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EDITOR CHEFE
Arno Alcântara

REDAÇÃO E CONCEPÇÃO
Marcela Saint Martin

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO
Matheus Bazzo

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO
Jonatas Olimpio

Material exclusivo para assinantes


do Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no


Instagram do Dr. Italo Marsili dos dias
10/06/2019 a 14/06/2019

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COMO É A SEMANA GW
1. Assista, de preferência ao vivo, às lives diárias
pelo YT ou Instagram, às 21h30.
Canal do YT: Italo Marsili.
Instagram: italomarsili

2. Na segunda-feira, você recebe no portal GW o


material referente às lives da semana anterior.

3. Leia o seu Caderno de Ativação. A leitura do


CA não leva mais do que 15 minutos.

6. Confira no LIVES a visão geral da semana e os


resumos. Separe uns 20 minutos para isso. As
transcrições na íntegra também estarão lá.

ENTENDA O SEU MATERIAL


1. O Caderno de Ativação o ajudará a incorporar
conteúdos importantes. É um material para FAZER.

2. No LIVES estão as transcrições, os


resumos e a visão geral das lives da semana.
É um material para se TER.

3. Se quiser imprimir, utilize a versão PB,


mais econômica.

4. Imprima e pendure o seu PENDURE ISTO.

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A SEMANA NUMA TACADA SÓ

O PONTO CENTRAL

LIVRE-SE DA SOLIDÃO
MATANDO O VITIMISMO!

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A VIDA NÃO É TÃO DIFÍCIL ASSIM

20

SEU SOFRIMENTO VEM DA SUBJETIVIDADE

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A SEMANA NUMA
TACADA SÓ
LIVE #60| 22/05/2019
LIVRE-SE DA SOLIDÃO
MATANDO O VITIMISMO!
Não é pelo vitimismo que nos livramos da solidão,
mas sendo úteis, relevantes para as outras pessoas.

Live Especial
É PROIBIDO DIZER O QUE
OS OLHOS ESTÃO VENDO
Pare de buscar uma solução complexa para a sua
vida; ser alguém de verdade é mais simples do que
você pensa.

Live Especial
A MARAVILHA DE SER CAIPIRA
A razão de seu sofrimento não está na emotividade,
mas na auto-referência; na insistência em olhar para
si e não para o mundo.

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O PONTO CENTRAL
R E S U M O S D A S E M A N A

LIVE #60| 22/05/2019


LIVRE-SE DA SOLIDÃO
MATANDO O VITIMISMO!

Não é só porque dizemos algo que outra pessoa tem o


dever de nos escutar. Se o que dizemos não interessa a
ninguém, não resolve o problema de ninguém, é mais
provável que ninguém nos escute, e é daí que surge o
movimento psicológico da solidão.

Da solidão, surge outro movimento ainda mais terrível: o


de vitimismo. Dizer que ninguém nos escuta porque so-
mos brancos, negros, porque pertencemos a esta ou aque-
la minoria, a este ou aquele estamento é contar a nossa
história pelo viés vitimista. Se fizermos isso, só quem vai
nos escutar é quem adota a mesma postura de vítima.

Os vitimistas, porém, não se comunicam. Cada um só fala


de si e só escuta o que diz respeito a si. A conversa não
tem outro resultado senão intensificar o sentimento de
solidão. É necessário abandonar essa postura e que tra-
balhemos e sirvamos sem reclamar.

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LIVE ESPECIAL
A VIDA NÃO É TÃO DIFÍCIL ASSIM

A idéia de buscar soluções elaboradíssimas para os pro-


blemas da vida é uma desculpa para nossa preguiça. Ao
nos depararmos com uma solução muito complexa para
nossos problemas, temos uma justificativa para não fazer
nada. Afinal, se a solução é assim tão difícil, não é para
todo mundo, e está explicado por que nossa vida não vai
para frente.

Só que a vida não pode ser tão complicada. Não pode ser
tão difícil assim ser gente, ter religião, fazer o bem; basta
mudar uma ou duas coisas, adicionar uma ou outra práti-
ca. Basta rezar um Pai-Nosso, tomar banho frio, dar esmo-
la para o mendigo.

O constrangimento com as soluções simples nasce da so-


berba. Acreditamos que somos muito superiores a essa
solução. Pensamos não ser possível que uma atitude como
dar esmola possa resolver nossa vida; ignoramos que isso
é uma tecnologia milenar, presente em todas as religiões.
Na história de Pinnochio, a fada madrinha não pede ao
boneco mil atos de grandeza; basta um para que ele se
torne um menino de verdade, que é quando a vida dele
verdadeiramente começa. Se nós não abandonarmos a
soberba e não fizermos nosso único ato de bravura, con-
tinuaremos a ser bonecos de madeira; e o destino do bo-
neco de madeira é ir para o fogo.

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LIVE ESPECIAL
SEU SOFRIMENTO VEM
DA SUBJETIVIDADE

É um erro pensar que a razão de nosso sofrimento é a


emotividade. O sentimento, a afetividade é parte funda-
mental da estrutura humana, pois é a parte que nos mobi-
liza. Ela não é razão de nosso sofrimento, e a solução para
ele não é, portanto, ser mais racional. Sofremos porque
estamos auto-centrados, porque damos muita importân-
cia ao nosso mundo interior.

A vida humana acontece na articulação entre sentimen-


to e razão. Algo nos acontece, sentimos aquilo e concei-
tualizamos ao mesmo tempo. Ficar preso só no que está
dentro do peito não nos levará a lugar nenhum, pois nos-
so mundo interior está repleto de desejos e necessidades
inacessíveis. Isso pode soar estranho ao homem contem-
porâneo, quando em toda parte há gurus dizendo que se
deve olhar para dentro de si. Dentro de nós, porém, não
existe nada de bom, mas apenas inclinações para a gula,
para a vaidade, para soberba. Costumeiramente deixamos
de fazer o bem que desejamos fazer para fazer o mal que
não desejamos fazer.

