessoa, tudo lembra e evoca a pessoa da
de Deus, Deus já está na direção. Deus não entra, apresentando um cartão: qual gosta. Os diálogos formulados em termos de linguagem humana são
"Eu sou Criador, o dono de tudo! Quero que me obedeçam!" Mas entra a concretização daquilo que o povo, vivendo a sua amizade com Deus, foi
disfarçado, como amigo, pela porta dos fundos, que sempre está aberta, percebendo a respeito dele. Uma vez que a pessoa aceita a presença de Deus
conquistando pela sua bondade um lugar na vida do homem e deixando ao na sua vida e nela crê, estabelece-se um diálogo que tem as suas leis propnas,
homem a tarefa de descobrir quem Ele é de fato. estranhas talvez a quem vive de fora, mas perfeitamente compreensíveis para
Concretamente, aquelas divindades eram projeções do homem, expres- quem vive tal presença.
sao do seu mais profundo anseio. E, nessas formas concretas de viver a vida Lendo a história de Abraão, vemos um homem como nós, que procura
humana, se vai delineando, lentamente, 0 rosto de ALGUÉM. Abraão e os acertar na vida e que nesse seu esforço chegou a encontrar o Deus verda-
seus percebem uma presença ativa que fica além das for id if deiro. Deus não estava nem mais perto nem mais longe de Abraao do que
mas, sem se 1 entt. -
car com elas, e que acabou por impor-se com a sua própria evidência. Já não de nós, hoje. Por que então hoje não encontramos a Deus? Talvez porque o
é mais uma divindade que fundamentalmente dependi dc h , - sep
nosso o lh ar nao • b o m . Estamos tão preocupados com uma determinada
AI , d I h Ia o ornem, mas e
imagem de Deus, que somos de opinião que "aquilo" não é Deus. Nosso
guem o qua o ornem depende e que vai corrigindo, pouco a pouco,
34 35
5 stá em sintonia com a frequência em que Deus nos
aparelho receptorl naoOeD s :us que se revelou a Abraão e que é o nosso Deus, Abraão não tinha filhos nem podia tê-los. Era duro crer na palavra, pois
lança os seus apelos. de N. ~2
não tinha comprovante. Nasce Isaque, e Deus manda que o sacrifique. Seria
é um "Deus d os h omens " ' que não tem medo de escon er-se. , ao ve a matar a única esperança que ele tinha de ser pai de um povo. No entanto,
borboleta quem an d a caçan do águias • Não vê a flor quem procura arvores. Abraão estava disposto a destruir esse comprovante e a apoiar-se unicamente
D eus esta, e se revela , por exemplo, na dedicação de uma ]mãe dpela· famí- na Palavra de Deus (f. Gn 22,1-18; Hb 11,19).
lia, no trabalho de um operário para sustentar os filhos, na uta os Jovens
A atitude de Deus, por vezes, é contraditória. Promete posteridade nu-
por um mun d o maus • humano '. na alegria sincera provocada, pela
, presença merosa e manda matar o filho. Promete uma terra e manda abandonar a
•
d e um amigo, na compreensão recebida que nos consola. La esta e pode ser
terra, e, em vida, Abraão não obtém terra alguma. No entanto, pela sua fé,
descoberto, pouco a pouco, traço a traço, o rosto de Deus.
isto é, pela sua atitude de confiança absoluta em Deus, Abraão se tornou tão
amigo de Deus ao ponto de tornar-se o seu confidente (cf Gn 18,17-19).
V
Essa maneira de descrever a figura de Abraão não corresponde ao modo
Algumas conclusões importantes
de vida concreta de Abraão, mas ao ideal de fé do tempo do autor que
A entrada de Deus na vida dos homens é silenciosa. Não é no barulho, escreve. Assim deveriam viver os seus contemporâneos para serem dignos
mas no silêncio e na calma, através das coisas mais comuns da vida humana, membros do povo que começou com Abraão.
que Ele se vai revelando e se impondo a quem tem olhos para ver. Quando
o homem dá pela sua presença, Deus já está aí há muito tempo. Mas então VI
como a Bíblia apresenta a entrada de Deus na vida de Abraão de uma ma- Respostas às dificuldades colocadas no início
neira brusca e quase violenta (cf. Gn 12,1-4)?- É que à longa distância se A primeira pergunta ou dificuldade já teve a sua resposta através de toda
percebe melhor o início da curva, da reviravolta. Mesmo entrando imper- a nossa exposição. A história de Abraão vem exatamente responder à per-
) ceptivelmente, Deus quer uma "conversão" total, uma verdadeira ruptura e
transformação da vida.
gunta: O»dn e esta<D eus.•
A história não serve apenas para tirar daí algumas conclusões para a
Deus se apresenta como sendo o futuro de Abraão: "Eu serei Deus para nossa vida hoje (isto também). Sua finalidade é convidar o leitor a ser ele
voce!" (f. Gn 17,7). Com outras palavras: "Aquilo que você procura, indo mesmo um "Abraão" na sua vida: alguém que procura acertar na vida, que
atrás dessas divindades ou deuses, deixe lá comigo. Eu quero ser Deus para seja sincero consigo, com os outros, a fim de assim poder descobrir a presen-
você. Eu o garanto!" Dessa maneira, a entrada de Deus coloca o homem ça ativa de Deus na sua vida.
diante de uma opção radical: optar por este Deus ou ficar com as divindades Cristo já veio. É verdade. Mas para muitos Ele ainda não veio. Nem
do passado. O Deus que entra é exigente: "EU quero ser Deus para você!" mesmo para nós. Ninguém vive perfeitamente integrado em Cristo. O im-
Com isto não permite que Abraão siga ainda outros deuses (monoteísmo). portante é que também hoje o homem descubra como se deve encaminhar
Se Abraão aceitar seguir este Deus, então ele deve caminhar como este Deus para encontrar em Cristo a sua plena realização. Ora, é exatamente isto que
quer (aspecto ético da religião revelada), e terá O futuro garantido pela fide- nos revela a história de Abraão: o início da caminhada para Cristo é a since-
lidade e pelo poder deste Deus (esperança do fut · · )
uro - messianismo . ridade de vida, o amor pela verdade, a busca sincera do absoluto: "Quem é
O difícil é aceitar as condições de Deus e caminhar na fé Ab; <
pela verdade, escuta a minha voz" (Jo 18,37; cf. 3,17-21; 8,44-45). Quem
sentado como o homem que caminhz raao e apre-
ª
f @ :. A Ie
'd
d e D veus na vida. . n na e, isto e, que aceitou as exigências caminha por essa estrada descobrirá o rosto de Deus na vida.
Deve sair da terra, 5]
Para obter uma terra, mas, quando mor- Analisar a vida de Abraão só para saber como ele viveu e contentar-se
re, tem apenas um lote para enterrar os seus ossos. Deve abando r 'l' com isso não está de acordo com a intenção da Bíblia. A resposta às dificul-
eo povo para ser'd nar a tami1a
N pai e um povo, mas, quando morre, tem apenas um filho dades de ordem histórica levantou outras perguntas e dificuldades bem mais
o momento em que Deus lhe falou e lh . •
e prometeu posteridade numerosa, importantes e envolventes do que as primeiras: "Procuro Deus onde Ele se
36
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. e. e. r à sua procura onde dificilmente o encontro?
deixa encontrar, ou prehro nca1 ~b .
