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DE BOAS PRÁTICAS
PECUÁRIAS NO PANTANAL:
RESTAURAÇÃO DE
CAMPOS NATIVOS
Crédito: Alexandre Ebert
Crédito: Alexandre Ebert
PROTOCOLO DE
BOAS PRÁTICAS
PECUÁRIAS
NO PANTANAL:
RESTAURAÇÃO
DE CAMPOS
NATIVOS
Campo Grande
Mato Grosso do Sul
2022
© 2022 Wetlands International Brasil.
O conteúdo desta publicação pode ser reproduzido livremente para
fins educacionais, de divulgação e outros fins não comerciais. A
permissão prévia é necessária para outras formas de reprodução. Em
todos os casos deve conceder o crédito correspondente à Mupan -
Mulheres em Ação no Pantanal / Wetlands International Brasil.
Esta publicação pode ser citada a seguir: Cunha, Cátia Nunes da;
Ebert, Alexandre; Guarnieri, Simone Francieli. Protocolo de boas
práticas pecuárias no Pantanal [livro eletrônico]: restauração
de campos nativos. Campo Grande, MS: Mupan, 2022. Programa
Corredor Azul. Wetlands International.
ISBN 978-85-69786-14-6
Bibliografia.
ISBN 978-85-69786-14-6
23-146352 CDD-636.20098171
ALEXANDRE EBERT
Doutorando em Ecologia e Conservação da Biodiversidade • ebertfloresta@yahoo.com.br
EQUIPE TÉCNICA
ALEXANDRE EBERT
Doutorando em Ecologia e Conservação da Biodiversidade • ebertfloresta@yahoo.com.br
ROSE SOARES
Gestora Executiva • rose.edusoares@gmail.com
MONICA ARAGONA
Doutora em Biologia Animal • monica.aragona@ufmt.br
RENATA PARAGUASSU
Estudante de Biologia e estagiária no projeto • renataparaguassu2@gmail.com
KARINE DIAS
Coordenadora de Comunicação • karine.dias@wetlands-brazil.org
LENNON GODOI
Analista de Comunicação Sênior • lennon.godoi@wetlands-brazil.org
FABIO ROQUE
Consultor • fabio.roque@wetlands-brazil.org
Crédito: Sandra Santos
Prezado (a) leitor (a),
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 10
Macrohabitats ........................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ................................................................................................. 40
Apresentação
O desenvolvimento e a ampla imple-
mentação de boas práticas pecuárias
no Pantanal, maior área úmida contí-
nua do Planeta, estão no coração da
agenda para o desenvolvimento sus-
tentável da região (TOMAS et al., 2019).
O grande desafio é conciliar produção
rural e conservação da biodiversidade
em longo prazo, diante das mudanças
em andamento em termos ambien-
tais, econômicos, culturais, climáticos
e energéticos. Um desses novos desa-
fios é o manejo de espécies arbustivas
invasoras em campos nativos. Nas últi-
mas três décadas, fazendeiros do Pan-
tanal apontam invasão acelerada das
pastagens por vegetação lenhosa em
áreas que anteriormente eram grandes
campos abertos. Como resultado, a pe-
cuária tradicional de baixa densidade
tem se tornado economicamente invi-
ável em algumas áreas.
A invasão (proliferação) da vegetação
Crédito: Alexandre Ebert
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Hoje muitas áreas estão em desuso pode ser considerada um sério risco à
ou até abandonadas; alguns proprie- biodiversidade do Pantanal por incenti-
tários alegam dificuldades para man- var o desmatamento, ocasionando per-
ter as atividades de ordem econômica, da de habitats e, consequentemente, a
ambiental e estrutural (OLIVEIRA et al., perda de importantes funções ecossis-
2016). Desse modo, donos de fazendas têmicas naturais.
