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Universidade de Lisboa

Faculdade de Letras
Mestrado em Estudos Brasileiros
Tópicos da Literatura no Brasil
Profª. Drª. Alva Martinez Teixeiro
Mestrando: Francisco Ribeiro Soares

Modulo III - Literatura de Periferia

CIDADE DE DEUS
Paulo Lins

O livro a Cidade de Deus de Paulo Lins é, sem dúvida, uma obra que marca a literatura no
Brasil ao registrar de fato como é a vida nas comunidade (favelas) das grandes cidades, como o Rio
de Janeiro. Sem conhecer a história do autor podemos elucidar que tudo seja até real e quando a
conhecemos passamos a pensar que o livro seja autobiográfico, mas ao nos aprofundar mos mais
sobre a história de Cidade de Deus vemos que embora haja inspirações em acontecimentos reais e
ainda assim o livro é classificado como um romance de literatura da periferia de ficção, todavia não
pode figurar, de forma alguma, completamente na ficção. Pois se mistura com biografia do autor e
sua proximidade com a aquela comunidade.

Cidade de Deus nos transporta a uma civilização da vivência de Paulo Lins, nessa
comunidade protagonizada por bandidos e refletida nas vidas dos demais moradores de maioria
preta, com a religiosidade enraizada na cultura afro-brasileira, que não consegue fugir da violência
local, dando a narração a visão fatalista à medida que a criminalidade trazida pelo tráfico de drogas
se fortalece seja pelos próprios moradores ou pelo dinheiro dos “cocotas", a classe média alta que
basicamente mantém o tráfico na ativa uma vez que tem um maior poder aquisitivo e assim
consumem os produtos, fazendo o tráfico caminhar não só na favela, mas para fora dela.

Os três capítulos tem os apelidos vulgares que os bandidos carregam e não seus nomes
como praticamente todos os personagens que adotam outros nomes e determinado momento da
história, mostrando como a linguagem das ruas, totalmente coloquial com palavrões e expressões
cruas, sem nenhum pudor dominam o ambiente dessas comunidades e da criminalidade nas favelas.
O mais chocante, é claro a violência que acaba por tornar as mortes banais e rotineiras, já que
realmente era rotineiro matar por vingança como faz Inferninho que assassina o morador da Cidade
de Deus, e todos os outros bandidos na sua luta frenética por dinheiro e controle do tráfico na
comunidade. Assim o livro, certamente, poderia ser várias manchetes de jornal descrevendo as vidas
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dessas pessoas que muitas vezes uma parte da sociedade nem quer saber que existem e os ignoram
sem se importar com seus diversos problemas.

No desenvolvimento da história vemos que se trata de uma escrita antropológica por tratar
de dar voz a comunidade que, como já dito, é na maioria das vezes ignorada. Não é uma história
comum, embora tenha inveja, vilões, vingança, não tem aquele típico herói ou heroína que depois
de perseguido, humilhado volta rico e poderoso para se vingar de seus algozes. Mas tem histórias de
amor até homossexual como a de Ari. Afinal, sabemos que esta não é a realidade mundo,
entrementes sim o que conta Paulo Lins em Cidade de Deus, ou seja, a obra não é performática, ela
é sim realística por retratar a violência em todas as suas formas terríveis como estupros, assaltos e
vinganças que custam a vida de muitas pessoas. Além do, na minha humilde opinião, o mais cruel
dos crimes que é destruir a infância das crianças aliciando-as para as práticas de crimes horrendos.

O livro ainda retrata momentos no presídio como o de Cabelo Calmo que acaba por virar o
que eles chamam de “mulherzinha" do xerife do presídio, outro bandido. Um rapaz com apenas
dezoito que poderia ter todo um futuro pela frente, contudo devido ao tráfico na comunidade foi
levado a um triste vida, ou seja, o livro tem sua mensagem de lição de moral mostrando que na vida
de crime os fins são triste e trágicos, por isso, acredito que o autor preferiu iniciar a obra com os
jovens sonhando com dias melhores, sonhando em ter uma profissão. Contudo, para o pobre vencer
na vida de forma honesta é difícil e para cair na vida do crime fica fácil uma vez que ele bate a sua
porta tão constante como no livro.

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