Você está na página 1de 49

1

EDITOR CHEFE
Arno Alcântara

REDAÇÃO E CONCEPÇÃO
Marcela Saint Martin

DIREÇÃO DE CRIAÇÃO
Matheus Bazzo

DESIGN E DIAGRAMAÇÃO
Jonatas Olimpio

Material exclusivo para assinantes do


Guerrilha Way.

Transcrição das lives realizadas no


Instagram do Dr. Italo Marsili dos dias
03/06/2019 a 07/06/2019

2
COMO É A SEMANA GW
1. Assista, de preferência ao vivo, às lives diárias
pelo YT ou Instagram, às 21h30.
Canal do YT: Italo Marsili.
Instagram: italomarsili

2. Na segunda-feira, você recebe no portal GW o


material referente às lives da semana anterior.

3. Leia o seu Caderno de Ativação. A leitura do


CA não leva mais do que 15 minutos.

6. Confira no LIVES a visão geral da semana e os


resumos. Separe uns 20 minutos para isso. As
transcrições na íntegra também estarão lá.

ENTENDA O SEU MATERIAL


1. O Caderno de Ativação o ajudará a incorporar
conteúdos importantes. É um material para FAZER.

2. No LIVES estão as transcrições, os


resumos e a visão geral das lives da semana.
É um material para se TER.

3. Se quiser imprimir, utilize a versão PB,


mais econômica.

4. Imprima e pendure o seu PENDURE ISTO.

3
A SEMANA NUMA TACADA SÓ

O PONTO CENTRAL

VOCÊ QUER SER VALIDADO OU VENCER?

10

É PROIBIDO DIZER O QUE OS


OLHOS ESTÃO VENDO

22

A MARAVILHA DE SER CAIPIRA

38

4
A SEMANA NUMA
TACADA SÓ
Live #62 | 03/06/2019
VOCÊ QUER SER VALIDADO OU VENCER?
No caminho da felicidade, vale mais submeter-se
ao julgamento do outro do que à sua validação.

Live #63 | 04/06/2019


É PROIBIDO DIZER O QUE OS
OLHOS ESTÃO VENDO
Abdicar do direito de declarar o que os olhos
estão vendo é abdicar da inteligência humana.

Live #64 | 05/06/2019


A MARAVILHA DE SER CAIPIRA
Nossa vida neste mundo é de romaria e prece,
aceitando 15% de perda todo santo dia.

5
O PONTO CENTRAL
R E S U M O S D A S E M A N A

Live #62| 03/06/2019


VOCÊ QUER SER VALIDADO OU VENCER?

Em geral, a felicidade está relacionada à conquista de um


bem valoroso. Por isso, a questão de colocar-se à prova,
ser testado e vencer, conquistando bens valorosos, é cru-
cial para a vida feliz.

Um elogio, um olhar de aprovação, uma palavra reconfor-


tante, podem nos fazer sentir bem, mas nada dizem sobre
o que de fato estamos produzindo no mundo — e o que
conta, de verdade, para a nossa felicidade, é o que entre-
gamos.

Quando vencemos por nossas habilidades, quando con-


quistamos algo graças ao talento aprimorado, experimen-
tamos uma força efetiva — nossa existência vai ganhan-
do densidade, vamos construindo nossa personalidade.
Quando, por outro lado, esperamos apenas a validação
exterior, caminhamos sempre inseguros e frustrados.

A felicidade é conquistada à medida que capacidades vão


sendo conquistadas; à medida que passamos a entregar
utilidade no mundo. A “busca da felicidade” é vazia: o que
se deve buscar são as capacidades; é ser testado e vencer.

6
Live #63| 04/06/2019
É PROIBIDO DIZER O QUE OS
OLHOS ESTÃO VENDO

Há uma deformação presente em toda a linguagem da


mídia de hoje: trata-se de uma incapacidade de nomear
corretamente os fenômenos, os indivíduos, os aconteci-
mentos. Temendo ferir suscetibilidades, o sujeito já não
consegue dizer o que os olhos estão vendo. A inteligên-
cia, então, não encontra uma base segura para funcionar,
dividida entre a simples declaração dos fatos e o dese-
jo quase patológico de agradar a todos, de parecer bom
moço, de “não fazer feio”.

Acontece que, quando não declaramos o que percebemos


exatamente como percebemos, migramos para o univer-
so da mentira desorientadora. A inteligência humana é
perceber o que está acontecendo, declará-lo e orientar-se
diante do cenário percebido. Mas, com essa linguagem
deformada que é hoje a regra, ficou proibido dar nome
aos bois, e o resultado é um estado de desorientação psi-
cológica brutal.

Quando perdemos o domínio da linguagem e atenuamos


a percepção da realidade, quando usamos de eufemismo
e metonímia para tudo, não conseguimos nos enfrentar
com valentia, ficando presos no infantilismo e na imaturi-
dade. Sabemos que quem fraudou é fraudador, quem tem
preguiça é preguiçoso, quem traiu é desleal. Dar nome
aos bois melhora a nossa vida, porque atenuar é, na re-
alidade, fugir. Tomar posse da linguagem, livrar-se das
amarras verbais, é condição primordial para que tenha-
mos alguma orientação neste mundo.

7
Live #64| 05/06/2019
A MARAVILHA DE SER CAIPIRA

Na bela canção “Romaria”, de Renato Teixeira, um homem


humilde caminha em romaria e prece e, dirigindo-se a
Nossa Senhora com toda a sinceridade do seu coração,
pede-lhe auxílio nas desventuras desta vida.

Esse é o espírito com que devemos caminhar neste mun-


do: sabendo que não temos o perfeito controle dos nossos
passos, que precisamos contar com o auxílio que vem do
Alto. A alma caipira sabe que caminha por um mundo de
trevas, e que não é ela o agente do bem que pode causar,
mas algo que a transcende.

Como o caipira da canção de Renato Teixeira, é preciso


admitir que caminhamos nas trevas, mas diante da Ver-
dade, e que essa é a única orientação possível. A atitude
que nos cabe é de admissão da Verdade e confiança na
Providência. E daí que vem a segurança possível neste
mundo.

8
9
Live #62 | 03/06/2019 - Instagram

VOCÊ QUER SER VALIDADO OU


VENCER?
Hoje, falaremos sobre um tema determinante para
todos: prazer e felicidade. É uma chamada de aten-
ção porque nós queremos ser felizes! Ninguém gos-
ta do desprazer e do sofrimento. Uma amiga nossa
escreveu hoje nos stories: “Eu acho que sou maso-
quista, gosto de sentir essa dor na boca quando vou
ao dentista”. É óbvio que ela brincou a respeito da-
quela dorzinha ao morder a gengiva atrás, uma dor
que tem limite – o pessoal até gosta –, mas é cla-
ro que ninguém vai fazer um canal ou arrancar um
dente sem anestesia. É claro que adoramos o pra-
zer e não gostamos do sofrimento ou do desprazer.
Ninguém dirá o contrário. É óbvio que uma ou outra
pessoa sofreu alguma perversão ou anomalia e gos-
ta de dor. Mas isso não é o normal da vida. O normal
é odiarmos a dor e desejarmos o prazer; querermos
a felicidade, e não a infelicidade. Só que falar isso e
não falar nada dá no mesmo.

Muita gente fala “precisamos buscar o que nos faz


felizes, buscar o prazer”, mas ninguém cai mais nes-
se papo. Era moda cair nisso nas décadas de 1980 e
1990. Hoje, duvido que alguém caia nisso. O pessoal
sabe que muitas coisas prazerosas acabam levando
as pessoas para o buraco... para a tristeza... e não

10
é incompatibilidade nenhuma. Se pautarmos nossa
vida pela busca única do prazer, seremos maxima-
mente frustrados.