Quando olhamos para fora, quando estamos abertos para


o mundo e para o sofrimento alheio, podemos diferenciar
se o nosso sofrimento é objetivo ou subjetivo, se ele tem
ou não substância. Sofrer porque um familiar está mor-
rendo é um exemplo de sofrimento com substância, mas
mesmo nesse sofrimento só encontraremos alegria se nos
esquecermos de nós mesmos, se pudermos servir e pre-
encher a vida do outro de sentido.

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Live #60| 22/05/2019

LIVRE-SE DA SOLIDÃO
MATANDO O VITIMISMO
O foco de hoje é o seguinte assunto: a solidão. É um
tema importante e com várias vertentes. Já até gra-
vei uma live sobre a solidão no início deste ano –
acho que em fevereiro –, mas agora gostaria de tocar
nesse assunto por meio de um outro ângulo. Lá, eu
faço uma análise mais detalhada e antropológica.
Hoje, eu gostaria de falar sobre algo bastante práti-
co, que provavelmente poderá machucar. Isso aqui
é o ponto que precisamos entender. Preste atenção!
Não quero que você se ofenda, mas foda-se se isso
acontecer – estou cagando para seus sentimentos
egoístas. Não estou nem aí para eles, pois estamos
aqui para tirá-los da tomada. É essa bosta que te im-
pede de ser um ser humano.

A questão é a seguinte: o fato de você abrir a boca


para falar não garante que alguém vá prestar aten-
ção na merda que sai através dela. Não tem como
uma pessoa prestar atenção se você só fala merda,
não entrega valor para ninguém e nem fala algo que
presta. Você é inútil, irrelevante e não serve para
nada. “Ah, eu sou um ser humano, tenho dignida-
de”. Não adianta! Não é assim que funciona. Quando
você fala, o outro só presta atenção se você for rele-
vante, ou seja, se parou para pensar antes de falar,

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se demonstrou empatia pelo outro ou quis entregar
algum valor para ele. Esse é o primeiro ponto sobre
a solidão.

Sabe por que você é sozinho? Porque você é chato


demais. Você vai me desculpar, eu sei que o pessoal
fica com “peninha” de velho, mas velho, em geral,
fica sozinho porque é extremamente chato. Só fala
de doença, não entrega valor nenhum – acha que
tem o direito de se vitimizar. Obviamente, ninguém
aguenta. Você deve conviver e se relacionar com ve-
lhos – tentando aplacar a solidão deles – só pelo
fato de eles serem velhos. Em geral, velho não ser-
ve para nada, só está ali enchendo a porra do saco.
O velho, que deveria pensar em entregar sabedoria,
conhecimento, conselho e maturidade vital, está ali
achando que “o mundo vem até ele” por causa dos
cabelos brancos.

O mesmo acontece com esse papo todo de minoria,


um papo chato pra caralho: “Ah, eu sou a mulher ne-
gra... sou o homossexual... judeu... branco... canho-
to... anão... ateu... cristão... evangélico...”. Você é chato
para caramba, pois se apega a um establishment, ou
seja, à porra de um estamento (burocrático, religio-
so, social ou de minoria). Em nome dessa porra, você
fala a partir dali como se tivesse algo para comuni-
car. Só pelo fato de ser anão ou deficiente físico, o
pessoal precisa prestar atenção em você? Pare com

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essa merda! “Ah, eu tive uma vivência traumática no
passado”. Foda-se! Não estou aqui para passar a mão
na sua cabeça porque isso é o que está fodendo sua
vida. Você vai morrer sozinho, por causa dessa por-
ra. Se você abre a boca para falar em nome de um
establishment que está distante de você – em função
de uma minoria também distante –, o que acontece?
Ninguém presta atenção em merda nenhuma por-
que isso é irrelevante e não importa. Isso não é vital!
Não vem da merda do seu coração! Então, você vai
ficar sozinho mesmo!

Não adianta achar que alguém como você – que


não tem porra nenhuma para entregar – achar que
o outro precisa te ouvir. Meu amigo, não é assim que
a vida funciona. Não sei que merda de história te
contaram para você achar que, por fazer parte de
uma minoria, as pessoas têm que prestar atenção
no que é dito por você. Você sabe qual é a menor
minoria do mundo? A menor minoria do mundo é o
indivíduo. Você fala sempre em nome desta mino-
ria, de que indivíduo que você é, da sua pessoa. Se
você não fala em primeira pessoa, o outro caga para
você. Você continua sendo irrelevante! Ninguém vai
te ouvir! Aí, a percepção subjetiva que você tem é
da solidão. Afinal, você fala e ninguém te ouve. É ób-
vio... você não entrega nada que valha a pena. Você
está falando em nome de uma fantasia – que é um
estamento burocrático – e de uma minoria. Isso não

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serve para coisa nenhuma! Ninguém vai te ouvir!

Aí, entra um segundo movimento terrível do seu es-


pírito: o vitimismo. “Ninguém presta atenção em mim
porque sou um coitado... sou uma mulher negra... sou
um homem branco... sou é Bolsonaro... sou é Lula Li-
vre...”. Quer saber quem presta atenção quando você
é vitimista? Essa bosta desses amiguinhos vitimis-
tas que você tem. Essa corja de inúteis ao seu redor
(todos perdedores) presta atenção porque você re-
força essa mesma merda de discurso que eles têm.
Você sabe o que acontece num diálogo entre dois
vitimistas? É como se duas pessoas estivessem con-
versando dentro de um aquário vedado a vácuo, ou
seja, ninguém se escuta – e a percepção final é a de
solidão, essa merda que acontece no seu peito. Se
você se sente sozinho, é um vitimista achando que o
mundo te deve algo. Ninguém te deve nada! Se você
entende isso, começa a aparecer um fio de esperan-
ça no seu peito e você passa a ser relevante. Aí, as
pessoas acabam te ouvindo e dando razão diante
do que você fala.