ºd
Procuro D )eus na vda ou IC cora da vida? Se outros nada sa em a respeito de
• 5]
, e no's , criºstãos , não temos culpa msso por nao reve armas, na
D eus, sera qu 3
• face dD
vida, a verdadeira te )eus:>"
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II preocupação fundamental não é só contar a história e dar uma "reportager
O ângulo de visão da Bíblia ao descrever o êxodo jornalística" dos acontecimentos do êxodo, mas é, antes de tudo, transmiti
pela descrição da história, o sentido desta para a vida que não para, ma
Na Bíblia, existem muitas descrições do êxodo: nos livros do Êxodo e
evolui constantemente. Não descreve, mas interpreta o fato. Por isso, nã
Números; no Deuteronômio; no livro da Sabedoria (c. 10-19); nos Salmos
posso aceitar tudo ao pé da letra. A Bíblia me faria cair em contradições
77, 104, 105, 133; referências frequentes nos livros proféticos, sobretudo
Ela mesma não está interessada no aspecto material nem aceita tudo a0 p
em Isaías (c. 40-55). da letra, pois repete, exagera, aumenta, deixa incertezas. 2) O interesse fun-
Portanto, o fato do êxodo é lembrado em livros de pessoas diferentes, damental da Bíblia, ou seja, o sentido que ela descobre nos fatos do êxodo,
elaborados em épocas diferentes, e é descrito em quase todas as formas lite- é que lá Deus se revelou ao povo e a Ele se impôs como sendo o "Deus do
rárias possíveis: prosa e poesia, história e profecia, hino e narração, liturgia e Povo". Desse contato com Deus resultou para o povo um compromisso que
sabedoria. Sinal de que se trata de um fato extremamente importante para a deve ser observado. É o compromisso da aliança. Na maneira de descrever
vida do povo: todos dele falavam e todos o comentavam através dos séculos. o fato, a Bíblia quer deixar transparecer essa dimensão divina e revelar que
Qual é o motivo desse interesse tão grande do povo pelo êxodo? Deus estava presente e atuante naqueles acontecimentos. Assim se explica o
Esse motivo se descobre, analisando a maneira de eles falarem do êxo- aumento progressivo do aspecto milagroso das pragas: era o meio adequado
do. Na descrição desse fato, encontramos as seguintes particularidades que para o leitor daquele tempo poder perceber a dimensão divina dos fatos.
pedem uma explicação: 1) repetições frequentes dentro do livro do Êxodo A seguinte comparação esclarece esse ponto. Há fotografias e há raios-X.
(duas vezes a história do maná, das codornizes, da água que sai da rocha, Livros de história são como fotografias: descrevem aquilo que pode ser obser-
da vocação de Moisés, da entrega do decálogo etc.); 2) exageros manifestos vado a olho nu. A Bíblia, porém, é como raios-X: revela na chapa o que não
como, por exemplo, na poesia de Ex 15e no livro da Sabedoria, quando pode ser observado a olho nu. Ou seja, não é possível ver nem apalpar apre-
este descreve as pragas; 3) incertezas desconcertantes: o Salmo 77 enumera 7 sença atuante de Deus (f. Jo 1,18). Mas o raio-X da fé percebe e revela a sua
pragas, o Salmo 104 conhece 8 pragas, enquanto o livro do Êxodo relata 1 O presença. Há uma diferença entre o ângulo de visão do historiador comum
pragas; mas é sabido que o livro do Êxodo se compõe de três tradições mais e o da Bíblia. Eles não têm os mesmos instrumentos de medição e de obser-
antigas: 'javista do século X com 7 pragas, "eloísta" dos séculos IX-VIII vação. Por isso, os resultados da pesquisa de um e de outro são diferentes,
com 5 pragas, e "sacerdotal" do século V ou VI com 5 pragas que não combi- embora não contraditórios: são aspectos diversos da mesma realidade. Ades-
crição bíblica procura apresentar os fatos de maneira tal que o leitor perceba
nam com as 5 do "eloísta"; 4) uma acentuação progressiva no aspecto mila-
a dimensão divina do passado e aprenda, a pirtir disso, a perceber e assumir
oso: o 'javista diz que só a água tirada do Nilo virou sangue (Ex 4,9), o
a dimensão divina daquilo que está acontecendo ao redor dele no momento
eloísta" diz que toda a água do Nilo virou sangue (Ex 7,20), 6o "
d" d , , ,
rdoal"
sacer o em que lê a Bíblia. Por isso, condição para poder captar a mensagem da Bí-
IZbqdue ~o ª ª ª,gua do Egito virou sangue (Ex 7, 19), enquanto no livro da
S a etoria, do seculo I antes d J e· blia é procurar ter os mesmos óculos que teve o autor ao descrevê-la.
inda :. 1e Jesus rIstO, dºlizem-se coisas
. mais fabulosas
am a a respeito das pragas.
Ili
Afinal, quantas foram as pragas? D3 :. a, d
dator fir 1l d [ de as a a 1mpressão le que o autor ou re- O ângulo de visão da ciência moderna contradiz a visão da Bíblia?
bi r na Oe IVrO .
O Exodo pen
sou em d ez, ac h an d o que era um número
om. O que toi que aconteceu na realidade? Ç . Ninguém pode proibir que nos coloquemos no ângulo de visão do his-
3, 1dad. , u ª e. orno se realizou a praga da
agua mu a a em sangue' E , 1 b toriador e que apliquemos à Bíblia os critérios da ciência moderna, a fim de
Es ,: ·Possível saber o andamento concreto das coisas?
ssas particularidades literáriz d b chegar a um conhecimento histórico mais exato dos fatos ocorridos. Essa
velam a seevinte reousa 4,,,3$"""s Pela oeeese modera. te pesquisa foi feita. Os resultados a que se chegou são os segumtes: as pragas
g e vsão naquele que escreve: 1) A
40 41
• e costumavam acontecer na região do Nilo; a
eram fenômenos naturais qu d. b .
Vc lho era possível por causa a mare a1xa; o vento ]ado "científic~" se atrofia a percepção do lado escondido das coisas, apreen-
M
passagem do ar erme d .,d , ,
e (cI.(f. E»X 14,21) fez recuar a água num lugar_on e ja lava pe; o mana era dido pela poesia, pela arte, pelo canto, pela filosofia ou pela pintura. Assim,
torte + ,a, ]
0 fechamento do homem, dentro de si e das suas próprias conquistas cien-
, • d • a comestível. São conclusoes certas que nao potemos
uma especre 1e resmna ., ·] . As . ºA . tíficas, pode atrofiar nele a abertura para Deus e levá-lo a não dar nenhuma
negar. Essas c01sas c ostumam acontecer no Egtto,
• . ate al d, d;a cienc1a.
OJe. sim,
importância à dimensão divina dos fatos que a fé revela. Muitas vezes, po-
]• os aco ntecimentos do êxodo de mane1ra natur
exptca . e po e· izer:
h não rém, a culpa não é da ciência, mas dos que professam a fé, pois pela vida que
se ver1ºfi cou nad a de extraordinário • O que houve foi uma tentativa. uman4
levam parecem dar a prova de que a fé, de fato, não contribui muito para o
bem-sucedida de libertação, como houve muitas, antes e depois de Moisés.
progresso e o crescimento da vida humana.
Esta conclusão, à primeira vista, desnorteia.
A Bíblia, assim analisada, pode ser uma luz que nos ajuda a descobrir
O resultado dessa pesquisa histórica, porém, situa-se na categoria de "fo_
essa dimensão escondida da nossa vida. A narração do êxodo, em particular,
tografa, que a Bíblia não nega, mas supõe, para dela poder tirar um raio-X
pode revelar a presença atuante de Deus em determinados setores da vida
que revela o outro lado da medalha: Deus estava no meio de tudo isso! A humana onde comumente não procuramos tal presença.
ciência, por sua vez, não pode negar sem mais as conclusões da Bíblia, pois
tal negação ultrapassaria as suas premissas e a capacidade dos seus instru- IV
mentos de observação. Os instrumentos científicos não conseguem registrar
O fato histórico do êxodo e a sua dimensão divina
a ação de Deus. Sua presença só é percebida por aquele que para Ele se abre
descoberta à luz da fé
com fé. Deus fica aquém e além da observação científica.
Por isso, na Bíblia, há uma certa despreocupação pelo aspecto histórico Tudo somado, para quem observa e estuda o fato do êxodo com crité-
material, pois os seus autores caem em repetições inúteis, em exageros e até rios puramente humanos, houve uma tentativa bem-sucedida de libertação
em contradições, aumentam e diminuem, interpretam e mudam a perspec- do jugo de opressão que um homem, o faraó, impunha aos outros. Houve
tiva dos fatos. Tudo isso a ela não importa tanto. O que importa, é comuni- procura de liberdade e de independência. Houve muitos grupos que antes e
car a mensagem profunda do fato: Deus estava presente e atuante naquela depois de Moisés fizeram semelhantes tentativas. Os homens as continuam
tentativa humana bem-sucedida de libertação. Dessa maneira, ela quer abrir fazendo até o dia de hoje, pois o desejo da liberdade e o que mais fortemente
os nossos olhos sobre o que está acontecendo hoje ao nosso redor. As tenta- se impõe. .
tivas humanas de libertação se multiplicam em toda a parte. Não pensemos Colocando sobre tudo isso a luz da fé, a Bíblia traz a seguinte mensa-
que tal ocorra fora de Deus ou que Deus não tenha nada a ver com isso. gem: relatando os acontecimentos históricos do êxodo e insistindo, não tan-
A olho nu não vejo os micróbios, mas verifico os resultados (as doenças), to no aspecto mater1ial d1os rafatos, s, mas na experiência vivida e concreta e na .]
o simples crescimento humano de criança para adulto como forma de ven- esse fim, não contribui para a liberdade. Percebe-se, assim, que a entrada de
""%"P"sós e de se afirmar na vida; cada grupo, cada povo, tem o seu Deus na vida dos homens é uma luz que orienta e corrige ao mesmo tempo.
exo o. umanidade toda está envolvida no êxodo ou d' A primeira correção ou conversão se deu na cabeça de Moisés: de matador
li 1dical > ,como uz o con-
cu1o, esta radicalmente comprometida com o "Mistério Pa ] d C. torna-se conscientizador.