Em geral, as coisas que dão prazer não custam, estão


aí à disposição. A torta de limão, por exemplo, dá um
prazer do cacete. Agora, coma isso no almoço, jantar
e lanche, para ver o que vai acontecer... ninguém cai
mais nessa história! Nós sabemos que a busca pelo
prazer não nos deixa felizes. Isso está claro! A difi-
culdade está na felicidade, pois a entendemos como
um fetiche. Dessa forma, isso vai te deixar sempre
maximamente infeliz.

Preste atenção! A felicidade em si não é nada neste


mundo. O que é ser feliz? Muitas vezes, ser feliz é o
estado de ânimo (o estado mental) que aparece –
aqui é onde está a coisa – a partir da conquista de
um objeto. Além disso, essa conquista é, em geral,
custosa. O estado de felicidade raramente aparece
do nada no seu peito. Alguma coisa aconteceu, ou
seja, você se esforçou e conquistou um objeto que te
trouxe a felicidade. O que é considerado um aparen-
te paradoxo só é visto assim pelas almas desatentas,
isto é, os bobos alegres, aquelas pessoas que não
têm compromisso com a vida.

É óbvio que a felicidade é muito pouco para nós. O


que realmente importa é a conquista de objetos que

11
fazem sentido para nós – o que muitas vezes é uma
conquista penosa, custando esforço. Ninguém acre-
dita mais que o prazer pelo prazer vale algo. É cla-
ro que é bom ter prazer! Agora, ao pautar sua vida
no desejo de conquistar coisas unicamente prazero-
sas, você se frustra maximamente. “Por que aconte-
ce isso, Italo”? Porque não há consistência. O prazer
pelo prazer é um desejo das almas imaturas. Tudo
que a gente fala sobre quarta camada se enquadra
aí. O prazer pelo prazer é sempre um elemento de
autorreferência, quer dizer, você ficará feliz com um
movimento seu (comer torta de limão, transar, fumar,
receber um elogio... coisas que dão aquele “prazer-
zinho”).

Mas isso está conectado com o quê? Exclusivamente


com você, que é o seu referencial. Agora, aí é que está
o problema: quando você se põe no referencial do
mundo (quando você é a régua que pauta seus pro-
jetos, frustrações e desamores, por exemplo), acaba
se frustrando. Afinal, a cada dia você está diferente:
uma hora você quer isso ou aquilo, está magro ou
gordo, novo ou velho etc. Quando você é o seu re-
ferencial único e exclusivo, acaba sofrendo com as
mudanças desse referencial logo após conquistar o
que tanto queria (afinal, aquilo já mudou e não faz
mais sentido para você). Em nosso país, é muito es-
tranho colocarmos essa “subjetividade” em segundo
plano.

12
É como o que a Mariana falou: “Italo, sou sensível
demais. Você me ajuda?”. Deixa eu te explicar: a sen-
sibilidade não é um problema! O que acho que você
quer dizer é isso: você é suscetível demais, ou seja,
se põe como referencial, querendo ser olhada e acei-
ta pelas pessoas, e coloca seu desejo imediato como
a esperança da sua vida. Quando aquilo não acon-
tece – e até quando acontece –, você se frustra no
momento seguinte. Isso é que é esquisito no Brasil!
Aqui, nós não compreendemos que vencer/conquis-
tar algo objetivamente é infinitamente superior – no
sentido de ser feliz – a você simplesmente se sentir
bem (por ter um prazer momentâneo ou porque al-
guém falou bem a seu respeito naquele momento,
por exemplo).

Vencer é infinitamente superior – no sentido de te


dar mais sentido e te instalar na realidade – a sim-
plesmente se sentir amado ou receber uma palavra
de validação. Eu sei que essa coisa soa muito mal
para nosso povo porque, no Brasil, temos esse culto
ao vitimismo. É sempre assim: você é o pobrezinho
sofredor, analfabeto sem dedo, que precisa chegar
à presidência da República; você é o pobrezinho so-
fredor que nasceu com uma cor específica e precisa
de ajuda. Em nosso país, nos últimos 40 anos, fomos
ensinados assim: para sermos felizes, precisamos de
uma validação externa. Isso é francamente alienan-
te, levando ao caminho da desolação e da tristeza.

13
Vencer é sempre o passo seguinte do amadureci-
mento, ou seja, desejar realmente vencer, enfrentar
e conquistar. Num curso nosso para psicólogos, uma
aluna da qual gostei muito – tivemos uma grande
afinidade – disse assim: “Uma amiga canta de gra-
ça no culto porque é para Deus o que ela faz. Ela
tem talento, mas se sente mal em cobrar”. Não es-
tou dizendo que não é para Deus, mas investigue
no coração da sua amiga se ela não está realmente
com medo de botar a cara à prova num lugar que
lhe pague para cantar. Então, se pagou, vai poder
reclamar. Se ela sobe lá no culto e canta de graça, o
que acontece? Ninguém fala dela. Afinal, sua amiga
está fazendo a coisa de coração, para louvar a Deus.
Veja se ela não está num momento em que precisa
ver essa validação necessária do público – porque
é óbvio... se a pessoa sobe lá e canta de graça para
louvar a Deus, dificilmente alguém vai falar que ela
é desafinada e está atrapalhando. Por que a sua ami-
ga não enfrenta uma plateia que pagou pelo show?
No final – esse é o ponto –, o que ela vai conquistar?

Quando a gente só age pela validação externa...


como essa menina, que canta para louvar a Deus e
ninguém lhe paga, as pessoas ali são obrigadas a
assisti-la, validando uma postura de doação. Olha,
essa postura não é igual a canto, aqui o que importa
é se ela sabe cantar. Se ela canta bem, pode cobrar
o ingresso. As pessoas pagarão para ouvi-la. Preste

14
atenção! Olhe como é muito mais forte: no caminho
da felicidade, de construir uma vida que vale (algo
sólido), é muito mais eficaz/poderoso você se sub-
meter ao julgamento do outro – e não à validação – e
vencer por ser forte e ter talento. Ora, a pessoa é afi-
nada, tem domínio vocal, presença de palco e algo a
dizer, subiu e levou a plateia... recebeu os aplausos.
Parabéns! Você canta bem, minha filha!

Veja se você concorda comigo e consegue sentir


junto comigo... no primeiro caso, quando ela busca
a validação da assembleia, acaba tendo um tipo de
percepção – que é sempre frágil, ela só está bus-
cando a validação de um movimento nada objetivo
– ninguém sabe se ela está ali se doando, querendo
se mostrar ou provando para a mãe que ela sabe
cantar. Agora... se na primeira nota, no falsete ou no
grave a cantora toma aquela plateia... pronto! É ob-
jetiva a coisa! Ela venceu! É claro que o sofrimento
no primeiro caso – daquele que busca a autovali-
dação – é mais fraco/menor, pois basta uma outra
pessoa validar. Ora, se cem pessoas invalidam, mas
uma pessoa vai lá e manda uma mensagem ou um
áudio por meio do Whatsapp, aquilo já se torna todo
o universo interior da pessoa – aí você vê como a
coisa é fraca. Com um validando – dependendo de
quem seja – a coisa se resolveu.