Porém, isso só acontece quando você mata o vitimis-


mo no seu peito. Enquanto isso não acontecer, você
permanecerá sozinho. Sua sensação será de solidão,
não há escapatória. Assim, apenas os círculos dos
inúteis vão parecer te ouvir. Mas, cada um fala ape-
nas consigo, com esse monstrinho deformado do

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egocentrismo. Sabe o que as pessoas importantes
têm por você? Elas têm zero empatia por esse vi-
timismo. À medida que você continua sendo esse
bosta, as pessoas que vencem e entregam perma-
necem cagando para você. E como você para de ser
esse bosta com sentimento de solidão no peito? Pa-
rando de se vitimizar e entendendo que ninguém te
deve nada. No limite, ontologicamente, todo mun-
do está privado de alguma merda. Então, não é por
isso que devemos reclamar sempre. Vamos acordar
para servir aos outros! Não é o pessoal que deve nos
servir! Ao acordar com essa porra no seu coração,
o vitimismo vai embora. Aí, a cortina da solidão co-
meça a se abrir. Você passa a entender que estamos
no mundo para entregar alguma merda, e não para
pensar apenas em receber bolsa família do Estado
ou dinheiro e atenção do pai, por exemplo.

Ninguém vai te dar atenção enquanto você não abrir


sua boca para falar o que importa e seu coração para
amar aos demais. Se isso não acontecer, você con-
tinuará sozinho. Você vai ter um sentimento real de
solidão por estar sozinho mesmo. Não tem milagre!
Nós não nos importamos com você, seu vitimista de
merda! Eu não tenho pena de você! Ninguém que é
relevante tem pena de você! Ninguém gosta de ba-
ter papo com um bosta que só reclama. Você quer
se comparar comigo? Com a Beyoncé? Com a Anitta?
Com o empresário bem-sucedido do seu bairro? “Ah,

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mas ele teve um monte de oportunidades e nasceu
com talento”. “Ele também” é o caralho! Todo mundo
trabalhou duro nessa porra! Você acha que todos
ficaram jogando futevôlei, às 11h, durante a semana?
Ou todos trabalharam pensando em entregar algu-
ma merda que valha para você? A gente trabalha
pensando em abrir essa porra desse coração de car-
ne, que é tão merda quanto o seu, para servir aos
outros. Ou você acha que eu estou de sacanagem?

Você quer comparar o meu bastidor com o seu pal-


co? Isso não vai funcionar. Você está vendo a vida de
forma totalmente errada. Quando você se compara
aos outros e se vitimiza, o que sai da sua boca é essa
merda de discurso. Sabe o que acontece? Ninguém
te ouve. Quem te ouve sente um certo asco de você,
uma certa pena. Aí, as pessoas se afastam porque
ninguém gosta de conviver com essa bosta de gen-
te. Quando você age assim, nós temos zero empatia.
Eu tenho empatia por outro você que está aí dentro,
capaz de olhar para o mundo e pensar: “Ah, foda-se!
Tudo bem que eu seja um aleijado... uma mulher ne-
gra... etc. Vou trabalhar por anos sem encher o saco”.
Aí, algo acontece. Você começa a ter valor para os
outros.

O que eu estou te contando é isso: quando você vira


um vitimista, ninguém se importa com você. Apren-
da! Ninguém te deve nada! Ninguém se importa com

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essas bostas na sua cabeça! Enquanto você não tra-
tar de ser homem ou mulher... de não ficar reclaman-
do... o pessoal reclama de tudo! “Ah, mas eu nasci
herdeiro e tenho peso do nome do meu pai, que é
rico e famoso... eu nasci pobre... eu sou órfão... você
acha que é fácil neste mundo...”. Porra! Vocês viram
o pessoal reclamando da música da Paula Toller?
“Ah, isso aqui retrata um relacionamento abusivo,
no qual a mulher quer enquadrar o homem à sua
imagem e semelhança. ‘Tira essa bermuda / Que eu
quero você sério’. Você era uma pessoa esquisita
e eu quero sua versão final. Ah, que coisa odiosa”.
Tudo é vitimismo nessa merda! Só é olhar para a
música e pensar que o cara estava namorando uma
mulher que queria ele menos escroto. Simples! Aca-
bou! Tudo agora é um problema!

Sabe o que vai acontecer contigo? Você se faz de


coitado(a) o tempo todo, achando que o mundo te
deve algo? Você terá no seu peito um sentimento
chamado solidão pelo fato de falar com uma voz
muda para um ouvido surdo dentro de si mesmo.
Não tem ninguém te ouvindo. Preste atenção! Isso
aqui é receita da vida. Quando dois vitimistas estão
conversando, ambos estão mudos e surdos. Cada
um só está falando sobre si mesmo. Quando você
é assim e começa a conversar num grupo, só quer
que os outros prestem atenção na merda de um so-
frimento ou incapacidade que você tem. Não tenho

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pena de você! Você é uma bosta mesmo! E o que se
faz com bosta é dar descarga!

Então, você precisa dar descarga nessa parte da sua


biografia. Pare com essa merda! Tome posse de uma
dimensão da sua biografia que entende como o ser
humano é, ou seja, alguém que está nesse mundo
para servir aos outros e não reclamar. Ninguém te
deve nada! Sempre que entrar um discurso vitimis-
ta na sua cabeça, entenda que você é um merda!
Você está falando sozinho, ninguém te ouve. Você
está falando com um monstro deformado, pequeno
e carcomido dentro si. É com essa porra que se está
conversando. Ninguém se importa com essa porra
que está dentro de você! Agora, acorde um dia e tra-
te de enfiar um sorriso na sua cara amarrada. En-
fie um movimento de serviço nesse seu braço seco
para ver se alguém não começa a conviver contigo.
Só assim a solidão irá embora.

Você quer matar a solidão sendo egoísta, não olhan-


do para o outro e achando que o mundo te deve
algo? Você acha que é gostoso entrar num lugar e
falar: “Venham todos! Vocês me devem tudo!”. Você
acha que alguém vai te olhar? “Ah, minha mulher me
deve atenção; meu filho, respeito; meu pai, dinhei-
ro; minha empregada, subserviência”. Se você não
é bom e nem tem o que ensinar, não terá porra ne-
nhuma! Ninguém te deve merda nenhuma! Aprende

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isso! Sendo um egoísta, como pode querer deixar
de ter a sensação de solidão? Nem o rei é assim. Ele
está ali para servir aos outros, ir à guerra e até mor-
rer. Pense em dever antes de direito. Depois, você
reclama que está sozinho. É claro, você é chato para
caramba.