E d • • asca e nsto .
m tu o isso, existe a brecha por onde D e Nem tudo que se faz em nome da liberdade conduz àquela liberdade
fa d h eus entra, iaz-se presente e atua em
avor os omens, e onde pode ser encontrado Q 1 que Deus quer para o seu povo. Por outro lado, nem sempre o esforço de
vê nem percebe mas • - d e, d • uem o ha de fora, nada
a vusao te fé pode levar d 5br:- ; ± ,, :
libertação se faz de maneira pacífica, sem violência. Com efeito, a primeira
vivida e sofrida, essa dir a, • ra tescobrir aí, pela experiência
> imensao mais profunda de D reação, provocada pela atuação de Moisés, foi um endurecimento da opres-
D eus.
eve-se concluir, então, que todas as a, = · são por parte do faraó (Ex 5,1-18) e uma revolta do povo hebreu contra
de, tenham a assinatura de D ;, E çoes, feitas em nome da liberda-
. eus. ssa conclusão • al d. · Moisés, o libertador, por ele ter despertado o ódio do faraó e por ter coloca-
movimentos, ditos de libertac=. vau 1em las premissas. Há
çao, que, em vez de 1 ' l'b d d 1 do a espada na mão dos egípcios, para matar os hebreus (Ex 5,19-21). Em
a uma opressão maior enquant l evar a I er a e, evam
o evam ao ódio e h. · vez de liberdade, veio uma opressão maior. Moisés se queixa (Ex 5,22-6,1),
d entro do grupo. Como discernir? eao fechamento egoístico
o faraó se fecha mais ainda e resiste ao apelo que lhe foi feito (Ex 7, 13.22;
46
47
. , . ha de vencer o medo e a apatia contra a influência dos maus espíritos. Por ocasião dessa festa ou para ce-
lo 2 o 27) Mo1ses nn f , .,
8 15-19; 9,7.12.35; , • • d endurecimento do arao ja era lebrá-la no deserto, saíram do Egito. Por isso, nos anos seguintes, a Páscoa
, ovo e que o
do povo. Teria de convencer P , (E7, -5;9,35; 10,20.27). A atuação deixou de ser uma festa contra os maus espíritos, para tornar-se um "me-
. d a libertação X •3 ' "
Deus agindo, preparando' ,1, em fazer com que o povo tomasse morial" da libertação: recordava o que Deus tinha feito, oferecia ao povo
• • fundamentalmente e1 [ib
de Moisés consista mn decidi assumir O esforço de 1,ertação uma oportunidade, cada vez renovada, para "engajar-se, ano após ano, no
;2. -· da ssão e se lecrdrsse a _..
consciência la sua oprcss , ·tava os acontecimentos como sinais projeto de libertação em andamento, e mantinha no povo a esperança da
. Deus nterpre a
como rare f:a imposta por d • Fazia os faros falar. No fim, o faraó libertação total do futuro. Por isso, a vida daquele que crê em Deus e na sua
D favor o seu povo.
d
e apelos e )eus em ). Começou a marcha para a liberdade, como promessa chama-se às vezes "vida pascal, isto é, uma vida que passa suces-
37 sivamente da opressão para a liberdade. A Páscoa de Cristo foi a verdadeira
cedeu, o povo partiu (Ex l°', o.Mas é sempre uma marcha crítica
do a marcha que Deus quena o pov • al d Páscoa, enquanto passou da morte para a vida que dura sempre junto a
sen . . d liberdade tudo parecia fracassar. Encurrala o entre
e ambígua No limiar a I er a e, M · , Deus, onde, no contato com Ele, existe a verdadeira liberdade.
• , • , · desanimou e revoltou-se contra 01ses
o mar e o exército egípcio, o povo :. librdad
· , e apelo à fé o povo continuou, a I er a e O esforço de libertação e a preocupação de celebrar essa vitória foram o
(E 14,11-12). ) M Ioisés tez um "
'(E 14 30) Revela-se nisso a fé do líder na causa que defende e pro- que mais caracterizou a história daquele povo.
nasceu X s. '· ',]a. -:
a considera vitoriosa. Não foi Moisés que provocou a v10 enc1a.
move. Ele Iibzdad Er • Referências
Foi o faraó que não queria deixar partir o povo para a liberdade. ra mas
cômodo para ele ter um povo de escravos a seu serviço. ARAÚJO, E.O. O Êxodo Hebreu. Raízes histórico-sociais da unidade judaica.
Brasília: [s.e.], 1970.
VII
AUZOU, G. De la servitude au service. Paris: [s.e.], 1961.
Celebrar a libertação que Deus concede
BRIGHT, J. A history ofIsrael. Londres: [s.e.], 1960.
A grande experiência do povo foi: Deus nos libertou! Somos o povo
de Deus (Ex 19,4-6). Por causa disso, tudo que acontecera era visto à luz COUROYER, B. LEode. Paris: [s.e.], 1958.
dessa fé fundamental. Deus estava presente em tudo, orientando tudo para NOTH, M. Das zweite Buch Mose, Eodus. Gõttingen: [s.e.], 1961.
o bem do seu povo. Assim viu-se a orientação de Deus na astúcia humana
VAN TRIGT, E Het Epos van Iel. Tiel: [s.e.], 1964.
que levou o povo a escolher um caminho menos perigoso em direção ao
Mar Vermelho (Ex 13,17-18). Viu-se o dedo de Deus no vento force que
soprou a noite toda, levantando uma nuvem escura de areia (Ex 14,20-21)
e facilitando assim a fuga, pois a maré era mais baixa e a tempestade fun-
cionava como uma espécie de cortina de fumaça que protegia a retirada. As
pragas da natureza que costumam acontecer no Egito ajudaram a criar um
clima geral de confusão que favoreceu a fuga para a liberdade. Vistas à luz do
raio-X da fé, elas se tornaram, para Moisés e para os hebreus, uma revelação
da ação libertadora de Deus. O povo e seu líder souberam captar os "sinais
dos tempos" e corresponder, com toda a fidelidade, usando até artifícios e
artimanhas estratégicas, à realização do objetivo de Deus.
Tudo isso aconteceu na noite de Páscoa. A Páscoa era uma festa pastoril
da pnmavera: passava-se sangue de um cabrito nas portas para se defender
49
48
não se fizerem,
- o caos virá. O Rei Ezequias (716-687)
- tentara re ,ormar a
ida da nação, mas tudo fracassou e foi de mal a pior,, so b o rema ·' d o dee M a-
4 nassés (687-642) e Amon· (642-640). Em 640, um rei jovem, , J·' Os1as, a$Su-
miu o governo,
. 1 er de ec1·idid
tendo . a simpatia do povo.• Era um lide 1 o a retomar
. ;> o trabalho interrompido da reforma urgente da nação. Tinha O apoio de
Sansão e Dalila: folclore ou al go mais. todos. Além disso,
. · a tensão internacional abrandou-: se com a d teca(enc1a
d' • d la
Assíria. Surgiu assim um movimento nacionalista conjugado, do governo,
do clero e dos profetas com o apoio da simpatia popular, para uma reforma
profunda, basead~ :1ª
aplicação da Constituição, que era a Lei de Deus,
agora em nova edição, elaborada no livro do Deuteronômio, que data desse
I tempo ou de pouco antes.
Algumas dificuldades em torno da história de Sansão e Dalila
***
A história de Sansão e Dalila ocupa um lugar relativamente grande no
livro dos Juízes: capítulos 13 a 16, isto é, quase uma quinta parte do total. Nessa revisão geral e coletiva, um homem teve uma ideia genial: pro-
Trata do nascimento de Sansão (c. 13), do seu casamento (c. 14), das suas curou aproveitar-se de todas as tradições populares do passado para poder
brigas e façanhas contra os filisteus (c. 15) e do seu fim trágico e glorioso (e. levar avante o movimento reformista. A sua tese era a seguinte: aquele que
16). É uma daquelas histórias da Bíblia da qual não se sabe bem o que pensar. reforma a vida, ou contribui para isso, prepara e garante um futuro melhor.