Agora, no segundo caso, o sofrimento é verdadei-

15
ro (o primeiro também é verdadeiro) e implacável.
Mas em que sentido? Se vaiaram, você canta mal e
não serve. Se aplaudiram, independente da valida-
ção e da invalidação, você sabe fazer a coisa. No
primeiro cenário, não só o sofrimento é menor, mas
também a sensação de segurança. No segundo, ao
se submeter e expor seu talento e sua cara, o sofri-
mento é potencialmente menor. Mas se você reco-
lheu as características e habilidades, você venceu
– isso ninguém retira de você. Essa é uma etapa de
amadurecimento, um itinerário inicial da verdadei-
ra felicidade e da construção do sentido da vida –
vencer é só o primeiro passo, uma coisa de quinta
camada, que já é superior à quarta camada. Sempre
que estivermos aprisionados (isso ainda precisa-
mos investigar em nossas vidas), quer dizer, quando
trabalho ou entrego algo (um relatório, um laudo,
um comentário, a casa arrumada, a massagem feita,
por exemplo), estou buscando a validação externa
para mim ao me colocar como referencial ou estou
buscando vencer? Só buscamos vencer quando nos
esforçamos para sermos melhores a cada dia. É isso
que falo sempre aqui nos stories.

O que você precisa fazer? Precisa ficar quieto e pa-


rar com essa coceira no furico de mudar o tempo
todo de lugar – por exemplo, você faz um curso de
estética, mas pensa em fazer prova para virar téc-
nico de radiologia e, quando passa, quer abrir uma

16
loja de cosméticos –, pois a cada mudança, você
perde a chance de se especializar e se sair bem na
sua área. Seguindo esse rumo, você não vence. Isso
aqui é o ponto central! Se você, ao longo de cinco
anos, não aprimorou seu talento na solidão, fazendo
cursos, observando seu ofício, entregando cada vez
melhor, ouvindo o outro (cliente, paciente ou patrão,
por exemplo) e reunindo isso sem histeria ou julga-
mento, isto é, se você não está integrando isso à sua
personalidade, não ficará bom/boa nunca. Assim,
sempre haverá essa sensação de inadequação.

Olha só! No restaurante, o que você espera? Um


garçom sempre simpático? Quando você pediu car-
bonara, ele trouxe nhoque. Em vez de nhoque, ele
trouxe bife. Em vez de bife, ele trouxe frango assa-
do. Você pediu frango assado, mas ele pegou um
refrigerante. “Olha meu amigo, você é muito simpáti-
co, mas não serve para ser garçom. Traga, por favor,
um cara normal para entregar o que estou pedindo”.
Ora, se não sossegamos o facho durante cinco anos,
a fim de conquistarmos quatro ou cinco habilida-
des, passamos a não servir para nada. O seu senti-
mento de inadequação, na verdade, é uma percep-
ção de inadequação muito precisa. Você não entrou
ainda na vida adulta e não está apto(a) para vencer.
Por exemplo, você abriu uma loja online de brownie,
mas não vendeu ao longo de três meses... seu brow-
nie é ruim? Você abriu a loja há pouco tempo. Você

17
só pode dizer se a coisa não funcionou após um
tempo tentando dominar a técnica. Aí, talvez, você
pode falar que vai mudar de área.

Enquanto não houver domínio da técnica para fazer


a coisa – não estou falando de estudar –, você não
pode falar nada. Afinal, está fugindo da vida adulta.
Meus filhos, por exemplo, fazem uns desenhos que
são uma bosta. Não sabem desenhar, pois são pe-
quenos. É claro que os desenhos são feios, pois é a
vida infantil. Eles fazem isso, mas não vou falar que
é uma bosta. Vou falar “Ah, que legal! O que você
queria ter desenhado? Vamos melhorar isso aqui!”.
Claro! São crianças! Isso é a vida infantil. A adulta
não é assim. Se um sujeito me apresenta um dese-
nho, tem que ser bom para que eu o compre.

Aí, Fernando, você falou tudo: é o lance do “como”.


É se esforçar por cinco anos, para aprender quatro
ou cinco “comos”, ou seja, como eu faço isso. Se sou
um contador, eu realmente domino as normas da
Contabilidade e sei oferecer o melhor serviço para
meus clientes? Se sou um coach, só estou vendo co-
ach de palco ou sentando na cadeira e pegando a
literatura estrangeira, para estudar as técnicas do
coach forte? “Italo, eu não domino o idioma inglês, e
agora?”. Então, você precisa ter acesso ao idioma e
fazer um curso de inglês. Uma parte da literatura do
bom coach está em inglês. É por isso que você “fica

18
sentido” quando falam mal de coach. Afinal, estão
falando de você.

É quem nem quando eu falo mal dos maus professo-


res. Aliás, estou dando um toque neles. Aí, os maus
professores falam (como se fossem vacas sagradas):
“Neste país ninguém fala mal de nós. Você não sabe
o quanto batalhamos para chegar aqui. Você é um
mauricinho, não sabe o que é dar aula em situação
de risco, em lugares sem uma boa estrutura”. Cale
sua boca, cara! É óbvio que eu sei! Dei mais aula em
lugar de risco do que você pode sonhar na sua vida,
seu animal! Você tem que ficar quieto a respeito do
que não sabe! Sempre dei aula em lugar de risco
e sem condição nenhuma, mas nunca me coloquei
como vítima. Eu pensava em como fazer aquela mer-
da funcionar. “Ah, não me dão condição! Diretor, eu
preciso de giz, datashow, Ipad, respeito dos alunos,
participação dos pais etc.”. Meu filho, então você
quer dar aula no Jardim do Éden antes da queda, ou
seja, antes de a Eva comer a maçã. Lá, realmente ti-
nha tudo isso que falei. Então, volte para o Jardim do
Éden e tente dar aula lá.

A sala de aula de hoje é esta aqui! Deixe de ser víti-


ma, sente o rabo na cadeira e domine durante cinco
anos todas as técnicas daquela merda. Aí, a história
começa a funcionar. Esse é o caminho da felicidade,
ou seja, quando você entrega algo que te leva a se

19
preocupar com a vitória e o saber fazer. Isso é muito
superior – antropologicamente falando, no sentido
da formação da sua personalidade sólida – a você
ser apenas validado, isto é, não entregar porra ne-
nhuma e alguém dizer que você é lindo e maravilho-
so. Isso é a coisa mais ridícula do mundo... quando
você quer entregar alguma coisa só porque faz parte
de alguma casta (pastores, padres, professores, mé-
dicos, gordas... sei lá, as minorias...). Meu filho, você
participar disso ou não... foda-se! Eu quero saber a
respeito do que você domina.

O mercado não está nem aí para você – seja você


azul ou amarelo. A pessoa soft não tem espaço nele.
Você tem que entrar para bater, senão vai apanhar e
sair chorando como uma criancinha que não serve
para nada. O mercado... ou o palco da vida adulta...
não admite esse tipo de coisa, ou seja, essa ciranda
de perdedores achando que todo mundo deve tudo
a eles o tempo todo (respeito ou comiseração por-
que a pessoa teve um sofrimento infantil, por exem-
plo). É óbvio que todo mundo deve respeito e comi-
seração. Agora, pensar em receber isso mais do que
todos só por você fazer parte de uma casta é algo
ridículo.

Cresça! Antes de você querer ser autovalidado –


isso é coisa de criança –, queira vencer! Mas não é
fazer isso pisando nos outros. É vencer sabendo, ou

20
seja, dominando uma técnica. Isto vai te botar no
curso da felicidade. Até lá é só “prazerzinho” passa-
geiro (prazer de torta de limão... uma gozadinha mal
dada). É só coisa que não vale para nada, que vai
passar. É óbvio que você está triste e infeliz ao olhar
para sua vida – com vinte, trinta ou quarenta anos
– e perceber que algo não tem sentido, passou ou é
vazio. Eu sei! Isso aconteceu porque você não se es-
forçou para dominar uma técnica. Nem o dinheiro,
nem a autovalidação externa (na autorreferência) te
dão essa felicidade. O que te dá a felicidade – nesse
sentido – é o esforço para conquistar uma habilida-
de e entregar um resultado. Parece paradoxal, mas
há toda uma lógica que eu explico no curso de psi-
cólogo. Nos últimos dias, eu só falo a respeito disso,
ou seja, sobre as doze camadas – e uma parte delas
é sobre isso.