Imagine-se entrando numa festa e falando: “Ei, cadê


meu Whisky Chivas de 12 anos? Frita um ovinho com
gema mole para mim! Puxe essa cadeira para eu sen-
tar! Por que vocês não estão me ouvindo? Sentem
todos aí porque eu preciso falar sobre as merdas
que estão na minha cabeça”. Parece absurdo, mas
esse é você no dia a dia achando que todo mundo te
deve algo. Ao entender isso – independentemente
do estamento com que você se identifica –, e come-
çar a agir em consequência disto, você percebe que
a sensação de solidão some. Você começa a fazer
amizades relevantes, passa a ser importante para a
comunidade, seu coração dilata, seu sorriso aumen-
ta e sua vida prospera. Você fica mais feliz! Você fi-
nalmente se instala na vida humana.

Vamos matar o vitimismo, para matar a solidão!


Deem um print nessa live e compartilhem. Isso aqui
é utilidade pública! Todo mundo tem que escutar
essa porra, para matar o vitimismo e saber que nin-
guém deve nada a ninguém! Assim, você será feliz
e terá uma vida plena, encontrando a felicidade na

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convivência com os outros. Aí, você afastará a triste-
za que vem da solidão.

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LIVE ESPECIAL

A VIDA NÃO É TÃO


DIFÍCIL ASSIM
Ontem uma bendita criatura me mandou uma men-
sagem que achei bastante verdadeira, e usarei a sua
mensagem como pretexto para comentar sobre um
assunto bem interessante, ou melhor, importante. A
mensagem dizia mais ou mesmo assim: “Doutor Íta-
lo, não consigo mais ouvir algumas de suas lives,
porque me sinto como que sem armas; é como se
você só apontasse os defeitos e dificuldades; vejo
uma mudança de tom na sua fala desde os primei-
ros programas, pelos idos de outubro de 2017. Ora,
outras pessoas notáveis fizeram o caminho inverso:
começaram com mais contundência e foram acal-
mando. Mas vejo que o senhor adotou outro itine-
rário: começou mais calminho e ficou mais contun-
dente com o tempo’’.

Essa é a percepção dele, e sua razão de ser está ra-


dicada na idéia fantasiosa de que as soluções para
a vida têm de ser maximamente complexas. Eis aqui
uma das maldades do nosso tempo, um dos desa-
fios que as pessoas enfrentam: muitos de nós, ao
deparar com um problema, uma vida sem sentido,
uma família desestruturada, um casamento que não
vai bem, uma carreira que está desmoronando, uma
saúde que está perdendo a vitalidade, queremos so-

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luções elaboradíssimas, soluções muito complexas.
Na verdade, isso é propriamente preguiça; é o dese-
jo de alguém que não quer fazer nada.

Por isso respondi calmamente para ele: “É curioso


você achar que não dou armas para que vocês en-
frentem a vida e vençam as inclinações que todos
nós temos e que nos empurram para baixo. Como
não? Eu falo 20 vezes por dia que tem de dar esmo-
la para mendigo; tem de rezar o Pai-Nosso; tem de
parar de encher o saco. É isso o que você precisa
fazer”.

Mas a pessoa fica constrangida com a simplicida-


de do expediente que pode resolver uma vida que
está inteira do avesso. Mas por quê? Porque a pes-
soa realmente não quer resolver o problema. Ela na
verdade quer uma solução maximamente elaborada
para que possa olhar para essa solução e dizer: “É
por isso que a minha vida está uma bosta. Se for re-
almente necessário dar sete pulinhos sobre a onda,
pegar um galo preto e levá-lo não sei a qual templo,
depois rezar 20 terços por dia, não dá para fazer. Se
a solução é desse tamanho, eu realmente não consi-
go fazer. Está justificado por que minha vida é uma
droga, por que minha mulher está me dando um pé
na bunda, por que não estou ganhando dinheiro,
por que estou aqui insatisfeito, chorando no sofá. Se
for necessário aplicar tais soluções, seguir todas es-

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sas crendices e práticas, se for necessária toda essa
disposição, eu não conseguirei”.

A solução que estou propondo aqui é diferente de


tudo isso. No entanto, a pessoa diz: “Eu ouço a sua
live e me sinto sem armas; me sinto como se você
não me desse solução”. Isso porque ele não está
querendo ouvir que a solução está ao seu alcance;
que a solução é absolutamente simples; que a solu-
ção é esta: dar esmola, rezar um Pai-Nosso e não en-
cher o saco; e vai funcionar. Porém, como a pessoa
não ouve aquelas soluções fantásticas e elaboradas,
acha que não estou dando solução. O problema é
que solução fantástica e elaborada serve para fazer
carinho na sua perninha cansada e na sua cabe-
cinha complicada. Se eu desse uma solução do ar-
co-da-velha, a pessoa olharia para mim e diria: “É…
esse guru até está me dando uma solução, mas eu
não consigo. Minha vida não muda porque não es-
tou à altura; não tenho aquela dimensão para poder
colocar em prática toda a solução que o guru está
me passando”.

Mas eu sou o contrário disso; não sou guru. Estou


dando uma coisa que está ao alcance de qualquer
um: do mendigo, do rei, do sábio, do analfabeto, de
qualquer um que possa fazer isso. Nesse caso, a pes-
soa depara não mais com a complexidade da solu-
ção, mas com aquele abismo de preguiça que tem

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dentro de si; e toma isso como uma pancada, não
querendo enxergar a realidade.

Uma só pessoa fez essa crítica, uma só; enquanto


dezenas, até centenas me agradeceram porque mu-
daram de vida. Estas foram simples, humildes e fa-
laram para si: “Acho que é isto mesmo: vou tomar
um banho frio, dar esmola para mendigo e parar de
encher o saco”. E a vida delas mudou! Não é possível
que seja tão complexo viver, ter religião, ser bom,
honrado e leal. A coisa é mais fácil do que parece.