As atitudes de Sansão não combinam com as normas da moral e da Ele era de opinião que a situação do mal-estar generalizado provinha exata-
7 mente da negligência em observar os direitos e deveres, expressos na Lei de
ética. Aliás, ele não segue norma nenhuma. Segue apenas os seus próprios
ímpetos. Gostava de mulheres. A Bíblia conhece três delas. Matava sem Deus. O povo devia tomar consciência disso. Com tal fim, escreveu o seu
escrúpulo. Incomodava todo mundo, tanto os inimigos como os patrícios, livro que é o atual livro dos Juízes, onde se encontra a história de Sansão.
com as suas façanhas e brigas, ocasionadas, quase sempre, por uma história Ele recolhe todas as tradições antigas do tempo dos Juízes e as ordena
de amor. Faz o que bem entende e age como quer. E em tudo isso a Bíblia dentro de um esquema fixo, que exprime a sua tese ou mensagem funda-
vê uma atuação da força do Espírito de Deus? mental: 1) quando o povo, naqueles tempos remotos dos Juízes, deixava de
Que pensar de tal história? Serve apenas como material para um filme es- seguir a Lei de Deus, perdia a sua liberdade e ficava oprimido pelo poder
cabroso? Não é possível imitá-lo, seria perigoso e inconveniente. No entanto, estrangeiro (0z 2,1-3.11-15; 3,7-8.12-14; 4,1-2; 6,1-2; 10,6-8; 13,1); 2)
a Igreja, até hoje, continua lendo essa história. Qual a sua utilidade para nós? quando, em seguida, se arrependia, voltando-se para Deus e reformando a
vida, Deus sempre suscitava um líder, sobre o qual descia a força do Espí-
rito de Deus, para libertar o povo (Jz 3,9-10.15; 4,3s.3 6,7s.; 10,10s.): 3) o
II
resultado era um período de paz e de tranquilidade na posse da liberdade
O ângulo de visão do autor que descreve a história de Sansão
Oz 3,11.30; 5,31; 8,28; 15,32); 4) depois, abandonada novamente a Lei de
O livro dos Juízes escrito m utos
itc anos d tepois • d tos acontecimentos, e, Deus, voltava a opressão e se repetia o mesmo processo. Assim via ele a his-
u1:1a clolcha ~e retalhos. Com tijolos velhos, o autor fez um prédio novo. tória dos juízes. Os juízes eram os líderes carismáticos, suscitados por Deus,
V Ive e e no seculo VII antes de J
. esus C n• sto- E' um tempo em que todos fa- como resposta à boa vontade do povo.
1 am na necessidade de reformas profundas da vida nacional. Se as reformas
Sobre esta reforma, cf. o capítulo 6 - História de uma reforma.
50 51
A • al se repetia infalivelmente a intervenção última guerra. Sob a opressão nazista o movimentd • fc
Ora essa constanc1a com a qu 1. A •
o la resistência tez explo-1
liberradora de Deus, após a conversac
«, o" ou reforma do povo,,
era para O .e1-
B
>
dir uma pequena ponte. O povo comentava ofat d
. o e o contava e um para 0
. d tal intervenção era possível, tambem agora. astava outro. Era uma alegria poder descrever aquilo. Aliviava a ter +,}
tor uma garantia e que d, id. al · . . . • nsao e mantmn. a
<a,
$-la ·6-la por uma reforma profunda la vida nacron, pois a esperança. Fazia ver que existiam forças atuantes em 1 d l'b d d
prepara- a e provoca- a · d D . . pro a 1 er a e que
- d d l' ' A força do mesmo Espírito (e 'eus garan- todos desejavam. Mas na medida em que a história da
Deus nao mucou e a para ca. . . . a ponte corra db te oca
:.:. +bér oêxito da tentativa reformista que o povo fizesse. Visto em boca, a ponte crescia em tamanho e tomava dimens
tur1a, tam em agora, d 1 soes feenomena1s..
e apresenta d o d essa m anel ,
·ra aquele passado longínquo os mzes começava
. _ Assim, em Israel, os filisteus invadiam tudo e O po
• • A •
,,:
vo sorna. urgm um
s ·
· tomar di'mensóes bem atuais: se quiserem que a s1tuaçao mude movimento de resistência para reconquistar a liberdade. Houve heróis da re-
areviver e a .1
para melhor, façam como fizeram os seus ante~assados. . , . . , . sistência. Um deles era um tal de Sansão, que marcou época. Homem forte
N essSe contexto geral do seu livro, o autor insere a história, já existente,
B;-'
e corajoso, pela sua bravura brutal, conseguiu manter no povo a esperança e
de Sansão. Para fazê-la combinar com a perspectiva e o objetivo geral do preparar a escalada ao poder por parte de Davi, que derrotou definitivamen-
livro acrescentou uma breve introdução: "Israel começou a fazer o que de- te os filisteus, muitos anos depois. Como a história da ponte, Sansão entrou
sagradava a Javé, e Deus permitiu que caíssem sob as mãos dos filisteus..." na lenda. A sua história cresceu à medida que corria de boca em boca. Já não
Qz 13,1), e a conclusão: "Ele (Sansão) governou Israel durante vinte anos" é possível saber exatamente o que ele fez, assim como não é mais possível
Qz 15,20; 16,31). Assim, uma história já velha, sem perder nada do seu saber exatamente qual foi o tamanho da ponte.
colorido popular, começou a ter uma função muito atual: ser apelo para en- A estória, tecida em torno da pessoa de Sansão, embora tenha funda-
carar a situação com o realismo da fé e para preparar a manifestação da força mento seguro na história, não nasceu com o objetivo de ser urna narração
de Deus. Levava a perguntar: "Quem é hoje o nosso Sansão, que merece o informativa a respeito de coisas que aconteceram. Nasceu de outra fonte e
_) nosso apoio e no qual se manifesta a força de Deus?", e a resposta, que o tinha outro objetivo: nasceu como um meio de poder expressar a esperança
autor deixa por conta do leitor, era: o jovem Rei Josias! e de alimentá-la; funcionava como uma espécie de válvula de escape para
o povo poder respirar. Era como se o povo dissesse: queremos viver; não
III queremos morrer assim, logo; podemos esperar, ter coragem e resistir por-
Apontamentos à margem da história de Sansão que uma força maior está conosco que é a força do Espírito de Deus. Este
objetivo concreto provocou um aumento do fabuloso e do maravilhoso dos
A pergunta que resta é: "Mas aquela história de Sansão? Aconteceu mes- fatos e nos faz saber que a esperança do povo não conhecia limites. É uma
mo? É verdade mesmo que Deus aprovou tudo aquilo? Para que servem narração mais patriótica do que histórica. Parece-se mais com o Monumen-
aquelas histórias melindrosas e duvidosas de assassinatos e de amor?" Que to do Ipiranga do que com o grito histórico de Dom Pedro. Era um meio
foi que aconteceu na realidade? E possível sabê-lo? para fazer crescer o nível de consciência do povo e para mantê-lo acordado.
Deve-se notar aqui duas coisas: trata-se de literatura bem popular; são O povo não podia acomodar-se.
narraçoes que surgiram em circunstâncias particulares de opressão por parte
dos filisteus. IV
_Ora, literatura
, . popular não segue as 1 eis• d e uma reportagem jornalística
. . A história de Sansão em quadrinhos
e não está interessada em dar u - r áfi
, 1 "f, f, ,, ma versao 1otogr ca dos fatos; é muito sen- Nascimento de Sansão (e. 13):
0
~~ ªd. ocas dque_ aumentam os fatos segundo o interesse do momento.
em isso, sen o 1uteratura que s • . A descrição faz prever que o menino será grande: o pai se chama Ma-
,, .:.:. ·] Surgiu numa situação de opressão, a nar-
raçao exprimia aquilo que o povo de : ' noah, isto é, Tranquilo. A mãe é estéril (Jz 13,2). Apesar disso nasce um
novamente a l'b d d E l eseJava: derrotar os filisteus e conquistar
verdade. xemplos des - dI
se tipo e 1teratura temos alguns, da menino que é fogo. Sugere assim que quem está atrás disso é Deus. Por isso,
52 53
• to foi previamente anunciado pelo "anjo d m aos inimigos da pátria. Mas na hora da e
descreve-se como o nascmmeni . . e se d l ( ' entrega, a torça do Espírito
,, d e menino seJ·a consagrado mteiramente a Deus. Para de Deus tomou conta e e Jz 15, 14). Sansão rebentou d h
D eus , que peue qu O . . _ · d d b as cor as, apantou
tanto a mãe deve seguir certas observâncias (Jz 13,4), e o menm~ nao pode-
um
a queixa a e urro e matou mil filisteus e d
• ansa o e com sede depois
ra, nunca cortar oca belo (Jz 13,5).