Então é isso! Preste atenção no que falei sobre a feli-


cidade, na conquista do como para você entrar num
caminho de felicidade mais sólido e seguro. É isso
que dá a consistência da vida.

21
Live #63 | 04/06/2019 - Instagram

É PROIBIDO DIZER O QUE


OS OLHOS ESTÃO VENDO
Hoje falaremos sobre como o uso errado da lingua-
gem e dos termos pode te ferrar, pode criar uma jau-
la mental que te aprisiona e da qual você não con-
segue sair.

Em 2006 eu quebrei todos os dentes da cara. Sofri


um acidente de buggy, o negócio quase capotou das
dunas e eu meti com a boca no santo antônio (aque-
le suporte de ferro que fica por cima do buggy). Re-
sumidamente, eu estava sentado na parte de trás,
curtindo o visual do Arraial do Cabo aqui no Rio de
Janeiro, e meu amigo que estava dirigindo, num ato
de loucura e cegueira, não viu que havia um buraco
de 4 metros na frente das dunas. Eu também não vi a
porcaria do buraco. Resultado: nós despencamos de
lá de cima e quebramos a cara. Por causa disso, vira
e mexe eu tenho problema nos dentes.

Essa história toda é só para dizer o seguinte: por es-


ses dias, meus dentes deram problema de novo. Eu
marquei um horário com o dentista e estava aguar-
dando na recepção quando a querida recepcionista
falou: “Dr., vou ligar a TV na GloboNews para o Sr. as-
sistir, está muito silencioso aqui”. Ela ligou na droga
da GloboNews, nós dois assistimos ao canal e, Jesus

22
Amado!, o que é aquilo, cara?! Vocês se informam
por aquela porcaria? Não é possível isso, é um show
de horrores!

Tudo bem se o homem comum, popular, não souber


organizar bem suas opiniões. Vá lá, a profissão dele
não é essa, mas sim consertar sapatos, costurar, ser
contador, sei lá. Agora, para um jornalista, portar-
-se daquele jeito é uma coisa louca, absolutamente
inadmissível, a começar pelo uso da linguagem, e
aqui eu entro de fato no tema de hoje.

O uso da linguagem molda a nossa burrice. Ou me-


lhor: o mau uso da linguagem te faz ficar burro; apro-
priar-se de jargões técnicos te emburrece. Esse uni-
verso de mindsets, brainstormings, matrizes SWOT, é
uma palhaçada que só por Deus. Quando começa
a falar em jargões, você imediatamente fica burro,
pois não domina sequer a linguagem comum. Você
não sabe usar ironia ou sarcasmo, julga tudo antes
mesmo de conseguir ter as funções básicas da lin-
guagem e é incapaz de sequer perceber uma brin-
cadeira, ainda que seja óbvia.

Há erros ortográficos que nós cometemos e que são


aceitáveis. Por exemplo: uma vez eu fui escrever “he-
sitar”, e, como estava digitando rápido, escrevi “exi-
tar” como quem quer escrever “exit”, do inglês. É um
erro de ortografia, às vezes escapa; a pessoa está

23
com a atenção em outro lugar e grafa errado uma
palavra. Já com conjugações ou preposições são ou-
tros quinhentos, não é questão de erro ortográfico, é
falta de domínio da linguagem, mesmo.

Noutro dia eu escrevi, obviamente brincando: “To-


mei banho quente”, e coloquei embaixo um “Mim
julguem”. Há um monte de memes assim, com esse
“mim julguem”. Ele é usado para expressar uma situ-
ação em que alguém diz uma coisa absurda, algo de
que em geral que as pessoas não costumam gostar.
Por exemplo: “Gosto de pão com ovo, mim julguem”.
Outro exemplo: um roqueiro que assiste a um show
da cantora de sertanejo Marília Mendonça, depois
posta foto no show e coloca de legenda: “Marília
Mendonça é rainha, mim julguem”. É óbvio que o
meu “mim julguem” foi uma brincadeira! É o tipo de
coisa que não se erra!

Eis que veio um monte de gente no direct do Insta-


gram me escrever “Ai, Dr. Italo, que equívoco! Você
escreveu ‘MIM’ julguem, você é uma pessoa ingui-
norante.” Francamente! Você sabe a quantidade de
livros que eu já li e de cursos que eu dou, caramba?
Eu estou lendo o tempo todo! É impossível eu escre-
ver “Mim julguem” -- embora seja possível que eu
grafe erroneamente uma palavra, por desatenção.
Aquele “exitar” saiu porque eu estava redigindo uma
carta em inglês e, quando fui responder àquele story

24
em português, ao escrever hesitar, o “exit” veio à mi-
nha cabeça. O erro de ortografia acontece; já erros
de preposição e conjugação não acontecem com al-
guém que tem domínio técnico da língua.

Se as pessoas erram interpretação neste nível, como


é que vão usar expressões do mundo acadêmico, do
mundo business? Sairá uma macaqueação, e quan-
do você começa a se apropriar desse linguajar ma-
caqueado, você emburrece, porque não consegue
falar aquilo que está no seu coração. Preste atenção:
a linguagem que está no seu coração é a linguagem
do pedreiro.

Aqui, nós falamos de Filosofia, das coisas mais al-


tas da humanidade, das coisas superiores do cora-
ção humano, do intelecto, do espírito, e fazemos isso
com linguagem de pedreiro, de porteiro, está me en-
tendendo? Esta é a idéia: passar a mensagem com
linguagem humana, pois é assim que nos comuni-
camos. Aqui, nós falaremos de modo que você con-
siga se expressar, e não de modo que você consiga
entender. Eu falarei de modo que você consiga se
apropriar da minha linguagem.

Comentaram aqui: “É a novilíngua, do George Orwell”.


É isso aí, você está certa. Uma das grandes coisas
que fazemos aqui é arrebentar com todos esses jar-
gões. É para isso que estou aqui e é por isso que o

25
que dizemos tem força. Eu falo em primeira pessoa,
falo do meu coração, e não a partir de uma cátedra
universitária, feito “O Psiquiatra”, ou feito “O Filóso-
fo”, embora pudesse ser assim.

Noutro dia um amigo meu escreveu assim: “O Italo é


um case de sucesso comercial”. Meu amigo, eu sou
isso também, mas além disso sou um case de suces-
so acadêmico, pois entrei na faculdade aos 16 anos
de idade; fui convidado para a NASA; ainda no ter-
ceiro período de medicina fui convidado para iniciar
um mestrado em engenharia biomédica na COPPE
da UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Gra-
duação e Pesquisa de Engenharia); também pisei no
IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada)... Do
mesmo modo, sou um case de sucesso intelectual:
convivi com o Olavo de Carvalho e há uma contri-
buição original minha no Curso Presencial para Psi-
cólogos, Psiquiatras, Coaches & Intrometidos.