Porém, estamos num mundo e num tempo que des-


valorizam as soluções simples. As pessoas querem a
coisa maximamente complexa; querem pagar 15 mil
reais no workshop de transformação, para “encon-
trar o seu propósito”. Pensam: ‘‘Tenho de gastar 5 mil
dólares e pegar um avião para Boca Raton, para po-
der ter um encontro transformacional”. Ora, quem
consegue fazer isso? Ninguém! A vida não pode ser
tão complicada assim. Como é possível que, para
viver bem, tenhamos de pagar 5 mil dólares num
evento transformacional? A vida é mais fácil do que
isso. Eu não sugeriria uma coisa do arco-da-velha,
porque isso não funciona. E por que não funciona?
Porque ninguém consegue fazer. Mas, se eu suge-
rir a tecnologia do arco-da-velha, aquela tecnologia
complicada, a pessoa pode falar: “Ah, eu não consi-
go. Então está justificado eu ser um bostinha”. Porém,

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não está justificado ser um bostinha, pois é possível
mudar essa condição, por exemplo, dando esmola
para o mendigo.

Talvez a pessoa argumente: “Ah, Ítalo, mas para eu


fazer eu preciso entender”. Você não entende! Eu
posso até explicar, mas você não vai entender. Vá
lá e faça! Ou vai ficar de mesquinharia por causa
de 5 ou 10 reais? É isso que está me falando? En-
tão você não vale nada, não merece nada mesmo e
vai ficar triste o resto da vida. Mas você pode dizer:
“Tem sentido esse negócio; todo mundo deu esmola
a vida inteira; sempre se deu esmola para mendigo;
ele não está falando nada de extraordinário”. Dê es-
mola ao mendigo, não reclame, acorde cedo e pare
com a palhaçada de “propósito”. Não existe propó-
sito, pois só há um propósito, que é amar e louvar
a Deus. Quer saber qual o propósito? É esse. Só que
você não consegue fazer isso. E por quê? Porque não
sabe como conduzir a vida aqui neste mundo.

Por isso vem aquele sujeito da mensagem e diz:


“Não…, o que tem de fazer é buscar as virtudes,
buscar a transcendência”. Como você vai buscar “a
transcendência”, se você não lava um copo? Como
você quer “a fortaleza do Espírito Santo”, se você não
levanta para lavar um copo? Como você quer dar
grandes vôos intelectuais sobre a Trindade, a trans-
cendência e o Bhagavad Gita, se você é um analfa-

24
beto? Ora, a graça, aquilo que Deus derrama sobre
nós – e isso vale para qualquer religião –, pressupõe
a natureza. Por acaso você é gente? Porque, se você
não for gente, não tem como Deus soprar na sua na-
rina. Não vai dar. Então pare com esse papo mole,
essa dificuldade em ser gente, em ter religião, em
fazer o bem. Pare com isso! O segredo é acordar e
viver; não é difícil.

Quando você busca soluções complexas, está que-


rendo uma justificativa para ficar sentado no sofá
vendo House of Card ou Game of Thrones. É isso que
você quer… e ninguém para encher o saco. “Já que
é difícil viver, então eu fico aqui sentadinho.” Ora,
não é difícil viver. Isso que eu disse é o mínimo, mas
você tem de fazer esse mínimo. É preciso se con-
frontar com a vida e reconhecer: “A minha vida está
uma bosta porque eu não faço nem o mínimo”. Não
há nenhuma grande exigência. Eu não vou ficar fan-
tasiando uma solução “espiritual”, algorítmica, ar-
qui-complexa. Não existe isso! Experimente ir atrás
disso para ver onde sua vida vai parar. Isso vai frus-
trá-lo e levá-lo ao quinto dos infernos.

A solução está ao alcance da mão. Então pare com


a idéia de abrir uma ONG, fazer filantropia, ir para
a África cuidar dos pobrezinhos que estão passan-
do fome por lá. Você não vai fazer isso nunca! Você
nem sabe onde fica a África, se precisa de visto

25
para entrar lá e qual vacina precisa tomar para ir.
Ajude quem está do lado; ajude a sua mãe. Se você
não consegue se levantar da cadeira nem para fa-
zer compras para sua mãe ou para seu pai, não lava
uma louça ou uma pia suja, como você quer ir para a
África? Não vai! O pessoal quer uma vida complexa
para poder ter desculpa. Mas estou dizendo: a vida
não é complexa; a vida é simples.

Alguns ainda citam a Sagrada Escritura, textos hin-


dus sem entender nada. Do mesmo modo que é pos-
sível citar um versículo para justificar uma idéia, é
também possível citar centenas de outros versículos
que se opõem a essa mesma idéia. Não podemos
sofrer de ‘‘versiculite’’, citando versículos da Sagra-
da Escritura para justificar nossas fraquezas e covar-
dias. Pare com isso, porque a coisa é mais simples.

Quando deparamos com uma tecnologia simples,


o primeiro efeito é nos confrontarmos com nossa
miséria, nossa lassidão, nosso relaxamento diante
da vida, porque podemos pensar: “Se a coisa é tão
simples assim, e eu não estou fazendo nada, então
eu sou verdadeiramente um merda”. Se a coisa fos-
se complexa, minha preguiça estaria justificada; se,
para enfrentar a vida, eu precisasse de tantas “ar-
mas”, estaria justificado por que eu não enfrento a
vida, já que não tenho acesso a essas armas todas.
O segundo efeito é pensar: “Então é possível eu le-

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vantar, pegar essa arma, uma ou duas – não são tre-
zentas –, e colocar em prática esse negócio; vou bo-
tar em prática e aprender a manejar essas armas”. A
partir daí você consegue entrar na guerrilha, para
vencer – você não entra para perder nem para to-
mar porrada; entra para bater.

Mas quem fala que, embora eu faça a live ou escre-


va meus stories, ainda assim fica deprimido porque
não dou uma solução, é uma pessoa soberba, gente
que pensa assim: ‘‘Eu sou absolutamente superior a
tudo isso. Não é possível que dar esmola e não re-
clamar vai me transformar’’. Sabe por quê? Porque
ele não é nada ainda; não é nem gente. É como o
Pinóquio, um boneco de pau. E qual o destino de
um boneco de pau? Ora, madeira quando fica velha
vai para a fogueira, para a lareira… para o inferno.
No caso do Pinóquio, a fada madrinha sugeriu algo
simples, um ato de valentia, um ato de coragem; aí
ele virou gente. Não precisa de mil coisas; só um ato
de valentia, um ato de coragem, e você vira menino
de verdade. Depois disso começou a verdadeira his-
tória do Pinóquio, na última cena do filme. Essa cena
mostra o início da vida dele, quando ele virou gente.
Até então essa coisinha não era nem gente; era um
boneco de pau. E qual o destino de um boneco de
pau? A fogueira, a lareira… o inferno. Esse é o desti-
no de muitos de nós que têm levado a vida como um
boneco de pau.