, • Assim já se faz entrever o destino de San - dessa façanha, pede a Deus que lhe dê água e uma ro h b . ' .
·1 h ' e a se a nu e Jorrou
são e a origem da sua força: reside na sua dedicação total a Deus que permt b d e matar m1, omens e Deus O rec
gua. Acaba .
a compensa com um milagre!
tiu a manifestação do Espírito. Na Bíblia, o anúncio prévio do nascimento
faz parte do esquema pelo qual se ensina que o menino que vai nascer tem Fim trdgico e glorioso de Sansão (e. 16):
missão roda especial na realização do plano de Deus: Jacó (G 25,21-26),
Samuel (1Sm 1,1-28), João Batista (Lc 1,5-25), Jesus Cristo (Lc 1,26-37). Sansão foi a Gaza, cidade dos filisteus e entrou num d • •
. . ' a casa e prosmm-
ç ão Os filisteus pensavam te-lo agora numa arapuca. Fech d
- • aram as portas a
cidade. Mas Sansao sai, arranca as portas da muralha e as car rega para perto
Casamento de Sansão (c. 1):
de Hebron. Viagem de muitas léguas (Jz 16,1-3). Em seguida apaixonou-se
Sansão foi um irregular. Gostou de uma filisteia, inimiga do povo, e por Dalila, também uma flisteia. Os filisteus montaram um esquema para
casou-se com ela. Ninguém conseguiu dissuadi-lo (Jz 14,1-3). Mais tarde matá-lo. Dalila era a pessoa-chave. Devia descobrir o segredo da força de
viram nisso a mão misteriosa de Deus que dispõe tudo para o bem do povo Sansão. Por três vezes, Sansão a enganou (Jz 16,4-14). Na quarta vez, Sansão
1
pois foi esse casamento que ocasionou uma lura vitoriosa contra os fiJisteu: caiu e revelou que o segredo estava no cabelo comprido: sete tranças enormes
(Jz 14,4). Em outras palavras: "Deus escreve certo com linhas tortas". O, que nunca tinham sido cortadas; sinal da sua consagração a Deus. Cortaram
versículos 5 a 20 são manifestamente fabulação lendária em torno de um o cabelo durante o sono, prenderam Sansão e ele não teve força para resistir.
fato que já não podemos apurar: mata um leão, sem os pais o saberem; pro- Vazaram-lhe os olhos e jogaram-no na prisão. Quando o homem permite
1
põe uma charada durante a festa de casamento e perde a aposta por causa que um terceiro se intrometa entre ele e Deus, desviando-o de Deus, perde
da insistência da sua mulher; deve pagar o preço de 50 túnicas e para tanto a força e a coragem e se faz joguete da malícia humana. Prepara-se, então,
_j entra numa cidade filisteia, mata 50 homens, tira-lhes as túnicas e paga 0 uma grande festa ao deus Dagôn. Enquanto isso, porém, o cabelo cresceu de
que deve. E a Bíblia diz que, naquele momento de matar, 0 "Espírito de Javé novo e a força voltou. Na hora da festa, Sansão derruba o templo e mata mais
irrompeu sobre ele" (14, 19) • No fim da escória, Sansão voltou, irritadíssi- filisteus que durante toda a sua vida precedente (Jz 16,30).
mo, para a casa do pai. O sogro deu a filha a um outro.
V
Briga com osfilisteus (e. 15): Sansão e Dalila: Folclore ou algo mais?
Quando, tempos depois Sansão f' 01 ver d e novo sua mulher percebeu Quem lê essas histórias não pode deixar de sentir repulsa e admiração:
'
que o sogro o enganara, dando a filha . ' repulsa, pelos crimes cometidos, que a Bíblia não encobre nem justifica;
raposas ligou-as dua d para outro. De raiva, pegou trezentas
, as a uas com o rab O h admiração, pela bravura e autenticidade de Sansão: ele nao m~nte, e sm-
dentro dos cereais. Que' d numa toe a acesa e tocou-as para
• 1emmou tudo (Jz 15,4-5). A ' cero, é inteiramente livre; desafia as convenções; derrota os traidores, seus
matar pelo fogo a mulher '>" r- 1. vingança dos filisteus foi
" . r e O sogro. Sansão reb d , patrícios, que quiseram entregá-lo; não suporta duplicidade e acomodação
considerável de filisteus" . ateu, matanto um numero
15,6- e,em seguida, foi esc 1de (] com a situação.
0-8). Foi motivo de revolt ai d ' . con er-se numa gruta z
trícios de Sansão para evita a g~r ~~ filisteus contra os hebreus. Os pa- A Bíblia não aprova os crimes e as fraquezas de Sansão, mas simples-
de 3.000 homens, a ,, 4"""grcs dificuldades, mandaram um pelotão mente descreve o que o povo contava a seu respeito e mostra o cammho
. , e prender Sansão e ]
queriam ser incomodados. Sar entregá- o aos filisteus. Não que 1 evou da opressão para a lºb
i erd ad e. N 0 entanto ' acentua ,a constante
. d
. • • dade e amor à liberdate.
«a :.
56 57
II
Como nasce a vocação de um profeta?
5 É. difícil penetrar na intimidade de alg uem' 1
e evantar o véu do mistério
da vida que se passa entre ele e Deus. A vocação dc f :
·· · o proteta situa-se nessa es-
fera do mistério impenetrável da vida. Refletind o, porem,
, so brre as md1cações
:.
Profetas: onde está o Deus em que cremos? . +.
58 59
rn direção ao futuro, garantido pelo d
,
.
um amor fiel e desinteressado, 3P
d capaz de regenerar o povo e capaz de fazê-1
~ To
deD "" "esposa fiel de ]avé'. omou consciência {
·, "O {e dessa atitude
,
fundamental a,"
., .
$ P"h fidelidade de Deus. Na
agem, e fe de
voltar .a ser ª
- o povo. e euso o amor não retribuído . 'd d e D eus, para provocara e de amor, esta a experiência e a convicç5 <.,p.'
çao ma alável· "D
€SPerança, de doação
sua. missão: anunciar_ ao . pov Por isso as suas profecias fe' são tão = -'
corno aque 1 e que e h ama a cada moment E , 'i eus está conosco
a
violenta " E to. stamos c 'd
assim uma conversao smcera. , • • , Ele e E1 e conosco . ssa consciência ou ., . ompromen os com
da isas mais violentas que podem ex1st1r no homen-. , 1· expenenc1a de • d
• ., à
chamada também b aliança, estrutura-se er amizade profunda,
pois o ciúme é uma das cOls "" . :.. Re zm comportamentc d
. los mostram que O profeta era um homem no qual culto, insntu1çoes, estas, celebrações co t os e at1tu es: lei,
Estes d1ois exemp! • • . - ' s umes, como p 1
. ·e·nc·ia do povo de Deus numa consc1enc1a pessoal e in marias ao templo: 1 traduçoes
d que conserv . or exemplo as ro-
culminava a consC1 1 . 1 . am e transmitem O d
l memória atua ; imagens e representações passa o como
dividual. É alguém que percebe o chamado de Deus através da sua situação ' como por exemplo d, ali
pessoal dentro do povo. A percepção clara das exigências de IPeus leva-o4 a e o bezerro de ouro; profetismo sacerd, • . a arca a 1an-
Ç ' oc10, monarqU1a O - b
doria popu 1 ar etc. Através de tudo isso co • 'd . , raçoes, sa e-
ter uma igual percepção daquilo que deveria ser a vida do povo. E Homern . • , - . ' rna a VI a Intensa do
de Deus" e "Homem do Povo, ao mesmo tempo. Sente o seu compromisso transm1t1a as geraçoes posteriores a consciência de O «, povo e se
lançava o apelo de Deus a ser fiel. e ser povo de Deus" e se
com Deus e com o povo, e acha que não pode mais calar-se. Fala com auto-
ridade, porque fala a partir de Deus e a partir da consciência e da tradição Todos, esses. comportamentos
1 ou estruturas surgiram
• no povo a parnr •
secular do povo. A sua vocação nasce do confronto entre a situação real e a da sua fie parucu ar_ em _Deus. Eram instrumentos pa ra manter viva • a e1é a
esperança .e a d oaçao.