históricas demandam o direito de “lim- Nesse contexto, de melhores prá-
par os campos” com a supressão de in- ticas pecuárias no Pantanal, é funda-
divíduos de espécies lenhosas (ESPÍN- mental o desenvolvimento de guias
DOLA; JÚLIO; JUNIOR, 2007; ROSSETTO, de orientação de manejo, baseadas
2020). Contudo, Junk e Nunes da Cunha em evidências científicas, para orien-
(2012) citam que a limpeza de cam- tar a “limpeza de campos” e sua res-
po, reivindicada pelo setor pecuarista, tauração. Em outras palavras, guias
Crédito: Luiza Lacerda
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Crédito: Alexandre Ebert Campos
TÓPICOS
CHAVES E
PERGUNTAS
ORIENTADORAS
Espécies Manejo de
invasoras espécies invasoras
nativas são deve ser visto
realmente um como uma boa
problema? prática na gestão
Esse é um assunto controverso,
da propriedade
pois, diferentemente de espécies rural?
invasoras exóticas, algumas pesso-
as têm defendido que as espécies
nativas fazem parte da dinâmica
natural do sistema e, portanto,
Figura 1
não deveriam ser alvo de manejo.
Nós entendemos que o problema Fluxograma
é mais complexo, pois, em alguns simplificado
sistemas (como os campos nati- para manejo
vos), a invasão por espécies nati- de espécies
vas arbóreas pode descaracterizar invasoras em
fortemente a integridade ecológi- campos nativos
ca do sistema, com consequências de propriedades
para a biodiversidade da região. rurais no
Além disso, a invasão pode cau- Pantanal
sar fortes impactos econômicos
quando as cadeias produtivas de- Fonte: diagrama inspirado em https://
reefresilience.org/es/management-
pendem da integridade ecológica strategies/reef-management/
do sistema, como é o caso da pe- adaptive-management/
Determinar os objetivos
de gerenciamento
Revisar periodicamente o
programa de gerenciamento Definir os principais
em geral resultados desejados
Identificar acordos e ações
de gestão para melhorar a eficácia Identificar indicadores
Relatar as conclusões de desempenho
e recomendações da
avaliação Desenvolver estratégias
e ações de gestão
Estabelecer programas
de monitoramento
Avaliar a de indicadores de
eficácia da desempenho
gestão
Implementar estratégias
e ações para atingir os
objetivos
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Quais as espécies
invasoras arbóreas
mais comuns nos
pastos nativos do
Pantanal?
Baseado em pesquisas, experiên-
cias de campo e consultas aos pro-
prietários(as) rurais do Pantanal, a
seguir apresentamos as principais
espécies (figuras 2 a 11).
Figura 2
Pombeiro (Combretum lanceolatum e Combretum laxum).
Fonte: Acervo Cátia N. Cunha
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Figura 5
Espinheiro (Mimosa pigra) Fonte: freepik.com
Figura 6
Algodoeiro (Ipomoea fistulosa). Fonte: Acervo Alexandre Ebert
Figura 8
Canjiqueira
(Byrsonima orbignyana).
Fonte: Acervo Alexandre Ebert
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Figura 9
Arrebenta laço (Sphinctanthus micropyllus)
Fonte: Acervo Alexandre Ebert
Figura 11
Pateiro
(Couepia uiti).
Fonte: Acervo Cátia N. Cunha
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Como identificar a(s)
espécie(s) em campo?
A maior parte das propriedades ru- sugerimos o contato com pesquisado-
rais do Pantanal possui funcionários res do Centro de Pesquisas do Panta-
bastante experientes e conhecedores nal, Instituto Nacional de Pesquisas e
das plantas nativas da região. Portanto, Tecnologias de Áreas Úmidas (INAU),
esse conhecimento é fundamental para Departamento de Botânica da UFMT,
a identificação e o manejo das espécies em Mato Grosso, e da Embrapa Pan-
invasoras. Além disso, em caso de ne- tanal e Coleção Botânica da UFMS em
cessidade de consulta a especialistas, Mato Grosso do Sul.