27
Portanto, a solução é uma coisa, não trezentas, pois
a vida não pode ser tão complexa assim. O proble-
ma é que, se eu falo para dar esmola ao mendigo,
a pessoa diz: “Não... o mendigo vai comprar cacha-
ça, o mendigo vai usar drogas”. Aí eu respondo: “En-
tão faça do seu jeito”. Vai dar certo? Vai dar errado!
Isso porque a solução não é “o meu jeito”; na verda-
de, é uma solução milenar garantida. Por exemplo,
quando você dá esmola para o mendigo, você não
está julgando, está apostando na liberdade huma-
na e está simulando o que Deus faz conosco todo
dia. Deus nos dá a graça dEle todo dia, mas você faz
merda com a graça dEle e continua sendo um bosta.
E pior: é mais blasfemo e sacrílego jogar a graça no
ralo do que pegar 5 reais e comprar cachaça, e, não
obstante, Deus continua dando a graça. Então você
está querendo ser superior a Deus, deixando de dar
5 reais para o mendigo? Mesmo que ele vá comprar
cachaça, quem é você para dizer que a cachaça não
é o que ele precisa para atenuar o sofrimento que
carrega no peito? Se fizer isso, você estará julgando,
e “com a regra que julgardes, sereis julgados”. Então
pare de julgar e dê os 5 reais ao mendigo! No ato de
dar os 5 reais, você libera o que eu chamo de “lixo”.
Quando se levanta da cadeira e vai lavar a louça,
você está servindo, sendo útil; e assim as coisas co-
meçarão a melhorar.

No entanto, se você se acha superior a tudo isso, en-

28
tão invente a sua tecnologia e faça o que quiser. Po-
rém eu tenho visto um monte dessas tecnologias,
gurus complexos, “find your why”, e nada disso fun-
ciona. Isso é bom para vender livro, para vender pa-
lestra motivacional que custa 8 mil, 15 mil reais. Não
é possível que seja tão complicado assim; não pre-
cisa ter dois neurônios para você entender isso. Va-
mos pegar a tecnologia milenar e ver como se vive.
Peguemos o povo mais antigo do mundo, o povo ju-
deu, e vejamos como eles vivem. Não tem muita difi-
culdade. O mínimo que você precisa fazer para não
ser um idiota é isso daí.

Assim, quem vem falar que não dou solução não é


humilde: é um soberbo e vai ter problema na vida. O
segredo é a humildade, pois a coisa não é tão com-
plicada. Não queira complicar a vida para ter des-
culpa para sua insignificância. Pegue essas duas
coisas que estou sugerindo aqui e aplique por um
ano, dois anos, e sua vida vai mudar; você vai come-
çar a ser gente; deixará de ser o Pinóquio, deixará
de ser o boneco de pau, e virará um menino de ver-
dade; o seu destino deixará de ser definitivamente
a fogueira. Você escapará e abrirá o horizonte de
possibilidades humanas, possibilidades de nobre-
za, serviço e amor. Só a partir daí começará a verda-
deira história, pois até então você era um fantoche
igual ao Pinóquio, uma marionete das suas paixões.
E qual era o destino final? A lareira; era isso que ia

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acontecer.

Portanto, dê esmola, reze o pai-nosso e pare de en-


cher o saco. Sirva e seja humilde, que isso está ao
alcance de todo mundo.

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LIVE ESPECIAL

SEU SOFRIMENTO VEM


DA SUBJETIVIDADE
Uma pessoa me escreveu dizendo: “Italo, eu sofro
porque sou muito emotiva”. Agora é o momento de
explicar certas questões. Precisamos estar atentos
a alguns movimentos interiores, para que não nos
percamos e soframos sem necessidade a partir de
uma dor que vem de um ponto cego que jamais con-
seguiríamos resolver, por não sabemos exatamente
de onde vem esse negócio. Vamos examinar direiti-
nho o assunto da “emotividade”.

Em nós há como que dois domínios: o domínio do


intelecto (ou da razão) e o da afetividade. Há pesso-
as que falam: “Eu sou frio, pois sou muito lógico e ra-
cional”. Mas é preciso esclarecer melhor a questão.

A primeira coisa que temos de entender é a seguin-


te: você não sofre porque é muito emotiva. A emoti-
vidade não é o lugar da dor e do sofrimento. A emo-
tividade, a afetividade é o lugar do movimento e da
energia; é o lugar que o mobiliza; é o motor que você
tem em seu interior. Isso é emotividade e afetividade.
Portanto, não são sinônimos de ebulição e sofrimen-
to. Você não sofre porque é emotivo, mas porque é
subjetivista e só pensa nas coisas que estão na sua
cabeça. Seu problema, seu sofrimento não vem da

31
emotividade; vem de um fechamento nas suas pró-
prias idéias. Em regra, é sempre assim.

A emotividade não dá conta de nos fazer sofrer. O


que nos faz sofrer é ficar fechado dentro dos nos-
sos próprios pensamentos, dentro de nossos planos
que não se concretizaram. Ainda ficamos apegados
àquela coisa porque não nos abrimos para a reali-
dade, não olhamos para as coisas que estão aconte-
cendo na nossa frente. É daí que vem o sofrimento.