No curso, eu pego a Teoria das 12 Camadas da Per-


sonalidade do Olavo de Carvalho e faço uma articu-
lação com as sete faculdades. É uma contribuição
original mesmo, fruto de sucesso intelectual. Isso aí
é inveja. Sou um “sucesso comercial” também, mas
não se pode dizer que sou apenas isso. Eu não perdi
tempo. Com 15, 17 anos, eu não estava transando com
ninguém, não estava indo para balada, estava pres-
tando atenção em outras coisas, estava construindo

26
minha vida. Foi uma opção que eu fiz. Se você não
fez, o problema é seu -- tão simples assim --, mas
não venha com esse papinho de sucesso comercial.
Voltando à história, eu estava sentado na porcaria
do sofá vendo GloboNews. Sobre a apresentadora,
repórter, sei lá: que mulher é aquela, bicho?! O que
diabos é aquilo? Eu não sei nem o nome da coitada
(não era a Miriam Leitão) -- sorte a dela, do contrá-
rio, falaria aqui.

Eu estava vendo a reportagem (era sobre uma fuga


de presídio ou algo assim), até que ela falou: “(...) a
polícia foi fazer uma abordagem e parou o carro de
suspeitos, que então trocaram tiros de fuzil com a
polícia”. Note bem: “suspeitos”. Havia “suspeitos” no
veículo que a polícia abordou, e esses “suspeitos” --
veja a pérola -- trocaram TIROS com a POLÍCIA usan-
do FUZIS.

Eu olhei para a cara da mulher na tela e falei: “Meu


Deus do Céu. Você só pode estar de sacanagem”.
Suspeito lá troca tiro com polícia, caramba?! “SUS-
PEITO”! Meu Deus! Que suspeito é esse?! É bandido,
caramba! Suspeito de fuzil? Em que mundo aquela
dona vive?!

Como alguém é capaz de usar a linguagem assim?


A repórter está ferrada para sempre! Ela não tem ca-
pacidade de olhar para a porcaria da realidade e

27
dizer que a grama é verde. Não: “Suspeita-se que a
grama seja verde”, “Suspeita-se que seres humanos
respiram”. Meu Deus! O cara trocou tiro de fuzil com
a polícia, sua filha da mãe! Ele é bandido, é margi-
nal, é criminoso, é vagabundo! Ou você acha que
era um guarda-chuva, que ele estava atirando flores
para todos os lados, que ele era da turma do amor?
Que loucura, que burrice! Algo que eu falo no meu
curso para Psicólogos, Psiquiatras, Coaches e Intro-
metidos: a arte sempre vence.

O que está na televisão, no cinema, na tela de arte,


sempre vence e, mais do que isso, molda a lingua-
gem. Hoje em dia, as pessoas não podem falar certas
coisas, estão amputadas da expressão verbal, acham
que a palavra tem mais poder que o mundo físico,
não podem falar o que estão vendo.

Qual é, meu filho? Menino nasce menino, e menina


nasce menina. Se você acha que a sua declaração
altera o sexo do bebê, dane-se você, o problema é
seu, eu estou vendo uma pererequinha (ou um pinti-
nho), e isso é o que me diz a realidade.

“Ah, mas é cultural ou é natural? Ser ‘masculino’ é


cultural ou natural?” Eu já fiz uma live extensa sobre
esse assunto, mas, para resumir: é as duas coisas! É
claro que é natural e cultural! Há um elemento na-
tural absolutamente irrevogável e, sobre esse vetor

28
natural, acrescenta-se uma série de elementos cul-
turais.

Esse pessoal pega uma idiotice cultural e fala “Usar


saia é cultural, existem lugares do mundo em que
homem usa saia. Aliás, na Rússia os homens se saú-
dam com beijo na boca, logo...”. “Logo” é o seu na-
riz, você é louco. O que diabos você quer dizer com
“logo…”? Que raios de passo lógico foi esse que você
deu, meu amor?!

Existe um elemento evidentemente natural do qual


você não pode fugir. O cara que faz uma cirurgia
transgênero faz uma cirurgia (repare) transgênero,
ou seja, ele muda para o outro gênero, ele muda em
relação a algo. Se fosse tudo igual, ele não faria a
operação. Portanto, é óbvio que não é tudo igual;
existe um desconforto com aquela natureza, com o
natural, e você tenta transpor esse desconforto jo-
gando um elemento cultural por cima.

É claro que, em cima desse “ser menino” ou “ser me-


nina”, existe um elemento cultural somado -- o que
não faz com que você não possa dizer, com toda a
segurança, que existe homem e que existe mulher.

Em uma sociedade maluca como a nossa, você pre-


cisa falar o óbvio, e o óbvio muitas vezes se torna
odioso. Aqui, não se pode usar a linguagem com sua

29
precisão, ela sempre tem de ser o reflexo de uma im-
posição superior que não se nota. Não se pode falar.

Acabaram de comentar aqui: “Cuidado com o since-


ricídio”. Peguei no pulo. Florzinha do meu coração,
sincericídio é o seu nariz. Não há nada de sincericí-
dio aqui, estamos colocando os pingos nos Is. Você
é quem está aprisionada em uma mordaça louca. O
dia em que eu não puder falar que a grama é verde,
que menino é menino e que menina é menina, eu
terei abdicado da inteligência humana.

A inteligência humana, em seus princípios, é perce-


ber o que está acontecendo, declará-lo e orientar-se
diante do cenário percebido. O que você faz, flor, é o
inverso de sincericídio: é mentiricídio.

Quando você não declara essas obviedades, você


vai para o universo da mentira homicida, da men-
tira que te matará na sua dignidade humana. Você
ficará desorientada, não saberá mais falar nesse
mundo, não conseguirá mais se expressar, sentirá
coisas que não consegue nomear. Você sofrerá ao
olhar para a realidade que não pode ser dita, e não
pode ser dita apenas porque um poder superior não
te deixou fazê-lo.

Minha filha, aqueles dois sujeitos no carro que tro-


caram tiros de fuzil com a polícia são marginais, cri-

30
minosos, vagabundos, foragidos, escolha um nome.
“Suspeitos” não são! O nome daquilo não é suspeito.
É igual ao que está acontecendo no Rio de Janeiro.
O STF já declarou que terá de liberar 700 bandidos
mirins na rua. É claro que o órgão executor está se-
gurando a medida para ver se consegue construir
presídios de contingência a tempo para onde man-
dar esses “menores infratores” (bandidos pequenos,
menores de idade).

Não se pode mais sequer chamar de “prisão” ou “pre-


sídio”. Se eu disser “prisão”, a Defensoria fica irada.
Eles não são presidiários, são internados, é “casa de
internação”. Até onde me consta, você interna um
doente, e esses sujeitos não estão doentes. São ban-
didos, marginais, ao menos na maior parte. Sim, eles
têm menos de 18 anos, mas são criminosos. É o que
são. Ponto. Não se pode mais dizer isso, o máximo
é “menor infrator”. No limite, querem falar que eles
são vítimas da sociedade.

Eu entendo a tese. Eles estão amontoados e preci-


sam ser liberados, pois há um princípio da dignida-
de humana que diz ser desumano deixar um monte
de gente apinhada. Eu sei, meu filho, mas esses su-
jeitos cometeram latrocínio, homicídio duplamente
qualificado... Há um atentado contra a dignidade
humana de quem está solto e não cometeu crime al-
gum, mas essa hierarquia não se dá na cabeça des-

31
sa gente, pois a linguagem está decomposta.

Não poder chamar um criminoso menor de idade de


marginal, de bandido, é uma coisa louca. O sujeito
de 17 anos que pegou um fuzil e deu um tiro na cara
de um pai de família é o quê? É um marginal, um
bandido, um homicida que foi preso, e não um “me-
nor infrator” que foi “internado”. Pronto. É alguém
que foi preso porque era marginal.