. Nao
_ eram , . fim em . si , mas meios para atmg1r
• • o fi m, d, 0
situação ideal.
qual recebiam
b orientação e crítica. No dia em que , por um ou outro mottvo •
Severos castigos estão reservados a quem pretende falar em nome de
} Deus sem ser enviado por Ele (Dt 18,20). Para autenticar a sua missão, 0
um desses comportamentos já não conseguia ser expressão daquela vivência
profunda e, portanto, não conseguia mais transmitir o valor para a comu-
profeta prediz o futuro. São "profecias" a curto prazo. A realização da pre- nicação do qual foi suscitado, tal comportamento era corrigido, criiad "
visão é prova de que Deus está com ele (Dr 18,21-22; Jr 28,9; Ez 33,33). ou eliminado. O critério usado na eliminação ou correção era, sempre, o
Assim se distingue o falso do verdadeiro. projeto original que Deus teve em vista e para o qual criou o povo.
. Tais comportamentos e estruturas de vida eram criações do homem, que
III assim procurava dar expressão à sua fé. Mas o mal do homem sempre foi o
Missão e atuação do profeta: o que ensina sobre Deus seu justo e inveterado desejo de segurança, tanto individual como nacional.
Uma vez que, após muita busca, encontrou uma forma de viver que expri-
A missão e atuação do profeta são sempre condicionadas pela situação mia a sua convicção, considerava isso como uma conquista e nela encontra-
concreta do povo ao qual ele dirige a sua mensagem. Da parte de Deus, ele é va a sua segurança. Pouco a pouco, dava-se então o seguinte fenômeno: essas
enviado ao povo'. a fim de ser instrumento na mão de Deus, para fazer com formas de viver a amizade com Deus, em vez de continuarem a ser expressão
que o povo caminhe em direc çao ao o Jetlvo com o qual se comprometera
1bj
de uma busca constante que dinamizava e impelia a caminhar sempre para
perante Deus na aliança . O proreta e e,' por assim
• •
dizer, o homem que vem o futuro, passavam a ser expressão de uma busca de segurança humana,
co b rar d o povo
. o compromi li
sso ivremente assumido com Deus e consigo perdiam o contato com a fonte (a consciência de ser o Povo de Deus), e dei-
mesmo. xavam de ser veículo de vida. Diminuía-se a vivência interna e continuava
convé Por d isso , para
b poder compreen d era missão • e a atuação do profeta,
m escrever, revemente aq I d •d inalterável a estrutura ou O comportamento externo, dando a impressão de
nava a sua atividade e ª
' ue parte a vi a do povo que condicio- que nada mudara. Na realidade, porém, rodo o arcabouço externo da fé, as
p , que provocava a sua reação em nome de Deus. 1
estruturas e os comportamentos, já estavam solapados pe:a base, ~evido a
e 1 o exodo, aquele grupo que sai dO E •
"povo de Deus" t d m gito tomou consciência de ser o falta de vida real. O comportamento externo começa então a ser interpre-
, en o a responsabilidad d 1· •
de libertação Essa ., . e e rea 1zar com Deus um projeto tado pelos que nele se agarram como uma espécie de cartão de_ e~trada, que
• consc1enc1a de "povo d D ,, , f: dá direito à ajuda de Deus. Tornam-se meras convenções socta1s, fachadas
com que O grupo ca • h e eus e o dinamismo que ta·
mm e sempre, não pare nunca, mas vá abrindo uma via
61
60
·nuam dando a impressão e a ilusão lá a força de Deus estivesse mais concentrada, , pois s c :h egava a razer
la se morar que co1ntl 1d E
crescer
sem casa para ne " d realidade a planta está corta a pela raiz d
árvores e enorme tamanho em lugar deserto Assim Sal d D
d e estar b em com Deus
,,g, :. p;
quan o na ••
atureza, essas convenções sociais recebem " l d G b - " • , omao a orou eus
no lugar a to M,e a aao,, (cf. lRs 3,4), sem que nisso h 1ouvesse a 1 guma mn- •
por falta de vivência. rágeis por na ' 1e as ataque ;3, -:.
uma defesa cerrada e violenta contra qualquer um qu q%° conveniência. las essa torma de adorar a Deus encer rava um pergo: • id
1den-
, . afetas em ação: a sua missão e atuaçao nascem tificar Deus com os outros . deuses que eram adorados da mesma manetra •
E aqui que entram os pr D •
-circuito entre vida e comportamento. enunc1arn nos mesmos l ugares;
. localizar demais a ação de Deus e J I d
o oca o encontro
q uase sempre d esse cur to • •
d al povo se esconde, mmtas vezes mcons- com Ele. Por isso, quando esse perigo se tornou realidade , surgem os pro-
a falsa segurança, atrás 1a qua O d E
d
. D · al povo e O enviam à procura e novas rormas de fetas para condenar veementemente tal forma de piedade. Chamam-na de
cientemente. )esmntalam O . l d id d
• am de novo expressão e esumu o e v1 a e e fé. "prostituição debaixo das árvores" (cf. Jr 3,1-2.7; Is 1,29-31; 0 2,6-7). Em
comportamentos q Ue Se) • bºl' A
r que mantinham o povo no seu 1mo 1 ismo. reação vez de expressar e dinamizar a amizade com Deus, o culto nos lugares altos
C on d enam as tormas ·
· dº , • egurança do povo que se vê privado daquilo em que encon- levou a degenerar a vida. Tinha de ser criticado e condenado.
imelata e a 1ns . ·o •
trava uma certa tranquilidade de vida e de consciência. Rei e monarquia: Na pessoa do rei, personalizou-se a grande promessa
o profeta sempre age em nome de Deus. Faz ver que a concepção de que dizia: 'Sereis o meu povo, serei o vosso Deus". Agora é: "Serei para ele
Deus, a qual se revela naquelas formas e comportamentos da vida do povo, um pai, e ele sera para mim como um filho" (2Sm 7,14). O rei era, assim a
não é a do Deus verdadeiro que se revelara aos pais no deserto, quando os concretização visível da amizade de Deus para com o povo e o instrumento
libertou do Egito. Os profetas conseguem ter essa visão clara que lhes dá de fazer valer a vontade de Deus. Pouco a pouco, porém, a presença do rei
condições para poder denunciar o que está errado e defeituoso, porque são tornou-se pretexto para acomodar-se: desde que o rei está no nosso meio,
homens de Deus. Não tanto ensinam sobre Deus, mas o revelam nas suas Deus está obrigado a nos ajudar, pois Ele mesmo prometeu manter sempre
atitudes, mostrando que Deus é sempre diferente, maior do que o povo- um rei no trono de Davi (1 Sm 7,16). Por isso, aparecem os profetas: o trono
imaginava. Deus não se deixa domesticar por nenhuma forma, por mais de Davi será uma cabana destruída (Am 9, 11), ninguém da sua raça ocupará
religiosa que seja. Vejamos isso em concreto. o trono (Jr 22,30), o rei de Israel vai desaparecer para sempre (Os 10,15). O
fato de ter um rei não dava salvo-conduto a ninguém.
IV Templo: Era o lugar do encontro do povo com Deus: "Como é linda
Crítica da concepção de Deus pelos profetas tua casa, Senhor! Morro de desejo de me encontrar contigo no lugar onde
moras" (SI 83,2-3). Peregrinações, romarias, salmos, cantos, preces, tudo
Bezerro de ouro: A saída do Egito, fez-se a imagem de um pequeno tou- estava vinculado ao templo, à morada de Deus. Tendo o templo, Deus está
ro, com a finalidade de dar ao povo uma forma concreta da força com a qual conosco, comprometido com a nossa causa: vamos cuidar bem do templo!