A afetividade, por sua vez, é um motor necessário


para o funcionamento humano. É importante sentir,
e sentir com força, sentir o nosso peito, sentir aque-
las coisas que nos movem. Precisamos ter o domínio
da nossa emotividade, e jamais devemos colocar de
lado essa parte do ser humano, pois o sujeito frio,
que não sente o que quer ou finge que não sente,
não servirá para muita coisa; não dá para estabele-
cer com ele uma parceria, uma vez que não pode-
mos contar-lhe os nossos problemas. Quando você
conta um problema para um sujeito que não quer
sentir nada, ele já vem logo com uma análise racio-
nal, você pensa: “Poxa, não estou conversando com
uma planilha de computador; quero alguém que
sinta empatia por mim; quero alguém que ponha o
coração na mesa e sinta junto; alguém para com-
partilhar a minha alegria, a minha tristeza, minha
angústia e aflição”.

32
Portanto, o sentimento é necessário e fundamental
para a vida humana. Por outro lado, dar atenção só
ao sentimento também vai nos desconectar da re-
alidade, porque o ser humano vive na articulação
entre intelecto e afetividade, entre razão e sentimen-
to, entre pensamento e aquilo que se passa dentro
do peito. E é justamente essa maturidade que temos
de tentar conquistar ao longo dos nossos dias, con-
seguindo instalar-nos na articulação entre as duas
coisas: quando a coisa vem no nosso peito, senti-
mos aquilo e simultaneamente a conceitualizamos
em nossa cabeça.

Ficar preso só no que está dentro do peito não nos le-


vará a lugar nenhum. Você sofre porque está olhan-
do só para você. Isso é o que acontece no famoso “pé
na bunda”: alguém abandonou você, aí você declara
“Estou sofrendo porque sou muito emotivo”. Na ver-
dade, você está sofrendo porque está pensando na-
quela realidade, pensando nos projetos frustrados.
Em geral, o sofrimento do pé na bunda vai se perpe-
tuando por causa do pensamento, e não por causa
do peito. É justamente o contrário: é a sensibilidade
que faz com que possamos receber um aporte do
meio ambiente para que melhoremos o sofrimento.

Por exemplo, como se resolve dor de amor? Uma das


formas é articular os sentimentos com a razão. Você
vai se expor a atividades prazerosas, ao convívio

33
com pessoas que você ama, porque essas coisas en-
tram no peito e nos enchem de felicidade e alegria;
ao mesmo tempo você vai pensando que tem de en-
trar num novo projeto, que tem de esquecer aquela
pessoa etc.

Se você tentar se livrar da dor de um pé na bunda só


com a afetividade, não conseguirá. Se tentar só com
o pensamento, também não conseguirá. Como en-
tão você se livra da dor? Olhando para fora, olhando
para os acontecimentos exteriores, saindo do cárce-
re da auto-referência. Com efeito, a auto-referência
é uma das coisas que mais encarceram o espírito
do homem contemporâneo. Quem só olha para si o
tempo todo vai sofrer. Sofre porque não dá conta do
universo interior.

Eu sei que isso vai na contramão com o que temos


ouvido por aí – de que o universo interior é o que
importa –, mas o universo exterior é maior, nos
transcende, é uma criação que está para além de
nós. Portanto, se você não tem disposição de olhar
para fora, nunca vai se ordenar, nunca vai ter ordem
no seu espírito, nos afetos, no intelecto. Você não
conseguirá encontrar a ordem e a paz olhando só
para dentro de si. Esse é uma das maiores verdades
que o homem contemporâneo não está mais acos-
tumado a ouvir. Todos os gurus dizem: “Você tem de
olhar para dentro de si, tem de encontrar a ordem

34
de dentro”. Como assim tem de vir de dentro? Você
tem aí dentro um mar de confusão, de bruxaria, de
desordens. Só há bagunça aí dentro! Há um monte
de coisa invertida dentro de você.

A nossa constituição antropológica é caída e cor-


rompida. Temos em nós uma inclinação para o mal.
Temos dentro de nós uma inclinação que destrói
tudo. Todo mundo sabe disso, mas é feio falar. Se su-
bir no palco para falar isso ou gravar uma live falan-
do isso, todo mundo achará ruim: “Que pessimismo
em relação ao homem, Doutor Ítalo. Você é muito
amargo, não teve infância, sua mãe não o ama...”.
Nada disso. Sou alegre, tenho um monte de filho do
meu lado, os negócios estão dando certo e, quando
vem sofrimento, eu agüento também. Está tudo bem
comigo.

Então, nada a ver uma coisa com outra. Trata-se aqui


de olhar para a realidade e ver como o mundo fun-
ciona. Se você tenta se organizar a partir de den-
tro, não vai funcionar, porque aí só existe inclina-
ção para bosta, e você sabe disso. É só reparar, pois
desde sempre você é assim. Você não faz o bem que
quer; faz o mal que não quer. A dificuldade de fazer
o bem é grande, pois, se bondade desse como mato,
não haveria problemas do mundo. Se magnanimi-
dade desse igual chuchu, não haveria problemas no
mundo. Óbvio que acontece o contrário: temos de

35
nos esforçar para fazer o bem, para sermos pessoas
dignas, boas, honradas e fiéis.

Onde você vai encontrar essa estrutura, essa ordem?


Saindo de si! Se você só olhar para dentro, das duas
uma: ou se torna um baita egoísta e desorganizado
ou vira um cínico, fingindo que encontrou alguma
coisa aí dentro, quando, na verdade, não encontrou
nada. Eu já estou dizendo o que existe aí dentro: in-
clinação para o mal, para a gula, para a preguiça,
para ficar revoltadinho, para a vaidade, para a so-
berba, para achar que é Deus. São essas inclinações
que estão dentro de você.

O bem que você pode alcançar só aparece quando


sua afetividade e sua inteligência se articulam com
o que existe fora de você. Olhe para fora, para o so-
frimento dos outros, para a necessidade dos outros,
para a ordem do mundo. Isso aqui não é poesia,
pois dá para fazer. Entre no seu ambiente de traba-
lho olhando para a cara do chefe, da secretária, da
moça da limpeza, da pessoa que está com o cliente.
Olhe para as outras pessoas, olhe para o ambiente. É
muito curioso ver pessoas que estão numa loja, por
exemplo, e perguntam para a primeira pessoa que
aparece: “Qual o preço dessa roupa?”, ao que pessoa
responde: “Eu não trabalho aqui”. Se ela não traba-
lha lá, isso demonstra que quem fez a pergunta é
egoísta. Isso porque, se estivesse prestando atenção

36
em algo que não só na sua necessidade de receber
uma informação, não perguntaria para alguém que
não está com o uniforme da loja. A pessoa nem se-
quer se deu ao trabalho de olhar na cara do outro.
Se olhasse, saberia que não trabalhava lá.