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Macrohabitats
Uma forma de se compreender a com- administrar suas propriedades e as ativi-
plexidade de ambientes do Pantanal se dades econômicas desenvolvidas, como
fundamenta na subdivisão em unidades pecuária, pesca, extrativismo; enfim, toda
menores – os macrohabitats –, buscando sua atividade econômica.
facilitar o seu entendimento e a gestão Com o propósito de sintetizar e resu-
das informações. Dessa forma, é possível mir os componentes da complexidade
planejar estudos científicos comparati- do ambiente do Pantanal, foi proposto o
vos, formas de uso sustentável e o nível emprego da classificação de macrohabi-
de proteção para cada um deles. Tradi- tats, na qual os nomes usados tradicio-
cionalmente, os povos do Pantanal rea- nalmente pelos pantaneiros foram man-
lizavam esse tipo de classificação para tidos.
Figura 12
Unidades
funcionais em
grandes áreas
úmidas, de
acordo com
o seu estágio
hidrológico
Crédito: Abilio de Moraes
Fonte: adaptada de
Nunes da Cunha e
Junk (2017).
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Crédito: Alexandre Ebert
Uma unidade funcional à parte in- O macro-habitat é a unidade que rea-
clui todas as áreas antropogênicas, ge de maneira sensível às mudanças nas
independentemente do seu estágio condições ambientais e melhor serve a
hidrológico. estudos científicos comparativos, aná-
Abaixo do nível hierárquico unida- lise de impactos ambientais, identifica-
de funcional existe a subclasse, que ção de serviços ecossistêmicos e desen-
é definida como “subunidade da uni- volvimento de abordagens legais para
dade funcional, com condições hidro- manejo e proteção das AUs, permitindo
lógicas específicas e vegetação supe- identificar e descrever as características
rior característica”. ecológicas de sítios Ramsar.
A menor unidade da classificação é O desenvolvimento de um sistema
chamada de macro-habitat, que é defi- de classificação amplamente aplicável
nido como “uma categoria do sistema às unidades de paisagem e vegetação
de classificação de unidades funcio- em áreas úmidas, aqui referido como
nais das áreas úmidas caracterizada macrohabitats, permite comparações
por condições hidrológicas com espé- não apenas em uma área úmida parti-
cies ou grupos de espécie de plantas cular, mas também em áreas similares
indicadoras de vegetação superior, po- em diferentes áreas úmidas, como já foi
dendo ocorrer como unidades de pai- feito para o Pantanal.
sagem em grandes e complexas áreas O mapeamento de macrohabitats
úmidas (por exemplo Pantanal) ou in- deve ser feito usando a classificação de
seridas na paisagem de matriz terrestre categorias funcionais disponível no livro
(por exemplo veredas)”. “Classificação e Delineamento das Áreas
Figura 13
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O que fazer quando identificar a(s)
espécie(s) arbórea(s) invasora(s)
com potencial de causar danos à
integridade ecológica das pastagens
nativas da propriedade?
A definição de nível crítico de inva- palavras, antes de tomar qualquer ação
são, que demanda ações de manejo, de controle das espécies com poten-
não é uma tarefa fácil, mas necessaria- cial invasor, no âmbito do Manejo Inte-
mente deve envolver o conceito geral grado, define-se primeiro um limite de
de limite aceitável de dano. Em outras ação, um ponto no qual as populações
Figura 14
Wetlands International • 31
Crédito: Alexandre Ebert
Quais seriam as medidas preventivas?
Criar uma rede informação entre limpeza do maquinário, como rodas de
funcionários, gestores, proprietários e tratores e roçadeiras; realizar manu-
outros sobre os riscos e impactos de tenção das estradas antes da época de
espécies invasoras na propriedade e no produção ou dispersão de sementes; e
entorno; incorporar à rotina da proprie- incorporar o tema ao curso de forma-
dade medidas simples que impactam ção de brigadistas. Incluir informações
pouco em recursos, como, por exem- sobre espécies invasoras em vídeos e
plo, limpeza das ferramentas de servi- outros materiais de divulgação usados
ço em locais determinados. Com rela- na instrução de visitantes em caso de
ção aos cuidados com as estradas, fazer propriedades que recebem turistas.
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Quais os métodos de controle?