Deus os tinha libertado (cf. Ex 32,4). Tal imagem, porém, encerrava um sé- A preocupação com o templo fazia esquecer a obrigação mais grave de viver
rio perigo: identificar Deus com os outros deuses, representados igualmente da fé, da qual o templo era apenas uma expressão. Por isso, Jeremias ataca
frontalmente o templo (Jr 7,1-15) e diz: "Roubar, matar, fazer tudo que é
por imagens de touro; identificar Deus com a imagem em si; visualizar e lo-
mal e depois vir ao templo e dizer: 'Estamos seguros', para em seguida con-
calizar demasiadamente a força divina que não pode ser limitada a nenhum
tinuar na mesma maldade ... Vou tratar este templo como tratei o templo
instrumento ou imagem. Mais tarde, de fato, quando Jeroboão reintroduziu de Silo!" (Jr 7,9-10.14). Todos sabiam que o templo de Silo foi totalmente
essa imagem do touro (1Rs 12,28), para dar um cunho religioso à revolução destruído. O templo em si não dá nenhuma segurança de ter garar tida a
política que fizera, a imagem foi motivo de apostasia. Por isso, na Bíblia, a
proteção de Deus.
imagem do bezerro de ouro rece b e as mais • veementes condenaçoes: - - e'
nao Culto: O culto era O centro da vida da nação: recordava o passado e
apta para exprimir a fé em Deus (1Rs 12,31-13,2). o tornava presente, possibilitando a cada geração comprometer-se com o
lugares altos: Entrando na terra prometida, começa O povo a adorar projeto de Deus e tomar consciência dos seus direitos e deveres. Mas
Deus nos assim chamados "l ugares, a 1 tos ,, , sol b árvores frondosas. Achava que o culto coisificou-se no rito e, desligado da fonte viva que era a vivência da
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tornou-se uma prestação a prazo certo, para comprar a os filisteus de Kaftor e os arameus de Qir" (A )
presença d e D veus, . "M RIh m 9 7,7 • Em termos nossos
isso soaria como:
proteção divina. . _ . _ como pelos 1 comunistas • eu e castristas!
o, Jesus Cristo mor
. Para mi ., , .
' , .
reu tanto por vocês católicos
»
, o máximo
, · 'dado com as cerimômas, mas nao com a vida. Sao os . . im, voces nao sao melhores
D aí cu1 ameus e fil isteus eram os ma10res inimig d d •
e b a falsidade dessa fachada: tal culto para nada serve: Ar idad os O povo e Deus. Deus deles
profetas que percebem ran _.±,:> 4 , • cuida como cu1 .a os que nele acreditam O • l e d
"Que me importam os vossos inumeráveis sacrifícios? Já não aguento mais .. ·6 d3 h • simples tato le pertencer ao
povo eleito nao a nen uma preferência ou segurança.
os vossos h o 1 o Caustos'.... Quando vocês vêm estender as maos (para rezar), Filhos de Abraão: Abraão foi o grande amigo d D · · -
eu d esv10· o ros t o,. p adem multiplicar as orações, não escuto mesmo! Mãos idd • e eus, CUJa mtercessao
P odia salvar ci a es mteiras (cf. Gn 18 16-33) Er , 1 d gl, .
· d e sangue.P"(Is1,11.15).O
ch e1as , . • culto em si não garante a proteção de Deus. . "S d d
der dizer: ornas a raça e Abraão!" (J6 8,33).
' • a um titulo te lória po-
, . M as, para muitos,
· cou so
Jerusalém: Jerusalém é a Cidade da Paz, cantada em tantos salmos, como no título, sem as obras de Abraão. João Batista, 0 último profeta do Antigo
símbolo da força e da presença atuante de Deus na vida do povo (cf. SI 121, Testamento, fez saber que, diante de Deus, filhos de Abraão e :d, a
136; 147). Era o coração da vida da nação, a "Montanha Santa". Mas de :. "NG. , +. pedras sao
a mesma coisa: lão me vão dizer agora: Temos Abraão por Pai!
. filh ., porque
nada servia aquela glória, pois não levou o povo à prática da justiça. Por Deus pode d tirar os 1os de Abraão até dessas pedras aqui!" (Lc 3,8). Mais
isso, Jerusalém será abandonada por Deus (E 11,22-25). Será totalmente um apo1o que ca1a.
destruída como uma cidade qualquer (Is 3,8-9). Morar em Jerusalém não A Lei de Deus: Deus deu a lei, e quem observa a lei será salvo (cf. Jr 8,8).
oferece garantia nenhuma. Por isso, tratou-se de explicar bem a lei, para saber exatamente o que ela
Terra: Abraão se colocou a caminho, em direção à terra prometida, con- queria e assim garantir, cada um para si, a salvação. A lei tornou-se instru-
quistada mais tarde por Josué. A conquista da terra era um sinal de que mento de obrigar Deus. São Paulo diz que tanto o pagão (grego), sem a lei,
Deus cumpria as suas promessas. Por isso, morando na terra, podemos ter como o judeu, com a lei, todos estão debaixo do pecado (Rm 3,9). "Jamais
a certeza de que Ele está conosco. O povo encontrava nisso a sua segurança alguém será justificado pela prática da lei" (Rm 3,20).
e vivia como se já tivesse chegado no ponto final. Os profetas desfazem e Os profetas tiram todos os apoios, abrem todos os esconderijos e co-
desmascaram essa presunção como a mais pura ilusão: serão todos levados locam a luz da verdade em todos os pontos escuros. Cortam todos os fios
para o exílio, terão de deixar a terra (Jr 13,15-19), que será inteiramente de telefones que faziam a ligação com Deus, destroem todas as pontes de
destruída (Jr 4,23-28). contato com Deus. Esvaziam tudo, abrem o chão e deixam uma inseguran-
Dia de Javé. Vivia-se da esperança. Um dia, Deus haveria de vir a ma- ça quase radical. Tudo é derrubado e criticado por ser falso, não em si, mas
nifestar a sua justiça: destruir os maus, exaltar o seu povo. Seria um dia de por ter deixado de ser apelo de Deus que chama para caminhar em direção
ao futuro da promessa e por ter-se tornado expressão de acomodação e até
luz. Vivia-se nessa doce e ilusória esperança, descuidando-se do mais. Amós
de opressão em nome de Deus. Hoje, quem sabe, o profeta diria a mesma
então diz: "Azar daqueles que vivem esperando pelo dia de Javé! ... Será para
coisa e faria a mesma crítica de muitas coisas que nós consideramos como
vocês um dia de trevas e não de luz!" (Am 5,18-20). Nem O futuro oferece
santas e inatacáveis. E, como naquele tempo, também hoje o profeta não
a segurança tranquila de Deus.
seria reconhecido, mas rejeitado em nome de Deus. O próprio Jesus Cristo
Povo eleito: A origem do povo estava no fato de Deus o haver tirado do foi rejeitado em nome de Deus e da Tradição: "Este homem não vem de
Egito e de ter feito com ele uma aliança. Era o título de honra, de onde bro- Deus, porque não observa o sábado!" (Jo 9,16). Nem assistência à missa,
tava tudo que era dinamismo e força para caminhar. Mas tornou-se, pouco a nem terço, nem rosa de ouro, nem catedral bonita, nem Páscoa, nem água
pouco, motivo par~ os que pertenciam a ele considerar-se uns privilegiados, benta, nem vela, nem promessa, nada, pode, por si mesmo, atingir e forçar
que confiavam mais em tal privilégio do que na fidelidade que tal privilégio Deus. Quem se agarra a essas coisas, agarra-se a uma projeçao sua, que Ja
e eleição deles exigiam. Amós então diz: "Assim fala o Senhor: para mim, não é Deus, mas um mito que não existe. Certamente, não é o Deus vivo e
voces sao iguais ao povo da terra de Kush. Tirei vocês do Egito como tirei · que os profetas con h ecem d e per to e que eles adoram. Não ex1s-
verd ad e1ro
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te alavanca nesta terra que, por si mesma, possa mover os céus. O profeta Os presentes que ele já deu •
e para os bens que J., e
[a ofereceu, mas
d
teve l,
· · tudo isso
• simplesmente para a amizade: "Você, fulano, di , "e apelar
crItIca e Iacaz saber ao homem que insistir. nessas formas, como
.