Outro exemplo são aquelas pessoas que pedem qual-


quer objeto – “pode me passar o garfo, pode passar
o talher, pode passar o saleiro” – e recebem sem nem
olhar para a cara de quem deu. Pelo amor de Deus,
se você é uma dessas pessoas, acorde! O seu sofri-
mento vem daí; não vem de outro lugar, não vem da
emotividade. O sofrimento está vindo do lugar onde
você se encontra, que é dentro de si, encarcerado na
auto-referência. Existem milhões de sintomas e si-
nais ao nosso redor que nos permitem constatar que
somos egoístas, e é daí que vem o sofrimento. Claro,
se você só olha para dentro, encontra tudo isso que
eu falei. Como conseguirá ficar feliz? Você só vai so-
frer. Vai encontrar um mar de desejos e necessidades
insaciáveis, porque você quer errado, eu quero erra-
do, todos queremos errado. Ou olhamos para fora
e nos instalamos na realidade, neste mundo criado
que nos transcende, que possui uma ordem e uma
hierarquia definida, ou estamos ferrados.

É daí que vem o sofrimento, e não da emotividade.


Na verdade é uma maravilha ter emotividade, sentir
coisas, sobretudo quando se sentem coisas que im-

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pactam, quando estamos abertos para a experiência
do mundo, para o sofrimento, o pedido e a alegria do
outro, quando estamos abertos para uma paisagem
maravilhosa, para o detalhe de uma orquídea que
começa a florescer, para o detalhe da hierarquia do
mundo. Aí começa a ficar bom de viver, porque você
nota que há em tudo uma ordem, uma hierarquia,
uma disciplina, uma beleza e uma harmonia.

Novamente, quando você olha só para você, encon-


trará o que estou falando. Quem não sabe disso? Por
exemplo, é muito comum dizer: “Criança é tão puri-
nha, é a coisa mais pura do mundo; não há malda-
de em criança”. Você já parou para prestar atenção
em uma criança? Óbvio que ela tem maldade. Como
assim “purinha”? Preste atenção num parquinho de
diversão e verá uma criança mordendo a outra, rou-
bando o brinquedo da outra, empurrando a outra
do balanço… Está tudo lá. Claro que uma criança de
3 anos não vai dar um tiro na sua cabeça, ela não
sabe manejar uma arma, mas sabe dar um tapa na
cara. Por acaso você nunca viu uma criança dan-
do um tapa na mãe? Nunca viu uma criança fazen-
do pirraça, jogando prato no chão do restaurante?
Como que criança é purinha? Isso está na natureza
humana; somos assim desde que nascemos.

Portanto, agora é o momento de aprender a educar


seus filhos, a se auto-educar, pois a auto-educação

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está sempre aberta. É só entrar no seu escritório
olhando no olho, pois olhar no olho é um remédio
para quase tudo na vida. Não se trata de encarar o
outro como um psicopata; não é isso. Você vai olhar
no olho com alegria, dar uma piscadinha, dar um
sorriso… Use e abuse dos elementos da convivên-
cia humana: sorriso, olhar no olho, abraço, aperto
de mão. Esses são elementos da convivência que se
perderam. Hoje em dia as pessoas costumam usar
expressões como “E aí cara, beleza?”. Não faça isso.
Em vez disso, cumprimente, olhe no olho, abrace, de-
monstre interesse pela pessoa.

O mundo deseja nos ordenar, pois essa é a função


do mundo; somos nós que não nos deixamos ser or-
denados por ele. Assim, só encontramos confusão,
uma vida do avesso, que resulta em sofrimento. A
maior parte dos sofrimentos que o homem contem-
porâneo experimenta advém da desordem e da fal-
ta de hierarquia, sofrimentos que aparecem porque
não sabemos o que deve ser amado em primeiro
lugar. Colocamos coisas superficiais, fúteis, passa-
geiras e sem valor na dianteira do nosso amor e do
nosso afeto. As coisas que mais amamos não servem
para nada.

Pode ter certeza de que, quando está sofrendo, é


daí que vem seu sofrimento. “Ah não, Ítalo, eu estou
sofrendo porque meu pai está para morrer no CTI.”

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Ora, esse sim é um sofrimento digno, que tem subs-
tância. Experimente-o; esteja no CTI com seu pai e
encontre alegria para ele. Esqueça de você! Claro
que o sofrimento aparecerá, mas, quando você esti-
ver no CTI com o pai que está para morrer, esqueça
de si, pois a última pessoa em quem tem de pensar
é em você. Você tem de pensar no pai e ajudá-lo a
morrer bem, a oferecer aquele sofrimento, a enten-
der que há uma vida que vem depois, que ele deve
ser digno naquelas poucas horas, naqueles poucos
dias que lhe restam. Você tem de esquecer de si e se
doar. Assim, encontrará alegria, porque verá a ale-
gria no outro e dará um sentido ao sofrimento.

Sofrimentos que não podem ser materializados não


têm substância; são formas de egoísmo. Temos de
aprender a diferenciar sofrimento de egoísmo: exis-
te um sofrimento que é objetivo, como a dor de per-
der um filho ou um pai, ou a dor de olhar para a vida
e perceber que não há mais recursos. Isso é um so-
frimento verdadeiro. Mas o que você está chamando
de sofrimento não tem a ver com a emotividade; tem
a ver com o egoísmo. Portanto, vença esse egoísmo.
Encontre o caminho para a alegria, para a felicidade.
A única receita para ser feliz neste mundo é matar
o egoísmo. Não existe outra. Pode ganhar dinheiro,
ficar lindo, maravilhoso, pode ter todos os bens que
queira, você sempre encontrará ali um elemento de
tristeza, porque você está olhando só para si. Quan-

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do você vence e mata o egoísmo, pondo-se à dispo-
sição para servir neste mundo, aparece a verdadeira
alegria, felicidade.

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@italomarsili
italomarsili.com.br

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