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disse algo' — Foto: Hakan Ezilmez, Yapı Kredi Kültür Sanat Yayıncılık Archive
Cultura / Livros
Na Grécia, um filho fura os próprios olhos após descobrir que matara o pai e
se deitara com a mãe. Na Pérsia, um pai chora sem parar quando percebe ter
matado o filho em combate. Em “A mulher ruiva”, romance recém-lançado no
Brasil, o escritor turco Orhan Pamuk compara estas duas tragédias — a de
Édipo e a de Rostam (o pai) e Sohrab (o filho) — para debater um tema que
perpassa toda a sua obra: a identidade turca, dividida entre o Ocidente e o
Oriente.
Ad
Pela simetria com “Édipo rei”. Na Grécia, o filho mata o pai. É o triunfo do
individualismo. Na Pérsia, o pai mata o filho. É a tradição contra o novo. Há
muitas pinturas de Rostam chorando após matar o filho. Isso é típico da minha
parte do mundo: primeiro se mata, depois se chora. Primeiro, mandam a
oposição e os artistas para a cadeia, depois dizem que estão arrependidos.
A mulher ruiva diz: “Neste país, todos temos muitos pais. A pátria, Alá, o
Exército, a Máfia”. Foi assim com você?
Tive um pai libertário e ausente, que lia o tempo todo. Meu livro “Meu nome é
vermelho”, sobre um pai que desaparece e uma mãe que tenta controlar os
filhos, é bem autobiográfico. Meu pai nunca gritou comigo ou me bateu.
Nunca tive medo que ele me desaprovasse. Vários dos meus amigos não
levaram a vida de que gostariam por medo, porque queriam ser bons
meninos para ter a aprovação do pai. Tradição é isso, é esse tipo de repressão.
Eu tenho uma filha e tento não ser muito repressivo. Quero ser um pai liberal,
de esquerda. E aceito as consequências disso. Todos os filhos dos meus
amigos de esquerda são de direita! Nunca vi filho de esquerdista que estivesse
à esquerda do próprio pai (risos)!
·
Julian Barnes: 'A cada dia, odeio mais o monoteísmo. E os
missionários'
O único país que conseguiu fazer isso foi o Japão, tão invejado pelos
intelectuais turcos. A combinação japonesa de capitalismo com ética
tradicional resultou em uma vida cotidiana que é muito pouco igualitária ou
libertária. Embora tenham conseguido preservar a arte e a arquitetura
tradicionais.
Não dá para abraçar toda a tradição, que, em si, não é igualitária ou secular,
mas militarista e pouco democrática. Havia haréns no Império Otomano.
Devemos respeitar essa parte da nossa tradição? Escritores de uma geração
anterior à minha desprezavam tudo o que era otomano. Já eu gosto das
miniaturas, da arquitetura. Também dá para salvar a música, a comida,
alguma pintura, a poesia, as alegorias do sufismo islâmico.
Há quem diga que o secularismo turco foi tão radical que alienou os
religiosos e os jogou no colo de Erdogan.
Acredita que seu papel como escritor e intelectual público mudou com a
escalada autoritária na Turquia?
Erdogan controla tanto os jornais que ninguém mais quer lê-los. Ainda tenho
espaço nos sites da oposição e na imprensa estrangeira. Há alguns anos,
Erdogan me chamou de terrorista, mas voltou atrás. Já fui processado duas
vezes. Se continuar falando, talvez venha mais um processo e mais comoção
internacional, que não serve para mudar a opinião de quase ninguém. Sou um
best-seller na Turquia, mas meus leitores não mudam de ideia só porque eu
disse alguma coisa. Falei tantas vezes para não votarem em Erdogan e mesmo
assim ele ganhou (risos)!
Você se sente seguro? Desde o primeiro processo, você anda com guarda-
costas.
Serviço:
‘A mulher ruiva’
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