O documento apresenta uma resenha do livro Meio Sol Amarelo da autora Chimamanda Ngozi Adichie. A resenha resume a história de três personagens durante a guerra civil de Biafra na Nigéria nos anos 1960 e como o livro aborda temas como privilégio, racismo e normalização da violência. O autor da resenha reflete sobre como a leitura expandiu seus horizontes literários e o conhecimento sobre eventos históricos desconhecidos.
O documento apresenta uma resenha do livro Meio Sol Amarelo da autora Chimamanda Ngozi Adichie. A resenha resume a história de três personagens durante a guerra civil de Biafra na Nigéria nos anos 1960 e como o livro aborda temas como privilégio, racismo e normalização da violência. O autor da resenha reflete sobre como a leitura expandiu seus horizontes literários e o conhecimento sobre eventos históricos desconhecidos.
O documento apresenta uma resenha do livro Meio Sol Amarelo da autora Chimamanda Ngozi Adichie. A resenha resume a história de três personagens durante a guerra civil de Biafra na Nigéria nos anos 1960 e como o livro aborda temas como privilégio, racismo e normalização da violência. O autor da resenha reflete sobre como a leitura expandiu seus horizontes literários e o conhecimento sobre eventos históricos desconhecidos.
Já faz um tempo que venho tentando me desconstruir, em muitos sentidos. Sempre
gostei de ler, e até pouco tempo eu tinha a literatura como um oráculo impenetrável, como se apenas a leitura de clássicos merecesse a minha atenção (sim eu sei, isso ė bem elitista). Minha última leitura foi Os Miseráveis, a obra máxima do Victor Hugo, o clássico dos clássicos (ainda vou fazer uma resenha sobre) e só então, depois de ler aquele calhamaço, me dei conta que, pra minha vergonha, nunca havia lido uma ficção científica, um livro escrito por uma mulher...Sabe fiquei pensando em como temos os mesmos referenciais do que é bom, do que é literatura, arte, enfim. Foi quando no meu aniversário ganhei do meu namorado, o incrível livro Meio Sol Amarelo da Chimamanda Ngozi Adichie. Já havia ouvido falar sobre ela (trabalhei durante 9 meses numa livraria no centro do Rio) mas confesso que não tinha a noção do quão incrível ela é, e do que ela representa, acho que estava muito preocupado com os mesmos ícones, as mesmas leituras clássicas de sempre. E quando abri as primeiras páginas tive a certeza de que estava diante de uma literatura completamente diferente de tudo que já tinha lido. Vamos então a resenha: O livro, dividido em 4 partes, narra a vida de três personagens distintos, que se interligam no mesmo conflito: Ugwu, o rapaz simples de uma aldeia, Olanna, a moça rica filha de uma das famílias mais influentes da Nigéria, e Richard, um jornalista britânico, um dos únicos personagens brancos, que sonha em escrever um livro sobre o artesanato nigeriano. A primeira parte se passa no início dos anos 60. Logo de na primeira página, conhecemos Ugwu, que acabou de conseguir um emprego para cuidar da casa de Odenigbo, um professor universitário da cidade de Nsukka. Ugwu é um rapaz muito inocente, que teve de abandonar a escola muito cedo, e fica fascinado com a montanha de livros na casa de seu Patrão. Devido uma construção social, quase de castas, ele se colocando numa posição de inferioridade em relação à Odenigbo e seus amigos, que várias vezes lotam sua sala de estar para beber e conversar sobre política, vivendo numa bolha academicista e elitista que não enxerga nada além de suas teorias sociais e suas teses de doutorado . Depois nos é apresentada Olanna, uma moça linda, muito inteligente, que não entende muito bem seus privilégios de classe, mesmo namorando Odenigbo, que parece se intitular revolucionário, e com quem vai morar junto logo no início da trama. Ela tem uma relação difícil com sua irmã gêmea Kainene, que é o oposto dela; segura de si comandando as várias empresas da família, mas também sem nenhuma consciência de classe. Usando o poder para acumular riquezas e conseguir mais contratos milionários de um governo já muito corrupto. E por fim temos Richard, o jornalista que namora Kainene, e que tem a clássica síndrome do branco salvador. Embora ele queira muito aprender sobre a cultura local, bem como o idioma local, e le de início acredita conhecer mais a história daquele povo, do que eles mesmos. Isso fica muito evidente quando numa cena ele vai visitar uma tribo, onde foram encontrados vasos de corda. Ao conversar com o sacerdote da tribo, ele questiona a capacidade dos ancestrais de poderem ter técnica o suficiente para fazer aquele vaso. O racismo estrutural fica muito evidente nas narrativas do ponto de vista de Richard, e todos os personagens brancos. E assim a gente tem essas três pessoas, mais Odenigbo e Kainene, que vão formando uma colcha de retalhos mostrando a vida comum, e até banal, das pessoas em uma Nigéria pronta para em guerra civil. É aí começa a segunda parte do livro, que se passa no fim do anos 60, começando com a proclamação da Guerra da Nigéria-Biafra. É surreal, pois nunca tinha ouvido falar nessa guerra, na escola ou em qualquer lugar. Simplesmente não nos importamos que há menos de 50 anos, o mundo teve uma das guerras mais cruéis, e com um dos maiores números de mortos, mais de um milhão, vítimas sobretudo da fome. A guerra aconteceu pois uma parte da Nigéria, da etnia Ibo, após sofrer uma série de atentados de outras etnias, resolveu tomar a sua independência, criando assim o estado de Biafra. Porém não era vantajoso para nenhum país europeu ou os Estados Unidos a ascensão de países africanos, por isso vão apoiar pesadamente a Nigéria contra a Biafra, que irá, praticamente dizimar aquela população. Imagine então todos esse personagens lutando por suas vidas no meio dessa guerra, entre a fome e a doença. É tudo muito insano pois foi real. Mas um dos grandes méritos da Chimamanda, é colocar tudo isso em segundo plano, atrás das vidas de cada um dos personagens. Me incomodou, de início, o modo como a ela vai relatando os horrores da guerra, tudo tão seco e rápido. Victor Hugo teria escrito duas páginas sobre cada morte, enquanto ela realiza em um parágrafo. Até pensar que na verdade essa é a intenção do livro. Normalizamos a violência, e todo o caos que passamos, normalizamos a fome, e a ignorância como se fossem produtos naturais da humanidade. E não são. Para a grande maioria de nós, cada morte nas periferias do Brasil, e do mundo é apenas isso, um parágrafo solto e perdido, que lemos e estamos prontos para continuarmos nossa vida banal. Dentro da minha vida de privilégios, por seu um homem branco, de classe média, cada página foi um tapa na cara, um choque de uma realidade, de uma história desconhecida. Chimamanda com certeza se tornou uma das minhas escritoras favoritas, e com certeza vou ler mais livros dela, pois percebi, o mundo que existe por aí, mas que continua tão desconhecido para nós, dentro da nossa visão histórica tão limitada e pré-fabricada pela Europa e pelos Estados Unidos.