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fi d nIsso vou empreender esta O
' isse que e meu amigo Pois
tivessem força em si mesmas para forçar Deus, sena o mesmo que dialogar bem, contado
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u aque a o1 ra, na qual sei que
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você esta mteressa o e na qual você me pode ajuda"" O z:.·L 3 •
povo. Eles não permitiam a alienação do homem da realidade da vida e a terra, lei, povo eleito, filho de Abraão, dia de Javé, terço vela
• ~ • A • • • • • ' promessa,
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fuga para o mundo da religião, entendida como rito, cerimónia e culto. Se- procissão, assistência à missa, Páscoa, primeiras sextas-feiras, oração a Santa
ria esvaziar o rito, a cerimónia e o culto. Se tivessem vivido hoje, seriam eles Rita, catedral, tudo e relativo. Não têm poder aquisitivo em si mesmos
os primeiros a dizer que tal tipo de religião é realmente "ópio para o povo". e no dia em que se tornarem meios para "comprar o céu" e para garantir:
Basta ler e meditar um pouco os seus escritos, para se convencer disso. cá para mim, a salvação, merecem a crítica e a condenação dos profetas,
Resta-nos examinar agora qual o lado positivo dessa crítica tão radical também hoje. Não são coisas más em si. Podem ser úteis, boas e necessárias,
dos profetas. quando usadas como meios de expressar a fé e a confiança, exigidas como
condição primária para qualquer contara com Deus. São apenas ponteiros
V que apontam para Deus. Deus mesmo sempre fica além de tudo aquilo que
O Deus vivo e verdadeiro dos profetas dele podemos imaginar, e sempre fica mais perto, pela sua amizade, do que
as expressões da amizade. Essas coisas são boas como fios de telefone, mas
Então, conforme a visão dos profetas, estava tudo errado? Embora des- não contêm nem obrigam aquele com o qual eu falo pelo telefone. Este
truíssem todas as pontes, eles lançavam uma, capaz de estabelecer cantata pode colocar o gancho no aparelho e deixar-me falar com o eco dos meus
real entre Deus e o homem e de dar ao homem uma garantia da presença de próprios desejos. Mas se forem expressões de fé, então atingem Deus e ele
Deus: era a fé. Que quer dizer isso? não desliga. Em nome da sua própria fidelidade, Ele ficará em comunicação
Os profetas vivem profundamente a presença de Deus. São homens de com o homem, apoiando e ajudando.
Deus. Deus ultrapassa tudo. Não pode ser captado, canalizado, colocado Aparentemente, os profetas lançam o homem na mais completa insegu-
como burro de carga na frente dos desejos dos homens. Deus não pode ser rança, mas, na realidade, lançam a base para a mais firme segurança que o
domesticado. O homem não deve querer inverter a ordem: em vez de servir homem possa ter: é a certeza absoluta de que Deus está aí. Não está longe,
a Deus, querer que Deus sirva o homem, usando como meio o rito e o culto está conosco. Seu nome é Emanuel, isto é, Deus conosco, poderoso, fiel e
que, no caso, não passariam de magia batizada. amigo. Mas Ele nos supera, é sempre o Outro. Não é domesticável. Seu
Para os profetas, Deus é uma presença inteiramente gratuita, que oferece relacionamento com O homem é rãa livre e soberano, que pode subtrair-se
a sua amizade a quem queira recebê-la. Mas Ele quer ser respeitado nessa ao domínio do homem. O homem mesmo é fraco e não consegue subtrair-
amizade. O amigo. que oferece a sua am1za
• d e, quer que o outro confie e nao
~ se ao domínio que outros lhe impõem. Essa atitude de Deus, ao mesmo
procure garantur-se os bens da amizade por meios escondidos e espúrios. Se- tempo tão perto e tão longe, é um desafio e uma acusação. Lembra ao ho-
ria falta de confiança, motivo para negar-lhe a amizade no futuro. Junto a um mem os seus limites: um, ao menos, consegue subtrair-se às suas garras de
amigo, 0 outro, para poder obter o apoio da amizade, nunca deve apelar para dominação. Critica assim o relacionamento de dominação que O homem
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exerce sobre O outro homem e desperta nos dominados a vontade de serem Como naquele tempo o movimento profético 1, d .
, a em e ser um movr-
d d
,..,,ento de fé entro o povo eleito, era ao mesmo temp
respeitados na sua dignidade. A atitude que Deus assim toma diante dos :. h' . o um movimento
homens é aquela que provoca em nós a atitude que devemos tomar diante eltural, assim, 1oje, o profetismo é um dado cultural que, dentro da I ·'
. _ . l , a grep,
d
dos outros: 0 único meio eficaz que existe para ligar uma pessoa a sr mesma assume uma rmensao parttcu ar de fé. Não são só os crr'st-ao s que crmcam ..
é a fé, a confiança e o amor desinteressado. Com efeito, onde o homem sabe .,,,portamentos
c O,,. e estruturas
. _ . por serem incapazes
. de 'd
expressar a vr a que
colocar-se no seu devido lugar perante Deus, aí Deus se sente no dever de brota e nasce. Os cnstaos situam-se no mero de tudo 1·sso e d'uso participam,· ·
ajudá-lo. Diz o salmo: "Eu o protegerei, pois conheceu o meu nome" (SI orientando-se pela sua fé em Deus.
90,14). Com outras palavras: Vou ter que ajudá-lo, porque está me levando Hoje existem, dentro da Igreja, aqueles que procuram neutralizar a alie-
a sério. Isso exige do homem um passo no escuro, um voto de confiança, nação na qual vivem tantos cristãos, perdidos em práticas e observâncias que
uma atitude de fé que acredita na palavra do outro. Ou seja, é a atitude de já não são expressão de amizade com Deus, mas simples expressão de uma
quem deixa o outro ser o que ele é; deixa Deus ser Deus na sua vida. procura de segurança humana. A manutenção rígida dessa situação, tanto
É isso que os profetas nos ensinam a respeito de Deus. A síntese de tudo na Igreja como na sociedade, não provém só do povo, mas também daqueles
isso está expressa no nome que Deus mesmo quis para si: Jahweh, isto é, Eu que exercem a autoridade. Assim, a crítica dos profetas, ontem como hoje,
estarei presente. Este nome deve ser entendido como a abreviação de "Eu vai também para aqueles que detêm o poder. Foi o que Jesus Cristo fez,
sou aquele que sou" (Ex 3,14), o que quer dizer: "Certissimamente estarei criticando os fariseus, os líderes religiosos. Do povo teve compaixão, por se-
presente para ajudar; mas o como e quando dessa minha presença salvadora, rem ovelhas sem pastor. Por isso, a missão profética é uma missão perigosa,
isso sou eu que o determino. Podem contar comigo!" O nome é apelo à fé. nada agradável para quem dela tomou consciência, como o profeta Amós ou
E Deus deu prova da sua presença libertadora: a primeira grande prova foi Oseias. Antes de falar, pensará duas vezes. E, como Moisés (Ex 3,11-4,13)
o êxodo; a última prova, ainda em andamento, é a vinda de Jesus Cristo, e Jeremias (Jr 1,6), encontrará motivos e pretextos para subtrair-se a missão
Emanuel, Deus conosco (Mt 1,23). tão difícil. Mas, ontem como hoje, apesar da proibição dos outros, os pro-
Este Deus, assim percebido e vivido na vida concreta, é o núcleo de fetas continuarão falando: "Deus mandou, quem é que não falará em nome
onde parte toda a ação profética. É ao mesmo tempo uma visão nova sobre dele!" (Am 3,8).
o homem. Por isso é que os profetas, no meio das maiores desgraças, mui-
tas vezes por eles mesmos anunciadas, não perdem jamais a esperança. Por Referências
mais crítica que possa parecer a sua atuação na vida do povo, no fundo a
BIC, M. Tiois Prophtes dans un temps de ténbres. Paris: [s.e.], 1968.
sua mensagem é de esperança. A crítica vem quando a forma concreta de
viver ameaça estreitar a vida de tal maneira, a ponto de matar a esperança no MONLOUBOU, L. Prophête, qui es-tu? Paris: [s.e.], 1968.
coraçao do povo, sobretudo no coração dos pobres. RENAUD, B. e suis un Dieuxjaloux. Paris: [s.e.], 1963.
RENCKENS, H. Deprofeet van de nabijheid Gods. Tielt: [s.e.], 1961.
VI
Existem profetas hoje? RINGGR.EN, H. La Religion d'Israel. Paris: [s.e.], 1966.
Profetas geralmente não usam etiqueta, nem colocam a sua missão de ROWLEY, H.H. The Faiuh ofIsrael. Londres: [s.e.], 1961.
profeta no cartão de visita. Hoje, o movimento profético na Igreja e no STEINMANN, J. Leprophetisme biblique des origines à Osée. Paris: [s.e.], 1959.
mundo é muito forte. A crítica de estruturas e de comportamentos obsole- . . . d te I la B'ble Pronhetes Fase. 44, 1969.
S upplément, Dictionnaire 1 • "K' "
tos, que ja nao são expressão de nada, está em andamento e foi encabeçado
pelo próprio Concílio Vaticano II. VON RAD, G. De Botschafi der Propheten. München: [s.e.], 1967.
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