Perceba que não estou dizendo isso com ódio. Ele


é o que é, este é o nome que se dá ao que ele fez;
ele é um marginal, um bandido, um criminoso. Se
você deixa de falar “criminoso preso” para falar “me-
nor infrator internado”, você já se ferrou, você já não
consegue perceber ou falar a realidade, e não con-
seguir falar a realidade é lesar a sua inteligência.

Estas coisas de que estamos falando aqui são muito


grotescas, chamam muito a atenção. A pessoa com
um mínimo de sensibilidade dirá “Realmente, é as-
sim mesmo. É difícil falar, Italo, pois pega mal”. É o
que eu estou dizendo! Eu falo mesmo e que se dane,
mas se você falar, pega mal.

O que acontece na alma individual de cada um é o


seguinte: com essa porcaria toda, essa novilíngua,
essa linguagem deformada que se impõe sobre o
homem médio comum, você acaba não conseguin-

32
do mais dar nome aos bois, e aí você entra em um
estado de desorientação psicológica brutal.

Você não consegue falar que o homicida menor de


18 anos é um marginal, um criminoso. Ele será sem-
pre apenas um menor infrator que nunca irá para a
prisão, que apenas estará internado por um tempo.
Esse problema é central para a alma humana. Quan-
do perdemos o domínio da linguagem e atenuamos
a realidade, quando usamos de eufemismo e meto-
nímia para tudo, nós cometemos também um “crime
hediondo”, uma imoralidade, e não conseguimos
nos enfrentar com valentia.

Muito do que faço aqui é isso, e o pessoal ainda fica


reclamando “Italo, que absurdo, você não tem com-
paixão nem empatia?” Mas caramba, é o contrário!
Empatia é justamente dar nome aos bois, é chamar
a vaca de vaca e o boi de boi.

Nem você nem eu iremos tolerar que você trate a


si mesmo com uma negligência que te aprisionará
no infantilismo, na imaturidade, no mundo da lua.
Estamos no planeta Terra e temos que livrar nossa
cabeça desses eufemismos e metonímias quando
eles nos dizem respeito. Você realmente fraudou
algo, traiu, foi desleal, foi preguiçoso, vagabundo.
Dê nome aos bois que a sua vida melhora, cara! Li-
vre-se do desgraçado império da novilíngua!

33
Esse eufemismo imoderado lhe trará um vitimismo
enorme. Sempre atenuar o que se faz é, em síntese,
fugir. Você fez algo e não consegue declará-lo, logo,
você foge, ou seja, você capta nesse seu horizonte de
consciência encurtado um lugar no qual você possa
se vitimizar.

Certa vez eu estava em um cruzamento e um sujei-


to surgiu do nada e bateu com força no vidro do
meu carro. Obviamente, eu tomei um susto. Ele esta-
va com uma roupinha da CET-Rio, que é a unidade
reguladora de trânsito daqui, então eu baixei o vi-
dro e falei “Rapaz, cuidado. Se você aborda alguém
armado desse jeito, você toma um tiro. Não se pode
abordar ninguém na rua assim!”.

Então o sujeito começou a gritar loucamente “Só


porque sou preto! Só porque sou preto”, igual a um
maluco mesmo. Quer dizer, ele não consegue dar
nome às coisas, não consegue parar e pensar “Cara,
realmente, fui imprudente. Fui louco e mal educado”.
Engraçado é que eu estava tão assustado que olhei
para a cara dele e pensei “Caramba, é preto mes-
mo.” Eu nem tinha notado, obviamente não falei por
causa disso, não tinha nada a ver uma coisa com a
outra. E fui embora.

O sujeito não consegue declarar, nomear, ele precisa


mapear e se enquadrar no vitimismo: “Ah, sou preto,

34
então ele está falando isso porque sou preto”, “Ah,
sou gay, então ele está falando isso porque sou gay”,
“Ah, sou mulher, então ele está falando isso porque
sou mulher”, “Ah, sou judeu, então ele está falando
isso porque sou judeu”. Vá para o inferno!

Se não conseguir dar nome às suas misérias, você


não conseguirá se enfrentar. Se você não for capaz
de nomear os bois, de saber que está de treta mes-
mo, que é mal educado mesmo, que é preguiçoso
mesmo, você sempre fugirá para o lugar do vitimis-
mo.

Esse temor é uma obra de engenharia social, é a no-


vilíngua da qual você precisa se livrar. Aprender a
dar nome aos bois é fundamental para nos orientar-
mos neste mundo. Se uma repórter da GloboNews
não consegue olhar para uma droga de situação e
declará-la, ela não serve para o trabalho. A coitada
não conseguiu simplesmente falar “A polícia trocou
tiro com marginais”, porque não pode usar “margi-
nal” na televisão em rede nacional. Acontece que é
assim que nós usamos, todos os dias, na mesa, com
a família, com nossos amigos. “Pô, aquele marginal,
aquele bandido”. Essa é a linguagem normal, é isso
o que ele é, é isso o que ele faz.

Eu entendo o princípio psicológico. Ela acha que,


falando assim, não está julgando, está atenuando,

35
mas não dá para não julgar certas coisas e, principal-
mente, não se pode atenuá-las. Neste caso específi-
co, não estamos julgando nada. O sujeito sacou uma
porcaria de um fuzil e atirou na cara do policial. Não
estou julgando, estou vendo o que está acontecen-
do, e o que está acontecendo é que um cara que não
é das Forças Armadas está com um maldito fuzil na
mão, trocando tiros com a polícia, caramba. Só mar-
ginais fazem isso. Quem troca tiros com a polícia?!
O marginal!, só que o politicamente correto ferrou
nossa cabeça, e quando você começa a raciocinar
nessas categorias, você vai para o buraco.

Precisamos limpar nossa linguagem desses jargões


técnicos que só servem para mostrar nossa suposta
superioridade. “Mimimi, eu sei falar brainstorming e
mindset”. Pare com isso cara. Brainstorming? Mude.
Diga “Vamos trocar umas idéias e colocá-las no pa-
pel. Existe uma expressão em português para isso!
Não precisa fingir que você participa de um grupo
do qual, na verdade, ninguém mais participa, pois
ninguém mais usa brainstorming, já está cafona para
caramba. Vá tomar banho com seu brainstorming!
Você está ferrando sua cabeça. E para os adeptos do
mindset, pelo amor de Deus, existe “mentalidade”,
existe “jeito de pensar”, existe uma porcaria de uma
palavra em português para isso. Pare de usar mind-
set, é feio, te emburrece e, ao contrário do que você
pensa, não te confere qualquer autoridade.

36
A palavra não tem autoridade, meus filhos. Use a lin-
guagem do porteiro, que você ficará mil vezes mais
forte. Uma das coisas que mais enfraquece o povo
brasileiro é a droga da Teoria do Medalhão, do con-
to de Machado de Assis. “Eu falo como os doutores,
tenho diproma”. Mas você não é doutor, caramba!
Você é um espantalho, um adolescente de bigode.
Não há nada mais ridículo que isso; o sujeito não é
adulto nem criança, está completamente desconec-
tado. Tira essa porcaria da cara que está feio, meu
amigo, você não tem autoridade para ter bigode.

Quando me formei, falaram “Ponha uma gravata”.


Gravata é o caramba, não colocarei porcaria nenhu-
ma. Não tenho autoridade para isso, diacho, esta-
rá desconectado; sou um recém formado, que mané
gravata?! Usarei roupas normais. Quem usa gravata
é o advogado no Fórum, para mim ela não faz senti-
do algum.