De acordo com o guia do ICMBio de vos e requer menor intensidade de mo-
manejo de espécies invasoras (BRASIL, nitoramento. O corte deve ser realizado
2019), plântulas podem ser arrancadas horizontalmente e rente ao chão, na
manualmente; sempre que possível, o base do tronco, com aplicação imediata
arranquio deve ser feito com o sistema de herbicida (sobre o toco, para preve-
radicular. Algumas espécies quebram nir o rebrote). Entretanto, existem pou-
na base e rebrotam posteriormente, cos estudos sobre dosagem adequada
não devendo ser arrancadas porque o para evitar rebrota de espécies nativas
método é ineficiente. A técnica mais do Pantanal. Esse é um assunto que ca-
comumente utilizada para espécies le- rece de pesquisas, principalmente por-
nhosas invasoras é a do corte na base que o uso de herbicidas não é indicado
do tronco com aplicação de herbicida em áreas úmidas, devido à facilidade de
no toco, pois gera resultados mais efeti- dispersão e contaminação.
Figura 15
O uso do fogo é ainda um assunto dente. Para cada área é preciso ava-
controverso para o manejo de espécies liar a necessidade de ações comple-
invasoras nativas arbóreas. Evidências a mentares de restauração ambiental,
partir de estudos científicos têm de- como controle de erosão, semeadura
monstrado que espécies como cambará, ou plantio de mudas de espécies na-
podem ser beneficiadas pelo fogo. tivas e outras medidas apropriadas. Em
Portanto, novos trabalhos devem focar no síntese, o método escolhido vai
tema antes de quaisquer recomen- depender do tipo de plantas invaso-
dações gerais nesse sentido. Importante ras, área atingida, condições no cam-
destacar que o uso de fogo para manejo po, capacidade de manejo da fazenda
de pastagens segue normas estaduais. e esforço requerido, sempre obser-
Acreditamos que o custo-benefício vando as recomendações da lei e as
de cada técnica é contexto depen- devidas licenças.
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Combretum lanceolatum
Crédito: Abílio de Moraes
Lista de Figuras
FIGURA 1 – Fluxograma simplificado para manejo de espécies invasoras em cam-
pos nativos de propriedades rurais no Pantanal. Fonte: diagrama inspirado em
https://reefresilience.org/es/management-strategies/reef-management/adapti-
ve-management/
https://br.freepik.com/fotos-premium/mimosa-pudica-mimosa-pigra-da-familia-
-fabaceae-em-fundo-verde-desfocado_17157514.htm
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Referências
Junk, W.J.; Nunes da Cunha, C. Pasture clearing from invasive woody plants in the
Pantanal: a tool for sustainable management or environmental destruction? Wetl.
Ecol. Manag. 2012.
Junk, W.J.; et al. Brazilian wetlands: their definition, delineation, and classifica-
tion for research, sustainable management, and protection. Aquat. Conserv. Mar.
Freshw. Ecosyst. 2014a
Junk, W.J. et al. Definição e Classificação das Áreas Úmidas (AUs) Brasileiras: Base
Científica para uma Nova Política de Proteção e Manejo Sustentável. In: Nunes da
Cunha, C.; Piedade, M.T.F. & Junk, W.J. (orgs.). Classificação e Delineamento das
Áreas Úmidas Brasileiras e de seus Macrohabitats. EdUFMT. 156p. 2014b.
Nunes da Cunha, C.; Junk, W. J. Year-to-year changes in water level drive the in-
vasion of Vochysia divergens in Pantanal grasslands. Applied Vegetation Science,
2004.
Tomas, W. M., et al. Sustainability Agenda for the Pantanal Wetland: Perspecti-
ves on a Collaborative Interface for Science, Policy, and Decision-Making. Tropical
Conservation Science. 2019.
Wilhelm, G.S.; Masters, L. Floristic quality assessment in the Chicago region and
application computer programs. Morton Arboretum, Lisle, IL, 1995
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42 • Protocolo de Boas Práticas Pecuárias no Pantanal: Restauração de Campos Nativos