Se você é um doutor professor de universidade, com


diproma, com doutorados, se você é catedrático, po-
nha uma gravata que irá funcionar. Mas se você está
desconectado da realidade, não faça isso que pega
mal, é ridículo e feio para caramba.

37
Live #64 | 05/06/2019 - Instagram

A MARAVILHA DE SER CAIPIRA


Pegando um gancho com a live #58, intitulada “O
caminho se faz ao caminhar”, o Henrique, meu ami-
go, me mostrou ainda agora uma música chamada
“Strada Facendo”, do Claudio Baglioni, que tem uma
letra maravilhosa. A melodia também é muito boni-
ta, mas a letra tem uma força que deveria entrar no
coração de cada pessoa. Quer dizer, a força daquela
letra é a do caminhante deste mundo. É sobre um
sujeito que, ao caminhar, nota, em algum momento,
que titubeia diante das trevas da vida. Mas, se ele
caminha, observa um gancho no céu. E é isso que
o cantor fala para nós: “Oh, meu filho! Para sentir a
força da vida, se perceber amparado e reconhecer
que sua vida tem sentido, é necessário ter uma as-
sistência vinda de cima. Isso só acontece quando
você se compromete a penetrar num certo lugar de
trevas, pois isto é o segredo da vida”. Se você qui-
ser calcular tudo com antecedência, sabe o que vai
acontecer? Você ficará paralisado.

Tudo isso me lembra “Romaria”, aquela canção ma-


ravilhosa do Renato Teixeira, a respeito de um sujei-
to caipira que fala com Nossa Senhora e pede que
esta o atenda naquela prece infantil, a oração de um
caipira que não sabe bem o que dizer, mas que só
está seguindo o que disseram, ou seja, que viesse ali

38
e pedisse paz nos desaventos em romaria e prece,
com o coração no chão, sangrando de amor, só para
olhar para Nossa Senhora, e que aquele olhar fosse
tudo.

Veja bem, aquele homem sabe que é um caipira.


É aquele sujeito que não fica com afetação de que
sabe o que vai dizer na hora certa. Não... ele está vi-
vendo com o coração na mão. Ele sabe que a força
da vida dele é um olhar verdadeiro para o coração
de quem é a Verdade. Esse é o ponto central da his-
tória, ou seja, toda vez que tentamos calcular muito
as coisas, acabamos parando. Às vezes, o pessoal
fala assim: “Italo, fico escandalizado contigo. Você
fala um monte de coisas boas, mas uns 5% do que
fala vai escandalizar o padre da paróquia, a freira
do convento, aquela mulher ali...”. Meu filho, você
vai paralisar na vida se ficar se preocupando com
isso.

Minha mãe tem uma fábrica de biscoitos. Você sabe


quanto do produto é jogado fora? Por erro de ope-
ração de máquina, uns 15% dos biscoitos são joga-
dos fora. Essa quantidade é rejeito que não pode ser
aproveitado. Você vai fazer o quê? Minha mãe deixa-
rá de fazer biscoitos até conseguir um processo per-
feitíssimo? Isso não é humano. Isso é você não con-
seguir entrar pela estrada adentro, da qual o Claudio
Baglioni fala na música. Olha só, meu querido! Ao

39
começar a caminhar, você sentirá uma sensação de
perda – e até de desconexão –, mas quando faz isso,
entendendo que esse é o processo deste mundo e
do coração daquele caminhante – que somos todos
nós –, um gancho vem lá de Cima e te puxa. Esta é a
assistência do Alto.

É a mesma assistência do homem humilde (do cai-


pira, de que fala o Renato Teixeira na belíssima “Ro-
maria”). Escutem esta música hoje com todo o cora-
ção na mão! Observem aquela prece verdadeira do
caipira, que não é um fariseu hipócrita. Ele não tem
aquelas afetações de perfeição e sabe que é simi-
lar a nós, ou seja, é um bosta que tudo o que pode
fazer é tentar limpar um pouco das merdas que fez
na vida. Pode-se fazer isso por meio do trabalho e
do amor, da verdade presente em nosso coração e
da humildade e simplicidade do nosso olhar. Isso é
tudo o que temos na mão. Qualquer cálculo, afeta-
ção de academicismo ou perfeição vai te levar para
o caminho da paralisia/inutilidade. Você não conse-
guirá realizar nada e sentirá triste no final.

Olha só! Os sujeitos simples e humildes, que enten-


dem que são caipiras e que perder 15% dos biscoitos
no processo faz parte do fazer biscoito, não parali-
sam e conseguem entregar o coração e o olhar. Isso
é a força humana. É tudo o que desejo a vocês! O
que é ser pai? O que é ser mãe? É saber que você

40
está tateando em torno de algo desconhecido. Ora,
tem uma alma que apareceu na sua casa e você não
tem picas de ideias do que vai acontecer com aqui-
lo. No entanto, você recebe aquilo com simplicidade
e alegria e tenta dar o seu melhor. Pai e mãe também
erram, não são infalíveis. Você vai paralisar diante
da vida? O que é começar com um empreendimento
econômico ou amoroso se você não contar com “15%
de perda de biscoito todo mês”?

Olha, começar um namoro é a coisa mais cafona


que existe, ou seja, fazer juras de amor eterno e falar
que aquela pessoa é tudo para você. Você realmente
não sabe se ela é tudo para você! Quando a verdade
bate no seu coração, você conta com os 15% de per-
da do biscoito e não liga. Só que isso é a verdade do
seu coração. É isso que eu desejo a todos nós nesta
noite, ou seja, caminhar neste mundo como o Clau-
dio Baglioni caminhava na época em que escreveu
a canção que mencionei. Ele entendeu que uns 15%
de perda devem ser vistos como parte da estrutura
da realidade da vida dele. Só que, ao caminhar pelas
trevas, ele percebe que não está só. Aí, um gancho
do Céu o prende e começa a elevá-lo. Essa é a for-
ça daqueles sujeitos que têm confiança, acreditam
na Providência e entendem que não são os agentes
do bem que eles podem causar – por isso, eles não
ligam quando tropeçam, eles simplesmente pedem
perdão com aquele mesmo olhar do caipira de “Ro-

41
maria”. É aquele caipira que, com toda a humildade
no coração, diz: “O meu pai foi peão / Minha mãe,
solidão (...) Se há sorte / Eu não sei / Nunca vi (...) Me
disseram porém / Que eu viesse aqui / Pra pedir em
romaria e prece / Paz nos desaventos”. Então, Nossa
Senhora, aceita o meu olhar. É o olhar de um filho
seu, caipira que não sabe o que é sorte, mas acredi-
ta. Por isso, este caipira marchou, caminhou e veio
em romaria e prece.

A nossa vida neste mundo é de romaria e prece, que


precisa admitir os 15% de perda de biscoito todo san-
to dia. Se temos o desejo de controle, é porque não
somos humildes e pensamos ser os agentes de nos-
sos atos. Não é assim, meu amigo! Só fazemos mer-
da! Se fazemos algo bom na vida é porque temos a
assistência desse gancho que vem do Alto – que só
alcançamos quando confiamos e caminhamos. Esta
é a única força possível. Uma personalidade madura
é construída na base da humildade, daquele que é
similar ao caipira da música do Renato Teixeira. De-
sejo que todos possamos cair na real. Temos que cair
do cavalo. Precisamos saber isto: somos o caipira da
música do Renato, temos essa alma caipira. Temos
que adentrar no mundo da escuridão, das trevas, da
desolação, sabendo que existem 15% de perda não
controlados por nós.

Peço que vocês deem esse passo nesta noite. Fa-

42
çam a coisa com o amor... de coração na mão... sem
medo de errar. São aquelas decisões que precisa-
mos tomar: aquele amor a mais que você entrega
para o marido, a esposa ou o filho – mas que você
está calculando. O cálculo não é compatível com o
coração que sabe amar. Um coração humano não
calcula, pois o cálculo humano sempre põe uma va-
riável fora da equação, isto é, a variável do gancho
assinalado por Baglioni na canção que mencionei.
Esse gancho é o que desequilibra tudo – é quando
você está caindo, prestes a quebrar os dentes e ba-
ter no meio-fio e o gancho vem do Alto, amparando
o coração verdadeiro do caipira, que se colocou a
marchar nessa vida de romaria e prece. Quando en-
tendemos essa coisa, deixamos de ser escrupulosos
e entendemos que teremos 15% de perda – porque
tem uns 5% que erraremos em algum momento.

Então, você está escandalizado com o quê? Você


sabe que é assim mesmo. Vem esse pessoal e ofen-
de... fala mal... mas, meu filho, você quer falar o quê?
Você quer falar bem de mim? Como você vai falar
bem de mim? Você não me conhece e nem sabe o
que sou. Eu sou esse caipira do Renato Teixeira, que
está tateando na escuridão... estou apenas espe-
rando com amor a generosidade desse gancho que
vem do Alto me resgatar sempre que percebo as tre-
vas querendo me invadir. Você já não sabia que eu
era assim? Por que está falando mal a meu respeito?

43
Reze por mim! Esteja comigo aqui e aprenda o que
consigo manifestar de bom quando falo. Não sou o
dono da Verdade, mas o meu esforço é botar um co-
ração humilde e sincero, tentando revelar aquilo da
Verdade. Eu sou obcecado com a noção da Verdade.
Ela existe! É o caminho! É a vida para nós! Ela é ob-
jetiva e não é um ato de opinião. As coisas existem
fora do nosso mundo subjetivo. É lá que nosso cora-
ção precisa estar. Ao entender isso, você ganha uma
confiança mortal e se torna uma pessoa sorridente,
feliz e que não teme. O sujeito que está despido –
que não tem nada a esconder – não teme mais nada.

O pessoal fala assim: “Italo, você tirou nota baixa na


residência”. Eu sempre falei que fui um mau aluno.
Você quer qual novidade, porra? Sempre falei que
não suportei aquela merda. Eu não suportava a fa-
culdade, nem o colégio. Isso não é falar mal de mim
porque é algo que não me abala em nada. Precisa-
mos cultivar esse coração de caipira, que sabe que
não tem domínio de nada. A única coisa que ele tem
é o domínio da humildade do seu coração – e, mes-
mo assim, esse coração se ensoberbece várias vezes,
o que nos faz cair e não aceitar a ajuda do gancho
que vem do Alto.

Entrar na mata escura da qual fala Baglioni é a pos-


tura genuinamente humana, ou seja, é a postura do
amor, do coração possível para o homem. É isso que

44
desejo a você nesta noite! Desejo de todo o meu co-
ração que você comece a marchar nesse caminho
de mais entrega e de amor! É claro que os abutres
bicarão sua carne que está estragada – afinal, ao
adentrar nas trevas, no mato escuro, você vai se cor-
tar e seu pé sangrará, deixando um pedaço de carne
pelo caminho.

Ora, quem não sabe que este mundo é “uma noite


ruim, numa ruim pousada”? Mas, com um pouco de
amor e o calor do nosso coração, até conseguimos
aquecer a vida dos outros de alguma maneira – da-
queles sofredores, encarquilhados, caducos e amar-
gurados com o frio de uma vida sem esperança. Isso
é o máximo que podemos fazer neste mundo! Mas
só um coração de caipira, humilde, é capaz disso.
Eu amo os caipiras, desejo todo dia ser como eles,
e não um fariseu hipócrita... aquele sujeito que só
tem para mostrar nesta vida de romaria e prece um
olhar humilde para a imagem – a música do Teixei-
ra fala que o sujeito migrou e foi fazer uma romaria
para a Aparecida ou para a Virgem Maria, e com
aquele olhar humilde diante da divindade, daquilo
que o transcende, e deste gancho que é a assistên-
cia diante das trevas ele se colocou absolutamente
humilde, confiando. “Se há sorte / Eu não sei / Nunca
vi”, mas Você pode me comunicar a sorte. Você é a
única sorte que tenho aqui. O Senhor é este gancho
que vem do Alto e me ampara. Se eu tenho 15% de

45
perda, 15% de biscoito que fica pelo caminho, 5% de
besteira que eu falo... muito obrigado! Se não fosse
por esse gancho, meu amigo, seria 100% de besteira/
perda que a gente teria. Meu Deus, pelo Seu ampa-
ro, pelo Seu gancho, só tivemos 5% de perda porque
cultivamos esse coração do caipira humilde. Que
maravilha, meu Deus!

Quando a sua vida entra por essa senda, por esse


caminho de mais amor – que é tudo que eu desejo
a você –, quando eu falo para servir, ser forte e não
encher o saco, não é para você virar um sujeito ar-
rogante, um guerreiro medieval ou espartano... isso
é ridículo! É para você se tornar um sujeito com um
coração de carne porque muita gente é macia por
fora e coração duro por dentro. Desejo que você seja
robusto por fora e tenha um coração derretido... de
carne... que pulsa e ama... um coração humilde, que
se põe no chão para que os outros pisem mais ma-
cio. Isso é o que desejo! Não desejo nada para além
disso!

Vamos entrar por caminhos de confiança – “Strada


Facendo” –, fazer esse caminho caminhando e entrar
pela mata escura, esperando com todo o amor do
coração esse gancho que nos assiste do Alto. Como
naquele filme O Sexto Sentido, vejo gente morta todos
os dias. Quem é essa gente morta? É aquela gente
macia, soft, que é nada por fora – e é aquele coração

46
duro –, e, mesmo diante de alguém que está tentan-
do, amando e se doando diariamente, não consegue
perceber as marcas do amor. Essas pessoas não são
caipiras, não entraram na mata escura e não entra-
ram no time da vida. Elas não admitiram o estatuto
humano.

Eu desejo a você o contrário, ou seja, corpo robusto,


que sustenta... costas largas... como diz o Jordan Pe-
terson. “Qual é o sentido da vida, Jordan Peterson”? É
escolher o fardo mais pesado que você possa carre-
gar e realmente carregá-lo. Só alguém com ombros
largos e carcaça, com um coração macio e de carne,
pode encarar esse sentido da vida. É isso o que de-
sejo! Desejo uma transformação verdadeira na sua
vida, ou seja, transformar esse coração de ameixa
seca – de que já falei numa outra live – num coração
de carne. Como fazemos isso? Entendendo que tere-
mos 15% de perda de biscoito – Graças a Deus não
é 100% –, e que devemos cultivar esse olhar caipira,
né? “Sou caipira, Pirapora / Nossa Senhora de Apare-
cida”, que está lá, indo em romaria e prece, olhando
para aquela imagem – colocando todo o coração na
patena para ser pego, transformado e transubstan-
ciado – e entendendo e esperando esse gancho que
vem do Alto – do qual fala a música do Baglioni, com
essa letra maravilhosa em italiano. Isso é o itinerário
da nossa vida.

47
Coragem! Coragem, meus amados! Coragem para fa-
zer um coração de carne ressuscitar aí dentro! Não
tenham medo do mundo! Aventurem-se nessa gran-
de senda que é amar e servir – sabendo que haverá
5, 15 e até 20% de perda. Essa é a história da vida hu-
mana! Amo vocês!

48
@italomarsili
italomarsili.com.br

49

Você também pode gostar